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Emoções

Emoção
• “Emoção” é um termo difícil de conceptualizar em termos científicos por ser um conceito
relativamente recente. As emoções são fenómenos que sentimos e manifestamos que requerem
processos causais intrapessoais.

• As emoções são fenómenos multidimensionais essenciais para a adaptação e sobrevivência do ser
humano na sua relação com o ambiente.
• Ocorrem como reações a eventos relevantes e funcionam em conjunto com os outros processos
cognitivos, como o raciocínio lógico, para garantir a tomada de decisões mais eficientes.

• As emoções são experiências subjetivas desencadeadas por um acontecimento relevante, podendo
ser acompanhadas por reações orgânicas, movimentos, expressões faciais e vocais.
o são subjetivas, pois embora toda a gente saiba sobre as emoções e as sinta, elas são
vivenciadas de uma forma diferente por cada pessoa

• As emoções possuem uma curta duração e tendem a variar em grau de intensidade, cumprindo uma
determinada função, podendo ser voluntárias ou involuntárias.

• A emoção é um processo que envolve fatores biológicos e cognitivos:
o se a causa da emoção for biológica, o seu início estará relacionado com o sistema límbico
o caso seja cognitiva, o que prevalece é a perceção que as pessoas têm das situações que
vivenciam que se pautam na aprendizagem e memória de experiências anteriores

• As emoções consistem em alterações psicofisiológicas que decorrem de mudanças orgânicas e da
nossa experiência pessoal, sendo estas formadas com base na relação do ser humano com o meio
ambiente.
• Ao invés de serem um fenómeno unitário, as emoções são consideradas um fenómeno
multidimensional, uma vez que resultam de uma interação entre os diversos processos biológicos,
psicológicos, físicos e químicos.

• Uma emoção é uma resposta automática, intensa e rápida, podendo ser consciente ou inconsciente,
perante um estímulo e/ou um impulso neuronal que leva o organismo a produzir uma ação.

• Existem três características a considerar para a explicação das emoções:
o a estrutura do indivíduo (propriedades, capacidades e propensões) relativa às suas
características fisiológicas, biológicas e neuropsicofisiológicas, sendo necessário
compreender estas diferenças a nível individual
o a informação recebida e armazenada, uma vez que o ser humano interpreta o meio através
do armazenamento de informação, de tal modo que na sua memória são armazenadas
informações com uma conotação emocional que irá servir de referência para futuras
situações semelhantes
o a interação dinâmica e recursiva com o contexto, uma vez que como o ser humano se
constitui como um ser social, de forma a entender a experiência emocional, este necessita
de entender as interações com o meio, uma vez que a experiência emocional atua de forma
dinâmica e reciproca, sendo influenciada pelo que acontece

Características das Emoções
• As emoções estão relacionadas a um acontecimento externo e parecem surgir quando algo
inesperado ocorre.
• As emoções são inatas, geneticamente determinadas ou aprendidas como uma combinação de
emoções básicas.
• As emoções são acompanhadas de reações fisiológicas e normalmente são expressas através da
mudança na expressão facial.
• As emoções podem ser divididas em dois grupos: aquelas que envolvem fuga, recuo ou
comportamento negativo (emoções negativas) e aquelas que envolvem atração, aproximação ou
comportamento positivo (emoções positivas).
• As emoções focam e direcionam a atenção para algo que possivelmente é grandioso e selecionam
o que é mais importante naquele momento.

Como caracterizar uma emoção?
• Segundo Tooby & Cosmides (2010) a caracterização de uma emoção passa por sete características
ambientais e dos mecanismos, sendo estas:

a existência de certas situações que se repetem na vida de todas as


1. uma situação ou
gerações, levou a que a necessidade de responder adaptativamente seja
condição recorrente
determinante para a adaptação do indivíduo

2. o problema de refere-se à necessidade de adaptação, estando assim dependente da forma


adaptação como determinadas situações se resolveram

existem certas pistas que fazem prever a emergência de uma certa situação,
3. pistas que assinalam a
por exemplo, se um animal não fosse capaz de detetar um predador, este
presença da situação
acabaria por morrer

4. algoritmos e deteção estes algoritmos referem-se a certos mecanismos automáticos que são
da situação ativados para a deteção de uma situação

estes algoritmos referem-se a certos mecanismos que são ativados para se


5. algoritmos que
estabelecer prioridades numa situação, por exemplo, perante um incêndio
estabeleçam
em casa, podemos ir buscar as nossas roupas favoritas ou preocuparmo-nos
prioridades
em sair do local

6. um sistema de o córtex subcortical está ligado ao sistema autonómico, o que faz com que
comunicação interna todas as características anteriores estejam interligadas

7. todos os programas e mecanismos fisiológicos envolvidos numa emoção devem estar associado a
algoritmos, pois estes regulam a resposta a cada sinal emocional, uma vez que cada emoção tem
respostas típicas



Funções das Emoções
• As funções da emoção encontram-se ligadas à adaptação e à expressão, funcionando como um
catalisador entre a conduta (comportamento) e o meio.
• As principais funções das emoções são:
o a preparação para a ação, ou seja, as emoções servem de catalisador entre o meio e a nossa
conduta
o a preparação da conduta
o o contato com certas experiências emocionais vai originar uma aprendizagem emocional
útil para lidar com situações futuras
o a regulação da interação.

Complexidade das Emoções
• As emoções podem ser distinguidas quanto à sua complexidade, podendo então ser definidas como:
o emoções básicas e/ou primárias
o emoções secundárias

Emoções básicas/primárias
• As emoções básicas e/ou primárias aquelas que dão origem e influenciam todas as outras que
desenvolvemos na infância.
• As emoções básicas são impulsos diretamente relacionados ao instinto de sobrevivência do ser humano
e são da sua própria natureza, podendo, assim, ser consideradas universais.
• As emoções primárias podem ser classificadas como sendo:
o adaptativas, ou seja, surgem rapidamente dependendo da situação em que a pessoa se
encontra, sendo que desaparecem completamente quando o indivíduo se sente tranquilo e
seguro física, psíquica e emocionalmente.
o desadaptativas são aquelas que extrapolam os limites do bom senso, fazendo com que a pessoa
sinta que exagerou em seu comportamento e se arrependa depois.

Ø alegria, tristeza, raiva, medo



Emoções secundárias

• As emoções secundárias são as emoções aprendidas, experienciadas mais tarde, sendo que dependem

das interações sociais.

• As emoções secundárias são influenciadas pelas crenças e valores de cada um, o que dependendo da

situação, leva a determinados comportamentos emocionais.

• Implicam uma avaliação cognitiva das situações, envolvendo, por isso, as áreas do córtex pré-frontal.


Ø ciúme, orgulho, vaidade, vergonha e culpa




Para que servem as emoções?
• As funções da emoção encontram-se ligadas à adaptação, funcionando como um catalisador entre
a conduta e o meio.
• As emoções têm uma forte influência e importância, pois revelam as nossas necessidades, ajudam-
nos a aproximar das pessoas, geram comportamentos e decisões, são responsáveis por mudanças
na nossa vida e por nos tirar de situações perigosas.
• Sob o ponto de vista biológico, as emoções são capazes de provocar alterações fisiológicas no nosso
corpo, como aumentar os nossos batimentos cardíacos, a respiração ofegante, tremores, aumento
da pressão sanguínea.
• Numa perspetiva psicológica, as emoções modificam características intelectuais, entre as quais se
contam a perceção, o pensamento, a memória, a atenção, a capacidade de concentração, a
consciência crítica ou as fantasias.
• Sob o ponto de vista social, as emoções desempenham um papel muito significativo na motivação
humana. Podem influenciar aspetos muito variados que vão desde a personalidade, às relações
sociais, à vida sexual, à ascensão numa carreira ou à própria maneira de viver.

Programas influenciados e mobilizados pelas emoções
• Embora as emoções sejam algo psicológico, estas possuem manifestações organísmicas e
fisiológicas, influenciando e mobilizando, assim, diferentes programas.
• Estes programas são mobilizados, uma vez que a experiência emocional é ativada a partir de uma
região que funciona em circuito, o que a torna responsável pela ativação de outros sistemas
fisiológicos.
• Como as emoções e a experiência emocional são coordenadas por circuitos que interagem com
várias funções do organismo e com vários sistemas específicos, estas acabam por influenciar e
mobilizar diferentes programas, como por exemplo:

Motivação são as emoções que nos motivam, energizando e moldando o nosso comportamento

a informação que é memorizada é mantida no sistema mnésico devido à carga


Memória emocional da mesma, assim, sempre que sentimos algo, ativamos certas memórias,
dependentes da experiência emocional que experienciámos anteriormente

o sistema atencional é influenciado pelas emoções, por exemplo, se gostamos de algo


Atenção
vamos nos focar mais nisso

existem certas respostas físicas que são decorrentes do nosso estado emocional, por
Fisiologia
exemplo, quando temos medo, podemos sentir sensação de dor de garganta ou barriga

a emoção desvia o foco atencional de uma análise lógica, assim, quanto mais intensa
Aprendizagem for a emoção, maior será desvio, por exemplo quando estamos com medo não fazemos
as escolhas mais racionais




Porquê estudar as emoções?
• As emoções são componentes fundamentais do comportamento humano, pois não é possível
compreender o ser humano sem compreender as emoções.

• Sendo tão importante para a compreensão do comportamento e do funcionamento do ser humano,


o psicólogo deverá compreender o fenómeno das emoções de uma forma científica e não subjetiva,
pois, o senso comum pode não corresponder à realidade.
• Mesmo que as emoções sejam consideras um fenómeno universal, estas são subjetivas, pois
expressam-se de uma forma individual em cada indivíduo, estando dependentes das suas
características.
• No entanto continuam a existir conhecimentos válidos, comprovados e robustos subjacentes à
experiência emocional, existindo também leis e mecanismos que regem o seu funcionamento e
permitem compreender o porquê de as emoções serem expressadas de forma individualista.

• É importante o psicólogo compreender o funcionamento emocional, pois irá permitir:
o compreender o comportamento humano
o descrever o funcionamento e o comportamento do cliente
o mudar o funcionamento e o comportamento do outro
o prever e predizer qualquer tipo de funcionamento

• A psicologia das emoções descreve, então, as características e os padrões dos fenómenos
“emocionais” e dos seus processos subjacentes, considerando, sempre, as interações dinâmicas
(circularidade/recursividade) do indivíduo com o seu ambiente ou contexto.

Evolução histórica
• James afirmou que a emoção é uma função das áreas motoras e sensoriais do neocórtex e que o
cérebro não possui um sistema especifico para funções emocionais.

• Já Cannon afirmou que as reações emocionais requerem a integridade do hipotálamo e que caso
este esteja comprometido, a experiência emocional também irá sofrer alterações, uma vez que o
hipotálamo é responsável pela homeostasia do organismo.

• Papez criou a Teoria de Circuitos de Emoções, do qual fazia parte o hipotálamo, o tálamo anterior, o
hipocampo e a circunvolução cingulada.
• Embora Papez afirme que é essencial que o hipotálamo esteja integro, para que seja possível a
existência de uma experiência emocional, nesta teoria o hipocampo é também importante, uma vez
que uma determinada experiência vai ser interpretada e comparada com experiências anteriores.

• MacLean acrescentou algumas estruturas ao circuito de Papez, nomeadamente a amígdala, o córtex
orbito-frontal e as porções dos gânglios basais, sendo estas integrantes do sistema límbico.
• A amígdala é o mecanismo que atribui significado às memórias, estabelecendo e organizando as
redes de memórias em função do significado.




Correntes Psicológicas
• Existem três grandes correntes no estudo das emoções:
• A corrente fisiológica que afirma que a emoção é um fenómeno indiferenciado com um marcador
somático na sua génese.
• A corrente cognitiva ou avaliativa que defende que a tónica é colocada nos processos sociais e
funcionais, sendo a emoção resultado da avaliação cognitiva que é feita de uma dada situação.
• A corrente motivacional que afirma que a enfâse é colocada nas disposições internas do individuo,
nomeadamente os objetivos, a capacidade de autodeterminação e as expetativas de autoeficácia.


Teorias do Passado Cannon (1927) Gazzaniga & Heatherton (2005)



James (1890) Mayer & Salovey (1999)


• Segundo William James as pessoas primeiro percebem o estímulo, havendo uma reação do
organismo, sendo que a perceção desse movimento visceral resultaria numa emoção.
o exemplo – nós não corremos porque sentimos medo, mas sim sentimos medo porque
começamos a correr
• Para Cannon as emoções distintas provocam reações viscerais semelhantes.
• Mayer & Salovey afirmam que estados emocionais podem ser gerados apenas por meio do
pensamento, sem uma ação física.
• Segundo Gazzaniga & Heatherton a perceção é mais rápida do que a reação muscular. A ausência
de autoconhecimento pode levar à identificação de uma excitação corporal como sendo uma certa
emoção, quando na verdade é outra. Nem sempre os indivíduos têm consciência de que estão a
viver uma emoção.

Teorias do Presente
• As emoções influenciaram a forma como evoluímos, sendo que estas emoções tanto podem ser
influenciadas por uma determinada característica numa determinada fase evolutiva, como pelo
facto de vivermos num mundo globalizado.
• De forma a se compreender as emoções é necessário compreender três dimensões, o que coincide
com as abordagens atuais ao estudo das emoções.
• Existem, então, três teorias:
o teoria psicoevolucionista
o teoria cognitiva
o teoria social





Teoria Psicoevolucionista

ü Esta teoria explica o papel das emoções de forma a compreendermos a evolução humana.

ü Assume que as emoções são respostas adaptativas que ocorrem do meio, sendo que, segundo esta teoria, as

emoções são inatas e universais.

ü A espécie humana é caracterizada por dispor de emoções básicas ou primárias (alegria, tristeza, raiva, medo,

aversão e surpresa).

ü Esta teoria sustenta que as emoções humanas evoluíram de um conjunto finito de estados emocionais, em que

cada um desses possuía uma funcionalidade adaptativa e expressão típica.



Teoria Cognitiva



ü Esta teoria explica como é que os fatores cognitivos interagem com a emoção e moldam aquilo que sentimos.

ü Esta teoria destaca a avaliação da situação como sendo a principal característica da emoção, podendo ser esta

consciente ou não.

ü Afirmando que esta avaliação da situação é extremamente rápida e com um efeito determinante na emoção
gerada.

ü Esta teoria assegura que as emoções são a causa e a consequência das nossas ações.


Teoria Social



ü Esta teoria explica de que forma as emoções são influenciadas pelas interações sociais.

ü Esta teoria defende que as emoções são papéis sociais construídos pela cultura e que influenciam e interagem

com a mesma, podendo também alterar a cultura.
ü Segundo esta teoria, estamos constantemente a avaliar e a interpretar as nossas reações emocionais e as dos

outros, de forma não consciente.

ü Esta teoria afirma que as emoções têm um papel importante na manutenção das relações sociais.

ü

Psicofisiologia da Emoção
• As emoções são constituídas por aspetos psicológicos e físicos (manifestações periféricas), sendo
que estas manifestações podem revelar-se através de expressões faciais, entoações vocais, gestos
e movimentos, postura corporal, ...
• Alguns destes aspetos físicos são detetáveis por elétrodos, através da captação à superfície da pele
da informação fisiológica. Por exemplo, batimento cardíaco, atividade muscular, …
• As alterações fisiológicas são explicadas a partir do processo da homeostase (o equilíbrio, total e
dinâmico do sistema nervoso autónomo).
• Mediante um estímulo, se houver uma reação ativa de luta ou fuga se ativa o sistema nervoso
simpático, com consequentes alterações fisiológicas: o aumento da sudação cutânea, adrenalina e
ritmo cardíaco, entre outros.
• Mediante um estímulo que leve a um comportamento emocional mais sereno, é o sistema
parassimpático que se ativa e verificam-se menos alterações fisiológicas: por exemplo a redução do
ritmo cardíaco.




Circuitos Emocionais no Cérebro
• Através dos estudos da síndrome de Kluver-Bucy verificou-se que a amígdala possuía um papel
importante nas emoções.
• Alguns estudos posteriores, como o de Weiskrantz, afirmaram que lesões na amígdala interferem
com a capacidade para determinar o significado motivacional dos estímulos.

• Diversos autores dizem que ela é uma estrutura importante:
o na atribuição do valor de recompensa aos estímulos
o no condicionamento do medo a novos estímulos
o na autoadministração de recompensa

• A amígdala desempenha, então, um papel fulcral na atribuição de significado aos eventos sensoriais
e aos processos emocionais.
• A amígdala permite assegurar que os estímulos que são potencialmente ameaçadores são mais
facilmente reconhecidos e lembrados.
• A amígdala medeia:
o a influência das emoções nas funções cognitivas e sociais
o os comportamentos de atenção que possibilitam a perceção do medo a partir da expressão
facial e corporal
o a capacidade de determinar a confiabilidade a partir de estímulos faciais
o a capacidade para atribuir sinais motivacionais e sociais a estímulos não-sociais
o a atenção e memória

Processamento Emocional
• O processamento emocional é um fenómeno que envolve várias estruturas e processos, podendo
ser feito através de dois caminhos:
1. caminho mais automático e inconsciente, associado a respostas reflexivas, sendo que este
é projetado de forma a tomar ações defensivas imediatas, com foco nas respostas corporais
2. caminho mais lento e consciente, sendo por isso mais cuidadoso, permitindo-nos sentir a
emoção e compreendê-la
• O que coloca o nosso corpo em contato com a realidade são os órgãos sensoriais, sendo que é nestes
que as situações que podem despertar uma resposta emocional têm o seu início.

• Pelo caminho mais rápido, qualquer sensação passa diretamente da amígdala para a ação.
• Como o cérebro está conectado através do hipotálamo ao elo externo, às glândulas pituitárias e ao
córtex adrenal, logo que qualquer sensação passe pela amígdala são imediatamente iniciadas ações
fisiológicas, que englobam a preparação muscular para o comportamento de luta ou fuga.









• Pelo caminho mais lento, toda a informação que entra em contacto com os órgãos sensoriais e que
é posteriormente adquirida pelos mesmos, vai ser encaminhada para o tálamo sensorial.
• O tálamo sensorial vai passar a informação para córtex sensorial, onde ocorrerá uma análise
resultante na perceção.
• Do córtex sensorial, a informação será encaminhada para a amígdala, onde será, com o auxílio do
córtex de transição, comparada com a informação previamente existente, ativando a conotação
emocional correspondente.
• Dependendo do processamento existente na amígdala e das memórias de trabalho relevantes para
essa emoção ou contexto, o hipocampo será ativado.
• O hipocampo vai ativar os córtex necessários para a preparação do organismo para a resposta e a
produção de hormonas que são responsáveis pela ativação, regulando assim a homeostasia do
organismo.

Afetos

• O afeto pode ser definido como a tonalidade ou a forma como o ser humano experiencia a sua
existência neuropsicofisiológica, ou seja, o afeto diz respeito à consciência que o ser humano tem
no sentir da ativação do seu próprio organismo.
• O afeto é um agente modificador do comportamento, uma vez que este influencia diretamente a
forma como o ser humano pensa sobre algo.
• Embora os afetos possuam uma intensidade baixa, estes tendem a permanecer estáveis durante
períodos de tempo indefinidos.
• O afeto resulta, então, da atividade de vários sistemas que cumprem diversas funções, sendo que
esses sistemas envolvem várias respostas de diferentes órgãos cuja atividade ativa diferentes
processos.
• Estes processos permitem a ativação de vários sistemas que originam respostas, provocando, assim,
movimentos sucessivos e, posteriormente sensações.


1 – afeto de ativação e a experiência é agradável (o
corpo está ativado, estamos despertos e com
energia)


2 1
2 – afeto de ativação e a experiência é
desagradável (o corpo está ativado, mas está num
estado agitado/desconfortável)

3 – experiência agradável e organismo pouco
ativado (estados de tranquilidade, de relaxamento)

4 3 4 – experiência desagradável e organismo pouco
ativado (tristeza, pouca energia, desânimo)


Termos técnicos do conceito “afeto”
Afeto Básico
• O afeto básico é uma experiência sentida pelas dinâmicas derivadas da interação do nosso
organismo e, como temos consciência destas dinâmicas, estas tornam-se passíveis de serem
experienciadas em termos de agradável ou desagradável, podendo ter uma maior ou menor
ativação.
• Basicamente o afeto básico é a forma como nós sentimos a experiência de estarmos a sentir o nosso
corpo.
• Em suma, o afeto básico é um estado neuropsicofisiológico que é acessível de forma consciente,
mas não refletido, o que acaba por se tornar numa mistura integral de valores hedónicos e ativação.

Exemplo
ü No nosso organismo existe o fenómeno da temperatura, em que a experiência de sentir resulta da interação entre

diversos processos, ou seja, a temperatura resulta de múltiplos fatores que nós podemos ou não ter consciência

da própria temperatura do corpo.

ü Da mesma forma que é difícil ter a perceção da nossa temperatura quando esta se encontra neutra também

ocorre o mesmo com o afeto básico.


Qualidade Afetiva
• A qualidade afetiva é a capacidade de provocar uma mudança no afeto básico, podendo ser
descritível em termos das duas mesmas dimensões do afeto básico.

Afeto Atribuído
• O afeto atribuído é o afeto básico atribuído a um objeto, sendo que este pode ocorrer de duas
maneiras distintas:
o isolado de qualquer julgamento acerca da realidade do objeto
o atribuído de uma forma rápida e automática, embora esta possa ser intencional

Regulação do Afeto
• A regulação do afeto refere-se a qualquer ação que é diretamente destinada a alterar o afeto básico.

Exemplo
• “sinto-me triste” é um afeto básico, “anda para cima diverte-te” é uma tentativa de alterar o afeto básico


Objeto
• Um objeto pode ser uma pessoa, condição, coisa ou acontecimento, para o qual um estado mental
é dirigido, sendo que este é associado à intensidade do estado de afeto básico.
• Um objeto é uma representação psicológica e, por isso, os estados mentais podem ser dirigidos para
ficções, para o futuro ou para outras formas de realidade virtual.





Conceitos secundários de “afeto”
Humor
• O humor é uma manifestação de afeto numa determinada valência e de uma forma consistente,
podendo assim ser considerado um afeto básico prolongado sem nenhum objeto ou um quase-
objeto.

Empatia
• A empatia é um afeto atribuído, sendo causado por uma estimulação mental da experiência do
outro.
• Tem a ver com a compreensão emocional e diz respeito à compreensão da experiência do afeto que
conseguimos fazer em nós e também nos outros.
• É importante porque definimos o afeto como um estado neuropsicofisiológico a que podemos ter
consciência logo, se podemos ter consciência tanto podemos ter em nós como podemos ter para
identificar no outro.

Motivo de desprazer
• Um motivo de desprazer refere-se a um afeto atribuído desagradável, no qual o objeto é a causa de
uma privação específica.

Protótipo
• Um protótipo é uma estrutura cognitiva que específica os ingredientes típicos, as conexões causais
e a ordem temporal para cada conceito emocional.
• Aplicando isto ao afeto, nós criamos protótipos daquilo que é estar em baixo, triste e associamos
isso à motivação que temos para fazer a coisas, à paciência que temos, à energia e quando estas
características se organizam nós identificamos como manifestações prototípicas de um tipo de
afeto.

Episódio emocional
• Um episódio emocional refere-se a qualquer acontecimento que corresponda suficientemente a um
protótipo e que seja um exemplo dessa emoção específica.
• Num episódio emocional, inicialmente ocorre um afeto difuso, sendo que após se identificar um
conjunto de características específicas desse afeto, ocorre um acontecimento.
• Este acontecimento surge, uma vez que como já estávamos perante algumas características
conhecidas desse afeto, o acontecimento irá potencializar o protótipo daquilo que iremos sentir.
• O afeto neutro transforma-se num afeto com uma determinada valência e como essa emoção é
uma resposta neuropsicofisiológica, esta irá intensificar o protótipo emergente, o que faz com que
o nosso afeto comece a ser caracterizado.
• Como a emoção é intensa e aparece devido à organização da experiência emocional que
tipicamente é neutra, mas que numa determinada circunstância começa a tender para uma forma
agradável ou desagradável, muito ativada ou pouco ativada, esta emoção vai cada vez mais se
tornando num protótipo.



Episódio Emocional Prototípico
• Quando ocorre um episódio prototípico, este ilustra as características de um episódio prototípico,
sendo que é daí que conseguimos identificar que aquilo que sentimos agora já sentimos
anteriormente.
• Isto permite-nos agrupar as emergências prototípicas, arrumando-as em categorias, sendo que é
assim que surgem acontecimentos emocionais prototípicos.

Exemplo
Embora o medo, a ansiedade e o pânico não sejam a mesma coisa, estes partilham características semelhantes,
ou seja, o medo tem os mesmos componentes, mas os mecanismos do pânico atuam em graus e por
mecanismos muito diferentes dos do medo e a isto nós chamamos de tipo de emoções.

Regulação emocional
• A regulação emocional refere-se às tentativas para alterar uma categoria da emoção em que o
indivíduo se encontra, sendo por isso um dos aspetos fundamentais da intervenção psicológica.


Experiência Emocional

• A base de uma experiência emocional é o afeto, sendo que este diz respeito ao substrato
experiencial que está subjacente à ativação de um determinado acontecimento emocional.
• Este afeto constitui a base para o desenvolvimento da experiência emocional, sendo que este
resulta de uma combinação prototípica de vários fatores que são associados a uma determinada
experiência emocional.
• A experiência emocional e as emoções são dois fenómenos que englobam uma grande quantidade
de níveis de sistemas de funcionamento, logo a começar pelo sistema fisiológico, sendo que este é
a base para a experiência emocional e para a ativação do sistema neuropsicofisiológico.
• Esta experiência resulta das dinâmicas entre os vários sistemas, processos e agentes bioquímicos
que em conjunto criam a experiência de sentirmos a ativação.
















Fases da Experiência Emocional
• As fases da experiência emocional podem ser agrupadas em 4 grandes fases:

1. Perceção cognitiva, que envolve a avaliação cognitiva
o na primeira fase dá-se o processo de sentirmos o acontecimento emocional, sendo que
esta fase ocorre pelas vias sensoriais
o os sinais captados pelo tálamo sensorial provocam uma resposta de perceção decorrente
da avaliação. Isto pode ser percebido de uma forma imediata, sempre que é conduzido
diretamente para a amígdala, ou de uma forma mais consciente, na qual a informação é
processada de uma forma mais profunda

2. Ativação neuronal, consiste num processo em que vários circuitos neuronais são ativados para dar
uma resposta emocional
o esta ativação inclui um processamento mais consciente, organizado e cognitivo da situação,
tornando-a, assim, mais espontânea e básica
o esta ativação pode ser realizada por duas vias, que frequentemente ocorrem em
simultâneo
o a via mais primária ativa imediatamente os circuitos de resposta autonómica da perceção,
sendo que a informação ativará a amígdala que por sua vez ativará o sistema autonómico
para dar uma resposta
o nesta via não existe um processamento cognitivo de ordem superior
o a via mais consciente é própria do processamento do sistema subcortical, típico às
respostas da maior parte das espécies
o esta via utiliza também outros circuitos que incluem a dimensão racional e cognitiva,
nomeadamente o córtex pré-frontal
o estes circuitos permitem um processamento da informação, que resultará numa melhor
compreensão mais regrada e complexa
o este processamento de informação irá permitir desativar o sistema simpático e ativar o
sistema parassimpático, levando o organismo a um estado relaxado

3. Expressão emocional, sendo que esta tende a ser coerente com a emoção
o a expressão emocional pode ser uma expressão fácil, corporal, ...
o a expressão emocional inclui também a não expressão, uma vez que é possível controlar a
expressão emocional e não a expressar
o é então possível substituir a expressão emocional por uma não expressão, por exemplo,
como forma de empatia pelo outro

4. Regulação emocional, é a forma como gerimos a experiência emocional a vários níveis
o a regulação emocional tem por si só várias fases, sendo que estas estão ligadas, por
exemplo, com o sofrimento, os problemas do indivíduo e até mesmo com problemas
psicopatológicos
o é importante perceber cada uma das fases da regulação emocional de forma a prevenir as
dificuldades na vida dos indivíduos
o a regulação emocional refere-se às tentativas para alterar uma categoria da emoção em
que o indivíduo se encontra

Perspetiva Locacionista e Perspetiva Construtivista Psicológica

• A Perspetiva Locacionista, sendo a mais clássica, começou a surgir com os estudos sociais de
neuroimagem, sugerindo que havia locais específicos associados à ativação de determinadas
emoções.

Por exemplo:
o o medo era ativo pela amígdala (zona amarela)
o o nojo era mais ativado pela insula (zona verde)
o a raiva era ativada pelo córtex orbitofrontal (a
zona castanha)



• A Perspetiva Construtivista Psicológica sugere que existem respostas biológicas que dependem de
estruturas especificas, mas mesmo que estas coincidam com algumas funções mais organísmicas,
afirma que as emoções não podem ser compreendidas apenas pela ativação dessas zonas.









• Para falarmos da Perspetiva Construtivista Psicológica é necessário falar do afeto, uma vez que este
representa a base biológica presente nas várias emoções, sendo que estas são ativadas por zonas
como, a insula, a amígdala, o tálamo e o hipotálamo (zonas a rosa).
• Precisamos de todas estas áreas que estão envolvidas no afeto, mas também precisamos das áreas
responsáveis pela conceptualização, ou seja, a avaliação, nomeadamente, o lobo temporal medial
e o córtex pré-frontal ventromedial (zonas a roxo).
• A linguagem também é necessária, uma vez que esta permite a associação entre a simbolização e a
compreensão, designadamente o lobo temporal anterior e o córtex pré-frontal ventromedial.

Críticas à Perspetiva Locacionista
• A Perspetiva Locacionista ao defender a existência de regiões específicas para emoções específicas,
foi sendo posta em causa pela Abordagem Construtivista Psicológica, sendo que esta afirmava que
se tratava de uma perspetiva no mínimo limitada e imprecisa.
• Embora a Perspetiva Construtivista Psicológica concorde com a existência de certas regiões
envolvidas na ativação das emoções, esta afirma que sem uma construção psicológica, estas áreas
por si só não explicam as emoções do ser humano.


• Relativamente às emoções primárias, a Perspetiva Locacionista pode ter algum fundamento pelo
sistema de processamento mais básico, mas para as emoções mais complexas, é impossível apontar
uma zona do cérebro altamente especializada.
• Por exemplo, a emoção primária “medo” pode ser associada à amígdala, mas as suas variações, por
exemplo, a preocupação não estaria só associada à amídala, mas também à zona pré-frontal
(antecipação, planeamento).
• Para um processamento mais básico a amígdala é suficiente para dar resposta às emoções
primárias, mas como o ser humano possui outro tipo de respostas mais diferenciadas e complexas,
as emoções mais complexas requerem o envolvimento de outras zonas cerebrais.

• A Perspetiva Construtivista Psicológica sugere, assim, a existência de mais do que uma área
altamente especializada para a explicação de estados emocionais mais complexos.
• O conjunto e a articulação de todas essas regiões pressupõem a existência de circuitos integrados e
não a individualização de áreas altamente especializadas.

Diferença entre a Perspetiva Locacionista e a Perspetiva Construtivista Psicológica
• A principal diferença entre a Perspetiva Locacionista e a Perspetiva Construtivista Psicológica é que,
a primeira aborda as emoções como um fenómeno iminentemente biológico e psicofisiológico,
defendendo assim que as emoções estão muito mais ligadas a um fenómeno fisiológico do que a
um fenómeno psicológico.
• Já a Perspetiva Construtivista Psicológica defende que as emoções não incluem apenas a ativação
neuronal e que mesmo essa ativação depende da perceção e da avaliação.
• Então a grande diferença entre estas duas perspetivas é esta alteração de uma perspetiva
meramente fisiológica para uma perspetiva psicológica das emoções.

• A Perspetiva Locacionista refere-se a abordagem mais simplista e primária da natureza das
emoções, aproximando-se, assim, da visão de autores como Cannon e de William James.
• A Perspetiva Construtivista Psicológica refere-se a uma abordagem psicológica das emoções, o que
acaba por englobar não só as áreas envolvidas no processamento, mas também todas as zonas
envolvidas nos processos psicológicos que interagem com os processos de ativação fisiológica na
experiência emocional.
• A Perspetiva Construtivista Psicológica acaba, assim, por se aproximar de uma visão mais
contemporânea.












Modelo Circunflexo
• O modelo circunflexo afirma que o cérebro deve ser visto como processador holístico que processa
a experiência tendo por base dois sistemas neuropsicofisiológico (valência e ativação) e não as
simples áreas altamente especializadas.
• A valência é descrita como um continuum entre agradável e desagradável, enquanto que a ativação
se refere ao grau de excitação do organismo quando presente a emoção (ativação ou desativação).
• Este modelo afirma que todas as emoções têm o mesmo circuito neuronal: a informação sensorial
é recebida pelo tálamo, que é enviada de seguida pela amígdala, córtex pré-frontal, córtex
associativo e o córtex sensorial.
• Em geral, o modelo circunflexo afirma que todas as emoções surgem de interpretações cognitivas
de sensações básicas que são produtos dos dois sistemas neuropsicofisiológicos.


Motivação
• A motivação encontra-se associada a um motivo, sendo que este motivo se constitui como uma
razão, estímulo ou um incentivo que energiza o indivíduo para uma determinada ação.
• Esta ação pode ser mais ativa ou passiva, podendo ainda ser uma ação por envolvimento ou uma
ação por afastamento e inibição.
• A motivação é um processo psicológico que varia em função dos níveis que a envolve, sendo que
estes podem ir do nível mais básico e organismicos até aos níveis de abstração (objetivos e
representações).

• É possível afirmar que existe uma espécie de hierarquia de motivos que levam o ser humano a agir,
sendo que o nível mais básico é a sobrevivência, depois a adaptação e por último a sensação de
bem-estar.
• Estas necessidades mais básicas constituem-se como motivações iminentemente biológicas e
organísmicas, podendo ser equiparáveis às motivações dos outros animais.
• Contudo, o ser humano é mais complexo do que os outros animais, uma vez que se constitui como
um ser racional, apresentando, por isso, uma capacidade de criar representações abstratas da
realidade, assim como, necessidades de realização, objetivos e ambições.
• Desta forma, para além dos motivos mais biológicos e organismicos, existem também motivações
que resultam de uma construção mental e dos objetivos que o ser humano estabelece. porque
somos seres humanos e, incluindo a representação do que queremos para nós.

Emoção ou Motivação
• A motivação refere-se a um processo comum a todos os animais, pelo menos no que toca à sua
expressão das motivações mais básicas, organísmicas e fisiológicas.
• Embora as emoções mobilizem, também, o organismo para dar uma determinada resposta, estas
situam-se a um nível que não é fisiológico, mas sim a um nível mais subjetivo e experimental da
relação do indivíduo com o meio.



Emoções vs Sentimentos
• As emoções dão origem aos sentimentos e os dois estão relacionados entre si, porém, eles são
processados por caminhos diferentes no nosso cérebro.

• As emoções são vividas de uma forma mais intensa e com uma duração mais breve e limitada, sendo
por isso consideradas um estado.
• As emoções são orientadas para o exterior, podendo ser observadas por outras pessoas graças à
expressão facial, mudanças na voz e no comportamento.
Ø o medo, a alegria, o nojo, a raiva e a tristeza

• Os sentimentos são vividos de uma forma menos intensa do que as emoções e são mais duradouros,
podendo durar toda a vida, sendo por isso considerados um traço.
• Os sentimentos são orientados para o interior, representando, assim, a forma como o ser humano
interpreta as emoções que experiencia.
Ø a saudade, o fracasso, solidão e o arrependimento

• Ambos conseguem ter pontos em comum, como a sua estrutura (contém um objeto), a sua
apreciação, e a propensão para agir em relação ao objeto.

Emoção vs Razão
• Embora a emoção e a cognição tenham sido consideradas competências diferentes, a psicologia
cognitiva serve-se de uma terminologia que não é apropriada para descrever os processos
emocionais.
• A razão utiliza processos cognitivos complexos que contrastam com os processos intuitivos e
impulsivos das emoções.
• A razão utiliza relações de meios e fins para alcançar as melhores soluções, ao contrário dos
processos desorganizados das emoções.
• Embora exista um reconhecimento da racionalidade das emoções, estas condicionam as escolhas
racionais.
• O maior contraste não se prende com o binómio emoção–razão, mas sim, com o que evoca as
emoções e o que as pode evocar quando a informação racional adquire apelo emocional.

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