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PERFIS DE SOLEIRAS DE VERTEDOUROS DE BAIXA QUEDA AFOGADOS POR


JUSANTE

Conference Paper · September 2016

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4 authors, including:

Paulo Dettmer Jose Ota


Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento Universidade Federal do Paraná
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IAHR AIIH
XXVII CONGRESO LATINOAMERICANO DE HIDRÁULICA
LIMA, PERÚ, 28 AL 30 DE SETIEMBRE DE 2016

PERFIS DE SOLEIRAS DE VERTEDOUROS DE BAIXA QUEDA


AFOGADOS POR JUSANTE

Paulo Henrique Cabral Dettmer, José Junji Ota, Fernando Ribas Terabe, Ingrid Illich Muller
Institutos LACTEC - CEHPAR Universidade Federal do Paraná UFPR, Brasil,
Paulo.cabral@lactec.org.br, ota@lactec.org.br, Fernando.terabe@lactec.org.br; ingrid@lactec.org.br

RESUMO:

Muitos perfis de vertedouros são compostos por uma crista do tipo padrão “USBR” ou
“Corps of Engineers”, seguida por uma calha e uma contracurva. Este tipo de perfil clássico conduz
a projetos bastante confiáveis nos projetos de vertedouros de descarga livre. Os inúmeros trabalhos
já realizados fornecem bons subsídios para se projetar o perfil vertente dessas estruturas com
economia e segurança. No entanto, devido à necessidade atual de se construir barragens mais
baixas, tem-se observado a crescente necessidade de se projetar vertedouros de baixa queda, alguns
com considerável afogamento por jusante. Esse tipo de vertedouro tende a ter a capacidade de
descarga reduzida devido às condições a jusante da crista, principalmente pela submergência a
jusante do vertedouro. Nesses casos a crista tipo padrão pode não ser o mais adequado para o
vertedouro. Este artigo apresenta os resultados de uma investigação experimental realizada no
modelo seccional do vertedouro da UHE-Belo Monte, no qual a utilização de um perfil não
convencional resultou no aumento da eficiência do vertedouro. Este artigo procura dar subsídios a
projetos de novos vertedouros de baixa queda afogados por jusante. Como consequência, esta crista
especial foi adotada como solução de projeto.

ABSTRACT:

Many spillways profiles consist of a standard type "USBR" or "Corps of Engineers" crest
followed by a chute and a toe curve. This type of profile leads to very reliable results in free
overflow spillway projects. The already carried out extensive works provide good information to
design this kind of spillway with economy and safety. However, due to the current need to build
low dams, it is observed a progressive need to design low ogee spillways, some of them with
considerable downstream submergence. This kind of spillways can have reduced discharge capacity
due to their profile shape and due to the downstream submergence. In such cases the standard crest
may not be appropriate for the spillway. This article presents the results of an experimental
investigation in the sectional model of Belo Monte spillway, in which the use of a non-standard
crest resulted in increased spillway efficiency. As a consequence, this special crest profile
was adopted as the design solution.
.

PALAVRAS CHAVES: Vertedouro de baixa queda, Dimensionamento hidráulico; Capacidade de


descarga.
INTRODUÇÃO:

Os vertedouros têm seu perfil determinado de acordo com o formato da lâmina inferior de
um jato descarregado livremente na atmosfera (perfis tipo padrão USBR ou Corps Of Engineers).
Esse método, parte do princípio que durante a passagem da cheia de projeto a pressão na crista do
vertedouro será equivalente à pressão atmosférica garantindo um coeficiente de descarga da ordem
de 2,0 m1/2/s. No entanto, nos vertedouros de baixa queda afogados por jusante a proximidade da
contracurva e o elevado nível de jusante podem aumentar a pressão na crista do vertedouro,
reduzindo a capacidade de descarga.
Esse fato pode sugerir que, analogamente aos vertedouros com descarga livre, vertedouros
afogados por jusante devem ter seu perfil baseado no perfil inferior do escoamento principal que
ocorre após uma seção de controle afogada por jusante. Um estudo intensivo em modelo reduzido
realizado no laboratório de hidráulica do CEHPAR mostrou que a adoção de um perfil do tipo
padrão para um vertedouro com alto grau de afogamento pode ocasionar uma zona de separação
com formação de vórtices, similar ao que ocorre em uma expansão brusca.
Rajaratnam e Muralidhar (1969) mediram perfis de velocidade a jusante de um vertedouro
de borda delgada submetido a um elevado nível de jusante. Esses estudos mostraram que o perfil do
escoamento principal a jusante de um vertedouro afogado é consideravelmente diferente do perfil
de escoamento de um vertedouro com superfície livre, devido à formação de uma zona de separação
que ocorre devido ao afogamento mudando o formato da lâmina inferior da seção de escoamento
principal. Essa constatação sugere que o perfil da soleira vertente de um vertedouro com elevado
grau de submergência pode ter sua capacidade de descarga melhorada com a adoção de um perfil
mais suave.
No presente estudo foi verificado que o uso de um perfil não convencional aumentou a
capacidade de descarga do vertedouro da UHE Belo Monte, que inicialmente havia sido concebido
de acordo com o perfil de vertedouro convencional (sem afogamento a jusante). Através de uma
intensiva pesquisa em modelo reduzido observou-se que a adoção de um perfil mais hidrodinâmico,
aumentou a capacidade de descarga do vertedouro para se descarregar a cheia de projeto, sendo
inclusive adotado no projeto executivo e executado na obra.

CRITÉRIOS DE PROJETO – PERFIL DA SOLEIRA VERETENTE

Os perfis de soleira vertente do tipo padrão tem seu perfil determinado de acordo com a
equação [1], que representa o perfil de um jato descarregado livremente na atmosfera.
n
y  k   x  [1]

HD  HD 
Onde x e y se referem ao sistema de coordenadas cartesianas que tem como origem a crista
do vertedouro, HD = carga de projeto do vertedouro e o coeficiente k e o expoente n são funções da
velocidade de aproximação e da inclinação do paramento de montante do vertedouro. O formato da
crista padrão é apresentado na Figura 1:

N.A.
ha

N.A.
Altura de velocidade
U²/2g
HD

Q (m³/s) Origem da crista Altura de velocidade Q (m³/s)


U (m/s) U²/2g U (m/s)
x
x X
y

n
(y/H D) = k (x/H D)
Perfil do jato livre
P

Pressão atmosférica
Paramento de
Montante Vertedouro de borda delgada
com paramento inclinado
y

Figura 1.- Perfis de soleira vertente tipo padrão


Este critério parte do princípio que, durante a passagem da cheia de projeto onde a carga do
vertedouro é igual a HD, a pressão na crista do vertedouro será equivalente à pressão atmosférica
garantindo um coeficiente de descarga da ordem de C = 2,0 m1/2/s. Valores experimentais feitos por
Bradley (1952) apontam que coeficiente para carga igual à de projeto é da ordem de C = 2,1 m1/2/s
quando não se conta qualquer efeito de perdas no escoamento de aproximação. Esse valor é
razoavelmente próximo ao obtido quando a razão de H/P é muito grande, sendo H a carga de
operação e P a altura do paramento de montante. Na prática sempre existe alguma perda de
eficiência. O coeficiente também muda com a relação entre a carga de operação H e a carga de
projeto HD, conforme dado pela Figura 2.

1,1

1,0
Coperacao/C projeto

HD
H
0,9

P
0,8
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6
VALORES DE H/HD
Figura 2.- Coeficiente de descarga para carga de operação diferente da carga de projeto
Adaptado de Design of Small Dams (USBR, 1987)

Para H>HD o coeficiente de descarga pode ser maior, e há uma tendência atual de se projetar
a crista com HD de 75% a 80% da carga máxima, como adotado há muito tempo no vertedouro da
usina hidrelétrica de Segredo (Ota, 1986), localizada no rio Iguaçu, Estado do Paraná, Brasil. A
adoção da carga de projeto menor que a carga máxima desfruta de uma vantagem que é o aumento
do coeficiente de descarga, mas isso ocorre em função da diminuição de pressão sobre a crista.
Poder-se-ia imaginar que a diminuição da carga de projeto (HD) só traz vantagens a não ser o
eventual risco à cavitação. Entretanto, testes em laboratório tem comprovado que muito antes da
cavitação, pode ocorrer a separação do fluxo sobre a crista e o suposto ganho da capacidade de
descarga não ocorre conforme visto em Povh et al (2001). Este estudo mostrou uma tendência de
separação do fluxo e uma consequente redução do coeficiente de descarga em relação ao que se
esperava.
Os perfis de vertedouro de baixa queda afogados por jusante são, de uma maneira geral,
projetados de acordo com a crista do tipo padrão e a redução da capacidade de descarga é estimada
analiticamente em função do grau de afogamento e características geométricas da estrutura. Estudos
realizados pelo “USBR” que posteriormente foram publicados no livro Design of Small Dams
(USBR, 1987). O estudo sugere a utilização de um ábaco para calcular a redução da capacidade de
descarga de vertedouros afogados por jusante, baseando-se em testes realizados em dois
vertedouros para investigar a redução da capacidade de descarga por efeito do afogamento por
jusante e pela presença de um piso a jusante da crista.
O ábaco apresentado na figura 3 é composto por diversas curvas que preveem a redução da
capacidade de descarga através da plotagem de duas variáveis adimensionais: o grau de
submergência (hd/H) e a posição do piso de jusante (hd + d)/H. Onde hd é a diferença entre a carga
disponível a montante e o nível de jusante e d corresponde a profundidade do escoamento a jusante
e H é a carga hidráulica de operação, medida a partir da crista. Pode se observar que quando o valor
de hd/H é próximo de 0 o escoamento é muito afogado e para valores acima de 1 temos escoamento
livre. Para valores de (hd + d)/H próximos a 1,0 temos o piso de jusante na mesma elevação da
crista e quanto maior o valor desta variável, mais longe fica o piso da crista do vertedouro. Plotando
esses dois parâmetros sobre as curvas é possível obter redução do coeficiente de descarga (linhas
tracejadas da Figura 3).

1,7

1,6
1 - Escoamento supercrítico a jusante
2 - Escoamento subcrítico a jusante
1,5
3 - Prof. de jusante onde acontece formação de ressalto
4 - Prof. de jusante insuficientes p/ formar ressalto
1,4
0% 5 - Prof. de jusante suficiente p/ formar bom ressalto

3 6 - Prof. de jusante excessiva p/ formar bom ressalto


1,3
7 - Ressalto hidráulico afogado
1 8 - Escoamento completamente afogado sem ressalto
1,2 1%

2%

H
1,1

hd
U²/2g
3% Q (m³/s)
GRAU DE SUBMERGÊNCIA - hd
H

U (m/s)
1,0

d
4%

P
4
0,9 6%
B
8% 5
2
0,8 0%
10% 6
A A

REDUÇÃO NO COEFICIENTE DE DESCARGA (%)


0,7
15% 1%

0,6
20%
2%
0,5
7 3%

0,4 20%

6%
0,3
8%
10%
0,2 23% 15%
30% 20%
23%
30%
0,1 40% 40%
8 50%
50% 60%
60%
0,0 80% 80%
1,0 1,4 1,8 2,2 2,6 3,0 3,4 3,8 4,2 4,6 B 5,0
POSIÇÃO DO PISO A JUSANTE - hd+d
H
Figura 3.- Ábaco para determinação da redução da capacidade de descarga de vertedouros afogados por
jusante - Adaptado de Design of Small Dams (USBR, 1987)

Estudos experimentais realizados por Dettmer et al., (2013) e Dettmer (2010) apontam que a
precisão do cálculo analítico realizada com o ábaco sugerido em (USBR, 1987) pode ser pouco
precisa, sugerindo que a determinação da real capacidade de descarga dos vertedouros com elevado
grau de afogamento por jusante seja confirmada através de modelos computacionais com auxílio de
modelo físico. Ou seja, os métodos existentes para dimensionamento e determinação da geometria
da soleira vertente de vertedouros de baixa queda de maneira analítica ainda deixam um certo grau
de incerteza sendo comum a obtenção da real capacidade de descarga através de estudos em modelo
reduzido.

DEFINIÇÃO DO PERFIL DA SOLEIRA VERTENTE DA UHE – BELO MONTE –


ESTUDOS EM MODELO REDUZIDO

O vertedouro da UHE Belo Monte foi concebido considerando um elevado grau de


afogamento a jusante para a vazão de projeto. A determinação de sua capacidade de descarga sem a
realização de um estudo experimental teria um grande grau de incerteza associado. Os estudos
iniciais de capacidade de descarga foram realizados em um modelo bidimensional construído na
escala geométrica 1:70. O modelo do vertedouro foi implantado em um canal retangular com
largura equivalente a 49 m, simulando um vão inteiro mais dois meio vãos do vertedouro.
Na ocasião, o projeto do vertedouro da UHE Belo Monte contemplava 20 comportas de 20
m de largura, com crista na El. 76,00 m e deveria ser capaz de descarregar a cheia decamilenar
(62.000 m³/s) com o reservatório no nível máximo maximorum na El. 97,50 m (H = 21,50 m).
Tendo em vista que a capacidade de descarga do modelo seccional não leva em conta as
perdas que podem ocorrer devido à aproximação esconsa do vertedouro, foi definido pelo consórcio
projetista, que o modelo bidimensional deveria ser capaz de descarregar a cheia decamilenar com
um nível máximo maximorum da ordem de 30 cm abaixo do nível de projeto, resultando em um
nível máximo maximorum na El. 97,20 m no modelo seccional.
Os estudos em modelo reduzido foram conduzidos de maneira a verificar a passagem da
cheia decamilenar para as alternativas sugeridas pelo consórcio projetista. Inicialmente foi previsto
estudar seis perfis de crista do tipo padrão no modelo bidimensional do vertedouro. No entanto,
com a pesquisa no modelo reduzido foi possível convergir rapidamente para uma estrutura que
atendesse as especificações de projeto totalizando o estudo com 5 alternativas, sendo 3 alternativas
com perfis tipo padrão (Alternativas 1, 3A e 6) e 2 alternativas com perfis não convencionais
(Alternativas 3B e 3C) sugeridas pelo laboratório. As principais características dos perfis estudados
são ilustrados na Figura 4.

Figura 4.- Alternativas Estudadas no Modelo Reduzido

Os ensaios iniciais realizados por Dettmer (2012) mostraram que as mudanças no canal de
aproximação e restituição do vertedouro com soleira tipo padrão (Alternativas 1, 3A e 6)
conduziram a resultados muito similares em termos de capacidade de descarga durante a passagem
da vazão de 62.000 m³/s. Nenhum dos perfis convencionais estudados atendiam os critérios
estabelecidos pelo projetista de manter o nível de água no reservatório inferior à El. 97,20 m.
Como as 3 alternativas com crista padrão foram similares em termos de capacidade de
descarga, concluiu-se que as alterações na posição do piso a jusante (canal de restituição) e da altura
do paramento de montante (canal de aproximação) foram praticamente insignificantes para o
desempenho do vertedouro considerando as condições testadas no modelo, conforme mostrado na
Tabela 1.

Tabela 1.- Resultados obtidos para os perfis do tipo padrão


Coeficiente de Descarga – C Nível do reservatório para a vazão
Alternativa Perfil da Soleira (m1/2/s) decamilenar (62.000 m³/s)
1 Y = -0,0476 x1,85 1.565 97,41
3A Y = -0,0476 x1,85 1.562 97,43
6 Y = -0,0476 x1,85 1.565 97,41

A principal constatação destes ensaios foi que, para condições de afogamento mais severas,
a geometria convencional do perfil tipo padrão perde eficiência. No modelo reduzido foi observado
que o escoamento descolava da soleira, formando uma zona de separação com formação de vórtices
semelhante ao que ocorre em uma expansão brusca. A zona de separação a jusante da crista é
ilustrada na Figura 5.

Figura 5.- Zona de separação com formação de vórtices a jusante da crista – Alternativa 01

Essa zona de turbulência gera perdas de energia no escoamento, reduzindo capacidade de


descarga do vertedouro. Estudos realizados em um vertedouro de borda delgada submetidos a um
elevado grau de afogamento por jusante realizados por Rajaratnam e Muralidhar (1969) mostraram
que o escoamento se subdivide logo após passar pela seção de controle, formando um escoamento
principal na parte superior e uma zona de turbilhonamento na parte inferior, similar ao observado no
presente estudo. A figura 6 ilustra a zona de turbilhonamento relatada por Rajaratnam e Muralidhar
(1969), na qual se percebe que o perfil inferior do escoamento principal tem formato convexo,
bastante diferente dos perfis tradicionais de vertedouro, que são baseados em perfis inferiores de
escoamentos livres.
ESCOAMENTO
N.A. PRINCIPAL

Q (m³/s)
U (m/s)

ZONA DE
TURBILHONAMENTO

Figura 6.- Zona de separação (turbilhonamento) com formação de vórtices - Adaptado de


Rajaratnam e Muralidhar (1969)

Baseando-se na análise qualitativa do escoamento, o laboratório propôs testar duas


alternativas com perfis especiais, sendo uma contracurva de grande raio (Alternativa 3B) e um
trecho reto ligando a crista ao canal de restituição (Alternativa 3C). Essas alterações preenchiam a
região onde se identificava a zona de separação com formação de vórtices e tinham o objetivo de
diminuir as perdas localizadas ocasionadas pela separação do escoamento. O novo perfil não
convencional assemelha-se à expansão gradual do medidor tipo Venturi após o estrangulamento. O
Venturi apresenta menor perda de carga localizada em relação ao medidor tipo bocal e Dall Tube
justamente por evitar a zona de separação onde ocorre a dissipação de energia.
Os ensaios mostraram que os perfis não convencionais reduzem de forma muito significativa
a zona de separação a jusante da crista resultando em um incremento considerável na capacidade de
descarga do vertedouro para a cheia decamilenar (aprox. 62.000 m³/s). A Figura 7 ilustra o
escoamento para os perfis não convencionais.

Figura 7.- Redução significativa da zona de separação (turbilhonamento) com formação de vórtices
Alternativa 3B a esquerda e Alternativa 3C a direita.

Os níveis de montante obtidos com os perfis não convencionais resultaram


significativamente mais baixos em comparação aos perfis tipo padrão (El. 97,10 m para a
Alternativa 3B e El. 97,03 m para a Alternativa 3C). Ambas alternativas atenderam as
especificações de projeto, sendo capazes de descarregar a cheia decamilenar com folga superior a
0,30 m no reservatório em relação ao nível máximo maximorum na El. 97,50 m. Os resultados
obtidos no modelo bidimensional são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2. - Comparação dos níveis de reservatório para as alternativas estudadas no laboratório
Coeficiente de Nível do
Descarga reservatório para a
Alternativa Perfil da Soleira Tipo de Perfil
C (m1/2/s) vazão de projeto
El. (m)
1,85
1 Y = -0,0476 x Padrão 1.565 97,41
3A Y = -0,0476 x1,85 Padrão 1.562 97,43
1,85
6 Y = -0,0476 x Padrão 1.565 97,41
3B CURVA R= 130 m Não convencional 1.599 97,10
3C RETO Não convencional 1.607 97,03

Os resultados apresentados na Tabela 2 mostram que as alterações da posição do canal de


aproximação e de restituição do vertedouro não influenciaram a capacidade de descarga de forma
significativa, sendo os maiores ganhos em termos de capacidade de descarga obtidos devido às
mudanças no perfil da soleira vertente. Por opção do projetista, o perfil de soleira da Alternativa 3B
foi adotada para o projeto básico consolidado do vertedouro da UHE Belo Monte.

CONCLUSÕES

Vertedouros de baixa queda comumente tem o perfil da soleira vertente projetado com
cristas do tipo padrão, que baseiam-se na forma do perfil inferior de um jato descarregado
livremente na atmosfera. O presente estudo mostrou que para elevados graus de submergência a
adoção do perfil do tipo padrão não se justifica e pode levar à perda de eficiência devido à formação
de uma zona de separação a jusante da crista que leva à redução da capacidade de descarga do
vertedouro.
Os perfis não convencionais (Alternativas 3B e 3C) diminuíram consideravelmente a zona
de separação a jusante da crista, melhorando consideravelmente a capacidade de descarga do
vertedouro quando submetidos a condições de elevada submergência por jusante, resultando em
ganho da capacidade de descarga do vertedouro, sendo inclusive, adotada a alternativa 3B como
solução para o projeto executivo.
Este resultado põe em evidência que o perfil vertente do tipo padrão, baseado no perfil de
um jato livre na atmosfera, pode não ser o mais adequado para vertedouros de baixa queda afogados
por jusante e que a adoção de um perfil especial como no caso de Belo Monte pode ser mais
conveniente em termos de capacidade de descarga.

REFERÊNCIAS

Bradley, J. N. (1952). Discharge coefficient for irregular overflow spillways. U.S. Bureau of Reclamation
USBR. Denver, United States. Engineering Monographs n. 9.

Dettmer P.H.C.; Ota, J.J.; Fabiani A. L. T. (2010). Estudo da capacidade de descarga de vertedouros de
baixa queda com elevado grau de submergência. LACTEC / CEHPAR. Curitiba, Brasil. HL-163 rel. 4.

Dettmer P.H.C. (2012). Estudos Hidráulicos em Modelo Reduzido da Usina Hidroelétrica Belo Monte.
Relatório Técnico – Estudo Preliminar para Verificação da Capacidade de Descarga do Vertedouro com
Redução do Nível de Água a Jusante. LACTEC / CEHPAR. Curitiba, Brasil. HL-180 rel. 1.

Dettmer P.H.C.; Fabiani A. L. T.; Ota J.J.; Araujo A. L.; Franco H.C.B. (2013). “Estudo da capacidade
de descarga de vertedouros de baixa queda com elevado grau de submergência”. VII Citenel. Rio de Janeiro,
Brasil.
Ota, J. J. (1986). “Considerações sobre a capacidade de descarga e pressões na região da crista de
vertedouros de encosta”. Congresso Latino Americano de Hidráulica. São Paulo, Brasil.

Povh, P. H.; Ota, J. J.; Groszewicz, R. C.(2001). Estudos hidráulicos em modelo reduzido da barragem do
rio aipim. LACTEC / CEHPAR. Curitiba, Brasil. HL-122 rel. 1.

Rajaratnam, N.; Muralidhar, D. (1969). “Flow below deeply submerged rectangular weirs”. Journal of
hydraulic research, Delft, Netherlands. P. 355-374.

USBR (1987). Design of small dams. 3 Ed. Washington D.C, United States. U.S. Government Printing
Office.

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