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O nominalismo nega a existência de entidades abstratas (universais, formas, espécies,

proposições, etc.). O nominalismo tradicional partiu de uma epistemologia empirista que


desafia a própria possibilidade da metafísica, seja idealista ou materialista. A crítica do
empirismo é tomada como implicando uma refutação ao nominalismo. Mas o nominalismo
contém um insight valioso para os naturalistas: a realidade não possui forma proposicional.
Esse é um insight que merece ser retomado por naturalistas pós-darwinistas, para os quais o
realismo sobre entidades abstratas é problemático na medida em que parece reiterar a
presunção teológica de uma harmonia preestabelecida entre ordem conceitual e ordem real. A
questão é se os naturalistas contemporâneos conseguem retomar esse insight nominalista e
ao mesmo tempo eliminar os preconceitos empiristas que o ligam ao relativismo cético. Para a
afirmação de que a realidade é desprovida de forma proposicional não é necessário negar que
podemos captar aspectos da realidade na forma proposicional ou que os conceitos têm
aquisição ontológica. O desafio é explicar tanto como o pensamento proposicional estruturado
surge na natureza e como ele pode ser usado para rastrear processos naturais apesar de a falta
de congruência entre a forma proposicional e a ordem natural.

Responder a este desafio é central para o entendimento de Wilfrid Sellars do que significa ser
um naturalista pós-darwinista. Procedendo a partir de uma árdua crítica à ideia de que a
mente é um espelho da natureza, a posição de Sellars exemplifica o ideal do que Huw Price
chama de "naturalismo sem espelhos."(1) Mas ao contrário de seus descendentes rortyanos,
Sellars recusa-se a renunciar a convicção Iluminista de que a ciência natural pós-Galileu marca
uma avanço decisivo na evolução cognitiva da nossa espécie. Ele defende um naturalismo
racionalista que procura promover o projeto inacabado do Iluminismo. Compreendido
corretamente, seu ataque ao mito do Dado desqualifica o idealismo conceitual e provém as
precondições para um realismo transcendental convicto. A chave para a ligação entre a
rejeição de Sellars do Dado e seu endosso ao realismo reside no seu nominalismo
metalinguístico. É no contexto deste último que ele insiste que "a forma proposicional
pertence apenas às ordens linguística e conceitual" (NAO, 62). (2) O meu objetivo neste
capítulo é explicar porque é que essa insistência resulta da rejeição de Sellars do dado e como
ela se encaixa com suas considerações sobre representação. Visto que o meu objetivo é
principalmente expositivo, não vou abordar as várias objeções que podem ser feitas contra as
afirmações principais de Sellars; outros já o fizeram. (3) Vou começar por enquadrar a agenda
naturalista de Sellars dentro do contexto do que eu chamo de problema pós-Kantiano da
ontologia crítica. Então eu vou recapitular como a crítica de Sellars ao dado determina o seu
comprometimento ao nominalismo. Isso será seguido por um breve resumo do papel funcional
do trabalho de Sellars sobre significado. Por último, vou discutir a explicação de Sellars sobre a
relação entre linguagem e realidade, em termos do que eu chamarei de "materialismo
metodológico" e indicar a sua ligação com uma explicação de Sellars sobre uma metafísica dos
processos.

1. O PROBLEMA DA ONTOLOGIA CRÍTICA

A ontologia é uma tentativa de responder à pergunta "O que há?". Mas isso não pode ser
respondido listando nomes de entidades, por exemplo, "tabela", "cadeira", "árvore", "Cyprus",
"Dante" e "Aeroflot". “Mesa", "cadeira" e "árvore" são substantivos comuns - isto é, nomes
para tipos [ou categorias] de objetos. "Cyprus," "Dante" e "Aeroflot" são substantivos próprios
- isto é, nomes para objetos particulares. Listar substantivos, quer sejam nomes de tipos ou
nomes de particulares, é pouco informativo porque nos oferece nomes sem explicar o que é
um nome ou como este se relaciona com o nominado. Se a ontologia tiver que aceitar a
medida da crítica kantiana à metafísica dogmática, ela não pode permanecer satisfeita com
uma explicação, querendo ou não, arbitrária sobre o que existe; mas deve explicar como é que
sabemos o que existe. Uma das implicações da finitude epistemológica é que não sabemos os
nomes divinos das coisas. Os nomes que os humanos dão às coisas não estão necessariamente
ligados às coisas que nomeiam. O significado de um nome não é a designação de uma
essência. Sellars aceita essas constrições kantianas. No entanto, ele manterá que há um
sentido em que a nomeação está na base do funcionamento linguístico. No entanto, ele insiste
que esta dimensão nominativa não diz respeito à significação, mas a processos materiais. Os
nomes que dão à significação linguística a sua derradeira funcionalidade, não significam; são
padrões materiais. Assim, a solução de Sellars para o problema da referência é ao mesmo
tempo dialética e materialista: garante a autonomia da significação fundamentando-a em
padrões não significantes.

Existem três necessidades básicas para uma ontologia crítica. Ela deve explicar:

 o que é um nome e como se relaciona com o que nomeia;


 por que há uma diferença entre nomes e coisas; e
 que tipos de coisas existem e, sobretudo, o que são tipos [ou categorias].

Assim, a resposta à pergunta "O que há?" também implica uma resposta à pergunta "O que é
uma categoria?" Em sua versão mais simples, a controvérsia sobre o status das categorias é se
elas são atributos independentes-da-mente de uma ou mais substâncias, ou conceitos
dependentes-da-mente (como os conceitos puros do entendimento em Kant ou os existenciais
de Heidegger). A sugestão de Sellars é que elas não são nenhum dos dois. As categorias são
funções metalinguísticas, mas a sua função metalinguística é entretanto um modo de
representar a realidade. A determinação do status categorial depende da identificação do
espaço conceitual – identificar a regra conceitual adequada-. Especificar a categoria de uma
entidade será então determinar certas características lógico-semânticas de representação tais
que certifiquem ser daquela entidade. No entanto, a representação em si não é uma relação
conceitual ou uma relação entre conceitos e coisas. É essa abordagem - da natureza não
conceitual da representaçã- que distingue a concepção de Sellars das concepções tradicionais
sobre representação como uma relação entre pensamentos e coisas, e torna materialista o seu
posicionamento, num sentido metodológico e não metafísico.

Uma vez que as categorias não representam ou designarem alguma característica do mundo,
elas não são fenomenologicamente intuíveis. Elas não podem ser lidas da estrutura da
linguagem ou da realidade. Assumir o contrário é cair no que Sellars chama de mito do Dado.

2. O MITO DO DADO

Este mito tem duas facetas: epistêmica e categorial.

O mito do Dado epistêmico está enraizado na confusão do pensamento com a sensação. Está
cristalizado na seguinte "tríade inconsistente" de premissas geradas pelo empirismo:

A. X sentir o conteúdo sensível vermelho S implica que X sabe não-inferencialmente que s é


vermelho.

B. A habilidade de sentir conteúdos sensíveis não é adquirida.

C. A habilidade de conhecer fatos do tipo x é ø é adquirida.

A e B juntos implicam ~C; B e C juntos implicam ~A; A e C juntos implicam ~B. (4)
O argumento de Sellars é complexo, mas pode ser resumido como se segue: conhecimento é
de fatos, é saber que algo é o caso (que algo é assim ou assaz). Os fatos têm forma
proposicional (x é ø). A questão é se possuímos a capacidade para sentir fatos. Ou a
capacidade para compreender fatos do tipo “x é ø” é adquirida, ou é não adquirida. Se for
adquirida, então não é uma capacidade sensorial, já que, por hipótese, a habilidade para sentir
conteúdos sensíveis é não adquirida. Assim, a habilidade para saber fatos deve ser não
adquirida. Mas se é não adquirida, então o mundo precisa ter forma proposicional. Dizer que
sentimos fatos é dizer que a sensação espelha uma realidade já dotada de forma
proposicional. Uma vez que formas proposicionais pertencem à ordem inteligível, como,
então, podemos nós explicar a congruência entre ordem sensorial e ordem inteligível? Se a
capacidade de sentir fatos é não adquirida, não pode ser explicada de forma naturalista em
termos de evolução por seleção natural. Assim, a congruência entre a ordem sensorial e a
ordem inteligível devem ser deixadas sem explicação ou explicadas invocando fatores
sobrenaturais. {isso é postulado de uma harmônia pré estabelecida entre ordem conceitual e
ordem natural que é uma direta consequência de abraçar o mito do Dado epistêmico}

Sellars argumenta que a premissa A é falsa. Sentir um conteúdo sensível vermelho S não
implica saber não-inferencialmente que S é vermelho. (5) Percepção sensorial sozinha
não constitui conhecimento. O conhecimento não-inferencial de que x é ø - que o
sangue é vermelho ou que o relógio atingiu as doze - é uma percepção
conceitualmente mediada, não uma intuição sensível. A imediaticidade perceptiva
desse tipo de conhecimento é mediado por um elaborado contexto conceitual de
objetos publicamente observáveis relacionados no espaço e tempo. {em outras
palavras, existe uma diferença entre perceber sensorialmente e conceber, sensação
não é conhecimento, [concepção sim]} Essa confusão entre conceber e perceber, ou na
linguagem Kantiana, conceitos com intuições, leva diretamente à segunda faceta do
mito, o mito do Dado categorial, segundo o qual a estrutura categorial da realidade
(supondo que haja uma) imprime-se sobre a mente tal como um selo é impresso sobre
cera. (6) Isso é confundir sentir com sentir-como. (7) Percepção sensorial não é
perceber-como. Perceber que um item que tem status categorial F não é perceber ele
como F. Perceber como F é impor o conceito de F. Essa imposição é governada por
regras. Mas seguir regras é algo do pensamento, que é uma atividade irredutível aos
sentidos, mesmo que atrelada a ela no caso de seres inteligentes. O pensamento não
pode tocar o real: ele pertence a ordem diferente. Mas como veremos, isto não nos
obriga a negar que podemos pensar com sucesso sobre o real, ou negar que o
pensamento está necessariamente embutido na realidade. A sensação é do real, mas
não pode ser sobre o real. Pensar é sobre o real, mas não pode entrar em contato
direto com ele.

Mas antes de dizermos algo sobre como devemos entender o pensamento uma vez
abandonado o mito do Dado, devemos explicar por que rejeitar o mito não implica um
ceticismo. É importante notar que o cético cai no mito do Dado epistêmico: ele tem de assumir
que as aparências são dadas com determinadas características conceituais, até mesmo
enquanto questiona se existe alguma correspondência entre a estrutura da aparência e a
estrutura da realidade. Assim, o ceticismo involuntariamente pressupõe conhecimento das
aparências mesmo quando presume lançar dúvida sobre a sua ligação com a realidade. Além
disso, não pode explicar por quê existem aparências (pois não pode afirmar que as aparências
são[fruto de] meras aparências sob pena de uma regressão problemática). Mas assumir que
aparências determinadas estruturalmente são dadas já é assumir demasiado. Uma vez que o
mito do Dado epistêmico tenha sido exposto, é necessário admitir que o estar-ciente de algo-
como [(perceber como)] já pressupõe conhecimento de um domínio estruturado de objetos
inter-relacionados existentes num panorama espaço temporal.{esse panorama é a imagem
manifesta. A imagem manifesta é uma conquista cognitiva coletiva da espécie humana, a
imagem manifesta não é algo que inatiza a estrutura conceitual, é algo que foi
trabalhosamente construído através dos fenômenos ao longo dos milênios de sua evolução
cultural}. Tanto o pensar como o sentir são orientados para o mundo, ainda que em dimensões
distintas, mas inter-relacionadas: nas palavras de Sellars, a essência do pensamento não é a
essência da sensação. (8)

Pode parecer platitudinoso reiterar mais uma vez a alegação de que a mente não é um
santuário interior privado, que se exterioriza no mundo, e que essa externalização é uma
consequência da sua ligação à atividade linguística. Sellars compartilha a rejeição de Heidegger
e Wittgenstein da privacidade cartesiana do mental. Mas, ao contrário de ambos, ele situa
essa percepção dentro de uma consideração metafísica mais ampla do lugar da mente na
natureza. Esse raciocínio e uso da linguagem são, ambas, atividades que, essencialmente, se
revelarão cruciais para essa consideração. O conceito de pensamento interiore é modelado
por "ditos-em-voz-alta" publicamente observáveis. Esta é uma consequência direta da rejeição
do mito do dado epistêmico. A capacidade de perceber os nossos próprios estados mentais é
adquirida, não inata. A introspecção é um corolário da extrospecção. A habilidade para
introspecção e perceber que se está a pensar X ou a sentir Y pressupõe capacidades
conceituais enraizadas na prática linguística. No entanto, isso não quer dizer que o
pensamento é redutível a disposições verbais. A afirmação de que falar é anterior ao pensar na
ordem do saber é compatível com a afirmação de que o pensar é anterior ao falar na ordem do
ser. O pensamento pré-verbal ou não-verbal é perfeitamente real. Mas a nossa capacidade de
nos apercebermos do nosso pensamento é linguisticamente mediada. Sellars é tão realista
sobre episódios de pensamento interior como Descartes. Sua emenda ao cartesianismo insiste
apenas que o acesso à realidade "interior" é tão mediada como o acesso à realidade
"exterior". Sellars não diz que os pensamentos são necessariamente públicos ou mesmo
essencialmente publicitáveis; a sua reivindicação é que a nossa capacidade de compreender o
que é um pensamento é tributária de recursos conceituais comunitariamente gerados e
publicamente compartilhados. Da mesma forma, o realismo de Sellars sobre pensamentos
internos não o compromete com o a alegação cartesiana de que o pensamento encoberto está
para fala explícita como causa está para efeito. A alegação de que o pensamento está
essencialmente relacionado com a capacidade para expressão linguística não identifica o
pensamento com o comportamento linguístico. Pelo contrário, ela postula que a primeira é
constitutiva da última no mesmo sentido em que as moléculas são constitutivas de gases. Os
pensamentos estão "em" animais que usam linguagem no mesmo sentido em que as
moléculas estão "em" gases. 9 Mas é igualmente equivocado interpretar os pensamentos
como a causa do comportamento linguístico e interpretar moléculas como causa do volume de
gás. A conexão é uma de constituição, e não de causalidade. Assim, é parte da definição da
ocorrência de atos-de-pensamento que eles sejam expressáveis em ditos-em-voz-alta, mesmo
que nenhum ditado ocorra.

Em última análise, o empirismo e o cartesianismo não são os únicos tributários do mito do


dado. A alegação de que o significado está enraizado nos atos originários de imputar/conferir-
sentido da consciência, tornam a fenomenologia, pelo menos nas suas variantes
transcendentais, diretamente subservientes ao mito. A moral a ser tirada da crítica do dado
não é apenas que a nossa compreensão do pensamento é modelada na nossa compreensão da
linguagem; é que a intencionalidade do pensamento deriva da intencionalidade do discurso
público. O pensamento não é o lócus de uma intencionalidade originária que é
subsequentemente transmitida à linguagem. A intencionalidade é principalmente uma
propriedade do discurso público direto estabelecido através do desenvolvimento de recursos
metalinguísticos que permitem a uma comunidade de oradores falar sobre o falar. Essa
rejeição do postulado de intencionalidade originária - um postulado abraçado por filósofos tão
diferentes como Husserl e Fodor - é outra consequência direta do abandono o mito do dado.
Mas se a intencionalidade é primariamente um fenômeno linguístico, o que isso implica para a
nossa compreensão do significado não apenas no que diz respeito à mente, mas também no
que diz respeito à natureza?

3. "MEANS" TALK

Sellars defende uma versão metalinguística do nominalismo. afirmações semânticas tais como
" 'Rouge' (em francês) significa vermelho " citam um signo e correlacionam a sua função numa
linguagem não familiarizada com a sua função numa linguagem familiar. De forma geral, os
operadores semânticos, tais como "significa", "designa", "refere-se" ou "representa"
correlacionam o funcionamento de palavras desconhecidas com o funcionamento de palavras
conhecidas. O "significa" numa afirmação semântica tal como " ‘Rouge’ significa vermelho" é
uma versão especial da cópula (seria com dizer “‘Rouge’ é vermelho em francês”). Ele
estabelece uma correlação entre um termo distributivo singular e um(a)
gênero/tipo/espécie/classe/ metalinguístico(a) (estas expressões técnicas serão esclarecidas
abaixo). Sellars usa o dispositivo de citação-de-pontos para marcar a exibição da função
linguística: assim, " ‘Rouge’ em F é um •vermelho• em P" diz que o signo citado entre aspas
desempenha o mesmo papel linguístico, em francês, que "vermelho" em português.
"Vermelho" aqui não é mencionado, mas utilizado de uma forma especial, não como é
normalmente utilizado no português (como significando a cor vermelha), mas como um tipo
ilustrativo numa afirmação metalinguística. É esse o estatuto peculiar que o dispositivo de
citação-de-pontos exibe. Em afirmações como "Um 'rouge' é um 'vermelho' e "Um
'triangulaire' é um 'triangular'," "rouge" e "triangulaire" funcionam como termos distributivos
singulares em vez de substantivos abstratos. Isso quer dizer que eles funcionam da mesma
forma que a expressão "o leão" funciona na frase "O leão é amarelado". Nessa última, a
propriedade de ser amarelado não se baseia numa entidade abstrata, “leãodade”; em vez
disso, é baseada em cada leão em particular (10): o termo singular "o leão" refere-se
distributivamente a leões particulares existentes no espaço e no tempo. Semelhantemente, no
nível metalinguístico, pode-se tratar os signos "rouge". e "triangulaire" como termos
distributivos singulares e estabelecer uma correlação com os tipos metalinguísticos •vermelho•
e •triangular•. Fazendo isso, obtém-se a correlação "O 'rouge' é o •vermelho• " e "O
'triangulaire' é o •triangular• ". O próximo passo é escrever " 'Rouge's são •vermelho•s" e "
'Triangulaire's são •triangular•es" para indicar que o que está sendo correlacionado aqui são
símbolos linguísticos particulares e não tipos linguísticos abstratos. A pluralização mostra que
tanto os termos distributivos singulares como os tipos metalinguísticos indicam padrões de
símbolos em vez de nomes de tipos abstratos. Se não fosse esse o caso, estaríamos
simplesmente substituindo a referência à entidades linguísticas abstratas pela referência à
entidades extralinguísticas abstratas. Para que a estratégia nominalista funcione, é necessário
insistir que existem apenas símbolos linguísticos particulares, não tipos linguísticos. Isso é o
que é mostrado ao correlacionar os termos distributivos singulares "rouge's" e “triangulaire's".
com os tipos metalinguísticos •red•s e •triangular•s. Essa estratégia metalinguística também
pode ser usada para explicar por que termos singulares abstratos não devem ser considerados
como designando entidades abstratas. Sendo assim, considere o termo singular abstrato
"vermelhidão". Sellars insiste que é um erro tratá-lo como o nome de uma entidade abstrata.
O significado das declarações envolvendo "vermelhidão" pode ser reformulada sem perda
usando o predicado "vermelho": "A exemplifica vermelhidão" é equivalente a "A é vermelho".
Afirmar que não é afirmar que o contexto "... exemplifica a vermelhidão" significa algo que não
seja "... é vermelho." Mas dizer isso é insistir que "exemplificação" é também o nome de uma
entidade abstrata: o nexo exemplificativo através do qual o objeto A é suposto estar ligado à
vermelhidão. É importante ver que adotar este anexo metafísico ao uso comum é convidar
uma regressão, pois se insistirmos em explicar o significado das expressões relacionais em
termos de designação, precisaremos sempre de outro termo relacional abstrato para explicar a
relação entre o particular, o universal, e a relação deles. (essa é uma versão do argumento do
Terceiro Homem).

4. IMAGINANDO COMO REPRESENTAÇÃO

No entanto, o nominalismo de Sellars faz parte do seu realismo. Na verdade, ele endossa um
realismo transcendental, embora um que será finalmente descontado em termos de processos
e não de objectos. Assim, o que precisa ser explicado é a conexão entre sortes metalinguísticas
e extralinguísticas. realidade. O ponto crucial da explicação de Sellars sobre a ligação é a sua
teoria de imaginar. As propriedades metalinguísticas dos símbolos de sign-design retratam o
não-linguístico propriedades dos objetos. No entanto, imaginar não é uma relação semântica.
Não é ser entendida como uma correlação entre os elementos da ordem conceptual (a ordem
de significação) e objetos na ordem causal (que para Sellars é insignificante), mas sim como
uma correspondência não conceitual existente dentro da ordem física natural. Esta correlação
é o que Sellars chama de representação. Representação não é uma relação entre conceitos e
objetos, mas entre objectos e outros objectos.

Estes objectos são pormenores espaço-temporais.

O funcionamento metalinguístico é realizado nas propriedades materiais de

símbolos de sign-design. Assim, o funcionamento metalinguístico de uma espécie de... está


correlacionada com uma propriedade física "real", não linguística; mas esta propriedade não é
nomeado pelo sinal-design "vermelho"; em vez disso, ele é retratado pelo seu sintático papel.
Assim, em uma expressão como "red a", onde a propriedade "red" é baseado no objeto
chamado a, o token "red" não significa ou designa a propriedade. Ao contrário, é sua
concatenação sintática com o nome "a" que explica a sua ligação com a propriedade
extralinguística: Em geral, o nominalista sustenta que não há nada que "vermelho" esteja
presente porque significa coisas vermelhas e coisas vermelhas não é uma coisa. Agora é um
truísmo que a concatenação de "vermelho" com "a" nos diz que a é vermelho. Mas esse fato é
iluminado pela idéia de que "a" está correlacionado com um e "vermelho" com coisas
Vermelhas? Eu acho que não. Para entender o que está acontecendo Precisamos de uma
perspectiva diferente sobre a forma sintática do "A vermelho". Eu sustento que ele é
corretamente visto, não como uma concatenação de dois referindo-se a expressões, mas sim
como um nome, "a", que tem o carácter de ser concatenado à esquerda com uma caixa do
design do sinal (fl atus vocis) "vermelho." Se abreviarmos a expressão Concatenado à esquerda
com um "vermelho". por Vermelho. podemos dizer com respeito a um símbolo, t, de
"vermelho a" que enquanto superficially t é um "vermelho"^"a" i.e. um "vermelho"
concatenado com um "a"; sua verdadeira forma, sua gramática de profundidade, por assim
dizer, é dado por t é um vermelho* ["a"] (Sellars MEV, 333) Assim, a sugestão de Sellars é que
as propriedades metalinguísticas representam propriedades reais através da confirmação
sintática de símbolos de design de sinais. Mais geralmente, Sellars insiste que o papel
desempenhado pelas expressões relacionais e predicados empíricos em declarações
linguísticas podem ser reconstruídos sem os hipostatizar como entidades abstractas. 11 Sua
principal inspiração aqui é a reivindicação de Wittgenstein no Tractatus que dizemos que aRb
ao colocar o

nomes "a" e "b" numa certa relação diádica. 12 Esta relação diádica é uma

padrão de inscrição. É a inscrição que mostra como a e b estão relacionadas

inserindo o símbolo "R" entre os nomes "a" e "b". Mas o símbolo a própria relação não é um
objecto. E o símbolo "R" que relaciona "a" e "b". não é um nome. Assim, o que "R" faz na
declaração "aRb" pode ser feito sem usar um símbolo. Considere a afirmação "a é maior que
b." Nós poderia adoptar uma convenção segundo a qual as propriedades gráficas das
inscrições "a" e "b" dizem o que diz a afirmação "a é maior que b". Por exemplo:

Esta inscrição declara o que "a é maior que b" afirma sem usar a expressão

"é maior do que". Mas é crucial notar que nada no acima mencionado a inscrição desempenha
o papel (alegadamente) desempenhado por "é maior do que". Aquele "b" está abaixo de "a" é
essencial para o significado desta afirmação. Mas este gráfico não corresponde ao papel
desempenhado pela expressão "é maior". do que..." Em vez disso, na inscrição acima, "b" está
abaixo de "a" desempenha o papel jogado por "a" e "b" tendo "é maior do que" entre eles.
Assim, tanto o "a" como o "b" têm "é maior do que" entre eles.

"é maior que" e "ser" está abaixo de "a" e funcionam aqui como inscrições,

ou seja, objectos gráficos, em vez de expressões significativas. Da mesma forma, a expressão


"x é vermelho", que significa que o objeto x tem o símbolo

propriedade red, poderia ser escrito x . Aqui está a maneira em que o nome "x" é que nos diz
qual a propriedade que o objecto x tem. A inscrição " x " tem

duas características relevantes: ele apresenta um token do nome "x" que se refere ao objeto x
e tem uma característica gráfica específica c.

Fundamentalmente, a reivindicação dos vendedores é que os predicados não desempenham


um papel independente nas expressões linguísticas: "Não só as expressões predicativas são
dispensáveis, como a própria função jogado por predicados é dispensável" (NAO, 51). Assim, é
um erro abstrair o papel desempenhado pelos predicados a partir do papel das expressões em
que

ocorrem. É esta abstração de um fragmento de função que encoraja a idéia equivocada que
predicados designam propriedades conceituais ou metafísicas

atributos. O papel predicativo não deve ser reificado e transformado em uma entidade
abstrata chamada "propriedade" que existe independentemente da sentença contextos. Ainda
menos deveria a propriedade conceitual supostamente expressa pelo predicado seja
hipostatizado e transformado num atributo ontológico que existe não apenas
independentemente da linguagem - como propriedades conceituais são mas também
independentemente do pensamento. Como Sellars diz, "O extralinguístico

consiste em objetos, não em fatos. Para colocá-lo sem rodeios, proposicional

A forma pertence apenas às ordens linguística e conceptual" (NAO, 62). Na análise final, as
funções conceituais são encarnadas linguisticamente em

sign-designs cujas características materiais retratam objetos. Funções semânticas não são nada
independentemente desta encarnação. Mas crucialmente imaginando não é uma relação ou
função semântica. Sellars descreve-a como uma "segunda ordem isomorfismo" entre objetos
na ordem natural: assim imagens de um CD uma peça de música através de uma complexa
transcodificação de informações de uma meio físico em outro. O que está no centro do
nominalismo de Sellars é a ideia de que a significação conceitual se baseia na imagem.

5. NOMEAÇÃO E IMAGEM

A rejeição de Sellars do mito do dado não conduz ao idealismo linguístico

e a alegação de que a realidade é uma construção linguística. Pelo contrário, é a pedra angular
de uma ontologia crítica em que a linguagem está inserida numa ontologia não linguística, uma
realidade significante que é desprovida de forma proposicional. Assim, a o nominalismo é
parte integrante do seu abraço do naturalismo e do materialismo (estes não são, obviamente,
equivalentes). Ele é um naturalista porque afirma que as práticas linguísticas, nas quais o
pensamento está enraizado, são variedades de processos. As ciências naturais investigam
estes processos. Essa atividade lingüística é uma variedade distinta e possivelmente até
mesmo uma variedade única de processo natural, cujo

a especificidade não deve ser elidida, faz parte do Kantianismo de Sellars. O que faz Sellars um
materialista e um naturalista é a sua insistência em que as variedades de processos naturais se
estendem muito além daqueles compreendidos dentro da orgânica. reino. Ser materialista é
recusar-se a organisar a natureza - isto é, a usar o organismo como paradigma explicativo de
toda a realidade. O que torna o materialismo de Sellars não metafísico é a sua insistência em
que, enquanto linguístico é, em última análise, enraizada em padrões inorgânicos e orgânicos,
estes padrões materiais são perceptíveis, ou seja, "matéria de facto". (num sentido a ser
clarificado abaixo): sons, marcas, espaçamentos, movimentos. Eles constituem o que Sellars
chama de "objectos naturais-linguísticos". Natural-linguística objetos são nomes que retratam
partes da realidade. Nomes são parte do natural mas apenas na medida em que não façam
sentido.

Assim como a referência não é uma relação semântica, a representação não é uma epistemia
relação: é uma função natural. Uma teoria geral da representação distinguirá entre as
variedades sensatez e insensata das variedades representacionais. função. Isto requer a
distinção entre forma proposicional e forma conceitual. Os sistemas de representação animal
operam através de um sistema proposicional que tem tanto um aspecto referente como um
aspecto característico. (13) Crucialmente, esta forma proposicional não é conceitual. Assim, a
representação de um objecto a 's sendo vermelho é executado pela inscrição caracterizadora
de um símbolo simbólico "a". Tanto os aspectos referentes como os característicos do
elementar as proposições são sinteticamente encapsuladas. A forma sintática é realizada em
as propriedades neurobiológicas dos sistemas nervosos dos organismos sensíveis. A este
respeito, a forma proposicional é prelinguística e mais fundamental do que a forma lógica ou
conceptual. A forma lógica é inaugurada uma vez representacional sistemas podem
representar relações de associação, compatibilidade e incompatibilidade entre
representações. A metarepresentação estabelece relações inferenciais entre proposições. A
forma conceitual plena é alcançada apenas uma vez que a metarepresentação relata
estruturas proposicionais dotadas de com os ricos recursos predicativos de uma linguagem
natural, que se sobrepõe mas é irredutível aos procedimentos de codificação de uma
representação sistema.

6. PADRÕES E PROCESSOS

No seu nível mais elementar, sugere Sellars, a prática linguística está ancorada

em nomes que retratam objectos como sendo de alguma forma. Este de alguma forma é
mostrada, não dita, pela forma como os nomes são pronunciados ou inscritos. Um A expressão
ou inscrição por si só não é, naturalmente, uma declaração. É uma expressão ou inscrição
física, por si só, não é, naturalmente, uma declaração. padrão (fonêmico, gráfico ou gestual).
Assim, a sugestão de Sellars é que propriedades conceituais não designam atributos ou formas
de ser, mas que estão, no entanto, enraizados em actos de representação dessa realidade
fotográfica em maneiras que podem ser ditas (de dentro da ordem conceitual) de ser mais ou
menos adequado. O critério de adequação pictórica é formulado utilizando o nosso categorias
conceituais e, como tal, é interno ao nosso esquema de significação e

depende de nossos recursos predicativos disponíveis, mas ainda pode ser usado para rastrear
a correlação entre a ordem conceitual e os padrões reais. (14) As categorias conceituais são
incorporadas e condicionadas pela função natural, mesmo que não espelhem o último.
Demonstrando isso é o o fardo da filosofia de Sellars. A demonstração requer que se distinga a
propriedade da função conceitual de qualquer correspondência metafísica entre pensamentos
e coisas.

O significado não é uma relação: significa afirmações estabelecer correlações metalinguísticas


entre palavras e outras palavras. do que uma relação metafísica entre palavras e coisas. O nível
do porão de linguagem consiste em conexões governadas por padrões entre o
naturallinguismo objectos e outros objectos físicos. As palavras não representam a realidade
por causa do que significam, mas por causa das ligações físicas entre os as regularidades
semânticas obedecidas pelos falantes e os padrões físicos em que estas regularidades
semânticas são incorporadas:

A "relação real" que subjaz ao fato de que "homem" se refere aos homens

deve ser certamente uma relação real entre a palavra "homem" e os homens, uma relação a
ser formulado em termos de generalizações com subjuntivo

forma, que especificam as uniformidades em que as bóias de expressão (incluindo frases que
contenham a palavra "homem") e objectos extra-linguísticos (incluindo homens) estão
envolvidos. (Sellars NAO, 61) Essas uniformidades são encarnadas em padrões fonéticos,
gráficos ou táteis,

assim como as comportamentais. Elas são exibidas nas uniformities da performance que
constituem um comportamento linguístico governado por padrões. Mas esses padrões es de
princípio que constituem competência linguística. (15) Em última análise, as categorias devem
ser explicadas em termos de papel metalinguístico. O papel metalinguístico deve ser explicado
em termos de representação correta . Correcto A representação deve ser explicada em termos
de imagem.

7. CONCLUSÃO

Até que ponto o sistema de Sellars satisfaz as exigências de um sistema crítico?

ontologia? Propõe uma resposta para cada uma das questões que mencionei no início. Estas
perguntas eram, o que é um nome? Como é que os nomes se relacionam com o coisas que
nomeiam? Que tipos de coisas existem, e quais são os tipos? Em resposta à primeira pergunta,
um nome é um sinal-design (ou seja, um nome naturalmente linguístico objeto) com
características empíricas (fonêmicas ou gráficas) cujas tokenings estão correlacionados com
padrões de objetos de acordo com o que O Sellars chama regras de "dever-ser". Em resposta à
segunda pergunta, um nome se relaciona com o que ele nomeia porque os nomes são
entidades equívocas que operam em duas entidades distintas mas intimamente dimensões
conectadas: a dimensão semântica e a dimensão material. Os nomes significam em virtude do
seu papel linguístico governado por regras. Mas os nomes são Também são objetos
significantes que retratam outros objetos no mundo através de seus características sensíveis.
Por último, a terceira pergunta deve ser respondida em sentido inverso. Primeiro, os tipos são
metalinguística, e estes, por sua vez, correspondem a padrões distintos de símbolos
governados por regras. Quanto aos tipos que "realmente" existem, o catálogo final de tipos
"reais" serão identificados pela imagem absoluta do mundo, que é o ideal regulador da
investigação empírica. Este é, é claro, um dos aspectos mais controversos do realismo
transcendental de Sellars e um que é rejeitado pelos chamados Sellarsianos de esquerda. (16)
No entanto, a a alegação de que possuímos um critério de adequação de imagem não é tão
fatal assim não elucidados como os críticos alegaram. Nós podemos medir as nossas fotos
atuais grau de aproximação a esta imagem ideal através da medição, em Jay Rosenberg's

palavras, "a magnitude numérica absoluta dos fatores de correção que deve ser introduzido
nos pedidos das contrapartes estritas de leis predecessoras para chegar aos valores
determinados pelos seus sucessores".

(2007, 69). (17) Além disso, podemos orientar nossa imagem atual para este ideal projetando
em uma teoria sucessora através da construção de categorias analógicas. modelos com
propriedades de contrapartida. (18) A questão pendente é como exatamente as funções
predicativas são exibidas pelas propriedades materiais de os objectos natural-linguísticos nos
quais todo o funcionamento linguístico é, em última análise ancorado. "Para o perceptivo
nominalista", escreve Sellars, "as variedades de mapeamento [isto é, imagem] são tão
múltiplos quanto qualidades simples de matéria de fato e relações" (NAO, 60). A chave para o
"materialismo metodológico" de Sellars reside nesta afirmação de que as dimensões da
imagem variam consoante as variedades de qualidades factuais. Pois é este último que nos
fornece os nossos sistemas de coordenadas para o domínio do material. Assim, a lógica do
relato de Sellars implica que o que quer que seja as propriedades conceptuais são utilizadas
para descrever a "materialidade" permanecem provisórias e sujeito a novos ajustamentos e
até mesmo a uma revisão fundamental. Este aspecto fallibilístico da ontologia filosófica, que
está implícito na teoria de imaginar, distingue a postura crítica de Sellars da de mais
directamente metafísicos - ou "dogmáticos" - materialistas. Teoria empírica, em As palavras de
Sellars, é "um empreendimento auto-corrector", mas onde mais positivista os naturalistas
recorrem à evidência empírica como árbitro único da revisão teórica, O naturalismo
racionalista de Sellars confere um papel decisivo à filosofia. Sua tarefa não é apenas a de
anatomizar as estruturas categóricas próprias do manifesto e imagens científicas,
respectivamente, mas também para propor novas categorias em luz da obrigação de explicar o
estatuto de racionalidade conceitual em a ordem natural. Assim, a filosofia não é o mero
subtrabalhador do empírico ciência; ela mantém uma função autônoma como legisladora de
caráter categórico. revisão. É de acordo com esta tarefa legislativa que Sellars postula a
categoria de "processos puros" para explicar o vínculo entre os processos conceituais
categorias e padrões de materiais. (19) As actividades que obedecem às regras constitutivas da
categorização conceitual e dos comportamentos governados por padrões nos quais eles são
incorporados são dimensões distintas mas correlativas do processo natural. Transformações
conceituais rastreiam padrões de materiais sem espelhar eles. Os processos puros são
postulados em nível metacategorial para explicar a covariação entre padrões de
representações e padrões de objetos representados. No entanto, esta postulação está
perfeitamente de acordo com o compromisso com o naturalismo metodológico. Serve como
um modelo que será necessariamente transformado no curso de sua implantação por futuros
empíricos ciência. A este respeito, o naturalismo celeste é mais crítico do que dogmático
pprecisamente na medida em que retém um papel a priori teorizador filosófico. No entanto, as
categorias ontológicas primeiro catalogadas e depois postuladas por os filósofos são
constrangidos pelo seu papel explicativo em relação ao empírico e, portanto, necessariamente
sujeita a uma futura revisão empírica.

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