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ANÁLISE DOS FORMULÁRIOS DO PRIMEIRO ANO A


Por

Pedro A. O. Barbalho
Flávia B. O. C. Saquini
Luciano Z. G. Vilena

Julho/2022
Introdução:
Nossa pesquisa foi realizada no mês de julho de 2022 com uma turma do segundo ano e
com outra do terceiro ano (ambas do ensino médio). Os alunos entrevistados tem entre 16 e 18
anos, e responderam à pesquisa anonimamente. 49 deles foram entrevistados no total e
somente 8,16% parecem ter respondido de má fé 1.
No formulário que entregamos a esses alunos tinham perguntas discursivas e objetivas.
Nas perguntas objetivas eles marcaram características que eles mais gostariam de ver em seus
respectivos namoradxs, mas também podiam registrar discursivamente outras características
que não aparecem nas opções objetivas. Além disso, eles responderam também perguntas sobre
a existência de preconceito(s) no Brasil, e sobre a influência de seus amigos e familiares na
escolha deles de namoradx. Vejamos os resultados.

Racismo no IFES? Talvez sim. Talvez não.


Um número pequeno de pessoas, 2, deixaram muito claro que gostariam de namorar
pessoas de pele "clara". Enquanto que, por outro lado, nenhuma pessoa deixou claro que
gostaria de namorar pessoas negras. Talvez isso indique tendências racistas no IFES, ou talvez
indique que a maioria dos estudantes são brancos e não tem referências negras de beleza
(embora eles pudessem facilmente encontrar essas referências na própria instituição).

1Uma pessoa respondeu discursivamente “foda-se”, outra disse que somente “idade” seria o mais importante
para escolher um namoradx, e um outro escreveu “não não não não” em todas as questões discursivas.
Outro dado que contribui para a conclusão de que existe racismo no IFES é que 95%
responderam que existe racismo no Brasil. Isto é, 95% dos participantes percebem o racismo nos
outros. Embora não tenha ficado claro se eles percebem dentro da instituição, pois indicaram
perceber existir racismo no Brasil, mas não necessariamente no IFES.
Além disso tudo, como não foram colocadas perguntas étnicas pessoais (que registrassem
com que etnia o pesquisado se identifica), então é possível que mais pessoas admirem
preferencialmente pessoas negras, já que, por exemplo alguns participantes, menos de 5,
disseram que gostariam de namorar pessoas parecidas com si próprio (e não ficou claro como
eles são).
Por fim, ainda em relação ao racismo, mas também em relação a outros possíveis
preconceitos, é possível que os alunos que não foram objetivos nas perguntas discursivas
escondam preconceitos. 15% dos alunos usaram termos pouco precisos como " pessoas normais"
e "pessoas bonitas" para dizerem com que pessoas gostariam de namorar. Sabendo quão
preconceituoso é o Brasil é possível que essas pessoas ficaram receosas de explanarem seus
próprios preconceitos para si mesmas.

Gordofobia? Talvez.
Um número muito pequeno de pessoas disse que prefere namorar com pessoas magras
(apenas 1). Portanto, é possível que o IFES não seja gordofóbico. Porém ninguém deu preferência
as pessoas gordas, e, portanto, é possível que sim, o IFES seja gordofóbico também. Um dado
que reforça essa segunda conclusão é que muitos pesquisados apontaram que no Brasil existem
muitos preconceitos, e a gordofobia apareceu como um desses percebidos pelos participantes
em 15 formulários, mostrando, assim, que a gordofobia é um dos preconceitos mais percebidos
pelos participantes.

O Brasil deixou de ser romântico, ou só o IFES que não é romântico?


O IFES mostrou que é pouquíssimo romântico. 60% dos participantes da pesquisa
alertaram que os seus amigos ou suas famílias poderiam decidir com quem o participante
namoraria. Esse dado mostra como as relações amorosas atualmente são medievais, pré-
românticas. São relações sociais semelhantes ao tempo em que não fazia sentido a ideia de
indivíduo ou de "liberdades individuais". Pode-se dizer inclusive que é possível que os alunos do
IFES têm tanto medo de se sentirem sozinhos que não gostariam de desagradar seus amigos, ou
também que eles se veem tão dependentes e submissos aos seus pais que não gostariam de
desagradá-los.

Dinheiro importa mesmo, ou são os alunos do IFES que são inseguros financeiramente?
A opção "seguro financeiramente" foi marcada como importante em mais de 70% dos
formulários (isto é, mais de 70% desejam pessoas seguras financeiramente). E algumas pessoas
ainda reforçaram discursivamente que ter dinheiro seria uma característica muito importante na
hora de escolher com quem namorar. Isso possivelmente mostra que os participantes ou não se
sentem seguros financeiramente ou são ambiciosos/gananciosos. Entretanto, por outro lado,
também é possível que os participantes entendam que um relacionamento ideal só poderia
ocorrer entre pessoas com dinheiro.

Preconceito contra "usuárixs de droga" ou só preconceito linguístico?


Talvez os participantes não tenham entendido que "droga" é sinônimo de
“medicamento”. E, portanto, pessoas que tomam remédio com receita médica poderiam estar
inclusas nessa categoria. De qualquer forma, 83% dos entrevistados não gostariam de namorar
um usuário de droga e nem suas respectivas famílias e amigos aprovariam essa característica
(30% dos participantes tem certeza que seus amigos não aprovariam usuários de droga, e 65%
diz que seus familiares não aprovariam).

Índice de conservadorismo preocupante, mas equilibrado com o índice de progressistas:


18% disseram que gostariam de namorar uma pessoa conservadora, e 32% disseram que
suas famílias só aprovariam um namoradx "conservador". Mas, em contrapartida, 22% dos
participantes optaram por um namoradx progressista como ideal.

Ouvir
A segunda característica mais desejada pelos entrevistados foi " boa ouvinte". 98%
marcaram essa opção, e 86% deixaram claro discursivamente que "conversar", ou coisas
parecidas (como "ser bem humoradx") seriam características importantes. Isso mostra que o
estudante do IFES tem muita necessidade de conversar, e muito possivelmente de falar, ou
descobrir assuntos "interessantes". Porém, em contrapartida, como muitos deles já tem um ideal
de beleza fixado, muito provavelmente não são capazes, ou não os interessa, desenvolver muita
conversa com pessoas que saem do escopo limitado que eles estabeleceram para o que seriam
pessoas bonitas e interessantes.

Considerações finais

Não é a incivilidade geral a própria essência do amor?


Orgulho e Preconceito – Jane Austen.

Diante dos dados que apareceram na pesquisa fica evidente que muitos participantes não
pensam por si mesmos (se deixam influenciar por outras pessoas como amigos e família) -
lembrando que para 80% a opinião da família importa muito e para 60% importa também a
opinião dos amigos-, mas só isso não seria suficiente para chamá-los de orgulhosos. Fato é que
menos de 5 pessoas não tem certeza sobre o que procuram em alguém, e menos de 3 pessoas
disseram que seu ideal de beleza pode mudar com o tempo (ou seja, apenas esse número de
pessoas é capaz de desenvolver uma conversa interessada com um número menos limitado de
pessoas). Logo, por outro lado, mais de 90% dos entrevistados tem absoluta certeza do que estão
procurando (o que de certa forma pode indicar autoconfiança demais, soberba ou orgulho em
excesso). Vale lembrar também que os entrevistados são pessoas que ainda mal conhecem o
mundo (são jovens), e não pensam por si mesmos (são muito influenciáveis por família e amigos)
e mesmo assim tem muita certeza do que querem.
Sobretudo, penso também ser possível que posturas normativas (em relação a etnia, e
índice de massa corporal) sejam consequência de uma postura confiante demais, e isso faz com
que seja difícil para eles olharem para os lados (para a realidade), e reconhecer que as pessoas
negras, ou de pele não clara, são tanto quanto ou muito mais bonitas que as de pele clara, ou
que pessoas gordas muitas vezes são mais bonitas do que as magras.

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