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AULA 1

O QUE É PREGAÇÃO

A ideia original de pregar é fincar um prego, mas o sentido usado no campo do


discurso religioso é “cravar”, “penetrar”, “fixar”, “fazer acreditar”. O trabalho do
pregador é incutir a verdade divina na mente do ouvinte, levando-o a entendê-la e acatá- la
sem que haja qualquer possibilidade de escape.
A pregação é uma arte, porque envolve um locutor e um ou mais ouvintes e a
locução precisa ser objetiva para que o propósito da mensagem alcance o seu intuito. A
isso dá-se o nome de homilética. O termo vem do latim homilia, cujo significado é
“pregação”. A homilética reúne três importantes elementos chaves: a oratória, a
retórica e a eloquência.

OS ELEMENTOS CHAVES DA HOMILÉTICA


1. A oratória

A oratória é simplesmente a arte de falar em público. É uma fala pública que


pode ou não ser imbuída de preparo técnico ou erudito. É discurso. A oratória pode ter
características diversas. Por exemplo, a oratória popular acontece nas ruas, nas salas de
aulas, em festas sociais ou em protestos pelas ruas da cidade. A oratória política
acontece nos palanques políticos ou nos parlamentos onde os políticos expressam suas
ideias. A oratória acadêmica é utilizada nos discursos universitários, nas agremiações
estudantis e nas academias. A oratória forense é utilizada nos tribunais pelos advogados,
promotores e juízes. Geralmente os magistrados são esmerados nos seus discursos pela
exposição de ideias claras, concisas – outras vezes – prolixas e lógicas. E a oratória
religiosa é também chamada de oratória sagrada, prédica religiosa ou sermão.
2. Retórica
A retórica vai além do conceito de oratória. Trata-se da arte de falar bem. Ela
envolve a capacidade técnica de falar com classe, reunindo conteúdo e forma, de modo
ordenado, claro e convincente. A retórica ajuda na eloquência, quando essa falta,
oferecendo ao pregador, recursos na entonação, na voz, na gesticulação, no olhar, na
mímica, nas lágrimas e nos suspiros, que dão ênfase ao que se está comunicando.

3. Eloquência
A eloquência é a arte de falar tão bem que consegue dominar e empolgar os
ouvintes, trazendo-os para dentro do assunto a ponto de despertar neles o interesse
absoluto por aquilo que se diz, causando o sabor de “quero mais”, quando o orador
encerra o discurso. A eloquência dá ânimo à fala. Mexe com a emoção, tanto de quem
fala quanto de quem ouve. Pela eloquência o pregador pode levar os ouvintes a
1 Cabral, Elienai. O pregador Eficaz. Rio de Janeiro, RJ, CPAD, 1981, pp. 17,18.3

experimentar diferentes sensações que variam entre o riso e o choro, a encolher-se e a


pular.

O CARÁTER DA PREGAÇÃO
1. O caráter teológico da pregação
Por trás da pregação há uma teologia, ou seja, uma crença ou doutrina
determinada sobre a qual o pregador desenvolve o seu assunto. O pregador,
diferentemente de um discursador qualquer, não desenvolve suas próprias ideias. Ele é
um expoente da Palavra de Deus, por isso, toda a pregação cristã deve ser embasada na
Bíblia Sagrada. O pregador é apenas um canal a ser usado nas mãos de Deus para
transmitir a sua santa Palavra.
É pela pregação da Palavra que as pessoas podem conhecer a vontade de Deus e
este é o propósito maior da fé cristã: levar as pessoas a conhecerem a vontade de Deus
para as suas vidas: “Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito, que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.9,10).

2. O caráter cristocêntrico da pregação


É propósito do Pai que todas as coisas convirjam para o Filho, ou seja, que o
Filho seja o centro de tudo o que acontece no universo. O propósito do Pai é de que, um dia,
tudo no universo aconteça única e exclusivamente por vontade de Cristo, do jeito de Cristo e
para a glória de Cristo. Assim sendo, toda pregação cristã tem de ser,
necessariamente, cristocêntrica. O pregador deve subir no púlpito imbuído da
consciência de que Jesus Cristo é o Senhor e portanto ele é o centro do universo; de que toda a
Escritura fala sobre ele, aponta para ele, exalta-o, revela-o para o mundo, como ele mesmo
disse: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que de
mim testificam” (Jo 5.39).

3. O caráter divino da pregação


“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc
16.15). Ainda que a pregação tenha todo esse caráter divino, ela é direcionada ao ser
humano. Portanto, tem de levar em consideração o receptor da mensagem, que é o ser
humano: sua forma de pensar, de expressar suas limitações; sua forma de ouvir, de
interpretar as perguntas que lhe inquietam o coração; as crises pelas quais vem
passando; os sofrimentos; as perguntas que gostaria de fazer a Deus; enfim, sua história de vida
e seu momento. Isso quer dizer que, espera-se que o pregador saiba o que falar, de modo que
seja plenamente entendido; mas, mais do que isso, espera-se que o pregador apresente a
mensagem de Deus de maneira que ela, de fato, responda às perguntas que porventura o
receptor da mensagem esteja fazendo. É claro que não só as perguntas do receptor devem ser
acolhidas, mas acima de tudo, a vontade de Deus, no caso do emissor.

4. O caráter antropocêntrico da pregação


É preciso que o pregador seja capaz de dominar as várias linguagens humanas
para cada público em particular; que esteja habilitado a preparar abordagens
consequentes e repostas que não apenas representem as demandas de Deus, mas
também as agendas do povo. É óbvio que cada ser humano está recheado de perguntas, tais
como podemos observar na conversa entre Jesus e a mulher samaritana que,
independentemente da sua condição moral, trazia em seu coração, questões legítimas, às
quais, somente Deus teria como responder. Foi o que Jesus fez: respondeu-lhe todas. Portanto,
é preciso que a mensagem contemple tanto a vontade de Deus quanto a carência do homem,
para que não caia no vazio (2 Pe 1.20 e 2.1).

5. O caráter espiritual da pregação


A pregação cristã tem um caráter inalienavelmente espiritual, ou seja, espera-se,
mais do que isso: exige-se que toda pregação cristã seja fruto de inspiração do Espírito
Santo. A ideia básica por trás da pregação do Evangelho é a de que Deus está
manifestando-se, falando, revelando-se através de seus servos, que não apenas estão a
produzir ou explanar um discurso, por mais elaborado que seja, mas a comunicar a
Palavra de Deus, capaz de conter exclusivamente respostas divinas às demandas
humanas. “E o que de minha parte ouvistes, através de muitas testemunhas, isto mesmo
transmite a homens fiéis, e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2).

6. O que a Bíblia diz sobre a pregação


“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria
sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação” (1 Co 1.21).
Deus teria muitas formas de alcançar o homem, se quisesse, mas optou pela pregação e
Paulo acha isso uma loucura, mas, enfim, esse é o meio: a “loucura da pregação”. A fé,
necessária para a salvação vem por meio da palavra pregada. O apóstolo Paulo
questiona: “Como crerão se não ouvirem?” (Rm 10.14). “Como ouvirão, se não há quem
pregue?” (Rm 10.14). O método escolhido por Deus para alcançar os homens é a pregação,
portanto ser pregador do evangelho é ser portador não apenas de uma mensagem, mas da
maior representatividade no universo: é ser um representante do próprio Deus, por isso a Bíblia
diz: “Quão formosos são os pés dos que anunciam as boas novas” (Rm 10.15).
“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é
imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho” (1 Co 9.16). Nestas
palavras o apóstolo Paulo deixa claro que pregar não é opção, é obrigação; não é um
simples pensamento, mas um mandamento; não é um mero ato de querer, mas uma
forma de viver.
Paulo disse a Timóteo: “Prega a palavra, instes a tempo e fora de tempo”.
A incumbência de pregar a Palavra é repassada de cristão para cristão. A tarefa de pregar – seja
a pregação formal, dentro dos requintes da homilética, seja a pregação de modo
simples e informal – é dever de cada discípulo de Jesus. A pregação informal, do dia-a-dia
de cada cristão também pode e deve ser aprimorada para que ele tenha sempre o que
responder a qualquer um que pedir a razão da sua fé (1 Pe 3.15) e isso requer conteúdo, ou
seja, conhecimento crescente da Palavra de Deus. Cada pergunta desafiadora – que às vezes
fica sem resposta – deve servir de motivo para o pregador ir à Bíblia e aos livros para se
aprimorar e não ser apanhado de surpresa.
“No devido tempo, ele trouxe à luz a sua Palavra, por meio da pregação a mim
confiada por ordem de Deus, nosso Salvador” (Tt 1.3). A pregação não é um
acontecimento fortuito ou acidental, mas um mandamento de Deus.

RECURSOS IMPRESCINDÍVEIS DA HOMILÉTICA


A homilética depende de um conjunto de disciplinas. Não basta ao pregador ter
em mãos o texto bíblico para elaborar uma pregação. É necessário que tenha
conhecimento da hermenêutica e da exegese, para que possa interpretar corretamente o texto
bíblico que irá expor, caso contrário, emitirá um som incerto (1 Co 14.8).
É necessário também que conheça princípios de retórica para ordenar a sua fala
dando estilo, beleza, clareza a ela, por meio da fala e/ou pelo uso de ilustrações. A
retórica é antiga. Os profetas valiam-se dela para comunicar, cada um, a sua mensagem
de modo a ser compreendido na mensagem que proferia. Jeremias usou um cinto e outra vez o
vaso do oleiro para comunicar sua mensagem (Jr 13.1-11; 19.1-5); Oséias, por ordem divina, se
casou com uma prostituta, para ilustrar a situação moral da nação de Israel diante de Deus (Os
1.2). Ezequiel não pode chorar a morte de sua mulher (Ez
24.15-27).
Na igreja primitiva as pregações seguiam o modelo das sinagogas, lendo e
explicando o texto bíblico. “As primeiras teorias homiléticas encontram-se nos escritos
de Crisóstomo (345-407 A.D.), o mais famoso pregador da igreja primitiva. A primeira
homilética foi escrita por Agostinho, em De Doctrina Christiana. Agostinho dividiu-a
em de inveniente (como chegar ao assunto) e de proferendo (como explicar o assunto)”.

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