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No entanto, chegou a hora de rever esse conceito, pois dois longos estudos –
um da Facultè d’Oenologie de Bordeaux e outro do The Australian Wine
Research Institute (AWRI) –, demonstram que a posição da garrafa
simplesmente não tem qualquer relevância durante a guarda do vinho. E isso
derruba tudo o que aprendemos e pregamos por aí durante anos e anos.
Então quer dizer que posso guardar meus vinhos em pé? “Sem qualquer
problema!”, garante Paulo Lopes, enólogo PhD que gerencia o departamento
de pesquisa e desenvolvimento da Amorim, o maior fabricante de rolhas do
mundo, e que liderou a equipe do estudo bordalês. Para ele, os resultados das
duas pesquisas citadas mostram muito claramente que as diferenças entre a
armazenagem horizontal e vertical são mínimas, independentemente do tipo de
rolha, ou seja, mesmo nas de cortiça natural. “Em termos de capacidade de
vedação e transferência de oxigênio, a conservação pode ser realizada com a
garrafa em pé ou deitada, pois os resultados serão idênticos”, confirma.
Horizontal ou vertical?
A pesquisa de Lopes e seus colegas bate de frente com outra feita em 2002
por um grupo de cientistas espanhóis. Na época, eles afirmaram que as
análises químicas e sensoriais mostraram que o vinho era melhor preservado
quando mantido na horizontal. No entanto, os testes atuais usam sistemas
mais eficazes de avaliação, como um método colorimétrico (que usa a cor para
medir a absorção de determinados elementos em uma solução), por exemplo.
0,1-2,3c
Oxigênio
“Oxigênio é o pior inimigo do vinho”, já dizia Louis Pasteur, apenas para
complementar em seguida: “o oxigênio é quem faz o vinho, é por sua influência
que ele envelhece”. Isso mostra o quão dicotômica é a relação desse gás com
a bebida. Ao mesmo tempo que uma pequena quantidade garante uma boa
evolução do vinho, quando em excesso, o líquido oxida e estraga.
É por isso que esse elemento é o alvo de muitas das pesquisas, incluindo
essas duas. Sobre esse fenômeno do envelhecimento, o estudo australiano
aponta: “Pareceu que uma taxa de ingresso de oxigênio muito alta – como vista
nas rolhas sintéticas – levaram a sabores oxidados, assim como taxas muito
baixas – como as observadas nas tampas de rosca e de vidro – levaram ao
desenvolvimento de aromas reduzidos, de borracha e similares, no vinho”.
Nesse caso, ponto para as rolhas de cortiça, as que melhor se comportaram no
estudo patrocinado pela associação de produtores da Austrália. Lembrando
que foi devido à insatisfação da indústria vitivinícola australiana quanto à
qualidade das rolhas naturais que as sintéticas e de rosca se propagaram
mundo afora.
Entrada de oxigênio?
Aliás, a discussão sobre como se dá o ingresso de oxigênio na garrafa,
especialmente quando se trata das rolhas de cortiça, é extensa e inconclusiva.
“O mecanismo [de entrada] permanece desconhecido e serão necessárias
pesquisas mais aprofundadas para elucidar esse fenômeno, que pode ocorrer
por difusão ou infiltração, ou ambos”, aponta o estudo francês. De acordo com
Paulo Lopes, contudo, boa parte (ou até mesmo a totalidade) do oxigênio que
ingressa na garrafa com o tempo já está dentro da própria rolha. “Há bons
indícios que levam à essa conclusão”, diz.
Por outro lado, se pensarmos que, além desses citados, outros compostos,
como o TCA, também podem migrar para o vinho quando o líquido está em
contato com a rolha, talvez seja melhor manter as garrafas em pé.
Original: http://revistaadega.uol.com.br/artigo/em-
guarda_9901.html#ixzz3oe4qjRAP