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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

ANNIE BELLO, PHD

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

ÍNDICE
CAPÍTULO I – COMO ESCOLHER AS EVIDÊNCIAS? .... 07 CAPÍTULO V – PRESCRIÇÃO DIETÉTICA ....................42

O que é a Nutrição Baseada em Evidência? .................. 07 Estabeleça de metas ........................................................42


Passo a passo para um atendimento baseado Chegou a hora de prescrever ...........................................43
em evidência .................................................................... 08 Aplique diversas teorias nutricionais e
Principais desenhos de estudo ...................................... 09 estratégias efetivas ..........................................................44
Material complementar ................................................... 13 Estágios de mudança de comportamento .....................45
Perguntas poderosas .......................................................47
CAPÍTULO II – POR QUE MEDICINA DO ESTILO Plano alimentar entregue na hora ...................................48
DE VIDA? ...................................................................14 Como finalizar a consulta ................................................50
Material complementar ................................................... 51
Definindo a MEV .............................................................. 14
As Blue zones .................................................................. 15 CAPÍTULO VI – PÓS-ATENDIMENTO ..........................54
Como começar a mudar o estilo de Vida? ..................... 16
Os 6 pilares da MEV ........................................................ 16 Como foi o atendimento? ................................................ 54
Material complementar ................................................... 19 Você entrega problema ou solução? .............................. 55
Como gerar adesão ..........................................................55
CAPÍTULO III – NOSSO PRÉ-ATENDIMENTO ..............20 Como criar o seu arsenal .................................................57
Praticando overdelivery ....................................................57
Os 3 ingredientes principais ........................................... 20 Conexão, a sua maior arte ...............................................58
Definindo um nicho ......................................................... 22 Paciente desmarcou o retorno ou faltou ........................59
Os 7 domínios do cuidado .............................................. 23
Apresente a sua forma de trabalho ............................... 24 CAPÍTULO VII – MATENHA-SE ATUALIZADO ...........60
Por que enviar a anamnese por e mail? ......................... 25
Chegou a hora, vamos? ................................................... 26 Siga esses 3 passos ........................................................ 60
Material complementar ................................................... 29 Entenda desde os fundamentos da bioquímica até as
evidências avançadas na nutrição Clínica de precisão .......62
CAPÍTULO IV – PRÁTICA CLÍNICA DO ATENDIMENTO .... 30 Utilize a gastronomia como aliada à perda de peso ......64
Conheça a epigenética– genes que podem dar suporte
Criando confiança ........................................................... 30 à conduta ..........................................................................65
Folha em branco para uma consulta mais fluida .......... 31 Conheça fitoterápicos, nutracêuticos e suplementos ... 66
Ser simpático basta? ....................................................... 33 Utilize habilidades e ferramentas de Coaching ..............67
Cuidado Centrado no Paciente ....................................... 34 Seja prescritor e aconselhador ........................................68
Comunicação é a chave para a adesão ......................... 36 Material complementar ....................................................69
Avaliação nutricional completa ...................................... 38
Avalie seu paciente de forma integral ............................ 39 CAPÍTULO VIII – NOSSA ESCOLA ...............................71
Diagnóstico nutricional ................................................... 41
Prática do Nutricionista ...................................................71
Especialidades Clínicas ...................................................72
Medicina do Estilo de Vida .............................................. 73
Nosso modelo de tratamento multimodal ..................... 74



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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

TERMO DE RESPONSABILIDADE

Quando eu comecei a realizar atendimento nutricional,


aprendi várias ferramentas. Todas essas informações
que eu aprendi e que você vai ler neste livro são fruto das
minhas experiências profissionais.

Embora eu tenha me esforçado ao máximo para garantir


precisão e a mais alta qualidade das informações para
que sejam altamente efetivas para qualquer pessoa
que esteja disposta a aprender e colocar todo o esforço
necessário para aplicá-los conforme instruídos, eu não me
responsabilizo por erros ou omissões.

Assim, você deverá utilizar e ajustar as informações de


acordo com a sua necessidade específica.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

SOBRE A AUTORA

Meu nome é Annie Bello, sou carioca e nasci em 1983. Apesar de não
ter certeza que o meu destino era a Nutrição, logo no segundo período
da graduação ganhei um prêmio na iniciação científica como o melhor
trabalho do congresso. O prêmio foi o financiamento de um dos principais
congressos americanos de Nutrição em Las Vegas! Tinha 18 anos!

Foi um dos divisores de águas, a partir daquele momento tudo o que eu


queria era fazer doutorado nos Estados Unidos. Era uma ideia fixa durante
toda a graduação. E corri atrás disso, defendi o mestrado em 15 meses e
fui para os EUA fazer parte do meu doutorado com 22 anos.

Estudar, estudar, estudar, pesquisar, pesquisar serão sonhos sempre. A


adrenalina vai a mil quando submeto um paper, ou tenho um artigo aceito.
Sonho realizado? Em parte.

Precisava colocar tudo em prática.

E aí, a busca continua sendo infinita. Corria do consultório ao posto de


saúde (era concursada na atenção primária) e atuava na atenção terciária
(também concursada do Instituto Nacional de Cardiologia). Adquiri muita
experiência. Eram mais de 100 pacientes vistos por semana (entre posto,
internação e particular). Assim eu fui aplicando o meu conhecimento.

Mas acabei optando por exonerar de 2 concursos públicos para assumir


o cargo de Prof. Adjunta de Nutrição Clínica na UERJ. Tinha certeza que
assim poderia casar ensino, docência, pesquisa e a prática clínica. Mas
comecei a sentir que ensinava muito pouco. “Só” compartilhava meu
conhecimento com aqueles 30 alunos por período.

Aquilo continuava não sendo suficiente. Passava às vezes 1 mês


montando uma única aula, e tudo que eu queria era poder dar acesso a
um número ainda maior de alunos. Mas como?

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Com marido, 2 filhos, 2 concursos públicos, alunos de mestrado,


doutorado, iniciação científica, aulas de pós-graduação por todo o Brasil.
Mas agora uma nova ideia fixa ficava na minha cabeça, eu queria atuar
na formação de um número ainda maior de alunos. E aí que começaram
os cursos online. Agora, eu consigo entrar na casa de cada um “de norte
a sul do Brasil” (e além das fronteiras brasileiras, tenho muitos alunos ao
redor desse mundão).

Me perguntam hoje, qual a minha maior realização profissional?

Estudar, pesquisar, ver os resultados dos meus pacientes e poder ensinar.


Ensinar o que eu aprendo e o que eu pratico. Hoje, consigo que milhares
de alunos possam aprender prática clínica pura! Sem fronteira!

Nesse guia, eu organizei e disponibilizei para você o conhecimento que


forma a base de todas as estratégias que eu implementei até hoje.

Meu objetivo é levar essa mensagem para o maior número de pessoas


possível, porque eu passei poucas e boas para aprender tudo o que
quero ensinar para você. E eu não quero que você passe pelos mesmos
problemas. E foi por causa disso, por essa minha vontade de ensinar tudo
o que aprendi, que hoje eu já atendi no meu consultório mais de 1000
pacientes e já formei milhares de alunos. Eu acredito que você também
pode. Vamos lá?

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

COMO USAR ESTE LIVRO:

Acredite, eu investi pesado no planejamento da organização perfeita desse


mundo de informações de forma que você consiga consumir, aprender e
aplicar da maneira mais eficiente possível. Eu verdadeiramente acredito
que o que tem dentro deste livro pode transformar o seu atendimento.
Isso porque o conhecimento que eu divido aqui com você transformou
tanto a mim como a milhares de pessoas que eu já ensinei.

O seu aprendizado e desenvolvimento é diretamente proporcional ao


foco e à imersão que você coloca no que quer aprender. Isso não vale só
para Nutrição Clínica, mas para qualquer coisa que você decida aprender.
Logo, uma das coisas que você vai precisar fazer é criar o seu “próprio
mundo”, onde boa parte do tempo você praticamente vai para a prática
clínica. Este livro vai ser o seu guia central, mas ler uma boa parte dele
e passar o resto do seu dia assistindo TV não vai ajudar muito. Você vai
precisar ter mais controle sobre os inputs que vai se dar, principalmente
quando você terminar este livro e começar a aplicar as estratégias no seu
atendimento.

Por isso, eu posto conteúdos de diferentes formatos e tamanhos em várias


plataformas que contribuem para o processo de imersão no dia a dia.

Assim, eu recomendo que você:

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em Evidência.

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E, o mais importante: leia, aprenda, aplique e divirta-se!

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO I
COMO ESCOLHER AS EVIDÊNCIAS?

O QUE É A NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIA?

Ela é definida como o elo entre a boa pesquisa científica e a prática clínica.
Não se trata apenas de metodologia científica ou das burocráticas (e
importantes) revisões sistemáticas.

A sabedoria está em saber utilizar as evidências como norte da decisão


individualizada, que leva em conta valores e preferências de nossos clientes.

É importante considerar que o pensamento clínico e o pensamento


científico não são antagônicos. Científico é visto como algo distante
da prática clínica, e realmente parecem mundos distantes, mas os
pensamentos científico e clínico precisam ser aproximados, pois são
complementares.

Nós somos treinados a pensar clinicamente. Somos treinados em separar


o pesquisador do profissional de saúde, que está na prática. Precisamos
estreitar essa lacuna.

A NBE se traduz pela prática da nutrição em um contexto em que a


experiência clínica é integrada com a capacidade de analisar criticamente
e aplicar de forma racional a informação científica de forma a melhorar a
qualidade da assistência de nutrição.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

PASSO A PASSO DE UM ATENDIMENTO BASEADO


EM EVIDÊNCIAS:

1. Identificar os problemas relevantes do paciente; não se pode


esquecer que cada pessoa que procura atendimento clínico
é um ser único, apesar de possuir características similares a
diversos outros pacientes.

2. Pesquisar as fontes de informação.

3. Avaliar a qualidade da informação e a força da evidência,


favorecendo ou negando o valor de uma determinada conduta.
Evidências que vêm de estudos realizados com grupos de
pacientes ajudam a tomar as decisões mais acertadas, mas
não podem ser desvinculadas da experiência clínica.

4. Aplicar as conclusões dessa avaliação na melhoria dos


cuidados prestados aos pacientes.

A consulta baseada em evidências se norteia, portanto, pela integração


entre Evidência científica, Experiência clínica do profissional de saúde
e Preferências do paciente. Agora, como interpretar um estudo? Que
estudo escolher? Como funcionam os diferentes graus de evidência?

NUTRIÇÃO BASEADA
EM EVIDÊNCIA É “O uso
consciente, explícito e
judicioso da melhor evidência
clínica disponível ao tomar
decisões sobre o tratamento
de um paciente”.

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PRINCIPAIS DESENHOS DE ESTUDO

O desenho de estudo que possui maior poder de evidência são as revisões


sistemáticas com ou sem metanálises (consideradas nível I de evidência).
As revisões sistemáticas possuem vantagens quando comparadas às
revisões tradicionais. Elas otimizam os resultados achados, pois a análise
quantitativa dos estudos incluídos na revisão fornece informações
adicionais. Elas agrupam dados de estudos isolados e comparam-
nos, mostrando se aquele dado realmente tem poder de evidência em
populações ou segmentos diferentes.

As metanálises são uma abordagem estatística em cima dos dados


levantados na revisão sistemática. Elas aumentam o poder estatístico
para detectar possíveis diferenças entre os grupos estudados e a
precisão da estimativa dos dados. Elas geram dados e gráficos de fácil
interpretação, mostrando no forestplot se aquela intervenção é favorecida
ou não comparada a outro fator de acordo com o desfecho analisado.

Existem também as revisões narrativas. Elas são feitas para responder


questões amplas, mas a seleção de artigos que as compõem é
relativamente subjetiva. Não seguem um método rigoroso de seleção
com base em termos de indexação como nas revisões sistemáticas. Por
esse fator, elas possuem menor poder de evidência, mas são um ótimo
ponto de partida para ler e compreender um assunto com o qual você
está tendo contato pela primeira vez.

Em seguida, temos os grandes ensaios clínicos, denominados megatrials


(com mais de 1000 pacientes – estes têm nível II de evidência), ensaios
clínicos com menos de 1.000 pacientes (nível III de evidência). E o que
são os ensaios clínicos randomizados?

São estudos primários que respondem a questões de tratamento e


prevenção. Possuem um grupo controle, são prospectivos, possuem
os processos de randomização (sorteio dos participantes para serem
alocados em um dos grupos do estudo, possibilitando a todos os
indivíduos a mesma chance de entrarem tanto no grupo tratado como
no grupo controle) e de mascaramento dos desfechos a serem avaliados
pelo investigador (estudo cego). São excelentes artigos. Por terem grupo
controle e por serem estudos de intervenção avaliando algum desfecho,
dizemos que são estudos de causa e efeito.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Abaixo, temos as coortes, estudos caso-controle e séries de casos (nível


VI de evidências). São estudos de associação, normalmente analisando
algum desfecho e algum fator de exposição em comum entre os
indivíduos que tiveram aquele desfecho. Como não foi uma intervenção
dos pesquisadores, e sim algo intrínseco aos participantes do estudo,
não podemos dizer que é causa e efeito, e sim correlação ou associação.
Dessa forma, esses estudos levantam hipóteses, mas não podem nortear
a prática clínica. Veja a figura abaixo para compreender melhor:

CORRELAÇÃO VS. CASUALIDADE

CASUALIDADE:
QUANDO ALGO (A CAUSA) GERA OUTRA COISA (EFEITO)

CAUSA EFEITO

CORRELAÇÃO
QUANDO DOIS OU MAIS EVENTOS PARECEM ESTAR RELACIONADOS

ISSO SIGNIFICA QUE


TOMAR UM SORVETE
SOBE AS VENDAS DE SORVETES AUMENTA O RISCO DE
SOFRER QUEIMADURAS?

NO VERÃO
SOBE OS NÚMEROS DE
AS VENDAS DE SORVETES E
QUEIMADURAS DE SOL
A QUANTIDADE DE QUEIMADURAS
ESTÃO CORRELACIONADAS

CORRELAÇÃO NEM SEMPRE É CASUALIDADE

EM DIAS ENSOLARADOS TOMAR UM SORVETE


AS PESSOAS ESTÃO
MAIS PROPENSAS A

UMA NÃO CAUSA A OUTRA


QUEIMADURAS

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Compreender a diferença entre causalidade e associação é fundamental


para saber interpretar as evidências. Estudos de causalidade SIM têm
impacto nas escolhas que fazemos como profissionais de saúde, ao
passo que os estudos de associação geram hipóteses que precisam ser
confirmadas com estudos de maior nível de evidência posteriormente.
Não pegue, portanto, um estudo de associação entre alimento X e
desfecho Y e utilize como base para excluir esse alimento dos seus
planos alimentares. Tenha senso crítico.

Outros estudos que temos são os relatos de caso (nível VII de evidências),
as opiniões de especialistas e as pesquisas com animais e in vitro.
São extremamente importantes para levantar hipóteses, compreender
mecanismos bioquímicos e fisiológicos complexos e são o ponto de
partida das evidências quando um assunto é ainda pouco explorado.
São importantes para isso, mas não devem nortear a prática clínica – a
não ser quando o estudo é translacional (modelo animal/in vitro junto a
estudo em humanos).

A dica que eu quero deixar aqui é das revisões do grupo Colaboração


Cochrane. São um excelente avanço para a tomada de decisões no
campo dos cuidados à saúde, pois sintetizam e respondem os nossos
principais questionamentos, além de seguirem um método rigoroso com
alto grau de confiança.

Sendo assim, a tríade da


NBE é a integração da
melhor evidência científica
com a experiência clínica e
os desejos individuais do
paciente.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Conforme já vimos, as evidências são as pesquisas clinicamente


relevantes, especialmente aquelas centradas em pacientes.
A experiência clínica é a capacidade de colocar em prática habilidades
clínicas e experiências anteriores para identificar rapidamente o estado
de saúde de cada paciente, seu diagnóstico, seus riscos individuais e os
benefícios de intervenções potenciais.

A terceira parte da tríade é a mais importante - desejos do paciente:


incluem nosso entendimento e nosso reconhecimento da individualidade
de cada ser humano, com preferências e expectativas únicas que ele
traz à consulta médica e que devem ser integradas e respeitadas numa
decisão clínica.

Ser bom profissional implica utilizar tanto a experiência pessoal quanto as


melhores evidências científicas disponíveis, associadas ao senso crítico
e à experiência clínica. Lembre-se: nenhuma delas sozinha é suficiente.

No site www.anniebello.com.br tem todas as minhas publicações


organizadas. Tem revisão sistemática, tem ensaio clinico e tem trial também.

A NBE NÃO SE BASEIA APENAS NA DEDUÇÃO DE


OBSERVAÇÕES OCASIONAIS OU NAS OPINIÕES
DA AUTORIDADE, DOS GRANDES MESTRES E NEM
DE GURUS. ELA PROPÕE QUE TODA INTERVENÇÃO
SEJA ORIENTADA PELAS EVIDÊNCIAS OBTIDAS
A PARTIR DE EXPERIMENTOS CIENTÍFICOS BEM
CONDUZIDOS.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

MATERIAL COMPLEMENTAR:

VOCÊ SABE O QUE SIGNIFICA NUTRIÇÃO BASEADA


EM EVIDÊNCIA?

COMO DIFERENCIAR CIÊNCIA DE PSEUDOCIÊNCIA?

COMO UM DADO VIRA EVIDÊNCIA?

POR QUE PRATICAR NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS?

ARTIGO CIENTÍFICO NEM SEMPRE É EVIDÊNCIA

POR QUE ALGUMAS EVIDÊNCIAS SÃO CONTRADITÓRIAS?

METODOLOGIA DE PESQUISA EM NUTRIÇÃO: EMBASAMENTO


PARA A CONDUÇÃO DE ESTUDOS E PARA A PRÁTICA CLÍNICA
– ALINE MARCADENTI DE OLIVEIRA, CATARINA BERTASO
ANDREATTA GOTTSCHALL E FLAVIA MORAES SILVA. EDITORA
RUBIO, 1ª EDIÇÃO, 2018.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO II
POR QUE MEDICINA DO ESTILO DE VIDA?

DEFININDO A MEV

A Medicina do Estilo de Vida (MEV) faz referência a uma prática clínica


multiprofissional, BASEADA EM EVIDÊNCIA, que visa a promoção e
manutenção de hábitos de vida saudáveis e consequente redução das
doenças crônicas não-transmissíveis.

O Colégio Americano de
Medicina de Estilo de Vida
define como o uso terapêutico
de intervenções de estilo de
vida baseadas em evidências
para tratar e prevenir doenças
relacionadas ao estilo de vida
em um cenário clínico.

Ela capacita os indivíduos com o conhecimento e as habilidades de vida


para fazerem mudanças de comportamento eficazes, que abordem as
causas subjacentes da doença.

O tema central da MEV é utilizar técnicas motivacionais para abordar


sistematicamente seis pilares fundamentais da saúde. Isso vai além
de uma simples prescrição, mas o desenvolvimento de uma relação
de parceria entre médico e paciente com o objetivo de transformar
positivamente o estilo de vida e a saúde.

O grande diferencial é que o paciente passa a ser visto como protagonista


central do processo de mudança e o profissional da saúde, um mediador
ou facilitador dessa mudança.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

O segredo é transformar a sua conduta em um plano de ação – pensando


prospectivamente. Pensando em etapas. Pensando em metas bem
específicas. Sempre esse plano deve ser entregue por escrito. E o
paciente precisa ser responsável pelo plano e CONCORDAR com o plano.

Esse plano de ação é sempre desenhado para que os pacientes consigam


atingir as mudanças necessárias e, para isso, utilizam uma abordagem
organizada e estrutura para aconselhamento de MEV que avalia a
prontidão do paciente para a mudança, identificam potenciais barreiras
à mudança, encorajam os pacientes a se comprometerem com metas
mensuráveis e os ajudam a identificar seu próprio progresso por meio de
ferramentas de auto monitoramento.

AS BLUE ZONES

Você já ouviu falar das blue zones? Terras geograficamente distantes


vivem mais centenários do que em qualquer outro lugar no mundo.
Fundação para a longevidade tem a ver com uma coisa: estilo de vida!

Os indivíduos que vivem bem em seus 90 anos e mais de 100 anos


de idade:

• Alimentos à base de plantas;


• Ativos diariamente;
• Sabem como reduzir o estresse;
• Socialmente conectados e suportado.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

COMO COMEÇAR A MUDAR O ESTILO DE VIDA?

Avalie o comportamento e nunca esqueça que o que precisamos fazer


em consulta é promover a mudança de hábito. Como fazer? Aumentar o
conhecimento, promover atitudes, reações ao estresse e motivação são
determinantes individuais importantes relacionados ao comportamento
de saúde. Além do suporte, família, relações sociais, relacionamentos,
status socioeconômico e cultura são outras influências importantes.
Assim, todos os fatores devem ser levados em consideração durante a
elaboração de estratégias que foquem em mudança de comportamento.

Outros elementos são essenciais para a compreensão do processo


através do qual as pessoas decidem iniciar um novo comportamento de
saúde e mantê-lo ao longo do tempo. O conhecimento dos processos
e mecanismos ligados ao comportamento humano permitem a
identificação de formas de promover a motivação na prática.

As teorias e modelos de mudança de comportamento são importantes


ferramentas que ajudam não só a explicar o comportamento, como
também oferecem estratégia para a mudança por meio de conceitos
como conhecimento, consciência, intenção, autoeficácia, influência
social e muitos outros.

OS 6 PILARES DA MEV

Agora que o Estilo de Vida como área da Medicina está bem definido e
conceituado, vamos aos seus pilares.

A MEV é pautada em 6 pilares: Alimentação, Exercício, Manejo de estresse,


Sono, Tabagismo e Etilismo, Relacionamentos.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

O
G ISM RELACIONAMENTOS
BA
TA

EXERCÍCIOS
MANEJO DO
ESTRESS

SO
N TAÇÃO
O N
ME
ALI

É importante considerar como todos esses fatores se inter-relacionam.


Exemplo: paciente com tempo de sono restrito (<6h) está associado a mau
controle glicêmico e ganho de peso. É fundamental que se identifiquem
esses fatores, para compreender como se relacionam e por onde vamos
começar a intervir.

O primeiro passo é entender que não basta o paciente começar a utilizar


hipoglicemiante. Ele vai precisar melhorar a qualidade do sono e também a
alimentação. O problema é que esses fatores não são ADEQUADAMENTE
avaliados. E a conduta é sempre a mesma: melhorar a alimentação e
fazer exercício. Será que isso basta?

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Em relação à alimentação, a recomendação é clara: alimentos integrais


e dieta baseada em vegetais. Não necessariamente uma alimentação
vegetariana, mas com predominância de frutas, legumes, verduras,
castanhas, sementes, cereais e leguminosas. Esse padrão alimentar é
recomendado pela maior parte dos guias alimentares do mundo e também
é a recomendação número 1 para prevenção e reversão ou remissão do
diabetes mellitus tipo 2.

A alimentação, no entanto, é um dos seis pilares da MEV. Precisamos


avaliar e intervir em todos os outros.

O sono é essencial para ter saúde física. Mas o que muita gente negligencia
é que o sono é essencial também para a saúde mental. Uma boa noite
de sono, com duração e profundidade adequadas, é capaz de promover
qualidade de vida.

A atividade física é capaz de não só afetar o biológico (mudar a


composição corporal, disparar endorfinas que melhoram a saúde mental),
como também é uma excelente abordagem comportamental, por trazer
metas e propósitos.

O estresse, o tabagismo e o etilismo são extremamente prejudiciais para o


bem-estar mental, e por isso devem ser manejados/controlados. O estresse
deve ser evitado, e quando não for possível, deve ser ressignificado. A
cessação do tabagismo e do etilismo deve ser sempre incentivada.

Por fim, os relacionamentos. Somos seres sociais, feitos para viver em


sociedade. No entanto, precisamos gerenciar melhor quem deixamos
conviver conosco. Claro que há situações que não dá para escolher as
pessoas (família e colegas de trabalho, por exemplo), mas sempre que
possível deve-se rodear de pessoas que acrescentam. Deve-se fortalecer
as conexões com pessoas que importam para o indivíduo.

Para aplicar a MEV de forma adequada, é preciso pensar no pré-


atendimento, no atendimento e no pós-atendimento. Separando o plano
de ação nesse tripé, conseguimos conduzir melhor o paciente aos
resultados e à adesão.

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MATERIAL COMPLEMENTAR:

ANAMNESE DE MEV

O QUE É MEDICINA DO ESTILO DE VIDA?

COMO O ESTILO DE VIDA PREVINE DOENÇAS


CARDIOVASCULARES?

QUAL A IMPORTÂNCIA DA MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA?

NUTRICIONISTA CUIDE TAMBÉM DA SUA VIDA PESSOAL!

ATENDIMENTO NUTRICIONAL E MEDICINA DO ESTILO DE VIDA

CONSULTA TRADICIONAL X CONSULTA MEV

ATENÇÃO PLENA: COMO ENCONTRAR A PAZ EM UM MUNDO


FRENÉTICO – MARK WILLIAMS E DANNY PENMAN. EDITORA
SEXTANTE, 1ª EDIÇÃO, 2015.

MÉDICOS NA COZINHA, DE ADRIANA KATEKAWA

HOW NOT TO DIE, DE MICHAEL GREGER

NUTRITION COUNSELING AND EDUCATION SKILL


DEVELOPMENT, DE KATHLEEN D. BAUER, DOREEN LIOU, CAROL
A. SOKOLIK

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO III
NOSSO PRÉ-ATENDIMENTO

Essa etapa é tudo que envolve o pré-consulta. Ela já se inicia na forma


com que você se porta como profissional na vida real e nas mídias
sociais. Envolve o marketing, a identidade visual, a aparência, o conteúdo
que você transmite e demais fatores.

O primeiro ponto é: que imagem você tem passado? As mídias sociais


não necessariamente precisam ser um depósito de conteúdo incessante,
até porque isso demanda tempo. Se você escolher posar conteúdo, é
uma ótima forma de marketing. Mas saia do senso comum: que todos
devem consumir mais frutas e verduras todo mundo sabe. Procure o
diferencial. Pense como paciente: que informação nova e diferente seu
nicho conseguirá visitando suas mídias sociais?

OS 3 INGREDIENTES PRINCIPAIS

Vou ensinar para você 3 ingredientes que considero básicos para estimular
o seu cliente ou futuro cliente a ficar com o seu acompanhamento.

# INGREDIENTE 1 – AUTORIDADE

O fato de você ter uma audiência e publicar conteúdo também


é uma maneira de construir autoridade. Quanto mais conteúdo
de valor você entrega para o seu público, mais ele vai enxergar
você como uma autoridade e vai gerar confiança nele.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

# INGREDIENTE 2 – PROVA SOCIAL

A prova social consiste em você mostrar para as pessoas que


tem muita gente interessada no que você faz. São números
que mostram que as pessoas estão aprovando o que você
está fazendo.

# INGREDIENTE 3 – SIMPLICIDADE
E ESPECIFICIDADE

É importante que você deixe claro para a pessoa que usar o


seu atendimento pode facilitar a vida dela. A pessoa tem que
imaginar que ela consegue fazer aquilo. Simplificar é a palavra
de ordem, não se esqueça!

Aqui cabe um adendo sobre nicho. É importante visualizar que tipo de


paciente você quer atender e que você está se especializando. Quanto
mais abrangente, menos referência você se torna. Defina minimamente
se quer trabalhar com crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Se
adultos, mulheres gestantes? E dentro desse público, existe uma área da
Clínica na qual você tem mais especialidade/afinidade? Há profissionais
com excelentes resultados que se atendem um nicho específico, como
pacientes pós-bariátrica, pacientes da Nefrologia, da Oncologia e assim
por diante. Mas saiba que se escolher uma área muito específica, cabe
a você estudar e se especializar acima da média para corresponder a
isso. Não é uma necessidade escolher uma área da Clínica, mas pode
ser um diferencial.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

DEFININDO UM NICHO

Se você tem dúvidas de como definir o seu nicho, com quem você quer
trabalhar e como elaborar a sua rede de contatos, aqui vão algumas dicas:

• Analise sua formação: Você possui especialização?


Em que área tem mais experiência? Caso não tenha
nem especialização e nem experiência, com o que
você quer trabalhar?

• Analise suas afinidades: Que área mais te desperta


interesse? Qual tipo de público você se sente mais
preparado e confiante em atender?

• Analise qual o perfil do público que reside nas


redondezas do seu consultório: Qual a faixa etária
média? Qual o percentual de homens e mulheres?
Há muitos idosos? É um bairro residencial com
muitas crianças ou é um bairro comercial com muitas
mulheres na faixa dos 40 anos?

Mesmo que você seja recém-formado, sem experiência ou consultório


fixo, estabeleça com que público você quer trabalhar.

Estabelecendo seu nicho, considero fundamental você criar uma


estratégia para conseguir olhar para o seu paciente além da alimentação,
além das receitas. Sabemos que existem muitos fatores que influenciam
o bem-estar e a saúde. É importante avaliar em consulta. Faça o paciente
compreender como esses fatores impactam na alimentação e oriente as
estratégias para controle.

Vamos a um exemplo: Queixas comuns no consultório são o estresse,


a correria do dia-a-dia, noites mal dormidas... a sua conduta é passar
um “modulador de hormônio” ou um fitoterápico? Ou um alimento para
melhorar o sono?

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Na NBE e na MEV, essas estratégias são apenas complementares. São


a cereja do bolo apenas. Isso porque o que precisa ser feito é avaliar
integralmente esse paciente e ajudá-lo a ajustar a rotina. Para isso, você
precisa necessariamente conhecer todos os domínios relacionados
ao bem-estar. A utilização de suplementos e fitoterápicos só tem
efetividade caso a base esteja bem fortalecida: medidas de higiene do
sono, manejo do estresse e ajustes na alimentação.

Com o nicho estabelecido, prepare vários materiais educativos.


Considero fundamental o nutricionista montar o seu próprio “arsenal
de segurança”. Esse arsenal pode ser composto de cartilhas, lista de
orientações práticas, seleção de rótulos alimentares, tudo que favoreça
o seu atendimento nutricional.

OS 7 DOMÍNIOS DO CUIDADO

No consultório, por exemplo, trabalho com 7 domínios do bem-estar, que são:

Alimentação e Nutrição
Comportamento e Peso
Saude Mental e Emocional
Energia
Exercício
Saúde Geral
Satisfação e Equilíbrio

Com isso, eu tenho várias orientações prontas para cada um desses


domínios.

Vamos a alguns exemplos do domínio alimentação e nutrição: como


fazer uma escolha consciente, alimentos ultraprocessados: quais são, o
que são carboidratos simples e complexos, dicas de pequenas refeições,
dicas de grandes refeições, e-books de gastronomia funcional, e-books
de receitas com quinoa, e-books de snacks...

Com todo esse material em mãos, de acordo com a necessidade do seu


paciente, você pode entregar para ele como forma de educação nutricional
ou simplesmente te ajudar a construir o plano alimentar.

Você não precisa preparar muitos materiais. Com um nicho bem definido,
você vai criando os materiais aos poucos de acordo com a demanda!

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

APRESENTE A SUA FORMA DE TRABALHO

Voltando às mídias, se sua opção for por não postar conteúdo, não
há problema. Mas poste fotos em Congressos, de você atendendo, de
você em locais de trabalho e valorizando suas titulações. Também há
profissionais que se destacam que optam por esse tipo de postagem,
pois passam credibilidade ao paciente. Não foque em número de
seguidores – é um chamativo, claro, mas a taxa de conversão de
seguidores em pacientes é extremamente baixa. Foque na sua imagem
como profissional e no bom trabalho, pois o maior marketing é o boca-
a-boca que o próprio paciente realiza.

Agora que o paciente entra em contato para marcar consulta, o que fazer?

É importante que o contato seja cordial, educado, gentil e atencioso. A


primeira impressão é a que fica, como diz o ditado. Se o paciente for
negligenciado ou maltratado nesse contato, ele nem vai na primeira
consulta. Mostre interesse na conversa e nas demandas que ele
aponta nesse primeiro momento, demonstre acolhimento. Mostre
preocupação em achar data e horário na agenda que atenda à rotina
dele – isso independente se o contato for feito por telefone, e-mail,
mídia social ou Whatsapp.

Procure também brevemente apresentar o seu atendimento, os seus


diferenciais e a consequência para a pessoa. Tente ilustrar o diferencial.
Exemplo: você vai avaliar a composição corporal e não apenas o peso,
e sua conduta será baseada nessa avaliação, o que traz mais saúde,
qualidade de vida e manutenção da mudança do que abordagens focadas
no peso da balança. Outra estratégia é usar a escassez, pois ajuda a
provocar urgência para o seu paciente. Se você falar “tenho um horário
às 14h na próxima quinta feira” pode surtir um efeito maior do que “para
quando você quer marcar”.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

POR QUE ENVIAR A ANAMNESE POR E-MAIL?

Assim que o paciente marcar a consulta e cessar o contato, envie uma


anamnese por escrito. Esse documento é um questionário para ele
preencher e devolver antes do dia da consulta. Servirá tanto para você
o conhecer mais quanto para poupar tempo de consulta – perguntas
sobre onde mora, com quem mora, doenças prévias, medicamentos que
consome tomam tempo precioso de consulta. Além disso, é bom para
o paciente, pois ele preenche em casa, reflete sobre o assunto, avalia
outras questões que também serão importantes de serem trabalhadas
durante a consulta.

Desenvolva o seu próprio questionário de anamnese de acordo com o


seu nicho. Coletar as informações chaves pode conferir mais eficiência
no seu atendimento.

Não se prenda a anamnese apenas de história da doença atual (HDA) e


história patológica pregressa (HPP). Temos muitas perguntas específicas
sobre comportamento, sobre padrão alimentar e sobre outros diversos
fatores que estão relacionados diretamente à saúde e ao bem-estar.

Diagnóstico de comportamento, do problema, de barreiras, de severidade,


dos sucessos anteriores.

Explore o ambiente físico que poderia ajudar ou não nos resultados.


Examine o suporte e a rede de apoio do paciente.

Revise o ambiente cognitivo.

Lembre-se sempre de incluir um recordatório de 24h ou de dia típico e


também um questionário de frequência de consumo alimentar.

Quando o paciente enviar a anamnese preenchida, salve no computador


e, em uma planilha separada, anote a data de aniversário dele. Lembre-
se de sempre enviar um e-mail ou mensagem no dia do aniversário, pois
mostra cuidado e interesse. Faça isso mesmo que seja um paciente que
não foi mais às consultas.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CHEGOU A HORA, VAMOS?

E agora que chegou o dia da consulta, o que fazer?

Imediatamente antes do atendimento, uma boa estratégia é praticar o


Mindfulness logo antes do paciente entrar.

Mindfulness é uma tradução para inglês da palavra Sati e é


definido como “a capacidade de atenção plena”, e a ideia é que
ao estarmos conscientes do que se passa no nosso corpo,
na nossa mente, nos nossos pensamentos e nas nossas
emoções. Ou seja, de nos lembrarmos de prestar atenção, a
ter consciência de nós próprios.

Você já percebeu que muitas vezes parece que a nossa mente tem vida
própria e não assumimos a liderança sobre ela? Não temos nenhuma
intenção ou nenhum propósito para os nossos pensamentos? Pois no
Mindfulness, o propósito (e intenção) é chave. Temos a intenção e o
propósito de ter a experiência por inteiro, sendo ela a nossa respiração,
certa emoção, uma ação específica ou uma parte do nosso corpo.

Quando praticamos Mindfulness, estamos prestando atenção de


propósito, no momento presente (aqui, agora) e buscamos não fazer
julgamentos. Concentrar-se no momento atual significa estar em
contato com o presente e não estar envolvido com lembranças ou com
pensamentos sobre o futuro. Considerando que as pessoas hoje em dia
funcionam no piloto automático, a intenção da prática de Mindfulness
seria exatamente trazer a atenção plena para a ação no momento atual.
‘Intencional’ significa que o praticante de Mindfulness faz a escolha de
estar plenamente atento e se esforça para alcançar esta meta.

Experimente fazer algumas respirações conscientes logo antes de


começar a consulta. Essa prática é fundamental para você desconectar
dos outros pacientes que você atendeu e focar no atual. Também te ajuda
a desprender dos problemas de vida pessoal ou profissional que possa
estar passando, para que eles não tirem seu foco do paciente quando ele
sentar na sua cadeira.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Por fim, a última etapa do Pré-atendimento é o que chamo de Mise en


place. Assim como na culinária é fundamental fazer o Mise en place, que
é a separação de louças, utensílios e ingredientes que serão utilizados na
preparação, no atendimento a regra é a mesma.

Organize a agenda do que será abordado na consulta. Quais são as


informações que você considera mais básicas e importantes para o
processo de reeducação alimentar? Separe os materiais que serão
utilizados, ferramentas, questionários, impressos e rótulos. Ao longo da
consulta podem surgir demandas outras, mas é importante que você
tenha um norte baseado na anamnese pré-enviada.

Nos capítulos seguintes vamos discutir as etapas Atendimento e


Pós-atendimento.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

MATERIAL COMPLEMENTAR:

5 vídeos (de 3 minutos) para você assistir e terminar o seu Mise en Place:

1. VOCÊ ENTREGA DIETA NA HORA DA CONSULTA?

2. USAR OU NÃO LISTA DE SUBSTITUIÇÃO, EIS A QUESTÃO!

3. COMO ESTABELECER METAS PARA O SEU PACIENTE?

4. OS 7 DOMÍNIOS FUNDAMENTAIS PARA UMA ANAMNESE


PERFEITA.

5. VOCÊ FRAGMENTA A NUTRIÇÃO?

PLAYLIST DE ATENDIMENTO NUTRICIONAL

ACONSELHAMENTO, O QUE É E COMO FAZER?

MUDANÇA DE COMPORTAMENTO NO PACIENTE COM


OBESIDADE

GUIDELINE DE OBESIDADE DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE


ENDOCRINOLOGISTAS CLÍNICOS, 2016.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO IV
PRÁTICA CLÍNICA DO ATENDIMENTO

CRIANDO CONFIANÇA

Chegamos ao atendimento. O paciente entra na sua sala.

O primeiro ponto é o estabelecimento do Rapport.

Rapport: é um conceito vindo da Psicologia; uma técnica


utilizada para gerar sintonia e empatia com outra pessoa. Ou
seja, é o estabelecimento da confiança entre o profissional e
o paciente.

Toda consulta começa com uma fase de envolvimento – de conexão.


Crie o Rapport, mostre empatia, forme uma relação de confiança.

Confiamos em pessoas que são parecidas conosco, com isso fica mais
fácil sugerir mudanças de hábitos alimentares e de estilo de vida.

Como criar?

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Sorriso é a chave universal do Rapport.

Chame o paciente pelo nome.

Identifique algum ponto de


semelhança e diga: “eu também moro no
bairro X”. Ou “minha família também é
do interior”.

Elogie o brinco da sua paciente. O


novo corte de cabelo.

Sempre fale no mesmo tom de voz


que o paciente. Se ele fala rápido, você
também deverá falar mais rápido.

O Rapport começa a ser feito no momento que você recebe o paciente na


sua sala. Receba-o de pé, cumprimente-o, seja cordial. Esteja bem vestido
e bem arrumado. Porte-se de forma profissional e sorria, mostrando que
ele é bem-vindo e será acolhido no seu espaço.

FOLHA EM BRANCO PARA UMA CONSULTA


MAIS FLUIDA

A seguir, sentando na sua cadeira, pegue uma folha em branco. É com ela
que você vai atender. Atender com uma folha em branco te proporciona a
oportunidade de deixar o paciente guiar o atendimento, fazendo com que
você não se prenda as perguntas, e te confere ainda a liberdade de anotar
os pontos que te chamaram mais atenção. Esqueça nesse momento
protocolos e questionários. As informações essenciais você já obteve na
anamnese. Agora é olho no olho.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Faça perguntas abertas e deixe o paciente guiar a consulta. Pergunte:

“O que trouxe você aqui?”

“De que forma eu posso te ajudar?”

“Você já foi a algum nutricionista?”

“O que funcionou?”

“Você pode me contar um dia típico seu pontuando também sobre


alimentação? Me leve para esse dia do início ao fim. Você acorda às...?”

Enquanto coleta as informações, NÃO REAJA COM ORIENTAÇÕES,


CRÍTICAS OU JULGAMENTOS, pode inibir a conversa. Deixe o cliente
falar com o mínimo de interrupção possível.

Se o paciente fugir do tema e o horário estiver apertado, guie-o de volta


ao assunto. Se você estiver atendendo uma criança e a mãe começar a
elogiá-la, por exemplo:

“Nossa, realmente impressionante que seu filho consegue mexer no


celular sendo tão novinho! E me conta, como é mesmo o lanche dele?”
É importante que você exerça a escuta ativa. Não é simplesmente
ficar na inércia enquanto o paciente fala. Estimule-o a falar sobre suas
demandas e preste atenção à sua comunicação não-verbal: faça contato
visual, adote uma postura não-julgadora, mantenha o corpo na direção
do paciente, evite mexer no computador ou no celular enquanto ele fala,
acene com a cabeça, demonstre empatia, repita algumas das frases para
o paciente confirmar ou negar o que ele mesmo disse (gera reflexão).

Dessa forma, você não só saberá a demanda do paciente (e assim


planejar o tratamento nutricional), como também estabelecerá vínculo,
que é essencial na adesão ao tratamento. Ao final de algumas falas,
procure resumir o que ele falou, repetindo para ele em voz alta. Assim ele
mesmo refletirá sobre a informação que está passando.

Na consulta de retorno, pergunte ao seu paciente por onde ele gostaria de


começar. Dê ao cliente a oportunidade de falar sobre qualquer questão
antes da AGENDA (do programado, o que pode fazer você reprogramar).

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

SER SIMPÁTICO BASTA?

É importante entender os conceitos de apatia, empatia e simpatia. Para


isso, vamos imaginar um paciente obeso que no último mês não conseguiu
perder o peso esperado. Apatia é um sentimento de indiferença quanto
ao outro. É não estabelecer conexão com a vida, com a fala e com os
problemas do paciente.

Um nutricionista apático é aquele que, por exemplo, dá uma “bronca”


nesse paciente que não conseguiu emagrecer. Simpatia é o oposto. É ter
sensibilidade quanto ao outro, ao problema do outro.

Nesse exemplo, o profissional com simpatia pergunta para o paciente o


que houve e escuta que foi por ter trabalhado muito e não ter tido tempo
de cozinhar nesse mês. O nutricionista “simpático” entende o problema e
segue em frente.

Já a empatia é um sentimento de se colocar no lugar do outro. É pensar:


“e se fosse eu? O que eu faria?”. É entrar em conexão com o problema
e os sentimentos do paciente, mas sem “mergulhar” neles. No exemplo
acima, o nutricionista empático falaria: “Compreendo seu problema.
Vamos pensar na solução juntos? Vamos estabelecer um dia da semana
para você cozinhar as refeições da semana. Vamos montar uma lista de
compras de supermercado com alimentos ‘coringa’ para os dias que não
há tempo de cozinhar. E se precisar pedir comida, que tal eu te passar
uma lista de restaurantes delivery de melhor qualidade?”.

Como a imagem mostra, a apatia é a completa indiferença quanto à


pessoa que está “afundando”. A simpatia, por mais bonita que seja, não
resolve o problema porque o ajudante se “afunda” junto. A empatia é o
sentimento que devemos ter. Perceba que na empatia você ajuda sem
“afundar”. É entender o problema e dar a solução.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CUIDADO CENTRADO NO PACIENTE

Esse tipo de abordagem se enquadra em um conceito fundamental


da MEV que é o Cuidado Centrado no Paciente. Primeiramente você
precisa entender que o modelo de ensino é focado na doença e não no
paciente. É mais fácil para o professor ensinar diabetes, hipertensão ou
câncer, do que dar uma aula que tem como base um caso clínico com
várias co morbidades.

O nosso paciente pode ter até hipertensão, e você vai precisar saber disso,
mas ele tem uma história de vida, uma história sociocultural, alimentar,
uma rotina única e preferências alimentares também.

Isso significa que o mais importante em uma consulta de nutrição é


escutar o seu paciente.

Conhecer a história dele é a parte mais importante do acompanhamento.


A proposta é mudar o paradigma de superioridade do profissional frente ao
paciente, caindo por terra o modelo tradicional de atendimento puramente
diagnóstico e prescritivo. Com essa proposta, o atendimento passa a ser
integrativo e integralizador, levando em conta diversos aspectos da vida
do paciente além da doença. O foco é a promoção da saúde (ou das
saúdes: mental, física, fisiológica, social, etc)!

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Além da escuta ativa e das perguntas abertas, o fundamento principal do


Cuidado Centrado no Paciente é a decisão compartilhada. A tomada de
decisão no tratamento não deve ser unilateral. O paciente deve participar
ativamente do seu tratamento, sendo questionado e ouvido sobre as
opções presentes. Na Nutrição clínica, é essencial que o planejamento
dietético seja participativo e elaborado com base nas vontades e desejos
do paciente para garantir a adesão e o sucesso no tratamento.

FUNDAMENTOS DO CUIDADO CENTRADO


NO PACIENTE:

1. Todos os profissionais de saúde são considerados cuidadores


e promotores de saúde;

2. O cuidado é baseado na construção de uma relação de cuidado


contínuo (e não cuidados episódicos);

3. O cuidado é personalizado, refletindo as necessidades, os


valores e as escolhas do paciente;

4. Conhecimento e informação são compartilhados entre


pacientes e profissionais de saúde;

5. O cuidado deve ser promovido em um ambiente de conforto,


paz e apoio (nada de terrorismo nutricional e postura julgadora);

6. A família, os amigos e o meio social do paciente são considerados


partes integrantes da equipe de cuidado;

7. A segurança do paciente é uma prioridade;

8. Transparência nas tomadas de decisão;

9. Todos os profissionais de saúde envolvidos com o paciente


devem cooperar um com o outro, trocando experiências e
informações, visando seu bem estar;

10. O paciente é quem controla seu cuidado.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Para aplicar essa abordagem, pense em todos os fundamentos


apresentados. Não trate um paciente hipertenso, por exemplo, com foco
apenas na hipertensão. Pense nele como um ser humano complexo, com
sentimentos, família, amigos. Toda uma vida, na qual a hipertensão é
apenas um detalhe.

Analise seu contexto social e econômico. Analise seu engajamento com


o tratamento nutricional. Analise o grau de mudança de comportamento
que ele está.

Ter a resposta de algumas perguntas-chaves pode ser o grande pulo do


gato. O paciente que vem para a sua consulta por um desejo da esposa
ou do médico pode não estar pronto para a mudança. Por outro lado,
o paciente que chega no consultório tendo perdido já 3 kg e iniciado
uma atividade física, ele passa ser considerado um paciente em ação.
O primeiro passo do tratamento nutricional é identificar em que fase o
paciente está. O diálogo que será estabelecido com ele vai ser de acordo
com o seu grau de prontidão de mudanças.
Se o seu paciente não está pronto para mudar, não estabeleça muitas
metas, procure gerar mais conscientização do problema e os benefícios
da mudança.

O resultado só vai aparecer se ele estiver comprometido. Procure


identificar esse comprometimento logo nos primeiros momentos juntos
na consulta. O resultado não depende do nutricionista, depende da
adesão do paciente. E ele precisa estar ciente disso.

COMUNICAÇÃO É A CHAVE PARA A ADESÃO.

Comece a consulta com “como posso ajudá-lo?”. Questione-se: “ele


precisa realmente de um planejamento dietético detalhado e complexo
nesse momento?”, ou “ele precisa receber muita informação nutricional
ou precisa ser mais escutado?”. Essas respostas você só vai obter
praticando escuta ativa.

Sempre fale no plural: “nossa meta é a seguinte”, “nosso planejamento


é esse”, “nosso foco é em melhorar sua saúde”. Isso envolve mais o
paciente, ele passa a ver o profissional de saúde como seu aliado, lado a
lado com ele.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Utilize a comunicação de forma adequada. O vocabulário deve ser


escolhido de acordo com o nível de entendimento do paciente para poder
envolvê-lo. Comunicação é a chave para a adesão.

Não adianta focarmos apenas na qualidade da informação. Claro que


temos que estar sempre atualizados, estudando e lendo sempre sobre
as novas descobertas científicas na Nutrição. Mas temos que focar em
COMO passamos ainformação.

Primeiramente, devemos evitar termos técnicos quando estamos falando


com os pacientes. A transmissão da mensagem deve ser clara! Utilize
analogias. Fale palavras que quem não é da área da saúde consiga
entender. Mas acima disso, foque nos aspectos positivos e não nos
negativos. E não seja imperativo. Vamos pegar um exemplo: ao invés
de simplesmente dizer “fastfood faz mal, você precisa parar de comer”,
diga “tenho muitos pacientes que conseguiram um resultado excelente
trocando o fastfood por hambúrguer caseiro. O que acha de tentar fazer
em casa?”. Percebem a diferença?

A mensagem é essencialmente a mesma, mas a FORMA com que foi


transmitida muda totalmente a recepção dela.

No primeiro exemplo (e infelizmente bem comum), a fala é acusativa e


imperativa.Deixa o paciente na defensiva e dificilmente gera mudança
de comportamento.

Na segunda, há não só o convite para a mudança, como também a entrega


da solução.

Quando for montar o planejamento, envolva-o também: “o que você


acha de diminuir a quantidade de refrigerante na parte da tarde?”, “você
gostaria de inserir uma fruta no lanche da tarde?”, “como podemos fazer
para melhorar sua ceia?”.

Por fim, pratique a redução de danos: ao invés de cortar um alimento


identificado como problemático, sugira uma redução e uma alternativa. Tente
entender o motivo do paciente comer embutidos todos os dias pela manhã,
por exemplo: é hábito familiar? É a única opção nas padarias por perto da
casa dele? Ele não conhece outras opções? Ele não gosta de cozinhar?

Converse com o paciente. Conversa é a chave para o Cuidado Centrado


no Paciente.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL COMPLETA

Aplicando esses conceitos, você chega à avaliação antropométrica. E


aí, o que fazer? Bioimpedância ou antropometria? É uma resposta que
está respondida com mais detalhes ao final deste capítulo, no formato de
vídeo. Mas para ser direto: antropometria – desde que o profissional siga
corretamente os protocolos e esteja bem calibrado – é sempre superior
à bioimpedância.

A avaliação nutricional é o centro do atendimento. Sem um correto


diagnóstico, sua conduta fica prejudicada. O diagnóstico deve abranger
comportamento, o problema, as barreiras, a severidade, os sucessos
anteriores. Explore o ambiente físico que poderia ajudar ou não nos
resultados. Examine o suporte e a rede de apoio do paciente. Revise
o ambiente cognitivo. O diagnóstico NÃO é o IMC. Todos os detalhes
da avaliação nutricional estão no vídeo “Como eu faço a avaliação
nutricional?”, listado ao final do capítulo como material complementar.
Seu paciente em primeiro lugar, depois o exame laboratorial.

Exames laboratoriais são essenciais para fechar nosso diagnóstico.


Diversos marcadores plasmáticos e sorológicos nos ajudam a
compreender o cenário metabólico do paciente e guiar nossa conduta
nutricional. Muitos avanços têm ocorrido na descoberta de novos
marcadores, e isso é excelente!

O problema é que certas vezes o foco do atendimento acaba virando


o exame, e não o paciente. Tem muitos pacientes que eu atendo que,
após fazer uma anamnese e exame físico, relatam que eu fui a primeira
nutricionista a fazer isso!

O exame físico não pode ser deixado de lado por você ter à disposição
exames laboratoriais.

O diagnóstico nutricional DEVE incluir sinais e sintomas para ser fechado!


E não há como descobrir sinais e sintomas se você não conversar com o
paciente e fizer o exame físico. Testes funcionais também são exemplos
de métodos simples e que agregam muito ao diagnóstico. Um deles
é o teste de sentar-levantar, que é bem simples de ser feito: de forma
resumida, peça para o paciente sentar no chão e depois levantar, com o
mínimo apoio possível.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

O paciente possui 5 pontos e cada apoio que ele utilizar (como braço, mão,
lateral da perna, etc.) diminui 1 ponto do total. Se houver desequilíbrio,
perde-se meio ponto. A pontuação final deve ser interpretada de acordo
com os valores de referência para sexo e idade. Mais detalhes no artigo
do criador do método, prof. Claudio Gil: Eur J PrevCardiol. 2019 May
1:2047487319847004

É um teste simples de ser aplicado, além de rápido. Ele indica um


prognóstico que em um exame laboratorial pode ser negligenciado:
scores baixos nesse teste estão associados a maior mortalidade por
todas as causas em indivíduos acima dos 51 anos!

Exames laboratoriais são importantes SIM, mas eles são AUXILIARES!


O diagnóstico nutricional é complexo, não pode focar apenas no exame
sanguíneo. Tratamos pessoas e não papeis!

AVALIE SEU PACIENTE DE FORMA INTEGRAL

Todo processo de cuidado, não importa em que estágio esteja, é


necessária a avaliação integral do paciente. Mas para conseguir isso, o
que geralmente se faz? Se avalia a antropometria ou a dietética? Pede
inúmeros exames bioquímicos? Não!

Invista o seu tempo para avaliar os multidomínios do bem estar.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

OS 7 DOMÍNIOS DA AVALIAÇÃO DE BEM ESTAR

ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO

COMPORTAMENTO E PESO

SAÚDE MENTAL E EMOCIONAL

ENERGIA

EXERCÍCIO

SAÚDE GERAL

SATISFAÇÃO E EQUILÍBRIO

Ou seja, com a avaliação em multidomínios, além de você aumentar


a quantidade de informação que você tem sobre o seu paciente, você
consegue conhecer um pouco mais sobre os fatores que interferem nas
escolhas alimentares.

Você só consegue promover a melhor versão do paciente se você


identificar os pontos que precisam ser melhorados no estilo de vida.
Claro que você não vai abordar tudo isso na primeira consulta, mas terá
informação suficiente para promover o processo de cuidado ao longo
das semanas/ meses do tratamento.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL

A partir da avaliação, você fecha o diagnóstico nutricional.O diagnóstico


completo envolve identificação dos comportamentos, do problema,
de barreiras, de severidade, dos sucessos anteriores, identificação do
ambiente físico que poderia ajudar ou não nos resultados, avaliação
do suporte e a rede de apoio do paciente.Claro, além desses aspectos,
precisa realizar a avaliação dietética com recordatório de 24h ou dia
típico e mais um questionário de frequência de consumo alimentar.

Toda consulta envolve o diagnóstico completo. Além da coleta de


informações é fundamental a etapa de comparação da anamnese
alimentar com as DRIs, o Guia Alimentar, escalas para a avaliação ser
feita, questionários. Tudo isso, junto ao restante da avaliação nutricional,
para você poder fechar um diagnóstico adequado.

Esse diagnóstico é o que vai nortear sua conduta. É ele que vai te mostrar
quais são os problemas (P), a etiologia (E) e os sintomas (S). O PES é o
que você vai utilizar para montar um plano terapêutico. Sabemos, hoje,
que não basta guiar a conduta baseada em sintomas. A etiologia, que é a
raiz dos problemas, deve ser elencada como o local de ação. Pensando em
um paciente obeso, por exemplo: se ele fala que tem indisposição e você
utiliza um fitoterápico para melhorar a energia dele, você está guiando
sua conduta em sintoma. É preciso ver que ele está com indisposição
por dormir pouco, não ter atividade de lazer, trabalhar 10 horas por dia,
não estar satisfeito com suas relações pessoais. Aplique os conceitos
e fundamentos da MEV que vimos anteriormente. E isso não significa
que não pode usar esse fitoterápico: apenas que esse suplemento é
complementar a uma conduta maior, que trata a etiologia.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO V
PRESCRIÇÃO DIETÉTICA

ESTABELEÇA METAS

Estabelecendo, junto ao paciente, o plano de ação guiado nos


princípios da MEV e da NBE, baseado no PES, é hora de colocar em
prática. Não basta identificar que o paciente precisa emagrecer 10kg:
é preciso traçar um plano para isso. E aqui é importante administrar as
expectativas do paciente.

É preciso deixar claro que o tratamento nutricional tem


corresponsabilidade, com participação de ambos. E é preciso também
esclarecer que a mudança de estilo de vida é um processo, não um
evento. Ninguém muda os hábitos do dia para a noite. Quando mudam,
as chances são altas de haverem recaídas.

Uma forma prática de administrar as expectativas do paciente é


estabelecer metas SMART: Específicas, Mensuráveis, Atingíveis,
Relevantes e Temporais. Ou seja, pegue a expectativa do paciente,
transforme em objetivo e discuta com ele as metas para isso.

Exemplo: paciente obeso, chega a você querendo emagrecer 30kg. Você


conversa com ele e estabelece que o objetivo, por exemplo, é mudar estilo
de vida como um todo para conseguir atingir esse emagrecimento todo,
e que levará um tempo considerável. A partir daí você estabelece metas,
como: nos próximos 30 dias, você restringirá o refrigerante para segunda,
quinta e sábado, com consumo semanal total de 1,5 litros. Isso é uma
meta SMART! É diferente de simplesmente falar “corte o refrigerante”,
que sabemos que não acontecerá da noite para o dia assim.

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CHEGOU A HORA DE PRESCREVER

E agora, como traduzir tudo isso em um plano alimentar?

É essencial que você possua algo para te dar suporte, seja um software
ou uma planilha no computador. Essas ferramentas vão te auxiliar a
prescrever com maior agilidade. Nesse momento, olhe para o paciente e
peça licença para olhar para o computador, explicando que você vai inserir
alguns dados e realizar alguns cálculos. Mas continue conversando com
ele, para que ele não se sinta deixado de lado.

Calcule o VET e estabeleça proporção de macronutrientes. Comece o


cálculo de macronutrientes pelas proteínas, pois são calculadas em
gramas por kg de peso corporal. Tenha uma planilha acessória para
que você consulte caso precise. Nenhum profissional lembra todas as
condutas necessárias para cada tipo de condição clínica. Tendo uma
planilha, você pode consultar rapidamente para auxiliar. Na lista de
materiais complementares deste capítulo se encontra uma planilha
gratuita para download, que contém informações essenciais para
a consulta de MEV. Se você tem dúvidas sobre o cálculo da dieta,
há também uma vídeo-aula gratuita sobre isso. Se as dúvidas são
sobre lista de substituição, estimativa de peso ideal, equipamentos
necessários para o atendimento, disponibilizei também uma playlist de
vídeos focados em atendimento nutricional.

Com o cálculo em mãos, é hora de transformar em um plano alimentar.


É a hora, novamente, de integrar o paciente. O plano alimentar é
participativo, conforme os preceitos do Cuidado Centrado no Paciente.
Sugira alimentos e avalie a resposta do paciente. Deixe-o a par das
mudanças que você quer sugerir e pergunte se ele está disposto a
integrar em sua rotina ou não.

Trace um PLANO de cuidado de acordo com o problema, etiologia


e sintomas.

Com opções reais, centrado no paciente!

Se o paciente julgar que lista de substituição é uma estratégia, não deixe


de dar.

43
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Não pré-julgue acreditando que não é uma boa opção. Mas pode ser que
o próprio paciente diga que não gosta de lista de substituição, cabe a
você propor outra estratégia!

Procure abrir o leque de opções: Flexitarian, DASH diet, Med Diet, LowCarb,
Paleo diet, Myplate.

Existem muitas opções, você irá adaptá-las às necessidades do paciente.


Faça sempre atendimento centrado no paciente: O paciente é ativo, é
parceiro do plano, nutri dá opções e discute os prós e contras, cuidado
na qualidade de vida, nutri escuta mais e fala menos... Que tal aliar a
prescrição ao aconselhamento?

APLIQUE DIVERSAS TEORIAS NUTRICIONAIS E


ESTRATÉGIAS EFETIVAS

Lowcarb, Atkins, South Beach, Zone, lowfat (ornish), moderada em


macronutrientes (biggestloser, volumetrics, weightwatchers), índice
glicêmico, Zone diet, Jejum intermitente e paleo diet, Dietas vegetarianas,
Rawfood diet, Crudivorismo, Dieta antinflamatória e antioxidante, Detox,
sem glúten e lactose, Ayurveda e a macrobiótica, antianging diet e
ortomolecular, FoodandSpiritprogram, dieta alcalina.

Será que tudo isso vale?

Seguindo os preceitos da Nutrição Baseada em Evidências, você deve


prescrever de acordo com três pilares:

Evidências científicas (então pesquise, estude, leia artigos científicos


confiáveis sobre os diferentes padrões alimentares). Para conseguir
estar a par das evidências científicas, estabeleça um cronograma
de estudos. Separe pelo menos uma tarde por semana para buscar
artigos recentes sobre o assunto de interesse. Importante, antes de
tudo, estudar sobre metodologia científica e os tipos de artigos e
estudos. Dessa forma, você vai aprender as diferenças entre um estudo
de coorte e um ensaio clínico randomizado duplo-cego controlado por
placebo, por exemplo, e como as evidências dos dois se traduzem de
forma diferente em nossa prática clínica.

44
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Prática clínica (dentro do que existe de evidência, aplique O QUE DÁ


CERTO PARA VOCÊ E SEU PÚBLICO! Um bom exemplo é a estratégia
lowcarb. Ela possui evidências sim, mas seu paciente tolera uma
redução de carboidratos? Lowcarb para ele vai gerar adesão ou
abandono do tratamento nutricional?);

Preferências do seu paciente (como falei acima, a dieta certa é a


que funciona para o paciente! Respeite as preferências, habilidades
e limitações de cada um. Prescreva aquilo que você e o paciente
acreditam que dará certo).

Aqui cabe um adendo sobre o estágio de mudança de comportamento. A


forma como você vai comunicar a mudança e/ou conduzir a prescrição
depende do estágio de mudança de comportamento, proposto por Prochaska.
É um modelo no qual se avalia a prontidão à mudança dos pacientes.

ESTÁGIOS DE MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

Cada paciente que chega ao consultório está em um momento único de


sua vida. E é esse momento que vai te dizer que abordagem você deve ter
para atingir adesão e sucesso terapêutico. Os estágios de mudança de
comportamento são divididos em cinco:

Pré-contemplação, Contemplação,
Preparação, Ação e Manutenção.

45
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

MANUTENÇÃO

AÇÃO

PREPARAÇÃO

CONTEMPLAÇÃO

PRÉ
CONTEMPLAÇÃO

Eles não são lineares. Recaídas podem acontecer. O paciente pode estar
em um avançado e retroceder. Mas ele também pode pular do primeiro ao
terceiro. No geral, o que costuma acontecer é a evolução de pré-contemplação
até manutenção.

A importância de se avaliar esses estágios é a seguinte: um paciente em


estágio de pré-contemplação é aquele extremamente resistente, que não
pensa em mudar seus hábitos alimentares. É o clássico paciente que vem à
consulta “obrigado”, encaminhado pelo médico. Não adianta falar para esse
paciente que comer fastfood faz mal. Que refrigerante em excesso causa
prejuízo. Ele muito provavelmente JÁ SABE disso, mas mesmo assim não
quer mudar.

46
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

PERGUNTAS PODEROSAS:

POR QUE ELE (O SEU PACIENTE) VEIO ATÉ O SEU CONSULTÓRIO?

O QUANTO ELE DESEJA ATINGIR O OBJETIVO DELE?

DE 0-10 QUAL O SEU GRAU DE COMPROMETIMENTO?

Com pacientes nesse estágio de mudança de comportamento você deve


se esforçar para ter Rapport, estabelecer uma conexão e ter empatia, para
que ele tenha confiança em você. Além disso, sua abordagem deve ser
acolhedora e sem julgamentos. Ao invés de simplesmente falar que fastfood
faz mal, estabeleça metas em conjunto com ele. Pergunte o porquê do
consumo excessivo. Entenda se é pelo sabor, pela conveniência, pelo preço,
pela facilidade. A partir daí, entre em acordo com o paciente. Se ele responder
que come fastfood porque é prático e perto da casa dele, responda:

“Você ingere hambúrguer e batata frita de segunda a sexta à noite. Que


tal diminuirmos para segunda e sexta, e nos outros dias eu te apresento
outras opções de restaurantes delivery, com opções mais saudáveis?”

Agora se o paciente estiver em estágio de “Preparação”, sua conduta


deve ser diferente. Você deve fornecer as ferramentas para ele proceder
com a mudança de estilo de vida. Faça uma lista de compras com ele,
de alimentos e de utensílios de cozinha. Trace a nova rotina com ele.
Identifique as habilidades culinárias que ele já possui e trabalhe em novas.

Percebe a diferença nas abordagens?

Se você abordar o paciente em Pré-contemplação com as estratégias


que falei para o estágio de Preparação, ele não vai aderir. Vai embora da
consulta e nunca mais voltar. Cada paciente é único, lembrem-se disso.
Nos materiais complementares, há a aula “Nutrição e comportamento”
gratuitamente, caso queira se aprofundar nessas abordagens.

Avaliado o estágio de mudança, é hora de transformar sua conduta em


um plano de ação. Esse plano de ação é sempre desenhado para que os

47
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

pacientes consigam atingir as mudanças necessárias e, para isso, utilizam


uma abordagem organizada e estruturada para aconselhamento de MEV,
que avalia a prontidão do paciente para a mudança, identifica potenciais
barreiras à mudança, encoraja os pacientes a se comprometerem com
metas mensuráveis e os ajuda a identificar seu próprio progresso por meio
de ferramentas de automonitoramento.

Pense prospectivamente, em etapas e metas bem específicas. Mostre


ao paciente que você identificou os problemas e tem um plano para
trata-lo, mas que levará tempo. Estime o número de consultas que isso
levará e entregue por escrito. O paciente precisa ser responsável pelo
plano e CONCORDAR com o plano.

PLANO ALIMENTAR ENTREGUE NA HORA

Para fazer o seu atendimento ficar realmente eficiente, é condição quase


que obrigatória calcular e entregar a dieta na hora. Após o diagnóstico
e o planejamento da intervenção nutricional, realize a prescrição em
conjunto com ele, explicando o porquê da inserção de cada alimento em
cada horário. Dessa forma o paciente se sente mais motivado a seguir a
dieta prescrita!

E se alguém te falar que te ensina mudanças qualitativas, evite cair


nessa. O cálculo do plano alimentar é previsto em nutrição clínica.
Mas você pode simplificar sim todo o processo, fazendo uma simples
planilha de cálculo de equivalente no excel. Assim você tem 100% de
controle e simplicidade.

Esqueça programas complexos. Quem faz a consulta são você e o paciente.


Não siga dezenas de etapas pré-programadas de software. O paciente vai
se sentir em um interrogatório em que o profissional é robotizado.

Utilize listas de substituição e exemplos de cardápio. Caso não utilize


listas de substituição, prescreva pelo menos 3 exemplos de cardápio
com opções de acordo com a realidade de cada paciente.

Vamos ao passo a passo:

48
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

1. Você escolhe as fórmulas que vai trabalhar.

2. Escolhe os alimentos que você usualmente prescreve (sem alimentos


ultraprocessados).
3. Organiza esses alimentos em grupos alimentares de acordo com as
características nutricionais.

4. Calcula a quantidade de macro e micronutrientes por grupo.

5. Inclui na planilha e pronto.

Quase como uma receita de bolo de caneca.

Quando você for atender o paciente, você pode usar esse cálculo por
equivalente tanto para estimar a ingestão calórica dele quanto para
calcular o planejamento alimentar.

Assim você tem total controle de quanto o paciente estava ingerindo, e como
você vai propor as mudanças qualitativas em cima de um cálculo real.

De novo, não me entenda mal. Se você não calcula dieta, eu sugiro


fortemente que você faça para garantir mais segurança na sua prescrição.
A Sociedade Americana de Obesidade recomenda restrição de 500 a
1000 calorias. Quando você prescreve uma mudança qualitativa, você
respeita as diretrizes?

E mais, se você usa softwares e calcula exatamente o que o paciente vai


consumir, preste bem atenção. Na hora de usar o software, você escolhe
maçã, por exemplo, de fruta da manhã. O paciente vai comer maçã todos
os dias? Ou você vai pedir para ele variar entre 10 ou 15 frutas?

Então, pelo menos para mim, é claro que o mais lógico é você fazer
uma média dos nutrientes por grupo. Lembre-se sempre disso: a grande
sacada não está na exatidão do plano alimentar. Está na variedade
deste plano.

Agora organize o plano da mudança bem direcionado e, claro, sem


discrepâncias, sem jargões técnicos, de maneira lógica.

Simplifique o seu atendimento.

“Menos é mais”. Fale o mínimo, escute ao máximo. Oriente o suficiente.


Explique a necessidade da mudança.

49
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Mostre o plano da mudança, bem direcionado, claro, sem discrepâncias,


sem jargões técnicos, de maneira lógica.

Muitas vezes o paciente sai confuso de tanta orientação.

Quanto mais simples, mais fácil será organizar o seu tempo e fazer o
planejamento do plano alimentar com o seu cliente.

COMO FINALIZAR A CONSULTA

Faça o fechamento da consulta e pergunte se ficou alguma dúvida.


Faça um resumo para caracterizar o término:

“Foi um prazer encontrá-lo hoje. Você veio para saber como reduzir
a pressão. Nós revisamos o padrão alimentar e identificamos vários
comportamentos que são fundamentais que você já faz, como usar o leite
X e fazer a adequada ingestão de água. Eu acredito que fizemos um bom
trabalho definindo os objetivos de comer a fruta no trabalho. Eu estou
bem otimista que você vai gostar de comer e que você tem um plano
bem definido para as frutas. Eu estou muito impressionada com toda a
pesquisa que você fez sobre pressão e alimentação. Eu estou disponível
para trabalhar a incorporação de novas mudanças. Você gostaria que eu
te mandasse um e-mail de acompanhamento no meio da semana?”

As ações a partir do fechamento da consulta se enquadram na etapa


“Pós-atendimento”, que discutiremos no capítulo a seguir.

50
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

MATERIAL COMPLEMENTAR:

PLANILHA MÁGICA

ESTRATÉGIA QUE MUDOU MEU ATENDIMENTO NUTRICIONAL

EMPATIA

DEVO FAZER PRESCRIÇÃO OU ABORDAGEM


COMPORTAMENTAL?

ATENDENDO COM UMA FOLHA EM BRANCO

O QUE SIGNIFICA CUIDADO CENTRADO NO PACIENTE?

VOCÊ SABE CONDUZIR UMA ENTREVISTA MOTIVACIONAL?

COMO ESTABELECER METAS PARA O SEU PACIENTE

POR QUE ORIENTAÇÕES VAGAS NÃO FUNCIONAM?

COMO FECHAR O DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL?

FAÇA UM PLANO DE TRATAMENTO

51
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

DOBRA OU BIOIMPEDÂNCIA?

VOCÊ FAZ PLANOS DE ATENDIMENTO?

OS MAIORES ERROS NO ATENDIMENTO NUTRICIONAL

COMO EU FAÇO A AVALIAÇÃO NUTRICIONAL?

NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL –MARLEALVARENGA, CYNTHIA


ANTONACCIO, MANOELA FIGUEIREDO, FERNANDA MANOLE
TIMERMAN

ATENÇÃO PLENA – COMO ENCONTRAR A PAZ EM UM MUNDO


FRENÉTICO – MARK WILLIAMS, DANNY PENMAN

SAVOR – MINDFUL EATING, MINDFUL LIFE – THICHNHAT HANH,


LILIAN CHEUNG

MINDFULEATING – CYNTHIA ANTONACCIO,MANOELA


FIGUEIREDO

O PODER DO HÁBITO – CHARLES DUHIGG

DIAGNÓSTICO EM NUTRIÇÃO – CRISTINA MARTINS

FOME OCULTA: DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E PREVENÇÃO –


ANDREA RAMALHO

52
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

LANGUAGE: A POWERFUL TOOL IN PROMOTING HEALTHY


BEHAVIORS.

DO MORE SPECIFIC PLANS HELP YOU LOSE WEIGHT?


EXAMINING THE RELATIONSHIP BETWEEN PLAN SPECIFICITY,
WEIGHT LOSS GOALS, AND PLAN CONTENT IN THE CONTEXT
OF A WEIGHT MANAGEMENT PROGRAMME.

CÁLCULO DE DIETAS E PRESCRIÇÃO DE PLANO ALIMENTAR


EM NUTRIÇÃO CLÍNICA

COMO ALIAR NUTRIÇÃO AO COMPORTAMENTO

A DANÇA DA ENTREVISTA MOTIVACIONAL

53
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO VI
PÓS-ATENDIMENTO

COMO FOI O ATENDIMENTO?

Agora que já compreendemos os fundamentos da NBE e da MEV, além de


aprendermos como estruturar e sistematizar a consulta, vamos pensar o
pós-atendimento.

Imediatamente após a consulta acabar e o paciente sair da sua sala, o


pós-atendimento se inicia. E o primeiro passo é a autoavaliação.
Avalie o seu atendimento.

Você praticou a escuta ativa?

Falou menos que o seu paciente?

Estava 100% focado no seu cliente?

Estava motivado e confiante?

O que você pode fazer melhor no seu próximo atendimento?

AÇÃO:

AVALIE A SUA SISTEMATIZAÇÃO DE ATENDIMENTO.


VOCÊ ESTÁ SATISFEITO COM O SEU ATENDIMENTO?
SATISFEITO COM O SEU SOFTWARE?
SATISFEITO COM OS CÁLCULOS DE DIETA EM CASA?
O QUE PODE SER MELHORADO?

54
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

VOCÊ ENTREGA PROBLEMA OU SOLUÇÃO?

Visualize comigo: paciente obeso, mora sozinho, não sabe cozinhar,


hábitos alimentares inadequados, alta ingestão de ultraprocessados.

Você calcula a dieta perfeitamente, adequa os macronutrientes de


acordo com a proporção da sua prescrição, atinge as recomendações de
micronutrientes, enriquece o plano alimentar com bioativos, suplementa
o que for necessário. Perfeito! Mas e na prática?

Se o paciente não sabe cozinhar e só come ultraprocessado, não adianta


prescrever preparações complexas sem começar do básico. O paciente
vai receber a dieta e vai ficar frustrado! Não vai aderir!

Que tal entregar a solução? Por que não começar do básico, ensinando-o
a cozinhar feijão? Aipim? Mostre a ele como é fácil fazer ovo mexido,
que basta ter panela e utensílios corretos para não precisar utilizar óleo.
Indique para ele, também, restaurantes delivery e self-service que são
mais saudáveis. Mostre como montar um prato comendo fora.

Através das consultas, conforme o paciente for evoluindo, você passa


para as preparações enriquecidas que pensou lá na primeira consulta.
Em nutrição tudo é um processo! Cozinhar é fundamental e tem que ser
sempre estimulado. Mas não se esqueça que estamos aqui para entregar
solução, não problema.

COMO GERAR ADESÃO

O foco principal do atendimento é gerar adesão. Sem adesão, não há


sucesso terapêutico e o paciente não retorna. Primeiro é importante
compreender por que a adesão dos pacientes costuma ser tão baixa.
A literatura aponta que os pacientes acreditam que já sabem tudo de
alimentação ou até que tem hábitos alimentares satisfatórios ou não
querem sofrer tantas privações alimentares. Outros relatam falta de
tempo, custo, falta de motivação, faltam habilidades ou “força de vontade”
nos eventos sociais.

55
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

As “dores” são as mais variadas, vai depender muito do público que você
atende. Mas tenha certeza que a principal estratégia para a fidelização é
conhecer as dores.

Lembre-se: essas “dores” vão depender do perfil que você atende ou


quer atender.

AÇÃO:

LISTE AS “DORES” DO SEU PACIENTE (LISTE 30 DORES).

1.
2.
3.
4.
5.

Essas dores são fundamentais para que você siga fidelizando pacientes.
Agora, no pós-atendimento, é através delas que você vai entregar ao
paciente o que ele precisa (ou o que ele nem sabe que precisa) para ele
compreender que precisa voltar em outras consultas.

As dores podem ser identificadas em pacientes ideais (quando você


está planejando seu nicho) ou nos pacientes que você já atende, como
é o caso do pós-atendimento. Nesse último caso, é mais simples ainda
porque você está vendo na prática.

Com as dores bem identificadas o segundo passo é produzir conteúdo


para resolver os problemas do seu futuro paciente, que é o que eu
chamo de arsenal de segurança. Esse conteúdo deve ser utilizado para
envio por mensagem ou e-mail no período interconsulta, mostrando
ao paciente que você se importa com ele e também que há bastante
conhecimento em você pronto para ser passado a ele. De quebra, você
pode também utilizar esses materiais até mesmo nas redes sociais
para atrair novos clientes.

56
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

COMO CRIAR O SEU ARSENAL

Esse arsenal podem ser orientações, questionários, folderes educativos,


esquemas. Você vai avaliar a melhor forma de conscientizar e explorar a
dor do paciente. Eu divido o meu arsenal em 3 grandes áreas:

Básicas:

Alimentos ultraprocessados – quais são, índice glicêmico e alimentos,


escolhendo os alimentos, lista de compras, receitas, etc.

Comportamentais:

Como comer devagar, como controlar as quantidades, resolvendo


os pensamentos dicotômicos, mudando a ambivalência, praticando
Mindfulness, estabelecimento de metas, roda da vida, dentre outros.

Avançadas ou específicas:

Vai depender se é gestante, criança, paciente com excesso de peso,


doenças cardiometabólicas.

PRATICANDO OVERDELIVERY

É o momento que você vai entregar mais do que o seu paciente espera,
sempre de acordo com as dores dele. E como fazer isso?

Pode propor desafios, pode montar uma lista de transmissão com


mensagens motivacionais e educacionais.

Sintetizar receitas, fazer um livro de receitas e disponibilizar como um


bônus para ele.

É aqui que você envia ao paciente por e-mail mais do que ele espera. Se
você identificou na consulta que ele tem dificuldade de consumir vegetais
folhosos, envie para ele, por exemplo: lista de compra com as folhas

57
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

que ele precisa comprar; ebook de receitas que ensine como integrar as
folhas nas preparações de forma saborosa e fácil; endereços de feiras
e pequenos mercados na região da residência dele que comercializem
hortaliças frescas; arquivo ensinando a higienizar corretamente as folhas;
arquivo ensinando a armazenar de forma adequada para aumentar a
duração das folhas na geladeira.

CONEXÃO, A SUA MAIOR ARTE

Esteja 100% conectado com ele e com a causa dele. Como já falamos
em um capítulo anterior, a escuta ativa e o Cuidado Centrado no Paciente
são fundamentais. Mas a conexão com o paciente não se restringe ao
Rapport na primeira consulta. Conheça o nome dos seus filhos, marido,
pessoas importantes na vida dele. Conheça a rotina dele, a sua principal
fonte de estresse, a sua principal fonte de prazer.

Importante: nunca restringir a sua segunda consulta a uma recapitulação


do que o paciente fez ou deixou de fazer, pode deixar a sensação de que
a consulta não foi produtiva ou nova. Vai dar a sensação de que sempre
é a mesma coisa.

Procure agregar alguma informação NOVA na consulta. Pode trabalhar


um pouco mais sobre a qualidade, quantidade, receitas, cuidados com
o estilo de vida, terapia cognitivo-comportamental, comer intuitivo,
mindfuleating, entrevista motivacional e de coaching em saúde.

E mantenha o contato constante. Mande e-mail agradecendo por ter


escolhido você como nutricionista. Mande e-mail após 1 semana, com
algum material complementar, um e-book ou alguma dica – pode ser até
mesmo uma dica de livro.

58
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

PACIENTE DESMARCOU O RETORNO OU FALTOU

Não se culpe.

Possivelmente ele não estava pronto para entrar no processo de


mudança. Não deixe de entrar em contato para se colocar disponível
para quando ele estiver pronto. Exemplo: “Respeito sua decisão, esse
talvez não seja o momento de falar de dieta. Alguns pacientes quando
recebem o diagnóstico precisam de um pouco mais de tempo, mas
eu gostaria que você soubesse que estou aqui caso você precise de
ajuda, e aproveito para lhe enviar alguns materiais para você ler sobre
alimentação e pressão arterial.”

59
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO VII
MANTENHA-SE ATUALIZADO

LOWCARB, ATKINS, SOUTH BEACH, ZONE, LOWFAT (ORNISH),


MODERADA EM MACRONUTRIENTES (BIGGESTLOSER,
VOLUMETRICS, WEIGHTWATCHERS), ÍNDICE GLICÊMICO,
ZONE DIET, JEJUM INTERMITENTE E PALEO DIET, DIETAS
VEGETARIANAS, RAWFOOD DIET, CRUDIVORISMO, DIETA ANTI-
INFLAMATÓRIA E ANTIOXIDANTE, DETOX, SEM GLÚTEN E SEM
LACTOSE, AYURVEDA E A MACROBIÓTICA, ANTIAGING DIET E
ORTOMOLECULAR, FOODANDSPIRITPROGRAM, DIETA ALCALINA

Preciso conhecer tudo isso? SIM. Tanto para você saber qual dessas
abordagens é baseada em evidências, quanto porque vários pacientes se
informam pela internet e acabam chegando ao consultório já fazendo ou
tendo interesse em uma dessas dietas.

Como são? Quais que funcionam? Como buscar informação sobre cada
uma delas?

SIGA ESSES 3 PASSOS

#PRIMEIRO PASSO:

Buscar fontes seguras de informação. A maior base de dados é o


https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed

Existem diferentes níveis de evidências, desde artigos experimentais


(células, ratos) até meta-análises, conforme vimos no primeiro capítulo.
As meta-análises são as fontes de informação mais robustas, pois
agrupam artigos que estudaram a mesma coisa e refazem a análise

60
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

estatística considerando um pool maior de pacientes (agrupados de todos


os estudos). Isso confere importante robustez. Artigos que não estão
disponíveis nessa base de dados podem ter sua validade comprometida.
Avalie as evidências disponíveis acerca das diferentes abordagens.

# SEGUNDO PASSO:

Avaliar a aplicabilidade das informações. De nada adianta uma teoria


interessante se não é aplicável ou não têm aceitabilidade pela população.
Além de ser aplicável, o paciente precisa ter adesão à proposta. Existem
evidências sobre dieta cetogênica para o emagrecimento, mas tem
baixíssima adesão na maior parte da população. Ou seja, não vai ter
aplicabilidade apesar de se mostrar eficaz.

Quando praticamos NBE, a relevância do estudo deve ser considerada tal


como a aplicabilidade e a adesão.

# TERCEIRO PASSO:

Individualidade. Fique ciente que uma proposta alimentar pode funcionar


para um e não para outro. Pessoas com rotinas completamente diferentes
dificilmente conseguem seguir o mesmo plano alimentar.
Vamos a 3 exemplos práticos:

1. Dieta lowcarb – pode ser uma excelente estratégia para alguns,


mas não para outros. A adesão apresentada nos estudos é em torno
de 50%. Mas isso não desmerece a proposta.

2. Dieta alcalina – zero de evidência científica sobre o emagrecimento


ou osteoporose.

3. Dieta mediterrânea – grande aplicabilidade e adesão por parte


dos pacientes. Há estudos apontando adesão de mais de 90%.

Grande aprendizado é que nós como nutricionistas e estudantes de


nutrição temos que conhecer TODAS as teorias. Abra o leque de opções
e adapte às necessidades do seu paciente.

Não pré-julgue acreditando que não é uma boa opção. Mas pode ser que
o próprio paciente diga que não gosta de lista de substituição, cabe a
você propor outra estratégia!

61
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

ENTENDA DESDE OS FUNDAMENTOS DA BIOQUÍMICA


ATÉ AS EVIDÊNCIAS AVANÇADAS NA NUTRIÇÃO
CLÍNICA DE PRECISÃO

É fundamental compreender todo o processo que se passa no organismo


humano, da Bioquímica à prescrição.

Para muitos nutricionistas, pode parecer que Bioquímica e Fisiologia são


apenas matérias básicas da graduação, com pouca aplicação na prática
clínica. Mas é justamente o contrário.

Vamos pegar como exemplo um paciente que você atende e tem baixa
densidade mineral óssea. Mesmo com estratégias dietéticas, você não
consegue aumentar a ingestão de cálcio desse paciente e vê que tem de
recorrer a suplementação com carbonato de cálcio.

Ok, mas e agora? Quanto, como, onde suplementar?

Depende de quais objetivos você e o paciente possuem. Se for apenas


para suplementar cálcio mesmo, basta ingerir em jejum, mas a absorção
não é tão eficaz.

Se você quer uma absorção otimizada, consuma junto às refeições. Um


efeito colateral, no entanto, é que se consumido durante as refeições
esse suplemento acaba atuando como quelante de fosfato, diminuindo a
absorção de fósforo dos alimentos.

E mesmo que o objetivo seja reduzir a absorção de fósforo, caso a


refeição seja rica em oxalatos e fitatos, o próprio cálcio será pouquíssimo
absorvido e vai acabar sendo excretado nas fezes.

Se você deixar para ingerir 1 hora após a refeições, ele vai atuar também
como antiácido estomacal.

Então veja como um simples suplemento tem efeitos diferenciados de


acordo com o estado fisiológico do indivíduo. Para saber disso, é preciso
ter conhecimento das bases clínicas, da Bioquímica e da Fisiologia, e, aí
sim, tomar a decisão. Isso porque nem comentei sobre como não adianta
suplementar cálcio se o indivíduo for deficiente em vitamina D, vitamina
K e magnésio.

62
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Outro exemplo interessante é a questão da gordura corporal. Para onde


ela vai quando há emagrecimento? Essa é uma questão que parece
simples, mas que muita gente não sabe.

A resposta quase unânime é de que ela “vira” energia. Mas não é


bem assim! Isso vai contra a lei de Lavoisier de conservação das
massas, que diz que “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma”. Com a gordura, assim como para qualquer molécula, a
mesma lei se aplica.

O tecido adiposo é composto principalmente de triglicerídeos, que são


moléculas com átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio. É verdade
que quando essas moléculas são metabolizadas no ciclo de Krebs e no
transporte de elétrons na mitocôndria há geração de energia, mas os átomos
não “somem”. São basicamente duas formas que o organismo encontra
para expelir essas moléculas, como mostro na imagem: Aproximadamente
84% se torna CO2 (dióxido de carbono, expelido principalmente pelos
pulmões) e 16% se torna H20 (água, expelida ou não).

Pegando como exemplo alguém que perde 10kg de gordura: 8,4kg


de gordura são expelidos na forma de CO2 e 1,6kg se transformam
em água, aproveitada ou não pelo organismo. Na lista de materiais
complementares, deixarei uma aula gratuita sobre Bioenergética e
recomendações de nutrientes.

E, claro, é preciso ainda entender as evidências sobre Nutrição Clínica e as


suas abordagens. Temos hoje diversos aspectos que temos que levar em
consideração na consulta nutricional: Microbiota intestinal, Nutrigenômica
e Nutrigenética, Crononutrição, Jejum intermitente, Padrões alimentares,
Suplementação, Fitoterapia, entre outros. São diversos assuntos que
devemos aprender, pois são baseados em evidências e agregam resultado
às condutas.

AÇÃO:

LISTE AS TEORIAS QUE VOCÊ MAIS SE INTERESSA E MONTE UM


CRONOGRAMA PARA ATUALIZAÇÃO.

63
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

UTILIZE A GASTRONOMIA COMO ALIADA À PERDA


DE PESO

“Você receita uma quinoa, por exemplo, que pode ser em grãos ou flocos.
E aí, como se faz? Come-se o cereal cru ou no iogurte? As pessoas não
sabem usar. Os pacientes têm necessidade de entender o alimento”.

Não adianta prescrever uma dieta com ingredientes que o paciente não
sabe manusear. Se introduzir alimentos que o paciente não conheça, é
seu dever como nutricionista ensiná-lo como utilizar e preparar!

Outro fator é que o mais importante da junção da Gastronomia com a


Nutrição é a mudança de foco. O foco deixa de ser a dieta e passa para
o paciente, assim você consegue solucionar as suas dores (como ele
deve conseguir fazer a dieta, como facilitar a realização da dieta dela).
A alimentação deixa de ser regrada, obrigatória e fonte de sofrimento.
Passa a ser fonte de prazer e de saúde.

Dieta para emagrecimento NÃO é salada com grelhado.

Será que podemos aquecer o WheyProtein?

Qual melhor óleo para cozinhar?

Como harmonizar os azeites?

E a germinação? Vale ou não vale?

Como substituir o creme de leite? E a maionese?

Posso substituir 100% farinha branca pela integral?

Você precisa estar pronto para responder todos esses questionamentos


do paciente. E mesmo que ele não questione, todos esses fatores
relacionados à culinária INFLUENCIAM no sucesso da sua prescrição!

E acima de tudo:

A alimentação é prazer.
Nutrição é ciência.
Gastronomia é arte.

64
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CONHEÇA A EPIGENÉTICA– GENES QUE PODEM DAR


SUPORTE À CONDUTA

Epigenética é o estudo das mudanças hereditárias na expressão dos


genes que independem de mudanças na sequência primária do DNA.
Ou seja, é a modulação de como o DNA é expresso! Essa regulação da
expressão envolve metilação do DNA, acetilação de histonas e ativação
ou bloqueio de receptores nucleares.

A epigenética possui estrita relação com a nutrição. Os nutrientes e


compostos bioativos atuam de diversas formas na epigenética (desde
a doação de moléculas para metilação e/ou acetilação até como eles
mesmos atuando como ativadores de genes).

Considero essencial o nutricionista do século XXI conhecer a genética


e como ocorre a expressão gênica para poder entender o poder central
que a nutrição exerce sobre tudo isso.

E, a partir daí, conhecer os principais genes já bem estabelecidos


como coadjuvantes no sobrepeso e na obesidade e como intervenções
dietéticas podem silenciar ou ativar esses genes.

Alguns do genes essenciais para o conhecimento do nutricionista:

FTO
SEC16B
MC4R
GIPR-QPCTL
ADCY3-DNAJC27
BDNF
MAP2K5

E o mais importante de tudo: o paciente PRECISA ser informado que pré-


disposição genética NÃO É destino! A epigenética está aí para provar
isso através da modulação da expressão!

65
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CONHEÇA FITOTERÁPICOS, NUTRACÊUTICOS


E SUPLEMENTOS

Fazem parte dos meus passos sim! Considero excelentes estratégias,


desde que seu uso seja sustentado por dois fatores:

1. Evidências de eficácia e segurança;

2. Mudança de estilo de vida.

Suplemento NENHUM possui eficácia caso o estilo de vida esteja


inadequado.

Pense em fitoterápicos, nutracêuticos e suplementos como opções para


aquele paciente que já realizou as mudanças necessárias e mesmo assim
não atingiu o objetivo inicial.

Pense nessas estratégias como AUXILIARES, não como o FOCO!

Estude muito. No caso de fitoterápicos, especialize-se e faça a prova


de título!

Procure saber dosagens SEGURAS e EFICAZES! Conheça protocolos e


tenha senso crítico! E, claro, pratique Nutrição Baseada em Evidências!
Elabore um material contendo os fitoterápicos, nutracêuticos e
suplementos que você mais utiliza. Descreva a indicação, a posologia,
a duração do tratamento e efeitos adversos (caso hajam). Tenha esse
material sempre com você para consultar quando necessário!

Se você tem dúvidas sobre algum fitoterápico, nutracêutico ou suplemento,


me manda mensagem que selecionarei alguns para gravar vídeos falando
sobre as evidências!

66
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

UTILIZE HABILIDADES E FERRAMENTAS DE COACHING

O Coaching em si não é pseudociência, pelo contrário. Apesar de haver


necessidade de mais estudos, alguns ensaios pequenos já mostram
bons resultados (J AcadNutr Diet. 2013 Jul;113(7):928-35). O problema
do Coaching é a forma como está sendo propagado.

Existem muitas evidências das técnicas de Coaching no manejo do peso!


Às vezes ficamos na dúvida por onde começar na consulta do paciente
que quer perder peso! E a resposta é:

Trace um planejamento dietético detalhado!

Há um trabalho genial e inovador de Dombrowski e colaboradores, que foi


publicado em julho de 2016. Foi um ensaio clínico com 239 participantes
com duração de 10 semanas e foco no gerenciamento do peso. A
conclusão do artigo foi que quanto mais específicas e detalhadas eram
as metas e o plano alimentar, maior era a perda de peso.

Ou seja: prescreva sempre METAS SMART!

S – Específicas
M – Mensuráveis
A – Atingíveis
R – Relevantes
T – Temporal

Tire o paciente de sua zona de conforto, mas não estabeleça metas


impossíveis. Estabeleça o que você julga que ele conseguirá atingir em
um determinado tempo e que exigirá certo esforço dele.

Para possuir a capacidade de realizar esse julgamento, pratique ESCUTA


ATIVA! A fala do paciente é que vai nortear o atendimento nutricional e o
estabelecimento de metas.

Uma das técnicas mais poderosas para garantir adesão e transformação


do seu paciente é ESCUTAR ELE. Pode parecer simples e uma dica
“boba”, mas aprender a fazer uma escuta ativa durante a consulta,
resumindo, parafraseando, repetindo o que ele fala ajuda a ter mais
clareza e entendimento.

67
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

A segunda estratégia é questionar o seu paciente. Desta forma,


você ajuda o seu paciente a olhar para si e buscar respostas para os
problemas, tornando ele corresponsável pelo tratamento. Dicas simples,
mas poderosas e altamente eficazes e são consideradas habilidades
máximas do coach.

SEJA PRESCRITOR E ACONSELHADOR

Reconheça o seu papel como nutricionista.

Você não é um mero calculador de dietas. Você não é um emagrecedor.


Você é um agente de mudança.

Tão importante quanto a prescrição dietética é a mudança de


comportamento e a adesão. Por isso é importante ser PRESCRITOR e
ACONSELHADOR!

Para ser aconselhador, é extremamente importante que você crie empatia,


faça o atendimento sem julgamentos. Você deve transmitir respeito,
suporte, parceria, espelhamento, questionar, clarear, não ser contraditório,
ter sempre uma direção.

Com um papel de aconselhador, você deverá focar na experiência do


cliente, nos sentimentos, pensamentos, comportamentos e explorar
a mudança.

O caminho entre conhecimento e comportamento é longo, portanto, não


basta informar, transmitir conhecimento ou ensinar nutrição. Quando
queremos mudar o comportamento, devemos estar preocupados com os
pensamentos dos indivíduos e acessar as suas percepções minuciosamente.

68
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

MATERIAL COMPLEMENTAR:

NUTRIGENÉTICA NA PRÁTICA CLÍNICA

O PACIENTE NÃO RETORNA, O QUE FAZER?

COMO O NUTRICIONISTA DEVE INTERPRETAR EXAMES?

COMO MODULAR O HORMÔNIO GLP-1 PELA ALIMENTAÇÃO?

NUTRIÇÃO DE PRECISÃO: EU APOIO

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DE CRONONUTRIÇÃO?

SLOWFOOD– PRINCÍPIOS DA NOVA GASTRONOMIA – CARLO


PETRINI

LIBERTANDO O PODER CRIATIVO: A CHAVE PARA


CRESCIMENTO PESSOAL E DAS ORGANIZAÇÕES – KEN
ROBINSON

WORKSHOP ONLINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

69
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

NUTRIÇÃO DE PRECISÃO: MITO OU MODISMO?

JEJUM FUNCIONA?

SEMPRE AVALIE O RITMO CIRCADIANO NA AVALIAÇÃO


NUTRICIONAL

70
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

CAPÍTULO VIII
A NOSSA ESCOLA

Para pensar a atualização e a capacitação de nutricionistas e demais


profissionais de saúde, nossa escola NBE está estruturada de acordo com
três grandes áreas, visando solucionar as demandas por conhecimento
da Bioquímica à prescrição.

Formação em Emagrecimento e Saúde

(NBE Academy)

PRÁTICA DO NUTRICIONISTA

São cursos exclusivos para o Nutricionista, que visam melhorar


o planejamento, criar oportunidades, executar e inovar no
atendimento nutricional.

Treinamento em Atendimento Nutricional Eficiente

Curso Avançado de Cálculo de Dietas e Prescrição de Plano


Alimentar em Nutrição Clínica (Exclusivo NBE academy)

Clube NBE

Personal Diet e Gastronomia (Exclusivo NBE academy)

Estratégias Nutricionais para Emagrecimento


(Exclusivo NBE academy)

71
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

ESPECIALIDADES CLÍNICAS

Cursos desenvolvidos para todos os profissionais de saúde com


metodologia exclusiva que objetiva trazer habilidades, experiência e
aprofundamento em áreas decisivas.

Nutrição Materno Infantil

Modulação Intestinal Avançada

Gastronomia Aplicada à Nutrição (Exclusivo NBE academy)

Bioquímica da Nutrição

Atualização em Nutrição e Saúde Cardiovascular

Endocrinologia e Nutrição (em breve)

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GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

MEDICINA DO ESTILO DE VIDA

São cursos que objetivam capacitar com o conhecimento e as


habilidades de vida para fazerem mudanças de comportamento
eficazes, que abordem as causas subjacentes da doença. Baseiam-
se na abordagem multiprofissional e multimodal.

Aperfeiçoamento em Comportamento e Nutrição

Intensivo em Mudança de Estilo de Vida

Coach de Saúde e Bem-estar

73
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

NOSSO MODELO DE TRATAMENTO MULTIMODAL

74
GUIDELINE DE NUTRIÇÃO BASEADA EM EVIDÊNCIAS

SOBRE MAIS CONTEÚDOS

mantenha-se
atualizado meu
olhar
ideias
pensamentos
como eu vejo
reflexões
o mundo pelas
lentes do meu
celular
ANNIE BELLO, PHD @ANNIEBELLOPHD

vamos entrar titulo


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ANNIE BELLO WWW.ANNIEBELLO.COM.BR

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