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ICMS - IMPORTAÇÃO

Luciano Garcia Miguel


Doutor em Direito Tributário pela PUC/SP
Características básicas do ICMS
• Incide sobre parte da base de consumo de
bens e serviços
– operações relativas à circulação de mercadorias
– prestações de serviços de comunicação
– prestações de serviços de transporte
intermunicipal e interestadual
• Não cumulativo
• Competência dos Estados e do Distrito Federal
Importação
• Redação original do art. • Redação após a EC 33/2001
155, § 2º, IX, “a”, da • Incide sobre a entrada de bem ou
Constituição
mercadoria importados do
• Incide sobre a entrada de exterior por pessoa física ou
mercadoria importada do
exterior, ainda quando se jurídica, ainda que não seja
tratar de bem destinado a contribuinte habitual do imposto,
consumo ou ativo fixo do qualquer que seja a sua
estabelecimento, assim como finalidade, assim como sobre o
sobre serviço prestado no serviço prestado no exterior,
exterior, cabendo o imposto cabendo o imposto ao Estado
ao Estado onde estiver situado onde estiver situado o domicílio
o estabelecimento
destinatário a mercadoria ou ou o estabelecimento do
do serviço destinatário da mercadoria, bem
ou serviço
Importação de bens e mercadorias
• Operação tributada pelo ICMS → circulação de
mercadoria que ocorre em todas as etapas da
cadeia (da produção ao consumo)
• Mercadoria (conceito tradicional)
– elemento intrínseco → bem móvel
– elemento extrínseco → necessidade de ser objeto de
uma atividade mercantil, de venda ou revenda
• No caso da operação de importação há
equiparação dos conceitos de bem (mais amplo)
e mercadoria (mais restrito)
Importação de serviços
• Previsão constitucional: ocorre a incidência
ainda que as prestações se iniciem no exterior
(art. 155, II)
• Previsão da Lei Complementar 87/96: o
imposto incide também sobre o serviço
prestado no exterior ou cuja prestação se
tenha iniciado no exterior (art. 2º, § 1º, II)
Importação de serviço de transporte
• Transporte marítimo ou aeroviário
1 – Alemanha: território
2 – Alemanha: porto (zona alfandegada)
3 – Brasil: porto (zona alfandegada)
4 – Brasil: território
• Transporte terrestre (ponto a ponto)
1 – Argentina: território
2 – Brasil: território
Importação de serviço de comunicação
• Ligações telefônicas internacionais iniciadas no exterior e
completadas no Brasil
– Operadora estrangeira contrata operadora nacional para
completar a ligação originada no exterior (tráfego entrante)
– Exportação de serviços
– Não incidência do ICMS (imunidade)
• Ligações telefônicas internacionais iniciadas no Brasil e
completadas no exterior
– Operadora nacional contrata operadora estrangeira para
completar a ligação originada no Brasil (tráfego sainte)
– Importação de serviços
– Incidência do ICMS
Sujeito ativo e sujeito passivo

• Sujeito ativo → Estado onde estiver situado o


domicílio ou o estabelecimento do
destinatário da mercadoria, bem ou serviço
• Sujeito passivo
– pessoa física ou jurídica
– ainda que não seja contribuinte habitual do
imposto
– que importe mercadorias ou bens do exterior
– qualquer que seja a sua finalidade
Sujeito ativo e sujeito passivo
• Critério da LC 87/96 (sujeição passiva)
– importe mercadorias ou bens do exterior, qualquer
que seja a sua finalidade(art. 4º, I)
– destinatário de serviço prestado no exterior ou cuja
prestação se tenha iniciado no exterior (art. 4º, II)
• Critério da LC 87/96 (local da operação ou
prestação)
– Bem ou mercadoria → onde ocorrer a entrada física
(art. 11, I, d)
– Serviço → estabelecimento ou do domicílio do
destinatário (art. 11, IV)
STF – Tema1094
• RE 1221330 com repercussão geral reconhecida.
• Após a Emenda Constitucional 33/2001, é
constitucional a incidência de ICMS sobre operações de
importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica,
que não se dedica habitualmente ao comércio ou à
prestação de serviços, devendo tal tributação estar
prevista em lei complementar federal.
• As leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da
entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002, com
o propósito de impor o ICMS sobre a referida
operação, são válidas, mas produzem efeitos somente
a partir da vigência da LC 114/2002.
Responsável

• Definido em legislação estadual com base no


CTN
• Empresas concessionárias ou permissionárias
de portos e aeroportos alfandegados e de
recintos alfandegados de zona primária e de
zona secundária
• Que promove a entrega ou remessa de
mercadoria ou bem importados
Modalidades de importação
• Modalidade de importação
– “Importação direta” → importador efetua a operação de
bem ou mercadoria para o seu uso ou revenda
– Importação “por conta e ordem de terceiros” → o
importador efetua a operação com os recursos do
adquirente
– Importação “por encomenda” → importador efetua a
operação com recursos próprios com a finalidade de venda
futura para o encomendante
• Sujeito passivo (de acordo com os critérios do STF)
– importação por “conta própria”: importador
– importação por “conta e ordem de terceiro”: adquirente
– importação por “encomenda”: importador
STF – Tema 520
• ARE 665.134 com repercussão geral reconhecida.
• Tese jurídica fixada para o Tema 520 da
sistemática da repercussão geral: “O sujeito ativo
da obrigação tributária de ICMS incidente sobre
mercadoria importada é o Estado-membro no
qual está domiciliado ou estabelecido o
destinatário legal da operação que deu causa à
circulação da mercadoria, com a transferência de
domínio.”
Hipótese ainda não decidida pelo STF

• Importação por encomenda: importador situado em


RO desembaraça mercadoria em SP e vende a
mercadoria para o adquirente situado em SP sem
transitar a mercadoria para RO

Desembaraço (SP) Importador (RO)

Encomendante (SP)
Hipótese ainda não decidida pelo STF

• Importação por encomenda: importador situado em


RO desembaraça mercadoria em SP e vende a
mercadoria para o adquirente situado no CE sem
transitar a mercadoria para RO

Desembaraço (SP) Importador (RO)

Encomendante (CE)
O sujeito ativo do exemplo é RO?
• Ofensa ao princípio federativo que norteou a
escolha do critério da sujeição ativa para a
cobrança do ICMS nas operações de importação
• Operação interna de venda do importador para o
encomendante tratada como operação
interestadual
• Possibilidade de aumento de planejamento
tributário agressivo nas operações internas, caso
o entendimento seja aceito para as operações
com importação
Alíquota
• Alíquota interna (definida na legislação de cada
Estado)
– Mínima: 12%
– Máxima: não existe “teto” para a fixação da alíquota
(tema em julgamento no STF)
• Alíquota: a mesma alíquota que é aplicada nas
operações internas com determinada mercadoria
também deve ser aplicada nas operações de
importação
• Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT
• Súmula nº 575 do STF
Base de Cálculo
• Composição da BC do ICMS nas operações de
importação (art. 13, V, da LC 87/96)
– Valor da mercadoria ou bem constante dos
documentos de importação
– Imposto de importação
– Imposto sobre produtos industrializados
– Imposto sobre operações de câmbio
– Contribuições
– Taxas
– Despesas aduaneiras
Taxas e Contribuições

• A inclusão do IPI na BC do ICMS importação


está pacificada no STF
(RE 185.318/SP, RE 630.504/MG-AgR, AI
307.950/RS)
• Contribuições: PIS, COFINS e outras incidentes
na importação
• AFRMM: natureza de contribuição
• Taxas (ex.: taxa de registro da declaração de
importação no SISCOMEX)
Despesas Aduaneiras
• Despesas aduaneiras pagas à repartição alfandegária até o momento do
desembaraço da mercadoria (diferenças de peso, classificação fiscal e
multas por infrações)
• As despesas, tais como, as de capatazia, armazenagem e remoção de
mercadorias, comissões de despachante, corretagem de câmbio e frete
interno, não incluídas na Declaração de Importação ou na Declaração
Complementar de Importação, não se configuram como despesas
aduaneiras e, portanto, não integram a base de cálculo do ICMS incidente
na operação de importação.
• Entretanto, despesas de capatazia que componham o valor aduaneiro
consignado na Declaração de Importação ou na Declaração Complementar
de Importação acabam, por via reflexa, por integrar a base de cálculo do
ICMS incidente na operação de importação.
• Tema 1014 (STJ): Os serviços de capatazia estão incluídos na composição
do valor aduaneiro e integram a base de cálculo do imposto de
importação.
O ICMS compõe a sua própria base

• Base de cálculo → valor da Valor da operação = 100


operação
• O ICMS está incluído no
preço de aquisição de um ICMS
18
bem ou mercadoria.
• Por exemplo, uma
mercadoria cujo preço seja
R$ 100 e alíquota do ICMS
igual a 18% terá a
composição demonstrada Custo
82
no gráfico.
Exemplo de cálculo
• Primeiro passo: somar os valores que devem compor
a base de cálculo do ICMS importação:
+ Valor da mercadoria em reais .........................5.000,00
+ Valor do Imposto de Importação................ .......900,00
+ Valor do IPI.................................................. .......950,00
+ Valor do IOF.........................................................--------
+ Valor das taxas....................................................400,00
+ Valor das contribuições.......................................525,00
+ Valor das despesas aduaneiras...........................425,00
= Valor Total.........................................................8.200,00
Exemplo de cálculo
• Segundo passo: incluir o valor apurado dentro da
base de cálculo do ICMS (alíquota hipotética = 18%
ou 0,18):
𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 8.200,00 8.200,00
BC = = = = 10.000,00
1 −𝑎𝑙𝑖𝑞𝑢𝑜𝑡𝑎 1 −0,18 0,82

• Terceiro passo: cálculo do imposto

ICMS = BC x alíquota = 10.000,00 x 18% = 1.800,00


Redução de Base de Cálculo
• Mesmo exemplo anterior com 20% de redução de
base de cálculo

BC = 10.000,00 x 0,8 = 8.000,00

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 8.200,00 𝑥 0,8 6.560,00


BC = = = = 8.000,00
1 −𝑎𝑙𝑖𝑞𝑢𝑜𝑡𝑎 1 −0,18 0,82

ICMS = BC x alíquota = 8.000,00 x 18% = 1.440,00


Redução de Base de Cálculo
• Mesmo exemplo anterior, de forma que a carga
tributária seja equivalente a 8,8% da operação

8.200,00 𝑥 0,088
Valor = = 4.008,89
0,18

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 4.008,89
BC = = = 4.888,89
1 −𝑎𝑙𝑖𝑞𝑢𝑜𝑡𝑎 1 −0,18

ICMS = BC x alíquota = 4.888,89 x 18% = 880,00


Exemplo de cálculo
• Mesmo exemplo anterior, de forma que a carga
tributária seja equivalente a 8,8% da operação
• O cálculo é feito com uma “alíquota” de 8,8%

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 8.200,00 8.200,00


BC = = = = 10.000,00
1 −𝑎𝑙𝑖𝑞𝑢𝑜𝑡𝑎 1 −0,18 0,82

ICMS = BC x alíquota = 10.000,00 x 8,8% = 880,00


O ICMS é não cumulativo
• Permite compensar nas operações ou prestações
seguintes o valor do imposto cobrado nas
operações ou prestações anteriores
• Técnica de tributação que distribui os efeitos da
carga tributária entre o conjunto de indivíduos
que participam do processo da circulação da
mercadoria ou da prestação do serviço
• O valor pago pelo contribuinte na operação de
importação pode ser utilizado como crédito
(quando admitido) para abater nas operações
seguintes
“Leasing”
• Leasing financeiro (RE 206069)
– operação semelhante a financiamento
– em operações de importação, não há necessidade de avaliar a
natureza do negócio jurídico subjacente para determinar a incidência
ou não desse impostos
– Incidência do ICMS
• Leasing operacional (RE 461968)
– arrendadora é a própria fabricante de aeronaves e não prevê a
possibilidade de aquisição posterior da mercadoria pelo arrendatário.
– não incidência do ICMS
• Matéria pacificada em decisão recente (RE 540829)
– repercussão geral
– Não há circulação nos casos em que não há mudança de titularidade
da mercadoria
– não incidência do ICMS
Imunidade
• Imunidade objetiva
– livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão
(art. 150, VI, d)
– fonogramas e videofonogramas musicais de autores
brasileiros (art. 150, VI, e)
• Imunidade subjetiva
– Pessoas políticas e empresas públicas que prestam serviço
público (art. 150, VI, a, da CF)
– Autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público (art. 150, § 2º, da CF)
– Partidos políticos e instituições de educação e de assistência
social sem fins lucrativos (art. 150, VI, c, da CF)
Imunidade e concorrência
• “A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na
posição de contribuinte de direito, mas não na de simples contribuinte
de fato, sendo irrelevante para a verificação da existência do
beneplácito constitucional a repercussão econômica do tributo
envolvido” (RE 608872)
• Compete ao ente tributante provar que as operações de importação
desoneradas estão influindo negativamente no mercado, a ponto de
violar o art. 170 da Constituição. Impossibilidade de presumir risco à
livre-iniciativa e à concorrência. Agravo regimental ao qual se nega
provimento (AI 518405 AgR/RS).”
Benefícios fiscais
• Decisões sobre a concessão e a revogação de
isenções (e demais benefícios fiscais) relativos ao
ICMS devem ser tomadas de forma conjunta entre os
Estados e o DF, na forma estabelecida em lei
complementar
• Lei Complementar nº 24/75 → a concessão de
benefícios dependerá sempre de decisão unânime
dos Estados e do DF e a sua revogação de aprovação
de quatro quintos dos representantes presentes
Exemplo: Admissão Temporária
• Disciplinada pelo Convênio ICMS 58/99: autoriza a
concessão de isenção ou redução da base de cálculo do
ICMS incidente no desembaraço aduaneiro de
mercadoria ou bem importado sob o Regime Especial
de Admissão Temporária previsto na legislação federal
específica
• Sem utilização econômica: isenção
• Com utilização econômica: quando houver cobrança
proporcional, pela União, dos impostos federais, a base
de cálculo do ICMS será reduzida, de tal forma que a
carga tributária seja equivalente àquela cobrança
proporcional
Resolução SF 13/2012
• Alíquota de 4% → aplica nas operações interestaduais
com bens importados do exterior que, após o
desembaraço aduaneiro:
– não tenham sido submetidos a processo de
industrialização
– ainda que submetidos a processo de industrialização
resultem em mercadorias ou bens com Conteúdo de
Importação superior a 40%
• Alíquota de 7% ou 12% → aplica-se nas operações
interestaduais com bens e mercadorias que:
– tenham conteúdo de importação menor que 40%
– são importados mas se enquadrem nas exceções previstas
na Resolução
OBRIGADO!

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