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No decorrer das rotinas do abrigo tenho feito observações a

respeito de cada educando e educanda da instituição, seus perfis,


gostos particulares, níveis de conhecimento e desenvolvimento
cognitivo e intelectual (e também um pouco de seus históricos de
origem), e a partir disso busco sempre elaborar atividades que sirvam
não só para lhes entreterem, mas também oportunizar o
desenvolvimento de habilidades que sirvam para elevar suas
autoestimas e capacitar-lhes para o convívio social.

Algumas atividades surgem de improviso por intermédio das


demandas do momento, como por exemplo quando um educando
solicita uma pequena caixa de papelão para guardar pequenos objetos
seus (figurinhas ou pecinhas de um jogo). Outras aparecem quando um
educando surge com uma dúvida de cunho escolar ou do cotidiano da
sociedade (como uma pergunta sobre ciências ou sobre como o
dinheiro fica guardado no banco e quando surgiu o dinheiro).

Trago aqui algumas ideias elaboradas ao longo de vários


momentos vividos no dia-a-dia, sendo que algumas propostas já foram
trabalhadas em algum momento, e outras ainda aguardam o clima
certo para acontecerem:

Artesanato com pedrarias (tramas com miçangas e bordados em


chinelos)

Esta atividade consegui pôr em prática por um determinado


tempo no abrigo, onde as educandas e educandos construíam objetos
diversos, como bijuterias, chaveiros, pingentes para mochilas e tiras de
chinelos bordadas, usando tramas com miçangas e fios de nylon. Quase
todos participavam efetivamente, sem haver muitas limitações para o
exercício da atividade.
A atividade de pedraria é bastante vasta e pode se estender para
bordados em toalhas de rosto, confecção de porta canetas, suporte
para cuias de chimarrão, e etc., e são fáceis de se fazerem, só é
necessário tempo e temperamento calmo para a execução da prática...

Jornal impresso de notícias e curiosidades

Foi outra atividade que pode ser executada por 2 ou 3 vezes,


onde os jovens puderam ser protagonistas na construção de um
informativo impresso (em formato de jornal) com notícias e
curiosidades sobre as rotinas do abrigo. Constavam de entrevistas com
educandas. educandos e alguns colaboradores do abrigo, assim como
também notícias a respeito de cortes de cabelo e eventos ocorridos no
período. Como havia a necessidade da construção escrita foi
encontrada certa resistência na participação de todos, e uma pequena
parcela de jovens conseguiram produzir os primeiros exemplares.
Ainda cogitamos a produção de um telejornal, mas ficamos
preocupados com o fato de haver o registro filmado dos jovens e não
tocamos essa ideia para frente...
Esculturas com biscuit

Todos os educandos e educandas gostam de se entreterem


sovando e manipulando massinhas de modelar, mas com pouco tempo
de uso essas massinhas ficam sujas e perdem a maleabilidade, ficando
descartadas. Mas já houveram momentos em que algumas educandas
elaboraram cartões de aniversário com folhas de ofício e massinhas de
modelar formando desenhos com relevo nas folhas. Pensei na
possibilidade de os jovens fazerem pequenas lembrancinhas com
biscuit, que pode ser fabricado por eles próprios com uma receita
caseira (e fácil) usando farinha de maisena, cola branca (tenaz), um
pouco de suco de limão ou vinagre, e creme para mãos (usado para
sovar a massa). A massa caseira fica idêntica à comprada em lojas para
artesanato e pode ser tingida ou pintada depois de seca. Com essa
massa pode-se fazer infinitos objetos de decoração... Há muitos
tutoriais no youtube instruindo como fazer.
Oficina de curiosidades

A internet tem sido uma boa ferramenta para encontrar


conteúdos que saciem as curiosidades ou apresentem novas visões de
mundo para os jovens do abrigo. Já fiz uma oficina sobre a origem do
dinheiro onde mostrei imagens de objetos considerados as primeiras
moedas ou peças de valor utilizadas em escambos nas civilizações
antigas, e mostrei-lhes a pequena porção de moedas antigas (nacionais
e internacionais) que peguei emprestada de meu Pai. Mas curiosidades
sobre satélites, o corpo humano, diferentes culturas do mundo,
tragédias mundiais, como são fabricadas as mais diversas coisas (o site
Manual do Mundo traz muito deste conteúdo) eu também já lhes
trouxe e utilizo o PC da casa para lhes apresentar esse tipo de material.
Confecção e manipulação de bonecos marionetes

Tenho sondado muito a ideia de fazê-los construir marionetes


com tecido para usarmos em cenas teatrais. Os bonecos seriam nos
mesmos modelos do antigo personagem Topo Gigio (dos anos 60/70),
e que são necessárias as interações de 2 ou mais indivíduos para
controlarem o mesmo boneco.

Mas penso em começar com pequenos bonecos do tipo ”meia”, para


que se desenvolvam habilidades de contar histórias e
representatividades...
Jogos de tabuleiro

Os jogos de vídeo game sempre foram um grande atrativo, mas


eles não superam os potenciais dos jogos de tabuleiro, que além de
não necessitarem de nenhum aparelho eletrônico, ainda aproximam
aqueles que os usam (ou pelo menos tentam aproximar). Tenho trazido
jogos de tabuleiro variados para os jovens se entreterem e ao mesmo
tempo exercitarem o cumprimento de regras e também cuidados (com
os materiais dos jogos). Alguns eu monto junto com os educandos,
outros eu construo em casa e trago para que eles possam usar com a
promessa de cuidarem (os jogos ficam na casa e com a combinação de
cuidarem para que eu possa me sentir incentivado em trazer mais
jogos. Busco jogos que os estimulem o raciocínio lógico, a
memorização, a estratégia de gerenciar recursos, a interpretação e
etc., ao mesmo tempo em que se divertem sentindo a presença uns
dos outros. Um tipo de jogo que tenho aplicado com certa frequência
(e quando vejo a possibilidade) é o RPG, jogo onde os jogadores
interpretam papéis numa história improvisada por mim, e que vai
sendo construída com a participação de todos os envolvidos na partida.
As histórias são sempre inspiradas em filmes de fantasia, ou histórias e
personagens infantis, e basta um lápis, papel e um ou dois dados para
que se desenvolva a atividade. Além de estimular a criatividade, o RPG
também foca na atenção, pois todos devem acompanhar o que todos
no grupo fazem para que se desenrole a história.
Cultivos de plantas diversas

Certa vez um jovem me perguntou se é verdade que as plantas


nascem das sementes (o jovem tinha 10 anos na época!) e comecei a
lhes explicar como são plantadas diversas flores, árvores, hortas em
geral, o cultivo de lavouras, como é produzido o humos das minhocas,
como cuidar de diferentes plantas (que tipo precisa mais ou menos de
água, como é o preparo do solo, etc.). Já lhes trouxe as duas araucárias
que possuo num vaso há 8 anos e que estou esculpindo para se
tornarem bonsais, trouxe lupas para que pudessem ver plantas
minúsculas e o limo. Penso em conseguir um espaço onde cada um
possa ter um vaso para que seja plantado flores de tipos diferentes
(amor perfeito, violeta, crisântemo, etc.) para que possam se deter em
cuidar de algo e se sentirem responsáveis por algo vivo e dependente
deles, afinal, cuidar daquilo que vive também é um modo de se sentir
pertencente a este mundo...

Estas foram algumas das ideias que foram surgindo ao longo de


tantos momentos de convivência, e com certeza outras tantas ideias
virão, pois elas vieram por parte das demandas dos guris e gurias
cuidados por nós... E é demanda que não acaba mais!

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