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Relatório Direitos Humanos e Gênero

Diferença entre gênero x sexo:

 Enquanto o sexo é fator biológico que diferente homens e mulheres, gênero é uma
estrutura social de viés patriarcal que assegura uma segregação entre os sexos,
essencialmente fundada na discriminação da mulher.

Orientação sexual x identidade de gênero:

 A orientação sexual diz respeito à atração sentida pelo individuo, que pode ser
heterossexual, bissexual, assexual, pansexual e homossexual; já a identidade de
gênero é regida pela forma que a pessoa se identifica, bem como cisgênero,
transgênero e não binário.

A diferença de gênero, conforme foi apresentada pela estrutura patriarcal das relações sociais,
fomentou a construção de um sistema jurisdicional influenciado pelos estigmas de
discriminação da mulher. Assim, foram apresentados 5 marcos históricos regidos por uma
dogmática-penal: I) Idade Média; II) iluminismo III) positivismo; IV) movimento higienista V)
estudos vitimológicos

A Idade Média representa o primeiro marco de segregação de gênero no ínterim da Inquisição,


pois foi travestido pela caça às bruxas para justificar a perseguição às mulheres. Inclusive, foi a
primeira manifestação orgânica do Poder Punitivo, ou seja, o discurso discriminatório
legitimado pelas instituições estatais, especialmente voltado ao controle da sexualidade
feminina.

Já no Iluminismo, caracterizado como período humanitário, desabrocharam estudos e


denúncias às penas cruéis através da exploração de penas humanitárias e garantias individuais,
marcada pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Contudo, o período Iluminista
não abrange as vivências das mulheres e embora tenha instigado as primeiras manifestações
sufragistas - representadas por mulheres brancas da burguesia – , os primeiros movimentos
feministas não se mantiveram e, logo, as mulheres foram encaminhadas de volta ao ambiente
doméstico.

No mesmo ínterim, mas sob outro viés, as teorias positivistas impulsionaram a discriminação
de gênero, principalmente pelas concepções criminológicas concebidas por Lombroso, que
estigmatizou a mulher por meio de narrativas misóginas, caracterizando-a como perversa,
maliciosa, histérica, com sexualidade descontrolada e até mesmo determinada pela figura da
maternidade ou prostituição.

Em decorrência, o movimento higienista institucionalizou uma nova forma de controle e


repressão de gênero, além do mecanismo jurídico, por meio de políticas sanitárias travestidas
de preocupação estatal para com a saúde das mulheres, mas que impulsionou o domínio aos
corpos femininos pela busca assídua em combater a prostituição, dado que era regido por um
viés moralmente normativo de práticas sociais em prol do interesse da burguesia.

Já na década de 1950, quando surgiram os primeiros estudos vitimológicos, a mesma narrativa


se mantém. As teorias desenvolvidas por Benjamin Mendelsohn e Hans Von Hentig se
voltaram à análise do grau de culpabilidade da vítimas nos delitos cometidos contra ela e
conceberam à mulher a culpabilização pelas violências vivenciadas representada pelo discurso
análogo ao positivista, porquanto eram capazes de “instigar” o agressor com a sua
personalidade sedutora. A perpetuidade desses estigmas, inclusive, impulsionam os discursos
contemporâneos de que “a violação é impossível se a mulher não quer” ou que “ela estava
pedindo”.

Na década de 70 insurgiram os movimentos feministas pelas denúncias às violências


experienciadas, bem como ao caráter privatista da violência doméstica, que até o momento
não recebia tratamento jurisdicional – concepções de que “entre briga de marido e mulher não
se mete a mulher. Esses movimentos representaram a segunda onda do movimento feminista,
dado que a primeira onda advém dos movimentos sufragistas do período humanitário.

A terceira onda do movimento feminista se dá na década de 90 e engloba teorias


multidisciplinares, como o racismo e movimentos LGBT’s, e representa a individualização do
discurso feminista, voltado às interseccionalidades das pretensões femininas. Ademais, a
contemporaneidade já considera a insurgência de uma quarta onda, voltada ao ativismo nas
redes sociais.

Os marcos jurídicos que acompanham os movimentos feministas em âmbito internacional se


voltam aos direitos humanos, como a Declaração Universal de Direitos Humanos (1948), o
CESAW (1979) e o Programa de Ação de Viena (1993). No Brasil, são representados pela
reforma legislativa como a criação das DEAM’s e da Lei Maria da Penha.

Os Direitos Humanos voltados às mulheres, inclusive, propõem um debate sobre a intervenção


do Direito Internacional pelas Nações Unidas, como em casos de mutilação genital feminina,
práticas de esterilização compulsória das mulheres e culturas de descriminalização e incitação
à violência de gênero que suprimem os direitos fundamentais.

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