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PROPOSTAS PARA MELHORIA DO SISTEMA FISCAL E DE

JUSTIÇA

A. Reduzir a carga fiscal e melhorar a justiça tributária

i. Comentário Geral

 Repor a legislação em vigor antes da Troika, sobretudo em sede de IRS


repondo-se os escalões pré-troika;

 Rever as taxas / contribuições extraordinária e eliminar aquelas que não se


justificam;

ii. Algumas medidas em sede de IRC

 Voltar ao plano de redução taxas que estava previsto, eventualmente


aproveitando o movimento em curso a nível internacional para a adoção de
uma taxa mínima de IRC de 15%, colocando-nos ao lado da Irlanda adotando
como taxa de IRC uma taxa de 15%;

 Eliminação do limite temporal de reporte de prejuízos para a frente, e


possibilitar o reporte para trás como sucede em alguns países;

iii. Algumas medidas em sede de IMI / AIMI

 Não se eliminando o AIMI, pelo menos que seja considerada a dívida nos
valores a considerar para efeito de sujeição ao AIMI.

iv. Algumas medidas em sede de IVA

 Ponderar voltar a uma taxa abaixo do 21% - ficando assim abaixo da taxa
média da EU – eventualmente adotando-se uma taxa única;

v. Relação com os Contribuintes

 Introduzir um mecanismo de aceleração processual, à semelhança do que


acontece no processo penal;
 Introduzir um prazo para o proferimento de sentença em 1.ª instância, à
semelhança do que se faz no processo civil;
 Introduzir uma regra que condicione a possibilidade de recurso da Autoridade
Tributária em situações em que existe jurisprudência reiterada e uniforme dos
Tribunais Superiores.

Atualmente temos o 68.º A, n.º 4 da LGT que dispõe que

4 - A administração tributária deve rever as orientações genéricas referidas


no n.º 1 quando: (Redação da Lei n.º 7/2021, de 26 de fevereiro)
a) Versem sobre matéria apreciada em decisão sumária por um tribunal
superior, nos termos do artigo 656.º do Código de Processo Civil;
ou (Redação da Lei n.º 7/2021, de 26 de fevereiro)

b) Exista acórdão de uniformização de jurisprudência proferido pelo Supremo


Tribunal Administrativo; ou (Redação da Lei n.º 7/2021, de 26 de fevereiro)

c) Exista jurisprudência reiterada dos tribunais superiores, manifestada em


cinco decisões transitadas em julgado no mesmo sentido, sem que existam
decisões dos tribunais superiores em sentido contrário igualmente transitadas
em julgado, em número superior. (Redação da Lei n.º 7/2021, de 26 de
fevereiro)

Esta regra é absolutamente desconsiderada pela Autoridade Tributária; Uma


ideia seria, por exemplo, criar um número limite de decisões a partir do qual
deve haver uma limitação da possibilidade de interposição de recurso;

 Reformular a regra da litigância de má fé constante do artigo 104.º da LGT,


por forma a penalizar a interposição de recurso no caso de existir
jurisprudência reiterada e uniforme dos Tribunais Superiores nos moldes
acima descritos;

 Grande parte da culpa da morosidade da justiça tributária está associada à


proliferação de recursos de aplicação de coima (RAC's). Foi criado
recentemente um juízo especializado de execução fiscal e recursos
contraordenacionais. Há que dotar este juízo, bem como o resto da jurisdição
administrativa e fiscal, de juízes para acelerar o proferimento das decisões;

 Foi criada há pouco tempo a Direção de Serviços de Apoio e Defesa do


Contribuinte com o intuito de alterar o paradigma da relação com o
contribuinte. Desta Direção pouco se sabe, em especial não se sabe qual é o
impacto que tem tido nem qual é a sua missão. Há que clarificar esta situação
e, especialmente, dar utilidade a esta Direção;

 Alterar o método de avaliação dos funcionários da Autoridade Tributária.


Atualmente, parte da compensação dos funcionários está indexada ao
montante de receita que conseguem cobrar (o chamado Fundo de
Estabilização Tributário (FET). Isto faz com que a cobrança de impostos aos
contribuintes possa ter intuito que não a descoberta da verdade material e o
princípio da legalidade, princípios norteadores da conduta do Estado;

 Não obstante haver uma desigualdade estrutural entre o Estado e o


Contribuinte, tal desigualdade tem que ser mitigada através de medidas
concretas do Estado. Atualmente, o Contribuinte se não pagar o imposto
dentro do prazo para pagamento voluntário é citado e, caso não pague dentro
de 30 dias, é alvo de penhoras. Por sua vez, o Contribuinte, mesmo após o
trânsito em julgado de uma sentença favorável, pode demorar anos a ser
ressarcido do imposto pago indevidamente acrescido dos correspondentes
juros indemnizatórios. Criar um mecanismo mais expedito para execução das
decisões administrativas/judiciais sem ter que recorrer a uma ação de
execução de julgados. Poderia, por exemplo, ser uma das atribuições da
Direção de Serviços de Apoio e Defesa do Contribuinte, i.e., velar pela
execução integral dos julgados anulatórios;
 Não obstante a autonomia em matéria fiscal das Regiões Autónomas, alargar
a portaria de vinculação do Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD) às
Autoridades Fiscais das Regiões Autónomas, permitindo que os Contribuintes
aí residentes possam também usufruir da celeridade do CAAD.

 Tem que se adotar um novo paradigma na relação entre a AT e os


Contribuintes;

 A AT tem que passar a ter uma atitude mais positiva face aos contribuintes,
como seja:
o Conta corrente entre o Estado e os Contribuintes, podendo-se
encontrar-se soluções de compensação – isto foi proposto pelo CDS e
foi recentemente aprovado -
https://www.jornaldenegocios.pt/economia/impostos/detalhe/parlame
nto-aprova-por-unanimidade-conta-corrente-entre-fisco-e-
contribuintes;
o Proatividade na regularização de situações de ilegalidade causadas
pela AT, ao invés de remeter sistematicamente os contribuintes para
contencioso tributário caro e demorado;

vi. No Processo Tributário

 Reintrodução da caducidade das garantias bancarias ao fim de um prazo


razoável para a decisão do caso em 1 instância.

B. Uma justiça célere e eficiente como fator de competitividade


económica do nosso país

i. Comentário Geral

 O sistema jurídico de um país dita, em enorme medida, o seu sucesso


económico. Um sistema ágil atrai empresas e investidores nacionais e
estrangeiros em busca da certeza, segurança e rapidez que nem
sempre encontram nas suas jurisdições naturais. No limite, o sistema
jurídico pode atrair investimento. Os tratados internacionais em vigor
disponíveis facilitam a escolha de jurisdição e de lei aplicável.

ii. Medidas mais radicais

 Estudo e implementação de tribunais virtuais com base em inteligência


artificial, aplicados numa primeira fase a casos cujo valor não exceda a
alçada da primeira instância, cuja prova se baseie apenas em
elementos documentais digitais e cujo objeto não pressuponha a
aferição pelo julgador de elementos de culpa (designadamente, em
caso de responsabilidade objetiva) Se na medicina a Inteligência
Artificial se tem provado de uma eficácia tremenda no diagnóstico e
indicação do tratamento de doenças, percorrendo milhares de dados e
casos em poucas horas, e fornecendo as vias de solução, o que dizer
de tais capacidades num universo de dados tão mais restrito como é o
do direito.

 Descongestionamento dos tribunais. Há que quebrar com práticas


inadequadas ao tempo em que vivemos e que constituem um
constrangimento ao nosso desenvolvimento. Parece-me crítico
preparar um plano com medidas para dar continuidade ao processo de
digitalização da densa trama que são os processos judiciais e que
esteve na origem do Simplex, Citius ou Sitaf. É importante ir agora
mais longe, ambicionando a transformação digital da nossa justiça,
tirando partido do desenvolvimento tecnológico e em particular das
ferramentas de inteligência artificial assentes na análise de dados. As
plataformas Citius ou Sitaf carecem de renovação profunda pensada na
ótica do utilizador, dado que apresentam uma arquitetura obsoleta e
desadequada, com os formulários apresentando vários passos com
inputs manuais desnecessários. Devem também as plataformas ser
unidas, uma vez que não existe razão fundada na normativa
processual cível e administrativa que justifique a coexistência de dois
sistemas diferentes.

 Atribuição às secretarias judiciais de poderes que estejam, hoje em


dia, apenas na atribuição dos magistrados (marcação de sessões de
audiência ou outros despachos de mero expediente).

 Atribuição de poder potestativo a qualquer das partes para exigir


arbitragem (arbitragem necessária) para casos pendentes há mais de
x anos em primeira instância. Eventualmente definir os valores das
causas que justifiquem a possibilidade de tais opções.

 Exigência de garantia para pagamento de custas. As empresas e


outras entidades que apresentarem ações devem apresentar garantia
de que poderão pagar as custas (ou uma percentagem significativa
destas) a final caso percam.

 Eliminação dos limites impostos aos montantes reclamáveis pela parte


vencedora a título de custas de parte por honorários com mandatários
judiciais.

 Definição de tecto máximo para as custas judiciais aplicáveis.

 Definição de prazos máximos para decisão dos processos e


responsabilização do Estado com regresso sobre os responsáveis.

 Para acautelar situações que tenderão a surgir de reequilíbrio das


prestações contratuais à luz da nova realidade económica, social e
financeira, deve ser ponderada a criação de um mecanismo de
arbitragem necessária para resolução dos conflitos, direta ou
indiretamente, relacionados com a alteração dos termos contratuais
com fundamento na pandemia atual. Os litígios tenderão a surgir.
 Basta atentar nos imensos escritos e publicações sobre “alteração de
circunstâncias” e “força maior”. A ideia é assegurar um modo de
resolução célere e imediato deste tipo de litígios e que permita
salvaguardar a recuperação mais eficiente de credores e devedores. 

 Extinção das férias judiciais.

 Definição de limite temporal para a duração da produção de prova


testemunhal e alegações orais.

 Punição efetiva de falsos testemunhos no próprio processo, através de


aplicação de multa processual. Atualmente assiste-se a uma
impunidade inadmissível e exponenciada pela necessidade de extração
de certidão para remessa ao Ministério Publico para aferir se há ou não
infração…

 Mais especialização dos tribunais e criação de Tribunais colegiais em


primeira instância para processos cujo valor da causa exceda a alçada
do Tribunal da Relação. Os juízes não estão preparados para lidar com
a complexidade económica e financeira de processos, muito relevantes
e aos quais estão atentos diariamente os principais players financeiros
(os tais mercados).

 Nos tribunais administrativos, em que reina o caos, é de ponderar


seriamente a inclusão nos tribunais comuns. É urgente este tema.

iii. Medidas a breve trecho:

a) No Processo Civil

 Possibilidade/obrigatioriedade de produção de depoimentos


testemunhais ajuramentados gravados e apresentados com a
propositura da ação, produzidos em diligência extrajudicial. A
contraparte é notificada para a diligência por Agente de Execução, com
direito a contraditório, sendo que a falta da contraparte devidamente
notificada não determinará a invalidade do depoimento. Esta medida
responsabiliza logo de início as partes e as testemunhas. Será
dissuasora de ações inúteis e de peças mal preparadas pelos
advogados. O juiz da causa poderá determinar ex officio a renovação
do depoimento perante o Tribunal.

 Possibilidade/obrigatoriedade de apresentação de depoimentos


testemunhais ajuramentados escritos com a propositura da ação com
evidente direito a contraditório. Esta medida responsabiliza logo de
início as partes e as testemunhas. Será dissuasora de ações inúteis e
de peças mal preparadas pelos advogados.

 Uso efetivo do regime de litigância de má-fé para partes que alegam


ou impugnam factos sem prova ou sem benefício de presunção.

 Utilização livre de conteúdos multimédia em audiência de julgamento,


podendo as partes reproduzir vídeos, sons, conteúdos online ou
projetar imagens perante o Tribunal, desde que apresentadas nos
prazos legais para apresentação da prova documental; nos Tribunais
que careçam dos meios necessários à reprodução de tais conteúdos,
podem as partes representadas por mandatários judiciais fornecê-los
na audiência final, devendo a secretaria prestar toda a colaboração
necessária para o efeito.

 Dispensar as partes da junção de reproduções de conteúdos


disponíveis online com peças e articulados, desde que acessíveis por
qualquer utilizador da internet e fornecido o respetivo endereço URL na
peça ou articulado respetivo;

 Possibilitar a participação dos mandatários em audiências por meios


virtuais;

b) Nos processos de Insolvência e de Restruturação de Empresas

 Para início do procedimento, deve passar a permitir-se que a


declaração conjunta entre devedor e credores possa ser assinada por
via eletrónica.

 Quanto à legitimidade deve admitir-se a possibilidade de apresentação


conjunta a PER por empresas que constituam um grupo de sociedades.
Tratar cada empresa em separado dificulta, em muito, a negociação
com os credores e a descoordenação redunda, muitas vezes, na
ineficácia prática dos acordos conseguidos individualmente em cada
uma das empresas.

 Por forma a evitar a consulta de documentos junto da secretaria, o que


a lei prevê que se faça presencialmente, sugere-se que o devedor que
se apresente a PER possa incluir na comunicação aos credores, após a
nomeação do Administrador Judicial Provisório (AJP), uma hiperligação
contendo toda a documentação junta aos autos. A disponibilização da
informação constante do processo seria supervisionada pelo AJP uma
vez nomeado. Para o efeito, sugere-se a inclusão dos documentes num
VDR (Virtual Data Room) controlado pelo AJP, o que asseguraria
imparcialidade, fidedignidade, certeza, e acima de tudo, eficiência.

 Substituir as comunicações via carta registada por correio eletrónico.

 As negociações, reuniões com credores e votos escritos para


aprovação do PER, devem poder ser feitas por qualquer meio,
incluindo o eletrónico, reforçando-se os deveres de supervisão do AJP.

 Os efeitos do PER deviam ainda aplicar-se a todos os créditos, direta


ou indiretamente, relacionados com factos anteriores à nomeação do
AJP, ainda que indemnizatórios ou litigiosos e apenas declarados após
essa data. Igualmente útil, seria alargar o privilégio creditório
mobiliário geral admitido, na prática, apenas para a banca. Não há
razão para que apenas os créditos de bancos e entidades financeiras
possam dele beneficiar. Basta pensar que nem só de liquidez vive a
empresa, mas de todo o crédito que lhe é concedido. Pela banca ou
por outros. Assim, qualquer crédito concedido tendo em vista a
aplicação e o sucesso do PER, v.g. matéria-prima ou energia a pagar a
prazo, devem igualmente ser privilegiados. Apesar de o recente PEVE
(Processo Extraordinário de Viabilização de Empresas), introduzido em
novembro deste ano, ter alargado o dito privilégio a sócios, acionistas
e pessoas relacionadas com a empresa e que a financiem durante o
PER, o fez em moldes inexplicavelmente limitativos.

 Introduzir como elemento de diferenciação específica entre credores o


peso relativo dos mesmos na atividade e na recuperação futura da
empresa. Apesar de a regra geral do princípio da igualdade do
tratamento entre credores consagrar, atualmente, a possibilidade por
razões objetivas, a verdade é que a jurisprudência tem sido restritiva
neste domínio.

c) Nos processos tutelares cíveis de menores

 Fim da fase obrigatória de ATE (Audição Técnica Especializada) /


Mediação, uma vez que na pratica se revelam inúteis ou de pouca
relevância pratica, a qual passa a ser facultativa caso ambas as partes
estejam de acordo numa ou outra modalidade.

 Transformação da fase de tentativa de conciliação em audiência prévia


(que incluirá tentativa de conciliação inicial), para a qual são
obrigatoriamente convocados os pais e as crianças maiores de 12
anos.

 Frustrando-se acordo na tentativa de conciliação realizada na


audiência prévia, o Tribunal:
a. Profere de imediato para a ata despacho saneador, determinando
as diligências de prova necessárias e fixando a data do julgamento
(apenas adiável caso haja necessidade de produção de prova
pericial que ainda não tenha sido realizada);
b. Fixa obrigatoriamente regime provisório, realizando na própria
audiência prévia diligências de prova obrigatórias como a audição
dos pais, das crianças maiores de 12 anos e de até 3 testemunhas
por cada parte.

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