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Guia prático da Teoria da Mudança (Theory of Change)

A Teoria da Mudança é uma ferramenta que ajuda a descrever a necessidade na


qual se pretende intervir, a mudança que se pretende que ocorra (Resultados), e o que se
planeia fazer (Atividades).

Objetivo: Desenvolver estratégias e formas de explorar se os planos se baseiam


em evidências científicas, fortalecendo o planeamento e entrega dos projetos através da
elaboração detalhada da ideia do projeto que se pretende fazer cumprir.

Benefícios:

 Estratégicos - Ajudar equipas a trabalhar em conjunto de forma a atingir um


entendimento do projeto e os seus objetivos, tornando os projetos mais eficientes
 De medição – Ajudar a compreender o que é ou não necessário de ser medido,
encorajando as equipas a utilizar evidências pré-existentes;
 Comunicacionais – Comunicar eficazmente os objetivos do projeto através de
uma boa sumarização do trabalho;
 De equipa – Ajudar no desenvolvimento de trabalho de equipa e parcerias (Ex:
clarificação de responsabilidades e papéis no projeto)
De salientar o efeito Ikea, efeito que comprova que o envolvimento prévio das
equipas na definição e estruturação do projeto responsabiliza as pessoas
envolvidas, tornando-as mais comprometidas com o projeto dado o
identificarem como seu.

Como criar uma Teoria da Mudança

Em qualquer Teoria da Mudança deve ser identificado o grupo com o qual


vamos trabalhar, as necessidades e as características do mesmo e clarificar o objetivo
final que se pretende atingir.

Assim, os elementos a considerar dentro da Teoria da Mudança são:

1. Objetivo final – Deve descrever a mudança que se pretende ver nos utilizadores
do serviço ou beneficiários do mesmo. Deve ser sucinto e realista, assim como a
primeira coisa a ser definida.

Um aspeto importante a considerar na realização do objetivo final é a


“accountability line”, ou linha de responsabilidade, que corresponde à definição por
parte da instituição daquele que vai ser o impacto direto da organização na
necessidade/questão/problema para o qual realiza a Teoria da Mudança. O objetivo
final deve corresponder aos resultados diretos da intervenção e não objetivos de
longo prazo para os quais estes resultados possam indiretamente contribuir.

2. Resultados Intermediários – Entendidos como as mudanças experienciadas pelos


utilizadores de serviços e contribuem para o objetivo final, definidos após o
objetivo final.
3. Atividades – Serão as atividades realizadas de forma a garantir que a mudança
pretendida ocorra, definidas em detrimento dos resultados intermediários.
4. Condições internas e externas (Internal and external enablers) – Dizem respeito
às condições ou fatores que são necessárias para que o projeto tenha sucesso
5. Evidências - Considerar ao longo de todo o processo as evidências que
possuímos, sejam investigações publicadas assim como dados e a experiência
organizacional.
6. Inferências de causalidade - Devem ser sempre utilizadas, ajudando na definição
e criação de hipóteses dos resultados intermediários e consequente impacto dos
mesmos no objetivo final, principalmente quando não existem evidências
científicas ou dados institucionais/governamentais.

A Teoria da Mudança pode estar representada por diagramas (The CES Planning
Triangle, Logic model ou Outcomes chain), ou de forma escrita (Written narrative).

The CES Planning Triangle

Este tipo de representação por diagrama define 3 elementos como essenciais


para um projeto: atividades, resultados intermediários e objetivos finais.

Geralmente representado a partir de uma pirâmide de necessidades que segue o


processo de criação da teoria supramencionado com o objetivo final no topo,
seguido de resultados intermediários e na base as atividades.

Logic models

Semelhante ao modelo anterior, seguindo também o processo de criação da


teoria, mas permite mais detalhe principalmente na descrição das atividades.

Considera os recursos que foram necessários para que o projeto acontecesse,


relações com outras organizações (Inputs), sendo um modelo para produzir. Ou seja,
representam projetos de uma forma pouco complexa cujo detalhe permite informar-
nos sobre o que avaliar.

As limitações dos 2 modelos supramencionados focalizam-se sobretudo no facto


de se realizarem Teorias da Mudança que assumem relações de causa-efeito e
causalidades (entre resultados intermediários e objetivo final, por exemplo) que
podem não refletir a realidade. Ou seja, a causalidade nestes dois modelos é
implícita, que os diferencia da abordagem seguinte.

Outcomes Chains

Surgem para dar resposta à dificuldade dos modelos anteriores, focalizando-se


nas relações de causalidade: que atividades se articulam com que resultados e em
que ordem ocorre a mudança. Principalmente útil para a elaboração de um novo
serviço, projeto ou campanha.
Também semelhante aos anteriores no processo de criação da teoria,
diferenciando-se por tentar simplificar quais as relações de causalidade que se
desenvolvem ao apresentar os principais elementos do projeto numa sequência
causal.

Written Narrative

Pode ser utilizada em conjunto com os diagramas, descrevendo a Teoria da


Mudança de uma forma escrita. Os elementos adicionais a seguir mencionados,
ainda que devam estar incluídos nos diagramas, são usados com o propósito de dar o
detalhe escrito que falta aos diagramas:

 Contexto;
 Suposições e evidências (ambas com o objetivo de explicar o processo de
mudança);
 Condições internas e externas (englobar a qualidade do serviço e o processo
de construção de relacionamentos);
 Evidências (podem incluir senso comum e intuição);
 Inferências de causalidade;

Revisão de uma Teoria da Mudança (O que nos devemos perguntar se é)

 Significativa (se tem sentido, meaningful);


 Bem definida;
 Compreensível;
 Exequível;
 Plausível;
 Credível;
 Testável (pode ser interessante incluir as expectativas em termos estatísticos de
forma a que se possa averiguar posteriormente se os resultados obtidos
confirmam os esperados e o esforço/recursos utilizados investidos são
compensatórios).

Como utilizar a Teoria da Mudança para criar um instrumento de medição


(measurement Framework)

Possuir um instrumento de medição do trabalho realizado é crucial, sendo que


considerando a liderança e a visão estratégica devemos:

1. Criar a Teoria de Mudança;


2. Priorizar o que se mede – priorizar a medição dos resultados considerados mais
importantes, tentando compreender se são diretos ou indiretos do projeto, não
são medições dispendiosas e produzem dados credíveis;
3. Escolher o grau de evidência – necessário definir um nível de rigor, que apesar
de dever ser alto pode ser limitados por variáveis a que devemos atender como
os recursos e restrições práticas e metodológicas;
Diferentes tipos de evidência podem ser considerados, como: estatística,
experimental, comparativa (Ex: entre casos dentro de uma intervenção ou
programa, entre intervenções ou programas).
4. Selecionar as fontes e instrumentos – selecionados de acordo com o tipo, a
forma e quando se vão recolher dados.
Primeiramente deverá ocorrer uma análise dos dados já existentes e como
utilizá-los onde for possível. Posteriormente, identificar novas fontes de dados e
encontrar ou desenvolver instrumentos para os recolher. Na escolha dos
instrumentos devem considerar-se: os resultados, as atividades/intervenção, os
beneficiários, o tempo e os recursos, a necessidade de rigor e os fundadores.

Como utilizar a Teoria da Mudança para aprender e melhorar

Um resultado inerente da boa prática da Teoria da Mudança passa por aprender


com os resultados e melhorar os serviços. Identificam-se então 2 maneiras de como
podemos utilizar os resultados obtidos para obter ainda melhores resultados
posteriormente:

 Melhorar os próprios serviços da instituição;


 Melhorar o setor através da partilha e aprendizagem com organizações parceiras
ou de uma forma ainda mais abrangente.

A reflexão crítica dos resultados está na base do progresso, assim como a


averiguação se estas mudanças estão a resultar permitindo que os resultados sejam
positivos. Poderá, por último, ser vantajosa a partilha do instrumento de medição como
forma de standardizar a forma de medição e comparar resultados dentro da própria
instituição e com outras instituições.

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