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A DODOPARÁ
1. INTRODUÇÃO
Neste Tópico de Estudo vamos conhecer uma importante abordagem sobre o processo de
adaptação e utilização pedagógica do conhecimento científico. Estudaremos de forma introdutória
sobre o que é Transposição Didática, seus principais conceitos e características.
Iniciaremos com estudo e análise de vídeos e textos de fundamentação básica selecionados, que
se baseiam em relato de investigação e/ou experiência na utilização desse processo de Transposição
Didática do conhecimento científico (doravante será expressa pela abreviação TD). Posteriormente
esse estudo irá servir como suporte teórico para interpretar e avaliar materiais didáticos e de estudo
como, por exemplo, o livro didático.
Antes, porém, vamos iniciar com as algumas breves considerações teóricas a fim de
introduzirmos a etapa inicial de estudo que será aprofundada com os encaminhamentos de
orientação que serão apresentados mais à frente.
1
Como veremos mais à frente, os autores da teoria relacionada a esse processo de TD – Yves Chevallard e Marie-Alberte
Johsua – utilizaram originalmente esse conceito durante seus estudos na Didática Francesa (1982). Contudo, quando se
referiram às características do conhecimento científico, preferiram utilizar o termo “saber” (savoir, em francês) que
parece refletir melhor as características resultantes do processo de transformação que o conhecimento sofre devido as
influências de diversos elementos que compõem os estágios (ou lócus) desse processo de transformação desde a
academia até a escola. Por outro lado, o termo “conhecimento” (connaissance, em francês) refletiria um entendimento
mais amplo e vago (ALVES FILHO; PINHEIRO e PIETROCOLA, in PIETROCOLA, M. 2001. p. 79)
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Poderíamos perguntar, afinal, por que recorremos à HFC para tratarmos sobre produção e
desenvolvimento (evolução) do conhecimento científico e qual a relação desta abordagem para o
Ensino de Física?
Carvalho & Sasseron (in CARVALHO et al. 2010, p.110-111) respondem elencando alguns pontos
favoráveis:
• A Ciência é uma construção histórica, humana, viva, e, portanto, caracteriza-se como proposições
feitas pelo homem ao interpretar o mundo a partir do olhar imerso em seu contexto sócio-
histórico-cultural;
• A Ciência produz conhecimentos abertos, sujeitos a mudanças e reformulações;
• A construção destes conhecimentos é guiada por paradigmas que influenciam a observação e
interpretação de certo fenômeno;
• O conhecimento científico não é construído pontualmente, sendo um dos objetivos da Ciência
criar interpretações e relações entre teorias.
Ainda considerando o mesmo trabalho citado acima (p.111), os autores também apresentam,
na visão de Solbes e Traver2, as características que atividades de História das Ciências devem possuir
quando introduzidas no ensino de Física e Química:
• Valorizar adequadamente os processos internos (grifo meu) do trabalho científico como: os
problemas abordados, a importância dos experimentos, a linguagem científica e suas formas de
argumentação; o formalismo matemático; a evolução dos conhecimentos (crises, controvérsias e
mudanças internas);
• Valorizar adequadamente aspectos externos (grifo meu) como: caráter coletivo do trabalho
científico; as implicações sociais da Ciência (CTS), e (...) as mudanças ambientais (CTSA).
Considerando então estes aspectos, passamos a refletir sobre como podemos avaliar o processo
das transformações do conhecimento e as consequências pedagógicas dessas transformações. O
matemático francês Yves Chevallard (1991)3 propõe uma organização das características
2
SOLBES, J.; TRAVER, M. Resultados Obtenidos Introduciendo Historia de la Ciencia em las Clases de Física y Química:
Mejora de la Imagem de la Ciência y Desarrolo de Actitudes Positivas. Enseñanza de las Ciências, 19(1), p. 151-162,
2001.
3
CHEVALLARD, Y. La Transpostion Didactique – du savoir savant au savoir enseigné. Grenoble: La Pensee Sauvage
Éditions, 1991.
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Vejamos alguns aspectos centrais de cada uma das esferas do saber estudadas:
Nesta esfera do saber devem ser identificados conceitos e/ou princípios que melhor
representam os principais aspectos que caracterizam estes saberes como pertencentes à esta esfera
(saber sábio). Dentre estes aspectos destacam-se aqueles que retratam os processos internos do
trabalho científico, tais como: os problemas abordados, a importância dos experimentos, a
linguagem científica e suas formas de argumentação; o formalismo matemático; a evolução dos
conhecimentos (crises, controvérsias e mudanças internas)4; além do período de sua realização.
Aqui uma reflexão inicial pode ajudar a definir as características constituintes nesta esfera
do saber: Quais os conteúdos da esfera do saber sábio devem ser tratados na escola?
Sabe-se que esta esfera é definida pelas transformações descontextualizadoras sofridas pelo
conhecimento ao “migrar” da esfera do saber sábio para a do saber a ensinar. Estas
transformações podem ser classificadas como5:
As características desta esfera do saber terão como “cenário” de estudo o livro didático. Os
conteúdos e os elementos identificados no item anterior (saber sábio) devem ser analisados por
comparação agora no contexto do livro didático.
“O que se ganha e o que se perde quando se faz uma transposição didática? (...) Qual o papel
do professor para evitar que as perdas sejam maiores do que os ganhos?
4
SOLBES, J.; TRAVER, M; 2001 apud in Carvalho & Sasseron.2011. p.111.
5
Cordeiro, M.D. A Transposição didática in “A evolução dos conceitos da Física”, vídeo-aula 3. Disponível em:
http://www.lantec.ufsc.br/fisica/hipermidia_v13.html
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Estas reflexões caracterizam bem o que irá definir na prática o saber ensinado, pois esta
esfera do conhecimento é composta justamente pelos elementos pedagógicos que irão compor o
planejamento da prática de ensino dos conteúdos tratados. Ou seja, os aportes teóricos e os
recursos didáticos e metodológicos utilizados pelo professor a fim de promover não só a construção
conceitual deste conhecimento pelo aluno, mas também uma visão crítica do que é ciência.
Após a introdução feita no item anterior podemos dar início ao nosso estudo desse processo de
TD. Para esta etapa será utilizado como recurso de referência o livro multimídia “A evolução dos
Conceitos da Física” (PEDUZZI, NICOLODELLI, CORDEIRO) disponível para acesso livre no site:
http://evolucaodosconceitos.wixsite.com/historia-da-ciencia
Na opção mídias, optar pelo link “Evolução dos Conceitos da Física - hipermídia”. Efetuar o download
do multimídia e acessar a pasta vídeos_aulas. O vídeo a ser assistido será o de no 3 sobre
Transposição Didática.
Cada equipe deve selecionar um livro didático6 cujo nível de ensino ofereça condições de análise
do processo de descontextualização do conhecimento do saber sábio para o saber a ensinar. Isso
implica dizer que os livros de Ensino Superior são particularmente os mais recomendados para a
análise nesta etapa. Mas, no caso desta atividade, também poderá ser aceito a utilização de
referências do Ensino Médio, pois o foco da análise é, justamente, registrar as características das
transformações sofridas pelo conhecimento.7
Contudo, vale destacar que a maioria dos livros de Ensino Médio acabam por deformar a própria
T.D., pois em geral os conteúdos são tratados a partir de meras simplificações (às vezes radicais) do
saber sábio.
Mas afinal, como foi dito no início destas orientações o objetivo desta atividade visa o exercício
de reconhecimento das etapas da T.D. Assim, a intenção é de destacar exemplos representativos
dos processos de dessincretização, descontextualização histórica e despersonalização que
compõem a transformação descontextualizadora que ocorre nesta esfera do saber a ensinar. Como
forma de registro das descontextualizações identificadas devem ser utilizadas (inclusive) os casos
de imagens (citadas acima) propagadas pelo livro didático analisado.
É claro que não é necessário que sejam tratados neste trabalho todos os conceitos presentes ou
relacionados ao tema foco do livro escolhido. Mas, o importante é destacar em pelo menos alguns
6
Podem ser usados tantos livros didáticos quanto a equipe considerar necessário para a melhor representação do que
está sendo solicitado.
7
Na vídeo-aula 3 do material de apoio para a realização desta Atividade (já citado antes) a Transposição Didática é
exemplificada através da utilização de um livro didático de nível universitário. Neste material de referência é
apresentado o processo de descontextualização efetuado para elaboração do livro “Física Quântica-átomos, moléculas,
sólidos, núcleos e partículas”, Eisberg e Resnick (Ed. Campus).
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BIBLIOGRAFIA:
CARVALHO, Anna Maria Pessoa de et. al. Ensino de Física. São Paulo: Cengage Learning, 2010.
Coleção ideia em Ação.
PIETROCOLA, M (org.). Ensino de Física: conteúdo, metodologia e epistemologia numa concepção
integradora. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2001.
PEDUZZI, Luiz O. Q. Evolução dos Conceitos da Física. Florianópolis : UFSC/EAD/CED/CFM, 2011.
PEDUZZI, Luiz O; MARTINS, André Ferrer P.; HIDALGO, Juliana Mesquita Ferreira (Org.). Temas de
História e Filosofia da Ciência no Ensino – Natal: EDUFRN, 2012.