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JORNAL NA ESCOLA: POTENCIALIDADES E DESAFIOS PARA A

PRÁTICA DOCENTE

Tatiana Kimier Siqueira Martins1

PALAVRAS-CHAVE: Jornal Escolar; Gêneros textuais, letramento

Temática 5: Educação, Linguagem e letramento

INTRODUÇÃO

O tema abordado na pesquisa partiu de uma experiência vivenciada por mim, enquanto
professora de 5º Ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais da Escola Municipal Feliciana Ivo
Pereira, situada na cidade de Caldas Novas GO. Meus alunos estavam com muitas dificuldades
em ampliar seus repertórios de leitura e escrita com os gêneros textuais estudados, foi então que
elaborei um Projeto Pedagógico “Jornal na Escola”. O Projeto teve duração de seis meses, nesse
período, conseguimos publicar duas edições do jornal, muito ricas de informações colhidas e
redigidas pelos alunos. Fato que o repertório de leitura e escrita e um maior conhecimento sobre
os gêneros textuais estudados melhoraram significativamente.
Então repensei como poderia melhorar essa prática e aprimorar o uso desse recurso
didático em minhas aulas. Porém, ao fazer um levantamento prévio de professores de outras
unidades que também exploravam essa estratégia de ensino para trocar experiências
vivenciadas com o jornal na escola, veio o desapontamento. Apesar de alguns professores já
terem trabalhado com o jornal na escola em outros tempos e cenários, não encontrei professores
que, nesse mesmo período, explorassem esse recurso. Sendo assim despertou em mim a
curiosidade de compreender quais as concepções os professores dos 5º Anos do Ensino
Fundamental Anos Iniciais da rede municipal de ensino de Caldas Novas, possuíam sobre o
Jornal na Escola.

1
Mestranda em Educação pela UFCAT Universidade Federal de Catalão. E-mail: tatianakimer58@gmail.com
Então o problema destacado nesse estudo consiste em analisar e discutir as concepções
que professores dos 5º Anos do Ensino Fundamental Anos Iniciais do ensino público da cidade
de Caldas Novas, possuem em relação ao estudo dos gêneros textuais vinculados ao Jornal na
Escola como suporte pedagógico no desenvolvimento da leitura e escrita. A pesquisa será
pautada pela seguinte pergunta de pesquisa: Quais as concepções professores dos 5º Anos do
Ensino Fundamental Anos iniciais da cidade de Caldas Novas, possuem sobre a produção do
Jornal na Escola?
O objetivo geral da pesquisa é compreender quais concepções professores de 5º Anos
do Ensino Fundamental Anos Iniciais, possuem em suas práticas pedagógicas sobre o Jornal na
Escola como recurso didático para explorar os gêneros textuais. Os objetivos específicos são,
investigar as estratégias didáticas que professores dos Anos Iniciais adotam para o
aprimoramento da leitura e escrita. Analisar os desafios e dificuldades que professores de 5º
Anos do Ensino Fundamental Anos Iniciais da cidade de Caldas Novas deparam ao explorar os
estudos com os gêneros textuais. Problematizar o trabalho com o jornal na escola no ensino de
leitura e escrita e perceber os desafios e possibilidades enfrentados pelos professores no uso
desse material.
O desenvolvimento da leitura e da escrita é um processo contínuo e árduo na vida dos
estudantes, professores são desafiados a criar estratégias que contribuam para o
aperfeiçoamento da linguagem falada e escrita. Então o jornal escolar desponta como um
recurso didático importante para trabalhar a diversidade de gêneros de textos que circulam na
sociedade.
Estudos apontam a importância de explorar a diversidade de gêneros textuais na prática
social da escrita. Autores como Antunes (2003), Marcuschi (2002, 2008), Rossi (2010), Faria
(2006), Bonini(2011), Kleiman(1995), provocam reflexões pertinentes sobre textos
descontextualizados da realidade do educando que apresentam pouca eficácia no
desenvolvimento da leitura e escrita. Ancorados em tais discussões os PCNs (1998, p.34) diz
que, “A diversidade textual que existe fora da escola deve estar a serviço da expansão do
conhecimento letrado do aluno”. A indicação do documento é que a diversidade de gêneros
textuais, tem que estar a favor da realidade do aluno, para que esse compreenda as funções
sociais que cada texto desempenha. Uma produção de um jornal oportuniza ao aluno ter voz,
criar, redigir, familiarizar com a leitura e escrita e ampliar maior contato com diferentes textos,
fazer uma leitura de mundo, dentro de suas realidades. Assim, aquele texto lido, estudado,
observado pelo aluno, o permite encorajá-lo para produzir seus próprios textos com segurança
para circular na sociedade com um objetivo específico, ou seja, com uma função social. Faria
(2006) enfatiza alguns pontos importantes na composição do jornal. Não sendo apenas uma
fonte de informação e comunicação, mas como um instrumento de reflexão e consequentemente
de debate, conceituando diferentes pontos de vista que são necessários para a formação de uma
sociedade democrática com princípios éticos e valores fundamentais, como o respeito ao
pluralismo de ideias. Ao pensar na formação integral do aluno, o jornal na escola pode
promover condições com maior criticidade no processo ensino aprendizagem.
Porém, estudar os gêneros textuais em sala de aula para professores de 5º Anos
do Ensino Fundamental Anos Iniciais, é um processo desafiador, pois classificar, estruturar
cada tipo de texto, requer estudos por parte dos professores e materiais de leitura diversos, além
do uso de estratégias que permitam o trabalho com a diversidade de gêneros de texto. Tal
desafio como salienta Rossi (2010), faz com que a diversidade de textos ainda circule
timidamente nos âmbitos escolares, a autora salienta que o trabalho com os gêneros textuais em
sala de aula, é aplicado de maneira eventual, sem uma regularidade substancial que promova
leitores por excelência e consequentemente uma escrita com maior qualidade.
Diante de tais estudos é que se propõe a presente pesquisa que investigará como vêm
sendo trabalhada a leitura e escrita em sala de aula, analisando os desafios enfrentados pelos
professores com a diversidade de gêneros textuais e quais concepções possuem sobre o jornal
na escola como estratégia de ensino para o aprimoramento da leitura e escrita.
O presente Projeto é de natureza qualitativa. A pesquisa de campo será desenvolvida nas
escolas municipais da cidade de Caldas Novas Goiás. Os sujeitos da pesquisa são docentes das
turmas de 5º Anos do Ensino Fundamental Anos Iniciais. O método de coleta de dados incluirá
a realização de questionários com perguntas abertas e entrevistas semiestruturadas com os
professores.

DESENVOLVIMENTO

Ao adentrar nos âmbitos escolares é comum deparar com gestores e professores com
dificuldades em formar alunos leitores e escritores, mesmo buscando compreender com trocas
de experiências profissionais, projetos, didáticas diferenciadas, plano de aulas consistentes,
ainda é possível perceber educadores frustrados com desempenhos de seus alunos na hora de
ler e produzir um texto.
Um dos papéis da escola é mediar o conhecimento com práticas de ensino aprendizagem
que provoquem habilidades e competências do educando para o uso da língua em gêneros, com
função social, com objetivos mais claramente definidos. Para Marcushi (2002 b, p29) “quando
dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de
realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares”. O autor
chama atenção para uso funcional e interativa dos gêneros, característico em cada momento do
indivíduo no seu contexto social. Dolz e Schneuwly (2004) defendem que para formar
verdadeiros leitores e escritores é necessário trabalhar a diversidade de gêneros, permitindo
assim, articular capacidades sócio discursivas e linguísticas, além da apropriação de diversas
práticas de letramento e aprendizado.
É importante salientar que dominar a comunicação social através dos gêneros textuais,
classifica o indivíduo a uma posição de vantagem para o mundo moderno e suas tecnologias.
Narrar, argumentar, relatar, expor, descrever, permite ao sujeito estar em harmonia com sua
realidade. Ainda de acordo com Antunes (2003), a linguagem para os alunos significa agir,
fazer, interferir no mundo, relacionar-se com as pessoas.
Para ir além do livro didático, professores e gestores podem promoverem a leitura e
escrita dos alunos através do trabalho com vários gêneros textuais na sala de aula com vistas a
contextualizar o conhecimento por meio de tais textos e da compreensão desses diferentes
gêneros e, assim, torná-los mais significativos, facilitando então a aprendizagem, o jornal é um
suporte de vários gêneros textuais e, por tanto, uma excelente ferramenta que pode ser utilizada
pelo docente no trabalho em sala de aula com os educandos.
Já com relação ao suporte jornal de gêneros textuais, Perles (s/d, p. 10) discorre:

[...] Estamos convencidos de que os gêneros frequentam as páginas do


jornal para cumprir funções, as quais consideramos como funções de noticiar,
interpretar, opinar, entreter, divulgar e persuadir. Vale ressaltar que
entendemos a existência das categorias dos gêneros do jornal a partir do fato
de que as mesmas cumprem uma função ao mesmo tempo em que atendem a
uma intenção do falante. Por exemplo: textos da categoria noticiar têm a
função de noticiar e a intenção de noticiar, permitindo ao falante, se desejar,
que faça uso ou opte pelo referido gênero.

Compreendendo a grandeza do suporte físico que o jornal impresso pode vincular dentro
de um contexto social familiar, escolar e alcançando outras esferas sociais, é compreensível
considerar que o Jornal na Escola é uma ferramenta adequada para desenvolver o trabalho com
os diversos gêneros textuais na escola de forma simultânea. Porém vivenciar na prática
pedagógica tais procedimentos e recursos citados, tanto educador e educando no âmago de cada
gênero, requer disposição para lidar com suas complexidades. A Base Nacional Comum
Curricular (2017), cita nas habilidades para 4º e 5º ano a produção do Jornal na Escola com
escrita colaborativa, distinguindo fatos de opiniões, produzindo notícias de fatos ocorridos na
escola, escrevendo textos publicitários, considerando a situação comunicativa, entre tantas
habilidades descritas no documento. Mas fatores recorrentes a realidade de muitas escolas
públicas do Brasil, faltam recursos para implementar uma prática pedagógica tão desafiadora
como a produção de um jornal.

CONCLUSÃO

Evidentemente como já supracitado, o Jornal na Escola necessita de um plano de aula


articulado com objetivos definidos e metas traçadas, que seja ao mesmo tempo flexível para
possíveis adaptações. Ponderando a dificuldade desafiadora de cada professor e aluno em
classificar os gêneros e suas características peculiares que não é uma tarefa fácil, segundo
Bronckart (1999), deve se, principalmente à existências de muitos critérios para definir um
gênero. Partindo de princípios pedagógicos norteadores que permitiram a evolução da leitura e
escrita aprimorada. Segundo Bonini (2011) o Jornal na Escola é uma metodologia que propõe
uma relação privilegiada e de muita importância social, a tecnologia de implementação
relativamente simples e às possibilidades de autoria e protagonismo que ele oferece a alunos,
professores e comunidade escolar, oportunizando viajar no universo de criação, emancipando
o saber, mas ainda é um recurso pouco implementado nas escolas de anos iniciais.
A presente pesquisa, permitirá um leque de reflexões sobre as concepções de ensino que
permeiam as aulas de Língua Portuguesa com enfoque no letramento, gêneros textuais
vinculados com o trabalho Jornal na Escola nas salas de aula.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro e interação. São Paulo: Parábola
Editorial, 2003.

BONINI, A. Jornal Escolar: Gêneros e Letramentos no Ensino aprendizagem de


Linguagem, Belo Horizonte: RBLA, v.11, n. 1, p 149. 175,2011
BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um
interacionismo sócio-discursivo-São Paulo; EDUC, 1999

DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. 3 ed. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2004

FARIA, Maria A. Como usar o jornal na sala de aula. 10ª Ed. São
Paulo: Contexto, 2006.

MARCUSCHI, L.A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade In: Dionísio A.


P., Machado, A. R. & BEZERRA, M. A. (Org.) Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro:
Lucena, 2002.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE LÍNGUA


PORTUGUESA,
Vol II, Primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental. Brasília/DF:
Ministério da educação/secretaria de educação fundamental/ Programa
Fundescola, 1998.

PERLES, João Batista. O gênero textual no suporte jornal: controvérsias e proposta.


s/d. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/perles-joao-genero-textual.pdf>. Acesso em:
16 de setembro de 2019

ROSSI, Maria Aparecida L. Leitura: prática reflexiva e fórmulas cristalizadas. Em:


Revista Presença Pedagógica. V.15, N 87, 2009.
________O Processo de Escolarização dos Diferentes Gêneros Textuais Observado nas
Práticas de Ensino de Leitura. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de Brasília,
Programa de Pós-Graduação em Educação, 2010

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