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Doenças reumatológicas e

ósseas
N U T R IÇ ÃO C L ÍN IC A 2
Profª Gleyce Araújo
Definições
“Diversas enfermidades que acometem o sistema locomotor,
englobando ossos, articulações, músculos, tendões, ligamentos, tecido
conjuntivo de sustentação e diversos órgãos”

Característica comum: DOR (caráter crônico) e a incapacidade progressiva


ósteo-músculo-articular;

Incluem > 100 diferentes manifestações inflamatórias;


Definições
Não há causa identificável ou cura conhecida → acredita-se que tenha
componente autoimune.

Tratamento Farmacológico
Papel importante no
Fisioterapia manejo dos sintomas
Tratamento Nutricional
Fatores associados
Lesões articulares repetitivas
Fraqueza de cartilagem (genético)
História familiar
Sexo (Feminino) Prevalência: 0,5 -1%
população
Idade (30 – 50 anos)
Brasil: 0,2 -1% população
Esclerodermia
Doença autoimune que acomete pele e órgãos internos.
Caracterizada pelo enrijecimento da pele, fibrose de tecidos e depósito
de cálcio nas articulações
Quando se manifesta de forma global no corpo, chama-se esclerose
sistêmica

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Objetivos da Terapia Nutricional na
Esclerodermia
Garantir suporte nutricional adequado
Atenuar o comprometimento gastrointestinal
Reverter desnutrição causada pela doença

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Orientações nutricionais –
esclerodermia
O baixo peso é uma condição comum nos pacientes com
esclerodermia
Atenção à necessidade de suplementação em alguns
pacientes
A atrofia da musculatura lisa e fibrose da parede intestinal
levam o paciente a manifestações como disfagia, doença do
refluxo gastroesofágico, gastroparesia, constipação e diarreia

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Disfagia e esclerodermia
Comer e mastigar devagar
Fracionar melhor a dieta
Preferir alimentos gelados para facilitar a deglutição
Consumir alimentos de consistência macia
Acompanhamento fonoaudiológico é fundamental

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Refluxo gastroesofágico e
esclerodermia evitar:
Álcool e bebidas gaseificadas
Chocolates e derivados
Alimentos que contenham cafeína
Pimenta, laranja, tangerina, limão
Queijos fermentados, vinho e vinagre
Alimentos ricos em fibras
Cebola e alho
OBSERVAR TOLERÂNCIA DO PACIENTE

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Estenose esofágica e esclerodermia
Preferir
Alimentos líquidos/semissólidos
Alimentos de textura cremosa
Mastigar lentamente
Manter um bom consumo hídrico
Evitar
Alimentos secos
Alimentos ricos em fibras
Comidas apimentadas e sal em excesso

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Artrite reumatóide
“É uma doença inflamatória crônica e autoimune, de caráter
debilitante e, frequentemente, incapacitante”

Qualquer articulação pode ser afetada → + comuns pequenas


articulações das extremidades (interfalângicas das mãos e pés)
Artrite reumatóide
AR → compromete tecidos intersticiais, vasos sanguíneos, cartilagem, osso,
tendões, ligamentos e membrana sinoviais.
Artrite reumatóide
• Sinais e Sintomas:
• Calor
• Inchaço
• Vermelhidão
• Dor
• Rigidez
• Perda da função
• Perda óssea generalizada
Artrite reumatoide
• Tratamento Nutricional:

• Recomendação energética → Estado Nutricional

↓ ingestão ESTIMATIVA DE CALORIAS


Perda de peso 20 – 25
Terapia Nutricional Manutenção de peso 25 – 30
Ganho de peso 30 – 35
MARTINS, 2000.
Tratamento – artrite reumatóide
• Controle da dor com
análgésicos e
antiinflamatórios não
esteróides (AINs)
• Glicocorticóides em
baixas doses
• Drogas antirreumáticas
• Terapia biológica (inibiores
do TNF-‐alfa)
• Drogas imunossupressoras
• DIETA
Tratamento – artrite reumatóide
• Energia adequada para manter peso desejável.
• Proteína pode-‐se utilizar 1,5-‐2,0 g/kg/dia
• Alimentos com nutrientes antiinflamatórios/
antioxidantes: Vitamina C (pimentão vermelho e
amarelo, tomate, acerola, caju, laranja, limão);
Vitamina E (gérmen de trigo, amêndoa, castanha--
‐do-‐Pará, abacate); ômega-‐3 (sardinha, atum,
salmão, cavala, óleo de fígado de bacalhau, espinafre,
Couve);
• Em caso de uso constante de corticóides: alimentos
ricos em cálcio (leite e derivados, ovos, brócolis,
couve-‐flor) e Vitamina D (peixes, fígado de galinha,
camarão, creme de leite, manteiga);
• Gengibre como antiinflamatório
Tratamento - artrite reumatóide
CLÍNICO NUTRICIONAL
• Terapia medicamentosa (AINs,
corticosteroides e analgésicos) • Dieta para perda ou
• Alterações estilo vida (Exercício, manutenção de
peso
controle peso, repouso das
• Utilização AG ômega-‐3
articulações)
• Ingestão adequada Ca e vit. D
Recomendações nutricionais em
osteoartrite e artrite
Calorias Dieta hipocalórica em casos de sobrepeso e
obesidade
Dieta Hipercalórica em casos de desnutrição
Proteínas Dieta normo a hiperprotéica
Cálcio e vitamina D Ingestão principalmente em caso de uso de
corticóides
Isotiocianatos ( crucíferas) Consumir esses antioxidantes

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Recomendações nutricionais em
artrite
Antioxidantes Vitamina C, Vitamina E, cobre, zinco, selênio,
magnésio
Peixes Consumo até 3x por semana
Flavonóides Berrys, chás, especiarias, cacau, vegetais
Ômega 3 Linhaça, chia, algas, peixes
Demais alimentos Consumir diariamente canela, açafrão,
gengibre e cacau

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Recomendações nutricionais em
artrite
Evitar consumir alimentos ricos em gordura saturada
Evitar excessos de gorduras vegetais ( óleos refinados)
Evitar alimentos ricos em sódio ou excesso de consumo de sal na refeição,
principalmente se o paciente faz uso de corticóides
Evitar chá preto, refrigerantes à base de cola, café
Evitar alimentos com potencial inflamatório (carne bovina e suína, ovos, soja,
glúten, milho)**

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Suplementos nutricionais em artrite
Ômega 3 Redução de articulações edemaciadas e
dolorosas, melhora da rigidez matinal
Vitamina E e Ácido linoléico Melhora da atividade da doença, dor e rigidez
conjugado ( CLA) matinal, diminuição da VHS

Piridoxina + folato Reduz citocinas inflamatórias ( IL6, TNF A)


Selênio Reduz sintomas articulares
Mix de antioxidantes: tocoferol, Melhora níveis séricos de antioxidantes,
licopeno, carotenóide, luteína reduz dor e edema articular

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Suplementos nutricionais em artrite
Polifenóis Aumento das citocinas antinflamatória e da
capacidade antioxidante, melhora anabolismo
celular na sinóvia
Probióticos Aumento da capacidade antioxidante
Vitaminas C, E, D, K Aumento da capacidade antioxidante
Bromelina Efeito antioxidante e analgésico
Glucosaminoglicanos, Melhora a função e dor articular
glucosamina, ácido hialurônico, Regula processos anabólicos de cartilagem e
condoitrina líquido sinovial

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Caso clínico - Artrite reumatóide
• M.S.B.S., 69 anos, feminino, diagnosticada com artrite reumatóide há 3
anos, além de esteatose hepática. Foi encaminhada para o nutricionista,
após uma consulta com seu médico reumatologista. A paciente já realiza
acompanhamento para os aspectos ósseos, porém, nos últimos meses,
vem intensificando as dores, e consequentemente, as dosagens de
antinflamatórios. Para minimizar isso, seu médico sugeriu aconselhamento
nutricional imediato. Sedentária, só realiza atividades diárias básicas, e
evita sair sozinha por medo de cair.
• Atualmente faz uso de suplemento de cálcio (1000 mg) e vitamina D3 (4000
UI).
Caso clínico - Artrite reumatóide
• Peso atual: 70 Kg
• Altura: 1,63 m
• IMC: 26,3 Kg/m²

• Classificação do IMC: EUTROFIA ( paciente idosa) 22 a 27 Kg/m²


Caso clínico - Artrite reumatóide
• Recomendações nutricionais:
Calorias: 25 a 30 Kcal/Kg = dieta para manutenção de peso
25 x 70 = 1750 Kcal

Proteínas: 1,5 a 2,0 g/Kg/dia


1,5 x 70 = 105 gramas de proteínas/dia

Lipídeos e carboidratos = recomendação geral: 25 a 30% de lip/ 45 a 60%


de CHO
Quais alimentos inserir no cardápio
dessa paciente?
Quais alimentos inserir no cardápio
dessa paciente?
Considerações sobre os
suplementos:
Quantidade de alimentos fontes no cardápio?

Qualidade nutricional dos alimentos que ingere?

Os exames bioquímicos indicam deficiência dos nutrientes?


Osteoporose
Perda de massa óssea a partir dos 30-40 anos, no caso das mulheres a perda é mais
acentuada após a menopausa (pela diminuição no nível de estrógenos, principal
hormônio regulador do metabolismo ósseo e cálcio)
Ossos se tornam facilmente fraturáveis
CONDUTA NUTRICIONAL:
Ingestão adequada de cálcio e vitamina D
Exposição ao sol
Limitar a ingestão de cafeína e refrigerante a base de cola
Reposição hormonal
Objetivos da terapia nutricional na
osteoporose
Fornecer alimentos fontes de nutrientes que agem no aumento da massa óssea
Suprir necessidades diárias de macro e micronutrientes envolvidos na saúde
óssea, sobretudo proteínas, cálcio e vitamina D.
Aspectos nutricionais
Dietas restritas em calorias e perda de peso podem gerar
redução da massa óssea, devido a redução da ingestão
dietética, além de processos inflamatórios associados
Proteínas: 1 a 1,5 g/Kg/dia
Idosos: 1 a 1,2 g/Kg/dia

Não há recomendação específica de lipídeos e carboidratos,


considerar recomendação conforme DRI.
Suplementação de cálcio e vit D em
osteoporose
AMERICAN GERIATRICS SOCIETY CONSENSUS STATEMENT – 2014 –
1000 a 1200 mg de cálcio e no mínimo 1000 UI de vitamina D

NATIONAL OSTEOPOROSIS FOUNDATION (2014)


NIH CONSENSUS DEVELOPMENT PANEL IN OSTEOPOROSIS (2001)
KOREAN SOCIETY OF BONE AND MINERAL RESEARCH (2015)
CONSENSO BRASILEIRO DE OSTEOPOROSE (2002)

ORIENTAÇÃO: SUPLEMENTAR APENAS


QUANDO O CONSUMO FOR INSUFICIENTE
Gota úrica
“Distúrbio no metabolismo das purinas, caracterizado por hiperuricemia
crônica* e ataques de artrite aguda”

Secundária a depósitos de cristais de urato

Sintomas tem início súbito → dor local intensa, rubor e edema


relevante. Início no hálux e avança para perna.

> prevalência no sexo masculino e após 3ª década de vida.


História familiar
*Homens > 7 mg/dL e Mulheres > 6 mg/dL
Gota úrica
◦ Os depósitos de urato destroem tecidos articulares (sintomas crônicos de
artrite)
◦ Tofos gotosos no tecido subcutâneo
Fatores associados:
Fatores genéticos
Obesidade
Resistência insulínica
Uso abusivo de álcool
Perda de peso rápida
Acometimento após 35 anos de idade,
predominantemente no sexo masculino
(20:1)
1/3 ÁCIDO ÚRICO PROVÉM DA ALIMENTAÇÃO
E O RESTANTE DA PRODUÇÃO ENDÓGENA
HEPÁTICA
Obesidade e gota

OBESIDADE
RESISTÊNCIA ÀINSULINA GOTA
DISLIPIDEMIA
ÁLCOOL

❑❑ Redução na excreção urinária de ácido úrico


❑❑ Reversível com a perda de peso
Resistência à insulina e gota

OBESIDADE
RESISTÊNCIA À
INSULINA DISLIPIDEMIA
GOTA
ÁLCOOL

❑❑ Maior reabsorção tubular renal de ácido úrico


Dislipidemia e gota

OBESIDADE
RESISTÊNCIA ÀINSULINA
GOTA
DISLIPIDEMIA
ÁLCOOL

❑❑ Maior síntese de ácido úrico a partir acetato orindoda


quebra dos triglicerídeos
Álcool e gota

OBESIDADE
RESISTÊNCIA ÀINSULINA GOTA
DISLIPIDEMIA
ÁLCOOL

❑❑ Promove conversão do piruvato em lactato → promove reabsorção urato no túbulo


proximal
❑❑ Aumenta degradação ATPno hepatócito, ou seja, estimula a produção de purinas no
fígado, consequentemente, aumentando a produção de ácido úrico
❑❑ A cerveja, em particular, apresenta grande quantidade de purinas
Gota úrica
Nefrolitíase x Gota:
◦ Hiperuricemia → formação de cálculos renais

Perda de peso excessiva e dietas hipocalóricas x Gota:


◦ Dietas ↓↓↓ calórica e PP rápida → hipercatabolismo proteíco → crises de gota

Álcool x Gota:
◦ Metabolismo do etanol → estimula produção hepática (→ ác. úrico)
Terapia Nutricional na Gota
❑❑ Reduzir a dor associada com crises agudas
❑❑ Prevenir crises futuras
❑❑ Evitar a formação novos tofos e nefrolitíase
❑❑ Tratamento primário -‐farmacológico

ANALGÉSICOS HIPOURECEMIANTES

ANTIINFLAMATÓRIOS CORTICOSTERÓIDES

❑❑ Adesão diretrizes nutricionais


Terapia Nutricional na Gota
◦ Restrição do consumo de bebidas alcoólicas
◦ Evitar consumo em excesso de alimentos ricos em purinas
◦ Controle rigoroso do peso (dieta balanceada), com perda de peso
sustentável

◦ Ingestão elevada de Líquidos → Evitar Nefrolitíase


(mínimo 3 litros/dia ou 8 a 16 copos/dia)
Lúpus eritematoso Sistêmico - LES
“É uma doença autoimune, crônica, inflamatória, de
etiologia desconhecida e que afeta múltiplos órgãos
com sintomas localizados ou sistêmicos

Sintomas + comuns: fadiga extrema, articulações


dolorosas ou inchadas, febre, erupções cutâneas,
úlceras na boca e problemas renais.
LES
Classificação:

◦ Cutâneo: Manchas na pele (avermelhadas)


(áreas expostas a luz solar: braços, rosto, orelha e colo)
◦ Sistêmico: afeta diferentes órgãos
LES
Fisiopatologia:
Fatores
Fatores Genéticos Fatores Ambientais
Hormonais

Desequilíbrio na produção de anticorpos


Reagem contra as proteínas do próprio
organismo

Inflamação em diferentes órgãos


Pele, mucosa, pulmões, rins, articulações
Tratamento
Controle sintomático da
atividade lúpica

Prevenir ou reduzir
complicações

Aumentar sobrevida do
paciente

USO PROTETOR SOLAR

ANTINFLAMATÓRIOS NÃO ESTERÓIDES

CORTICOSTERÓIDES

IMUNOSSUPRESSORES
Tratamento clínico da LES
◦ Medicamentos: Corticosteróides, AINE, Imunossupressores.

AFETAM O METABOLISMO, AS NECESSIDADES E A EXCREÇÃO


DE NUTRIENTES
USO PROLONGADO
CORTICOIDES PODE
DESENCADEAR A
SINDROME DE
CUSHING
Observar:

① Hipercatabolismo proteico
② Obesidade/Hiperfagia
③ Diabetes mellitus
④ Hipertensão Arterial
⑤ Anemia
⑥ Doença óssea
Condutas nutricionais no LES
OBJETIVO: melhorar a qualidade de vida dos pacientes,
reduzir o risco de doença cardiovascular e aterosclerótica e
melhorar os fatores inflamatórios e função imunológica, e
reduzir complicações do tratamento medicamentoso.

Dieta hipocalórica
Dieta normoprotéica
Ômega 3 e antioxidantes como vitaminas A, C, E, B6, B12, B9,
Zinco, Selênio, Ferro e Cobre

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Condutas nutricionais no LES
•Estímulo aos alimentos fontes de ômega 3
•Fibras – 20 a 30 gramas ao dia
•Exposição solar pela manhã ( estímulo de produção de
vitamina D, e melhora de absorção de cálcio)

•Evitar: alimentos ricos em ômega 6, como óleos vegetais (


aumentam mediadores inflamatórios), evitar gorduras
saturadas e trans, alimentos ricos em sódio

OLIVEIRA E SILVA, 2018


Cuidado nutricional no LES

❑❑CONTROLE DA INGESTÃO CALÓRICA


❑❑CONTROLE NA INGESTÃO LIPÍDIOS
❑❑CONTROLE NA INGESTÃO CARBOIDRATOS
Observar qualidade dos alimentos oferecidos
Dietoterapia - LES

❑VITAMINAS E MINERAIS (PRINC. ANTIOXIDANTES)

❑❑ÁCIDOS GRAXOS MONO/POLI-‐INSATURADOS


❑❑MODERADO CONSUMO ENERGÉTICO

REDUÇÃO MARCADORES
INFLAMATÓRIOS E AUXÍLIO NO
TRATAMENTO DAS COMORBIDADES E
DAS REAÇÕES ADVERSAS AOS
MEDICAMENTOS.
Referências
SILVA, Sandra. Tratado de Alimentação, Nutrição e Dietoterapia. 1ª ed. São Paulo: Roca,
2007.

MAHAN, Kathleen; ESCOTT-STUMP, Sylvia. Krause: Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13ª


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.

OLIVEIRA E SILVA. Dietoterapia nas doenças do adulto. Rio de Janeiro: Editora Rubio, 2018.

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