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Direitos Humanos 4
Direitos Humanos 4
DIREITOS HUMANOS
UNIDADE 4
INTRODUÇÃO
Esta unidade contempla o estudo dos direitos fundamentais e sua relação com os direi-
tos humanos, buscando estabelecer uma conexão entre aquilo que se diz fundamental
e aquilo que se diz humano. Existe muita confusão entre os conceitos, embora sejam
distintos e, simultaneamente, tratem daquilo que é essencial e busquem um desiderato
comum, qual seja, a dignidade da pessoa humana. Assim, se você se depara com uma
pessoa em situação de rua que passa fome, saiba que essa pessoa está sendo
violada nos direitos fundamentais e também nos direitos humanos. A presente uni-
dade, então, se propõe a elucidar essa temática tão importante na vida do homem,
na condição de ser humano.
Direitos do homem são, basicamente, os direitos naturais, biológicos, que todos os seres
humanos possuem. Eles independem de positivação, embora, em geral, estejam positivados.
Aqui temos valores inerentes à dignidade humana, que asseguram condições mínimas de
existência, independentemente de raça, cor, credo, opinião política.
EXEMPLO
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U4 Direitos Humanos
Os direitos humanos, por sua vez, são aqueles universalmente conquistados e aceitos
pelos povos daquela época, com previsão expressa na ordem internacional. Consti-
tuem, segundo Peres Luño (2003, p. 48, tradução nossa ),
um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico,
concretizam as exigências da dignidade, liberdade e igualdade humanas, as
quais devem ser reconhecidas pelos Direitos de cada país em nível nacional
e internacional.
É importante frisar que os direitos humanos são aqueles positivados na ordem interna-
cional, ou seja, nas relações do país com os outros países, o que se faz, principalmente,
mediante a celebração de tratados e convenções internacionais.
Até a Primeira Guerra Mundial, esse direito previsto na órbita internacional era denomi-
nado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. A partir de 1946, passou-se a
encarar os direitos humanos também sob a ótica do Direito Humanitário, garantindo
os direitos humanos e a dignidade das populações dos países em conflito, limitando a
atuação do Estado perante o indivíduo. Assim, ficariam proibidos o confinamento de
pessoas para trabalhos forçados, o assassinato ou os maus-tratos de prisioneiros, a
pilhagem ou saque, a destruição de cidade sem necessidade militar e o assassinato
de reféns. Ocorre que, até então, não havia nenhum sistema internacional de proteção dos
direitos humanos, ou seja, em havendo violação dos direitos perante algum país, não havia
qualquer órgão internacional que pudesse receber a reclamação quanto a essa violação.
Após a Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das Nações Unidas
(ONU), formou-se um sistema de proteção dos direitos humanos pela Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos (1948 ). A partir de então, a ênfase dos Direitos Humanos
tem se concentrado nos direitos dos refugiados, pessoas em deslocamento forçado en-
tre países, que sofrem agressões generalizadas ou violação dos direitos humanos, tute-
lando o indivíduo desde a saída de seu território até o término da concessão do refúgio.
O aspecto temporal é um traço marcante dos direitos humanos, uma vez que eles foram
sendo incorporados com características diversas, conforme a época de um povo. Isso é
o que se denomina de historicidade e marca, isto é, ao mesmo tempo, a existência de
gerações e/ou as dimensões desses direitos.
01. Primeira geração: relaciona-se com os direitos que imprimem uma atuação negativa do
Estado (não fazer), que corresponderia ao ideal de liberdade da Revolução Francesa.
02. Segunda geração: alcança os direitos que exigem uma atuação positiva do Estado,
tendo em vista igualar as condições materiais dos indivíduos.
04. Quarta geração: está ligada à ideia de globalização dos direitos humanos e se encontra
em evolução, pois corresponde aos novos direitos, que surgem como decorrência, dentre
outras razões, da evolução tecnológica.
A partir do artigo 5º, a Constituição assegura um vasto rol de direitos, como o direito
EXEMPLO
à vida (art. 5º, caput), direito de manifestar livremente o pensamento (art. 5º, IV),
direito à liberdade de religião (art. 5º, VI), direito à informação (art. 5º, XIV), à li-
berdade de locomoção (art. 5º, XV), o direito de reunião (art. 5º, XVI), entre outros.
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Essa é uma das razões pelas quais a nossa Constituição é denominada de “Consti-
tuição Cidadã”, em homenagem à relevância do tema da proteção dos direitos do ser
humano na nossa atual Constituição. Nesse sentido, dizia o então presidente da Assem-
bleia Constituinte, senhor Ulisses Guimarães, quando da elaboração da Constituição:
A Constituição é caracteristicamente o estatuto do homem. É sua marca
de fábrica. O inimigo mortal do homem é a miséria. O estado de direito,
consectário da igualdade, não pode conviver com estado de miséria. Mais
miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a misé-
ria. Tipograficamente é hierarquizada a precedência e a preeminência do
homem, colocando-o no umbral da Constituição e catalogando-lhe o número
não superado, só no art. 5º, de 77 incisos e 104 dispositivos. Não lhe bas-
tou, porém, defendê-los contra os abusos originários do Estado e de outras
procedências. Introduziu o homem no Estado, fazendo-o credor de direitos
e serviços, cobráveis inclusive com o mandado de injunção. Tem substância
popular e cristã o título que a consagra: “a Constituição cidadã”. (GUIMA-
RÃES, 1988, p. 14.380)
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/plenario/discursos/escrevendohisto-
ria/25-anos-da-constituicao-de-1988/constituinte-1987-1988/pdf/Ulysses%20Guima-
raes%20-%20DISCURSO%20%20REVISADO.pdf. Acesso em: 9 nov. 2021.
Entretanto, o fato de ter o direito não significa que esse direito não poderá sofrer abusos
ou violações pelo próprio Estado, ou até mesmo por outros indivíduos da sociedade.
Assim, pensando nas possíveis violações, o legislador previu instrumentos ou mecanis-
mos de proteção dos direitos contra abusos. São as denominadas garantias fundamen-
tais ou os denominados remédios constitucionais.
direito de andar livremente pela sua cidade, ir para o trabalho, ir para a academia, ir
ao cinema etc. (liberdade de locomoção – artigo 5º, XV, da Constituição). Certo dia,
no caminho do trabalho, você foi surpreendido com uma blitz policial que, de forma
inesperada, o conduziu à prisão. O que fazer? É exatamente para isso que servem as
garantias. Nesse caso, o habeas corpus (artigo 5º, LXVIII, Constituição) é a garantia
que assegura a sua liberdade pelo juiz se verificado o abuso do encarceramento.
Entretanto, o fato de ter o direito não significa que esse direito não poderá sofrer abusos
ou violações pelo próprio Estado, ou até mesmo por outros indivíduos da sociedade.
Assim, pensando nas possíveis violações, o legislador previu instrumentos ou mecanis-
mos de proteção dos direitos contra abusos. São as denominadas garantias fundamen-
tais ou os denominados remédios constitucionais.
INTERNOS CONSTITUIÇÃO
''CIDADÃ''
DIREITOS FUNDAMENTAIS CONSTITUIÇÃO DO PAÍS BRASIL (ART. 5°, CF/88) CLÁUSULA PÉTREA
PROTEÇÃO DO
CIDADÃO CONTRA
PROTEÇÃO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
ABUSOS DO ESTADO
INTERNACIONAIS
DIREITOS DIREITOS HUMANOS TRATADOS E CONVENÇÕES
DIREITOS DO HOMEM
FASES DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
DIREITO HUMANITÁRIO
1ª GERAÇÃO (LIBERDADE)
2ª GERAÇÃO (IGUALDADE)
GERAÇÕES
3ª GERAÇÃO (FRATERNIDADE)
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“A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos se-
guintes princípios: [...] II - prevalência dos direitos humanos [...]”.
01. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2007);
São, portanto, tratados de direitos humanos (internacionais) que entram no Brasil e aqui
são incorporados com força de direitos fundamentais (internos). Nesse momento, há
uma verdadeira simbiose entre direitos humanos e fundamentais nesse ponto.
IMPORTANTE
É importante destacar que, caso os tratados internacionais não sejam aprovados com a
votação qualificada de 2 turnos em cada Casa por 3/5 dos votos dos deputados e sena-
dores, eles então terão força supralegal. Isso significa que, embora não possuam
força constitucional, são capazes de revogar a lei que esteja em sentido contrário
à sua determinação.
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U4 Direitos Humanos
O mesmo ocorre em relação aos tratados de direitos humanos que, embora sejam
respeitados externamente, não são compridos internamente. A ideia de prevalência dos
direitos humanos (artigo 4º, II, da Constituição), deve ocorrer externa e internamente,
em homenagem ao princípio da coerência do Estado.
Segundo Lênio Streck (2011, p. 69), o direito é um saber prático e uma das principais
tarefas é a sua concretização:
Numa palavra: se o direito é um saber prático, a tarefa de qualquer teoria
jurídica é buscar as condições para: a) a concretização de direitos – afinal, a
Constituição (ainda) constitui – e, b) ao mesmo tempo, evitar decisionismos,
arbitrariedades e discricionariedades (espécies do mesmo gênero, o positi-
vismo) interpretativas.
A nossa Constituição não pode ser uma simples “folha de papel”, ela deve ser realizada
na sociedade e ter força suficiente para sua efetivação. Entretanto, o grande desafio
das democracias atuais, no Brasil e no mundo, é o déficit de concretização dos direitos
humanos. O primeiro passo para isso é a sua ratificação internacional. O segundo, a
sua incorporação, positivando o direito na sociedade brasileira. O terceiro passo, o mais
difícil, é a sua concretização.
É difícil porque, até hoje, temos a existência de crimes graves como o tráfico de pesso-
as, o trabalho escravo, o trabalho infantil, a pedofilia, a tortura, além de episódios vexa-
tórios de violência doméstica e outras violências motivadas por discriminações em ra-
zão de orientação sexual, gênero, etnia, idade ou crença religiosa. Bobbio (2004, p. 25)
já alertava para esse fenômeno mundial da falta de efetividade dos direitos humanos:
[...] o problema que temos diante de nós não é filosófico, mas jurídico e,
num sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais e quantos
são esses direitos, qual é sua natureza e seu fundamento, se são direitos
naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais
seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações,
eles sejam continuamente violados.
A concretização dos direitos humanos fundamentais exige uma postura mais humaniza-
da dos profissionais do direito. Isso ocorre por uma formação que fomente a empatia,
a sensibilidade, a compaixão. São direitos que transcendem o espaço de um país, com
pautas comuns entre os países, e valores muitas vezes universais num determinado
momento histórico da sociedade, que exigem a consciência para a concretização.
Assim, se, por exemplo, tivermos externamente um tratado internacional assinado pelo
Brasil, cuja promessa seja coibir o racismo e a discriminação, e se considerarmos que
esse tratado seja incorporado na sociedade brasileira, então todas as políticas internas
deverão caminhar para efetivar as medidas necessárias para tanto. Além disso, quando
os dados estatísticos não mais apontarem o analfabetismo, a violência e a exclusão do
mercado de trabalho dos negros em número consideravelmente superior aos brancos,
então haverá efetivação desses direitos humanos. E muitos são os direitos humanos a
serem trilhados pela efetivação.
Lutar pela efetividade dos direitos humanos é lutar pelo respeito à dignidade das pesso-
as. Uma luta de todos os cidadãos, da sociedade e do Estado, que, por intermédio dos
três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) deverá buscar a realização de uma
sociedade mais livre, justa e solidária, demonstra a coerência daquilo que se promete
no plano internacional em relação àquilo que se realiza no plano interno.
Link
Site do Senado Federal. Promulgação da Constituição Federal de 1988. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=_WCPIr1Ff0U. Acesso em: 9 nov. 2021.
Filme ou documentários:
O protagonista é um negro livre. Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra cida-
de, ele é sequestrado e acorrentado. Vendido como se fosse um escravo, precisa superar
humilhações físicas e emocionais para sobreviver. Ao longo de 12 anos, ele passa por dois
senhores, que exploram seus serviços.
Texto complementar
Artigo “Direitos Humanos Fundamentais e Dignidade da Pessoa Humana: evolução e efetivi-
dade no estado Democrático de direito”.
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/1687/1605. Acesso
em: 9 nov. 2021
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U4 Direitos Humanos
Casos de aplicação:
A cantora passou por uma mudança de vida após ter a sua curatela (responsabilidade fi-
nanceira e pessoal) transferida para seu pai, Jamie Spears em 2008. Ocorre que até o fim
dessa condição, que aconteceu em 2021,a cantora não aparentava qualquer indício que
demandasse a referida curatela, razão pela qual entre os fãs surgiu um movimento chama-
do de #FREEBRITNEY, que tinha por finalidade garantir a autonomia da cantora e o fim do
instrumento. À propósito, o artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948
declara que ninguém deve sofrer interferências em sua vida privada, em sua família, em seu
lar ou em suas correspondências.
Entretanto, a cantora durante 13 anos passou por situações que interferiam diretamente na
sua liberdade e na sua privacidade, tendo havido ingerência, inclusive, na sua escolha em
ser mãe novamente. Se não bastasse a violência à pessoa humana, ainda podemos assi-
nalar que a cantora foi violada na condição de mulher, o que configura, evidentemente, um
agravante. Se Britney fosse brasileira, o raciocínio seria exatamente o mesmo no tocante
dos direitos humanos, que são normas de proteção internacional. Além disso, teria ainda as
proteções da Constituição Federal e das leis em vigor, como o caso do Código Civil.
https://variety.com/2021/music/news/britney-spears-full-statement-conservator-
ship-1235003940/. Acesso em: 01 nov. 2021.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PERES LUÑO, A. Derechos humanos, estado de derecho y constitucion. Madrid: Tecnos, 2003.
SARLET, I. W.; MARINONI, L. G.; MITIDIERO, D. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2012.
STRECK, Lenio Luiz. Verdade e consenso: constituição, hermenêutica e teorias discursivas. 4 ed. São
Paulo: Saraiva, 2011.
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EDUCANDO PARA A PAZ