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TRATAMENTO DE FENO DE BAIXA QUALIDADE COM UREIA

Elir de Oliveira1

Objetivo
Elevar a qualidade bromatológica de feno de gramíneas forrageiras como gramas Tifton,
Coastcross, Estrela, capins do gênero Urochloa (braquiárias) e Megathyrsum (panicum), aveias,
trigo afetado por geadas e outros materiais contendo alto teor de fibra, baixa digestibilidade e
baixo teor de proteína bruta devido a corte tardio ou material prejudicado pelas chuvas durante
a cura do feno.
Melhorar a qualidade de alimentos conservados como volumoso para uso em épocas
críticas.
Vantagens
• Melhorar a digestibilidade com a diminuição dos teores de FDN e FDA;
• Aumento do consumo voluntário do material;
• Aumento do teor de proteína bruta;
• Melhorar a condição sanitária do material com a eliminação de microrganismo
indesejáveis, principalmente de Aspergillus glaucus e Aspergillus fumigatus;
• Dependendo das condições do material primário, qualidade do armazenamento, é possível
elevar o teor de proteína bruta e a digestibilidade em torno de 5% a 15%.
Processo
A ureia (NH2CONH2), com a presença de água, sofre a ação da enzima urease, cuja reação
gera duas moléculas de amônia e uma de gás carbônico (2NH3 + CO2). A amônia liberada atua
na diminuição da resistência da membrana celular, promove a quebra das ligações celulósicas
que, com o rompimento das pontes de hidrogênio, permite maior hidratação da fibra, favorece
a expansão das moléculas de celulose e a entrada dos microrganismos ruminais, o que resulta
em aumento da digestibilidade do material (DAMASCENO et al., 1994; DOLBERG, 1992; Van
SOEST et al., 1984; BERGER et al, 1994; REIS et al., 2001).
Dosagem

1
Pesquisador (Voluntário), MSc. e Dr./IDR - Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IAPAR/EMATER
Área de Zootecnia – PPC/ILPF – Fazenda Modelo. E-mail: eolivei@idr.pr.gov.br
Utilizar ureia a 3-4%, ou seja, 3 a 7 kg de ureia para cada 100 kg de feno. Usar a dosagem
maior para materiais mais fibrosos como feno passado de capins pós-florescimento ou de trigo
na fase reprodutiva com perdas na produção de grãos de qualidade ocasionadas por geadas.
Como preparar
• Adicionar ureia na água na proporção de 1,0 kg do fertilizante para cada 3-4 litros de
água. Misturar bem o produto até a máxima diluição dos grânulos de ureia;
• Utilizar lona de 200 micra, sem perfurações. Estender a lona em terreno plano e
uniforme. A lona deve ter tamanho suficiente para cobrir totalmente a pilha de fardos de
feno;
• Após estender a lona, colocar a primeira fiada de fardos de feno. Em seguida, utilizar um
regador ou pulverizador, aplicar a emulsão (mistura de ureia + água) uniformemente
sobre a fiada. Colocar a segunda fiada de feno e repetir a operação de aplicação da
emulsão. Assim, consecutivamente até atingir a altura que permita a perfeita cobertura
da pilha de feno, de forma hermeticamente fechada.
• A água, além da facilitar a produção do gás de amônia, funciona como veículo na
distribuição da ureia. É importante manter o equivalente quantidade de ureia para cada
100 kg de feno, conforme recomendado.
• Nas dobras e finalizações da lona, colocar pesos (sacos de areia, palanques etc) visando
impedir o escape do gás de amônia e também para evitar danos causados por ventos
fortes.
Tempo de fedação das pilhas de feno com lona
As pilhas de feno devem ser mantidas vedadas, hermeticamente fechadas, por 21 dias,
no mínimo, ou 35 dias para feno proveniente de plantas envelhecidas. Esse tempo é necessário
para que o gás amônia atue no material e promova os resultados esperados.
Após esse período, as pilhas de fardo podem ser descobertas, de preferência em dia
ensolarado. Ter o cuidado para não inalar/aspirar o gás amônia proveniente do interior das
pilhas. Como os fardos apresentarão excesso de umidade, é conveniente deixar secar ao sol.
Após a evaporação do excesso de umidade sobre os fardos, os mesmos deverão ser
guardados em local coberto para posterior fornecimento aos animais. Sem necessidade de
período de carência, após a secagem, o fornecimento aos animais pode ser imediato.
Dependendo da necessidade de suplementação com volumoso, o feno pode ser fornecido de
1% a 2% do peso vivo animal.
Sugestão de Literatura
BERGER, L. L.; FAHEY JÚNIORR., G. C.; BOURQUIM, L. O. Modification of forage quality after harvest. In:
FAHEY, J. R.; GEORGE, C. (Eds.). Forage quality, evaluation e utilization. Madison: American Society of
Agronomy, 1994. p.922-966.
DAMASCENO, J. C.; PRATES, E. R.; SILVA, C.S.; PIRES, F.F.; CURY, P.R. Efeito de níveis e formas de aplicação
de ureia sobre a qualidade da palha de trigo. Revista Unimar, Maringá, v.16, n.1, p.137-147, 1994.
DOLBERG, F. Progressos na utilização de resíduos de culturas tratadas com ureia-amônia. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL EM RUMINANTES, n.1, 1992, Lavras. Anais... Lavras: SBZ, 1992. p.322-337.
GOBBI, K.F. et al. Composição química e digestibilidade in vitro do feno de Brachiaria decumbens Stapf.
tratado com ureia. 2005. Revista Brasileira de Zootecnia 34:720-725.
REIS, R. A.; RODRIGUES, L. R. A.; RESENDE, K. T. 2001. Avaliação de fontes de amônia para o tratamento
de fenos de gramíneas tropicais. 1. Constituintes da parede celular, poder tampão e atividade ureática.
Revista Brasileira de Zootecnia 30:682-686.
SÁ, J.P.G. Utilização da aveia na alimentação animal. PR, Londrina. IAPAR, 1995. 19 p. (IAPAR. Circular,
87).
Van SOEST, P.J.; FERREIRA, A.M.; HARTLEY, R.D. Chemical properties of fibre in relation to nutritive quality
of ammonia-treated forages. Animal Feed Science and Technology, v.10, n.2, p.156-164, 1984.

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