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Departamento de Engenharia Mecânica e Industrial

Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica

Projeto 2

Professor Moisés Brito

Maria José Cardoso nº 52996

Janeiro de 2022
Índice
Introdução ..................................................................................................................................... 2
Informações do problema ............................................................................................................. 3
Geometria ................................................................................................................................. 3
Condições Fronteira .................................................................................................................. 3
Propriedades do fluido .............................................................................................................. 3
Geração e manipulação da malha ................................................................................................. 4
Simulação segundo diferentes modelos de turbulência ............................................................... 6
Modelo Spalart-Allmaras........................................................................................................... 6
Modelo k− ϵ Realizable ............................................................................................................. 6
Modelo k − ω SST ...................................................................................................................... 7
Comparação de resultados segundo os diferentes modelos .................................................... 7
Análise resíduos .................................................................................................................... 7
Análise y+ .............................................................................................................................. 7
Estudo da turbulência .......................................................................................................... 8
Campo de variáveis fundamentais do problema – Temperatura ......................................... 8
Campo de variáveis fundamentais do problema – Velocidade............................................. 9
Conclusão ...................................................................................................................................... 9

Índice de Figuras
Figura 1 - Representação do problema ......................................................................................... 2
Figura 2 - Geometria do problema ................................................................................................ 3
Figura 3 - Malha gerada automaticamente................................................................................... 4
Figura 4 - Pormenor da malha refinada: interseção de 3 áreas .................................................... 5
Figura 5 - Pormenor da malha refinada: elementos menores nas arestas ................................... 5
Figura 6 - Análise residual para os três modelos de turbulência .................................................. 7
Figura 7 - Gráfico ilustrativo da Lei da Parede .............................................................................. 8
Figura 8 -Campo de turbulência para os três modelos de turbulência ......................................... 8
Figura 9 - Campo de temperatura para os três modelos de turbulência ...................................... 9
Figura 10 - Campo de velocidades para os três modelos de turbulência ..................................... 9

1
Introdução

Neste Projeto 2 foi proposto aos alunos que construíssem um problema concreto de
CFD, desenvolvendo um modelo 2D baseado nas equações de RANS e analisando-o no programa
comercial de volumes finitos Ansys–Fluent.

O problema analisado diz respeito à troca de calor entre um fluido, com diferentes
temperaturas e velocidades, que interage no interior de uma conduta divergente. Para este
estudo considerou-se que o fluido em questão fosse água.

Como representado na Figura 1, o fluido que se encontra à maior temperatura e menor


velocidade entra pela entrada da tubeira (inlethot). Já o fluido que se encontra a menor
temperatura e maior velocidade entra através de 4 condutas de menor dimensão, distribuídas
ao longo do comprimento da conduta principal e perpendiculares ao seu eixo (inletcold1/2/3/4).
Depois de atravessar a conduta o fluido saí pela saída da tubeira (outlet).

A simulação deste problema foi realizada recorrendo ao modelo da Equação da Energia


e ao modelo viscoso, considerando-se escoamento turbulento segundo três modelos: Spalart-
Allmaras, k − ϵ Realizable e k − ω SST.

Figura 1 - Representação do problema

2
Informações do problema
Geometria
A geometria das condutas, principal e secundárias, encontra-se devidamente
representada e cotada na Figura 2:

Figura 2 - Geometria do problema

Condições Fronteira

Como apresentado anteriormente na Figura 1, existem 5 inlets e 1 outlet.

Admitindo que os perfis à entrada (inlets) são uniformes tem-se as seguintes condições:

Velocidade [m/s] Temperatura [K] Pressão Relativa [Pa]


Inlethot 0,4 350 -
Inletcold1 0,8 300 -
Inletcold2 0,8 300 -
Inletcold3 0,8 300 -
Inletcold4 0,8 300 -
Outlet - - 0

Definiu-se ainda a intensidade turbulenta com sendo I = 5% e a rugosidade relativa das


condutas como sendo nula.

Propriedades do fluido
Água (estado líquido)

Densidade 1000 kg/m3 Condutividade térmica 0,6 W/(m K)


Calor Específico 4182 J/(kg K) Viscosidade 0,001003 kg/(m K)

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Geração e manipulação da malha

Apesar do Workbench ter a capacidade de gerar automaticamente uma malha, esta


apresenta bastantes irregularidades e é pouco discretizada, como se pode observar na Figura 3.

Figura 3 - Malha gerada automaticamente

Um dos aspetos mais relevantes para se obter resultados fidedignos é ter controlo
praticamente completo sobre a malha utilizando, sempre que possível, elementos estruturados.

De forma a obter esta distribuição controlada, como primeira estratégia optou-se por
subdividir o domínio em 9 áreas, tendo cada uma destas áreas apenas 4 faces. Isto permite que
o gerador de malhas, ao iniciar a discretização do domínio subdividindo as arestas, garanta a
distribuição com elementos de 4 faces (que podem, ou não, ser retangulares).

De seguida passou-se aos diferentes métodos disponíveis para controlar o algoritmo da


geração da malha.

Através do “Face Meshing” foi possível forçar cada face a ter apenas elementos
quadriláteros.

Recorreu-se então ao “Sizing”, que permite controlar definições como o tamanho dos
elementos ou número de divisões ao longo de cada aresta. Este método de Sizing nas arestas
tem ainda a vantagem de facilitar o estudo de independência da malha.

Nas linhas perpendiculares ao eixo da conduta, por exemplo, definiu-se que seriam 200
elementos e, de seguida, impôs-se Bias (rácio de crescimento) de forma a que os elementos
junto das paredes tivessem menor dimensão.

Procedeu-se de forma análoga para todas as restantes arestas, quer da conduta


principal, quer das condutas secundárias, ajustando-se a existência/ o tipo de bias caso a caso,
conforme o detalhe necessário da análise. Prestou-se especial atenção em refinar mais a malha
junto às paredes e em zonas de recirculação, onde há mais interesse em conhecer mais
pormenorizadamente o comportamento do fluido.

De realçar que sempre que foi utilizado o método Sizing o comportamento foi definido
como Hard.

Por fim, foi-se progressivamente refinando a malha, isto é, diminuindo o tamanho de


cada elemento ao aumentar o número de elementos com recurso ao método Sizing.
Simultaneamente, ajustou-se o bias ratio quando elementos vizinhos apresentavam

4
descontinuidades, por terem tamanhos distintos, de forma a obter uma malha o mais
homogénea possível.

Pode observar-se na Figura 4 uma região que à partida seria sensível e poderia
apresentar algumas descontinuidades por ser exatamente onde 3 das áreas definidas
anteriormente se reuniam. Foi possível mitigar esses efeitos ajustando o bias/bias ratio e o
número de elementos nas arestas adjacentes.

Como anteriormente indicado é ainda de realçar que, através da manipulação do bias,


a malha encontra-se mais discretizada junto das paredes (elementos menores) como se pode
observar na Figura 5.

Figura 4 - Pormenor da malha refinada: interseção de 3 áreas Figura 5 - Pormenor da malha refinada: elementos menores nas arestas

No fim deste processo obteve-se aquilo que se considerou ser uma “malha
suficientemente refinada”, isto é, uma malha que permite obter resultados num tempo de
computação razoável e tem o resultado aproximado ao resultado independente da malha.

Apesar desta malha já ser constituída por 318.400 elementos o programa ainda seria
capaz de gerar uma malha mais fina, com mais elementos (cerca de meio milhão), mas observou-
se que o tempo de computação aumentava significativamente e que a variação da solução
obtida refinando-se mais a malha era desprezável (solução já tinha convergido).

Destaca-se ainda que ao passar ao Setup e realizando-se um Mesh Check, foi possível
observar que a malha final não tinha nenhuma área nula (o que implicaria divergência). Para
além disto o seu rácio de crescimento (relação entre o comprimento e a altura da malha) era
aproximadamente 6,7563, valor esse inferior a 10, que é o valor máximo recomendado.
Verificou-se ainda que a ortogonalidade mínima era aproximadamente 0,9987 o que
corresponde a um valor muito próximo de 1, o que por sua vez indica elementos muito próximos
de serem ortogonais (retangulares).

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Simulação segundo diferentes modelos de turbulência

Como foi anteriormente dito, a simulação teve como base as equações de Reynolds-
avaraged Navier Stokes (RANS), equações essas que permitem resolver o campo turbulento
médio e cuja resolução necessita de um custo computacional baixo.

Partindo da Hipótese de Boussinesq, que propõe que a tensão turbulenta seja


representada por um modelo semelhante à tensão de origem molecular, surge o conceito de
viscosidade turbulenta. A viscosidade turbulenta é uma propriedade do escoamento (ao
contrário da viscosidade molecular que é uma propriedade do fluido) e depende apenas do
mecanismo de transporte da turbulência.

Chegando-se às equações de Navier-Stokes obtém-se a equação (1) :

Nesta equação apenas μT (viscosidade turbulenta) é desconhecida. Ao determinar um


Modelo de Turbulência é possível estimar μT e obter assim uma resolução do sistema de
equações de Navier-Stokes.

Para este projeto foram selecionados três modelos de turbulência: Spalart-Allmaras, k −


ϵ Realizable e k − ω SST.

Para as simulações segundo os diferentes modelos utilizou-se uma inicialização híbrida


e pelo menos 500 iterações. A análise dos resultados é feita na secção “Comparação de
resultados segundo os diferentes modelos”.

Modelo Spalart-Allmaras
É um modelo de uma só equação onde não são necessárias especificações dependentes
do campo de escoamento, predominantemente utilizado em estudos aerodinâmicos pelo que,
à partida, não será o ideal para o caso em estudo.

A viscosidade cinemática turbulenta é dada pela equação (2):

Onde fv1 é uma função de amortecimento na parede e é uma forma de forçar a


viscosidade cinemática turbulenta a ser nula na parede.

Modelo k− ϵ Realizable
É um modelo de duas equações onde se deve evitar a análise junto à região da entrada
pois os campos de k e ϵ em regiões próximas das entradas são estimados.

A viscosidade cinemática turbulenta é calculada a partir da energia cinética, k, e da taxa


de dissipação dessa energia, ϵ, com base na equação (3):

6
Modelo k − ω SST
Semelhantemente ao modelo anteriormente apresentado, é um modelo de duas
equações. À partida será o modelo que mais se adequa ao caso apresentado visto ser o modelo
mais indicado para estudos gerais.

Neste modelo a energia cinética turbulenta k tem o mesmo comportamento que no


modelo anterior mas ϵ = kω , obtendo-se a equação (4):

Comparação de resultados segundo os diferentes modelos


A análise para estes três modelos foi realizada tendo em conta o gráfico dos resíduos
gerado, a interpretação do critério y+, o estudo da turbulência e a observação do campo de
variáveis fundamentais do problema (temperatura e velocidade do escoamento).

Análise resíduos
A análise dos resíduos é de extrema importância pois indica se a solução converge ou
não, visto que o código só converge quando os valores residuais flutuam em torno de certos
patamares até ao infinito. É possível observar que o modelo Spalart-Allmaras é aquele que
converge com mais incerteza, apresentando muitas oscilações. Já no caso do modelo k − ϵ
Realizable, parece haver um patamar em que a solução converge perto das 450 iterações mas,
ao observar-se que ao chegar às 500 iterações alguns resíduos pareciam recomeçar a crescer,
optou-se por fazer mais 200 iterações, obtendo-se então perto das 600 iterações convergência.
Quanto ao modelo k − ω SST, os resíduos mantiveram-se estáveis, praticamente horizontais
com algumas oscilações, a partir das 150 iterações. Estes resultados podem ser observados na
Figura 6, abaixo apresentada.

Figura 6 - Análise residual para os três modelos de turbulência

Análise y+
O critério y+ é relevante pois é através dele que se consegue saber se a parede está bem
resolvida.

Tal como ilustrado na Figura 7, a Lei da Parede afirma que em escoamentos turbulentos,
para y+ compreendidos entre 30 e 200, a velocidade média num ponto tem uma relação
diretamente proporcional ao logaritmo de y+, sendo y+ a distância y à parede,
adimensionalizada com a velocidade de atrito uτ e a viscosidade cinemática ν.

7
Para os modelos estudados y+ na parede é maior que 30 para o modelo Spalart-Allmaras
e para o modelo k − ω SST, sendo respetivamente 33,75 e 32,09. Para o caso do modelo k − ϵ
Realizable o y+ obtido na parede foi 27,95 que, sendo menor que 30, indica que este modelo
não resolve adequadamente a parede.

Figura 7 - Gráfico ilustrativo da Lei da Parede

Estudo da turbulência
É na análise ao campo da turbulência, ilustrado na Figura 8, que se encontram as maiores
diferenças entre os três modelos. Como era esperado o modelo Spalart-Allmaras é o modelo
com as esteiras maiores e os seus limites menos definidos.

Já o modelo k − ϵ Realizable é aquele que apresenta maiores descontinuidades,


nomeadamente a jusante das segundas condutas secundárias (situadas à direita).

Por fim, como se previu, o modelo k − ω SST é aquele com o comportamento mais
semelhante ao que seria de esperar nesta situação. Olhando meticulosamente é possível
observar estreitas linhas a montante das primeiras condutas secundárias, o que não se vê nos
outros modelos. Para além disto as esteiras de turbulência a jusante das condutas secundárias
encontram-se todas bem definidas e com algum detalhe, sendo possível observar que o
escoamento que circule perto do eixo da conduta estará sujeito a pouca/nenhuma turbulência.

Figura 8 -Campo de turbulência para os três modelos de turbulência

Campo de variáveis fundamentais do problema – Temperatura


Por sua vez os campos de temperaturas já são, ao contrário dos de turbulência, bastante
semelhantes entre si. No entanto, pode observar-se que a situação representada na Figura 9,
estará longe de corresponder à realidade visto não haver um degradê de temperaturas na
maioria da conduta, passando-se diretamente da temperatura de 350K (encarnado) para 300K
(azul), o que nunca corresponderia a uma situação real.

8
Figura 9 - Campo de temperatura para os três modelos de turbulência

Campo de variáveis fundamentais do problema – Velocidade


Por último, apresenta-se o campo de velocidades na Figura 10. As representações
segundo os três modelos assemelham-se, mas é possível analisar-se algumas características
distintas entre elas, semelhantes às observadas no campo da turbulência, o que faz sentido visto
as perturbações no escoamento criadas pelas esteiras turbulentas interagirem diretamente com
a distribuição do campo de velocidades.

São exemplo destas semelhanças com o campo de turbulência os limites mais difusos
no modelo Spalart-Allmares e algumas descontinuidades no modelo k − ϵ Realizable,
nomeadamente a montante do inletcold4 (conduta secundária inferior direita). Mais uma vez,
é o campo de velocidades simulado segundo o modelo k − ω SST que apresenta resultados mais
de encontro aos resultados esperados.

Figura 10 - Campo de velocidades para os três modelos de turbulência

Conclusão

Apesar das simulações segundo os três modelos de turbulência terem resultados


semelhantes, a primeira conclusão que se retira é que estes resultados, embora concordantes,
divergem um pouco daquilo que seria esperado. Havendo simetria horizontalmente no
problema, seria por exemplo de esperar que os resultados do campo de temperatura e de
velocidade mostrassem essa mesma simetria, o que não acontece, havendo um desvio do
escoamento para cima em vez de estar centrado no eixo da conduta. Uma das explicações para
este facto pode ser devido à simulação ser resolvida para uma média temporal e sabe-se, logo
à partida, que visto existir separação do escoamento, a jusante das interseções entre a conduta
principal e as condutas secundárias, o escoamento não terá um caráter permanente.

É ainda de notar que uma das principais características dos escoamentos turbulentos é
a sua imprevisibilidade e que, apesar da existência e unicidade das equações de Navier-Stokes
provarem que são problemas determinísticos, é sabido que devido à grande sensibilidade destas
equações quaisquer pequenas incertezas nas condições iniciais/de fronteira podem originar
soluções muito distintas entre si. Não é portanto de admirar que fazendo pequenos ajustes ao
problema inicialmente descrito, como por exemplo não se considerar a rugosidade da conduta
nula ou os perfis de velocidade à entrada uniformes, se possam vir a obter soluções muito
distintas.
De forma a aprimorar os resultados seria possível adaptar as constantes dos modelos
turbulentos dado que estas não são universais.

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