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“E assim, quando mais tarde me procure / Quem sabe a morte,

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AULA 
angústia de quem vive / Quem sabe a solidão, fim de quem ama Quem
sabe a solidão, fim de quem a ama”.
No conhecido conto de Machado de Assis “Noite de almirante”
18º parágrafo, há um trecho em que o autor usa o pronome “elas”, que
se refere a “ideias”, sujeito do período anterior:
“As ideias marinhavam-lhe no cérebro, como em hora de temporal,
no meio de uma confusão de ventos e apitos. Entre elas rutilou a faca
de bordo...”.
O pronome “elas” foi substituído por “eles”, mudando o sentido
do texto e levando o leitor a atribuir-lhe, como antecedente, “ventos e
apitos”, e não “ideias”.
Muitas vezes a troca de palavras, além do desrespeito à obra do
autor, traz, como consequência, um empobrecimento do vocabulário.
É o que acontece em:
“objetou” substituído por “disse”;
“sustendo”, por “sustentando”;
“aeroplano”, por “avião”;
“babujava”, por “bajulava”.
São exemplos de abrandamento vocabular a troca de “caceteação”
por “chateação”, e “diabo” por “diacho”.
A supressão e a substituição de palavras trazem, por vezes, uma
certa mutilação da expressividade, como na troca de “o leite” por “as
estórias” em: “espremer tia Nastácia para tirar o leite do folclore (...)
tirar as estórias do folclore”.
A crônica de Paulo Mendes Campos “O pombo enigmático”, no
trecho: “a pomba, quando distinguia, indignada, o pombo que chegava,
o pombo que chegava caminhando... a pomba, quando distinguia,
indignada o pombo que chegava caminhando...”.
Na repetição de “o pombo que chegava”, centra-se toda a ideia
de lentidão que o autor quis imprimir à cena, ideia que se perdeu, com
a supressão do segmento.
Mudança de pessoas e tempos verbais é fato comum e, geralmente
inexplicável, como nos exemplos que se seguem:
“Imaginem Imagine”
“Lá vai ele Lá ia ele”
“Concorda que Concordava que”

CEDERJ 89

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