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TEATRO E FORMAÇÃO
DE PROFESSORES
EcA -tA
J
792_CY7rJ)81 :J1442
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S23Zt
AUTOR Santana" Arão Nogueira Paranagua
TITULO Tentro e fQunaçã'Q de professores
Fornec
Data d
V rba _ _- - - - - - - - - - - - - - -
Indicação d
© ~y Autor
1 a edição: agosto de 2000
ISBN 85-85048-13-1
CAPíTULO III
Panoratna do Ensino de Teatro no Brasil 57
S231t Santana, Arão Paranaguá de An teceden tes 59'
Teatro e fo r m açã o de professores./Arão O Advento das Escolas de Arte Dramática e do Teatro 65
Paranaguá de Santana. São Luís: EDUFMA, 2000. na Educação Básica
Dois Modelos de Licenciatura
234 p. : u. 21 crri.
CAPíTULO IV
1. Teatro 2. Educação - f'o r rn a ç ã o de Transição, Etnbates e Perspectivas 89
professores. I. Título. O Movimento de Transformação dos Cursos 91
A Ação dos Arte-Educadores 93
CDD 792.07 ASE:Str~tégiasd~---P~de;-PÓbiico 100
CDU 792.206:371.13 Propostas de Mudança: Visão Oficial e Crítica dos 108
Especialis tas
CAPíTULO V
121
A Realidade dos Cursos
Configuração do Ensino Superior de Artes 123
Perfil das Licenciaturas em Teatro
128
Estrutura e Organização Curricular
133
141
Apêndice I - Tabelas
Apêndice II - Situação dos Cursos e IES 147
CAPíTULO VI
Agradecimentos
Tendências da Reestruturação
189
191·'/
Considerações sobre a Emergência de Novos Paradigmas
Alternativas para a Mudança no Ensino de Graduação 194 Numa obra em que da pesquisa à publicação
Perspectivas da Reconfiguração Curricular 198 passaram-se quase cinco anos, a colaboração de um número
razoável de pessoas e instituições foi essencial. Por isso, minha
dívida de gratidão é extensa e alguns nomes merecem destaque.
CAPíTULO VII
209 À professora doutora Ingrid Dormien K'o u d e l a ,
Um Epílogo Possível
A História corno Possibilidade
211 orientadora da tese que engendrou este livro, por ter acolhido
Comentários à Guisa de Finalização 214 minhas idéias ainda em estado embrionário, indicado c arn i n h o s
e instigado de maneira sábia a reflexão sobre teoria e prática no
223 terreno do ensino de Teatro.
Bibliografia
Aos rnernbros das bancas de qualificação e tese, pelas
críticas c orrs tr u tivas ao trabalho: Ana Mae Barbosa, José Fusari,
Maria Lúcia de Souza Barros P'u p o , Mariazinha Fusari (ill
memorian) e Míriam Celeste Martins .
.À Universidade Federal do Maranhão, pela
oportunidade de cursar o doutorado, e à CAPES, pela bolsa de
incentivo à pesquisa.
Aos profissionais e instituições que forneceram
informações imprescindíveis à pesquisa de campo: Denize Cor rêa
Mota, Fernanda Santos Pinheiro, Nerine Lobão Coelho e Luiz
Roberto de Souza (UFMA); Maura Penna, Vanildo Marinho,
Paulo Vieira e Ya r a Rosas Peregrino (UFPB); Ricardo Bigi
(UFPE); Edson Claro, Jeanne Si d.rirn , Marcos Bulhões e Valéria
C. Silva (UFRN); Sérgio Coelho Borges Farias (UFBA); Clarice
da Silva Costa, Erasto Fortes Mendonça, H'élêrie Leblanc, Míriarn
Nogueira Paranaguá de Santana e Ro s irn ei re Gonçalves dos
Santos (UnB); B. de Paiva, Cris tiarie Jansen Cabral Martins, José
Mauro Ribeiro (ex-presidente da associação de docentes) e
Marilena Braz Vendramini (FBT); Alessandra Borba dos Santos,
Cíntia Thais Morato Lopes, Narciso Laranjeira Telles da Silva e
Sônia Tereza da Silva Ribeiro (UFU); Ana Maria Bulhões, Liliana
Mundim, Lúcia Helena de Freitas e Renan Tavares (UNIRIa);
Geraldo Salvador de Araújo (colaborador voluntário) e Vera Terra
(UES); Reynuncio Napoleão de Lima e \Val Volk (UNESP); Daise
de Oliveira Valencia (CEFL); Anísio Monteiro de Souza e Evelyn
Fernanda Magueta (USP); Gesiane Branco Folkis, Marly Bonome
Vita e Roseane Andrelo (USC); Ma ri n a Cardoso (USJT); Vera
Regina Martins Collaço e \Valmor Beltrame (UDESC); Beatriz
Pippi e Inês Alcaraz Marocco (UFSM); Ana Cecília de Carvalho
Reckziegel, Clóvis Dias Massa, Marta Isaacsson de Souza e Silva,
Vera Lúcia Bertoni dos Santos (UFRGS).
Além das pessoas que ajudaram no processo de
pesquisa, quero expressar minha gratidão àqueles que
colaboraram na produção do livro: Denise Bogéa Soares,
Fernando Abreu, Joe Rosa, Sílvia Cristina Duailibe Costa e Silvia
Machado Leal.
Agradeço, por fim, a quem me garantiu conforto e
tranqüilidade emocional no decorrer da jornada, em especial a
D. Magnólia, D. Teresa, Bruno, Felipe, Iris e Alice.
A
Denise, pelos projetos com ans, sobretudo pela
imensa força afetiva-vivencial que tem me levado
a perseguir sonhos.
Durante o I çon..E;resso Mundial de Teatro na de teatro onde o ensino tem por finalidade a profissionalização
Educação, realizado em j~ de 12,?2~n3"_~1d.~"de·ao-Põrto,em do a.tor, do diretor, do cenógrafo, por exemplo. Mas qual a justi-
J.7õrtugal, os conceitos de dranl~theatre precisaram ser ficativa para a presença do teatro dentro do ensino fundamental
redefinidos nas trê~ língu~<?-ª.~oC~sso (Inglês, Francês, e da e~u~ação infantil? Ao ensinar teatro para o leigo, o que deve ")
Português). Nes~a---Torre de Bab-~I'-doT-'COiigresso(o tíflilo do ser priorizado? Essas indagações levantam questões de ordem 7
'Co rigres s o foi criado pelos portugueses) isso não era sempre epistemológica que têm, evidentemente, mais de uma resposta.,:
fácil. Vejamos o que diz urna das mais importantes teóricas e Algumas concepções desenvolveram-se moderna-
atuantes na área, K'a te Donelan, australiana e portanto inserida mente na área específica do teatro na educação, de forma inde-
no universo de conhecimento anglo-saxão. pendente, em contextos culturais e educativos diferentes e, po-
A necessária conexão entre linguagem e cultura evi- demos até dizer, em grande parte estranhos um ao outro.
denciou-se quando exploramos o território do drarrie e theatre Na França por exemplo, o ensino do teatro se inscreve
na educação. Corno é possível discutir as funções de role (papel) deliberadamente no sistema educacional através de uma relação
ou playbuilding (dramaturgia) se esses conceitos não existetn e de complementaridade entre estabelecimentos de ensino e
portanto não são encontrados na linguagem de urna outra cultura? empreendimentos teatrais. Os projetos de trabalho são elabora-
Não existetn professores de drarna na França! Drarna, nos terrrio s dos em parceria entre educadores e artistas, em função de
do conceito corno nós o entendemos, não existe em outras objetivos artísticos e educativos.
culturas - ao menos até esse Congresso. Aquilo que t orrrarrro s Outra concepção, o drarn a na educação, de tradição
cotno sabido .n ão é urna experiência universal. Odesaf1.() de nos ~.~~~o-~~.~~~ca, realiza-se através de uma relação de inclusão no
confrontat;,çºtn~~etnocentristnqdeve ser enfrentado por todos currículo escolar. Tendo COJE-_()_Eritlci_palo~jeti~~_aeXl:'ressividad~
nás-:-'A- relação entre aquilo que e~tendemos por dr~!!J-€!:_,.f;;... theatre da criança e do jovem, k> d rarna riãofãz bpÇÕ~s es têtrcas,
na educação permanecerá sempre urna que_~.!_~9di~lética. fund~mentando-se em necessi~dades intrinsecamente pedagógicas
Acredito, corno Donelan, ser tnelhor rrrarrter trrrra da criança e do adolescente.,.
atitude dialética diante da questão, já que unificar a tertninologia Theatron era, para os gregos, o lugar de onde se vê
esbarra ern diferenças lingüisticas e culturais que seguetn tradi- (o edifício teatral) enquanto a palavra drama deriva, no seu sen-
ções de origens diversas. tido original, da palavra grega drao, cujo significado está relacio-
Durante o II Congresso da IDEA - International n~do com o princípio do sujeito envolvido em uma ação.(.A
Drama/Theatre in Education Association, realizado em Brisbane, diferença que pode ser estabelecida entre teatro e dra:Jna não
na Austrália, etn julho de 1995, o p rirrrei.ro tópico de discussão encontra um equivalente em Português, muito embora os ter-
proposto para os cerca de cem pesquisadores de todo o rnundo mos jogo dramático e dramatização tenham um uso mais corrente.
reunidos durante cinco dias foi a busca de U?n cOnJunto de terraos Neste sentido, o drama constituiria um fator educacional, a ser
para descrever o processo que estamos pesquisando. desenvolvido através do processo de expressão dramática,
A renovação da linguagern do teatro de espetáculo não enquanto o teatro estaria vinculado a um sofisticado sistema de
fé dissociada do vasto carnpo charnado teatro a?nadorou leigo que comunicação entre palco e platéia, devendo ser equacionado com
engloba o teatro na escola e o grupo cornunitário. Bons exetn- o belo e a arte. O problema, uma vez estabelecido, propõe
p lo s são O Teatro da Espontaneidade, de Moreno, o Teatro Épico questões de ordem estética e pedagógica.
de Brecht através da Peça Didática, o Teatro do Opri?nido de Boal Do ponto de vista epistemológico, se num primeiro
e o Teatro I?nprovisacional de Spolin. momento os fundamentos do teatro na educação foram
A Pedagogia do Teatro não é restrita à fortnação do co.nstru~dos a partir de questões dirigidas ou formuladas pela
ator, rrresrrro se aí incluirtnos o ator leigo. A inclusão do teatro pSicologia e educação como áreas capazes de fornecer os indica-
no currículo da escola fundatnental eclé educação infantil pres- dores de caminho, hoje, o vínculo com a área de formação através
supõe trrria concepção de teatro e trrrra perspectiva sobre a fina- da articulação de questões da história e estética do teatro
lidade de seu ensino. Isso pode parecer evidente ern trrria escola fornecem conteúdos e metodologias norteadoras para a teoria e
2 3
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRÓLOGO
diálogo entre as linguagens artísticas, destas com a área pedagógica inusitados - , fui aprendendo a suplantar obstáculos, buscar
e com os outros componentes do currículo fossem partes vitais, soluções, deparando-me com perplexidades que guiaram minhas
sendo possível conceber patamares para a configuração de uma atenções ao trabalho acadêmico sistematizado. De cotidianidades
identidade orgânica para a formação inicial de professores. Com aparecidas na sala de aula a fenômenos de escopo mais amplo,
o correr do tempo, algumas descobertas empíricas foram tinha, naquele momento, uma dupla sensação: por um lado
tomando corpo na t r aj e t r i a profissional de um docente/
ó considerava-me co-inuentor de algo que, por ter sido implementado
pesquisador sempre inquieto com o estado das coisas. muito recentemente, ainda não se sabia bem qual era a sua forma
Logo no início da carreira (1978), defrontei-me com de funcionamento ideal, nem muito menos como seria possível
a temática da preparação do professor, seja ministrando transpor a mecânica didática em prol de uma hermenêutica
disciplinas como História da Arte e Artes Cênicas para o curso estético-pedagógica de significado abrangente; por outro lado,
de Magistério no ensino médio, lidando com o ensino do Teatro parecia estar assistindo a uma ópera bufa de repercussões trágicas
em escolas de aplicação, ou tentando refletir sobre meus próprios para a educação brasileira - afinal, do ponto de vista curricular
aprendizados frente aos referenciais teóricos atinentes ao ensino os passos andados ainda eram tímidos, apesar da ascensão das
da Arte e ao desenvolvimento profissional do educador. O passo artes na educação escolarizada e de sua expansão rápida no ensino
. 3
seguinte foi atuar diretamente com a formação inicial de superior.
professores, em nível superior, a partir de 1984, justo num Nesse intinerário, fui encontrando outros formadores
momento em que o movimento de arte-educação nacional de professores com preocupações semelhantes, .insatisfeitos com
alimentava algumas das preocupações que a docência me fazia as barreiras impostas pela grade curricular, com o diálogo truncado
perseguir. com as autoridades do poder público ou com a "inquietação dos
Esse vínculo ao tema acentuou-se através do estudantes, no sentido de não perceberem objetividade e
envolvimento com estudos que vislumbraram saídas para consistência no curso" (FERREIRA, 1993:16). Os depoimentos
questões imbricadas com o fazer pedagógico, as quais colhidos em encontros de especialistas indicavam que, de maneira
constituíram-se, junto a outras produções acadêmicas, em geral, os professores interpretavam a seu modo orientações
cintilações num universo ainda pouco explorado: a produção de curriculares quase sempre vazias de conteúdo, tendo também
conhecimentos no âmbito da relação formação de professores, ensino que improvisar recursos e procedimentos. Apenas em algumas
2
e aprendizagem em Arte. universidades p'úblicas e em raras particulares a área de Educação
Entretanto, foi quando assumi a função de Artística vinha perseguindo saídas para a crise gerada com. a
coordenador do curso de licenciatura em Educação Artística da aparição compulsória dessa disci}?lina na educação básica, pois a
Universidade Federal do Maranhão / UFMA (1993-95), i tradição )que existia no lBrasil era formar o professor em
enfrentando questões que o desenvolvimento curricular impunha superposiçã.o à formação do artista ou bacharell
a todos os sujeitos participantes, ouvindo sugestões de Acompanhando o movimento áe educadores
professores e aspirações de alunos sobre a reformulação curricular interessados na reforma da licenciatura, concordava com aqueles
que tentou-se empreender naquela época, é que decidi ampliar o que entendiam não ser esse um problema apenas da área artística
horizonte temático do problema e conceber a pesquisa que e partilhava de posições críticas quanto à permanência da
originou este livro. Na tentativa de compreender certos fatos de polivalência no ensino de Educação Artística, tendo em vista as
natureza pedagógica do curso - comuns, complexos ou mesmo especificidades das linguagens envolvidas. Mais ainda,
2. Participei de pesquisas realizadas por equipes interdisciplinares, sendo responsável 3. Devido à pequena tradição pedagógica quanto à escolarização das arte e inexistência
pela área de Arte, a saber: Curso normal no Distrito ~ederal - processo de mu- de condições objetivas para sua implantação nos anos 70 - professores, currículo,
dança (FE-UnB / INEP, 1989-91); Processos de alfabetização: metodologias de didáticas e materiais de ensino, etc. - , passou-se muito tempo justificando a im-
ensino para as séries iniciais (FE-UnB / MEC-SEF, 1991); Formação e trabalho portância de sua permanência no currículo sem atentar-se para as teorias e
docente nas redes de ensino de 10 e 20 graus no município de São Luís (Mestrado metodologias de cumprir suas finalidades. Como será tratado adiante, essas saídas
em Educação-DEART-UFMA / CNPq, 1994-95). foram sendo inseridas aos poucos no ensino escolar e na formação de professores.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRÓLOGO
identificava-me com quem fazia perguntas do tipo: o que significa Brasil / FAEB realizado em Belém (1992), participei de um debate
formar professores para o ensino das artes? Quais são as raízes sobre a situação da formação do professor, quando então
históricas do problema? Como se situa esse quadro em termos certifiquei-me que a maioria dos cursos estava reformulando seus
nacionais? Que diretrizes podem ser concebidas para a formação currículos, e que os caminhos adotados não constituíam uma
inicial do professor? Qual a possibilidade de ocorrer uma base comum nacional, se vistos em conjunto. Mais tarde, nos três
articulação real entre formação inicial e desenvolvimento fóruns convocados pela Comissão de Especialistas de Ensino
profissional?4 de Artes / CEEARTES-SESu-MEC (1995), esses pressupostos
A essas indagações poderiam ser acrescentadas várias foram comprovados através de vasta documentação. Porém,
outras, tornando o quadro da investigação mais denso e complexo. estando atento ao movimento dos educadores de outras áreas
Contudo, é importante enfatizar que a importância do - sobretudo a luta dos p e d agogo s, que entre fins da década
empreendimento foi evidenciando-se face a essas razões, passada e início da presente encampou a de todas as licenciaturas
ressaltando-se sobretudo um certo renascimento no ensino da Arte - , preocupava-me o fato de que, de alguma forma, os arte-
5
no Brasil e em outros países, nos anos 90. Após três décadas educadores continuavam à deriva das principais decisões oficiais
. . . 6
construindo sua história a duras penas, já é possível consolidar que lhes diziam respeito.
uma outra narrativa sobre o ensino do Teatro, da Dança, das Com a implantação dos Parâmetros Curriculares
Artes Visuais ou da Música; sobre as possibilidades geradas pelas Nacionais / PCN, a Arte consolidou-se enquanto área de
experiências integradas desenvolvidas em algumas universidades; conhecimento, através das linguagens inerentes às Ates Visuais,
sobre os processos teóricos e metodológicos propiciados pela Dança, Música e Teatro. Num momento crucial como este,
pesquisa especializada; sobre avaliação e readaptação de planos cumpre à pesquisa, às entidades de classe, associações para-
ou projetos pedagógicos em artes; enfim, sobre todo um cenário acadêmicas e sobretudo às instituições e órgãos do poder público
que, embora longe de ser uma regra nas escolas brasileiras, dá mapear rumos e apontar diretrizes quanto à formação do
sinais alvissareiros em meio à crise da educação. professor. Nesse sentido, o presente trabalho inscreve-se como
O fato do ensino da Arte estar assumindo uma nova uma contribuição fundamentada em pesquisa exaustiva acerca
imagem - bem diferente de quando era apenas coadjuvante das de uma área 'explorada apenas tangencialmente pela literatura
outras disciplinas do currículo, e mesmo da maneira caótica como até o momento.
estruturou-se nos primeiros anos após sua implantação - vem 'Ainda à guisa de introdução ao tema, discutirei agora,
provocando uma mudança de rumos na maioria das licenciaturas brevemente, a necessidade do estudo estar voltado tão-somente
existentes, por iniciativa das próprias agências formadoras. para a discipliria Teatro, mesmo tratando-se de um trabalho que,
No Congresso da Federação de Arte-Educadores do tendo natureza polissêmica e sentido exploratório, deveria dirigir-
se aos cursos de formação inicial de educadores para todas as
linguagens artísticas.
4. N o presente trabalho, a expressão formação inicial refere-se à preparação do edu-
cador em nível de graduação, ao passo que desenvolvimento profissional diz res-
peito ao exercício da docência elou cursos de formação continuada.
5. A arte-educadora Ana Mae Barbosa propôs alguns indicadores do renascimento men-
cionado no Encontro Anual da Associação de Arte-Educadores de São Paulo, em arte-educação está cada vez mais valorizada nos museus norte-americanos, tendên-
1998, a dizer: i) a nova LDB mantém a obrigatoriedade da Arte na educação básica; cia que espalha-se aos poucos pelo resto do mundo; vi) o interesse crescente de
ii) tem-se notícia de uma expansão na oferta de vagas em cursos de licenciatura renomados pedagogos e especialistas de outras áreas pelos aspectos práticos que
como repercussão imediata desse dispositivo da Lei, notadamente em instituições encontram-se presentes no ensino de Arte, bem como nas possibilidades de refle-
privadas; iii) a divulgação de pesquisas alvissareiras em países com os quais não xão que eles sugerem. _
tínhamos contato até pouco tempo atrás, dando conta da contribuição que as artes 6. Cito como exemplo a posse da CEEARTES, efetivada pela SESu-MEC em 1994,
vêm dando ao ensino escolarizado; iv) o crescimento do ensino de arte nos EUA, depois de praticamente todas as. comissões de outras áreas já estarem trabalhando
onde a arte consta do currículo da quase totalidade dos Estados, ao passo que, há normalmente. Note-se que a instalação dessas comissões foi a alternativa encontra-
dez anos, apenas 6 ofertavam essa modalidade de ensino; v) o relatório encomen- da pelo MEC para substituir algumas das atribuições do Conselho Federal de Edu-
dado pelo Getty Center for Education in the Arts, indicando que a área de (... ) cação, extinto em 1988.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRÓLOGO
Até pouquíssimo tempo as premissas básicas da que cito abaixo, traduz, metaforicamente, a natureza, a razão e a
discussão dos problemas advindos do ensino superior em artes contemporaneidade das idéias aqui veiculadas:
tinham com moldura os jargões consagrados na história
educacional brasileira: dicotomia entre licenciatura e bacharelado; Encanar na sua nascente um rio que, indigente de águas,
formação teórica versus prática; inserção do profissional no mal pode com ela lavar seu leito, é trabalho de nenhum
mercado como artista ou como professor, conhecimento artístico merecimento; porém se ele no fim da carreira engrossa e
e pedagógico, etc. Somente a visão mais tradicionalista voltava- precipita a corrente, e sobrepujando as ribanceiras, alaga
se para os objetos significantes pinçados em sua própria seara, as margens e inunda largamente os campos, em tão boa
embora isso não resultasse em nenhum avanço na busca de hora que o encanem, mas não lhe ponham diques, que
melhor qualificação para o profissional de ensino, uma vez que fora inútil além de perigoso. (prólogo da peça Leonor
o discurso situava-se mais na esfera da denúncia do que no de Mendonça, de Gonçalves Dias)
anúncio de alternativas.
Sendo essa uma área nova e contando com Não seria necessário fazer uma investigação exaustiva
especialistas formados sob a égide da polivalência, ou adaptado~ para constatar que os cursos superiores de artes vivem agora o
em alguma função a partir da formação inicial em outras áreas, apogeu de um processo de reestruturação. Todavia, o projeto de
foi preciso um certo tempo para cristalizar-se uma terceira via inventariar sua gênese e compreender seu movimento de
de interpretação do problema, na qual insere-se o presente transformação, com vistas a contribuir para a adoção de soluções
trabalho. A abordagem em apreço não significa necessariamente viáveis, assume ares de grande relevância social, pois, ao invés
uma fusão das posições anteriores, em si bastante contraditórias. de procurar remansos, visa dar novo curso às águas.
Apesar de contemplar alguns dos seus reclames mais O ensino do Teatro na educação escolarizada conta
interessantes, i n s cr ev evs e como uma perspectiva diferente de hoje em dia com propostas assentadas em teorias e metodologias
observação do problema, visando a uma formação de qualidade amplamente testadas, possuindo múltiplas vertentes, matizes e
viabilizada por um currículo pautado na identidade quanto à área focos, pessoas e centros de pesquisa divulgando os saberes
de conhecimento; na organização institucional; na organicidade construídos, bem como segmentos organizados e representativos
dos elementos que compõem o curso; na interação com a função de suas potencialidades produtivas, podendo, enfim, firmar-se
social à qual se destina, qual seja a de preparar educadores para a em esteio próprio, sem que precise amparar-se em campos alheios,
produção e disseminação de práticas e conhecimentos junto a Nesse leito, portanto, assentam-se as idéias-chaves do livro.
sujeitos sociais concretos. O tema do desenvolvimento profissional dos
Da forma como o parágrafo anterior tratou o educadores - especialmente na área das artes _. está na crista
problema da pesquisa, referindo-se a um novo paradigma da onda. Se nas décadas de 70 e 80 disseminou-se uma vasta
epistemológico que vem sendo construído no âmbito do ensino discussão acerca dos descaminhos da licenciatura em Educação
superior das artes, pode parecer, à primeira vista, que esta tese Artística e do seu ensino escolar propriamente dito, os anos 90
seja uma negação à instância que motivou sua origem: a foram marcados pela produção teórica e consolidação de um
licenciatura em Educação Artística. Contudo, a imagem literária movimento de transformação na esfera da legislação e do
currículo. Na tentativa de compreender esse estado de coisas, minha
tese de doutorado voltou-se para o tema da formação do
7. Vários trabalhos demonstram como se deu a implantação da Educação Artística no
Brasil, com um quadro de professores improvisado (FERREIRA, 1993; AESP, 1984; professor de Teatro, na tentativa de alicerçar a tão sonhada
BARBOSA, 1984). Em estudo anterior, sobre o ensino de artes na cidade de Planaltina autonomia das linguagens no ensino básico. A pesquisa original
/ DF, verifiquei que cerca de 87% dos professores não tinham formação inicial na buscou analisar o assunto das suas dimensões particulares às
área, situação que atualmente está invertida naquela localidade, devido à política ,de articulações mais amplas com a questão da licenciatura, e, para
absorção de pessoal - nos concursos públicos do Distrito Federal, como na mata-
ria dos Estados, exige-se titulação aos candidatos (ver SANTANA, 1983). tanto, investigou fontes diversificadas - o processo histórico
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRÓLOGO
de constituição dos cursos; a situação das dezoito Instituições o princípio da autonomia universitária, tão almejado quanto
-de Ensino Superior / IES que os oferecem atualmente; as discutido nas IES.
contribuições disponíveis na literatura; as propostas apresentadas No terceiro capítulo o texto retoma a relação teatro-
por especialistas, associações profissionais e órgãos do poder educação e formação de professores, inventariando as suas origens
p';Íblico objetivando mapear as tendências de uma na educação brasileira, o advento das escolas de arte dramática e
reestruturação que já está em andamento, quer na perspectiva dos cursos de licenciatura, sob o prisma dos conceitos éticos,
das IES como no âmbito da legislação. Para analisar a realidade estéticos e pedagógicos que emergiram ao redor do ensino escolar
da escolarização brasileira e a formação de professores que lhe é dessa linguagem artística.
conseqüente - em termos do ensino do Teatro - , a pesquisa O quarto capítulo trata da restruturação dos cursos
orientou-se pela noção de história enquanto possibilidade de de licenciatura em Educação Artística, dando ênfase à área de
transformação qualitativa da cultura e da educação, com ênfase Teatro. Considerando a base metodológica histórico-social
na abordagem curricular advinda da teoria crítica pós-moderna. utilizada pela pesquisa, a reestruturação mencionada foi entendida
O estudo teórico articulou-se aos fatos do mundo prático, visando como um movimento de transformação, ainda hoje em processo,
à proposição de sínteses significativas para compreensão do emgreendido no âmbito dos estabelecimentos de ensino superior,
problema e encaminhamento das soluções. das '~ssociações profissionais e do poder público. Analisa ainda
A oportunidade de levar a cabo a pesquisa junto à as propostas dos especialistas e suas principais críticas dirigidas
área de artes cênicas da 'Universidade de São Paulo / USP foi às novas diretrizes curriculares elaboradas pelo Ministério da
essencial para o delineamento e encaminhamento da pesquisa, Educação e do Desporto / MEC.
pois lá encontrei 'uma linha de pesquisa em teatro e educação bem As informações referentes à realidade atual dos cursos
fundamentada, ambiente favorável à discussão, profissionais são tratadas no Capítulo V, o qual configura a situação do ensino
gabaritados, pesquisas já desenvolvidas ou em andamento, superior de artes no Brasil, delineia o perfil das dezenove
podendo, assim, concentrar-me em estudos específicos da licenciaturas em funcionamento na área de Teatro, bem como
pedagogia dramática, contando com a possibilidade de buscar, analisa a estrutura dos currículos vigentes. Com base nesses dados
nas áreas afins, os conteúdos complementares ao' campo e em continuidade aos estudos encaminhados no curso do texto,
investigado. o sexto capftulo apres~nta-se como uma tentativa de sinalizar os
O livro está organizado da seguinte manei~a: o avanços que estão sendo delineados nesse processo de
primeiro capítulo aborda uma discussão acerca do assunto teatro reestruturação dos cursos, discutindo as alternativas que
e formação do educador, realçando os problemas que se apresentam apresentam-se às IES para a construção dos novos currículos.
à configuração e delimitação da temática face à pesquisa, Os comentários à guisa de epílogo, efetivados no
apresentando as questões e hipóteses preponderantes, Capítulo VII, retomam os principais fios do novelo que
justificativa, objetivos e procedimentos metodológicos utilizados constituíram-se nos elementos-chaves do livro, ao tempo em que
ao longo do processo de trabalho. os acentuam sinteticamente, na esperança de propiciar ao leitor
Como forma de ampliar a abordagem do problema, uma compreensão do trabalho na sua totalidade, e, quem sabe,
ao mesmo tempo contextualizando-o no âmbito da literatura motivá-lo a compreender esse momento ímpar da educação
sobre formação de educadores, o segundo capítulo enfoca a brasileira.
trajetória histórica das licenciàturas no Brasil, situando de maneira
crítica as possibilidades que apresentam-se na atualidade: por um
lado a opção de revitalizar o currículo para que os cursos ado tem
um perfil renovado, e de outro a tentativa de alcançar
transformações mais amplas, utilizando, para tanto, os paradigmas
indicativos de novos manas culturais e educacionais, bem como
12 13
CAPíTULO I
A Questão da
Formação Inicial para o
Ensino do Teatro
Fundamentos e Problematização do Terna
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
têm funcionado corn urna capacidade ociosa extraordinária em formar? Para que função social? Qual deve ser o objetivo da
seus cursos de licenciatura, corn percentuais de formandos em educação escolarizada no processo de constituição de uma
relação aos ingressantes que atingern geralrnente coeficientes sociedade justa e democrática? Cabe ainda à universidade cumprir
rrrírrirno s. seu papel de instituição cultural ou a onda neo-liberal que vem
Tern-se notícias de debates sobre reestruturação assumindo posições de comando na maioria dos países do
c~~:~_ç~JªJ'çlQ§ç'-:l-t:.~()~ernpraticarnerire todos as regiões d opaís, Ocidente está deterrninando-Ihe um novo perfil?
nota d arrren re nos anos 90. Com o obje tivo de analisar ~s Para que se indiquem saídas às indagações
problemas recorrentes diagnosticados pelos educadores, CANIJi\U relacionadas até aqui faz-se necessário empreender uma leitura
(1 987) formulou duas' questões básicas, a partir das quais agrupou totalizadora dos problemas educacionais da nação, visando-se,
as preocupações mais relevantes sobre o terna: i) quais os por conseguinte, a um repensar de rumos para a escolarização,
principais problernas enfrentados pelos cursos de licenciatura? tendo em vista a crise que a envolve.
ii) quais os carninhos irnportantes que enfatizarn a busca de uma Alguns atestam que a origem do problema está no
for~ação mais consistente dos professores? Considerando que modelo de sociedade, outros na inexistência de políticas de
as srrrtc se s elaboradas pela autora dizem respeito aos interesses superação do atraso cultural e educacional que caracteriza os
do presente trabalho, c.o nv érn destacá-las: países que ainda não atingiram a modernização plena, não
faltando quem culpe especificamente o setor educacional por
· clientela dos cursos de licenciatura: quem são os alunos? como se não conseguir superar esses impasses com eficiência.
dá o processo de identificação profissional? Considerando essa última via de explicação do fenômeno, pode-
· articulação entre a realidade do sistema escolar"e o ensino se dizer que são muitas as causas do baixo desempenho que vem
universitário: que relação existe entre o conteúdo do ensino caracterizando o sistema de ensino f'o r rn a l brasileiro,
universitário e o conteúdo veiculado pelo sistema escolar? como especialrnente após a expansão da oferta efetivada na década de
articular, na formação universitária, o aprofundamento na área 60 e seguintes. N a sua 0~J-J:Ontudo,--enG,efltra--se,--um..a. . _pºljti_~~
específica e a orientação para o ensino? de se n vo Ivim e nii~~que"pJ:iyil~giº.º ...2 ..ÇÇ.º.Q.º.~ic o ...~.. . em
· relação entre as unidades de educação e as demais unidades conseqüência instaurou urn certo padrão de privação cult~r~T:'
implicadas nas licenciaturas: como se dão essas relações? como se
articulam no curso a formação pedagógica e a de conteúdo ~~;-~~~~~~;r~~~Jtr~~itff~~~~~;~tl~~~i~~-'
específico? qual a responsabilidade das unidades em relação ao sediment~~~on~~S:?~~t:1.~cl~~~~~j~'V"ei~par3: .aes.<:o.l~~~~~s:ão,·a
curso? saber: profess'ores ~~1rem~'~~'r~'d~~''~-'desm'ottvã{fos';--í1:iexí~tênci~
· prática de ensino, problema crítico: a licenciatura e o conteúdo de te rn p o p ara ap~~~~~~ç'~~~'~~'t'~""'~'~~:"':'~'?'~'~~~:!w~~~"""~,,':'!6~~i'~'~<'~"'~
específico só se encontram atualmente na prática de ensino - como e ~ u c a c~o 1!-ª_i~i.;.--px~_ºiº. ~__,.-º~I~~.!.~·E~ª?·:~·~'''''~~ ~! . ~'q~ip .~~l~~·-"'e· .... ~o~
conceber essa função mediadora da prática? há outros espaços a ins\i~é:i"êt:l~~_~.~~ . . ~_~._q~~!!~~~.~ ele> ~a te~i~f~ic:lá rico. .... .... . -.._-.---
serem trabalhados? .
.-.:-----.--...-.----: --" O rol de variá~~is q{i~····repercut-em'-nap reparação do
· postura das unidades em relação às licenciaturas: como essas professor é rnuito extenso, o que torna demasiadamente arnplo
instâncias envolvem o corpo docente nessas questões? o contexto em que se processam as diversas rnodalidades de
- outros: como é a relaçãodos cursos com as escolasda comunidade? formação, demandando, a s s irn , um estudo excessivamente
como se relaciona a licenciatura com a realidade do ensino de 10 e abrangente que em primeira instância foge ao âmbito da . p resente
2 o graus? a licenciatura é o locus da interdisciplinaridade? investigação.
(CANDAU, 1987:91) A análise da literatura e dos docurnentos oficiais indica
que a exigência legal de fortnação superior para atuação na
Esses tópicos elucidarn a vastidão e a complexidade educação básica não vem sendo curnprida, e o que é pior, o ensino
do t ern a. Todavia, para equacionar alguns dos proôlernas de qualidade duvidosa que se concretiza na escola deve-se em
estruturais, convérn perguntar: que profissional se pretende grande parte à rriá formação inicial dos professores. Face a isso,
18 19
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
alérri de ser necessária a realização de estudos sobre fo rrrias de civil, busca especificatnente a refortnulação dos cursos de
tnelhor preparar o educador, é necessário que o poder público Fo r rn a ç o dos profissionais da educação. No bojo desse
ã
dê atenção às atribuições diagnosticadas por seus próprios tnovitnento, os encatninhatnentos tnudancistas efetivados nos
organistnos, a saber: cursos de artes ern variadas regiões brasileiras são objeto de
discussão, ao tempo e rn que articulam-se pressões jun.to às
Além de uma formação inicial consistente, é preciso considerar políticas públicas que v êrri sendo adotadas pelo governo federal.
um investimento educativo contínuo e sistemático para que o A presente investigação considera que o curso que
professor se desenvolva como profissional de educação. O conteúdo habilita professores para o ensino de Teatro requer certas
e a metodologia para essaformação precisam ser revistos para que condições intrínsecas que perfiletn seu ideário, corrro cenário no
haja possibilidade de melhoria do ensino. A formação não pode
ser tratada como um acúmulo de cursos e técnicas, mas sim como
um processo reflexivo e crítico sobre a prática educativa. Investir
---
qual possam ser delineados os fundatnentos, identidade, objetivos,
con teJ"ído~,tiçª1-,_~ntegg~~_~. ~~rriéurar:-·-es·ciglo:--d~
aspectos de natureza estrutural. Afinal, trrn curso dessa natureza,
, , "
. ~:,~E~"-~~tr~~'·
-------------_..... .._....__.... -._.......•._...-_.,.......•._'".... ~ ...._.,..
..... ".
l~~~~~~~;?~~;~_ ~~~;;~a~~~t::~f~~~r~:c;
no desenvolvimentoprofissional dosprofessores é também interferir
em suas re~is condições de trabalho. (MEC, 1997a:30-31)
., -tcons"ti't'uci'oiiáis'''''cre'uma'''e'cl"liCaçao''para .~. "'~'idadanIa"'pIeria, terá "que
~_~~~~2i~i~~i~~~~~~;~;~~;~;;;~;t~~~n;a;~~~t~d~:a~~~~
A crítica aos cursos de licenciatura dirige-se às
políticas públicas dos setores de cultura e educação, portanto à
própria universidade, estando etn jogo questões advindas de E nesse ?neio de ca?npo que caberia acrescentar, às questões até
diferentes esferas organizativas da sociedade. Considerando que aqui fortnuladas, algutnas outras que, de certa tnaneira v êrri
as pesquisas sobre fortnação do professor realizadas nas últitnas perseguindo a investigação erri torno do assunto, tais corno: o
décadas trouxeratn errorrrie contribuição ao catnpo da educação que há de rnais particular quanto à natureza da fortnação de
e especificatnente à teoria do currículo, pode-se' dizer que falta professores no ramo das artes? Quais os avanços conseguidos
vontade política para o encatninhatnento das soluções possíveis. até agora e o quê ainda não foi pensado sobre o assunto?
Por isso rriesrrro, as tnudanças na licenciatura são itnprescindíveis, A discussão a respeito dos princípios da educação
rrias não podetn ser pensadas serri atnparo de trrria política rrrais estética é trrn p a tarrrar itnportante rumo à cotnpreensão de utn
arripla na qual educação e professor recebatn trrn tratarnerito rriais assunto tão árido' quanto itnportante, e por isso rrre srrro fértil-
digno. ern outras palavras, é relacionar o terria à razão de sua existência.
Corri a ajuda de autores cujos estudos sobre pedagogia Sobretudo'nutn
.--
país que conta ainda.. .. ..
hoje
..
com milhões de
---._._-----~-~--,_ ,,~'_ " ,., " '''''
crítica colaboraratn para superar o itnobilistno p rovo c ado pelo arral fab e to s n"ªJ"i~gllage~ ~~c~i~~, ~ ~~~ ~i~~r-. ~~·~ .• ~:o~p~e·erfsào
estruturalistno radical - a escola vista c o rn o um aparelho
ideológico a serviço de estruturas que lhe de.termirrarn trrn papel d~:i::e:~~~~~~~~õ~~~Oê~~~~~~~~~_~~~f~~j~:-
praticatnente itnutá~el-, nesta pesquisa o currículo é entendido indagaçõesdi~~g;~tn-s~ao~ p~~pósit~~ ~~~?res da ~~:ucaçãoe,
c orrro trrria fo rrria de política cultural erri construção e a escola ne~~~~~tiiã~~~~~_~~~_~uit<2a~~ol?J:~_~g~:- - -_o
utn agente de transfortnação social, o que dá tnargetn à existência
de tnovitnentos erri prol de tnudanças profundas, ou rrresrrro que A nosso ver, o objeto central e último da educação escolar é dar
suscitetn a ocorrência de reformas mais amenas, porém de acesso ao saber, às diversas formas de conhecimento. Em termos
itnpacto itnediato. mais amplos, é dar acessoà cultura - entendendo-se cultura como
Dessa rn a n e i r a, atuando rru rn terreno onde as a produção coletiva de uma sociedade, ou mais ainda, como
contradições etnergetn através de acontecimentos cotidianos e patrimônio de toda a humanidade, construidoao longo de sua
as subjetividades confrontatn-se nas ações dos atores sociais história. [...] Nesse quadro, cabepensar o pape/da arte na educação
concretos, v'ern consolidando-se, no Brasil, trrn rrrovirrrerrto que, '" básica, dentro de um projeto de democratização do acesso à cultura
perfilando-se junto às lutas sociais desencadeadas pela sociedade - e, é claro, especificamente do acesso à arte. (PENNA, 1995:17)
20 21
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
_ª.!,:.~~.~~_.~~.~.~J?_~riªn~ias .q!J:~. _º'iQ~~_g~~"- ~~~~s'{~'~i-~ha bilitado ao urna compreensão sobre o sentido da arte, ao passo que cCa
1l.ê2__ ..~,_çºn~,_Ym º '.. da lingu a getn,yale n d Q r-ç-;-sa:ltª-~""--~-i~ e é-'de filosofia da arte setnpre acaba se defrontando oorn p roblerrias
J;~~P.()t1.~~lJili~~~=~()i'rofessor a t~ac:ltlç:ão dessasfu!!ç<?·~~-·~(;i;lano pedagógicos, aos quais se acha ligada por um nexo histórico não
,,~~dático-tnetodoIQgi_c(). Co~uições tão específicas, cab~~ só tnuito antigo corno originário" (NUNES, 1976:30)~A noção de
~s~,~~~~ador-e~~~~tq~c:_~peritTl~11.ta~, e le própriO, a dltnensao-do for?nação cotno algo inerente à natureza da arte e da educação é
--P~?~g§giGas"{FusARI 1992:36).
& FERRL\Z,
.
f!~;-=~~~7~~:~-;~;;~~~~-~:1:~~~~,~~~~~i~~~~~
um projeto d ern as iaclarne n te amplo, e por isso requer u rn
entenditnento restrito acerca dos processos existentes nas
atividades que protnovem a integração desses dois campos.~NUtna
.,,' Para rrnrito s estudiosos a reflexão que se rern firtnado época c orrro a arual, de tantas indagações e perplexidades, cCde
no cenário educacional oorrro tirn estatuto das disciplinas artísticas tecnologia avançada, iharnirrisrno científico e ilutninação estética"
é trrna boa diretriz para superação da racionalidade prática que (NUNES, 1976:3), torna-se essencial verificar qual o projeto
setnpre caracterizou a for m a ção do prifessor-têcnico (cf GÓMEZ, contido no ensino do Teatro, desde que se saiba oorrio ele pode
1995). Corrio a cotnpreensão desse assunto enlaça alg'urrias das ter êxito e adquirir relevância social.
teias constitutivas da narrativa ensejada no presente trabalho, Com o aparecimento das pritneiras propostas
torna-se irrrp o r tarrte verificar c orno as relações entre o teatro e a pedagógicas para a arte dram.ática - algutnas delas baseadas erri
educação c o s t u r a r a rn , h i s t o r ic arrre n t.e, aquilo que se pode pesquisas de artistas COtrlO STANISLAVSKI (1989) e posteriorm.ente
conceber c orrro a epistetnologia desse rarrio do conhecitnento. e rn outros - , antenadas com. os avanços da psicologia da
Llrn a das rri a r c a s rn ai s relevantes do século XX educação, foi sendo elaborada, aos poucos, trrrra concepção na
reporta-se à cotnpreensão de que a arte possui fo r rn as de qual o educando é visto oorrro urn ser em. desenvolvitnento, para
conhecimento inerentes a sua própria natureza e linguagetn, etn quem. se oferece a possibilidade de am.adurecer potencialidades
si fundamentalmente diferentes da maneira de cotnpreender o sensíveis e criativas, corno fo r rria de habilitá-lo ao uso e à
rrru ri d o que é possibilitada pela ciência, por e xerrrp lo. Esse apreciação da linguagem clrarnárica.
fenômeno traduziu-se em term.os de sua inserção na educação Nessa trajetória construtiva de um.a língua própria, o
escolar, na m.aioria das nações, especialm.ente nos últim.os ensino do Teatro foi inserindo-se rrurn catnpo que transcende à
cinqüenta anos. Isso se deu em reconhecimento à com.preensão questão da escolaridade, situando-se em fronteiras que o Ievarn
de que a arte veicula um conhecim.ento imprescindível à foxrria- à ação cultural e a outras possibilidades de desenvolvitnento da
ção Irurrraria, rerria que é recorrente na literatura deste século _ consciência cidadã. E, enquanto conhecim.ento engendrado nas
autores com.o Benjarrrirrr, Br-orrows ki, DeW'ey, Munro, Piaget, transfortnações de uzn século que se encerra caracterizado pela
Read, Vygotsky, Wallon, dentre outros, utilizando catninhos oorrrurricação rrrterativa, conecta-se com. diversas áreas, sobretudo
diferentes, deixaram. um vasto legado de idéias sobre cognição e com. as que lhe fornecem. fundam.entos, com.o a Psicologia,
arte, destacando suas irnp licaçõ es na educação. Sociologia, Antropologia, Filosofia, Pedagogia, e as que
. I
Contudo, desde Aristóteles tem.-se pensado muito ernp.res tarn-Jhes as ferratnentas - Música, Poesia, Dança, Artes
sobre o potencial reflexivo que permeia o fazer e o fruir, o pensar ,. Visuais, Cirierria, etc, Contudo, por trabalhar um. saber específico,
e o sentir contidos na arte dramática. A palavra draora vem de é sobretudo teatro, pois ocupa-se de tnaneira precisa corn a
drornerion, referindo-se a ação, ao passo que teatro, vocábulo expressão dratnática.
que também veio do grego, significa lugar donde se vê. ,Essa Com.o já foi m.encionado, o ensino de Teatro possui
c:_~acida~_,...~,~_~~ em. a~~~-",_gitiç.ª.!!~.~_,_. ~.~ecia!!~? ~- , trrna vasta trajetória histórica, talvez originada na Grécia, rrras
p,~ó~~.~~_~?estos e atitu~es:-c'o'ristituiu-se rrurri recur~'~';itafp'~;a'''6''---- que na verdade foi desenvolvida nos ltirrros cinqüenta anos.
ú
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
Analisando as bases intelectuais desse carrip o do conhecitnento, Deve-se ressaltar que a utilização do teatro - e da
COURTNEY (1981) situa o século XVI oorrro sendo rrrarco decisivo arte erri geral- COITlO oorrh ecirrrerrto propício à educação escolar
na escolarização européia: ganhou ênfase à época erri que as idéias escolanovistas es trverarri
e rn voga. SeITl estabelecer UITl p a r a l e l i.s rn o que estreite
o humanismo enfatizava a arte do falar, particularmente o latim, fo rço sarrrerrte as relações entre pensaITlentos que não originaratn-
e, muitas vezes, essa prática se fazia através do diálogo; isto se erra UITl rnesrno esteio, rrrere.cern ser tnencionadas as propostas
reintroduziu o estudo do teatro antigo. Como conseqüência, de autores cuja obra alude cli retarnerrte à pedagogia da arte, trrna
encenações escolares eram comuns. Mas, esse caminho também vez que eles ajudararn a gertninar o catnpo do teatro-educação,
permitiu aospensadores desenvolverem formas ainda mais liberais errrbora, na sua origetn, não objetivassetn atingirespecificatnente
de educação. Rabelais diz, por exemplo, que Gargantua precisa a esse escopo.
manter-se ocupado com a educação e que o estudo dos livros deve Ao lançar e rri 1948 a versão original de Dança
ser suavizado pelo jogo e ocupações manuais. Fornece trezentos e educacional moderna, LABAN (1 990) propiciou trrria tnudança
dezesseis jogos para exercitar a mente e o corpo e, além disso, não sorrierrte no enfoque didático rnas sobretudo na própria arte
introduz canto, dança, modelagem, pintura, estudo da natureza e da dança - antenado que estava COITl as propostas que ernergirarn
trabalho manual - mostrando, dessa forma, uma amplitude de junto à tnodernidade e rri p ra ti carnen te todas as linguagens
pensamento dois séculos à frente do seu tempo. (COURTNEY, artísticas - , confortne esclarece seguinte citação:
1981:10)
o discurso educacional de Laban está enraizado tanto na filosofia
o aprendizado cênico cristalizou-se na história através da dança moderna do início do século quanto nas idéias da Escola
do fazer e sobretudo fundatnentado na instrução do nrestre - Nova, difundidas porJohn Dewey na Inglaterra. [... ] Ele defendia
proceditnento que assegurou a existência de troupes e fatnílias um ensino de dança no qual o ser humano pudesse explorar de
de artistas, inclusive nos rrrorrrerrto s ern que o teatro era trrria maneira livre suas capacidades 'espontâneas e inatas' de
atividade proibida pelo poder instituído - , estabelecendo a movimento no espaço. Durante toda a sua vida, buscou formular
experiência dranrática corrio fonte de saber. teorias sobre o movimento que pudessem expandir, entre outros, o
Na perspectiva da ~y.ca.çã.o,~".,RQ,U§'i§~,~u~l:>~~j!~~?~zie conceito de dança, relacionando-o a uma teoria central e universal
IF~º.~.~el· observaratn que o jogo proporcionado p~f;;""ét'~àtrõ""era que abarcasse toda a experiência humana. (MARQUES, 1999:81-
utn p'~deroso es tírrnrlo para o desenvolvitnento da criança, tão 82)
itnportante quanto outras atividades, sugerindo pistas para a
investigação de pensadores oorrio D,~'\.VeY!~.eiªg~!.,<:~yg,9!~ky. Essa Rudolf Moreno, por sua vez, propiciou o
base proporcionou trrn legado consid~rr~elpara q~e '()s educadores- aparecitnento de estudos referentes ao aprendizado do teatro
artistas do presente século apresentassetnsuas idéias etnétodos sob a ótica de outros carnpos do conhecitnento - psicologia,
de aprendizagetn, alguns deles calcados no rrrovirnerrto da Escola pedagogia e artes cêriicas - , através de idéias e práticas propostas
Nova, confortne tnenciona a seguinte citação: etn livros corrro O teatro da espontaneidade (MORENO, 1984).
A teoria e as técnicas clínicas criadas por ele têtn instigado tnuitos
A incorporação do modelo da Escola Nova trouxe para o primeiro pesquisadores desde os anos 40 até a atualidade, haja visto a
plano a expressividade da criança e levou a uma compreensão e a produção acerca do psicodranra no ârrrbjto dos progratnas de
um respeito pelo seu processo de desenvolvimento. Mas ao mesmo tnestrado e doutorado das universidades brasileiras.
tempo em que ela abriu a possibilidade para a inclusão das áreas Dentre outros artistas e educadores, quetn deu a L,
artísticas no currículo escolar, verificamos que os objetivos contribuição original rrrais específica à pedagogia do teatro foj (",
educacionais amplos se transformaram em justificativa para o Bertolt Brecht, COtTl a teoria e prática da Peça Didática. Nessa r/ ':'/)'
ensino do teatro. (KOUDELA, 1984:19) abordagetn, o teatro passa a ser utn jogo ele aprendizagetn _ .:, , ,;
24 25
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
lehrstück - no qual os participantes ensinam a si próprios e contribuíram criticamente para a consideração da arte corno
8
aprendem através da experimentação de gestos e atitudes frente instrumento imprescindível à educação popular.
às circunstâncias enfocadas no texto dramatúrgico, visto corno Preparado o terreno, chegaram, junto à criação das
modelo de ação. Segundo I<ouDELA, escolinhas de arte de Augusto Rodriges, as propostas de John
De"Wey sobre arte como experiência, de Herbert Read acerca da
[... ] a teoria da peça didática propõe a preocupação do dramaturgo educação através da arte, e de Victor Lo"Wenfeld sobre o
com o processo da aprendizagem, através da mudança de atitude desenvolvimento expressivo. As primeiras influências no carripo do
do participante de um experimento pedagógico. (KOUDELA, teatro-educação vieram dos países de cultura anglo-saxônica,
1991:25) sendo muito difundida a proposta de SLADE (1978) em torno do
9
.J·ogo dramático infantil.
Ao traduzir para a língua inglesa o termo alemão Sob o ponto de vista dos métodos de ensino, os
lehrstück, Brecht preferiu usar a expressão learning play, autores citados no parágrafo anterior colaboraram ,para a
mostrando que sua concepção dialética de ensino e aprendizado disseminação da livre-expressão, a qual configurou-se num dos
não se limitava à proposição de estratégias pautadas no aprender pilares do movimento de educação pela arte brasileiro, levando
fazendo, ou learning by doing, princípio pedagógico que "inúmeros professores a extremos, onde tudo era pertnitido"
caracterizou o pensamento dos autores vinculados à Escola Nova. (FUSARI & FERRAZ, 1992:35), já que a expressão do aluno não
Dando um outro direcionamento ao processo de educação podia sofrer interferência do professor. No ensino do Teatro
possibilitado pelo teatro, ele procurou indagar sobre o próprio vigorou a abordagem espontaneísta, com conteúdos pautados
objeto da aprendizagem, tendo concluído que ~~agora não se na dramatização de fundo psicológico, quando não o gapel de
coloca mais a questão: deve-se ensinar? agora a questão é como atividade coadjuvante de outras matérias do currículo.
se deve ensinar e aprender (apud KOUDELA, 1991 :23) A recepção Quando o ensino de Educação Artística foi
no Brasil da obra dramatúrgica e teórica de Bertolt Brecht deu- implantado compulsoriamente na educação brasileira, no apogeu
se principalrnente a partir dos anos 60, mas sua contribuição à da tendência tecnicista, era esse o pensamento praticado na escola,
pedagogia do teatro foi divulgada etn tempo mais recente. salvo raríssimas experiências isoladas. Num momento em que
Se na Europa e Estados Unidos o ideário da Escola emergiam crrticas ao ensino oficial e à política educacional corno
N ova tornou corpo no início do século - e rn nome da um todo, adotou-se no currículo da escola básica urna disciplina
valorização da auto-formação e da atividade espontânea da criança com conteúdo adjetivado - Educação Artística - , ao sabor
- , suas repercussões chegararn até nós entre os anos 30 e 40, das idéias propostas pelos legisladores do poder instituído. Em.
num período em que a sociedade brasileira passava por outras palavras, inventou-se urna outra modalidade do milagre
transfortnações políticas da rrraio r irnp or târrcia, cristalizando-se brasileiro, termo cunhado para caracterizar as diretrizes
um pensatnento genuinamente nacional, manifestado ern vários econômicas adotadas pela ditadura militar, mas que serve,
níveis e instâncias da sociedade. Esse atnbiente facilitou a criação metaforicamente, para traduzir a maneira com que foi concebido
de entidades para-acadêmicas, corno a Associação Brasileira de
Educação, e o surgimento de rnovimentos c orrro o Manifesto
dos pioneiros pela escola nova, ao passo que, no catnpo da 8. Ver AZEVEDO (1958). Deve-se ressaltar que um dos fatores importantes para a en-
trada das artes no terreno da escolarização deu-se por conta da recomendação ofi-
arte, colhiatn-se os frutos gerrninados no tnovitnento rnoderrrista. cial da UNECO, de 1957.
Concebendo novas maneiras de cotnpreender a natureza da arte, 9. Além de Peter Slade e do seujogo dramático infantil, deve-se lembrar que nos países
artistas c orno Anita Malfati e Mário de Andrade fo rarn os anglo-saxões foram muitos os movimentos representativos desse mo~ento da pe-
dagogia ocidental, destacando-se o play way, de Caldwell Cook; chtld drama, ~e
pritneiros a escrever rrrarézias sobre a itnportância da arte infantil
Brian Way; creatiue dramatics, de Winifred Ward; linguagem criativa, de Marjorie
nos jornais, o que despertou a curiosidade ern segmentos sociais Hourd. A esse respeito ver KOUDELA (1984) e COURTNEY (1981).
itnportantes e inspirou errré ritos educadores a refletir sobre o 10. Vejam-se as obras dos autores de então, como REVERBEL (1979), ABRAMOVICH (1976),
assunto - Fernando Azevedo, por exemplo, foi um dos que MICHALSKI (1976), LEITE (1975) e ARAúJO (1974).
26 27
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
originaltnente o ensino das artes, pautado rrurrra fusão polivalente .Alérn das experiências que avolurrrararrr-se no interior
das linguagens, c.orn vistas a tornar rn ais Irurrrano o ensino das escolas e instituições culturais, outros fatores contribuíratn
profissionalizante regulatnentado pela lei 5692/71, ou tnelhor, para esse,salto qualitativo, dentre outros: i) o intercâtnbio corn o
voltado para o desenvolvitnento harmonioso (sic) do educando. estrangeiro, seja através da divulgação de livros, artigos e relatórios
Etn rn e i o a tarrra confusão epistetnológica que de pesquisa, ou da vinda de especialistas rerrorriaclo s para tninistrar
tnisturou concepções e s té ti ca s, áreas de conhecitnento e cursos, participar de setninários e dar consultoria; ii) a publicação
tendências pedagógicas tão diversas, os profissionais da Educação de obras c orrro Itn.provisação para o teatro,12 de Viola Spolin,
Artística - na sua grande rnaioria itnprovisados na função ou indicativa de carrrirrhos para o ensino da linguagetn cênica para
qualificados insatisfatoriatnente - vivenciaratn rrrais de perto crianças, adolescentes e adultos, atores ou não-atores, através de
aquilo que os docentes de outras disciplinas t a m b m é
atividades lúdicas voltadas para a aprendizagetn dos códigos da
experimentaram naquele rrrorrierrto Irripar da educação brasileira: arte d rarriá tica; iii) o surgitnento dos cursos de pós-graduação
específicos ern arte, b ern cotno a abertura de linhas de pesquisa
Em resumo: imbuído do ideário escolanovista (tendência sobre ensino de teatro nos tnestrados de áreas COtnO educação,
'humanista' moderna) ele [ o professor] é obrigado a trabalhar em ciências sociais, filosofia e psicologia; iv) o agrupatnento de
condições tradicionais (tendência 'humanista' tradicional) ao profissionais ern entidades aca.dêrnicas e sindicais, o que propiciou
mesmo tempo que sofre, de um lado, a pressão da pedagogia oficial a realização de congress.os e simpósios. Dessa forma, a
(tendência tecnicista) e, de outro, a pressão das análises sócio- configuração de práticas e pesquisas erri teatro-educação v'êrn
estruturais da educação. (SAVIANI, 1983:43) sinalizando a existência de perspectivas alvis sareira s, rrrui to
errrbo ra, na realidade da escola brasileira, isso ainda seja 'urri
Cozrio será cotnentado COtn rrrais vagar nos capítulos desafio a ser vencido.
III e I~ o processo histórico de constituição do Teatro cotno Se nesse firn de século XX a educação erri geral tende
disciplina escolar foi consolidando-se sobre achados na esfera da a interagir com concepções culturais ernergerrtes - respeito ao
pedagogia e outros catnpos de conhecimento, mas sobretudo no receptor, intertextualidade, interatividade e p.Iuralism o - , para
ârrib'ito da prática teatral. Dessa maneira, no âtnago de sua própria cotnpreensão do estado atual e das possibilidades futuras do
historicidade seditnentou-se tirna cultura cotnpreendendo os fins ensino do Teatro deve-se procurar seu sentido na arte
do Teatro na escolarização, suas rneras pedagógicas e estéticas, contetnporânea, na produção dos artistas, no pensatnento dos
conteúdos, atividades facilitadoras do aprendizado e críticos, nas propostas das instituições culturais e rrrus eus, s ern
proceditnentos de avaliação. ignorar-se a realidade da escolarização. Essa catninhada r urria
Ao longo desse processo de tornar-se disciplina, fo rarn para a superação do fazer que têm caracterizado tanto o ensino
sendo configurados tnétodos e teorias, visando-se superar os de arte cotno a fo rrrração do professor, b ern oorrio do sentir
obstáculos suscitados através da ação. Os anos 70 foram rnarcados ' enquanto esfera radicada na liberdade expressiva, encatninhando
pela im.provisação das alternativas e por seguidas tentativas de a questão da reflexão corrio estatuto de trrn pensar que existe
superação dos p roblernas surgidos no âtnbito das escolas, ao para tecer conexões entre esses três patatnares da ação artística e
passo que nos anos 80 e 90 fo rarn produzidas tnuitas pesquisas pedagógica - fazer, sentir, pensar.
no Brasil sobre teatro na educação escolar, dando início a trrrra As idéias discutidas nessa seção a p r e s e n t a rn
profusão de idéias que hoje já podetn ser, inclusive, avaliadas. l i questionatnentos sérios sobre os fundatnentos do currículo que
estão presentes nos cursos de preparação inicial de professores
11. Como não disponho de informações sobre as produções de outros centros cito a
título de exemplo, as pesquisas realizadas na ECA-USP até o momento: J~PIAS~Ú 12. A acolhida da obra de SPOLIN (1989) no Brasil foi tamanha, a ponto de constituir-
(2000), SANTANA (2000), ARAÚJO (1999), Puro (1997), KOUDELA (1996, 1992, 1991, se, hoje, em referência bibliográfica quase obrigatória da grande maioria dos cur-
1984), SANTIAGO (1996), CARVALHO (1993), NOGUEIRA (1993), ALVES (1992), COE- sos de formação de professores de arte, possivelmente por dedicar-se ao registro
LHO (1989), PINTO (1987), TAVARES (1985), VAZ (1984). de uma metodologia original de treinamento.
~8 29
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
para a docência etn Teatro na educação básica. Considerando a se necessário encetar estudos dirigidos à superação dos
importância dessas indagações no plano da aprendizagem estética obstáculos, com vistas à adoção de iniciativas que contribuam
e a necessidade que originou sua presença no currículo oficial para a transformação dessa realidade. Nesse sentido. este livro
brasileiro, torna-se necessário um. repensar de sentido, à busca objetiva compreender os caminhos históricos que marcaram. a
de novos paradigmas para esse campo de conhecimento, de preparação de professores na área de Teatro; notadamente num
encontro a um curso ideal mas sobretudo possível, uma vez que momento em que foi instaurada uma cerra transição, provocada,
os modelos usuais encontratn-se exauridos. por sua vez, pelas reformulações que atualmente multiplicaram...
Como as demais áreas que compõem o currículo, a se nos cursos de licenciatura em Educação Artística de
Arte precisa de profissionais cotn conhecimentos adequados para praticamente todas as regiões brasileiras, em decorrência da nova
a tarefa da escolarização - não o professorfaz de conta que atua Lei de Diretrizes e Bases / LDB. Em que sentido carrrirrb.arn
improvisadamente, ou o professor técnico que desconhece as essas reformas? 'Quais os pressupostos conceituais que as
possibilidades pedagógicas do teatro, nem tampouco um professor fundamentatn? Quais são as propostas que indicam vertentes
deus ex rnachlrui que tudo sabe da linguagem ar tís tica e que, a alvissareiras e as que revestem-se de novidades apesar de.
~ada situação, Iarrça mão de poderes miraculosos. Num momento manterem inalterado o status quo? O que têm a dizer os
de crise na educação, faz-se necessário redirecionar a formação especialistas, as instituições, os órgãos não-governamentais e os
inicial e o aperfeiçoamento contínuo dos docentes, tendo em responsáveis pelas políticas públicas? Como fortalecer o ritrno
vistJl/'á"'''grandeza da rrris são que cabe a esses profissionais. das mudanças rnais apropriadas numa escala nacional?
// A tarefa de preparar educadores é de toda a sociedade, Compreender o contexto em que se inserem essas
cabendo às universidades e aos órgãos executores do ensino indagações constituiu-se no desafio principal da presente
empreender ações objetivas, visando traduzir o estado do investigação, pautada em alguns pressupostos ci-rurgicamente
conhecitnento que se t e rn acerca do assunto frente às delitnitados. Em pritneiro lugar insere-se a negação da polivalência
perplexidades instauradas no processo da escolarização. no ensino da Arte e consequentemente a negação da formação
Pensando-se na sala de aula, não é rrrais possível conceber uma do professor.generalista, urna vez que não se tem notícia de boas
i formação tradicionalmente dicotômica; não tem mais lugar, experiências acerca desse assunto, no Brasil e menos ainda no
\Ltambém, a abordagem polivalente que, por ser vazia de conteúdo, estrangeiro.. Em contrapartida a essa tradição inventada pela Lei
concebe utn profissional cujo perfil assemelha-se à imagem 5692/71 e Resolução 23/73-CFE, afirtna-seo princípio da
pejorativa do pato - nada sem mergulhar, tem asas rrras não voa autonomia das linguagens artísticas e a busca da interdisci-
e anda desengonçado. N a condição humana que se apresenta na plinaridade que é subjacente à ação de ensinar e aprender. Neste
virada do século, torna-se imprescindível considerar a metáfora sentido, já não é mais possível, nos tempos de agora, ficar-se à
transcrita abaixo: espera de invenções miraculosas, uma vez que são conhecidos
pelo menos alguns critérios inerentes ao ensino do Teatro, seja
Cada um hospeda dentro de si uma águia. Sente-se portador de em nível formal ou informal, pinçados ria prática de professores
um projeto infinito. Quer romper os limites apertados de seu e artistas, na pesquisa ap Iic a d a, na análise da literatura e
arranjo existencial. Há movimentos na política, na educação e no documentos oficiais, e principalmente no conhecimento
processo de mundialização que pretendem reduzir-nos a simples acumulado historicamente pelas IES. Finalmente, pode-se dizer
galinhas, confinadas aos limites do terreiro. Como vamos dar asas que as idéias aqui analisadas v i s a r arri à incorporação do
à águia, ganhar altura, integrar também a galinha e sermos heróis tenhecimertto advindo da teoria crítica do currículo e das teorias
de nossa própria saga? (BoFF,1997:s/p) pós-modernas de formação do educador,13 considerando, na
medida do possível, a experiência do autor junto ao errsirro básico
Se os critérios historicatnente seditnentados na e superior
educação brasileira -não mais correspondetn às exigências da
contetnporaneidade - especialtnente no caso das artes - , faz- 13. Entendo ser desnecessário levar adiante uma discussão exaustiva a respeito dos
limites entre os conceitos de modernidade e pós-modernidade. Grande parte dos
30 31
· TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
fragmento da transição' atualtnente instaurada no âmbito da fornecer subsídio teórico aos cursos que, rne srno sofrendo as
formação de professores para o ensino do Teatro~ numa tentativa rrraz ela s itnpostas à universidade brasileira, garantem, COtTI s u a
de tecer explicaçQes sensatas sobre o contexto em que se insere ação cotidiana, o direito do cidadão ter acesso à cultura e à
a questão, b us cariclo, ao mesmo tempo, antever alguns cenários
educação. . , .
que pop.em apresentar-se num futuro imediato. Utilizei o serrticlo Face à complexidade implicada no universo rerrratrc.o
0~tol6gico de análise para "considerar as coisas no seu conjunto" da pesquisa, utilizei muitos caminhos - como sugere a or~ge~
GAPIASSU' & MARCONDES, 19.~6:9),visando compreender, à grega da palavra método - , procurando es.tabelecer uma rnecliação
maneira da hermenêutica, como cada caso se relaciona com a entre vários procedimentos com Vistas a oferec~r uma
t o tah d a d e e co rn o es ta se expressa através de suas partes contribuição original, relativização essa engendrada no rigor do
c'onst1tuintes. E~ outras palavras, o bjetrvei enxergar o curso de raciocínio científico e na clareza analítica dos fenômenos.
fo rrriação do professor dJe Teatro frente às questões mais vitais Para compreender os pilares que sustentam a
da educação brasileira, mesmo correndo o risco de estar lidando fo'rrriação do professor de Teatro que se tem no momento foi
com trrn procedimento tanto desconhecid~, quanto banalizado necessário enveredar ria trilha da descrição histórica, b us carrdo
110 campo .da p esquisa so cial. descobrir e observar os fatos COlTI vistas a "descrevê-los,
Um o u t r o patamar d a p es q u is a reportou-se à classificá-los e interpretá-los" (SEVERINC), 1986:193). Co m o a
identific~ção do co nt.eú do político-id.eológico das reformas história do ensino escolar de Tea tro é ainda hoje um terria pouco
e d u ca c'i o n ai s im'ple~entaq.Jas à época do s u rg irn e n t o da visitado pela literatura, foi necessário catalogar e sistematizar
Lic~nciat4ra e rn Educação Artística. Para tanto, tentei fontes diversificadas de informação, resgatar explicações tratadas
cOJ..1.textualizar os condicionatnentos históricos que. levaram à apenas aces'soriatnente por documentos ~tinentes a outr~s áreas
criaç~;odaquele rrrocie lo de formação do professor, através da e checar, s errrp re que possível, a veracidade dos fenomenos
anJálised<>.s referenciais teóricos e
documentos que desvelados no decorrer da investigação, contando, sempre que
furrdarrierrtararn os mínimos de conteúdo e duração es tabeleciclos necessário, cotn a consultoria de especialistas.
pela Resolução 23/73:"'CFE, 'eda reflexão que a opinião A natureza epistemológica do procedimento relatado
esp,e~ializad,a tem sobre o assunto. no parágrafo anterior impingiu à pesquisa u~ caráter te~ri~o
Os estudos históricos levaram. àverifiçação de como empírico, tomando-se por empírico tudo a qtril o ~ue cons trtur o
foraht' estruturados 'os cursos superrores vde artes cênicas ' - ucampo de corrhecirneríto antes da intervenção raciorial e de toda
arrtezio res e~tnvigor- , abordagem que enfatizou as categorias sistematização lógica" OAPIASSU & MARC()NI)ES, 199~:80).
conhecimento em teatro e .conhecimento em ensinodo Teatro. Busquei Concomitantetnente à fase de coleta de dados, empreendi uma
verificar, tamb:étn, 'como se estruturou a organização acadêmica revisão bibliográfica exaustiva sobre os temas que relacionavatn.-
no interior dos cursos, no intuito de identificar as alternativas se diretatnente à pesqui~a, a dizer: teoria do currículo, estudos
sobre preparação do professor e sobre forrn.ação profissional de
(..) autores citados nessa tese apresentamestratégias para a compreensão do con- teatro, teorias contemporâneas explicativas do estado da cultura,
texto mais amplo da pós-modernidade, no qual situa-se o "arquipélago de discipli- entre outros.
nas que está disperso no oceano da teoria social" (McLAREN, 1997:123).
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A QUESTÃO DA FORMAÇÃO INICIAL PARA O ENSINO DO TEATRO
especialistas na literatura e minha própria experiência no ramo. como foi possível à pesquisa perceber essa realidade - , torna-
Assitn, interessava-me pensar com a comunidade que produz se imprescindível discutir, a seguir, os problemas da licenciatura
conhecimento, e não apenas sobre as suas propostas. em geral e contextualizar ainda mais o problema da pesquisa
Através dessa fusão dialética de métodos qualitativos, através de uma abordagem histórica, como forma de encaminhar,
a pesquisa buscou evitar a coisijicação dos fenômenos observados, posteriormente, as reflexões acerca das possibilidades de mudança
e sobretudo superar o patamar da mera descrição. Corno o estudo que apresentam-se no cenário da educação brasileira para o ensino
de caso constituiu-se numa das abordagens que nortearatn a de Teatro.
investigação, seus resultados não podem assumir contornos de
verdade definitiva acerca de urna realidade tão tnúltipla corno é a
fortnação de profissionais da educação. Dessa maneira, tal corno
acontece com o conhecimento produzido por pesquisas que
particularizam o objeto de estudo, ao invés do leitor deste trabalho
perguntar-se - e s t e caso é representativo de quê? vai indagar:
U
36 37
CAPíTULO II
Aspectos Críticos da
Preparação do Educador
Trajetória da Licenciatura no Brasil
18. Ver NÓVOA (1995) PERRENOUD (1992), ANFOPE (1990), ARAÚJO (1990) e BERNARDO
(1986).
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ASPECTOS CRíTICOS DA PREPARAÇÃO DO EDUCADOR
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TEATRO· E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ASPECTOS CRíTICOS DA PREPARAÇÃO DO EDUCADOR
Corn essa estruturação, caberia às faculdades e institutos o ensino número de professores para atender a demanda exigida pelo
dos conteúdos específicos, ao passo que à faculdade de educação aumento na oferta de vagas do ensino básico, foram criados os
seria attibuída a formação pedagógica, ficando a coordenação cursos de curta duração (Resolução 30/70-CFE). Associado ao
acadêmica dos cursos "a cargo de um colegiado de representantes conceito de polivalência instituiu-se o de ciência integrada, arte
das unidades que participam do respectivo ensino" (Artigo 8°). integrada e outras aberrações epistemológicas, ignorando-se o
U ma das conseqüências da mencionada reforma (Lei desenvolvimento histórico peculiar de cada uma dessas áreas do
. 23
5540/6S) foi o desmembramento das faculdades de filosofia e a conhec1mento. Na Indicação 30/70-CFE foram anunciados os
proliferação de faculdades de educação, sem que, para as últimas, novos cursos de licenciatura, de curta e longa duração,
fossem concedidas certas estruturas de sustentação à altura das estruturados nos setores de Educação Geral, Formação Especial
novas responsabilidades. Isso acentuou ainda mais a separação e Formação Pedagógica. Para os dois últimos prevaleceu a'
entre os cursos e, face à importância socialmente atribuída para legislação anterior, ao passo que, para o de Educação Geral, a
as profissões liberais, os bacharelados absorveram os alunos mais Indicação 23/73-CFE estabeleceu os campos de cada conjunto
capazes. Antecipando o que viria a ocorrer rnas sivarnerite depois de habilitação, a saber:
da reforma catastrófica de 1968, TEIXI-':IRA fez a seguinte
observação, em palestra no Congresso Nacional sobre a expansão Campo de Comunicação e Expressão / Curso de Letras Língua >
Em resposta à necessidade premente de aumentar o 23. A literatura registra que os cursos de curta duração e a polivalência foram anunci-
ados na década de 60 em caráter transitório, tornando-se regulares na legislação da
década seguinte (ver CANDAU, 1987 e BRZEZINSKI, 1995).
22. ln: Indicação 22/73-CFE. Walnir Chagas foi também mentor da concepção filosó- 24. O trabalho de Scheide (1988) contempla uma vasta discussão acerca da tentativa
fica e estruturação dos mínimos de conteúdo e duração do curso de Licenciatura em de i?stit~ir-se, a polivalência na formação do professor de Ciências, ao passo que o
Educação Artística (ver CHAGAS, 1976). _de Fusari & Ferraz (1992) trata de assunto semelhante, na área de Arte.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ASPECTOS CRíTICOS DA PREPARAÇÃO DO EDUCADOR
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
ASPECTOS CRíTICOS DA PREPARAÇÃO DO EDUCADOR
necessariamente, na gestão e suas relações de poder; Inglaterra, Japão, Estados Unidos, França, Austrália, Canadá e
. ~
. a necessidade da ação curricular serexercida deforma coletiva e Espanha, Citando apenas alguns exerriplo s. A s ernefharrça dessas
interdisciplinar. (ANFüPE, 1992:17-19) re fo rrrras sugere a existência de algo COITlUITl tarrrb érri na esfera
política, UITla vez que nos países citados o cerco neo-conservador
Considerando que a proposta da ANFOPE referia- e neo-liberal tern clerrroris trado errorrrre força política. A política
se a UITl s is terna de fo r ma ç ã o de professores rrnrito arrip lo, oficial brasileira seguiu trilha idêntica, ao priorizar, dentre outras
envolvendo desde os cursos de Magistério ern nível de ensino estratégias, o es tab elecirrierrto de novas diretrizes curriculares ern
rrréclio às licenciaturas e pós-graduação - o que iria alterar todos os níveis de ensino, COITl reflexos na Fo r rn aç o de ã
raclic.alrrierrte a estrutura existente e destinaria UITl novo papel professores e na docência. O que p ro p õern essas re fo.rrrras e
para institutos e faculdades - , sua discussão d.is serrririo u-s e porque a área do currículo rerri as s'urrriclo Irnp o.rtârrcia capital no
s orrrerrte no ârrrbrto dos clepa rtarnerito s universitários de educação panoraITla das políticas educacionais?
e associações de pedagogos; teve, entretanto, o rriézi to de inserir O currículo é considerado a caixa preta do processo
novos e lerrrerrto s ao debate. de escolarização e os estudos a esse respeito v-êrn contribuindo
Face à continuidade histórica e ao caráter coletivo de de rnarie.ira especial para a renovação da cena pedagógica, face à
construção do c o n h ecirn e n t o que as e n g e n d ra r arn , essas insistência COITl que os pesquisadores investigaITl a errrergêrrcia
28
possibilidades de rrruclariça aventadas pela crítica dos especialistas dos novos p aradigrnas que se irrserern nUITl rrruriclo socia.lrrierrte
fazerri parte de algo que, no ârrrbiro deste livro, configura-se COITlO e cuf tu.ralrrrerrte txarrs fo rrrraclo - globalização, generalização de
UITl nrovinrento de tranifornração da licenciatura que terri arrrplas rrreros tecnológicos inovadores, conflitos agravados pela situação
repercussões tarrrb érn na área de Arte, c o n fo r rrre discussão pós-colonial COITl a qual convive a rnaioria da população rnurrdial,
apresentada no Capítulo IV Considerando os d i lerrras e as questões étnicas e de gênero, dentre outras, são algtrrnas das
perspectivas apresentadas nessa breve retrospectiva histórica da preocupações ericarrrp adas pela teoria do currículo.
licenciatura no Brasil, cabe finalizar a discussão fazendo UITla A contribuição de MOREIRA (1997) é rn u i t o
reflexão sobre as possibilidades de reestruturação dos cursos de significativa para a corripre errsão de luzes que cirrtifarn no espaço
fo.rrnação de educadores, tendo corrro foco o teatro-educação. da pedagogia estética, pois estabelece pontos cormrns entre os
estudos sobre currículo e a literatura p s-rno-derria, tais COITlO o
ó
28. O significado da palavra possibilidade empregado em vários momentos nesta tese 29. Ver GOERGEN & SAVIANI (1998), MENEZES (1996), ApPLE (1995; 1995b) e GOODSON
foi retirado da obra Os professores como intelectuais (GIROUX 1997). Para esse (1995).
autor, a pedagogia precisa de um projeto político para viabilizar-se, combinando a 30. É interessante observar que, no caso da linguagem teatral, as referências que im-
'\ "linguagem da análise crítica com a linguagem da possibilidade. Desta maneira, ela plicam na compreensão do estado da cultura na atualidade trazem à tona preocu-
deve oferecer análises que revelem as oportunidades para lutas e reformas demo- pações semelhantes às da teoria do currículo. Para KOUDELA (1997:8) "há uma una-
cráticas no funcionamento cotidiano das escolas. De forma semelhante, ela deve nimidade entre os estudiosos do teatro quanto a marcas que definem a encenação
oferecer as bases teóricas para que professores e demais indivíduos encarem e ex- teatral pós-moderna. Descontinuidade, intertextualidade, pluralidade, valorização
perimentem a natureza do trabalho docente de maneira crítica e potencialmente do receptor, descontextualização, fragmentação, montagem, carnavalização,
transformadora" (GIROUX, 1987:27). pluralismo, performance, são temas recorrentes."
50 51
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES ASPECTOS CRíTICOS DA PREPARAÇÃO DO EDUCADOR
No novo mapa cultural traçado pela emergência de uma não seráfácil melhorar a qualidade do ensino se não se mudam os
multiplicidade de atores sociais e por um ambiente tecnicamente conteúdos, os procedimentos e os contextos de realização dos
modificado, a educação institucionalizada e o currículo continuam currículos. Pouco adiantará fazer reformas curriculares se estas
a refletir, anacronicamente, os critérios e os parâmetros de um não forem ligadas à formação dos professores. Não existe política
mundo social que não existe mais. (SILVA, 1995: 185) mais eficaz de aperfeiçoamento do professorado que aquela que
conecta a nova formação àquele que motiva sua atividade diária:
A história do currículo tem sido caracterizada pela o currículo. (GIMENO SACRISTÁN, 1998:10)
predominância da prescrição enquanto remédio a ser aplicado
pelo professor, em cuja bula é recomendada a maneira adequada Parafraseando a idéia acima, infere-se que os
de executar o trabalho na sala de aula - antecipa-se o resultado currículos das licenciaturas em Arte não podem ser concebidos
do ensino e se dá o que deve ser ensinado de maneira de um modo abstrato, mas sim enquanto forma de organização
preestabelecida, ou seja, os conteúdos das matérias e seu das práticas estéticas e pedagógicas a serem construídas
desdobramento em forma de disciplinas. Nesse cenário, o coletivamente; através da crítica propiciada pela prática de ensino,
educador assume o papel de técnico, propositor de caminhos de passa a constituir-se em objeto de reflexão, avaliação e
aprendizagem, em detrimento do saber pedagógico e da cultura redimensionamento de um processo que visa à elevação constante
que é portador. Corno decorrência de urna aplicação do currículo dos padrões culturais da sociedade.
enquanto prática idealizada, instaura-se, no âmbito da Assim, para aventar-se urna transformação que não
escolaridade, um processo de ensino e aprendizagem que é se traduza apenas na revitalização de algo que nunca funcionou
alienado na sua origem, tornando-se um curso a ser seguido, e a contento, deve-se almejar novos paradigmas para a formação
31
não a corrida em si mesma. inicial de professores, concebendo-se, nessa trajetória, urna noção
O desafio que se coloca à teoria curricular é, então, de currículo diferente de sua tradição prescritiva. Dessa maneira,
detectar os problemas atávicos que as políticas educacionais não há de se pensar em modelos bastante diversos daquilo que se
conseguiram suplantar no curso da história, frente aos dilemas conhece convencionalmente - auto-didatismo, tradição pautada
do momento. Essa via não tenta apenas superar a cientificidade em conservatórios artísticos, utilização de um conceito de arte
que marcava o paradigma anterior, mas sobretudo avançar na sem densidade epistemológica, polivalência, etc.
construção de instrumentos teóricos visando compreender a Não basta manter intacto o que se supõe estar indo
realidade para poder transformá-la. Considerando essa postura bem e reformular apenas aquilo que é considerado problemático,
epistemológica, Hum currículo criativo e transformativo precisa pois a mudança requer princípios bem mais generosos que os
combinar o científico com o estético" (DoLL JR, 1997:22), urna comumente adotados. Ademais, é de bom alvitre lembrar que a
vez que o ecletismo é urna possibilidade interessante que veio à crise não se expressa tão-só na formação pedagógica - corno
tona junto às idéias pós-modernas. Por essas razões, pensar a muitos querem crer, no caso das licenciaturas em artes - ,
questão da formação de professores requer a discussão das teorias atingindo, sem sombra de dúvidas, a todo o sistema superior de
. 32
pedagógicas sob a perspectiva do currículo, a saber: ensino.
54 55
CAPíTULO III
Panorama do Ensino de
Teatro no Brasil
Antecedentes
59
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
[oo.] primeiro, os conteúdos não são entidades monolíticas, mas e aulas de ensinar a ler e contar dos jesuítas seguiam a orientação
um amálgama mutável de sub-grupos e tradições. Estes grupos contida no Ratio Sru dior arn, publicado em 1599, que previa um
dentro da disciplina influenciam e mudam fronteiras e prioridades. programa composto de sete classes, a dizer: Gramática
Segundo, no processo de estabelecer um conteúdo escolar (e uma Portuguesa, rudimentos de Latim, Sintaxe e Sílaba, Construção
disciplina universitária a ele associada) os grupos de base de um Latina e Retórica, Filosofia, Teologia Moral e Cantochão. Apesar
conteúdo tendem a mudar, da promoção de uma tradição utilitária de não ter um cunho de tertninalidade, a missão educacional dos
e pedagógica, em direção a uma tradição acadêmica. Terceiro, nos jesuítas era concluída com uma viagem à Europa (sic), destinada
casos estudados, muito do debate sobre currículo pode ser aos alunos que conseguiam sucesso. O ensino das Ciências, cuja
interpretado em termos de conflito dos conteúdos sobre status, orientação era recomendada no Quadriviu1n, foi praticamente
recursos e território. (SANTOS, 1990:25)33 inexplorado. A educação profissional limitava-se ao ensino de
técnicas rudimentares de trabalho artesanal, ao passo que às
Considerando que esta pesquisa abordou <? tema da meninas e moças ofertava-se o treinamento de habilidades
preparação inicial de educadores para o ensino escolar de Teatro, domésticas e recomendações de boas maneiras para o convívio
35
é imprescindível saber em quais fundamentos assentam-se os em sociedade.
pilares dessa disciplina, e, para tanto, foram delineadas as seguintes Cuidando de um ensino primário insuficiente em
questões: i) q'uarrdo, porque e de que maneira a disciplina Teatro termos de quantidade e qualidade, os padres utilizaram-se muito
foi incluída no currículo formal? ii) gual a classificação mais pouco do teatro como acessório ou mesmo complemento dos
36
adequada em termos de categoria de conhecimento acadêmico e conteúdos elencados para as escolas de ler e contar. Assim,
quais são as áreas limítrofes mais próximas? iii) quais as formas despreocupado em desenvolver a linguagem cênica até mesmo
de organização existentes na área, em termos de grupos no terreno literário, o ensino jesuítico brasileiro não alcançou o
acadêmicos, entidades civis e outras? iv) que recursos de rigor do modelo implantado nos colégios de humanidades
comunicação, publicação e confronto de idéias existiram ou ainda europeus, onde M'o liê re e Goldoni, por exemplo, iniciaram-se na
existem? v) como o sistema de ensino vem absorvendo a arte dramática. De fato, os espetáculos religiosos foram utilizados
produção de conhecimentos, os métodos e as formas de como instrumento didático para o povo e para os índios, com
av~~açã.o? vi) aue modelos de formação do educador vêm sendo finalidades expres s amente catequéticas:
p.rivileg'iados P
Frente a essa abordagem histórica, faço referência a [... ] a missão dos jesuítas tinha proporções gigantescas. Se aos
fatos bem anteriores mas que alinhavaram o aparecimento das colonos competia conquistar a terra, subjugando-lhes oshabitantes,
escolas de teatro no Brasil e do ensino de Teatro na educação cabia aos padres uma tarefa ainda mais árdua: sujeitar a alma
básica, fenômenos esses evidenciados apenas no decorrer do indígena. [...] um vastíssimo projeto, tanto religioso quanto militar,
presente século, buscando embasar-me em obras relativas à tanto político como econômico, que no século XVI era o de toda a
história do teatro e principalmente em pesquisas que abordaram Europa e para toda a América. (PRADO, 1993:52-53)
exclusivamente o seu ensino, como as de CARVALHO (1989) e
FREITAS (1998). 35. Ver RIBEIRO (1998), NISKIER (1989) e BARBOSA (1978).
A educação brasileira no período colonial esteve 36. ~pesar ,do ,caráter ideológico impingido à missão dos jesuítas, há de se relativizar a
inicialmente a cargo dos padres da Companhia de Jesus, lmp~rtancla de sua atuação no contexto da época, como evidencia a passagem a
seguu: "Er~m as a.ulas desses reg~l~res as únic.as ~o abandono completo em que
objetivando fornecer às elites uma formação humanística e, aos ~ortugal delxa.va viver em sua colónia. Nas capitaruas em que tinham colégios en-
índios, catequese e aculturação aos valores europeus. Os colégios sinavam gratU1~a~ente Gramática latina, Filosofia Dogmática e Moral, primeiras
letras e Ma,tematlcas. Elementares. E essas disciplinas eram dadas por professores
de verdadeiro merecimento. Davam graus científicos, literários e teológicos, entre
outros o de Mestre em Artes, que era então mais estimado do que é hoje o de
33.A citação acima refere-se à teoria proposta por GOODSON (1995). doutor por qualquer academia" (in Instrução pública nos tempos coloniais de
34. Ver CHERVEL (1990) e SANTOS (1990). M. D. Moreira de Azevedo, spud NISKIER, 1989:36). '
60 61
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
Os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta ern infortnações sobre aquele período histórico, as anotações dos
descobriratn que índios e rnarrieluoos ti n harn grande habilidade jesuítas que tra balhararri no Brasil não aludetn d.iretarrierrte ao
para a dança e para a rrrú s i ca, levando-os a participar das uso do teatro etn sala de aula c orno eletnento subjacente à
representações de espetáculos religiosos enriquecidos c o m aprendizagem dos conteúdos escolares, errrbo ra saiba-se que
eletnentos do itnaginário indígena, incluindo probletnáticas assim sucedeu:
rrro rais e regionais. A p rirneira peça itnportante foi O auto da
pregação universal, apresentada ern São Paulo de Piratininga e . Os espetáculos jesuíticos certamente continuam {no século XVIII
posteriortnente noutras localidades, ern praças, ruas, adros de e seguintes], não havendo motivo para que cessassem tão
igrejas, eventualtnente nos palácios de governadores, entre 1567 abruptamente. Como provam, de resto, alguns documentos,
e 1570. O auto de São Lourenço, ou Na festa de São Lourenço, referentes à Bahia, ao Pará e ao Maranhão. Mas, amenizada a fúria
foi outro texto rrruiro encenado, contendo personagens alegóricos catequética, abrandada a surpresado encontro inicial com a cultura
cotnO Amor de Deus e Castidade. Variando ternas e for mas indígena, essa dramaturgia perde impulso, reduz-se à sua
drarnâticas, os jesuítas apreaerrtararn, dentre outras peças, o Auto verdadeira dimensão de exercício escolar. Já não interessa tanto,
de São Sebastião, etn 1584, de rnarreira concentrada - no palco nem como realização, nem como notícia digna de registro. (PRADO,
- , e processional, corn os atores sendo vistos das janelas das 1993:56)
casas ao longo da procissão cênica. Via de regra os espetáculos
obtinhatn rrruira repercussão com o gentio e o incentivo dos Da rrie srna maneira que a historiografia brasileira não
senhores e governantes, confortne relata Sábato Magaldi: registrou o uso escolar e comunitário do teatro, não se rerri
registro de imagens de espetáculos ou de práticas teatrais até o
o caráter festivo das representaçõesjesuíticas, realizadas em datas século XIX. Mesmo a pintura de cenas d orrrés ticas, tão ao gosto
especiais, mobilizava todos os habitantes das aldeias, como na Idade das classes abastadas daquela época, não rri fo r rrrarrr - corrio
Média, a montagem dos mistérios recebia a colaboração de todo o ocorreu em outras culturas - quais os tipos de brincadeiras de
burgo, ao menos para registrar o número surpreendente de itnprovisação e jogos cênicos praticados, espetáculos de dança,
espectadores. Os próprios índios, ensaiados pelos padres, teatro e folguedo, situação que foi alterada com a criação da
incumbiam-se da representaçãode diversos papéis, compenetrando- Acadetnia de Belas Artes e a chegada da missão artísticafrancesa.
se muito mais dos ensinamentos enunciados. As mulheres não Visando rn o d e r n i z a r Portugal à semelhança da
figuravam no elenco, supondo-se, por isso, que interpretava a velha Inglaterra - onde há rnais de urn século havia instaurado-se tirn
de Na Festa de São Lourenço um homem caracterizado. tnodelo de metrópole capi/alúta - , as re fo rrrias efetuadas pelo
(MAGALDI, 1998:23) Marquês de Potnbal em quase nada alteraram a organização
escolar local, muito rnenos a qualidade do ensino praticado,
Corri a expulsão dos jesuítas, ocorrida ern 1759 sob a e rn b o r a t.ive s s ern o propósito de provocar tnudanças que
acusação p orrib aliria de usurpação de bens e direitos portugueses adaptassetn a colônia à "nova o rclern pretendida ern Portugal"
na colônia, essa tnodalidade teatral não teve continuidade (RIBEIRO, 1998:35). O panoratna cultural, por sua vez, tnanteve-
3
histórica. ? Apesar de se constituir rrurn dos capítulos rnais ricos se subrrris s o ao tnolde anteriortnente instalado, sem que o ideário
ilutninista propalado etn Portugal tivesse algtirna repercussão por
37. Quanto à continuidade do teatro religioso no Brasil após a expulsão dos jesuítas,
aqui, pois a circulação de publicações européias era rrruito restrita
sabe-se que Padre Valentim, um grande incentivador do teatro profano no Rio de e controlada pelas autoridades a sete chaves, sendo tarnb érn raras
Janeiro - teve um teatro particular. Todavia, seguindo o modelo implantado na as instituições de incentivo à produção cultural.
Idade Média, as ordens religiosas mantiveram em suas paróquias a prática teatral A gênese do ensino artístico no Brasil deu-se
paralelamente a corais, grupos de músicos, pintores, escultores e artesãos. A partir
do século XVIII o teatro formal alojou-se no palco, ao tempo em que chegou ao fo rrrialrrierrte erri 1816, cotn a criação da Escola de Ciências, Artes
Brasil o teatro de bonecos e outras manifestações essencialmente de rua, dissemi- e Ofícios, e da Aca'CI'emia Irriperial de Belas-Artes, arribas na cidade
nando-se também as formas de drama popular - Congada, Chegança, Bumba-
Meu-Boi e outras modalidades.
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do Rio de Janeiro, a tnando de D.João VI. A literatura aponta os
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
preconceitos que os artistas enfrentaram naquela época e as superiores para alunos de outras escolas. De sua tabela de estudos
características que marcaram o ensino por eles praticado - por constavam Música Vocal e Desenho Figurado em todos os sete
um lado os prfljessores-artistas ignoraram a cultura que aqui se anos de escolaridade, sendo que, nos dois últimos anos,
desenvolvia e, por outro, eles mesmos não gozavam de igual acrescentava-se ao rol de conteúdos as matérias Retórica e Poética.
prestígio concedido aos poetas e escritores, como assinala o Mas, ao que tudo indica, no ensino desses conteúdos foi ignorada
seguinte fragmento de texto: a tradição secular de leitura de peças dramáticas ern público,
mesrno num momento erri que já fazi arn sucesso as obras de
o grau de valoração das diferentes categoriasprofissionais dependia Martins Penna e Gonçalves de Magalhães e as tnontagens de
dos padrões estabelecidos pela classe dominante que, refletindo a João Caetano, esses que foram os três brasileiros responsáveis
influência da educação jesuítica, a qual moldou o espírito nacional, pela modernização do teatro nacional.
colocava no ápice de sua escala de valores as atividades de ordem Em meados do século passado João Caetano tentou
literária, demonstrando acentuado preconceito contra as atividades criar a Escola Dratnática do Rio de Janeiro, tendo concebido a
manuais, com as quais as A rtes Plásticas se identificavam pela estrutura filosófica e organizacional da instituição, s ern que
natureza de seus instrumentos. (BARBOSA, 1978:21) obtivesse o apoio necessário para efetivá-Ia. Com finalidades rrrais
políticas que pedagógicas, errrbo ra preocupado com razões de
a ensino do Desenho ganhou alguma relevância na natureza estética, ele imaginou urn curso contendo as seguintes
escola elementar a partir das atividades públicas da Academia de matérias: Da Reta Pronúncia (grarnática da língua portuguesa e
38
Belas Artes. Além das influências expressas pelo pensamento- literatura dramática); História (história antiga, Idade Média e
de positivistas e liberais - que aconselhavam respectivamente o Moderna e história pátria); Declatnação (gêneros trágico,
apuro técnico e o conhecimento de rudimentos da linguagem dramático e cômico); Esgritna, adestrando os alunos no Jogo
40
visual - , chegavam da Europa métodos de aprendizado do das armas.
Desenho Geométrico que, via de regra, não levavam em Mas não se pode delegar à iniciativa de João Caetano
consideração a cultura nativa nem a tradição barroca que entre um sentido pioneiro, pois a instituição escala de teatro foi u rna
39
nós já durava cerca de duzentos anos. novidade trazida pela encenação moderna e que iria se propagar
Com a proclamação da independência e a instalação b ern mais tarde. Findava rriais um século sern que o ensino de
da Assembléia Constituinte (1823) o debate sobre questões Teatro assumisse seu lugar na escola brasileira.
educacionais esteve sempre em voga, embora tenha sido
concebida, em seu bojo, uma estratégia política qu~ invertia as
necessidades educacionais básicas da população: ao 'invés de ser o 'Acíverrto das Escolas de Arte Dramática
criado um sistema nacional e unificado de ensino, foram e do Teatro na Educação Básica
inaugurados ou reformulados cursos superiores em áreas que
atendiam aos interesses mais imediatos da corte - Direito,
Medicina, Belas-Artes e Engenharia Militar. Substituindo o ator fo rrrrado no interior da classe
a Colégio Pedro II, inicialmente ligado ao Ministério teatral - de procedência medieval e que possuía estilo e papel
do Império e depois ao governo da República, destinado a ser
fixos durante toda a vida - , bem como o »ronsrro sagrado
padrão de ensino, promovia os exames de acesso a séries
instituído pelo teatro burguês do século passado, "as grandes
38. Em 1829 foi realizada a primeira exposição artística que se tem notícia no Brasil: 40. Em duas das lições dramáticas proferidas por João Caetano dos Santos em 1859-
os alunos de Debret mostraram ao público, na Academia Imperial de Belas-Artes, republicadas um século depois pelo SNT (CAETANO, 1962), o autor justifica a im-
"47 trabalhos de pintura histórica, 106 estudos de arquitetura, 4 trabalhos de pai- portância do seu empreendimento: i) Primeira lição; ii) Tendente à necessidade
sagem e 4 bustos em gesso de Marc Ferrez. O Brasil assim tomava conhecimento de uma escola dramática para o ensino das pessoas que se dedicarem à car-
do neoclassissismo" (NISKIER 1989:115). reira teatral, provando também a utilidade de um teatro nacional, bem como
39. Ver BARBOSA (1984; 1978) e DUARTE JR (1981). os defeitos e a decadência do atuaI.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
teorias de interpretação apoiaratn-se quase setnpre rrurria rejeição Tenho a impressão de que, se o ensino do teatro, como foi decretado
da interpretação tradicional" (ROUBINE, 1982:147). em 1945, estivesse ligado desde então à universidade, o seu
N o bojo da revolução cênica que tnarcou a virada do desenvolvimento seria hoje notório. Haja vista a grande
século, fo rarn concebidas propostas que derarn novos r urrro s à contribuição que o programa de pós-graduação em Artes Cênicas
arte dratnática c orrro tirn todo e especialtnente à arte do ator. da Escola de Comunicações e A rtes da Universidade de São Paulo
Muitos fatores de natureza estética e técnica r o r n ararn rrrai s tem dado, através das dissertações e teses-ali defendidas, para o
cotnplexo o fazer teatral, exigindo urn proceditnento novo, corrio acervo da literatura teatral brasileira. (FREITAS, 1998:42)
atesta a seguinte citação:
Interessa ao presente capítulo c o rrrp r e e n d e r o
o ator, por exemplo, não pode mais ter apenas um estilo ou prender - rnorrierrto e a tnaneira c.orno o Teatro passou a ter status de
sua arte a convenções fixas, como acontecia no classicismo francês ( disciplina a ser tninistrada na educação básica e ern nível superior
ou no teatro elisabetano. O ator - ou ao menos o ator ideal - - processo que engendrou a fortnação de professores - , rrras,
tende a possuir um domínio universal de todas as técnicas, de tal antes disso, é itnprescindível regis trar os rnarco s que pccrrritern a
maneira que ele possa, ao menos em princípio, trabalhar qualquer cotnpreensão da estrutura for mal adquirida pelo seu ensino no
tipo de texto. Isso exige do ator um longo período de formação, que curso da história da educação brasileira.
justifica por si só a existência, em nossos dias, das escolas de arte Antes da República, a criação do çpn.servat"Ório
dramática. (BORNHEIM, 1992:21) Dranrático,çmSalvador (1857), constituiu-se rrurrra iniciativa
is~lada de incentivo à d rarnaturgia, exigindo dos alunos "Iaoa
42
','----- A argutnentação acirria alude a trrrra tnudança que prosódia e nítida cornp reerrsão dos papéis desetnpenhados".
aproxitna o palco à escola, fato que, entre fins do século passado No presente século tnuitos personagens ilustres ernp reerrdcrarn
e início do presente, tnarcou a história de p raticarnerrte todas as . projetos artísticos associados a iniciativas p edagógrcas rrrfor mais,
profissões. Seguindo essa trajetória, tnuitas universidades do os quais relacionatn-se clire tarnerrte ao terna escola de teatro, a
Ocidente c riar'arri núcleos ou grupos teatrais Que aos poucos dizer: i) erri 1906 Gotnes Ca rcl irn fundou e rn São Paulo o
4t .
fo rarn transfortnando-se ern cursos superiores. No Brasil esse Conservatório Dratnático e Musical, errrb o ra não se possa
fenôtneno ocorreu principaltnente na década de 60, corri a criação oorrfir rriar a oferta regular de cursos; ü) na opinião de B. de Paiva,
de grupos teatrais arrraclo re s etn rrruito s lugares do país. e .a o Teatro Anchieta, de Renato Viana, constituiu-se no pritneiro
profissionalização que lhe foi decorrente; a realização de fes tivais tipo de oficina teatral do país; iü) a Escola Dratnática do Rio
ern todos os rarrro s das artes; a tnultiplicação das escolas de arte Grande do Sul, cuja serrrerrte foi plantada por Renato Viana,
clrarriá tica, rrruitas das quais fo rarn federalizadas e, ern alguns cultninou na criação do Curso de Estudos Teatrais, corn a
casos, incorporadas às universidades. colaboração de Ruggero Jacobbi; iv) o Grupo de Teatro
Todavia, a disciplina Teatro continuou sendo Experitnental, gertninado no interior do Teatro Brasileiro de
neglicenciada pelo s i s re rn a de ensino nacional, não tendo Cotnédia, contou c orn a participação de Alfredo Mesquita e
tnerecido trrn desenvolvitnento setnelhante ao de outros países, cer tarn e n te inspirou este tnestre a criar a Escola de Arte
erri se tratando de educação escolarizada, corri a criação de escolas Dratnática / EAD; v) o Clube de Fantoches da Euterpe, de
de alto padrão que carrrirrh as s ern rrurn rn e s m o trilho ao da Salvador, ligado ao Serviço Nacional de Teatro / SNT, incentivou
profissionalização, ou rrre s rno c orn a itnplantação de cursos a criação da Escola de Teatro da Universidade da Bahia; vi) a
universitários. A esse respeito, a opinião de quetn estudou o ação educativa do Teatro Tablado, de Maria Clara Machado,
assunto a fundo é bastante elucidativa: tornou-se referência nacional, inclusive por publicar, durante
41. Ver CARVALHO (1989:173). 42. Ver Afonso Ruy, História do teatro na Bahia, citado por CARVALHO (1989).
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
muito tempo, urna revista periódica; vii) o Curso de Arte A té fins dos anos 80 funcionavam no Brasil as
Dramática do Teatro Duse, de Paschoal Carlos Magno, seguintes escolas: Curso de Arte Dramática / CAD- UFCE, no
preocupou-se com a preparação de quadros para a prática cênica; Estado do Ceará; Teatro Universitário / TU-UFMG e Fundação
viii) a Fundação Brasileira de Teatro, de Dulcina de Moraes, Clóvis Salgado, em Minas Gerais; Serviço de Teatro da
formou muitas turmas de intérpretes na cidade do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do Pará, no Pará; Colégio Estadual do
desde a década de 50, até que transferiu-se para Brasília, onde Paraná, no Paraná; Escola de Teatro Martins Penna, Centro
funciona até hoje corno Faculdade de Artes; ix) o Curso de Arte Educacional Municipal Calouste Gulbenkian, Escola de Teatro
Dramática da Universidade Federal do Ceará, fundado por B. de Dirceu de Mattos e Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de
Paiva, em 1960, propiciou a produção de inúmeros espetáculos; Janeiro; Escola de Arte Dramática (EAD-USP), Teatro Escola
x) a Escola de Teatro de Recife teve atuação importante perante Macunaíma e Conservatório Musical Marc e lo Tupinambá em
« '
o sistema de ensino local, atuando eventualmente ao lado da São Paulo.
Escolinha de Arte de Recife na reciclagem de professores; xi) o Dessa relação de escolas, apenas o TU /UFMG não
Curso de Formação de A tores da Universidade Federal de Minas oferece atualmente o curso médio profissionalizante, sendo as
Gerais, mais tarde denominado Teatro Universitário, desencadeou demais autorizadas para qualificar intérpretes na arte dramática.
naquele Estado o interesse pela prática e pesquisa teatral; xii) o O currículo mínimo oficial prevê duas disciplinas teóricas e quatro
Teatro Escola do Pará, criado por Benedito Nunes e Maria Sylvia, práticas, sugerindo que a formação do ator "deva processar-se
revelou João Cabral de Mello Neto corno autor teatral e ainda mais no nível prático do que teórico, dando-se às disciplinas
hoje oferece o ensino médio profissionalizante, constituindo-se práticas urna carga de no mínimo dois terços, ou 66 0/ 0 do total
numa das unidades da Universidade Estadual do Pará; xiii) o de aulas" (FRl":ITAS, 1998:86).
Centro de Artes Laranjeiras, de Yan Michalski, é urna das A pesquisa de FRI-:ITAS revela particularidades
referências sempre citadas no Rio de Janeiro; xiv) o Teatro Escola interessantes, corno a ambigüidade advinda da legislação entre
Macunaíma, de Silvio Zylber, oferta ensino médio formação e qualificação, o que repercute no perfil dos cursos,
profissionalizante, além de preocupar-se com a produção cultural; b erri corno a disparidade quanto à duração, que varia de 3037
xv) o Centro de Pesquisa Teatral, de Antunes Filho, ligado ao horas/ aula, na EAD- USP, para 900 horas/aula, na Escola de
Serviço Social do Comércio / SESC-SP, é urna entidade que tem Teatro Dirceu de Mattos / RJ. Vale ressaltar que o patamar da
prestado serviços relevantes tanto em termos de ensino corno EAD-USP supera o de muitos cursos superiores de Teatro,
na produção de espetáculos de repercussão nacional. conforme será visto no Capítulo V.
Os historiadores registram outras tentativas de criação O estudo do advento das escolas de Teatro no Brasil
de escolas ao estilo dos conservatórios dramáticos, além das sugeriu à presente pesquisa que deve ser atribuída urna certa
citadas no parágrafo anterior. Entretanto, para CARVALHO (1989), relevância à história de algumas dessas instituições para a criação
a primeira escola de teatro criada entre nós foi a Escola Dramática dos primeiros cursos superiores. Dentre os estabelecimentos
Municipal, fundada por Coelho Neto no Rio de Janeiro, em 1908, citados anteriormente, quatro deles - Escola de Arte Dramática
e regulamentada três anos depois através do Decreto-Lei n° 1167. / EAD-USP, Escola de Teatro da UFBA, Curso de Arte
Após várias mudanças de regimento e nomenclatura, funciona Dramática / CAD-UFRGS e Curso Prático de Teatro / CPT-
atualmente corno Escola Dramática Martins Penna e oferece SNT - contribuíram, cada um a seu modo, para a reconceituação
43
curso de qualificação profissional de ator, em nível médio.
(...) áulica. nem a escola formava para o mercado, cujas condições ignorava ou
desconhecia, nem o teatro [que era feito naquela época] precisava de qualquer es-
43. Em documento apreciativo acerca de proposta redigida pela CEEARTES (MEC, cola" (arquivo do autor).
1998, versão preliminar), uma equipe de professores da Escola de Teatro da 44. Os últimos dados fornecidos pelo MEC registram novidades à relação acima: o
UNIRIO manifestou-se sobre essa escola da seguinte forma: "o fato de ter sido fechamento do curso da então Faculdade Marcelo Tupinambá e a criação do Cen-
criada em 1908 não apresenta relevância específica para a história do ensino de tro de Artes Cênicas do Maranhão / CACEM, escola profissionalizante de nível
teatro; trata-se antes de um capítulo da história da cultura, ilustrando sua condição médio, dirigida por Tácito Borralho.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
das artes cêriicas, instaurando princípios pedagógicos de um teatro oferece qualificação profissional a alunos diplomados no ensino
moderno que começava a configurar-se entre nós por volta dos médio, na área de formação do ato r,
anos 40 a 50, e ao mesmo tempo apontando caminhos para a Avaliando a contribuição que a EAD apresentou ao
criação dos cursos superiores, o que ocorreu na década de 60. panorama teatral brasileiro, através de seu ensino e de sua atuação
Por outro lado, o processo de constituição do Teatro como nos planos ético e estético, os professores Armando Silva e Jacó
disciplina regular da educação básica guarda relações próximas Guinsburg fazem observações importantes de serem aqui
com o a.p a r e c i rn e n to das Escolinhas de Arte do Brasil, registradas, especialmente porque elas atestam o quanto os cursos
notadamente naquilo que se refere à educação informal de de teatro da USP - de graduação e pós-graduação - foram
professores, conforme os tópicos seguintes tentarão demonstrar. influenciados pela experiência da EAD. A citação é longa mas
relevante para a compreensão do assunto:
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
- Condições práticas e intelectuais para as pesquisa iniciais que e a praia, enriqueceu e vitalizou o circuito dos signos. (RISÉRIO,
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
gritar que somente um teatro dentro da universidade é que virá, superiores de formação de professores de teatro, quer no âmbito
como complemento estético de educação, a nos colocar num nível das universidades que as criaram ou incorporaram, como em
elevado de criação artística. Isso não deve ser descuidado senhores termos nacionais, através da difusão de suas práticas e princípios
dirigentes: dêem-nos o cursopara opróximo ano! E trabalharemos! pedagógicos. Contudo, o papel mais definitivo, na perspectiva
A Universidade da Bahia está atualmente elaborando um do currículo que veio a ser praticado no ensino superior, coube
programa que é um dos mais belos movimentos de renovação do ao extinto Curso Prático de Teatro, depois transformado em
teatro brasileiro. Contratou Martim Gonçalves para dirigir o Conservatório Nacional de Teatro e finalmente em Escola de
Curso de A rt~ Dramática, e este contratou João A ugusto (crítico Teatro da Universidade do Rio de Janeiro / UNIRIa.
teatral da Tribuna da Imprensa), descobridor de O macaco da ._ Criado em 1939 por Abadie de Faria Rosa, primeiro
vizinha
. p num sebo. E nós?
46
(depoimento de Antonio Abu)'amra , (~iretor do Serviço Nacional de Teatro, o CPT constituiu-se
ln EIXOTO, 1997:107) ( originalmente em um curso livre, com vagas nas áreas de dança,
i canto e ator. Face a seu caráter experimental, não possuía um
Entretanto, foi em 1958 que o Centro de Cultura { currículo propriamente dito, pois seus idealizadores estavam mais
Teatral, ligado à Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio ; preocupados com a renovação do quadro teatral brasileiro do
Grande do Sul, abriu inscrições para suas primeiras turmas. a ,i que propriamente com a maneira de lograr esse intento na
47
Curs.o de Arte Dramática / C.r\D, com trinta vagas e exame de perspectiva pedagógica. a primeiro diretor do CPT foi o
a drrris são vocacional, visava à formáção de atores, ao passo que teatrólogo Benjamin Franklin de Araújo Lima.
o Curso de Estudos Teatrais destinava-se a pessoas interessadas Em setembro de 1945 foi sancionado um decreto
<Cem adquirir um conhecimento da arte teatral como leitores ou federal instituindo o Conservatório Nacional de Teatro como
espe~tadores, d.is~ondo de 120 vagas" (PEIXOTO, 1997:132). A parte da Universidade do Brasil, o qual não foi posto em execução
au!a lnaug~ural, lntttulada Introdução à poética do espetáculo, porque o Presidente Getúlio Vargas foi deposto um mês depois.
foi profenda por Ruggero Jacobbi, seu primeiro diretor em 10/ Contudo, aquele texto oficial traduz algumas das preocupações
3/58. ' que à época vigoravam e que, por isso mesmo, merecem destaque:
Ao longo de sua história o CAD desenvolveu
~emir:ári~s de dramaturgia e festivais, proporcionando o Formar, mediante ensino sistematizado, artistas de comédia e de
lnt~rcamblo e~t~e os novos pesquisadores da linguagem dramática dança, e bem assim o pessoal técnico apto a ensaiar e diri$ir as
4
gaucha e os te rrco s, artistas e produtores que atuavam em outros
ó
representaçõesdramáticas e coreográficasde todo o gênero.
centros. Mais tarde transformou-se no Departamento de Arte
Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul / A estrutura e os conteúdos foram ampliados através
UFRGS, que oferta, hoje, cursos de bacharelado e de licenciatura da Portaria Ministerial n° 241, de 23/5/49, que dispôs sobre a
além de estar em fase de projeto o Mestrado em Artes Cênicas.' formação de intérpretes do drama declamado (sic) do CPT e
estabeleceu, dentre outras providências normativas, as seguintes
disciplinas:
Curso Prático de Teatro / CPT
Curso Prévio (um ano) - Língua Portuguesa (5 h/a por semana);
Interpretação (10 h/a por semana).
. É inegável a contribuição prestada pelas três escolas 10 ano - Ginástica e Dança (5 h/a por semana); Dicção (3 h/a por
mencionadas nos itens anteriores à constituição dos cursos semana); Interpretação (10 h/a por semana); Música (3 horas por
semana), Evolução do Drama (3 horas por semana).
46. A p~ça cujo texto é mencionado por Abujamra, A macaca da vizinha, estreou no
Instituto de Belas Artes, em 28/8/56, e o depoimento citado data desse mesmo 47. Ver HORA (1955).
ano (PEIXOTO 1997: 130). 48. ln: Decreto-Lei n° 7958, Artigo 3°.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
2 o ano- Ginástica e Dança (5 h/a por semana); Dicção (3 h/a por Prática da Direção 'Ieatral; Ética 'Ieatrale Dramática Educacional;
semana); Interpretação (lO h/a por semana),' Música (3 horas por Folclore Coreográfico; Sociologia da Arte; Cenoplastia; História
semana), Evolução do Drama (3 horas por semana); Maquilagem e do 'Ieatro Brasileiro; Psicologia dos Personagens.
Caracterização (1 h/a por semana); História das A rtes Plásticas (3
h/a por semana). Já c.o rn a designação de Conservatório de Teatro,
no~enclatura instituída pela Portaria Ministerial na 54, de 3/2/
Eoxarn feitas rrruitas alterações na estrutura curricular 53, o CPT continuou sofrendo rrrud ariças constantes de endereço,
do CPT ao longo dos anos, fruto de trrn processo educativo de variações na estrutura institucional e alternância no corpo
ensaio e erro. Dessa rnarieira, sucederarn-se legislações internas e docente. Cinco anos depois foi alterada a fo rrria de ingresso,
rrrirriste riuis, a exernplo da Portaria n° 8/49-SNT que instruía o passando-se a exigir diplorna ginasial aos candidatos. Ern 1965 o
trabalho dos ensaiadores de elenco, os quais deveriarn ser SNT conseguiu instalar o Conservatório na sede antiga da União
portadores de "cornpleto co nb.ecirnerrto teórico e prático de Nacional dos Estudantes, rrurn endereço historicarnente farrro s o
técnicas e palco, psicologia, estética e orientação pedagógica", _ Praia do Flarnengo, 132 - , iniciando-se trrri período de
ou da Portaria Ministerial n° 436, de 20/11/50, que acrescentou apogeu, tendo à frente trrn dos m aio re s responsáveis pela
trrn terceiro ano de estudos e incorporou as disciplinas abaixo, renovação do teatro brasileiro, o cenógrafo Santa Rosa.
rrurna tentativa de equiparação aos clerriais cursos superiores de A história do Conservatório, entretanto, reflete as
então: Ginástica e Dança (3 h/apor s errrarra); Dicção (3 h/ a por dificuldades que o setor de teatro enfrentou e ainda enfrenta no
serriana); História do Teatro Português e Brasileiro (2 h/apor plano das políticas governarnentais, e, sobre esse assunto, o
s erriaria). depoirnento da crítica teatral Bárbara Heliodora é revelador:
O depoirnento entusiasrnado do secretário do CPT,
Mário Hora, dá conta da irnp oxtârrcia do vôo alcançado pelo Quando assumi a direção do SNT [em 1964}, a situação do
ernpreendirnento do SNT, que contava c o rri ilustres professores Conservatório era um verdadeiro caos. Primeiro porque era um
ern seus quadros, alunos que p o s te r io r rnerrte alcançararn o paradoxo tremendo. Era uma escola, em última análise
estrelato - corno Glauce Rocha, Cacilda Becker, Fernando subordinada ao MEC porque era do SNT, recebia verbas do MEC
Torres, Augusto Boal, Beatriz Segall, entre outros - , a lérn da por intermédio do SNT, ao mesmo tempo que não tinha nenhuma
presença de conferencistas renornados corno "Albert Carrrus, base legal para seu funcionamento. Segundo porque o número de
Garrick, J. L. Barrault, Serge Lifar, João Villaret, Catharina currículos que essa escola teve é uma coisa inacreditável. E cada
Dunharn e Juliete Greco" (HORA, 1955:176). currículo mais engraçado que o outro. Tinha um que me lembro
A Portaria do Ministério da Educação e Saúde ri? 47, muito especificamente e era realmente um fenômeno. Vocêestudava
de 28/1/52, fixo u urna grade curricular ainda rrraior, visando a Português e Literatura Portuguesa, Inglês e Literatura Inglesa,
urna forrn ação adadêmica que foi tachada de enciclopedista pelas Francês e Literatura Francesa, Alemão e Literatura Alemã, acho
pessoas que lidavam c o rri o ensino teatral na época. O curso que tinha até Chinês. Um dia você saía formado nas literaturas
passou a contar, então, corn o seguinte rol de disciplinas: do mundo, menos em teatro. Num dos currículos apareceu uma
disciplina chamada Dança, o que é muito normal num curso de
Técnica e A rte de Representar; Dicção; Ginástica Rítmica; Dança; teatro. Mas dur.ante a administração do Calvet, essa única
Caracterização; Cenografia; Esgrima; Usos, costumes e disciplina Dança foi transformada num curso de balé. E essecurso
Indumentária; Pantomima; Fototécnica; Canto; História do 'Ieatro; era totalmente ilegal, não tinha nenhuma estrutura didática.
História da dança; História da Música;História das A rtes Plásticas; (HELIODORA, 1980:80)
História da Cultura; Estética; Legislação Teatral; Português e
Literatura Portuguesa e Brasileira; Francês e Literatura Francesa; No ano de 1964 o MEC regularnentou a expedição
Inglês e Literatura Inglesa; Espanhol e Literatura Espanhola; de diplornas pelo Conservatório, ao ternpo erri que registrou seus
Italiano e Literatura Italiana; Literatura Dramática; Teoria e cursos na Divisão de Educação Extra-Escolar, permanecendo o
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
de Interpretação ern nível rriéclio, b ern corrio os recénl-criados Rodrigues criou a Escolinha de Arte do Brasil (1948), na cidade
,. 49
cursos d e C erio tecruco, Ator, Contra-Regra e Artesão; etn nível do Rio de Janeiro, trrna "espécie de ateliê onde as crianças p ocliarn
superior, Direção, Cenografia, Fortnação de Adtninistradores e desenhar e pintar Iivrerrrerrte, o que refletia o clirria de reafirrnação
Fortnação de Professores, sendo os dois últitnos de curta duração. expressionista que d orriirrava o pós-guerra" (BARBOSA, 1984:14).
A Lei 4641/65, publicada no Diário Oficial da União Etn pouco tetnpo a Escolinha expandiu-se para outras regiões
errr 31/5/65, criou as categorias profissionais de diretor de teatro, brasileiras e tornou-se urn centro de fo rrna.ção de professores,
cenógrafo e professor de arte dratnática, a serem fortnados ern influenciando as práticas pedagógicas da escola pritnária e
nível superior, e a tor, contra-regra, sonoplasta e cenotécnico, ern secundária. Eirrriararn-se convênios COtn secretarias de educação
níveltnédio. A seguir, o CFE regulatnentou a fortnação etn nível e outros órgãos públicos e, à época da itnplantação da Lei de
superior e rnédio, o que trouxe repercussões itnportantes para o Diretrizes e Bases de 1961, que incentivava a prática artística na
Conservatório, itnplicando, erri conseqüência disso, na busca de escola básica, a Escolinha era a única instituição habilitada para
soluções para antigos p ro b lerrias adtninistrativos. a for-mação dos arte-educadores:
O Conservatório passou a integrar a Federação das
Escolas Federais Isoladas do Estado da Guanabara / FEFIEG o Curso Intensivo de A rte e Educação constituiu-se, desde o seu
ern 1969, ao passo que, a partir de 05/07/79, foi incorporado ao início em 1961 até a Lei 5692/71, no único curso de especialização
Centro de Letras e Artes da Universidade do Rio de Janeiro / para professoresde educação através da arte. Somente a partir dessa
UNIRIO. O processo de adaptação aos novos tnantenedores, a lei, começou a ser ministrada essa especialização oficialmente em
tnudança de funções, das fo r rrias organizativas e de estruturação outras escolas, com a criação dos cursos de Educação A rtística. Foi,
do ensino têrri tnerecido a atenção de especialistas, tnuito erribo ra também, o único laboratório para treinamento de professores de
o assunto não tenha sido estudado à exaustão. Todavia, na A rte, preocupado com aspectos de processo e conteúdo, capaz de -
perspectiva da história da educação brasileira, o Conservatório mesmo não sendo oficializado - preparar professores para a
- . que preserva desde 1969 a denotninação Escola de Teatro _ operacionalização do processo de educação através da arte.
constitui-se na pritneira instituição de ensino superior na área de Inicialmente, sua clientela foi de professores encaminhados pelo
artes cênicas.
INER Depois atingiu um nível bastante diversificado, incluindo
professores, artistas, psicólogos, sociólogos e artesãos, bem como
outros profissionais interessados em arte-educação. Essa clientela
Escolinha de Arte do Brasil chegou à EAB através de instituições oficiais, como as Secretarias
Estaduais de Educação e as Universidades ou por iniciativa pessoal,
proveniente não só deste país como de outros da A mérica Latina.
A par do processo de consolidação das escolas de (INEP, 1980:91-92)
arte dratnática, deve ser tnencionada a tnaneira co m o o ensino
de Teatro inseriu-se na educação escolarizada e quais as Os cursos da Escolinha e r a rri rn a r c a d o s pela
possibilidades que originaltnente apresentaratn-se à preparação informalidade e, ern termos metodológicos, pela sensibilização
de professores, razão pela qual não pode ser esquecida a ação através do aprender fazendo. Duravam cerca de três meses,
das Escolinhas. abrangendo os seguintes conteúdos:
Ainda sob a égide do i d e á r i o escolanovista e
pretendendo a renovação da educação nacional, Augusto -fundamentos psicopedagógicos da arte na educação;
- análise da experiência realizada no campo da Educação Artística;
- técnicas principais para o desenvolvimento da experiência
49. LOPES ~bserva q~~ para os cursos de Cenotécnico, Contra-regra e Artesanato criadora no processo educacional;
(costur~1ros, ~letnclstas, carpinteiros) não houve candidatos. Ademais, não exis- - análise de outras experiências criadoras dentro e fora da escola,
tem registros Informando se algum deles chegou a efctivar-se.
seu significado e importância no complexo educacional;
78 79
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
50. Tive a oportunidade de participar pessoalmente de alguns desses cursos, entre 1978- 51. Ver GOODSON (1995). , .
1980, quando era professor de Educação. Artística da rede pública de en.sino de 52. O Parecer 133/ 62-CFE definiu que as práticas educativas atend~n:' as "neces.sida-
Brasília, sendo aluno de Fanny Abrarnovich, Helena Barcelos, IIo Krugh, Joana des do adolescente de ordem física, artística, cívica, moral e rehglOs~". Devido a
Lopes, Olga Reverbel, dentre outros precursores do teatro-educação no Brasil. essa possibilidade ensejada pela lei, muitas esc?las instituíram o ensino das artes
em geral, privilegiando, em alguns casos, o ensine de teatro.
80 81
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
anos 60, comentada no capítulo anterior. A seguir, as IES que como nos outros atos normativos que se seguiram, os currículos
ministravam outras habilitações na área de Artes Cênicas para o ensino de Teatro foram elaborados por artistas, professores
passaram a oferecer também a licenciatura, utilizando-se do e diretores do Conservatório e de outras escolas, como atestam
modelo 3 + 1, ou seja, formando inicialmente o ator, dire.tor ou os seguintes depoimentos:
cenógrafo, para, sobre os conhecimentos dessas áreas, inserir-se
a parte pedagógica exigida para o exercício do magis tério. [... ] uma comissão de professores estudou os currículos existentes,
A primeira legislação específica relativa ao ensino procurando elaborar um currículo mais plausível que foi
superior de Teatro data de 1965: o Parecer n° 608/65-CFE organizado e submetido ao Conselho Federal de Educação. Pela
estabeleceu os mínimos de conteúdo e duração dos cursos de primeira vez a Escola de Teatro teve um currículo aprovado pelo
Direção, Cenografia e Professorado de Arte Dramática, com base CFE. (HELIüDüRA, 1980:80)
nos programas que já vinham sendo adotados pelo Conservatório
Nacional de Teatro, fixando a seguinte estrutura curricular o currículo mínimo para a habilitação Interpretação Teatral
mínitna: (assim como aqueles referentes às habilitações Direção Teatral,
Cenografia e Teoria do Teatro) surgiu a partir de duas propostas,
Direção Teatral - História do Teatro, Literatura Dramática, uma delas apresentada pela Fundação Brasileira de 'Ieatro (FBT), e
Dramaturgia, A rtes Visuais (Noções), Cenografia, Indumentária, a outra pela Escola de Teatro da antiga Fefieg, hoje UNIRIa.
Iluminação, Música e Ritmo (Noções), Direção, Improvisação, Segundo o texto do Parecer 2.331/74, do Conselho Federal de
Interpretação e Administração de Teatro. Educação, aprovado em 9 de agosto de 1974, e que teve como
Cenografia . História das A rtes, História do Teatro, História do relatora a conselheira Edília Coelho Garcia, a versão final de
'Ieatro Brasileiro, Estética, Desenho, Geometria Descritiva, Artes currículo que acabou sendo aprovada foi, na verdade, o resultado
Visuais (Noções), Cenografia, Indumentária, Iluminação e do cotejo entre a proposta da FBT e a proposta da Fefieg. (FREITAS,
Técnicas de 'Ieatro. 1998:84)
Professorado de A rte Dramática - Literatura Dramática (para o
Cenógrafo), Direção, Cenografia, Técnicas de Montagem (para o Como naquela época o setor produtivo na área do
Diretor de Teatro], Estudo ou Obras de um Clássico do Teatro teatro tinha pouca tradição e nenhuma representatividade civil
Universal e Matérias Pedagógicas.53 oficializada, o CFE tratou o assunto num parecer de poucas
laudas, fugindo a sua conduta normal de formar processos longos
De acordo com o Parecer 608/65-CFE, os cursos de e ausculta.r amplos segmentos da sociedade organizada. Esse fato
Cenografia e Direção Teatral teriam a duração de três anos letivos, reafirma uma das hipóteses aventadas na pesquisa que originou
com tempo útil de 2160 horas e um termo anual médio de 720 este livro, qual s~~ perfil das escolas pioneiras no ramo da
horas, limite mínimo de 432 horas e máximo de 864 horas. Para ~;(o-dêÍi"'eouo modelo pedagógico que deu origem aos
o Professorado de Arte Dramática o CFE adotou o mecanismo ~ursos superiores e à formação de professores.
3 + 1 na íntegra, ao estabelecer que teria a "duração de mais um O curso de Professorado de Arte Dramática sequer
ano letivo, além dos cursos de Direção Teatral e Cenografia chegou a ter projeção nacional, pois, com o advento da Lei 5692/
54 '
correspondendo a um curso de quatro anos letivos." 71, o CFE reformulou os currículos dos cursos de Teatro em
Um detalhe interessante da criação do curso de nível superior, criando a Licenciatura em Educação .Artís tica /
Professorado de Arte Dramática reporta-se à maneira COtno o Habilitação em Artes Cênicas e o Bacharelado em Artes Cênicas,
CFE encaminhou a estruturação curricular, diferentemente dos com as Habilitações Direção Teatral, Cenografia, Interpretação
procedimentos usuais. No caso do Parecer 608/65-CFE, bem e Teoria do Teatro.
É importante registrar que, diferentemente de quando
foram criados os primeiros cursos superiores de Teatro, o poder
53. ln: Resolução 608/65-CFE.
54. Idem, ibidem. público não deu atenção à voz daqueles que lidavam com essa
82 83
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
desconsiderada a tradição escolar e a experiência acadêrnica, regulaITlentado anos antes, através da Resolução s/ n, de 19/8/
calando as vozes que p o diarn ITlanifestar-se COITl c orrhecirrrerrt.o 71 - ficou à rne.rcê das orientações dos conselhos estaduais,
abalizado. As rrrais iITlportantes instâncias de discussão sobre o UITla vez que o CFE nunca pronunciou-se sobre isso. O currículo
assunto haviam sido as seguintes: I, II e III Simpósio Nacional rrrírrirrro da habilitação plena ern Artes Cênicas, afora os estudos
de Ensino Teatral - o inicial realizado no antigo Estado da gerais e as disciplinas de fo rrna ção pedagógica, c.orrrp reen de as
Guanabara (1971) e os outros dois erri Minas Gerais (1974); III seguintes rna té rias:
Serrrirrárro Nacional de Artes Cênicas (Rio de Janeiro, 1985); 1 ° e
2° Encontro Nacional das Escolas de Teatro (Instituto Nacional Parte comum - Fundamentos da Expressão e Comunicação
de Artes Cênicas / SESu-MEC, 1985). Humanas, Estética e História da A rte, FolcloreBrasileiro, Formas
Alguns terrias foram recorrentes naqueles sirrrp s i o s, ó
de Expressão e Comunicação Artística;
traduzindo as preocupações dos profissionais que Iidavarn COITl Parte diversificada - Evolução do Teatro e da Dança, Expressão
o ensino de Teatro. COITl relação aos objetivos desta pesquisa, as Corporal e Vocal, Encenação, Cenografia, Técnicas de Teatro e
56
contribuições rriais relevantes p o dern ser as s irn re s urrrid as: i) Dança.
aprovação de propostas c o n terrrp.la.n d o novas propostas de
organização curricular dos cursos de bacharelado e licenciatura Esse modelo de licenciatura assentou-se nUITl conceito
COITl arrolaITlento das disciplinas respectivas; ü) reivindicação para de polivalência que a história clerrro rrs tro u ser inexeqüível, pois
que os cursos de Teatro fo ssern integrados rrurna ITleSITla escola; destinava-se à fo.rrrração de profissionais capazes de lidar, a U?n
iii) des dobrarnenro das sete especializações cênicas erri dois só tC?npo, COITl c o n h e ci.rne n to s provenientes de diferentes
núcleos de fo nrnaçã.o: UITl para as quatro funções criativas (sic) linguagens. Aclernais, previu-se dois tipos de curso, de curta e
de Diretor, Cenógrafo, Professor e Ator, e outro para as funções longa duração, este ú.Itirrro no esqueITla de habilitações isoladas.
técnicas de Cenotécnico, IluITlinador e Sonoplasta; iv) sobre a A licenciatura de curta duração foi logo abandonada, após UITl
questão dos cursos de licenciatura, a oorrris s ão de 3° grau do 2° breve período de exp erirrierrtação, ou sequer irrip larrtada nas IES
Encontro Nacional das Escolas de Teatro enfatizou as seguintes de rnaior tradição acaclêrrrica; todavia proliferou-se nas instituições
55
recoITlendações: privadas, existindo até hoje erri a lgtrrrras delas. A citação a seguir
sintetiza o teor da nova realidade irriplarrtada no ensino de arte:
[...] que tais licenciaturas objetivem a formação de um professor
que vivencie, domine e se expresseatravés do teatro, em paralelo [... ] observou-se que na área de Educação A rtística estas
com a fundamentação teórica nas áreas de A rte e Educação. licenciaturas passaram a formar a nova geração de professores
(CARVALHO, 1989:189) 'polivalentes', descaracterizando o campo de conhecimento
autônomo da música, das artes plásticas e das artes cênicas. Este
A Resolução 23/73-CFE estabeleceu UITla parte novo campo tornou-se mais transfigurado ainda quando os
COITlUITl e outra diversificada para o curso de licenciatura erri professores, ao transmitirem um mosaico de conhecimentos da área
Educação Artística, o qual destinava-se tarrrbérn à fo r rrraç ão de de artes (e de uma forma mais geral o faziam em um contexto
abrangente e superficial da realidade sociocultural brasileira),
passaram a percebera desconexão entre os conhecimentos artísticos.
55. O artigo Problemas do ensino de teatro (GARCIA, 197 5) e o depoimento O ensi- [...] Esta investida da educação artística e de outras áreas revelou
no do teatro no Brasil (PAIVA, 1971) apresentam informações muito interessantes uma dimensão que vai além do aspecto econômico para a
sobre as idéias ~ais relev~ntes daquele momento, resumindo as preocupações dos
professores e artistas que tmplantaram os primeiros cursos superiores de teatro no
Brasil. 56. ln: Resolução 23/73-CFE.
84 85
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
perspectiva do controle ideológico e pedagógico por parte dos órgãos ensino superior nas diversas linguagens artísticas, face à
oficiais no campo do processo educacional. (RIBEIRO, 1999:99-100) obrigatoriedade expressa pela Lei 5692/71, fato que po~e. ser
dem.onstrado através de núm.eros: no início dos anos ~O exrs trarn
Por outro lado, apesar de contar com. um.a carga cerca de 30 cursos de artes em. todas as áreas, ao passo que l::!:?ie
horária razoável, a licenciatura plena trouxe im.plicações encontra~em. funcionam.ento m.ais de duas cent~,~.~s, sendo
semelhantes do ponto de vista epistemológico, uma vez que o 98 de licenciatura em. Educação Artística e '2~'rn~Cár'éa de Artes
curso foi estruturado num duplo patamar: um.a primeira Cênicas - entre licenciaturas e bacharelados - , conform.e será
ambientação de caráter generalista, na qual o aluno deveria evidenciado no quinto capítulo. Entretanto, antes de analisar a
vivenciar algumas possibilidades das quatro linguagens artísticas situação institucional do ensino de graduação, cabe refletir sobre
oficializadas, e o ciclo profissionalizante propriamente dito, os em.bates e perspectivas que caracterizam. a transição atual por
reservado às habilitações. Essa foi um.a solução barata, fácil e que passam. os program.as de form.ação de professores para o
sobretudo prática: dois cursos em um, ou seja, a form.ação plena ensino da Arte, o que será feito a seguir.
sobre a curta.
No ano seguinte foi fixado o currículo mínim.o do
bacharelado em Artes Cênicas, com o objetivo de "formar
profissionais para as áreas de teatro, cinema, rádio e televisão"
(Resolução 32/74-CFE), tendo uma duração m.ínim.a de 2146
horas. A estrutura das habilitações Direção Teatral, Cenografia,
Interpretação Teatral e Teoria do Teatro conta com. uma parte
com.um. e outra diversificada, abrangendo as seguintes m.atérias:
86 87
CAPíTULO IV
Transição, Embates e
Perspectivas
o Movimento de Transformação
dos Cursos
numa outra face da cena, o que está em jogo é o futuro da paradigrnas culturais de urn rnundo em trans forrnação, o que
licenciatura, ameaçada de permanecer corno es tá, face às exige, per se, perfis e papéis tarrrb érn inovadores do docente.
complexidades que envolvem suas mazelas e sobretudo à
morosidade com que as IES vêm modificando seus currículos e
projetos pedagógicos. A Ação dos Arte-Educadores
A decisão em adotar um novo currículo remete-se a
dimensões da política educacional que perpassam, a rigor, a
questão da participação exigida pela prática democrática, inclusive Depois do irnpacto inicial dos anos 70 - marcados
porque as mudanças que ora se verificam surgem no bojo de um pelo preenchirnento do espaço concedido pela Lei 5692/71 à
movimento maior. Face a isso, para analisar a questão da formação disciplina Educação Artística - , os professores de Arte reuniram-
inicial do professor numa perspectiva histórico-social, esta se e rn associações, comitês e dernais fo r m as organizativas,
pesquisa estabeleceu corno categoria primordial o construto fazendo ernergir o debate sobre ternas corno alfabetização
?novi?nento de transforrrrapãa, traduzido pelo conjunto da produção estética, experirnentação artística, desenvolvirnento do trabalho
coletiva e pública em torno de questões referentes aos vários pedagógico, pesquisa ern arte, etc. No início essa discussão foi
níveis da formação profissional, produzida por profissionais da incipiente e o toque inaugural ocorreu possivelrnente durante o
área acadêmica, entidades científicas, órgãos da administração I Encontro Latino-Arnericano de Educação Através da Arte,
pública, associações civis, federações e sindicatos, representantes, organizado pela Sociedade Brasileira de Educação A través da
portanto, de urna parcela significativa do pensamento de Arte / SOBREART (Rio de Janeiro, 1977), quando discutiu-se,
professores e especialistas. dentre outros assuntos, a problernática da graduação e da pós-
As idéias veiculadas por essas lutas sociais funcionam graduação.
corno focos de resistência ou, corno prefere assinalar GIROUX No decorrer da década de 80 rnultiplicararn-se os
(1997), criam possibilidades de superação do status quo. encontros nacionais, arnpliando-se urn debate até então restrito
Fundamentados em princípios éticos e ideológicos discutidos às agências forrnadoras, conselhos e secretarias de educação.
t:1 0 seio das organizações civis, esses embates políticos instauram- Nesse e rn a r a n h a d o de questionamentos evidenciou-se a
se corno forma de... necessidade de urn aprofundarnento teórico sobre forrnação
docente, a p ar tir de conhecirnentos atinentes à história de cada
[... ] impedir o poder público de resolver problemas particulares e urna das áreas envolvidas, suplantando, aos poucos, o carro-chefe
setorializados sem a participação dos cidadãos inseridos na do ensino de artes na educação for mal, qual seja a idéia de urna
concretitude desses movimentos. Essasdimensões permitem que os educação estética de cunho polivalente.
movimentos sociais sejam múltiplos, diversos, cíclicos, com fluxos É irnportante registrar alguns dos acontecirnentos
e refluxos. [... ] Movimentos resultam de idéias e práticas. As idéias rnais importantes daquele período: i) ern 1981 foi realizada a
persistem e se transformam, agregando elementos novos, ou Sernana de Arte e Ensino na ECA-USP, oportunidade erri que o
negando elementos velhos, segundo a conjuntura dos tempos. Os terna da forrnação do ar t e-e.d'ucado r esteve ern evidência; ii) ern
movimentos são históricos e têm uma história particular que se 1982 a Associação de Arte-Educadores de São Paulo / AESP
expressa em suaspráticas, em sua composição, em suas articulações divulgou o relatório da pesquisa A formação do arte-educador;
e demandas. (BRZEZINSKI, 1996:86) iii) no I Congresso Nacional de Arte-Educação (Salvador, 1983)
forrnou-se urn grupo de trabalho sobre ensino superior, sendo
A participação das pessoas ern ações dessa natureza aprovadas moções quanto à restruturação do curso de Educação
- urna prerrogativa da democracia - , remete-se à concepção Artística; iv) ern 1984 a AESP prornoveu encontros nacionais de
de cidadania corno elemento aglutinador das transformações diretores e professores de cursos de Educação Artística; v) nesse
sociais, dando sentido à luta em prol da educação, em si um rnesrno ano realizou-se ern São Paulo, corn grande adesão dos
movimento educativo. Essa ação, por sua vez, atende aos novos professores das redes pública e privada de ensino, o Festival de
92 93
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
Inverno de Carripo s de Jordão, evento que é s írrrb olo de trrrra O V CONFAEB (Be.lérn, 1992). O fó rurn tinha oeiginalrnerite as
rrruclarrça paradigtnática írrrpo rtarrtis sirna no ensino da Arte, co.rn seguintes finalidades:
a penetração de idéias e práticas pós-tnodernas no que diz respeito
à educação continuada de docentes; vi) ainda erri 1984 foi _Avaliação coletiva dos cursos superiores de A rte, a partir de um
realizado o congresso da International Society for Education instrumento analítico que forneça subsídios para o estudo e
through Art / INSEA, organizado pela SOBREART, no Rio de propostas de reformulação;. .
Janeiro, onde a discussão sobre a experiência internacional acerca _Integrar as instituições de ensino superior de Arte em torno da
da fortnação do educador tive.rarn espaço significativo; vii) no discussão de eixos orientadores;
Documento proposta aprovado pelos participantes do 2° _Encaminhar a formulação de uma base comum nacional para os
Encontro de Arte-Educação do Nordeste (Io ão Pessoa, 1984), cursos de Arte;
estão arrolados pontos itnportantes sobre o ensino superior, _Constituir-se centro de referência nacional paraa orienta~ã~ dos
incorporando questões sobre corpo discente, corpo docente, cursos já existentes ou a serem criados, bem como subsidiar a
currículo e estrutura dos cursos; viii) no Manifesto de elaboração de nova legislação educacional; .
Diamantina (1985), na Carta de São João Del-Rey (1986) e _Integrar-se àdiscussão nacionalfomentada por enttdadelsde estudo
tarrrb érn na Carta-protesto de Brasília (1986), docutnentos que e pesquisa nas áreas de A rte e Educação. (FAEB, 1992)
s in t e t.i z arn rn o ç e s aprovadas nos colóquios respectivos,
õ
c o n s tavarn reivindicações atinentes à avaliação dos cursos Etn Recife (1993), a pauta de discussão do Fór~tn
superiores; ix) o Encontro de Associações e Mo'virrierrtos de Arte- Nacional de Estudos pela Refortnulação do Ensino Superior
Educação (FUNARTE, 1986) tentou discutir trrri progratna centrou-se na crítica do currículo rriírrirrro (Resolução 23/73-
nacional de capacitação de recursos Irurrra n o s, levando e m CFE). As contribuições dos profissionais prese~t.es - na ~ua
consideração a experiência aourrrul ada pelas IES; x) a plenária rnaioria professores do ensino fundatnental, .tnedlo e su~erlor
presente ao ericer rarnerrto do Sitnpósio sobre Ensino da Arte e _ enfatizaratn as características estruturaiS dos curnculos
sua História (USP, 1989) encatninhou ao MEC trrrra rno ção pr~ticados regionaltnente e as condições para desenvolvitnento
relativa à itnportância da avaliação e refortnulação dos cursos de do ensino nas escolas elES. Etn trrri dos painéis daq.uele ~I
arte, reivindicação essa que foi reiterada no I Congresso sobre o CONFAEB, intitulado Currículo: em busca da sintonia
Ensino das Artes na Universidade (USP, 1992), quando discutiu- histórica, u rn grupo de professores da UFPB apresent~u
se as relações dicotôtnicas existentes no currículo dos cursos proposta de refortnulação curricular da licen~i~tura ern Educação
superiores, etn especial o terrra licenciatura versus bacharelado. 57 Artística articulada ern torno de eixospedagogtcoS, corn a segwnte
N esse contexto, etnergiu urn processo de avaliação estrutura:
do ensino com vistas à refortnulação das licenciaturas, o qual
encontrou atnparo tanto nas IES c o rrro nos congressos de _Eixo pedagógico, parte comum: Problemas Atuais ~a Educação
entidades e associações profissionais. Os debates rorrrararn rrraior Brasileira e Fundamentos Básicos da A rte na Educaçao; .
vulto COtn a criação de trrn grupo de trabalho sobre currículo, _Partediversificada conformea áreaartística: Oficina Pedagógtca
durante o III Congresso da Federação Nacional de Arte-
Educadores / CONFAEB, e rn 1990, e consolidaratn-se
definitivatnente a partir da instalação do Fórutn Nacional de 58 A Federação de Arte-Educadores do Brasil / FAEB foi criada durant~ o. Festival
. Latino Americano de Arte e Cultura / FLAAC (~nB, 1 ~~7), em dec<:>rrencl~ de u~
Estudos pela Refo rrrrulação do Ensino Superior, ocorrida durante
movimento que estava sendo articulado em multas. reglOes d? ~rasd. Na ~poca la
existiam associações de arte-educadores na maioria das capitais nor~estmas, e~
Brasília, no Rio de Janeiro, São Paul?, Pa,raná, Rio Grande do Sul e Minas Ge~als.
57. As informações acima foram condensadas a partir de um quadro elaborado por O primeiro congresso da entidade f01 realizado em outubro,de .1988, ~m.Taguatmga
FERREIRA (1993), o qual estabelece uma síntese dos documentos referentes a en- (DF), no mesmo período em que se rea~izava a V Conf~re~c~a ~raslle1fa de Edu-
contros e congressos realizados no período de 1982 a 1991, e aprimoradas através cação / CBE a poucos quilômetros dali, na UnB. A coincidência de da~a .e local
de pesquisa do autor. relacionou-se' ao fato de que seria discutido, durante o V Congresso Brasileiro (...)
94 95
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
I; Oficina Pedagógica II; Metodologia do Ensino I; Metodologia do refortnulação de currículos e à instalação da cotnissão junto à
Ensino II; Estágio Supervisionado I; Estágio Supervisionado II. 59 SESu. 60 Corifo rrne do curneritação o f"i cial,
"
. O projeto pensado pelos professores da UFPB sugeria A efetiva atuação da FAEB junto ao MEC, enviando dossiê de
urna rriaror concentração de estudos nas linguagens artísticas e a trabalho já desenvolvido, resultou na criação da Comissão de
busca de urn relacionatnento entre teoria e prática, b ern COtno a Especialistas de Ensino de A rtes e Design / CEEARTES, da SESu,
articulação dos conteúdos errr torno dos saberes estéticos instalada em abril de 1994. (MEC, 1994:5)
artísticos ~ pedagógicos. Ao invés de ter u rn caráter genérico:
COtno tradiciorralmenre são articulados os conteúdos pedagógicos N o que tange à reformulação do ensino superior, a
n~ ~u~rícul.o de todas as licenciaturas, naquela abordagem as ação da CEEARTES seguiu paralela à do fórum da FAEB, urna
dtsctpltnas tntegradoras passariam a ser assutnidas pela unidade vez que essas duas entidades reuniram-se durante o VII
61 . .
acadêrnica de artes, ern articulação COtn a de educação, ficando CONFAEB, em Campo Grande (1994), onde clis cu tru-s e urna
sob a responsabilidade da ltirn a apenas u rn a disciplina:
ú pauta contemplando principalmente a questão da avaliação
Problernas Atuais da Educação Brasileira, erri substituição a institucional, em moldes diferenciados dos que vinhatn sendo
Estrutura e Funcionamenro da Educação Brasileira. Contudo implantados pelo Plano de Avaliação Institucional da
passaram-se rrrui'to s anos e a proposta paraibana ainda não s~ Universidade Brasileira / PAIUB-MEC.
concretizou, etnbora tenha balizado debates no ârrrbrto da FAEB. No VIII CONFAEB (Florianópolis, 1995) foram
A tnovitnentação nacional de educadores ern prol da apresentadas várias comunicações com a temática da formação
refortnulação da licenciatura ern Educação Artística continuou do educador, tratando de formação inicial e continuada, da
acontecendo nos congressos organizados regionaltnente e ern integração entre os cursos universitários e a escola básica, da
62
te r m o s nacionais, na Fo r rn a de p ro g r arn aç ão paralela' dos refortnulação dos modelos de licenciatura, etc.
encont.ros anuais da FAEB. Alétn de u rn a produção de Essa temática continuou no centro das atenções dos
conheCltnento de porte considerável, o rno virnerito dos arte- arte-educadores e, no X CONFAEB (Macapá, 1997), os
educadores teve repercussões tarnb érn na esfera governatnental. participantes do Fórum Nacional de Estudos pela Refo rrrrulaçâo
Llrrra das deliberações do Fórutn Nacional de Estudos pela do Ensino Superior elaboraram um documento que sintetizou
Refortn,:lação do Ensino Superior (Recife, 1993) reivindicava que as preocupações do movimento de transformação dos cursos de
o ~EC lnstalasse definitivatnente a corriis são de especialistas de preparação de professores que vinham sedimentando-se aos
e~Sln? da Arte, trrna vez que essa era trrria das únicas áreas que poucos, em meio às discussões da entidade. O texto faz, logo de
nao tinha representação junto à Corrris são de Especialistas de início, menção ao trabalho realizado anteriormente, em conjunto
Ensino. / CEEARTES-SESu. Naquele VI CONFAEB, foi corri o MEC:
denor~l1nado grupo mandala o GT responsável pelo
encamínhamenro das reivindicações junto ao MEC, referentes à
60. Integrei o grupo-mandaia e acompanhei a discussão que foi trocada entre seus
membros durante cerca de um ano, através de correspondência postal. Na oportu-
de Educação, o projeto de LDB que naquele momento tramitava na Câmara dos nidade, coincidentemente, estava coordenando a reformulação curricular do curso
Depu~ados,.cenário no qual um grupo de eméritos educadores colocava-se contra de licenciatura em Educação Artística da UFMA e pude, dessa forma, participar
a o~r~gatortedade do ensino de artes na LDB, fato que mereceu o repúdio dos aos companheiros de jornada as idéias que vinha tentando praticar no Maranhão,
participantes do I CONFAEB. O documento final do I CONFAEB foi lido no recebendo, em contrapartida, suas críticas e sugestões.
transc~rrer dos trabalhos da mesa redonda sobre ensino fundamental da V CBE 61. O II Fórum Nacional de Avaliação e Reformulação do Ensino Superior das Artes e
num clu~a p'erformático: os arte~ed~cadores entraram no anfiteatro interrompend~ Design (CEEARTES-SESu) aconteceu junto ao Fórum Nacional de Estudos pela
a conferen~la ~e Demerval Saviani e, um deles, em atitude de Arauto, leu o mani- Reformulação dos Cursos Superiores de Arte, atividade do VII CONFAEB (Cam-
festo; dep~ls diSSO, todos os atares retiraram-se, deixando a platéia dividida entre po Grande, 1994).
aplausos, risos e manifestações contrárias ao ato. 62. Naquele congresso apresentei uma comunicação, intitulada Uma tentativa de
59. Os. desmembramentos da proposta elaborada pelos professores da UFPB estão mudança do currículo do curso de Licenciatura em Educação Artística da
registrados em PEREGRINO et alii (1995). UFMA, publicada nos anais do VII CONFAEB.
96 97
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES T ANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
Nos anos de 1994 a 1996, promovido pela FAEB e posteriormente estabelecer critérios que contemplem tanto os aspectos específicos
pela CEEARTES, foram realizados quatro fóruns nacionais pela da linguagem artística, como os da educação.
reformulação do ensino superior de artes, com um número 4. As IES devem promover avaliações qualitativas e periódicas da
significativo de profissionais das universidades brasileiras. [... ] A praxis (ensino, pesquisa e extensão) do professor e garantir a inter-
FAEB, como entidade representativa dos profissionais do ensino relação dos conteúdos programáticos com os objetivos do curso.
de arte, encaminha reivindicações à SESu-MEC através desse 5. As IES devem promover a formação contínua do profissional de
documento, que aponta diretrizes para a organização curricular arte, como preconiza a LDB 9394/96, A rt. 43, Inciso 2. (FAEB,
do Ensino Superior de A rte, aprovadas em plenária do X Congresso. 1997b:s/p)
(FAEB, 1997:s/p)
N o citado d o c u rn e n t o os arte-educadores
O torn explicitado na citação é indicativo de que o apresentararn ainda algurnas diretrizes específicas para a
rn o v irne n to de arte-educadores considerava-se alijado das organização curricular do ensino superior, sendo rnencionados
discussões que estavarn sendo desenvolvidas nas instâncias oito núcleos para organização dos cursos, a saber: i) fazer artístico;
superiores do poder público, ao ternpo erri que apresentava ii) apreciação; iii) conhecirnento histórico da arte; iv) teoria e
propostas de encarninharnento para essa intrincada questão. crítica; v) teorias da educação; vi) técnicas de cornunicação da
Contudo, analisando o teor desse e de outros docurnentos linguagern; vii) pesquisa e interdisciplinaridade; viii) extensão.
produzidos erra encontros de arte-educadores, infere-se que os Após cada título listado segue-se urn parágrafo de poucas palavras
profissionais desse rarrro não têrn conseguido fundarnentar suas que infelizrnente não dá ao leitor urna rnargern de cornpreensão
posi!ões através de textos cla.rarnerrte redigidos, quer do ponto aprofundada acerca do pretendido.
de vista pedagógico, estético ou episternológico, ao contrário de Nessa trajetória, a ternática escolhida para o XI
" 63
CONFAEB, realizado ern Brasília (1998), foi denorninada Arte
ou t ras ver t entes d o rrro vrrrrerrto organizado por educadores. O
teor principal das reivindicações do X Congresso encarninhadas - políticas educacionais e culturais no limiar do século XXI,
à SESu-MEC foi o seguinte: tendo e.rri vista a discussão das legislações que vêm sendo
irnplernerrtadas pelo governo federal, através de rncsas redondas
1. Criação de mecanismos que possam garantir ao licenciado a e reuniões plenárias. O fó rurn das licenciaturas reuniu-se pela
mesma formação do bacharel em linguagem artística específica, sexta vez e decidiu acornpanhar de perto as propostas de
acrescida de conhecimentos e práticas que compõem o Núcleo de reestruturação e m trarnitação no MEC, norneando, corno
'Ieorias da Educação, com carga horária mínima de 2700 horas. representantes da FAEB junto à SESu, na área de teatro, os
2. A inter-relação entre as disciplinas pedagógicas e as de conteúdo professores Arão Paranaguá de Santana (UFMA) e Marcos
específico devem possibilitar ao futuro licenciado tanto o domínio Bulhões (UFRN). A FAEB insistiu ern acornpanhar o trârrrite do
da linguagem artística, como o da relação social do ensino. processo, rrras a SESu não convidou os representantes para
3. O processo de admissão do professor de ensino superior em arte, n~n~urna reunião, o que reafirrna o descorn~fornisso do poder
seja por forma de concurso, seja por outros mecanismos, deve publico quanto ao tratarnerrto dessa questão.
98 99
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
T ANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
Apesar de existirem outras associações profissionais vez que não se tinha conhecimento de experi~nci~s se~elhan:es
no campo das artes - Associação Brasileira de Educação Musical em outros países e nem mesmo no Brasil, as pnmeiras or1entaç~es
/ ABEM, Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação de cunho oficial partiram dos conselhos de educação e secretarias
em Artes Cênicas / ABRACE. Associação de Professores e de estados e municípios, sendo produzidos guias curriculares em
Diretores de Teatro / POIESIS, Associação Nacional de muitos lugares. Contudo, a busca de referências pedagó~ic~s
Pesquisadores em Artes Plásticas / ANPAP, Associação Nacional partiu da sala de aula, via iniciativa de profe~sores - ~a ma1~r1a
de Professores e Pesquisadores de Música / ANPPOM, Sociedade leigos - , consubstanciados na pequena hterat~ra d1sl?0~~vel,
Brasileira de Educação Através da Arte / SOBREART, Sociedade quando não no conhecimento empacotado pelos .hvr.os 611daticos
Científica de Estudos da Arte / CESA - , reitero, com base em que foram lançados de imediato no mercado ed1~onal..
pesquisa histórica, que foi no seio da FAEB e de suas entidades Com a proliferação dos cursos de licenciatura em
regionais que nasceu, cresceu e se fortaleceu um movimento Educação Artística e principalmente após o surgi~e~to das
nacional de educadores em prol de transformações no ensino associações profissionais e entidades de cunho acad~m1co, no
superior de artes. Deve-se registrar, contudo, que o I Congresso decorrer da década de 1980, multiplicaram-se as pesqu1sas sobre
da ABRACE, em 1999, demonstrou que há um grande interesse ensino de arte, ampliando-se um debate que encontrou
por parte dos pesquisadores dessa área em torno da temática ressonância em praticamente todos os locais do Brasil. Naquele
teatro e educação, incluindo-se a formação de professores. momento dentre outras questões emergentes, privilegiou-se uma
discussã~ assentada em bases epistemológicas próprias às
linguagens artísticas, processo que culminou. ~um repens~r do
As Estratégias do Poder Público currículo escolar. Como corolário dessa pos1çao, promoveu-se
uma rejeição lenta mas radical ao sentido da ~olivalência. ~s
propostas curriculares produzidas pelas s e c t-e ta rra s de educ~çao
As políticas públicas no s e t o r de educação têm de muitos estados e municípios espelharam-se nessas c o rrq'urs tas
caracterizado-se historicamente por uma certa timidez quando o da pedagogia artística, aprimorando significa~i~ament~ os
assunto em foco se refere à preparação de professores. Em relação conceitos teóricos e as orientações de natureza pratica contidos
ao arte-educador e ao ensino da Arte esse quadro reveste-se de nos documentos oficiais.
inúmeros exemplos. ~crescente-se a essa argumentação o fato Mesmo com o redimensionamento do ensino de
de que a entrada das artes no currículo da escola fundamental é Educação Artística que se deu durante os anos 80, e so~retudo
um dado recentíssimo na história educacional brasileira. Mesmo após a difusão de pesquisas demonstrando os fins espe.c1ficos ~a
sendo disciplina obrigatória desde a promulgação da Lei 5692/ disciplina, as recorrências a modelos híbridos. ~u ~o Iaiseee fal:e
71 - com o objetivo de promover o desenvolvimento integral continuaram marcando negativamente a expenenc1a da Educaçao
do aluno, princípio reafirmado pela Lei 9394/96 - , o poder Artística na escola. Contudo, se no cenário daquele instante
público federal ainda não havia institucionalizado a pzeseríça dessa vislumbravam-se perspectivas interessantes, a situação ficou
área em documentos oficiais de orientação curricular, exceção bastante complicada após a reformulação do Núcleo Comum
feita aos Parâmetros Curriculares Nacionais / PCN. A novidade
sugere, portanto, uma leitura atenta dos seus significados. f
Desde que foi implantada como atividade curricular 65. Í-<: importante lembrar que no período mais crítico de im,plantação da Educação
obrigatória, a Educação Artística foi relegada a um plano inferior Artística o projeto PRüDIARTE-MEC promoveu açõe~ l~portantes de apol~ ~
prática escolar em artes, mas a.s ~rientaçõ~s não ,fo~~m direcionadas par.a qu:stoes
em termos de prática pedagógica: a única orientação do extinto curriculares das linguagens arttsttcas. Os hvros dlda,ttcos pe~etraram nesse espaço,
CFE deu-se através da Resolução 23/73, quando apresentou a veiculando receitas de técnicas artísticas e pedagógicas des.tt~adas ~o.s pro~essores
polivalência como base epistemológica do ensino das artes. Como improvisados de Educação Artística. J: s?lu~ão metodologlca mag~ca velculada.s
nesses manuais ensinava o docente a distribuir, ao longo do ano lettvo, o~ contes-
faltava conteúdo a essa novidade inventada pelos curriculistas, urna
dos de várias artes, depositados através de técnicas criativas de cunho duvidoso.
100
1
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U SP 3:).~2..J
L
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
do ensino básico, protnovida pelo CFE através do Parecer 785/ hoje estão presentes na estrutura da universidade brasileira, a
66
86 e da Resolução 6/86. A ênfase colocada no ensino das saber: carência de instalações e equipatnentos, deficiência nas
rna tézia s consideradas nJais inJportant"es significou trrn retorno à bibliotecas, falta de pessoal docente qualificado, inexistência de
pedagogia baseada no ler - escrever _ contar, 67 recrude.scimerrto política cultural universitária relacionada ao curso, etc. O
que destinou à arte trrn lugar nada privilegiado no p ario rarna clo currierrto ressaltava, ainda, questões relativas ao furicioriarnerrto
curricular. As conseqüências dessa política educacional precário das lES, corrro a não existência de vínculos entre ensino,
repercutiratn de itnediato na escola, seja através de tnedidas pesquisa e extensão durante o trajeto curricular e, no caso da
práticas, corrro a ditninuição da carga horária; pela reafirtnação prática e rn sala de aula, que e rarn raros os rrro rn e n t o s de
do papel apenas secundário da Educação Artística; ou através de convivência entre teoria e prática, entre fazer artístico e prática
proposições situando a arte com o tapete colorido sobre o qual pedagógica, devido ao tnodelo curricular deficiente, concluindo:
68
de s filarn propostas educacionais tnercantilistas.
Todavia, algo de substantivo estava sendo sinalizado Em síntese, consideramos quea universidade, porfalta de um plano
no bojo das lutas ernp reeridi.das pelo tnovitnento dos arte- global de nossa sociedade, desconhece o perfil do aluno que quer
educadores, consolidando no pensatnento pedagógico brasileiro formar, portanto, oscurrículos de nossos cursos não são idealizados
u rna reflexão sobre o aprendizado da arte, o que fez despertar a para sealcançar objetivosque levem a esse perfil. 69
atenção de outros setores interessados pela revitalização da
educação brasileira e forçou o poder público a rorrrar decisões. Após a extinção do CFE, ern 1988, a orientação legal
Data de 1985 a p rirneira investida fo rrrral do MEC quanto ao ensino superior ficou à tnercê de decisões isoladas,
quanto à discussão da situação do ensino de graduação ern artes, até que a Portaria 287-MEC, de 10/12/92, instituiu as Cotnissões
quando a SESu-MEC designou 'urna cotnissão de especialistas de Especialistas de Ensino, tendo etn vista viabilizar a realização
para analisar as infortnações fornecidas pelas lES sobre a situação de estudos sobre as diversas áreas do ensino superior e s u a s U
do ensino de graduação. A cotnissão propôs a reelaboração dos relações corn a sociedade a firn de fixar as diretrizes para o setor".
instrutnentos de coleta de dados por achá-los inadequados, Corrro já se tornou tradição, a cotnissão de artes foi trrria das
sugerindo a realização de urn diagnóstico ampliado acerca das últitnas a ser notneada pela SESu, ern 1994, com a seguinte
especificidades do setor artístico, de fo rrria descentralizada e cotnposição: Ana Mae Bastos Barbosa (presidente), Antonio
considerando as singularidades regionais. Mercado Neto, Conrado Jorge Silva de Marco, Laís Fontoura
A inferência que se faz ao analisar o relatório Aderne (relatora) e Rogério Duarte Guitnarães. Durante dois anos
produzido pelos especialistas é que a fortnação do professor de a Comissão de Especialistas ern Ensino de Artes e Design /
artes esbarrava-se, naquele tnotnento, ern dificuldades que ainda CEEARTES deu atenção especial à questão da avaliação do
ensino superior, ação considerada indispensável para a formulação
70
de políticas públicas.
66. É i~porta~te frisar que a cópia do modelo americano - uma espécie de bsck to
besics - ignorou o fato de que naquele país o fortalecimento do ensino da Arte
era u~ ~ato já consolidado, na legis~ação da grande maioria dos estados, e que mui-
t~s orgaos de f~mento a p e sqursa, a exemplo do Getty Institut, apoiaram
vigorosamente a implementação da chamada Dicipline Based in Art Education /
69. ln: Relatório da comissão de avaliação do ensino superior de artes (MEC, 1986),
DBAE. assinado pelos seguintes professores: Laís Fontoura Aderne Faria Neves (Coorde-
nadora), Ana Mae Tavares Bastos Barbosa, Antonio Mercado Neto, Carlos Alberto
67. A vertente do currículo baseado no ler - escrever - contar, uma característica oci-
de Sá Barros, Eduardo Luiz Luppi, João-Francisco Duarte Júnior, José Maria Ne-
dental historicamente situada, é analisada exaustivamente por DOLL JR (1997) e
GOOOSON (1995). . ves, Lindemberg Rocha Cardoso e Luiz Paulo da Silva Vasconcelos.
70. Além de empenhar-se em coordenar a implantação de um sistema nacional de ava-
68. A .met~fora da arte como cartão de apresentação de supostas inovações educacio-
liação do ensino superior de artes, a CEEARTES teve sempre a seu encargo gran-
nais foi estudada ~or DUARTE JR (1981). Pode também ser constatada nas propa-
de uma quantidade de serviços burocráticos espinhosos, os quais, inclusive, toma-
gandas de TV alusivas a grandes projetos governamentais ou privados: enquanto a
vam parte considerável do tempo das reuniões mensais. Como este trabalho enfoca
locução apresenta a filosofia do produto educacional que está sendo exibido ao
apenas as questões relativas à reformulação curricular e temas congêneres, não dei
espectador, as imagens mostram, via de regra, alunos exercitando a criatividade em
oficinas de artes. atenção às outras atividades desenvolvidas pela referida comissão.
102 103
TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A supressão dos currículos mínimos nacionalmente fixados, que
Para realizar objetivo tão amplo, a CEEARTES
comprometem a formação do profissional, porque restringem a
instituiu o Fórum de Avaliação e Reformulação do Ensino
produção artística do aluno e do professor. Em seu lugar deverão
Superior de Artes e Design, órgão que reuniu-se em quatro
ser criadas estruturas abertas com conteúdos mínimos a serem
ocasiões, a primeira delas em Brasília (1994). Cinqüenta e quatro
definidos por cada IES, atendendo às suas especificidades e perfil.
IES foram representadas naquele encontro - 19 federais 11
Não haverá currículo mínimo pré-fixado, nem estrutura por
estaduais, 1 municipal e 23 particulares, totalizando 126
disciplinas: cada IES deverá apresentar seu Projeto Pedagógico.
professores e estudantes - , sendo examinada uma vasta
A avaliação e a aprovação dos projetos pedagógicos pelo Conselho
documentação de auto-avaliação, resultando tudo isso numa
Deliberativo das IES deverá basear-seem um corpo de parâmetros
síntese acerca das principais dificuldades apontadas quanto ao
gerais, instituídos nacionalmente, contemplando: a) espaço de
corpo docente, corpo discente, instalações e recursos, dentre
investigação e experimentação da linguagem teatral; b) quantidade
outros tópicos. Merecem ser ressaltadas algumas conclusões
mínima de espetáculos públicos e carga horária previstos para o
acerca do assunto currículo: i) o currículo mínimo (Resolução
funcionamento do Projeto Pedagógico; c) reflexão teórico-crítica e
23/73-CFE) impede a concepção de projetos pedagógicos
estética; d) visão histórica do fenômeno teatral. (MEC, 1994c:s/
localizados; ii) a licenciatura curta, repudiada pela imensa maioria
p)
das instituições, ainda sobrevive; iii) o currículo mínimo estimula
a polivalência; iv) a estrutura dificulta a formação do artista e do
Em Brasília (1995) aconteceu a quarta e última reunião
p~ofessor; v) não há relação de equilíbrio entre teoria e prática;
do fórum, a partir de uma pauta de discussão que contemplava o
Vi) há excesso de pré-requisitos; vi) identifica-se uma dissociação
assunto política e currículo: novas rendéncias. Naquela oporrunidade
entre o bacharelado e a licenciatura; vii) inexiste, na perspectiva
não houve grandes avanços na produção de propostas, pois os
dos conteúdos e atividades letivas, relacionamento entre teoria e
,. 71 participantes decidiram privilegiar as lutas encampadas pelo
pratica.
Fórum em Defesa da Escola Pública na LDB, junto ao Congresso
Essa tornada de posição inicial quanto à avaliação dos
Nacional, como forma de rechaçar o substitutivo do Senador
cursos fez com que a pauta do II Fórum de Avaliação e
Darcy Ribeiro, o qual desfigurava e também atropelava o projeto
Reformulação do Ensino Superior de Artes e Design fosse voltada
de LDB já votado na Câmara dos Deputados. Dessa maneira, o
para a discussão de pressupostos norteadores de um instrumento
fórum dos arte-educadores teve urna conotação política -
de avaliação. O fórum contou com uma participação ainda mais
acompanhou as votações no Senado Federal, onde foi lido um
expressiva de professores e alunos, 166 participantes, pois a
manifesto da ANDES em defesa da manutenção da
reunião ocorrera em conjunto com o Fórum Nacional de Estudos
obrigatoriedade do ensino da Arte. Quanto ao assunto currículo,
pela Reformulação do Ensino Superior, durante o VII
os anais do fórum registraram o seguinte:
CONFAEB (Campo Grande, 1994).
N aquele mesmo ano aconteceu mais um encontro do
Considerou-se a necessidade e uma base comum nacional para a
fór~m da CEEARTES, em Salvador, com a participação de
formação do profissional da área das artes que iria atuar tanto no
entidades como a FAEB, Associações de Ensino de Design /
ensino fundamental como superior, assim como do profissional
AEND-BR, Associação de Professores e Diretores de Teatro /
artista. Porém, esta base deve ser considerada em todas as suas
POIESIS e o Conselho Latino Americano de Educação pela Arte
dimensões, isto é: profissional, política e epistemológica. A
/ CLEA. Em relação ao assunto desta pesquisa, o GT de Artes
formação do professor deve considerar três aspectos: o domínio de
Cênicas aprovou as seguintes indicações:
sua linguagem específica dentro das artes; os elementos históricos
e estéticos ligados a essalinguagem; os elementos didáticos. (MEC,
1995a:s/p)
71. Ao ~s~udar o mesmo ass?~to, PIMENTEL (1999:17) constatou que "tanto o não-
domínio dos elementos básicos em arte quanto a dissociação entre conhecimento Como aquele fora o último encontro público da
artístico e seu ensino são claros e reais na maioria dos cursos."
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
p rrrn eira cotnissão da CEEARTES, a plenária encatninhou A CEEARTES trabalhava naquele rrrorrrerrto rrurri
solicitações à SESu no sentido de transfortnar o F'ó r urn erri c erramo betn diferente ao esboçado na gestão anterior, pois o
atividade pertnanente, cotn indicativo de u m novo encontro na poder público havia delineado políticas e refortnas especí~cas
UFMG, não realizado. Contudo, para tornar o processo de para o setor educacional a partir dos parâtnetros estab~lecl~os
representação rnais detnocrático, a partir de orientações do IV pela nova LDB, incluindo a irnp lernerrtação de novas drre trizes
F r urn foi realizada trrn a votação nacional de rrorries a serern
ó
curriculares ern todos os níveis de ensino.
encatninhados à SESu, a título de sugestão para corrrpo sição da A partir de indicadores detnográficos, sócio-
segunda cotnissão, cujo resultado foi considerado apenas econôtnicos e educacionais fornecidos pela SESu-MEC, a
72
parcialtnente. CEEARTES elaborou os docutnentos Descrição da área de
A produção de conhecitnento propiciada pelos fóruns artes e design (MEC, 1996a) e Padrões de qualidade para cursos
da CEEARTES foi relevante, quer na avaliação dos órgãos de graduação na área de artes e design (MEC, 1997d), ~otnO
públicos ou do rrro'virrrerrto organizado pelas entidades civis. fo rrria de preparar a discussão sobre a refortnulação curricular
Todavia, no que diz respeito ao diagnóstico da situação do ensino propriatnente dita, iniciada fo rrrialrncrrte no I Se~~nário sobre o
superior de artes no Brasil, a p rirrieira equipe da CEEARTES Ensino Superior de Artes e Design, etn Salvador.
encerrou seus trabalhos apresentando urria proposta de avaliação Etn te rrn o s estruturais aquele setninário foi b ern
dos cursos superiores de Artes e Design, erribora os instrutnentos diferente dos fóruns realizados pela cotnissão anterior, pois
de pesquisa não terrharn sido aplicados nas IES, devido a fatores baseou-se e rn contribuições previatnente elaboradas por
que fugiratn à alçada de influência da cotnissão. especialistas de cada área, tendo cotno referência as Diretrizes
Etn 1986 a SESu-MEC etnpossou u rn a nova gerais para as áreas de artes: artes visuais, música, teatro e
co rrris s ão, cotnposta por Alda Oliveira (presidente), Gustavo dança (MEC 1997e). Resultou do encontro trrrra refortnulação
.Arriararrte Bonfitn, Ingrid Dortnien Koudela, José Adolfo Moura do docutnento citado, o qual foi encatninhado posteriortnente a
e Liane Hentschke (secretária). Esses profissionais errrperrhararn- pareceristas de várias regiões do país.
se na elaboração de docutnentos descritivos das áreas que Coincidiu c orn o tértnino do rriaricla.to da segunda
representavatn - Artes Visuais, Dança, Design, Música e Teatro c o rrri s s o o cl e.s rn e rn b r arrre n t.o da CEEARTES e rn várias
ã
- , c orn vistas a trrn rnap earrrerrro do ensino ern todo o país, corrris sõ es, o que foi considerado utn avanço, inclusive porque o
dando as sirn trrn novo encatninhatnento à questão da avaliação rrúrrie ro total de participantes foi ampliado - na área de Artes
institucional, então a cargo do PAIUB-MEC. Nutna carta aberta Cênicas contava-se corn utn representante, ao passo que a nova
essas intenções já p erfilavarn o trabalho que seria desenvolvido configuração prevê a presença de três rriernbro s. Através da
durante os dois anos de tnandato: Portaria na 879-MEC, de 30/7/97, a SESu estabeleceu novas
atribuições para as equipes de especialistas, ao passo que o Edital
Em consonância com suas diretrizes, o grupo de representantes das na 2-MEC, de 8/9/97, destnetnbrou a comissão de artes ern três
artes e desenho industrial está programando ações visando áreas, Artes Cênicas, Artes Visuais e Música, fixando ainda
articulação com as respectivas associaçõesprofissionais, científicas critérios antidetnocráticos para indicação dos representantes -
e outras instituições, com o objetivo de apreender suas demandas,
como, por exemplo, reforma curricular, atualização de
nomenclaturas, etc. (MEC, 1996) 73. Participaram do seminário os seguintes profissionais: .GT d~ Artes Visuais - Alice
Bemvenuti (UFSM), José Alberto Nemer (UFMG), LUlZ Aquila (EAV P~rque Lage)
e Maria Lúcia Batezart Duarte (UFU); GT de Música - Celso Loureiro Chaves
(UFGS) Elizabeth Rangel Pinheiro (UNICAMP), Jamary Oliveira (UFBA) .e
Jussama;a Souza (UFGS); GT de Teatro e Dança - Arm.indo Bião (UFBA), Be.atnz
72. Para composição da primeira equipe da CEEARTES a FAEB havia coordenado A. V. Cabral (UDESC), Márcio Aurélio Pires de Almeida (UNICA!'1P), Mana da
uma votação junto às coordenações de cursos e departamentos acadêmicos da área Conceição Castro Franca Rocha (UFBA) e Maria do Socorr~ Santiago (FUA). O
de artes e design nas IES, em 1993, tendo sido essa indicação contemplada na seminário caracterizou-se como um encontro de trabalho ampliado da CEEARTES,
íntegra pela SESu-MEC. não sendo aberto ao público.
106 107
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
passaram a ter voz de comando apenas as IES que possuem cursos e Artes Plásticas, ao invés de Educação Artística, mesmo tendo
de pós-graduação. que enfrentar a política autoritária da ditadura militar.
a critério de votação informal foi substituído pelas Em termos de medidas práticas, a ação das comissões
indicações das IES, discriminando o pensamento da grande maioria de especialistas do MEC constituiu-se na primeira tentativa de
dos profissionais ligados aos cursos de artes de todo o país. A dar novo encaminhamento ao currículo mínimo estabelecido pela
partir dessas indicações, a SESu-MEC nomeou para a área de Resolução 23/73-CFE, como fruto de um processo que passou
artes cênicas as professoras Maria da Conceição Castro Franca pelo crivo crítico de consultores vinculados a cursos de
Rocha (Dança), Antonieta Marília de aswald de Andrade (Dança) bacharelado e licenciatura, merecendo, posteriormente, pareceres
e Marta Isaacsson de S. Silva (Teatro), que tomaram posse em de outros profissionais e instituições, assunto tratado na presente
1998. a conhecimento público acerca das ações da atual seção.
Comissão de Especialistas de Artes Cênicas / CEEAC restringe- A SESu-MEC convocou as IES e as associações
se ao documento Proposta para as futuras diretrizes profissionais interessadas em participar e apresentar propostas
curriculares do ensino de graduação de teatro para análise e para a discussão das novas diretrizes curriculares dos cursos
sugestões via internet, o qual está disponibilizado no site do superiores, através do Edital na 04, de 10/12/97. No item
MEC desde abril de 1999, embora os órgãos competentes não Informações básicas constavam orientações acerca da
tenham marcado nova data para encaminhamento ao Conselho organização das diretrizes curriculares - perfil desejado do
Nacional de Educação, uma vez que o prazo anteriormente formando, competências e habilidades almejadas, conteúdos
estabelecido - 4/5/98 - não foi cumprido. obrigatórios, duração e estruturação modular dos cursos, estágio,
conexão com a avaliação institucional - , ao tempo em que
indicava o ambiente de discussão, as etapas e o cronograma de
Propostas de Mudança: Visão Oficial e trabalho. Apesar do apelo oficial, apenas a ECA- USP, o
Crítica dos Especialistas Departamento de Artes Dramáticas da UFRS, o Instituto de Artes
da UNIRIa, o Bacharelado em Artes Cênicas da UFSM e as
licenciaturas em Educação Artística da UFMA e UFPB
manifestaram-se formalmente quanto ao teor do documento
A retrospectiva apresentada dá conta da atualidade
encaminhado pela SESu-MEC.
do tema, complexidade, entraves, e também das contribuições
A CEEARTES, por sua vez, convidou profissionais
relevantes empreendidas por um movimento articulado
de várias regiões do país a se manifestarem e, na área de teatro,
nacionalmente, ou, em outras palavras, por um processo de
33 especialistas emitiram parecer, sendo que alguns deles
transjàrmação dos cursos de formação do professor de artes,
informaram ter consultado seus pares de departamento, ao passo
nascido na atuação dos atores da cena concreta e que, após
que outros assinaram coletivamente um mesmo documento.
disseminar-se nas instituições de ensino, influiu decisivamente
Considerando a riqueza argumentativa contida nas discussões
para despertar a preocupação do MEC. A reflexão sobre os fatos
entre pareceristas, IES e MEC, torna-se importantíssimo analisar
históricos mencionados permite verificar-se como as licenciatura 74
o conteúdo e o teor da crítica efetivada pelos especialistas.
em artes tentaram implementar reformas curriculares, com o
intuito de construir projetos pedagógicos fundamentados na
autonomia das linguagens artísticas. Contudo, o descaso do poder
74. Foram os seguintes os pareceristas da área de teatro: Angela Materno (UNIRIO),
público, que somente agora - e com extrema morosidade - dá Ana Maria Bulhõcs Carvalho (UNIRIO), Ado Paranaguá de Santana (UFMA),
provas de querer promover uma reformulação consistente, tem Ausônia Bernardes Monteiro (UNIRIO), Elizabeth F. Machado (UNIRIO), Geral-
impossibilitado que as mudanças aconteçam nas instituições. do Salvador de Araújo (UFRJ), Gláucia Santos Gama e Silva (UNIRIO), Hélio
Márcio Dias Ferreira (UNIRIO), Irley Machado (UFU), Inês Marocco (UFSM),
Deve-se registrar que a UFBA foi a única universidade brasileira Jorge de Carvalho (UNIRIO), José da Costa Filho (UNIRIO), José da Silva Dias
que negou-se a seguir o padrão imposto pela Resolução 23/73- (UNIRIO), Lidia Kosouski (UNIRIO), Luciano Pires Maia (UNIRIO), Luís Artur
CFE, ofertando licenciaturas nas áreas de Teatro, Dança, Música Nunes (UNIRIO), Márcia Pompêo Nogueira (UDESC), Marcos Bulhões (UFRN),
108 109
T ANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A prim.eira versão encam.inhada aos pareceristas elES 600 horas, com. a recom.endação de que o Estágio Supervisionado
tinha o título Diretrizes gerais para a área de artes cênicas - fosse orientado por especialistas da área, evitando-se a oxierrtação
teatro e dança (MEC 1997f), tendo sido elaborada pela seguinte generalista desenvolvida gera1m.ente pelas faculdades de educação.
equipe de redatores: Arm.indo Jorge de Carvalho Bião (UFBA), Acredito que a sim.ples divulgação das diretrizes
Beatriz Cabral (UFSC), Ingrid Dorm.ien Koudela (USP / constituiu-se num. avanço considerável, pois foi um.a tentativa
CEEARTES), Márcio Aurélio Pires de Alm.eida (UNICAMP), de atualizar discussões, o que, por si só, deu ânim.o novo a um.a
Maria da Conceição Castro Franca Rocha (UFBA) e Maria do causa que vinha sendo postergada há anos pelo poder público.
Socorro Santiago (FUA). Segundo inform.ações contidas no seu Contudo, era de se esperar que o debate fosse desenvolvido com.
encam.inham.ento, buscava-se contemplar as conclusões dos certas dificuldades, um.a vez que faria em.ergir, naturalm.ente,
quatro fóruns promovidos pela CEEARTES, a situação das IES interesses pessoais dos atores envolvidos e, por outro lado,
e a a-nálise da legislação em. vigor. vocações e aspirações já consolidadas no interior das instituições.
A estrutura do docum.ento apresentava duas partes As reações que efetivaram.-se a partir da divulgação
distintas, constando, na prim.eira delas, os seguintes tópicos: i) das diretrizes form.uladas pela CEEARTES são representativas
conceituação e histórico do ensino superior em. Artes Cênicas; de um. segm.ento im.portante da opinião nacional, vindo de
ii) estim.ativa e distribuição dos cursos de graduação; iii) especialistas ligados a instituições ou organizações profissionais,
caracterização curricular - bacharelado em. Artes Cênicas e e chegando, em. alguns casos, a extrapolar o m.eio acadêm.ico,
licenciatura em. Educação Artística / Habilitação Plena em. Artes com.o foi o caso do Rio de Janeiro, onde o Jornal do Brasil (14/
Cênicas; iv) situação da pós-graduação; v) perfil do corpo docente 9/97) estam.pou a m.anchete Professores da UNIRIO criticant
e discente; vi) mercado de trabalho. A segunda parte apresentava contissão indicada pelo MEC, referindo-se ao clim.a de pé de
as novas diretrizes curriculares, contendo objetivos, definiç.ão do guerra (eic) provocado no m.eio acadêm.ico a partir da divulgação
tipo de curso e habilitações respectivas, bem. com.o urna proposta das diretrizes em. tela.
de organização curricular em. torno de elencos de conteúdo. Elaborei um. quadro das críticas apresentadas pelos
De m.aneira a concatenar-se com. as propostas do pareceristas, com.o form.a de com.preender os pontos de vista
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Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003) e referindo- presentes nas IES e grupos de especialistas. Algum.as opiniões
se diretam.ente à nova LDB e aos PCN do ensino básico, as apresentadas são em. geral interessantes e inovadoras, ao passo
diretrizes do ensino superior de Teatro propunham. bases que outras estão em. desacordo com. as propostas sobre form.ação
curriculares para os cursos de Bacharelado em Interpretação do professor discutidas pela literatura e privilegiadas neste
Teatral e Licenciatura em. Teatro, recom.endando, ainda, a criação trabalho, ou ainda em. relação aos debates em.preendidos no seio
de pós-graduação em. áreas corno Cenografia, Direção Teatral, do m.ovim.ento de arte-educadores m.encionado anteriorm.ente.
Teoria do Teatro e Teatro de Form.as Animadas. Nessa perspectiva Assim., alguns especialistas concentraram. suas preocupações em
os cursos passariam. a ter desenvolvimento sim.ultâneo em. term.os questões relativas ao seu próprio espaço institucional pedagógico
de estrutura, com. carga horária m.ínim.a de 2250 horas, sendo ou artístico, ao passo que outros restringiram-se a reivindicar
que, para form.ar o professor, exigia-se um.a com.plem.entação de aum.ento da carga horária em. certas áreas de estudo. Em vários
pareceres encontram.-se referências à licenciatura com.o m.ero
com.plem.ento do bacharelado, reafirm.ando o velho esquem.a 3
+ 1. Outros, porém., além. das críticas, anunciam. saídas
(...) ~aria de Lourdes Neylor Rocha (UNIRIa), Maria Flora Süssekind (UNIRIa), encontradas regionalm.ente ou apresentam. sugestões específicas
Mana Helena Wer~eck (UNIRIa), Maria Lúcia de Souza Barros Pupo (USP), Mar- para a m.elhoria da form.ação do educador. Os fragmentos abaixo
ta Isaacson de S. Silva (UFRS), Paulo Luís de Freitas (UNIRIa), Paulo R. Vieira de
Melo (UFPB), Pedro Luozada (UNIRIa), Ricardo Ottoni Vaz Japiassu (UNEB),
Samuel J\brantes (UFRJ), Tania Brandão (UNIRIa), Vera Bertoni Santos (UFRS),
Vera Regina Colasso (UDESC), Vara Rosas Peregrino (UFPB) e Zelinda Elisa Car-
neiro Cartaxo (UNIRIa). 75. Ver SANTANA (2000, Anexo 3).
110 111
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
exetnplificatn O quadro de diversidade conceituaI contido nos afirma que a discussão sobre diretrizes curriculares deve ser
pareceres: encatninhada a cautela aconselhada na seguinte citação:
Finalmente viabilizou-se o fim da famigerada Educação Artística Sem pressa. a fim de que a necessária administração eficiente do
e da polivalência, [... ] mas deve haver uma relação saudável entre mandato constitucional não se processe em posturas verticais.
o bacharelado e a licenciatura, sem nivelar 'por baixo' os conteúdos. sobretudo no que se refere à formação de professores. Com diálogo.
a fim de que a pluralidade de setores competentes no assunto.
o licenciado deve saber tudo o que os outros alunos estudam. e individuais e sobretudo coletiuos, possa suscitar pelo debate um
por isso deve primeiro fazer o curso de interpretação ou direção razoável consenso em torno de questão tão fundamental para o
para depois cursar as disciplinas do Departamento de Educação. ato pedagógico e para umfederalismo democrático. (CURY, 1996:16-
17)
Como forma de fortalecer o ensino deve ser exigido dos alunos a
participação em espetáculos ao longo do curso, bem como Para fazer a sistetnatização dos pareceres que
monografia ou projeto semelhante, para incentivar a pesquisa e o chegaratn de rrnritas partes do Brasil, a CEEARTES contou co~
envolvimento com a comunidade e a cidade. a colaboração de dois consultores nas áreas de Teatro e Dança,
sendo então elaborada a segunda versão das diretrizes, corn o
Na formação de professores deve-se privilegiar certos eixos titulo Diretrizes gerais para a área de artes cênicas - Teatro e
formativos contendo a educação básica de âmbito geral, a formação Dança (MEC 1997g). Nessa versão o histórico sobre o. ensino
básica específica, a formação profissionalizante e ainda considerar de Teatro foi bastante atnpliado e os cursos as sirri especificados:
um quadro generoso de disciplinas complementares, formatando Cenografia, Direção Teatral, Interpretação Teatral e Teatro-
um curso com perfil próprio, sem polivalência ou fragmentação Educação. Para cada urna dessas áreas utn pequeno texto explicava
de conteúdos. sua abrangência, itnportância e fundatnentos. No correr do texto
apresentavatn-se as diretrizes curriculares e os catnpos de
É preciso tornar o documento menos ambíguo e menos restritivo conhecitnento dos cursos, indicando a proporcionalidade de cada
a certas áreas, como a cenografia. Apelamos para o 'bom senso' da catnpo do conhecitnento erri relação às especificidades das
CEEARTES, para que não permita que seja destruído com uma funções profissionais de cada área de fo.rrrraç âo. A tninuta de
' J 76
simples assinatura um projeto que Ievou anos para ser construiao: recotnendação oficial referia-se ainda a urn rrríriirrio de 2250 horas
ern terrrro s de duração, "tendo a fortnação do professor trrrra
Corno se pode ver a partir desses exernplos, alguns cotnpletnentação de 600 horas (MEC, 1997g:14-15).
p areoe.ris tas apreserrtararn opinião de cunho rrrais geral, ao passo Essa segunda versão do docutnento apresentou alguns
que outros de.tiverarrr-se no aperfeiçoatnento ou crítica de itens avanços significativos ern relação ao anterior, rrias, por outro lado,
específicos do docutnento da CEEARTES. No tneu parecer resultou rrurria ausência de organicidade, justificada pela fo.rrria
ressaltei a necessidade de se conceber identidade própria à de escritura coletiva que vinha sendo alinhavada. Contudo, no que
licenciatura e aconselhei a participação arripla de profissionais e tange à licenciatura, aind.a não se tinha conseguido traduzir as
instituições, considerando que trrn assunto dessa envergadura contribuições rn ai s significativas tratadas nos círculos de
necessita de trrn algurn tetnpo para que sej arn costuradas as especialistas a na literatura disponível.
disparidades de pontos de vista, contetnplando, asairn, segtnentos Subtnetido à apreciação dos rrre srrro s pareceristas e
significativos da educação brasileira, pois concordo corn quetn IES, foi efetivada trrna nova bateria de críticas e sugestões às
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
das IES, no cunho generalista praticado nas disciplinas reivindicação presente apenas nos pareceres da USP; foi mudada
pedagógicas, b ern corno na inexistência de aproxirnação entre a denominação Crítica / Dramaturgia para Teoria do Teatro,
áreas corno a sociologia, a filosofia e a estética c orn o ensino de prevalecendo a posição dos especialistas da UNIRIO; manteve-
arte propriarnente dito. Face a isso, faz sentido a orientação se o histórico corno anexo e não mais corno parte introdutória
abaixo, prestada nas diretrizes da CEEARTES: do documento.
No tocante ao curso de licenciatura, as principais
Recomenda-se um tratamento especial para as disciplinas que alterações dizem respeito ao seguinte: i) redefinição dos
relacionam os estudos específicos à formação pedagógica, em conhecimentos e habilidades, de certa forma reafirmando a ênfase
resposta à experiência histórica e aos estudos desenvolvidos nos nos processos pedagógicos referentes à relação aprendizagnn em
cursos de Licenciatura. Considerando-se que disciplinas como Teatro e desenvolvimento humano/ ii) redimensionamento das
Metodologia do Ensino de Teatro e Prática de Ensino obtêm capacidades do licenciado no que se refere à coordenação de
(melhores resultados quando orientadas por professores especialistas processos educacionais da linguagem teatral, seja no exercício
I e desenvolvidas concomitantemente às demais, sugere-se a adoção do ensino de teatro formal corno não-formal; iü) preocupação
\ de tal procedimento, com vistas, inclusive, a uma postura quanto à capacidade do futuro professor em produzir materiais
interdisciplinar por parte dos institutos de artes e educação das pedagógicos; iv) ênfase no auto-aprendizado contínuo; v)
lESo Finalmente, recomenda-se o exercício da Prática de Ensino alteração na redação de alguns tópicos acerca dos conteúdos e
ao longo de todo o curso, elevando-se gradualmente o grau de fundamentos da formação, bem corno na duração dos cursos.
complexidade da função docente, que não deverá ficar concentrada Algumas diretrizes propostas apontam para
no último semestre. (MEC, 1998:s/p) possibilidades interessantes e mesmo inovadoras, mas que,
paradoxalmente, não se traduzem em orientação legal, ou melhor,
M'e s rn o reconhecendo que o documento da enfatiza a busca da competência profissional para o exercício do
CEEARTES representa urn avanço significativo no tratarnento magistério, ernbora nenhum tópico contemple forrnalrnente
curricular dos cursos de formação do professor para o ensino questões relativas ao ensino infantil, fundarnental e rné dio, ou
do Teatro, não se pode garantir que a reestruturação dos cursos rn e s rn o à ação cultural. U'rn dos problernas cruciais das
será efetivada nos terrnos que estão sendo pensados no ârrrbiro licenciaturas ern artes refere-se ao cunho abstrato da forrnação
do MEC, rriesrno porque os prazos estabelecidos oficialrnente de professores, desvinculado dos rneios inforrnais de ensino e
não forarn seguidos - a SESu-MEC previu o encaminharnento sobretudo da educação básica. Considerando-se as dificuldades
da versão definitiva das diretrizes à Cârrrara de Educação do que IES estão encarando atualmente o princípio da autonornia
Conselho Nacional de Educação até "04 de rrraio de 1998", rrras universitária, e ainda urna certa tradição de seguir-se à risca as
78
na verdade, até agora nada disso ocorreu. ordens do MEC - face às questões financeiras que arrrarrarn a
Com o desrnembramento da CEEARTES em quatro ação institucional - , poderá acontecer, rn ai s urna vez, o
cornissões e a designação de novos rnerrrbro s, deu-se início a um esquecirnento das finalidades da licenciatura e rn relação à
novo trâmite no processo de reforrnulação do ensino superior educação básica, acentuando-se, a s s irri , o divórcio entre
de artes; surgiu, então, a Proposta para as futuras diretrizes universidade e escola.
curriculares do ensino de graduação em Teatro para análise e Urna outra questão dúbia incrustada no teor do
sugestões via internet, datado de abril de 1999. A estrutura e o documento refere-se aos conteúdos indicados, os quais "devern
conteúdo dessa nova proposta alterararn parcialmente a anterior, estar conternplados ern no mínimo 50 0/ 0 da carga horária rrrírrirria
embora, no terreno conceituaI, tenham sido adotadas estratégias necessária à obtenção do diploma" (MEC, 1999a:s/p). Conforme
setnelhantes - fo rarn rnantidos os rrresrrro s cursos, excluindo- esclarece o texto, esses conteúdos não podern ser entendidos
se o bacharelado e m Teatro de Bonecos, que era urna corno rol de rna térias, razão pela qual recomenda-se que eles sejarn
desenvolvidos de rnaneira interdisciplinar ao longo das atividades
78. ln: MEC, 1997h:s/p. acadêrnicas. Entretanto, considerando que a LDB deterrnina que
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TANSIÇÃO, EMBATES E PERSPECTIVAS
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
o docurnento Proposta de diretrizes curriculares
os currículos s ej arri propostos pelas IES, a proporcionalidade sistetnatizada pela cotnissão de especialistas de ensino de
das disc.iplinas poderá até ITleSITlO repetir o rnodelo que vigora Artes Visuais da SESu-MEC prevê apenas dois tipos de curso,
e rn rrrurt o s cursos de licenciatura e rn Educação Artística, b ac h ar e lad o e licenciatura, corn duração de 2700 horas,
recheados de conteúdos alheios às habilitações, assunto tratado perrnitindo às IES a discrirninação das áreas a serern ofertadas e
à exaustão no p ró xirrio capítulo. a elaboração dos conteúdos, c orri a seguinte recornendação:
N o trecho Modalidades de for rrraç ão, a proposta da
CEEAC-SESu-MEC abre a possibilidade de o cor rerern fo r rrras Os conteúdos básicos devem fornecer ao aluno conhecimentos de
alternativas de for rnação inicial, alérn dos cursos de bacharelado fundamentação teórico-práticas baseadas na experimentação e na
e licenciatura - forrnação aplicada-prrljissional e de pesquisadores reflexão. Essafase deve contemplar processos de criação, produção
- , s erri esclarecer o que v'erri a ser isso rrerri ern que diferencia- e uso de materiais inerentes às linguagens artísticas, com a
se do rnodelo vigente, o rrri tirrdo, tarrrb érrr, o estabelecimento de finalidade de criar um referencial de base para escolha e
diretrizes para urna organização curricular integradora entre as aprofundamentos futuros. (MEC, 1999b:s/p)
modalidades propostas.
Quanto à carga horária rn írrirn.a, foi previsto um o citado docurnento estabelece trrn fluxograrna corn
aurrrerrto de 2250 para 2400 horas, no caso dos bacharelados ao três níveis: básico, desenvolvirnento e aprofundamento. O nível
passo que para as licenciaturas houve redução de 450 horas 'ern
básico tem caráter de obrigatoriedade e dirige-se para a iniciação
relação à proposta anterior. .As sirn, de acordo corri a últirna rrrirruta
teórico-prática; na etapa de desenvolvimento o aluno é levado a
de diretrizes do MEC, é prevista urna carga total de 2400 horas interagir com outras linguagens, c o rri vistas a ensejar
para a licenciatura na área de teatro, já computadas as 300 horas
arnadurecirnento de sua linguagem pessoal; no nível de
deterrninadas pela Lei 9394/96 para a Prática de Ensino.
aprcifundamento o aluno deve ter a seu dispor trrn leque rnais
Para finalizar a análise das propostas pensadas até o flexível de disciplinas - optativas, seletivas e módulo livre - ,
rrrorrierrto pelos órgãos do poder público, faz-se rriis ter analisar a cultninando na elaboração de urn projeto de curso orientado por
cor;fi?uração curricular das licenciaturas atinentes às linguagens um professor e subrnetido à avaliação de banca. Vale ressaltar,
ar tis trcas. Desde a realização do serninário da CEEARTES ern finalrnente, a tentativa de orientar a articulação entre teoria e
Salvador (1997), quando concluiu-se a p rirncira versão dos prática, através da irnplantação de três níveis de estágio, asairn
doc~rnentos de todas as áreas, pode-se observar que, rriesrrro
concebidos:
partindo de.urn princípio comum - a preparação de professores
para o errsrn o da disciplina Arte na educação básica - , os 1. Instrumento de integração e conhecimento do aluno com a
elaboradores não guiararn-se na rrre srrra direção rrern adotararn realidade social, económica e do trabalho de sua área/curso.
as rnes~as estratégias. Dessa rnarreira, tanto os conceitos, quanto 2. Instrumento de iniciação à pesquisa e ao ensino (aprender a
a rriarierra corno eles são expressados, através de títulos itens e
ensinar).
tópicos e duração não prevêern urna base comum, sendo distintas 3. Instrumento de iniciação profissional. (MEC, 1999b:s/p)
as orientações contidas nos docurnentos das cotnissões de Música
Artes Visuais e Artes Cênicas. Face a isso, as únicas áreas qtre Já as Diretrizes curriculares para os cursos de
apre~entarn rn aio r uniforrnidade são as de Teatro e Dança,
tnúsica, versão prelitninar, erri discussão prevêem cursos de
p~ss1vel~ente por terern sido pensadas pela rrre srria equipe,
licenciatura e bacharelado com duração mínima de 2160'horas,
d1ferenc1ando-se sornente quanto às nomenclaturas. Na área de com as seguintes habilitações: Educação Musical! Práticas
Dança ~á os curs?s de licenciatura e bacharelados ern Coreografia, Interpretativas, compreendendo instrurnento, voz e regência;
Dançanno, 'Teoria e Crítica ern Dança, sendo que a carga rrríriirna
Composição; Produção Cultural; Música Popular; Tecnologia em
para a obtenção do grau de Professor de Dança é de 2850 horas,
Música; Musicoterapia. Na cornposição dos currículos, prevê-se
reservando-se 300 horas para a Prática de Ensino e rn
que os campos de conhecitnento dcvern ser concebidos enquanto
atendirnento às exigências da Lei 9394 (Art. 65). '
119
118
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
CAPíTULO V
A Realidade dos Cursos
120
Configuração do Ensino Superior de Artes
79: De acordo com o Estatuto das Universidades Brasileiras, de 1931, uma "universi-
dade precisaria ter, pelo menos, três institutos de ensino. Mas, pelo novo critério,
4gis deles (e não os três) deveria:; estar dentre os de filo.sofia (e não mais educa-
ção, ciências e letras), direito, medicina e engenharia... Com isso, passava a ser
possível instalar-se uma universidade a partir de uma faculdade de filosofia, (e até
mesmo com apenas uma seção), uma faculdade de direito e uma terceira de econo-
mia ou serviço social, por exemplo, sem as custosas faculdades de engenharia ou
medicina" (CUNHA 1989:94-9'5). Já a Lei n° 1.254, de dezembro de 1950, que per-
mitia a federalização de estabelecimentos mantidos pelos estados, municípios e
particulares, surgiu em decorrência à dupla pressão, exercida pelos estudantes, em
prol da gratuidade do ensino, e dos professores e demais profissionais do ensino
superior, reivindicando os privilégios do funcionalismo público.
123
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
e a expansão da rede privada, estratégias essas que tiveram como professores distribuídos nas
base as orientações politicas e econôtnicas dos governos tnilitares. diverSãs r e g i o e s brasileiras,
Deve-se salientar, contudo, que a reforma do ensino superior de conforme detnonstra a tabela ao
81
1968 trouxe consigo a integração de cursos, áreas e disciplinas; a lado.
centralização da' coordenação administrativa, didática e de Quando a presente pesquisa
pesquisa; a flexibilização dos cursos; o incentivo formal à foi iniciada, as infortnações vindas
pesquisa; a ampliação da representatividade docente nos órgãos de fontes governamentais davam
• 80
de clieeção. conta da existência de 126 cursos
Com a expansão desordenada que se deu após a de Licenciatura e m Educação
reforma universitária de 1968, o prisma da oferta de vagas foi Artística, mas, após exaustiva
invertido, passando as IES públicas a ofertarem a menor parcela comparação de dados advindos de
das vagas disponíveis, apesar de serem responsáveis pela maior diversas fontes - sobretudo
. parte da produção científica, como ainda acontece atualmente. consulta direta às IES - , cheguei
Em conseqüência à deterioração do ensino que se sucedeu, ao quantitativo de 98 cursos de
formar professores tornou-se um empreendimento fácil e licenciatura em artes, e não somente
sobretudo lucrativo, pois, para a criação de licenciaturas, não se de Educação Artística, con-
precisava fazer grandes investitnentos financeiros: o espaço físico tabilizando utn total de 145
e equipamentos eram quase sempre precários e, para recrutar habilitações em Artes Plásticas,
docentes, não se exigiam títulos de pós-graduação ou experiência Artes Cêrricas, Desenho e Música.
em pesquisa. Com isso, o monopólio da formação do professor Metade dos 98 cursos ern funcionatnento concentra-
ficou a cargo das instituições isoladas particulares, que passaram se na região Sudeste, ao passo que, do total, 3/4 correspondetn à
a absorver cC88.7 % dos cursos, restando às universidades apenas .soma dos cursos de apenas duas regiões - Sul e Sudeste. Nessa
11.3 da oferta total" (BRZEZINSKI 1996:50). divisão, restatn para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
Até fins dos anos 60 não havia mais de 30 cursos . apenas 1/4 dos cursos. A partilha é ainda mais desigual se for
superiores nas diversas áreas de artes, quase todos em âmbito de considerada a distxib'uição dos cursos nos estados brasileiros:
bacharelado, sendo a maioria de Artes Plásticas. Outras áreas, São Paulo = 34; Rio Grande do Sul = 13; Rio de Janeiro = 9;
como Música e Teatro, contavam com menor quantitativo de =
Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná 6; Pará 3; Mato Grosso,=
cursos, ao passo que eram raros os de Dança, Cinema, etc. Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Rio Grande do Norte,
O ...........-
ensino ~upe~ºrna~rea de Teatro foi regulamentado Bahia e Sergipe = 2; Goiás, Espírito Santo, Pernambuco, Piauí,
"' .•.. ..",... ." .. ..
'-"'-"--'-'-~'-'-"'--""" ,~
somente em1965 (pc>rta~~6q~-:~:r~)e itnplantado inicialmente Maranhão, Paraíba, Alagoas, Amapá e Amazonas possuem apenas
ap;;;;;- na usp~-uNiRio~ UFRG'S"; UFBA. Essa realidade foi urn único curso, ficando, os clern ais estados - Rondônia,
modificada a partir'de'-trê~'-fen8menosrecentes na história da Roraima, Acre, Ceará e Tocantins, com tnenores chances de
educação brasileira: a expansão do ensino superior como um cumprir o dispositivo constitucional quant~ 8
ao ensino de Arte
todo, a adoção da obrigatoriedade da arte na educação básica na educação infantil, fundatnental e tnédia.
(Lei 5692/71) e a regulamentação dos cursos de licenciatura em
Educação Artística (Resolução 23/73-CFE).
Hoje, segundo documento da CEEARTES / MEC, 81. As informações citadas acima, conseguidas através de coleta de dados junto ao
MEC, INEP e IES, foram condensadas nas Tabelas IX a XII (Apêndice I), por
existem em todo Brasil cerca de 234 cursos superiores de artes, habilitação e segundo unidade federativa e região. .
incluindo moda, decoração e deilji;;, dentre outras áreas; desse 82. Ver Tabelas IX a XII (Apêndice I). Informações não confirmadas pelo MEC-S~Su
total, 98 referem-se especificamente a cursos de formação de dão conta da existência de mais um curso de licenciatura em Educação Artística,
na Universidade Estadual do Ceará, o qual não foi contabilizado nesta pesquisa,
devido a inexistência de retorno de informações solicitadas pelo pesquisador àquela
80. Ver ROMANELLI (1978). IES.
124 125
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
anos 60, trrn rrraio r rrúrne ro de cursos' de tnúsica ern relação ao quantidade exata de dip lorriado s.
quantitativo de teatro, quando, no presente, essa diferença Para efeitos de arrro s tr'agern, a presente pesquisa
praticatnente não rriais existe. Infere-se que algtrrrias áreas, co rrro considerou todos os 19 cursos de licenciatura ern teatro
dança, têrn crescido de tnaneira rrrais lenta, ao passo que, no furrciorrarnenro.cno .. Bra.s.\í~ no período corresp(;~d~nre'à coleta
setor de teatro, a expansão foi tnais significativa, confortne será de dados (19?2:-1228), a saber: Universidade Federal do Maranhão
visto detalhadatnente a seguir. "/ UFMA; Uciversidade Federal da Paraíba / UFPB; Universidade
\federal de Pernatnbuco / UFPE; Universidade Federal do Rio
P.rande do Norte / UFRN; U riiversidade Federal da Bahia /
Perfil das Licenciaturas em Teatro FBA; Universidade de Brasília / UNB; Faculdade de Artes
ulcina de Moraes / FA-FBT-DF; Universidade Federal de
berlândia / UFU-MG; Universidade do Rio de Janeiro /
Seria rrec es s a rro u.rn estudo exaustivo acerca da NIRIO; Universidade Estácio de Sá / UES-RJ; Universidade
expansão do ensino superior de teatro no Brasil - ocorrida a de São Paulo / USP; Universidade Estadual Paulista / UNESP;
partir de tneados dos anos 70 - , para se conhecer essa história Universidade do Sag raclo Coração / USC- SP; Universidade São
em todas as suas nuanças. A verdade é que, se em 1971 havia Judas Tadeu / USJT-SP; C~ntro de Ensino Superior da Fundação
apenas 4 cursos, vinte anos depois já seriam 41, sendo 9 de Lusíadas / CESFL-SP; Universidade do Estado de Santa Catarina
bacharelado 83 e 32 de licenciatura. \ / UDESC; Universidade Federal de Santa Maria / UFSM-RS; 85
Alguns dos cursos de licenciatura não se U niversiqade Federal do Rio Grande do Sul / UFRGS.
estabeleceram plenatnente, tanto é que apenas 19 deles ainda Utn p rirnerro detalhe a ser cotnentado refere-se à
mantinham-se em atividade durante o período de coleta de dados pequena quantidade de cursos
. M
existentes e m todo o Brasil,
d essa pesquisa (1997-1998). As razões alegadas para o
fecharnerrto de um rrúrrrero tão significativo de cursos - 1 3 num considerando-se a exigência
universo de 32, ou cerca de 41 % do total - fo rarri de natureza constitucional quanto a oferta de
econômica, ou melhor, em razão da baixa lucratividade, uma vez disciplinas na área de Arte, dentre
que 85 0/ 0 das IES que os mantinham eratn privadas. Através de elas Teatro. A rrraio ria dos cursos
troca de correspondência ou visita ao local pude constatar que referentes a essa linguagetn
esses cursos foram tnontados sem trrna estrutura de sustentação artística encontra-se na região
humana e material à altura do empreendimento, e que a maioria Sudeste, sendo que apenas o
deles formou apenas trrna turma, embora não se possa precisar a Estado de São Paulo conta corn
cinco cursos, rrúrrrero idêntico à
sotnatória dos estados nordes-
83. Os cursos de bacharelado citados ainda hoje são ofertados pelas seguintes institui- tinos, c orrro pode-se constatar na
ções: UFBA (BA), FA-FBT (DF), UnB (DF), PUC (PR), UNIRIO (RJ), UFRJ (RJ), tabela ao lado. Essas estatísticas
UFRGS (RS), USP (SP), UNICAMP (SP).
84. Segundo dados fornecidos pelo MEC-SESu, os cursos de licenciatura que foram co nfirrnarn a existência de trrn
extintos eram mantidos pelas seguintes IES: Universidade Federal do Piauí (PI), eixo Rio-5ão Paulo ta rnbé.rn no
Universidade Estadual de Montes Claros (MG), Faculdade de Artes do Paraná panoratna do ensino teatral, erri
(PR), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (RS),
sintonia corn o tnercado de artes
Universidade Mackenzie (SP), Faculdade de Belas Artes (SP), Faculdade de Artes
Alcântara Machado (SP), Faculdade Mozarteum (SP), Faculdade Marcelo Tupinambá etn geral e a situação da produção
(SP), Faculdade Santa Marcelina (SP), Universidade de Mogi das Cruzes (SP), Fa- teatral ern particular, iarrra vez que
culdade de Música Santa Cecília (SP), Faculdades Integradas Teresa D'Avila (SP).
Consegui informação apenas das IES públicas (em negrito): no caso piauiense for-
mou-se apenas uma turma, face à carência de professores, ao passo que em Mon- 85. Dois desses cursos foram extintos: o da UES (RJ), em 1998, e, no ano seguinte, o
tes Claros-MG o curso não formou nenhum professor. da CESFL (SP).
128 129
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
ali concentram-se cerca de 39% dos cursos existentes em todo o N a configuração do perfil dos docentes fo rrrraclores,
Brasil. resultante da análise dos dados, um fenômeno deve ser ressaltado:
No que diz respeito à tipologia institucional dos a grande diferença numérica e de titulação entre os docentes das
estabelecimentos aptos a form-ar professores, a situação na área 18 IES pesquisadas. Nos estabelecimentos de menor porte o
de teatro não é tão drástica quanto as demais, considerando-se desenvolvimento curricular dos conteúdos de teatro e teatro-
as outras áreas de artes e principalmente o conjunto de todas as educação é realizado por poucos professores, - às vezes somente
licenciaturas. Conforme demonstra a tabela abaixo, a grande dois - , que certamente não podem fazer mais do que ministrar
maioria dos cursos é ofertada por universidades (88.9 % ) e suas disciplinas respectivas. A tabela abaixo evidencia que o nível
administradas pelo poder público (72.2%); as IES privadas, dentre de titulação na área de teatro é superior ao índice nacional, devido
elas uma faculdade in tegrada e uma escola isolada, são à presença de muitos professores mestres e doutores nas IES
re s p o n s áv-e i s por cerca de 27% dos cursos. onde existe a pós-graduação, bem como em universidades que
ocupam posição de destaque no cenário acadêmico nacional. Um
outro detalhe da categoria de análise titulação rep onta-se ao fato
Pn,fess()fe,.<: em
de que nas IES públicas é considerável o número de professores
cursando mestrado (13 casos) e doutorado (14 casos).
A dimensão con-
tinental do Brasil traz
complexidades para a
concretização de em-
preendimentos
educacionais muito ou-
sados, a exemplo da
democratização do
acesso à Arte para
todos os estudantes da
Não seria recomendável a uma p e s qurs a Interessada educação infantil ao
em analisar a constituição e o processo de transformação de ensino secundário.
cursos ~e formação de professores, como esta, a consideração Assim, se a implantação
da totalidade das questões que envolvem o assunto; face a esse da Educação Artística
pressuposto, foram privilegiadas apenas algumas categorias de implicou na impro-
informação, assumindo-se certas limitações quanto à delimitação visação de professores
do problema investigado. Dessa maneira, no que se refere ao no início dos anos 70,
corpo docente, solicitei dados sobre titulação e quantidade de ainda hoje os sistemas
professores responsáveis pelos conteúdos de teatro e teatro- de ensino enfrentam
educação - considerando que nas IES a unidade que coordena dificuldades quanto à contratação de especialistas em ensino da
o curso geralmente é ligada ao departamento acadêmico de Teatro Arte. A carência de profissionais existe até mesmo nas escolas
ou Artes - , ao invés de adotar os padrões propostos por das capitais e, nas cidades do interior da grande maioria dos
programa.s institucionais de avaliação, a exemplo do PAIUB _ estados, a improvisação ainda se faz valer. Como as políticas
categoria funcional, regime de trabalho, tempo de serviço, públicas têm sido ineficazes há muito tempo, sem conseguir
produção científica e artística, etc. - , ou da avaliação do articular as diretrizes educacionais amplas nem integrar os
Mi~istério da Ciência e Tecnologia, que privilegia a publicação diversos níveis de ensino, a formação de professores não se
de livros e artigos em revistas indexadas no estrangeiro. coaduna com a demanda dos sistemas de ensino, inclusive na
130 131
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
86. Sem contar com os dados oficiais, rechaçados em função da diferença existente A descrição dos cursos em estado de funcionanrenro -
entre eles e as informações devidamente documentadas pelas 18 IES pesquisadas,
tratada em detalhes no Apêndice II - compõe o cenário e o
a estimativa mencionada acima baseou-se no seguinte princípio: i) as IES
pesquisadas indicaram um número total de 1170 concludentes; ii) dentre as IES contexto da formação de professores de Teatro no Brasil,
cujos cursos foram extintos, 6 delas informaram ter dado grau a 117 alunos, no trazendo à tona a diversidade de abordagens a serem consideradas
total; iii) considerando a média estabelecida no item anterior, estimou-se que as para uma compreensão rigorosa da questão. Ao buscar o
outras 7 IES formaram, juntas, um total de 105 alunos; iv) como resultado estima-
do, portanto, tem-se a quantia de 1392 alunos formados em cursos de licenciatura
entendimento do todo através de suas partes constituintes - a
em Teatro ou equivalente. .
132 133
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
ditnensão nacional frente à realidade dos cursos, a rnarieira diversa distintos, sendo u m de caráter básico, destinado à licenciatura
cotn que as IES t.ratarn o p ro blerna e a singularidade corn que curta, e o outro voltado para a fo rrnação de professores para as
são encatninhadas as soluções localizadas - , "ª,t:netodolQg!a disciplinas c'relacionadas corn as grandes divisões artísticas". 87
qualitativa pertnitiu à pesquisa elevar a descrição ao estatuto de Corno base epistetnológica desse etnpreenditnento
base de análise. A citação abaixo é elucidativa acerca dos inusitado na educação brasileira instaurou-se o cc.rrceito de
proceditnentos adotados na pesquisa quanto à apreensão da polivalência nas artes, tnoldado a partir das teorias pedagógicas
arnplirude dos conteúdos sociais e culturais enraizados no objeto ern voga à época da reforrna das licenciaturas efetivada pelo MEC
de estudo: e CFE entre as décadas de 60 e 70, qual seja a de preparar
profissionais cotn rrrúlriplas capacidades e ern pouco ternp o, Esse
Os fenômenos curriculares incluem todas aquelas atividades foi o alicerce curricular que itnpulsionou a expansão das
através das quais o currículo é planejado, criado, ado tado, licenciaturas ligadas ao catnpo da arte, pautado na...
apresentado, experimentado, criticado, atacado, defendido e
avaliado, assim como todos aqueles objetos materiais que o [...] tradição inventada pela mão invisível do sistema [... ]porforça
configuram, como são os livros-texto, osaparelhos e equipamentos, dos mecanismos ideológicos utilizados por quem tem o poder de
os planos e guias do professor, etc. (D. Walker, apud GIMENO controlar o campo curricular. (RIBEIRO, 1999:95)
SACRISTÁN, 1998:21)
Dessa fo r m a, as IES rn o n taram suas propostas
Analisar currículos concretos significa estudá-los no pedagógicas atendendo aos preceitos da legislação, considerando
bojo do contexto ern que se si.ruarn, o que requer a cotnpreensão a realidade nas quais estavatn inseridas e ainda a pequena
de suas práticas e resultados. Nessa perspectiva, buscar experiência brasileira nesse rarrro, presente apenas ern alguns
explicações acerca da tnudança que está sendo processada no centros. .Algurnas instituições ficararn presas ao tnodelo oficial,
panoratna do ensino superior de arte brasileiro, significa entender ern rriaior ou rrierio r grau, ao passo que outras conseguiratn
os fenôtnenos histórico-sociais que se corporificatn nos currículos curnp rir as exigências, reduzindo, p orérn, o valor ideológico de
e progratnas dos cursos, revelando valores culturais e concepções certas amarras, oorno a questão da polivalência, talvez o probletna
politicas, betn cotno teorias e práticas referentes a esse catnpo rn ais discutido e cotnbatido, na literatura e colóquios dos
de conhecitnento. especialistas.
Essa reestruturação dos currículos está sendo A análise dos currículos dos cursos de forrnação de
discutida e concebida há algutn terrrpo, corn rrraior ênfase de uns professores de Artes Cênicas - a rnaioria deles expressos na
cinco anos para cá, confortne ficou evidenciado nas seções fo rrn a de fluxogratna contendo rol, duração e seriação de
precedentes deste capítulo e tarrib érn no anterior. Cotnbatendo disciplinas - , evidenciou que as IES implantaram os seguintes
os entraves provocados pela legislação atinente ao ensino de tnodelos: i) padrão recotnendado no texto e entrelinhas da
Educação Artística, o tnovitnento de educadores interessados Resolução 23/73-CFE, ou seja, o curso de Educação Artística
ern discutir os r urno s da tnudança no ensino superior das artes etn dois ciclos interdependentes p orérn cotnpletnentares, rnoclelo
v êrn alertando a cotnunidade acadêrrrica e os órgãos públicos esse que continuou vigorando rrresrrro nas IES que abandonaratn
para questões que não podetn ser desconsideradas na rorrrada de a licenciatura de curta duração; ü) padrão baseado na experiência
decisões. nacional e internacional do ensino das artes, voltado para o
Nessa trajetória, a presente tese inscreve-se corrio urna desenvolvitnento de utna linguagetn artística ao longo de todo o
contribuição teórica pautada nos dados concretos da realidade curso, todavia atendendo às exigências legais, através da inclusão'
passada e presente, cotn vistas a vislutnbrar as possibilidades de certos conteúdos, alérn das recotnendações de natureza
futuras. U'rn dos rnaiores obstáculos à for mação plena do arte-
educador até o advento da nova LDB é a Resolução 23/73-CFE,
87. ln: Indicação 36/73-CFE - Parecer 1284/73-CFE, item O Curriculo: parte
que estabeleceu urn progratna curricular cotnposto de dois ciclos diversificada.
134 135
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
pedagógica; iü) padrão misto, cornbinando os dois modelos propostas das IES, bern corno tecer cornparações rnerarnente
descritos, embora com maior concentração de conteúdos da descritivas.
88
linguagern desde o inicio do curso. Contudo, A tabela abaixo dernonstra algurnas particularidades
independentemente da valoração atribjaída a qualquer um desses relativas à cornposição curricular nessa área, a saber: i) a duração
três modelos, a dimensão da formação do educador para o ensino rnédia dos cursos (2817 horas/aula) supera o patarnar rrrírrirrro
de Teatro na educação básica continuou corno urn problema a exigido para a licenciatura plena (2500 h/a); Ii) a rnaior parte do
ser solucionádo efehvarnente. ternpo é reservada ao estudo dos conteúdos das áreas de teatro e
Para sistematização dos dados coletados com vistas à teatro-educação - cerca de 59.6 0/ 0 - , ao passo que as rnatérias
discussão das particularidades referentes aos programas complementares provenientes de outras áreas concentrarn apenas
curriculares, foi adotado urn critério de categorização dos 9 . 3 % , ou se j a, a
currículos tomando por base os seguintes pressupostos: i) carga rn e n o r p arte do
horária total- número de horas previstas para integralização dos ternpo; üi) a sorna
créditos e conclusão do curso; ii) carga horária de teatro - número do t e rn p o reser-
de horas relativas aos conteúdos teóricos e práticos da linguagern vado aos conteú-
teatral; iii) carga horária de teatro-edaaação e arte-educação - rrúrrie ro dos de forrnação
de horas dedicadas aos conteúdos específicos das disciplinas do professor atin-
integradoras do currículo, voltadas para o ensino de arte em ge 24.7 0/ 0 do total.
geral e principalrnente para o ensino de teatro; iv) carga horária Foi adotado esse
de artes - número de horas voltadas para o conhecimento em 560 tratarnento estatís-
artes de maneira genérica, incluindo disciplinas de áreas tais corno tico para efeitos de
Música, Artes Plásticas, Dança, Desenho, Estética, etc.; v) carga cornparação dos
horária de educação - duração das disciplinas reservadas para a dados e t arn b rn é
formação pedagógica, desde que a abordagern trate da educação para se ter urna
genericamente; vi) carga horária complementar- número de horas/ idéia do todo,
aula destinadas à cornplementação da fo rrnação do professor de rriesrrio sabendo-se
teatro, incluindo disciplinas com.o Filosofia, História, Sodologi~~ que a rnédia esconde
Educaçãç:> Física, Lírigua Portuguesa, Metodologia Científica, etc. a realidade dos
Com. base nessas categorias foi configurada a Tabela casos particulares.
XIV (Apêndice II), que sintetiza a estruturação curricular .do s Os cursos
19 cursos brasileiros de formação de professores em. Teatro, apresentarn pata-
segundo a área de conhecimento, com. a pretensão de analisar as rnares bern diferen-
ciados quanto ao item durarão, estando a rnaioria deles situados
88. Ver o rol de disciplinas dos 19 cursos de licenciatura no Apêndice II. na faixa estabelecida pelo Artigo 5° da Resolução 23/73-CFE
89. Para seleção das disciplinas de cada uma dessas categorias foram consideradas muitas - 2550 horas - , ao passo que os restantes são superiores à
variáveis, como ementa, bibliografia, entrevista ao vivo ou por correspondência rnédia geral: UDESC (3660 h), UFMS (3420 h), USP (3390 h),
com professores, coordenador de curso e até mesmo com alunos. No caso da cate- USJT-:SP (3096 h) e UFMA (3030 h).90
goria teatro-educação e arte-educação, essa estratégia foi importantíssima pois, se
fossem consideradas apenas os títulos e as ementas das disciplinas, o resultado A categoria carga horária em teatro, urn indicador
seria bem diferente, em termos de tempo (horas/aula). Por outro lado, optei por irnportante para a configuração curricular estudada nesta
não fazer distinção entre essas duas áreas - arte-educação e teatro-educação - , pesquisa, apresentou urna variação rrruiro grande ern torno da
pois a análise dos programas curriculares das IES evidenciou que quando ocorria a
incidência de alguma disciplina dedicada à teoria/prática de arte-educação geral-
rnédia geral de 1301 horas/aula. Cerca de 44 0/ 0 das IES superaram
mente era como pré-requisito para uma outra com ênfase em teatro-educação (ver
Apêndice II). 90. Ver Tabela XIV, Apêndice II.
136 137
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
a m.édia, destacando-se os currículos da UDESC (2220 h/ a), USP Educação Artística estruturou seus currículos seguindo o m.odelo
(1920 h/ a), UFMS (1830 h/ a) e UFRS (1830 h/ a), ao passo que padronizado pela legislação, e tam.bém. o fato de que poucos
há casos bem. abaixo da m.édia geral, com.o na UES-RJ (572), estabelecim.entos tinham. algum.a tradição no ram.o das artes e do
UFMA (720) e UFPB (724).91 Os títulos das disciplinas que teatro, as grades curriculares incorporaram. um. conjunto expressivo
com.põem. essa categoria são geralm.ente os m.esm.os em. quase de disciplinas vindas de m.últiplas áreas artísticas, principalm.ente
todos os estabelecim.entos - Im.provisação Teatral, Técnica das Artes Plásticas. Esse conjunto de disciplinas relativas ao
Vocal, História do Teatro ou do Espetáculo, Cenografia, Direção conhecim.ento teórico e prático no ram.o das artes corresponde,
Teatral, Interpretação, Dram.aturgia, etc. - , distribuídas ao longo geralm.ente, a um. núcleo comum a todas as habilitações, sem.
do curso conform.e a com.plexidade dos conteúdos envolvidos. distinção. Assim., a área de conhecim.ento em. artes é responsável
Os estudos em. teatro-educação, de fundam.ental pela segunda m.aior parte do currículo, conform.e foi evidenciado
im.portância para a form.ação do professor, indicam. que não existe na Tabela XIV: 560 horas/ aula ou 19.8 0/0 da duração m.édia dos
consenso quanto ao tratam.ento desse assunto: dentre os 18 cursos. Em. algum.as IES isso torna-se bem. m.ais evidente,
estabelecim.entos, 10 apresentam. um.a duração inferior à m.édia com.parando-se os percentuais da carga horária em. artes em.
geral, 377 horas / aula, que é puxada pelas seguintes IES: U nB / relação à carga horária total de cada um.a delas, a saber: UES-RJ
noturno (630 h), UnB / diurno (570 h), USP (570 h), UDESC (46.2 0/0), UNESP (36.2 0/0), UFMA (29.4 0/0), UFMS (28.5 0/0) e
(540 h), UFRS (480 h), UNIRIO (480 h), UFPB (472 h) e UFMA FBT-DF (27.9 0/0).94
92
(440 h). No que diz respeito à form.ação pedagógica, cuja
De m.aneira geral as disciplinas de teatro-educação m.édia apresentada pelas instituições pesquisadas é de 318 horas/
dividem.-se em. dois tipos: i) introdutórias ao assunto, ofertadas aula, os cursos que m.ais privilegiam. essa categoria são os da
95
no início do curso ou, em. alguns casos, por volta da m.etade da UES-RJ (530), UFMA (500) e UNESP (420). Com.parando-se
jornada curricular, geralm.ente com. denom.inações sem.elhantes esses dados à situação dos eatabelecirnerrtos descrita no Apêndice
a Teatro e Educação, Jogos Dram.áticos na Educação, Jogos I, infere-se que alguns estabelecim.entos preferiram. dar um. cunho
Teatrais, Fundam.entos da Expressão em. Artes Cênicas, dentre m.ais geral aos estudos pedagógicos, ao passo que outros
outros títulos; ü) conclusivas, com.o pré-requisito ou corporificando conseguiram. tornar esses conteúdos m.ais específicos, articulando-
a Prática de Ensino, com. títulos com.o Teatro Aplicado à os à área de teatro-educação. Contudo, a discussão desse assunto
Educação, Artes Cênicas na Escola, Metodologia do Ensino das m.erece um. detalham.ento m.ais preciso, tendo em. vista a reflexão
~ Artes Cênicas, Estágio Supervisionado em. Artes Cênicas, etc. acerca do locus desse saber e do perfil dos docentes form.adores,
As publicações m.ais citadas nas bibliografias dessas disciplinas o que será efetivado no capítulo seguinte.
'i~ al1J,Q,~~ aos ..seguintesa'!~_()t:e.~/Antônio Januzelli, Augusto Boal, Um. outro dado relevante refere-se à presença
"')q Hilton Carlos Araújo, Ingrid Dorm.ien Koudela, Joana Lopes, significativa de conteúdos de outras áreas nos currículos de alguns
c~'<),t"blga Reverbel, Regina Monteiro e Sandra Chacra; entre os estabelecim.entos. Em. algum.as IES o percentual de horas
'J\'1'.J~strangeiros,Bertolt Brecht, Eugenio Barba, Peter Brook, Peter reservado a essa categoria em. relação à duração to1;a1 do curso é
( Slade, Richard Courtney e Viola Spolin são as referências considerável, com.o atestam. os currículos da lJ,.SC--'sP (23.3 0/0),
93
lfecorrentes. UFPB (21.8 0/0), UFMA (15.8) e UFRN (14.4°~), ao passo que
~. Um. dado revelador acerca da estrutura dos currículos outras em. esse percentual é m.ínim.o, a exem.plo da UNIRIO
reporta-se à carga horária destinada à form.ação em. artes. (1.8 0/0), UFRS (2.8 0/0) e USP (5.3 0/0).96
Considerando que a m.aioria dos cursos de licenciatura em. Essa form.a de análise da estrutura dos cursos faz
em.ergir reflexões valiosíssim.as para a com.preensão da m.aneira
91. Ver Tabela XIV, Apêndice II.
92. Idem, ibidem. 94. Ver Tabela XIV, Apêndice II.
93. Para seleção desses autores cada um dos nomes mencionados recebeu pelo menos 95. Idem, ibidem.
três referências em diferentes programas de disciplinas da área de teatro-educação. 96. Idem, ibidem.
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TEATRO E FORMAÇAo DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS 'CURSOS
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A REALIDADE DOS CURSOS
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
corno habilitações Artes Plásticas e Desenho. A versão duração - Fundamentos de Psicologia 60 h/a
cscrra teve história breve, sendo extinta com as mesmas - História da Arte II 60 h/a
justificativas apresentadas pela maioria das IES públicas. A - Fundamentos de Exp. e Comunicação Humanas 60 h/a
estrutura curricular do curso segue o padrão recomendado pelo - História da Música 45 h/a
CFE, ou seja, ~um primeiro ciclo o aluno experimenta noções - Antropologia 60 h/a
básicas de Música, Desenho, Artes Plásticas e Artes Cênicas - - Expressão em Artes Plásticas I 60 h/a
padrão estabelecido para a licenciatura curta - , para então optar - Expressão em Desenho I 60 h/a
errtre as habilitações clispo níveis, no quinto período letivo, quando - Expressão em Artes Cênicas I 60 h/a
passa a cursar o ciclo prcifissionalizante. Além de estudar os outros - Expressão em Música I 60 h/a
conteúdos previstos pelo currículo pleno, no primeiro momento - Sociologia 60 h/a
o aluno faz duas disciplinas direcionadas para a improvisação - Folclore e Cultura Popular Brasileira I 60 h/a
teatral e conceitos básicos de teatro-educação, ao passo que na - Expressão em Artes Plásticas II 60 h/a
parte específica da habilitação a carga maior de conteúdos volta- - Expressão em Desenho II 60 h/a
se principalmente para o aprendizado da linguagem dramática, - Expressão em Artes Cênicas II 60 h/a
disciplinas pedagógicas e estágio. - Expressão em Música II 60 h/a
"- Estética
A habilitação Artes Cênicas foi implantada em 1990, 60 h/a
com duração de 3270 horas, sendo reduzida posteriormente para - Folclore e Cultura Popular Brasileira II 60 h/a
3030 horas, com a exclusão de algumas disciplinas. A implantação - Oficina Integrada de Exp. e Com. Artística 120 h/a
do curso foi gradual, inclusive em termos de contratação de corpo - Expressão Corporal I 60 h/a
docente, que conta, hoje, com 1 doutor, 1 mestre, 3 especialistas - Técnica Vocal 60 h/a
(1 deles é mestrando), e 2 graduados (1 é professor substituto - Evolução do Teatro e da Dança 60 h/a
mestrando). Em termos de espaço físico o curso tem quatro - Interpretação I 60 h/a
salas especiais, uma delas com barras e espelhos, e um auditório. - Psicologia da Educação I 60 h/a
São oferecidas 75 vagas anuais para as três habilitações e até - Caracterização 60 h/a
1998 hav'iarn sido diplomados 22 alunos. - Expressão Corporal II 60 h/a
No conjunto, oferece um certo conforto ambiental e - Cenografia 60 h/a
adequação pedagógica para as atividades. A biblioteca atende - Filosofia 60 h/a
parcialmente à pesquisa bibliográfica na área mas fornece boas - Interpretação II 60 h/a
opções em estudos complementares. Em termos de - Psicologia da Educação II 60 h/a
equipamentos cênicos os recursos são improvisados. - Didática 120 h/a
Há alguns anos discute-se a reforma do currículo; - Teatro de Animação 60 h/a
inicialmente não eram previstas alterações substanciais em termos - Oficina de Teatro 120 h/a
de identidade do curso e mesmo na nomenclatura mas, agora, - Oficina de Dança 120 h/a
propõe-se dar novos ares à formação do professor de Arte, - Prática Desportiva I 30 h/a
estando previstos cursos de licenciatura em Artes Visuais, Teatro - Metodologia do Ensino das Artes Cênicas 90 h/a
e Música (este com bacharelado). Contudo, a estruturação - Recreação 60 h/a
curricular em termos de conteúdo e duração em vigor é a seguinte: - ELETIVA 60 h/a
- Estrutura e Func. do Ensino de 10 e 2 0 Graus 60 h/a
- História da Arte I 60 h/a - Prática Desportiva II 30 h/a
- Introdução ao Desenho 60 h/a - Estágio Supervisionado I 150 h/a
- Introdução à Educação Artística 60 h/a - Estágio Supervisionado II 120 h/a
- História do Teatro 45 h/a
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A. REALIDADE DOS CURSOS
Universidade Federal da Paraíba / UFPB com ciclo básico comum a todas as habilitações nos quatro
primeiros semestres e parte profissionalizante no restante da
trajetória. O modelo de curso oferece a possibilidade do aluno
A Universidade Fedcral da Paraíba tem urna estrutura fazer disciplinas optativas, sendo ofertado, dentre elas, Teatro na
multi-campi, com atuação na capital e em várias cidades do Educação. Segundo informações, atualmente o curso está em
interior. Sua origem remonta ao tempo da criação da Escola de processo de reformulação curricular, com a criação de
Agronomia do Nordeste (1934). Nos anos 50, foram criadas em licenciaturas nas áreas de Teatro e Dança, embora o rol de
todo o Estado muitas escolas isoladas, as quais mais tarde disciplinas vigente ainda seja o seguinte:
"delinearão o corpo da Universidade Estadual, iniciativas
geralmente levadas a efeito por movimentos classistas e lideradas - Estética e História das Artes I 4 créd.
pelas entidades representativas desses movimentos.,,97 A - Estética e História das Artes II 4 créd.
federalização ocorreu em 1960 e em 1973 o Conselho - Estr. e Func. do Ens. de 10 e 2 0 Graus I 3 créd.
Universitário aprovou a estrutura acadêmica que está em vigor. - Estr. e Func. do Ensino de 10 e 2 0 Graus II 3 créd.
O curso de licenciatura em Educação Artística data - Folclore Brasileiro e Nordestino 4 créd.
de 1977, com as habilitações Artes Cênicas, Artes Plásticas e - Fundamentos de Exp. e Comunicação Humanas I 4 créd.
Música. Anualmente são oferecidas 90 vagas para alunos - Fundamentos de Exp. e Comunicação Humanas II 4 créd.
ingressantes, 45 por semestre. No momento estão regularmente - Oficina Básica de Artes I 4 créd.
matriculados 417 alunos, dos quais 131 em Artes Cênicas. O - Oficina Básica de Artes II 4 créd.
curso já diplomou, ao todo, 781 alunos, sendo 165 na habilitação - Oficina Básica de Artes III 4 créd.
Artes Cênicas. O espaço físico utilizado no desenvolvimento - Oficina Básica de Artfts IV 4 créd.
curricular é composto por duas salas amplas para disciplinas - Psicologia Educacional 5 créd.
práticas e exercícios, urna sala específica para cenografia, urna - Cultura Brasileira 3 créd.
sala para criação de bonecos e o Teatro Lampião. O Núcleo de - Fundamentos da Arte-Educação I 4 créd.
Teatro Universitário conta com um teatro e salas para trabalhos - Fundamentos da Arte-Educação II 4 créd.
práticos. A biblioteca possibilita a consulta nas áreas' referentes - Introdução à Psicologia 4 créd.
aos conteúdos curriculares, ao passo que os professores utilizam, - Introdução à Sociologia 4 créd.
nas aulas, equipamentos de vídeo, câmera e som. O corpo docente - Língua Inglesa ou Francesa 5 créd.
das áreas de teatro e teatro-educação tem 2 mestres, 4 especialistas - Língua Portuguesa 5 créd.
e 1 graduado. - Psicologia da Criatividade 4 créd.
O currículo vigente foi homologado em 1983 e, apesar - Sociologia da Arte 4 créd.
dos esforços em torná-lo mais específico no que diz respeito às - Evolução do Teatro e da Dança I 4 créd.
linguagens envolvidas - haja visto a produção teórica de seus - Evolução do Teatro e da Dança II 4 créd.
98 , •
pro f essores em torno d esse assunto - , sua caractenstlca - Cenografia I 4 créd.
genérica ainda espelha-se no padrão da Resolução 23/73-CFE, - Cenografia II 4 créd.
- Encenação I 4 créd.
- Encenação II 4 créd.
- Expressão Corporal e Vocal I 4 créd.
97. A citação foi retirada do site da UFPB, URL <www.ufpb.br>, em setembro de - Expressão Corporal e Vocal II 4 créd.
1999. - Técnicas do Teatro e da Dança
98. Os professores da UFPB têm produzido considerável contribuição teórica à for- 8 créd.
mação de professores em arte, algumas das quais foram publicadas. Ver PEREGRINO - Metodologia do Ensino de Artes Cênicas 3 créd.
et alii (1995) e UFPB (1997). - Prática do Ensino de Artes Cênicas 6 créd.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A REALIDADE DOS CURSOS
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A REALIDADE DOS CURSOS
Universidade Federal do Rio Grande
- Fundamentos de Expressão e Com. Humanas 4 créd.
do Norte / UFRN
- Antropologia 4 créd.
- Língua Portuguesa I 4 créd.
- Introdução à Educação 4 créd.
A UFRN foi fundada em 1958, através da fusão e - Psicologia I (Geral) 4 créd.
federalização de antigas escolas e faculdades. O campus foi
- FECA / Oficina de Plástica 6 créd.
construído em 1970, comportando, como na maioria das 6 c.ré d.
- FECA / O ficina de Música
instituições federais de ensino superior, agências bancárias,
- FECA / O ficina de Artes Cênicas 6 créd.
livraria, galeria de arte, salas de projeção, teatro, etc. Atualmente
- Fundamentos da Linguagem Visual 6 créd.
a comunidade acadêmica é formada por 15.338 estudantes, 3.605
- Linguagem e Estrutura Musical 6 créd.
funcionários e 1.523 docentes.
- Técnicas do Teatro e da Dança I 4 créd.
A criação do curso de licenciatura em Educação
- Cultura Brasileira 4 créd.
Artistica se deu em 1975, com as quatro habilitações previstas 2 cré.d.
- Técnicas Audiovisuais do Ensino
pelo CFE, ao passo que o reconhecimento da habilitação Artes
- Folclore Brasileiro 4 créd.
Cênicas deu-se em 1980. A estrutura curricular do curso segue o 4 cré d.
- Música Popular Brasileira
padrão oficial, semelhante à dos cursos da UFPB e UFMA, com 4 cré d.
- Técnicas do Teatro e da Dança II
concentração de conteúdos de teatro e teatro-educação a partir
- His tória da Arte I 4 créd.
do 5° semestre letivo.
- Psicologia da Educação II 4 créd.
O corpo docente é formado por 2 doutores, 7 mestres,
- Elementos de Direito Autoral e Legislação Social 2 créd.
e 4 especialistas (3 mestrandos), que desenvolvem pesquisas
- Expressão Corporal e Vocal I 4 créd.
relativas ao ensino de artes na pré-escola, dramaturgia da Cidade 4 créd.
- Técnicas do Teatro e da Dança III
dos Reis Magos e papel reciclado. Anualmente são oferecidas 60
- Estética 4 créd.
vagas - 15 para cada habilitação - , estando regularmente
- Fundamentos da Arte na Educação 4 créd.
matriculados, hoje, um total de 375 alunos. Em termos de salas e
- Expressão Corporal e Vocal II 4 créd.
equipamentos, o curso conta com uma sala de dança, um pequeno - Técnicas do Teatro e da dança IV 4 créd.
teatro improvisado com tratamento acústico, além de uma - Cenografia I 4 créd.
biblioteca de porte médio, aparelhos de vídeo, mesa de som e - Estrutura e Func. do Ensino de 1 ° e 2° Graus 4 créd.
refletores. - Didática 4 créd.
Com relação ao curriculo do curso, arrolado abaixo,
- Evolução do Teatro e da Dança I 4 créd.
nos últimos anos foram desenvolvidos estudos e pesquisas
- Expressão Corporal e Vocal III 4 créd.
objetivando sua alteração, o que, todavia, ainda não se consumou. - Encenação I 4 créd.
Presentemente se dá uma Hretomada da questão, orientada
- Cenografia II 4 créd.
igualmente para o desdobramento do curso em bacharelado,
- Disciplina Complementar (Literatura Dramática) 4 créd.
levando-se em conta outras possibilidades de mercado de trabalho
,,100 - Evolução do Teatro e da Dança II 4 créd.
para os egressos.
- Encenação II 6 créd.
- Disciplina Complementar 4 cré.d.
- Prática de Ensino de Educação Artistica 3 cré.d.
- Evolução do Teatro e da dança III 4 créd.
100. A citação acima foi retirada do site da UFRN, URL <www.ufrn.br>, em setembro - Encenação III 8 créd.
de 1999.
- Prática do Ensino de Artes Cênicas 2 créd.
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A REALIDADE DOS CURSOS
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
- Estética e História da Arte III 60 h/a graduação oferecidos a cerca de 6 mil alunos.
- Fundamentos de Expressão e Com. Humanas 60 h/a A habilitação Artes Cêriicas, do curso de licenciatura
- Folclore Brasileiro 60 h/a em Educação Artística, data de 1994, tendo por objetivo formar
- Oficina das Linguagens (Integração) 60 h/a o ator e o professor de Teatro. Por ser esse um projeto
- Estruturação Musical - Teoria e Percepção I 60 h/a pedagógico novo, está em processo de desenvolvimento e
- Estruturação Musical - Teoria e Percepção II 60 h/a readaptação às novas recomendações da LDB e PCN. O modelo
- Práticas Instrumentais 60 h/a curricular segue rigorosamente o padrão convencional de dois
- Canto Coral I 60 h/a ciclos - básico e profissionalizãnte - , sendo a única IES que
- Canto Coral II 60 h/a ainda rriarrtérn o curso de curta duração. No momento da coleta
- Prática e Criação de Textos 60 h/a de dados desta pesquisa estavam sendo elaborados projetos para
- Teatro Brasileiro 60 h/a reditnensionamento do curso, com a possível inclusão da
- História da Cultura Brasileira 60 h/a disciplina teatro-educação c criação de outras estruturas
- Artes Visuais 60 h/a acadêrriicas, estas na perspectiva dos cursos seqüenciais previstos
- Metodologia da Pesquisa 45 h/a na Lei 9394/96. A USC não exige teste específico anterior ao
- Introdução à Educação 45 h/a vestibular e oferta 50 vagas por ano nessa área. A primeira ru rrria
- Psicologia da Educação I 60 h/a foi diplomada erri 1998, contemplando 14 alunos, ao passo que
- Psicologia da Educação II 45 h/a rrrais 2 fortnaram-se ern 1999.
- Estrutura e Func. do Ensino de 10 Grau 60 h/a As disciplinas das áreas de teatro e teatro-educação
- Estrutura e Func. do Ensino de 2 0 Grau 30 h/a são tninistradas por urna professora com mestrado e outra com
- Didática I 60 h/a graduação. O espaço físico oferece UITl certo conforto ambiental
- Didática II 60 h/a aos alunos e professores, que dispõem de uma sala para prática e
- Prática de Ensino de Educação Artística 60 h/a ensaios, além de urn teatro de pequeno porte. A USC rnarrtérn
- Evolução do Teatro e da Dança 180 h/a etn atividade permanente o Grupo de Teatro Verita s, que
- Expressão Corporal I 60 h/a proporciona para Bauru - um tradicional centro de teatro
- Expressão Corporal II 30 h/a arna.do r - e regiões próximas a apreciação de espetáculos teatrais,
- Expressão Vocal I 90 h/a alérn de grupos de dança nascidos a partir da rno tivação de alunos
- Expressão Vocal II 30 h/a e professores. Em 1998 e 1999 o Grupo de Teatro Veritas foi
- Técnicas de Teatro e Dança (Oficinas) I 90 h/a habilitado pela Secretaria Estadual de Cultura a participar do Mapa
- Técnicas de Teatro e Dança (Oficinas) II 90 h/a Cultural, trrri projeto de difusão cultural e apoio às artes cênicas.
- Encenação 180 h/a O rol de disciplinas obrigatórias da licenciatura plena é o seguinte:
- Cenografia 120 h/a
- Teatro Brasileiro no Século XX 60 h/a - Filosofia I 3 créd.
- Prática de Ensino em Artes Cênicas 60 h/a - Língua Portuguesa I 4 créd.
- Metodologia das Ciências I 2 créd.
- Teologia I 4 créd.
Universidade do Sagrado Coração - Estética e História da Arte I 4 créd.
USC-SP - Folclore Brasileiro I 4 créd.
- Expressão Corporal I 2 créd.
A USC foi criada ern 1986 e está sediada ern Bauru, a - Expressão Vocal I 2 créd.
350 Kzn de São Paulo, errrbo ra sua trajetória histórica tenha - Filosofia II 3 créd.
origetn na fundação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, - Língua Portuguesa II 4 créd.
ern 1954. Hoje, já c orn 45 anos, conta COtn mais de 30 cursos de - Metodologia das Ciências II 2 créd.
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A REALIDADE DOS CURSOS
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178
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
Engenharia. Possui sis terna "tnulticatnpi, cada u m vocacionado sendo que, no l.tirno, o aluno envolve-se COtn trabalhos finais
ú
para a realidade sócio-econôtnica e cultural da região onde se - tnontagetn cênica e tnonografia. Para o ingresso, exige-se que
insere.,,103 os candidatos façarn prova prática. O curso da UDESC possui
Cotno ocorreu e rn outros lugares do Brasil, a trrn b orn índice de alunos fo rrna do s ern relação aos ingressantes:
itnplantação de cursos de Educação Artística itnpulsionou o tnédia de 12.6 diplotnações, quando o quadro nacional apresenta
ensino de arte na UDESC, a partir de 1983. Naquele ano foi a tnédia de 6.8 fortnaturas anuais.
oferecida, pela pritneira vez, a versão licenciatura curta, a qual A habilitação Artes Cênicas foi itnplantada utilizando-
foi extinta dois anos depois, face a urria refortnulação curricular se dos espaços vazios da Faculdade de Educação, c o rn
que pretendeu adequar o curso à realidade da arte-educação. O precariedade de equipatnentos e rn atexiais. Depois foi transferida
Centro de Artes, criado ern 1985, oferta atualtnente os cursos de para outros espaços alternativos, até que, aos poucos, fo rarn sendo
bacharelado erri Artes Plásticas, Moda, Design, Artes Cênicas e construídos os atuais blocos que dão base física às atividades do
Música, e de licenciatura ern Educação Artística, cotn habilitações CEART. Conta c orn a Biblioteca Setorial Prof. Ditnas Rosa, corn
ern Música, Desenho, Artes Cênicas e Artes Plásticas, sendo que cerca de 15 rrril livros, atualizados; salas de aulas teóricas corn
a habilitação Desenho foi extinta ern 1996. .Al érn de outras aparelhos de s orrr, vídeo e quadro negro; salas de aulas práticas
atividades e cursos de extensão, o Centro de Artes rriarrtérn a adaptadas para uso específico, a exetnplo da oficina de Teatro de
Escola Livre de Música e cursos' de pós-graduação - Anitnação, tern arrriário s, pias, tnáquina de costura, furadeira, serra
especializações lato sensu e rnes traclo ern Educação e Cultura. tico-tico, bancadas, biotnbos e telas para teatro de s orribra; duas
A habilitação Artes Cênicas foi criada ern 1986 e salas de dança; u m a de cenografia; duas salas arrrp la s para
reconhecida pelo Parecer 266/93-CEE, hotnologado pelo MEC interpretação; u rn laboratório de pesquisa c o rn rrrá s c a r a s e
no rne.srrro ano. Corno fruto da re.fo rrna curricular de 1993, os sombra, entre outras. O corpo docente é cotnposto por 9
cursos de licenciatura... professores efetivos e 3 substitutos, sendo 5 doutores, 4 rries tres
(2 doutorandos) e 3 especializados (1 tnestrando). A rrraioria
[... ]foram, então, repensadosa partir de um tripé: ensino/pesquisa/ realiza trabalho artístico assíduo na cidade de Florianópolis. O
extensão. O arte-educador que desejamos formar deverá rol de disciplinas co m a respectiva creditação é o seguinte:
desenvolver ao longo do curso atividades de pesquisa e/ou extensão,
além do ensino propriamente dito. A proposta acaba com o excesso - Estética e História da Arte 3 créd.
de atividades em sala de aula e estimula, e ao mesmo tempo exige, - Fundatnentos da Expressão e Cotn. Hutnana 3 créd.
que o aluno participe, atue na pesquisa/extensão, de modo a tornar- - FECA Artes (Cênicas/Desenho/Plástica/Música) 4 créd.
, • . 104
se crtttco e apto a repensar o ensino e a arte. - Metodologia Científica 2 créd.
- Fundatnentos da Arte na Educação 4 créd.
A estrutura curricular da habilitação Artes Cênicas é - Itnprovisação Teatral I 4 créd.
bern rigorosa quanto ao estudo da linguagetn teatral e distribuição - Evolução do Teatro e da Dança I 4 créd.
dos conteúdos de diferentes áreas do conhecitnento ao longo do - Interpretação Teatral I 4 créd.
curso. O terrrp o previsto para conclusão é de nove setnestres, - Educação Física Curricular I 3 créd.
- Folclore Brasileiro 4 créd.
- Psicologia da Educação 4 créd.
cação Artística não foi oferecido nos dois últimos vestibulares. Em 1999 estamos - Interpretação Teatral II 4 créd.
com a terceira série da licenciatura plena em Artes Cênicas e Música e o terceiro - Evolução do Teatro e da Dança II 4 créd.
ano do bacharelado em Instrumento. Santos e a região vão perder a única Facul-
- Interpretação Teatral II 4 créd.
dade de Música e Educação Artística, que começou a funcionar em 1927. A ori-
gem do problema é financeiro: os cursos de arte são deficitários. É uma grande - Expressão Corporal I 4 créd.
perda!". - Educação Física Curricular II 3 créd.
103. Citação retirada de folheto institucional da UDESC. - Sociologia da Educação e da Arte 4 créd.
104. Idem, ibidem.
180 181
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
182 183
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A REALIDADE DOS CURSOS
o currículo que serviu de análise a esta pesquisa - Práticas Instrutnentais (Violão) II 2 créd.
apresenta estrutura caracterizada por dois ciclos distintos: o 2 créd.
_ Práticas Irisrr umerrtais (Flauta Block) II
p r irn eir o, de estudos gerais, c o m concentração e rn várias 2 créd.
- Desenho I
linguagens artísticas e ênfase principaltnente ern rrrú s i c a; o 2 créd.
- Expressão D'rarriática III
s~g~n~o, voltado para os conteúdos de teatro, teatro-educação e 2 créd.
- Desenho Geotnétrico
cliacip li na s pedagógicas. 7 créd.
_ Metodologia do En. de 10 Grau (Ed. Artística)
O corpo docente é for rriado por 5 professores efetivos 2 créd.
- Estética e História das Artes III
e 2 s~b.stitutos, c o rn a seguinte titulação: 4 graduados, 2 2 créd.
- Percepção e Expressão Vocal III
e sp e cial.is ta s e 1 doutora, sendo que 3 estão concluindo o 2 créd.
- Práticas Lns trurnerrtais (Violão) III
rrres traclo. Dentre todos os alunos que ingressaratn no curso 46 2 créd.
_ Práticas Iris trurnerrtais (Flauta Block) III
foratn. diplotnados. O curso conta corri 5 salas: 1 grande, ;otn 2 créd.
- Fundatnentos da Linguagetn Visual I
c~pac1dade para 30 pessoas co rn palco, para interpretação e 2 créd.
- Expressão D'rarnática IV
clire ção ; 1 sala tnédia, para expressão corporal e vocal, cabendo 3 créd.
- Prática do Ensino de Educação Artística
20 pessoas; 1 anfiteatro para 200 pessoas, projetado por 2 créd.
- Estética e História das Artes III
professores de teatro, que não possui palco fixo ou cadeiras, co rn 2 créd.
- Percepção e Expressão Vocal IV
praticáveis, tnódulos e cadeiras, onde os espetáculós acadêtnicos 2 créd.
- Práticas Iriatrurnerrtais (Violão) IV
são apresentados. O currículo pleno t e rn as seguintes 2 créd.
_ Práticas Instrutnentais (Flauta Block) IV
caracterís ticas: 3 créd.
- Evolução do Teatro e da Dança I
_ Laboratório de Pesquisa D'rarnârica I 4 créd.
- Estrutura e Func. do Ensino de 10 Grau 3 créd. 2 créd.
- Encenação I
- Análise e Ex. de Técnicas e Mat. Expressivos I 2 créd. 2 créd.
- Técnicas de Teatro e Dança I
- Folclore Brasileiro 2 créd. 2 créd.
- Cenografia I
- Expressão etn Vo lurrre 2 créd. 2 créd.
- Expressão Corporal e Vocal I
- Expressão Dratnática I 2 créd. 3 créd.
_ Estrutura e Funcionatnento do Ensino de 2 o Grau
- Educação Física I 1 créd. 3 créd.
- Evolução do Teatro e da Dança II
- Fundatnentos de Expressão e Co m. H'urriana I 2 créd. 4 créd.
_ Laboratório de Pesquisa D'rarriâtica II
- Estudos de Problemas Brasileiros I 2 créd. 2 créd.
- Encenação II
.. Percepção e E'xp re s s ão Vocal I 2 créd. 2 créd.
- Técnicas de Teatro e Dança II
. Es tética e .História das Artes I 2 créd. 2 créd.
- Cenografia II
- Práticas Instrutnentais (Violão) I 2 créd. 2 créd.
- Expressão Corporal e Vocal II
- Práticas Instrutnentais (Flauta Block) I 2 créd. 3 créd.
- Evolução do Teatro e da Dança III
- Análise e Ex. de Técnicas e Mat. Expressivos II 2 créd. 4 créd.
- Laboratório de Pesquisa Dratnática III
- Expt:e~são Dramática II 2 créd. 2 créd.
- Encenação III
. F ,-lpç"1ç:i.n Físi,'~ II 1 créd. 2 créd.
- Técnicas de Teatro e Dança III
A.niíJisf· e Ex. de Técnicas e Mat. Expressivos III 2 créd.
_ Metodologia do Ensino de 2 0 Grau (Artes Cênicas) 5 créd.
- Fundaluentos de Expressão e Corn. I'Lurriaria II 2 créd. 3 créd.
- Evolução do Teatro e da Dança IV
- Introdnç.ão às Técnicas de Rep. Gráfica 2 créd. 4 créd.
- Laboratório de Pesquisa Dratnática IV
.. Estudos de Problemas Brasileiros II 2 créd. 2 créd.
- Encenação IV
- Psicologia da Educação 4 créd. 2 créd.
- Técnicas de Teatro e Dança IV
.. Percepção e Expressão Vocal II 2 créd. 3 créd.
- Prática do Ensino de Artes Cênicas
- Estética e História das Artes II 2 créd.
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185
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES A REALIDADE DOS CURSOS
Universidade Federal do Rio específica, os quais são vivenciados pelo aluno do primeiro ao
Grande do Sul / UFRS último semestre letivo; é interessante a série de disciplinas que,
na perspectiva desta pesquisa, emprestam identidade ao curso:
Teatro e Educação I, II, III e I~ bem como a idéia que sugere o
A história da educação superior gaúcha data do século nome do estágio supervisionado - Laboratório de Ensino de
XIX, mas somente em 1934 é que foi criada a Universidade de Teatro. No primeiro ano letivo todos os cursos de artes cênicas
Porto Alegre, integrada por vários estabelecimentos, dentre eles são unificados, o vestibular exige teste prático e a duração média
o Instituto de Belas Artes. A federalização se deu em 1950 e é de quatro anos. Ao todo, 85 alunos já foram diplomados nessa
desde lá, a UFRGS tem ocupado posição de destaque no cenário habilitação.
nacional. Em termos de espaço físico o DAD conta com a sala
a curso de artes cênicas estruturou-se de urna maneira Alziro Azevedo, com capacidade para 70 pessoas e a sala Qorpo~
semelhante ao da UFBA, UNIRIa e USP, conforme Santo (168 lugares), ambas regularmente utilizadas pelos alunos,
argumentação empreendida no Capítulo III. a depoimento a além das salas de aula teórica; há 1 sala para expressão corporal,
seguir dá um resumo da história dos cursos de artes na UFRS: 1 sala de voz, 2 estúdios para aulas práticas e 2 salas com pequeno
palco para improvisação teatral. As salas maiores dispõem de
As origens do Departamento de Arte Dramática datam de 1957, recursos mas as outras contam apenas com equipamentos
quando, em dezembro daquele ano, foi criado o Curso de Arte convencionais (vídeo, som, projetores, e tc.). a corpo docente
Dramática, ligado à extinta Faculdade de Filosofia. O curso, então responsável pelas d.is c.ip lj n as de teatro e teatro-educacão é
de nível médio, tinha por objetivo a formação de atores teatrais. composto por 11 professores, sendo 3 graduados, 3 especialistas
Suas atividades letivas se iniciaram em 1958, contando com 30 (3 mestrandos), 4 mestres e 1 doutor. A duração e o oorrteúclo :
alunos matriculados. [...} No ano de 1967, o Curso de Arte do currículo pleno apresentam as seguintes características:
Dramática se tornou Centro de A rte Dramática, promovendo a
formação profissional, em nível superior, de Diretores e Professores - Improvisação Teatral I 4 créd.
de. U:atro. Em 1969, o CAD recebeu uma nova sede para suas - Expressão Corporal I 4 créd.
atioidades, contando, inclusive, com uma pequena sala para 92 - Expressão Vocal Teatro I 4 créd.
espectadores. Em 1970, desligou-se da Faculdade de Filosofia e - Introdução à Cultura para o Teatro 2 créd.
passou a integrar o Instituto de A rtes como Departamento de Arte - Cultura e Linguagens Artísticas 4 créd.
Dramática (DAD). A partir de 1975, os cursos de nível médio - História do Espetáculo I 4 créd.
entraram em extinção e forma instituídos, então, a Licenciatura - Dramaturgia I 4 créd.
em Educação Artística - habilitação em Artes Cênicas -, e o - Elementos de Linguagem Visual (Teatro) 4 créd.
Bacharelado em Artes Cênicas, com três ênfases: Direção Teatral, - Improvisação Teatral II 4 créd.
Interpretação Teatral e teoria do Teatro (esta, posteriormente - Expressão Corporal II 4 créd.
t 07 - Expressão Vocal Teatro II 4 créd.
extinta). No final da década de oitenta, o espaçofoi ampliado.
- Direção I 4 créd.
A estrutura curricular da habilitação Artes Cênicas - Interpretação I 8 créd.
não se espelha no padrão de dois ciclos traçado pela Resolução - História do Espetáculo II 4 créd.
23/73-CFE, dando forte ênfase aos conteúdos da linguagem - Dramaturgia II 4 créd.
- Expressão Corporal III 4 créd.
- Direção II 4 créd.
- Interpretação II 8 créd.
107. Depoimen.to da. professora Marta Isaacsson de Souza e Silva, coordenadora do
curso de licenciatura em Educação Artística / habilitação em Artes Cênicas. - Dramaturgia III 4 créd.
186 187
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
CAPfTULO VI
Tendências da Reestruturação
188
Considerações sobre a Emergência
de Novos Paradigmas
itnplicando por isso rne srno rrurria avaliação que resultará rrurn efetivatnente testado. Para SAVIANI,
outro errc arrrirrh arrren to para a ação educativa, ela requer utn
errvo lvirn errro participante, consciente e até rrresrno engajado. Em verdade, quando seafírma quea universidade nunca enfrentou
Nesses ter rrio s, autonotnia significa cada trrn escolher o carrrirrh o o problema daformação deprofessores, o que seestáquerendodizer
que acha rriais adequado pára atingir o escopo ensejado, e para é que ela nunca se preocupou com a formação específica, isto é,
isso torna-se necessário que os profissionais envolvidos rrurria com o preparo didático-pedagógico dos professores. (in GOERGEN
ação dessa natureza possatn refletir sobre sua própria prática & SAVIANI, 1998:123)
social, o que irrip lica ern "conceber a escola c orrio u rn atnbiente
educativo, onde trabalhar e for rriar não sejam atividades distintas" Afir maçõ es c o rrro essa rrro trvarri a pesquisa sobre
(N<':h!oA,1995:29). forruação de professores a buscar u rn entenditnento do assunto
Considerando a gravidade da crise na educação que nas suas particularidades quase s e rn p r e desconsideradas,
tnotivou a adoção das estratégias políticas dos governos neo- entendendo o currículo cotno u rn processo dinâtnico no qual
liberais nos l tirn o s anos, deve-se pensar não s orrre n te na
ú não exis tern verdades unívocas, e que por isso rrresrrro corrige
qualidade da reestruturação, rrias tarnb érn no que virá depois dela. seus r urn os a cada instante e a cada nova experitnentação. Se
Isso não significa apenas prever, rrias sobretudo itnaginar tirn tipo e xis terri saídas é preciso rrrud a r, pois é necessário reorientar os
de conscientização coletiva a respeito do que pode ser feito r urrro s da educação tendo c orrro base u m a visão do futuro, erri
independentetnente das grandes decisões governatnentais, ern "rirria perspectiva utópica que afronte o real, que esboce 'urri novo
cada localidade, qualquer que seja a situação. Afinal, os dados horizonte de possibilidades" (MOREIRA, 1997:25). Face a isso,
111 ,
crnp írrco s desta pesquisa tornaratn evidente que rrnritas IES não c o rrv rn esboçar as tendências
é que apresentatn-se a
s egui rarn à risca a de te r rr.i n aç ão de princípios c o m o o da reestruturação dos cursos de fortnação de professores para o
polivalência ou a divisão do currículo etn dois ciclos distintos, ensino do teatro.
quando delinearatn seus cursos de preparação de professores de A universidade brasileira foi planejada para assentar-
teatro, indicando que a tnudança requer tarrib érn trrria arirade se sobre três pilares - ensino, pesquisa e extensào - , o que
transfortnadora, alérn do atenditncnto à prerrogativa legal. tetn se constituído, na rnaro ria dos casos, rrurria falácia subjacente
à concepção verdadeiratnente praticada no interior das
instituições. Contudo, tnuitas das propostas já discutidos neste
Alternativas para a Mudança no trabalho aludetn à articulação entre essas instâncias, cotnO fo rrna
Ensino de Graduação de incretnentar urri ensino que possa transforrnar o professorando
ern alguétn que tenha a docência c orrio possibilidade de ensinar a
pensar.
Sabe-se que o fracasso dos cursos de forrriação do Contudo, a inexistência de integração entre ensino,
educador, arrrplarnerrte reconhecido pela literatura nacional e pelo pesquisa e extensão é utn dos rrraiore s obstáculos à dinatnização
poder público, não se deu por i nc orrrpe têrrcia das instituições e dos cursos de forrnação de professores de Teatro e, talvez, na
dos profissionais que nelas trabalhatn, rnas porque a gênese do ruptura dos padrões convencionais de entenditnento do probletna
l1
p ro blerrta não foi efetivatnente cotnbatida. Do ponto de vista
institucional esse é u m velho probletna que conta tarrib érn c orn o termo tendência, utilizado acima, busca evidenciar o sentido de possibilidade
111.
diagnóstico e alternativas de solução discutidos há utn certo empregado por Giroux (1997), conceito essenci~1 para caracterização d<:, ~orpus
tetnpo, errrbora rnui to pouco do saber produzido tenha sido teórico que sustenta esta tese, Assim, de tão eVl,dentes, ce~ta~ contrtbU1ço:~ a~
tema tornaram-se sempre recorrentes nas pesqU1~a~ ,que vem sendo pro?uzldas
acerca do tema, e, por isso mesmo, além de posslbllt,d,ades ou emergenclas-, elas
constituem-se em tendências, face à grande probabilidade de oc~r~em nao d.e
110. Discussão semelhante vem sendo feita em outros países, como atestam as seguin- maneira indeterminada, mas planejadamente, através da ação de sujeitos consci-
tes publicações: GOERGEN & SA\'IANI (1998), MENEZES (1996) c NÓ\'OA (1995). entes acerca da escolha que estão fazendo.
194 195
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TENDÊNCIAS DA rlEESTRUTURAÇÃO
TEiTRO É FORMAÇÃO DE PROFESSORES
p os sarn estar algutnas das soluções possíveis. N esse sentido, vale Corno o docente é urn profissional que lida COtn situações novas
a pena investigar fo rrrias de viabilizar tais objetivos. a todo instante, necessita ter 'urrra base teórica fir rrre - não a
Para suplantar a desintegração entre a licenciatura e a "teoria do tipo acadêmico, mas de um sentido mais novo e mais
escola básica - urna verdade velada que a universidade ainda orgânico" (YOUNG, apud LÜDKE, 1993:34) - , fazendo-se
não conseguiu equacionar a contento, salvo r a r í s s i rn a s necessária a construção do conhecimento durante trrn processo
experiências isoladas - , seria conveniente que as IES perisern de investigação, o que se dá quando se mistura pesquisa e ensino
seus projetos pedagógicos de tnaneira a contetnplar tirn diálogo em situações concretas.
r frutífero entre os proceditnentos de ensino e a difusão de Ações inovadoras corno as indicadas nos parágrafos
~. ~conhecitnentosjunto à cotnunidade. Essa é trrna afirtnativa óbvia, anteriores, talvez possam contribuir para a superação de alguns
porétn atnparada na experiência das IES que procuratn ativar a impasses e corrigir certos viezes que convivetn parasitariatnente
) integração através de oficinas artísticas, tnostras de espetáculos, cotn as licenciaturas, corno, por exemplo, a ênfase na teorização,
\ proj,e~os d~ ~nteriorização ou rne srrio da Prática de Ensino ern geral desvinculada da construção de conhecimentos que a
I (es tágio) rnirris trada riurna abordagetn participante, levando o pesquisa efetivamente proporciona. Sabe-se que no estudo das
I estudante a conviver com a realidade escolar ao longo de sua linguagens artísticas a mímese, a memorização, a crítica e a criação,
"'trajetória fortnativa. proporcionadas pela prática e pela pesquisa, são prerrogativas
Ligado organicatnente ao p ro b lern a descrito no essenciais para trrn aprendizado significativo. Na época do
parágrafo anterior, insere-se a necessidade de ocorrer u m conhecitnento interativo não é mais possível ministrar-se o ensino
relacionatnento entre fortnação inicial e educação continuada. na base da verborragia do professor, ou somente com o auxílio
Se isso vier a acontecer ao longo da graduação, poderá propiciar de livros didáticos n ern sempre atualizados. Na busca de
ao aluno urna abordagetn interativa a respeito da docência, essa possibilidades inovadoras e mesmo inusitadas - urna vez que
que é urna condição para a profissionalização do professor. Regra visam dar um novo sentido e maior motivações ao ato de ensinar
geral, os alunos das licenciaturas não p o ss ue m nenhutna e aprender, sem prescindir das práticas que nunca deixarão de
experiência e rn ensino, e a oportunidade de intercatnbiar ter seu lugar, cotno a aula expositiva - , faz-se necessário o
conhecitnentos corn os professores que já estão ern atividade é envolvimento com a pesquisa de fo rrna constante, corno forma
urn catninho decisivo para descaracterizar o sentido cartorial das de tnanter atualizados os padrões que ora vigoram no plano
disciplinas destinadas a curnprir essa função, COtno os estágios teórico, engendrados em experimentações práticas.
.. d 112
Entretanto, corno as políticas oficiais de fotnento não
aupervrsroria os de firn de curso. Outro proceditnento a ser
tentado reporta-se à fusão entre asativiclades de ensino/pesquisa se traduzetn ern verbas que as viabilizem, sobretudo no campo
na pós-graduação e as de ensino/pesquisa na graduação, das artes, não é indevido o ceticismo com que os formadores
articuladas à instância da educação continuada, instigando, dessa tratarn essa questão. Por outro lado, geraltnente a pesquisa é
tnaneira, urn diálogo e ao rrresrno terrip o trrn irrtercârrrbio entre financiada quando está vinculada ao ensino de pós-graduação e
prática e teoria, b ern cotno entre a universidade e a sociedade. são poucas as IES que oferecem cursos de mestrado e doutorado
'1113 E xrsrern,
erri teatro no B rasu, . ,
poretn, outras a Iterrrati
te rria trvas e,
. Hoje já se reconhece, no Brasil cotno no exterior, que
,,€, a pesquisa é trrria condição itnprescindível para a fortnação de
e-,~.J~rofessores enquanto cidadãos críticos e pensadores reflexivos.
113. Até bem pouco tempo eram raros os cursos de pós-graduação em teatro, o que
~
está sendo revertido aos poucos. Um informativo da ABRACE, copiado em ou-
tubro de 1999 no site da UFBA <www.utba.br/-teatro/abrace/infor/index.html>
"'UFMA tem desenvolvido atividades didáticas em cidades do interior, ressaltan- dá conta dos seguintes cursos: i) mestrado e doutorado na USP e UFBA; ii)
do-se a realização da prática de ensino junto a cursos de educação continuada mestrado na UNICAMP, UNIRIO e UFF, este em Ciências da Arte; iii) especiali-
ofer~a.dos para professores lotados em secretarias municipais de educação. Como zações lato sensu regulares na UFPB, UFBA, UDESC, esta em Teatro-Educação;
partrcipante desse projeto em Alcântara, Chapadinha, Codó, Pinheiro, Santa He- iv) em fase de elaboração de projeto - UFRN (lato sensu), UFRGS (mestrado),
lena e Vargem Gra.nde, pude comprovar o quanto o envolvimento de estagiários UFV (lato sensu em Dança). Muitos outros cursos dão ênfase na área de teatro,
com professores leigos provoca transformações benéficas e significativas em todo embora destinem-se originalmente a outros setores do conhecimento, como, por
o grupo. exemplo, o curso de Especialização em Educação Infantil da FE-USP.
196 197
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TENDÊNCIAS DA REESTRUTURAÇÃO
c o n fo r rrie O capítulo anterior evidenciou, é razoável o rrúrrie ro idealizado de currículo concebido por pessoas que não estão
de rrres tre s, doutores e de professores cursando pós-graduação, diretarnerrte envolvidas COITl o fazer, co nclarnarrdo tarnb érn para
portanto habilitados para a prática de pesquisa junto à licenciatura. opinar, alérn dos participantes da jornada localizada ern cada
UITl outro pataITlar a ser perseguido refere-se à situação, os especialistas eITl currículo e representantes de outros
participação de alunos ern projetos artísticos e esp ecificarrierrte s egrrrerrto s sociais e culturais, UITla vez que os conteúdos das
na ITlontageITl de espetáculos, COITl vistas à reflexão teórica, crítica disciplinas deverão ser esmiuçados.
e estética sobre o pataITlar da prática, o que diz respeito ao Quais os atores envolvidos rrurrra discussão dessa
exercício da criatividade e da transdisciplinaridade no plano natureza? COITlO a estrutura uni"'ersitária atual absorverá as
concreto. Tais rno n tageris, desde que aconteçaITl nUITl rrrorrrerrto colaborações vindas das diversas unidades da ac ad errria e de que
ern que o aluno tenha condições de clornirrar certos aspectos da rn a n e i r a e n c a rn i n h a r á as decisões? Considerando-se a
Ii ngtragern teatral, e de refletir sobre os elerrierrtos históricos e escolarização da Arte não s orrrerrte COITlO UITla iITlportante rrie ta
estéticos ligados às linguagens envolvidas, fará convergir, rrurria da educação oo n terrrp o.rârrea, rrras tarrrbérn COITlO UITl ferrôrrierro
única clirrrerrs ão, o ensino, a pesquisa e a extensão. A respeito inserido constitucionalITlente na educação nacional, há de se
, desse assunto, vale ressaltar que alguns especialistas cb.eg arn a pensar COITl seriedade no papel do profissional drret.arnerrte
; reivindicar para a prática teatral o ITleSITlO nível de irnp or târicia responsável por essa ação na escola. Frente a essa dernarida, torna-
curricular que rêrri as disciplinas regulares - rrro n tagerrs de se necessário pensar no p lariejarnerrto e no desenvolviITlento
espetáculos, ITlanutenção de grupos perrnanerrtes, irrtercârnb.io curricular visualizando-se a irnagern dos sujeitos que, na prática,
COITl artistas, teóricos e grupos teatrais de outros lugares, etc. são os deflagradores do processo de ensino e, COITlO rno tivado res
do aprendizado, escolheITl os carniribo s da ação pedagógica.
Para evidenciar as c orrrp le.xi dade.s que errvo lv errr o
Perspectivas da Reconfiguração Curricular rrararnerrto dessa questão, vale a pena arrrp lia.r o debate acerca
do perfil profissional do professor de teatro, pensando-se nas
tendências que apresentaITl-se na conteITlporaneidade, trazendo
A nova sociologia da educação rern enfatizado que o à tona as p o lêrrrica s ernp reerrdiclas pelos especialistas. COITlO esse
currículo é UITla construção socialrnerrte negociada, ern quaisquer é UITl t.erria recorrente tanto no Brasil COITlO no exterior, tentarei
níveis que es tejarn situadas sua prática e teoria. Mas o processo sumariar a opinião de dois rnernb ros da International DraITla-
de produção curricular não é lógico - tal COITlO requer a Theatre & Education Association / IDEA, COITlO contraponto
tendência prescritiva - , corporifica-se COITlO UITl ernb ate social à discussão errrpreemd icla pelos autores brasileiros. Vale dizer que
entre lados e visões de rnurrdo diferenciados, interesses ern jogo a IDEA é UITla entidade que vern propiciando o irrtercârrrbio de
a dialogar COITl fatores fo rrrrais, intelectuais e epis terrrobógroo s. idéiãSe práticas sobre pedagogia do Teatro ern todo o rrrurrd o,
Para SILVA, "o currículo não é constituído de elerrierrto s válidos, através de seus congressos e publicações. O título da edição do
rrias de c orrhe.cirrrerrto s considerados socialrrrerrte válidos" (in IDEA J ournal aqui considerada - Po!J'phonic voices, rainbow
GooDsoN,1995:10). worlds: one desti"!Y - é esclarecedor acerca de sua finalidade pois,
Encarar o p ro b lerrra da reestruturação do ensino alérri do debate erri apreço, co rrterrrp'la experiências provenientes
superior de artes dessa rriarrerra significa pensar as rrnrdarrças a de vários países.
partir de UITla discussão específica, na qual esteja assegurado o Para BARRET (1997), o~sialista ern teatro-educação
diálogo entre os p róp rio s educadores, COITl vistas a possibilitar a é UITl personage~tranho e ire-deu considerando-se 114a
convergência de idéias ern torno de áreas, instâncias e instituições, ambigüidade de sua atuação no li a ' = a t r o e da educação.
para que, no curso dessa carrririb ad a, possaITl ser cle.lirrritaclo s os
novos objetivos, rrietas, rrretoclofogias e foxrrias de avaliação, tendo
114. Veja-se a citação a seguir: Assim é quando substituímos o 'quem' pro~es.sor de
COITlO base UITl critério deveras nacional. escola primária (mestre-escola), pelo professor de letras ou pelo especialista de
É por isso que se deve rOITlper COITl o rn o d e l o artes cênicas, esta identificação específica desencadeia automaticamente uma (...)
198
, 199
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TENDÊNCIAS DA REESTRUTURAÇÃO
.A autora entende que apesar de ter-s e situado no estabelece rrietas, objetivos e proceditnentos setnelhantes aos
acadêrnico e escolar devido a sua história irnpor tarrtc, essa enfatizados por BARRET, atribuindo, porétn, propósitos b ern rriais
carece de definições no ârrrb ito de seus fundatnentos, apontando específicos para sua conduta:
urna série de reflexões, as quais, no âtnbito deste estudo, p o dern
8 a s s i rn r e s u rn i d a sy s o rn o s generalistas, e s p e c i a l i s t a'sç-, Nós queremos que o estudante aprenda, transforme-se e b.usque
(-g-e1:"l-e-t;ali-s-ta-s-esp-ecláli;'tas ou especialistas-generalistas? N ósl desenvolver-se; nós ensinamos, agimos, encenamos, criamos
\
. io~afnos ou c ri arrro s arte? Fazetnos teatro, d rarn a, teatro nal performances cotidianamente e interferimos mediando ações
\ ~~lucação, teatro itnprovisacional ou educação ~1favés do teatro? ' dentro das escolas, durante as aulas, em contextos [ormais ou
I. U sarrro s arte, errsinarno s arte ou fazetnos arte? ~ informais; usamos métodos de ensino, formas artísticas e valores
.............. Discutindo o perfil profissional do educador frente à culturais no nosso trabalho; trabalhamos como artistas, professores
a rttcula ç ã o de suas propostas pedagógicas na instituição e para o e 'interventores/mediadores' - nós desejamos que o estudante ou
educando, a autora tenta cornpreerrdcr a função do sujeito que pessoa continue a aprender e a desenvolver-se através da vida sem
117
etnpreende a ação didática isoladatnente e a partir de sua realidade •
a nossa tnteroençao:
N
assunto ahrcliarn a uma dissociação completa entre a arte e a Creio que não se pode adjetivar negativamente a
. 120
educação e, conseqüentemente, entre o ar tis ta e o professor. escolarização da arte, sobretudo considerando-se o grau de
Com a profissionalização do arte-educador, efetivada importância que essa área assumiu no campo da educação, no
principalmente a partir dos anos 80, reivindicou-se uma presente século. Contudo, uma indagação perpassa a discussão
conceituação mais objetivada, visando-se compreender, com enfocada nos parágrafos precedentes, vindo a relacionar-se
maior acuidade teórica, o papel social e o perfil pedagógico do diretamente aos propósitos desta pesquisa, qual seja o espaço
docente, enquanto sujeito responsável pela escolarização em Arte. onde o ensino do Teatro deve encaixar-se na estrutura acadêmica.
Contudo, ainda se ouvem opiniões pautadas no senso (Em outras palavras: onde se deve pensar e exercer o
comum, referindo-se, paradoxalmente, ao artista como aquele '\ conhecimento profissional em teatro-educação, nas faculdades
que sabe fazer arte e ao professor com,o quem só pode falar I de educação, nos institutos de artes / teatro, ou é necessário
sobre arte - ou melhor, o sujeito que ensina algo para o qual \.pleitear a criação de uma zona neutra?
não possui talento para praticar. Há ainda quem postule o No Brasil, os conhecimentos inerentes à linguagem
surgimento de uma nova concepção do trabalho escolar em arte, cerirca geralmente são investigados e ministrados na unidade
entendendo que os professores são intennediários entre arte, acadêmica de teatro ou artes, restando definir o locus das
escola e sociedade, posição muito semelhante à de BARRET. disciplinas que integram os dois campos. Nessa linha de
Buscando um caminho situado na vertente essencialista da arte,121 argumentação, qual o perfil que melhor se adequa ao pregessor-
MARQUES (1999) propõe a figura do artista-docente, com vistas a formador de disciplinas como Didática, Metodologia de Ensino e
não permitir a fragmentação nem a escolarização da arte e do Estágio? Ele deve ser arte-educador, pedagogo ou o ideal é ter
artista, a saber: dupla formação? Onde esse profissional encontrará rrra i s
rrio tivação para dialogar com seus pares e assim desetnpenhar
[ ... ] O artista-docente passa a ser a fonte do conhecimento em / suas funções a contento, no instituto de artes ou no de educação?
através da arte e não somente uma ponte entre o aluno e o mundo Ainda nesse mesmo terreno, caberia inserir outra
da arte. Em cena, ele tem a possibilidade de criar e recriar e, indagação, aludindo-se sobretudo às IES que possuem rrrerror
principalmente, de 'propor' - desta vez não somente um trabalho tradição e expressão acadêmica, nas quais os departamentos
artístico eventualmente com um fundo educacional, mas um esbarram-se erri dificuldades cotidianas quanto à oferta das
'trabalho artístico-educativo '. (MARQUES, 1999: 113) disciplinas exigidas pelo currículo dos cursos. Assitn, como tornar
específicos os conhecimentos essenciais para a compreensão da
linguagem teatral, como Sociologia, Estética, Metodologia de
Pesquisa, entre outros, transformando-os em Sociologia do
(...) do laboratório enquanto são, ao mesmo tempo, sustentados pela teoria do
desenvolvimento e do aprendizado do Piaget. Além do mais, a metáfora do labo- Teatro, Estética Teatral, Pesquisa em Teatro-Educação, etc? Corno
ratório é comum a muitos pedagogos e leigos, tornando o nosso argumento é foi visto no capítulo anterior, as IES têm enfrentado essa
acessível a eles", O fragmento original é o seguinte: "Our two sides are art and probletnática de maneira bem distinta e ainda não há consenso
education. [... ] These two aspccts are united in a laboratory metaphor while they
are, at the sarne time, supported by the developmental end learning theory of
sequer entre os grupos de especialistas e associações profissionais.
Piaget. Moreover, the metaphor of the laboratory is familiar to most educators Respostas a essas questões serão o b v i arrre n t e
and lay persons, thus making our argument accessible to them." (COMBS, 1997:13, empreendidas em cada situação localizada. Contudo, a título de
tradução de Geraldo Salvador de Araújo). sugestão para superar-se o itnbróglio, COMBS (1997) estabelece
120. Na área de Teatro, os primeiros autores a teorizarem sobre esse assunto faziam
uma diferenciação radical entre o teatro profissional e o teatro-educação (ver conexões entre quem e onde são produzidas as teorias e as
REVERBEL, 1979; ABRAMOVICH, 1976; MICHALSKI, 1976; LEITE, 1975; ARAÚJO, 1974, propost~s didáticas, assegurando que há uma fusão entre o que
entre outros). Essa posição enfraqueceu-se com o correr do tcmpo mas ainda as lideranças intelectuais realizam e a ação das instituições. Corno
hoje tem adeptos.
corolário dessa argumentação, cita exernplo s de parcerias que
121. O debate acerca do contextua/ismo versus essencia/ismo no ensino de arte foi em-
preendido por EISNER (s/ d) e divulgado no Brasil por BARBOSA (1984) e KOUDELA revestiram-se de sucesso acadêmico ern seu país, a dizer: Winifred
(1984). Ward / Northwestern University; Kenneth Grahatn / The
202 203
TENDÊNCIAS DA REESTRUTURAÇÃO
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
lJniv~rsity of Minnes.ota; Geraldine Silks / The University of sociedade, universidade e cultura, conhecim.ento e vida. Os
Wash1ngton; Jed Dav1s / The University of K'an s as, No caso .(. educadores e artistas assumem um. papel especialm.ente
brasileiro pode ser comprovada uma situação semelhant <' importante ~a bus~~ de ,conexão, entre esses elos, pois as
'd e, transform.açoes SOC1~1S eX1gem. clecis ões urgentes quanto aos
c o n sr erando-se a a tuação decisiva de algumas universidades na
~ós-grad,:ação, de seus professores na pesquisa e publicação de \ r urrro s a serem. s egtriclo s, am.paradas em certezas advindas da
ltvros, alem dos personagens pioneiros e outros mestres do \. investigação sis terrrâtica e da cxp erirncritação consciente.
prese~te ou de um passado recent~2~ue, com sua ação, vêm dando
Nesse cenário, seria recotnendável que os curriculistas
rro ro riedacle ao ensino de Teatro. desse rnorrierrto novo - ou melhor, de agora - aterrtern para
os proceditnentos que v êrn sendo aconselhados pelo tnovitnento
. _ .Ess,a re,flexão insere uma nova abordagem acerca da
d1scussao rrrs ti tucio nal, fazendo emergir a necessidade de se de arte-educadores, pela teoria e pesquisa em teatro-educação,
detectar os fundamentos epistemológicos do conhecim.ento em. contetnplados até rriesrno nas orientações rnais recentes do poder
arte que são essenciais pa.ra a constituição da área em. apreço público.
~e~ a qual u,m. em.preendimento dessa natureza poderá tornar-s~ Rompendo c orn valores antigos, seditnentados no
1nocuo. A citação a seguir explica com. m.aior propriedade essa ideário liberal de conceber-se irrna fortnação detnasiadatnente
preocupação: arnpla, e tarrrbérn na tradição inventada nos anos 70 - quando
pretendeu-se t r a n s fo r rn a r o técnico num profissional de
Os conteúdos que constituem o corpus de uma área do capacidades tnúltiplas - , bem co m o procurando superar o
conhecimento são estabelecidos a partir de uma práxis que se tnodelo prescritivo de constituição do currículo, faz-se urgente
cons~lida através d~ sua historicidade. É através da práxis que são o estabelecitnento de metas viáveis para a fo.rrrração de educadores
ern teatro a partir de critérios negociados entre os vários catnpos
configu~ados '" delm:a:nentos críticos analíticos dos quais emerge
do saber, pois o tarriari ho e a duração de trrri curso são eletnentos
~ conteudo, efzstemologz~o. O ~?!!:.E~.~1:.~,.:pJ.~~~.t!J}!,f2gico de uma área
e um.a espectede enunciado para questões, modelos, paradigmas e que p re.cis arn ser delineados objetivatnente:
. teorias, documentando o rastreamento histórico dos sereshumanos
nas suas tentativas de construir respostas e soluções para os seus [...] ou se propõe uma escolaridade sem fim ou é preciso
problemas. (MARTINS, 1995: 137) sintetizar, filtrar e selecionar muito cuidadosamente os
componentes do currículo, revisando-se a forma de desenvolvê-
Reiterandn os termos da citação acima, de maneira a los. (GIMENü SACRISTÁN, 1998:67)
re surriir u.rn assunto que já foi exaustivamente discutido nos
capítulos III, IV e V, entendo que a constituição da epistetnologi'a Dessa for ma, independentetnente da estrutura a ser
privilegiada ern cada IES, o currículo deve ser pensado na
d O te.~tro-educaçã~ vern sendo edifi.cada pertnanente.tnente, s.eja
atraves da absorçao dos legados históricos, das influências de dimensão arrip'la atribuída pelas novas tendências que apresentatn-.
j
outras áreas ou das ações que são inventariadas a cada instante
estabelecendo, assim, uma relação orgânica entre teatro ~
se a esse catnpo, e contar com a participação dos atores sociais
envolvidos na cena concreta - professores das áreas e conteúdos
vinculados ao curso, alunos, técnicos-adtninistrativos, especialistas
ern currículo, e ainda coordenações pedagógicas, departatnentos
122. São m1~ito.s os p('rson~gens importat~t{'s d~ história do teatro-educação nacional, acadêmicos e dem.ais instâncias da estrutura institucional. E, para
?, que ~ndtca a necessidade de uma tnvestigação exaustiva a respeito do assunto. que a discussão não se restrinja apenas à esfera universitária, faz-
Iodavia, deve-s~ re~saltar que eles deram suas contribuições sempre a partir de se rriis ter alargar as fronteiras do debate, visando envolver as
algum respaldo institucional, a exemplo do que ocorreu no caso da parceria fir-
secretarias de educação e outros órgãos ou pessoas ligadas à
mad.a ent.re a lJSP e .seus p~()fess;)fes. ligado~ ao campo do teatro-educação, como
Marta Altc~ Verguetro, C10vts Garcia, Mana Lúcia de Souza Barros Pupo e d terrrática - uma proposta difícil mas exrrernarnerrte saudável e
uma ma?e~ra especial, Ingrid Dormien Koudela, face aos achados teórico~ detnocrática, cujo retorno social corrrperisará todos os esforços.
m_etodologtc,?s des~a pes~lIisado~a, concretizados através de inúmeras publica- Como não existe currículo vazio de conteúdos, e
çoes, traduções, orientaçao a projetes de terceiros, atividade docente, etc.
204 205
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES TENDÊNCIAS DA REESTRUTURAÇÃO
considerando-se as reflexões sobre as propostas pedagógicas dos professor. A ênfase na formação do arte-educador é uma
cursos de formação inicial de professores de teatro já efetivadas dimensão que não poderá ser esquecida pelas IES na formatação
neste trabalho, ressalta-se a necessidade de uma composição dos cursos, não bastando registrar no papel as novas atribuições
interdisciplinar envolvendo os seguintes tópicos: i) formação geral, dos professores e alunos sem que sejam pensadas estratégias para
expressa através de conhecimentos que ultrapassam os domínios o pleno desenvolvimento curricular.
da especialidade, dirigindo-se à dimensão humanística de cunho Dessa maneira, não vale mais a pena insistir na
amplo; ii) formação especifica, voltada para os conteúdos ·-dl~otomização do perfil profissional - se artista ou educador,
episrerriológicos que dimensionam o saber teatro, a prática teatral professor de arte ou pesquisador da prática docente - ,
e o saber ensinar teatro; iii) formação pedagógica, vinculada a privilegiando, isso sim, as medidas organizativas "que virão
conhecimentos e experiências de áreas que fundamentam a , efetivar o princípio de base de um profissional uno, inteiro,
\'"
escolarização como um todo, bem como aqueles atributos I
Lassumi iclo na sua 1ideritrid a d e pro fiSSl?na
i' I '.,,123 . o
,
relativos à preparação do graduando para as especificidades do -...... Para a construção dessa identidade profissional, sera
ensino escolar de teatro. Esses conjuntos de conhecimento devem imprescindível dar ênfase nos conteúdos atinentes à área em foco
articular-se a outras dimensões do ato educativo, possibilitando - ensino do Teatro - , visando tran~m.~J~:.a,9.':~~?,~~,~~.!!íbrido
aos sujeitos uma apropriação dos bens científicos, tecnológicos em eÉ!.:~!f!.~f!.~~~ico. A análise da história dos cursos de preparação
e culturais de compreensão da condição existencial humana em de professores para o ensino do Teatro na educação básica -
relação à sociedade, à natureza e à biosfera. sejam os que seguiram literalmente o modelo recomendado pelo
No momento de discutir as particularidades dessas MEC-CFE, sejam os que privilegiaram os conhecimentos do
grandes áreas formativas e estabelecer o rol de disciplinas que campo teatral, ou mesmo os que misturam esses dois modelos
comporá o projeto político-pedagógico a ser oferecido à - indica que há um movimento em torno da implementação de
sociedade, os curriculistas terão que esboçar os princípios de mais atividades curriculares pautados na teoria e prática em teatro-
uma formação docente orgânica e consciente, atribuindo um novo educação. Essa é uma área que tem crescido exponencialmente,
estatuto para os conteúdos, com ênfase no significado e sobretudo t~nto no pl~no:t:e<5iico qtiárit0n:let()(J~l()gic:o, fruto de
na significação dos mesmos frente à relação estabelecida entre o experimentos oe"fétivados em todo o Bra:silodes"oe os anos 60.
objeto de ensino e o sujeito de aprendizagem, de maneira a Assim, deve-se assegurar ao teatro-educação uma presença mais
absorver as implicações daí decorrentes. A respeito desse assunto relevante nos currículos, de maneira a mudar o quadro
o : : : de licenciatura da UNB manifestou-se com precisão: apresentado descrito no capítulo anterior.
Finalmente, considerando que a formação de
{...] não se trata de substituir os conhecidos 'conteúdos' por algo professores articula-se à educação básica de uma forma
sob novo nome, mas de colocar lado a lado o respeito aos recortes organicamente inseparável, as abordagens acerca do terna teatro-
que a sistematização científica impõe às áreas do conhecimento e educação terão que ser consubstanciadas na realidade escolar mais
o respeito aos objetivos a que tais recortes servem, ou virão a servir. imediata, qual seja: educação infantil, ensino fundamental e médio,
Por isso, esse redirecionamento de propósitos tem o alcance futuro e, quando possível, educação especial, educação indígena, eriairro
de definir o que a universidade pretende representar como não-formal junto a crianças, jovens e adultos, sem esquecer a
instituição e, mais que tudo, que a escola futura deseja como questão da ação cultural. A construção de um currículo crítico
herdeira do seu fazer atual, lembrando que os hoje licenciandos requer conteúdos teóricos e práticos não somente sobre os
serão os construtores dessa nova escola. (UNB, 1998:3) princípios gerais da educação, mas sobretudo acerca das
condições específicas em que a ação escolarizada irá acontecer.
Essa concepção da formação docente deve cristalizar-
se no interior de todas as atividades previstas pelo currículo,
consubstanciando sua natureza, identidade e organicidade,
123. Depoimento da Profa. Ora. Hélêne Leblanc (FE-UnB) acerca de um dos textos
princípios esses subjacentes à transformação do aluno ern
preliminares desta pesquisa.
207
TEATRO E FORMAÇAo DE PROFESSORES
208
A História como Possibilidade
211
UM EPílOGO POSSíVEL
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
filostifia pública democrática, por discutir urna certa particularidade
percebido, ao debater corn profissionais especializados ern ensino
da história, vista corno possibilidade de transforrnação qualitativa
da Arte e forrnação de professores, que a contribuição deste livro
da cultura e da educação. Para ele,
ao ~e~a da reestruturação das licenciaturas alusivas às linguagens
artrsrrcas assurne urna certa relevância social, urna vez que alguns
[... ] a história é aberta, incerta, e digna de luta; aqui está em
dos pontos nevrálgicos do p ro blerna estão agora razoavelrnente
questão uma visão de futuro na qual a história não é aceita
or~anizados, através da contextualização do p ro b lerrra, da
simplesmente como um conjunto de prescriçõesherdadas do passado
verificação de hipóteses, da sisternatização do rrraterial ernp.írico,
sem questionamento. A história pode ser nomeada e refeita por
das reflexões e das conclusões ernpreendidas ao longo do presente
aqueles que se recusam a permanecer passivos diante do sofrimento
texto. Dessa rnarreira, o trabalho finda propondo-se a atuar no
e opressão humanas. Os educadorespodem se unir a fim de politizar
âmago daquilo que o gerrninou, inserindo-se corno rn ais urna
a natureza do que acontece nas escolase estender o trabalho político
rnarreira de orientar a transforrnação curricular que está sendo
1_ . d U FMA - corno tarnb érn ern outras IES 124 - , corno em nossas salas de aula para outras esferas públicas. (GIROUX,
airrreja a na
1997:211)
résp~sta. às ~dernandas da escolarização e às exigências
cons trrucronars,
o apelo forrnulado acirna é na verdade trrri convite
As sirn, por viabilizar urna releitura da questão que
aos educadores para que a.ss urnarrr-se corno sujeitos da história e
engendrou a pesquisa - desta feita de urna rnaneira rn ais
assirn possarn, através de sua atuação e crítica, fazer indagações
ponderada, porque ernbasada rrurn conhecitnento construído corn
sobre o futuro a partir da cotnpreensão do terrip o presente e
o ~e~ido rigor científico - , considero que os objetivos forarn
passado. Corno a educação conternporânea propõe-se a
atlngid~s, apesar do caráter inconcluso assurnido nessa parte
estabelecer a unidade entre sujeito e história, isso pressupõe a
d~r~ade1ra do texto. Afinal, ern se tratando de prograrnas e
adoção de novos paradigrnasi' vinculando o catnpo pedagógico a
atl~idades que devarn ser apet;:feiçoadas perrnanenternente, não
urna filosofia neo-hurnanista. 25 Sabe-se, há rrrurto, que da tradição
exrstern soluções ideais rrern únicas, fazendo c orn que o sentido
brota a novidade e, aos valores anteriorrnente privilegiados -
da pesquisa nessa seara deva pautar-se rrurn conriruiurn articulado
~uitos dos quais atualizados à luz de novas abordagens - ,
entre os laços que reconstróern a teoria e a prática.
rrrs e r e rrr-e e vertentes que anteriorrnente não h av i arn sido
Nesse sentido, o livro inscreve-se corno' um ciclo a
pensadas, consubstanciadas na intersubjetividade, rnulticultu-
rriais na renovação do debate sobre forrnação inicial do professor
ralidade, eqüidade, autonornia, ética e estética e, para tratar
de Arte, pois, rrresrrro não pretendendo discutir à exaustão todas
especificarnente de currículo, na concretização de urn projeto de
as nuanças de trrn problerna tão cornplexo e abrangente, procurou
escolarização arnp lo, o qual valorize tanto os conteúdos da
avançar no ex arn e e encarninharnento das questões mais
aprendizagern corno o contexto dos seus rnúltiplos significados.
prernentes. Parafraseando GIRDUX (1997), trabalhos corno esse
Para analisar a constituição do ensino de teatro na
são propostos corri o objetivo de contribuir para a renovação da
escola básica, sua situação atual no panorarna da educação
brasileira e a for mação de professores que lhe é conseqüente,
124. Como. sã<:> ~aros os estu?os alusivos ~o assunto, não seria pretensão afirmar que a esta obra orientou-se pela noção de história corno possibilidade,
contribuição em questao refere-se a formação de professores de uma maneira que evolui não por progressos sucessivos rrias sirn corno parte de
geral e em particular à área da Arte, inclusive porque uma das propostas originais trrn processo que busca rnelhorar o estado das coisas. Dessa
do trabalho er.a a de não restringir a pesquisa apenas à licenciatura em Teatro. No
campo ?O ensino ~a Arte, merecem especial atenção as teses de PIMENTEL (1999), rnarreira, o estudo teórico articulou-se aos fatos do mundo prático
alu~1Va as Artes Visuais, e a de RIBEIRO (1999), sobre Educação Musical. Ao dis- - ações do poder público, encarninharnentos regionais
cutir o tema da reestruturação curricular das licenciaturas em Música RIBEIRO
propõe u~a seleção de conteúdos pautada nos seguintes campos curri~ulares: i)
desenv~lvlmento cultural, hist~rico e s~cio-político da educação musical; ii) de- 125. GADOTTI (1998) observa que a educação pós-moderna inscreve-se como uma filo-
sen~olvlmento ~eorlco-percep~1V~, e.stétlco e interpretativo-musical; iii) com uni- sofia neo-humanista, concebida para apropriar-se de conhecimentos e métodos
caç~o e expressao ~onoro-muslcals;IV) formação pedagógico-musical; v) investi- acumulados na cultura, compreender a realidade e indagar sobre o que virá.
gaçao da autonomia da educação musical.
213
212
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES UM EPílOGO POSSíVEL
,..
ass urrriclo s pelas IES, debate etnpreendido por especialistas e na educação fo rrrral é b ern recente no Brasil, errrbo ra seus rastros
detnandas da cotnunidade educacional corrio urn todo - visando rernetarri-se a urri passado longínquo. Entretanto, corrtrariarnerrte
à proposição de sínteses significativas para cotnpreensão do ao que se diz c o rn base no senso c o rrrurn , os jesuítas não
p ro blerria e ericarnirrharnerrto das soluções. ut.ilizararn o teatro COtnO fonte de tnotivação para a aprendizagetn
O trabalho ern si não foi dos rrrais sedutores e a nas escolas de ensinar a ler e contar, c orrro h aviarn feito nos colégios
pequena quantidade de estudos dedicados ao catnpo árido do europeus, face à insuficiência de sua ação pedagógica erri tertnos
currículo na fortnação de professores de Arte corifirrna essa quantitativos e qualitativos.
sensação do pesquisador. Contudo, a tnotivação de agora é rnaio'r Seria necessário trrria pesquisa histórica exaustiva para
ainda que a anterior, por ter constatado, rnais urna vez, que dar conta do processo de escolarização do teatro no Brasil,
t a rn b rn nesse terreno cada u rn de nós pode contribuir
é errrbo ra saiba-se que sua itnpletnentação no currículo escolar
decisivatnente para as rrnrdarrças, independentetnente das grandes tenha se efetivado apenas nesse século, notadatnente nos últitnos
decisões goverriarnentais, sobretudo quando se sabe que ~~é tnuito cinqüenta anos. Isso tornou-se possível graças às exigências do
rrrais fácil rmrdar a política educacional do que os tnodos de teatro tnoderno, à dissetninação da atividade d rarná tica no seio
funcionatnento da escola" (E. EISNER apudPIMENTEL, 1999:149). social, à criação de grupos teatrais arrrado re s erri rrruiro s lugares
Por isso, torna-se itnprescindível pensar a pesquisa COtno uma do país, à necessidade de trrria profissionalização diferenciada
prática propositiva, que contribua realtnente corn o processo dos padrões convencionais, à rrrulrip licação das escolas de arte
social no sentido de examinar as soluções cabíveis aos problemas clrarná tica, à dissetninação rnassrva da arte, e, no que diz respeito
aventados. .Adernais, creio que ao estudar esse terna juntei-me a à ação escolar, ao reconhecitnento da itnportância do Teatro na
pesquisadores de outras áreas do conhecimento que, educação e aos rrrov'irrrerrto s de educadores que conrrib uírarn para
126
c o rn p r e e n d e n d o a i m p o r t n c i a dos avanços teórico-
â
sua inserção no ensino básico.
tnetodológicos surgidos na prática escolar da arte-educação, vêtn Dessa rn arieira, estava cultivado o terreno para sua
analisando as especificidades da rnarézia no tnundo afora, na itnpletnentação do teatro no currículo oficial e esboçada a
tentativa de buscar soluções para a crise da educação trajetória que o levou à universidade. E, a partir da prática do
contetnporânea. ensino e da pesquisa, as contribuições teórico-tnetodológicas
Os objetivos da pesquisa assentaratn-se nesse terreno fo rarn sendo delineadas.
e, para finalizar, a seção seguinte retomará seus eletnentos-chaves, A partir dos anos 50 sur'girarn as p rirnciras tentativas
sutnariando criticatnente a discussão dos tern as que d erarn de levar a atividade drarriática ao ensino superior, rrras a criação
substância às principais hipóteses, perplexidades, argutnentações dos cursos de bacharelado e licenciatura deu-se s orrien te na
e conclusões, visando situar as tendências rriais relevantes a década seguidte. Para isso, erri alguns casos contou-se corn a
respeito da reestruturação que se ora processa no ensino superior experiência cr;.~ escolas de arte d rarná.tica, que errrpres tararn não
de Teatro. s o rrren te as bases conceituais e tnetodológicas, rrras tarrrb érri
professores e progratnas de ensino. A atuação de alguns desses
estabelecitnentos foi preponderante para a itnplantação dos
Comentários à Guisa de Finalização cursos superiores de fortnação do professor de teatro, rrias o
papel definitivo coube ao extinto Curso Prático de Teatro do
127
SNT.
O processo que levou o Teatro a tornar-se uma
disciplina escolar sedimentou-se ao longo de sua própria
historicidade, tornando vis/veis os princípios que delinearatn os \2.. ~6.~ Deve-se ressaltar o fa~o de que foi a partir da recomendação ?a U~ESCO (1957)
~.. que as nações do OCidente passaram a preocupar-se com a inclusão da Arte no
objetivos, os conteúdos, as tnetodologias e as tnaneiras de
.. currículo.
avaliação do seu ensino.
127. A pesquisa histórica mostrou que os primeiros cursos assen taram-se sobre as ba-
Esta pesquisa demonstrou que o fenômeno do Teatro ses edificadas pelas escolas ou conservatórios de arte dramática, a saber: a USP
214 215
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES UM EPílOGO POSSíVEL
o primeiro modelo de licenciatura foi denominado conhecimento razoável. Existem associações profissionais
de Professorado em Arte Dramática e estruturou-se no esquema promovendo simpósios regulares em todas as áreas, ao passo
3 + 1, ou seja, após a conclusão do bacharelado o aluno podia que a ocorrência de pesquisas é considerável, haja vista a
seguir os estudos pedagógicos que o habilitavam ao exercício do publicação de livros e periódicos, a criação de centros difusores
magistério. Contudo, a expansão do ensino superior em teatro de práticas e teorias, dentre outras evidências. Uma pequena parte
generalizou-se somente nos anos 70, amparada nos princípios dos conhecimentos produzidos por especialistas e instituições
liberais da reforma de 1968 e principalmente na obrigatoriedade refere-se ao tema da preparação do educador, com ênfase na sua
da disciplina Educação Artística no ensino de 1 0 e 2 0 graus. instância mais decisiva: o ensino de graduação. Numa perspectiva
Face à inexistência de professores habilitados, a histórica, pode-se dizer que os principais debates e sínteses acerca
improvisação marcou a cena da implementação do ensino de da formação inicial deram-se no âmbito dos congressos da FAEB
arte no Brasil, uma vez que eram raríssimas as oportunidades de e outras entidades, nos fóruns da CEEARTES-SESu e na
formação superior e somente em 1973 foram regulamentados discussão sobre as novas diretrizes que estão tramitando no MEC
os cursos de licenciatura em Educação Artística. As medidas com vistas à apreciação do CNE, conforme discussão
emergenciais de preparação do educador deram-se, então, através empreendida no quarto capítulo deste livro.
de iniciativas das secretarias de educação e cultura de estados e Todavia, tudo indica que a mudança ora em curso
municípios, de órgão como a FUNARTE e o SNT, de algumas não pegará as IES de surpresa, elas que na verdade constituem-
universidades, de instituições informais ligadas a companhias se nos verdadeiros pólos de produção e transformação dos
dramáticas, e principalmente da Escolinha de Arte do Brasil. currículos. Se nos anos 70 a universidade brasileira não tinha
Os cursos de licenciatura em Educação Artística como suportar o peso da demanda exigida compulsoriamente
proliferaram em muitas IES brasileiras sem uma base conceituaI pela legislação - a preparação de professores para o ensino de
sólida, nem ao menos estrutura de pessoal ou condições de apoio Educação Artística - , hoje ela está a organizar os princípios e
ao ensino, razão pela qual muitos deles foram extintos. Com o as bases do novo ensino da Arte na educação básica. Mesmo
nrovinrento de transfornração empreendido pelos docentes considerando-se a crise no ensino superior, em algumas
universitários e outros arte-educadores, promoveu-se, no decorrer linguagens artísticas a situação não é tão drástica como nas outras
da década de 1980, uma rejeição gradual ao modelo polivalente licenciaturas, pois, como foi visto no Capítulo V, a grande maioria
do curso de preparação de professores, sendo pensadas - e em dos cursos de licenciatura em Artes Cênicas é ofertada por
alguns casos praticadas - alternativas para superação dos universidades públicas, o nível de titulação dos docentes é até
problemas diagnosticados. Dessa forma, foi-se construindo, mesmo superior ao índice nacional, crescem as oportunidades
paulatinamente, uma narrativa diferenciada do padrão prescritivo em nível de pós-graduação, os estabelecimentos possuem
e da tradição inventada por curriculistas que legislaram em prol condições razoáveis em termos de ambiente físico e
de interesses políticos, focalizando luzes que agora cintilam equipamentos, o que dá um certo tom otinrista frente às
mapeando caminhos para a reestruturação dos cursos de adversidades da realidade educacional brasileira.
preparação do arte-educador. Contudo, no panorama da escola básica, o cenário
Desde o momento em que foi implantado na escola ainda mostra uma imagem bastante adversa - somente nas
brasileira, o ensino da Arte vem desenvolvendo-se capitais ou em alguns municípios privilegiados pode-se encontrar
significativamente, contando hoje com um corpo de professores exercendo a docência com habilitação plena, ao passo
que a improvisação ainda se faz valer na grande maioria das
cidades interioranas. Para piorar o quadro, em muitos
(...) na Escola de Arte Dramática de Alfredo Mesquisa; a UNIRIO no Conserva- estabelecimentos privados de grande porte instalou-se uma ViSãC;-j
tório de Arte Dramática; a UFBA na Escola de Teatro; a UFRGS no Curso de utilitária do Teatro enquanto produção de espetáculo, em esquema
Arte Dramática (ver capítulo III e Apêndice II do capítulo V).
216 217
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
UM EPíLOGO POSSíVEL
extra-curricular, o que enseja à dissetninação da pior tradição organicidade dos projetos pedagógicos, pensando-se, sobretudo,
travestida de novt21ade, face ao poder de propaganda exercida na articulação desses eletnentos com a realidade social e corn o
\ por essas escolas.
cenário político, cultural e educacional que se itnagina para o
Para o atenditnento da detnanda por escolarização ern futuro da nação.
Arte / Teatro, p rccisarn ser totnadas decisões ern variadas esferas Não sendo rrrai s possível conviver co m o rrioclelo
públicas, especialtnente no c arrrp o da fortnação de professores. preconizado pela Resolução 23/73-CFE, faz-se necessário
Até betn pouco terrip o os debates etn torno desse assunto tinhatn t.rarrs fo r rrrar raclicalrnerite o padrão da Educação Artística que se
pretensões ·tnodestas rrias, corn as conquistas da Arte na educação t êrn por concepções de ensino da Arte que ernergirarn na
escola~ e. as alternativas sugeridas por diversas instâncias da ação contetnporaneidade. Utilizando riovarnerrte a tnetáfora sugerida
pedagogíca, passou-se a ensaiar passos b ern rrrais ousados. Nessa por Gonçalves Dias - citada nas páginas iniciais deste trabalho
catnin~ada: percebeu-se ser necessário fazer Utn corte cirúrgico - , acredito que cutnpre ao rrrorrrerrto presente "encanar na sua
na" p o liva lê nci a e na fortnação encurtada das licenciaturas nascente urn rio que [. ..] sobrepujando as ribanceiras, alaga as
129
altnejando-se ao diálogo crítico entre as linguagens artísticas: tnargens e inunda largatnente os carnpos."
des~as c orn os conhecitnentos de natureza geral e pedagógica, Considerando-se as diferentes rnarieiras de abordar o
dehneando-se u rn a identidade orgânica para os cursos de terna da for rnação do educador etn terrrros curriculares, a sugestão
preparação dos professores de Arte ern nível de graduação _ do poeta é torriada aqui c orrro alusão às re fo r rnas destinadas
ern outras palavras, a configuração de trrria base cornurn nacional apenas a rrruclar a fachada do ensino de arte. Suas palavras ~
para as licenciaturas ern Artes Visuais, Dança, Música e Teatro que na verdade referern-se à função social da arte no contexto
A grande inquietação sentida por todos os envolvidos de trrrra trarna clrarnarúrgrca abordando trrn fato trágico ocorrido
na questão da licenciatura ern Educação Artística, relativa à na sociedade portuguesa do século XV - suge.rirarn-rue urn
existência de urna proposta curricular presa a princípios que não insight decisivo ern relação à pesquisa, pois acredito que certas
têm atnparo na tradição acadêtnica n e m corpus teórico providências na es fera social, oorrro é o caso de urn novo currículo
consubstanciado epistetnologicatnente, denunciava as tnazelas para as licenciaturas artísticas, devatn ser ancoradas ern bases
pr(~.v:ocadas pela prática institucional de grades de disciplinas sólidas e sustentadas no corrhecirnerrto his toricarnenre acurriulado,
acrrrrcas, atnorfas e anacrônicas.
nas experiências b erri sucedidas e e rn forte dosagetn de
, Para suplantar essa realidade, os professores, detertninação política, propiciando, as sirn, dar trrri novo curso ~~
estudantes e pesquisadores, capitaneados principaltnente por águas, e não instalar "diques, que fora inútil alérn de perigoso."
aqueles que se auto-denotninaratn arte-educadores, vêrn articulando Não é concebível que os especialistas etn ensino da
h.á a~guns .anos urn tnovitnento que conseguiu envolver segtnentos Arte continuetn à deriva das principais decisões oficiais que lhes
sIgnIficatIvos desse carripo de conhecitnento e da sociedade ern drzern respeito. Os docentes, os estudantes e todas as outras
geral. Corn essa luta política objetiva-se à construção de trrri pessoas envolvidas na questão d evern adotar u m a atitude
currículo vinculado à função do curso, às possibilidades rnateriaís tnudancista no ârn biro de sua atuação profissional, e exigir das
e intelectuais que os estabelecitnentos p o de.m almejar, à autoridades tnedidas políticas necessárias para reverter o
panoratna negativo que ainda se faz valer no cotidiano escolar
do ensino da Arte. N o plano concreto da for mação do arte-
128. Pr~senciei :m São Paulo. o ~rama de pr?~essores que são contratados por escolas
educador, isso itnplica na adoção de fundatnentos Iegftirrros,
privadas ~~o para a docência plena em 1carro, mas sim para dirigir espetáculos a
serem exibidos no final do ano letivo ou efemérides. Tenho acompanhado casos objetivos articulados às necessidades culturais rnais essenciais
sem.elhantes em São Luís, ~nde a Secretaria Estadual de Educação criou, com o da população, conteúdo significante para os sujeitos envolvidos,
a~o~o das esco.las, um festival anual de teatro estudantil, vinculando parte das didática tnotivadora, possibilidades de integração curricular
atividades curriculares de teatro-educação à produção teatral, em detrimento do
processo d.e sala de aula propriamente dito. Em contrapartida, há notícias de ex-
p.enenclas lnte.ressantes em escolas que, além de ofertar Arte no currículo, propi- 129. ln: prólogo da peça Leonor de Mendonça, de Gonçalves Dias.
eram o envolvimento dos alunos em oficinas, festivais, etc.
130. Idem, ibidem.
218 219
UM EPiLOGO POSSIVEL
TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
. cífica: viii) extinção das licenciaturas curtas;.ix)
concretas e de um relacionamento entre teoria e prática vigoroso, e hnguagetn espe . ' _ . da para cada carrrpo do ensino
dentre outros aspectos que cotnporão os projetos pedagógicos a tili - de denotn1naçao apropna , .
u zaçao _ d fortnação pedagog1ca e
serem elaborados e desenvolvidos nas IES. d a ar e,t e ,: x) des fragtnen taçao a . -
,d ao longo do curso; xi) crraçao
Por que tanta ênfase na implementação dos novos desenvolvi
esenvo V1tn ento dos conteu os
. 1 no de urn ensino de
currículos? Não fossem eles o leito onde irá transcorrer um ensino de condições para odesenvolv1tnento P e
superior de arte apto a desaguar uma educação estética de boa qualidade. 1 d . de urna
Traduzindo as orientações arro a a~ acu~a
qualidade para todos os cidadãos, os problemas estruturais que
tnaneira rrrais apropriada ao ensino do Teatro,,, a h.cenc1atur: di:::
os cursos v'êrrr enfrentando poderiam atestar, per se, os porquês . 1· to de certas cotnpetenc1as pedag g
do modelo ter-se exaurido: i) falta de organicidade de um curso v rs a r ao. ~esenvo v1t~e:or ao dotnínio de saberes e práticas, de
concebido para habilitar profissionais capazes de lidar com que hab1htetn o p.ro es e o erar esse conhecitnento no
p az
diversas linguagens artísticas ao mesmo tempo; ii) confusão tnaneira que ele srnta-ae ca fd P foi evidenciado etn várias
.. d 1 de aula C on o.rrrre
conceituaI entre interdisciplinaridade e polivalência; iii) coud1ano a s a a ..... no capítulo anterior, essas
d t e de tnanetra 1nC1S1va
fragmentação dos conteúdos no ensino universitário; iv) partes o tex o . i u ri t o a ex eritnentos pedagógicos
desarticulação entre a realidade das escolas e o ensino ministrado competências devetn ~er:1::~~rtnaçãoi~cial, os quais delinearão,
nas IES; v) clientela despreparada ao ingressar e, muitas vezes, entranhados no curncu , . ' . natureza, a
no plano concreto, os princ1p10s pedagog1cos, a
tarrrb érn ao deixar a universidade; vi) falta de diálogo entre as
. id d organicidade do curso.
unidades de educação e as demais unidades implicadas nas iderrn a e e a . d i das organizativas que
D es s a rn a n err a , as rri e 1
licenciaturas; vii) inexistência de vínculos entre teoria e prática, - do r o fe s s o r devetn pautar-se na
etc. A par desses obstáculos, muitos outros dissabores afetam o efetivarão a fortnaçao P _ . d Arte na
1· que cotnpoetn o ens1no e
desejo daqueles que pensam em ingressar na carreira, como os legititnação das 1nguagens s teóricos e tnetodológicos
baixos salários e o desprestígio com que é encarada a profissão. educação b.ásica,. betn ~on;~:c~s;:~Çs7no e de pesquisa realizada
o
Como foi visto na retrospectiva histórica acerca da que etn~rgtra~d JU: : :~s estabelecitnentos escolares e nas
formação do professor, os problemas crânicos da licenciatura nas un1verS1 a d , , ,
arrastam-se desde os anos 30. Apesar das reformas constantes, "instituições culturais vinculadas a area. . nsão da
Llrn currículo crítico itnphca na cotnpree
nada se alterou em te rrrro s de estrutura e conteúdo formal. Etn - de bases solidatnente assentadas e, no
contrapartida, os docentes e grupos de especialistas propõem realidade e na construçao. ta produção de
e d cação eX1S te u rn a vas .
soluções aos entraves que podem ser resutnidas da seguinte caso do teatro- u, Ido pedagógico, respeito
. t ue conta cotn resp a
maneira: i) elaboração de urna base teórico-epistemológica situada
no âmbito das linguagens artísticas e da educação, possibilitando :~:~,::e:e:p~rimentação prãtica_na esc~~::,pp::~::g:~;~;~:::
1 erros parc1altnente, estao con . h'
a construção de uma identidade profissional para e através da que, pe o rn _ d ' _ do poder público. Nesse senudo, a
prática docente; ii) criação de uma base comum nacional para os recotnendaçoes os orgaos ,. endradas nas idéias e
cursos, estruturada em um corpo de conhecimento considerado J)r-feorias e propostas tnetodolog1c a s. eng 1 do jogo
\ . d ntes e pesqu1sadores, a exetnp o
fundamental para as áreas envolvidas, contemplando disciplinas ( ":",u. p rátic.as de artist~s" .oce .o o dratnático de linhagetn francesa,
vinculadas à linguagem artística, à formação humanística, "',j teatral, da peça didatica, ,do J g 1 - das tnanifestações
pedagógica, e à integração entre elas; iii) ênfase no relacionamento "00 dfama ln educerion ang o-s.axdaaon'a_o foram inventariadas
1'· d propostas que arri
entre ensino, pesquisa e extensão; iv) ampliação de estudos acerca _~~.. etnoceno og1cas, . as 1 b asileiras dentre outras
. di etn1natn-Se nas esco as r ,
da linguagem artística em questão; v) integração entre bacharelado mas que lSS - didática dos professores.
. e podetn etnbasar a açao
e licenciatura, sem separação inicial das modalidades; vi) alternativas qu r d diretatnente co rn ()
CotnO faz6la 22 anos que 1 o , .
superação do preconceito dirigido à licenciatura, através de . do atuado erri quase todos os nrvers da
medidas que busquem valorizar a docência; vii) configuração de ens1no de Teatro, ten h . nto conseguiu-se avançar ern
· - percebo oje o qua
princípios que fundamentem a licenciatura através da ação esco 1ar1zaçao, _. - d ensino e de avaliaçà<).
tertnOS de fundatnentaçao, concepçoes e
conjunta de profissionais responsáveis pela formação pedagógica
221
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TEATRO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
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