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· Processo Judicial Eletrônico - 1º Grau 04/11/2021 15:32

Poder Judiciário da União


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS

7VARCIVBSB
7ª Vara Cível de Brasília

Número do processo: 0720020-06.2017.8.07.0001


Classe judicial: PROCESSO DE CONHECIMENTO (1106)
REQUERENTE: PATRICIA PEREIRA MEDRADO
REQUERIDO: CARLOS HENRIQUE NEPOMUCENO ALENCAR

SENTENÇA

Trata-se de ação de cumprimento de cláusula contratual


cumulada com indenização por danos morais movida por PATRICIA PEREIRA
MEDRADO em desfavor de CARLOS HENRIQUE NEPOMUCENO
ALENCAR, partes qualificadas nos autos.

Narra a petição inicial que a autora e seu noivo resolveram


se casar rm 03.06.2017, às 18h na residência dos pais da noiva, com o objetivo
de fazerem uma festa intimista e personalizada. Assim, procuraram por
fornecedores experientes, e ao comparecerem ao Espaço Novyta, em 21.01.2017,
para reunião sobre o serviço de buffet, conheceram o decorador Carlos Henrique
e sua esposa Paola Marcante, os quais montavam a decoração para festa de um
casamento que se realizaria no local e oportunidade em que ofereceu os serviços
de sua empresa CH Decoração. Após pesquisas na internet, não encontraram
algo que os desabonasse. Combinaram de ver um orçamento e o réu compareceu,
no dia 26.01.2017, para realizar o orçamento, de acordo com a proposta intimista
da autora e propôs a decoração no valor de R$ 8.000,00 o qual contemplaria todo
o serviço de montagem e desmontagem de decoração, bem como a locação do
mobiliário e material completo para a consecução do evento, oportunidade em
que destacou sua experiência no mercado e disse que os noivos poderiam confiar
plenamente em seus serviços.

Em 27.01.2017, a sócia do réu encaminhou email


mencionando que saíra da empresa e, portanto, não participaria da decoração do
casamento, mas considerando a permanência do réu, a autora manteve o
https://pje.tjdft.jus.br/consultapublica/ConsultaPublica/Detal…77bb4fdaad7d2f7dd5d9543d82e6bb3dea6c924&idProcessoDoc=25163977 Página 1 de 12
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casamento, mas considerando a permanência do réu, a autora manteve o


contrato. Diz que em 11.05.2017 a autora desmarcou pacientes e agendou
reunião com o réu para elaboração do mapa de decoração e cronograma de
montagem, mas este não compareceu nem entrou em contato para justificar
ausência. Informou depois à cerimonialista que havia se esquecido da reunião.

Afirma que, então, foi marcada reunião para 16.05.2017, e o


réu além de atrasado, não levou sua via do contato, para discutirem. Além disso,
embora a autora e a cerimonialista tivessem insistido para elaboração do mapa e
cronograma, o réu se negou a fazê-lo, sob o argumento de que a decoração
seguiria um processo criativo e orgânico, bem como orientou que alguns móveis
e objetos da residência deveriam ser retirados, e procedeu como orientado. Conta
que, na manhã de 31.05.2017, a equipe da CH Decoração entregou parte do
mobiliário e algumas plantas, mas não retornou à tarde para levar o restante dos
itens como combinado, quando entrou em contato e o réu afirmou que a
decoração seria realizada no tempo da empresa e não no da autora. Argumenta
que ficou apreensiva ao saber que a CH Decoração tinha se comprometido com a
decoração de mais dois eventos no mesmo dia de sua festa e na véspera do
casamento não o réu não compareceu ao local do evento, nem enviou sua equipe
para dar início à montagem e decoração do evento. Aduz que ao entrar em
contato, o réu debochou da aflição da autora ao dizer que ela parecia uma “noiva
surtada” e afirmou que estaria no local, no dia do casamento, a partir das 9h da
manhã.

Relata que no dia do casamento, o réu e sua equipe chegaram


às 9h30, mas sem trazer o restante do mobiliário, e logo em seguida, foi embora.
Após breve arrumação a equipe ficou inerte aguardando o retorno e orientações
do réu, que retornou as 11h prometendo ao pai da noiva que retornaria às 13h30,
isso porque a autora fora ao salão às 13h. A equipe do réu ficou deitada no
gramado até 15h30, horário que o réu chegou trazendo parte dos arranjos de
flores. Às 16h30 todos foram embora sem sequer montar a mesa de bolo. Diante
disso, e visando a minimizar a negligência do réu, o pai da noiva e a
cerimonialista tiveram que realizar serviços de montagem de vários itens
deixados pela equipe do réu amontoados em locais inadequados, vez que prévia
das fotos teria início às 17h30. Nesse horário, a autora teve a surpresa de chegar
ao local e constatar que a decoração estava incompleta e totalmente divergente
do contratado, especialmente a mesa do bolo que nada tinha a ver com a mesa
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do contratado, especialmente a mesa do bolo que nada tinha a ver com a mesa
escolhida. Deparou-se, ainda, com seu pai tentando finalizar a organização do
local e executando serviços de responsabilidade do réu e de sua equipe. E,
quando, já iniciada a festa, às 18h30, com a maioria dos convidados presentes,
alguns funcionários chegaram trazendo a escada decorativa e as velas das
lanternas que decorariam a entrada dos noivos e, do mesmo modo, os familiares
tiveram que realizar a montagem, durante a festa.

No dia 06.06.2017, reconhecendo a má prestação de


serviços, o réu ofereceu como reparação, serviços de decoração para uma festa
com 50 convidados, caso ela desejasse realiza-la.

Discorre sobre o direito que entende aplicável e, ao final,


requer a condenação do réu a devolução dos valores pagos no importe de R$
8.000,00, ou subsidiariamente o valor de R$ 6.000,00 referentes ao
inadimplemento de 75% dos itens e serviços pactuados. Requer também
indenização por dano moral no montante de R$ 24.000,00 e a multa contratual
de 30% do valor do contrato. Junta procuração e documentos.

Citado por hora certa (id 12677673 e intimado 18935089), o


réu não apresentou contestação (id 15709996), razão pela qual seu processo foi
encaminhado à curadoria especial., que apresentou contestação por negativa
geral (id 19105517), alegando o adimplemento substancial do contrato e que a
situação não é suficiente para ensejar dano moral, bem como que o valor
requerido é exorbitante.

Réplica (id 21237979).

Audiência de instrução e julgamento realizada (id 2346966)


com alegações orais da autora.

Alegações finais da parte ré (id 23835920).

Vieram os autos conclusos para sentença.

É o relatório.

Passo a fundamentar e a decidir.

Cinge a controvérsia a identificar se houve a cumprimento


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Cinge a controvérsia a identificar se houve a cumprimento


do contrato de prestação de serviços de montagem e desmontagem de decoração
de festa de casamento e, em decorrência disso, se há dano moral indenizável.

Narra a autora, em sua petição inicial que contratou o réu


para realizar a montagem, desmontagem e decoração de sua festa de casamento.
Entretanto, o serviço realizado foi insuficiente em relação ao contratado,
gerando-lhe dano moral.

A ré defende que houve adimplemento substancial do


contrato, e que o ocorrido não é suficiente para ensejar reparação moral.

Necessário destacar que se está diante de uma relação de


consumo, porquanto no pólo ativo está pessoa física, presumidamente vulnerável
e hipossuficiente, como adquirente de prestação de serviços de decoração de
evento na qualidade de destinatária final assumindo, portanto, a figura de
consumidor descrita no art. 2º do Código de Defesa do Consumidor (CDC), ao
passo que no pólo passivo há pessoa física, prestadora do serviço mencionado,
atuando no mercado de consumo mediante contraprestação pecuniária
amildando-se à figura do fornecedor previsto no art. 3º da mesma Lei.

Assim, estando diante de uma relação de consumo, o ônus da


prova decorre da lei, isto é, é ope legis, sendo regra ordinária de distribuição do
ônus da prova, sendo que o réu só não será responsabilizado quando provar que
prestou o serviço sem defeito, ou a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro
(art. 14, § 3º, do CDC)

Pois bem.

As partes entabularam contrato para prestação de serviços de


montagem e desmontagem e fornecimento de equipamentos de decoração
relativo à festa de casamento da autora, conforme se verifica das cláusulas 2.1 e
2.2 do contrato de prestação de serviços (id 8681881). Entretanto, o réu deixou
de prestar vários serviços e de fornecer diversos equipamentos especialmente
contratados para o evento.

De se notar que, conforme prescrito na cláusula 2.3 do


contrato, a cor da decoração seria definida até a última reunião.

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Em audiência de instrução e julgamento verificou-se que


alguns detalhes da festa foram acertados de forma verbal, mas que houve parcial
cumprimento do contrato. Alguns dos produtos foram entregues com
antecedência, outros ainda durante a realização do evento, conforme se
comprova pelas fotos coligidas no id 8681888 – pág. 6

Ademais, algumas áreas do evento ficaram sem a decoração


pactuada, conforme id 8681888 – pág 4.

Nada obstante, alguns detalhes tenham sido acertados de


forma verbal, como a cor de toalha e de flores, o simples fato de não se ter
aditivo contratual não é suficiente para afastar a responsabilidade do réu, uma
vez que caberia a este demonstrar que houve solicitação em sentido contrário.
Não é a autora, que nunca realizou um casamento, que estando diante de uma
empresa e de um empresário com “ampla” experiência no mercado que deve se
atentar para a necessidade de catalogar os detalhes, formulando aditamento
contratual, notadamente diante da dificuldade relatada até mesmo para se ter
reunião com o fornecedor. Era dever do fornecedor catalogar o que estava
entregando, até mesmo para que, se houvesse reclamação ou divergência no
momento da retirada, pudesse registrar e reclamar a devida indenização casou
houvesse extravio.

Assim, os contratantes devem tanto na elaboração, como na


execução do contrato guardar os preceitos de probidade e boa-fé, sendo certo que
a autora demonstra as inúmeras falhas na prestação de serviço, entre elas a
própria mesa do bolo, em que se verifica substancial disparidade entre o
contratado e o entregue (id 8681875 – pág. 11).

Desse modo, caberia ao réu demonstrar detalhadamente o


quanto de seu serviço foi realizado, e não à autora demonstrar o quanto faltou
para ser feito. A autora comprovou inúmeras falhas na prestação do serviço,
demonstrando, portanto, fato constitutivo do seu direito. Ao réu cumpre
demonstrar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da autora (art.
373, inciso II, do CPC, qual seja, que cumpriu com todo o serviço ou qual
parcela dele foi efetivamente executada. Entretanto, sequer demonstrou o quando
do seu trabalho se realizou. Tal prova é inerente ao dever de demonstração dos
serviços prestados pelo réu, cabendo à autora demonstrar o que foi contratado.
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serviços prestados pelo réu, cabendo à autora demonstrar o que foi contratado.
Logo, não se está a falar em inversão do ônus da prova, mas em distribuição
estática, conforme previsto no Código de Ritos.

De outro lado, não há que se apegar no argumento da


cerimonialista no sentido de que alterou toda a decoração da autora. Tal fato é
insignificante para o deslinde da controvérsia. Houvesse o réu prestado
efetivamente o serviço, realizando a montagem e fornecimento de todos os
produtos contratados, na forma estabelecida no contrato que qualquer situação
seria facilmente afastada.

Entretanto, o réu, para além de entregar produtos em


quantidade insuficiente, não realizou a montagem em sua plenitude, como ficou
evidenciado que, o pai da autora é que realizou parte da montagem, não sendo
ele especialista, por certo não sairia como contratado e nem era exigível que
saísse, justamente porque era dever do réu a entrega do ambiente, efetivamente
montado e decorado a tempo e a hora do evento. Todavia, conforme se viu,
durante o decorrer da festa ainda alguns equipamentos estavam sendo entregues
e montados e, mesmo assim, não o foi em sua plenitude.

Não sendo possível aferir, porque o réu não trouxe aos autos
comprovante do que realizado, e considerando as inúmeras falhas relatadas pela
autora, tenho que o adimplemento ocorreu em metade do que efetivamente
realizado. Desse modo, inviável o pedido da autora de restituição integral dos
valores, porquanto, parcela do que foi contratado foi entregue. Ainda que não
tenha sido nos moldes contratados, não há que se falar em inadimplemento total,
mas parcial.

Por outro lado, também é inviável a aplicação da teoria do


adimplemento substancial.

Tal teoria tem origem no direito inglês e visa superar os


exageros do formalismo exacerbado na execução dos contratos. Isso porque, a
partir do adimplemento de uma parcela expressiva do contrato, o pedido de
rescisão pode ser indeferido pelo Julgador, prestigiando-se o princípio da boa-fé
objetiva, a função social do contrato, bem como a proporcionalidade.

Assim, com vistas à preservação da relevância social do


contrato e da boa-fé e desde que a resolução do pacto não responda
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contrato e da boa-fé e desde que a resolução do pacto não responda


satisfatoriamente a esses princípios a insuficiência obrigacional poderá ser
relativizada e o contrato mantido, ainda que o desejo de uma das partes seja de
rescisão do contrato. Essa situação se dá notadamente quando parcela pequena
da obrigação pactuada está pendente de cumprimento.

Todavia, descabe nos autos o reconhecimento de aplicação


da referida teoria, notadamente porque não demonstrou o réu o que foi
efetivamente cumprido. A própria defesa que faz em memoriais diz não ser
possível mensurar afirmar que as flores não foram entregues, e que restou
dificultada a compreensão em relação à extensão do suposto inadimplemento.

A comprovação do adimplemento substancial do contrato


cabe a que o alega e o réu não se desincumbiu de tal ônus.

Assim, considerando o coligido aos autos e amparado num


juízo de proporcionalidade de razoabilidade, entendo que houve inadimplemento
de metade das obrigações contratuais.

Verifica-se que a cláusula 7.2 estabelece que

Em caso de rescisão ou inadimplência por parte da


CONTRATADA acarretará também uma multa de 30%
do valor do contrato e a devolução dos valores já
pagos.

Nesse sentido, a cláusula que prevê a devolução dos valores


já pagos deve ser interpretada com base no princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade, sob pena de se permitir o enriquecimento ilícito.

De se notar que houve parcela do serviço que foi prestada.


Permitir a devolução integral, seria também permitir que a autora utilizasse os
equipamentos do réu sem qualquer contraprestação, o que não é admissível. Se
houve falha na prestação de serviços, este deve ser sancionado na rubrica
própria. Nesse sentir, considerando que entendi que metade do contrato foi
cumprido, de acordo com a fundamentação supra, os valores pagos deverão ser
restituídos em 50% (cinquenta por cento), com fundamento na cláusula 7.2 do
contrato.

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Também em relação à multa por inadimplemento, esta incide


totalmente como previsto em contrato, porquanto o inadimplemento ocorreu,
sendo que o sopesamento já se fez em relação ao quantum a ser ressarcido.
Nesse sentido, portanto, procedente o pedido de incidência da multa de 30%
(trinta por cento) sobre o valor total do contrato.

Em relação ao pedido de compensação pecuniária por danos


morais, o art. 186 do Código Civil estabelece que aquele que por ação ou
omissão voluntária viola direito e causa dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito. A seu turno, o art. 927 do mesmo
Diploma Legal estabelece que aquele que causa dano a outrem pela prática de
ato ilícito fica obrigado a repará-lo.

Não obstante as discussões doutrinárias acerca da


abrangência do dano moral, há que se reconhecer a predominância do moderno
posicionamento jurisprudencial que o limita a determinada categoria de
interesses ou direitos.

Com efeito, abandonou-se o conceito excludente de dano


moral, em que se enquadrava todo e qualquer prejuízo extrapatrimonial, para
restringi-lo às formas de lesão aos direitos da personalidade, paralelamente a
outras modalidades de danos recentemente abraçadas pela doutrina e Tribunais
do Brasil, a exemplo do dano estético, dano sexual e perda de uma chance.

Destarte, à luz do inciso X do art. 5º da CF/1988, revela-se


mais adequada a definição de dano moral que busca restringi-lo às lesões
dirigidas aos espectros da personalidade, quais sejam: honra, intimidade,
imagem, integridade física e corpo morto.

Portanto, nem toda dor ou sofrimento constitui dano moral,


nem enseja reparação correspondente, mas somente os que derivam de ato
atentatório à dignidade humana.

Vale esclarecer, portanto, que o dano moral à pessoa natural,


consiste em lesões sofridas em certos aspectos da sua personalidade, em razão de
investidas injustas de outrem. É aquele que atinge a moralidade e a afetividade
da pessoa, causando-lhe verdadeiras sensações negativas em relação à sua
personalidade.
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personalidade.

Entretanto, em alguns casos, dispensa-se a demonstração do


dano de forma individualizada porque este é presumido, isto é, in re ipsa.

No caso em apreço, verificou-se que a autora contratou o réu


para decoração de sua festa de casamento.

Nada obstante na atualidade haja o fenômeno de que os


relacionamentos, mesmo do tipo casamento, têm se tornado cada vez mais
efêmeros, a ideia que ainda persiste é que ao se dar e se receber alguém em
casamento a pretensão é que este seja para toda a vida e, por assim ser, a data
reveste-se de todo um ritual, de toda uma expectativa, tanto dos nubentes como
da família, num desejo que seja perene e, portanto, que ocorra uma única vez na
vida da pessoa.

Desse modo, a data é especial e tudo é planejado com grande


antecedência, desde o local, até a música, passando pelo vestido, o paletó, o local
das congratulações e como tal local estará adornado e decorado, de modo a
tornar o momento especial e inesquecível.

Não por outro motivo, para um casamento que ocorreria em


junho, o contrato foi firmado em janeiro de 2017, de modo que os noivos e
familiares tinham legítima expectativa de que nada pudesse falhar para que
aquele momento fosse mágico e lindo. Motivo de satisfação para todos os
participantes como para convidados.

Nada obstante, o réu, como sinalizara em várias situações


anteriores, tornou o momento, que deveria ser de alegria, em consternação, como
se pode nitidamente verificar da foto coligida pela autora no id 8681888 – pág. 5.
Tal fato, para além de um mero aborrecimento cotidiano, macula a imagem da
autora perante seus convidados, passando a eles a sensação de desorganização,
como também no seu íntimo tem o abalo psicilógico, pois todo esforço
empreendido ao longo de seis meses foram insuficientes para lhe garantir a
tranquilidade de uma festa deslumbrante, e isso por ato ilícito causado pelo réu,
qual seja, de não prestar o serviço contratado nos moldes previstos no
instrumento contratual.

Tal fato, portanto, a meu juízo, é clarividente como ensejador


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Tal fato, portanto, a meu juízo, é clarividente como ensejador


de reparação moral, e não mero dissabor.

Assim, procedente é o pedido de compensação pecuniária


por dano moral.

Em relação ao quantum compensatório, a legislação não traz


qualquer critério par fins de fixação, mas apenas diz que a indenização mede-se
pela extensão do dano (art. 944 do CC). Lado outro, a jurisprudência tem
entendimento consolidado no sentido de que, para fins de arbitramento do valor
de dano moral, há que considerar a situação financeira da vítima e do autor, para
que a compensação não signifique enriquecimento indevido a quem recebe e
prejuízo desarrazoado ao ofensor. Deve-se ser verificado, o impacto que a lesão
ao direito da personalidade gerou na socieade, e o caráter punitivo-pedagógico
para evitar reiterações de condutas desse tipo.

Nesse sentido, verifica-se que a autora e dentista, residindo


em bairro nobre de Brasília, não havendo informações precisas sobre seus
rendimentos. O réu, a seu turno, é pessoa física autônoma, prestadora de
serviços, que, conforme alegado, em um único dia, atendia três festas distintas.
Tomando por base o contrato da autora, verifica-se que, num único dia de
trabalho, pode ter auferido mais de R$ 24.000 reais. A situação é particularmente
importante, porque como se disse, a festa de casamento, em regra, é para
acontecer somente uma vez, não tendo como retornar aquele momento ou se
realizar em momento posterior. Também a exposição do nome e da imagem da
autora foi maculada perante vários convidados da festa.

Assim, tenho que o valor correspondente à metade do que


auferiu naquele dia de trabalho apresenta-se como razoável e adequado para
exercer o caráter punitivo pedagógico da reprimenda, bem como para sancionar
a conduta lesiva do réu, considerando os aspectos acima sobreditos. Assim,
entendo devido o importe de R$ 12.000,00 (doze mil reais) a título de
compensação pecuniária por danos morais.

Ante o exposto, resolvo o mérito, nos termos do art. 487,


inciso I, do CPC e JULGO PROCEDENTE EM PARTE os pedidos, para
condenar ao réu a pagar a autora o importe de: a) 4.000,00 (quatro mil reais) a
título de ressarcimento parcial dos valores recebidos para a prestação de serviços
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título de ressarcimento parcial dos valores recebidos para a prestação de serviços


de fornecimento, montagem e desmontagem de decoração de casamento,
devidamente corrigidos pela tabela do TJDFT desde a data do evento,
03.06.2017, e acrescidos de juros de 1% (um por cento) ao mês desde a citação;
b) 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais) a título de multa por inadimplemento
contratual, corrigidos pela tabela do TJDFT e acrescidos de juros de 1% (um por
cento) ao mês, ambos a partir da citação; c) 12.000 (doze mil reais) a título de
compensação pecuniária por danos morais, devidamente corrigidos e acrescidos
de juros de 1% (um por cento) ao mês, a partir da publicação desta sentença.

Em razão da sucumbência recíproca, porém mínima da


autora, notadamente porque somente em relação aos valores pretendidos, custas
e honorários pelo réu, estes fixados em 10% (dez por cento) do valor da
condenação, nos termos do ar. 85, § 2º, do CPC. Não há que se falar em
gratuidade de Justiça e suspensão de exigibilidade, porquanto a defesa
patrocinada pela Defensoria Pública na qualidade de Curadora Especial não se
confunde com a defesa de hipossuficientes.

Após o trânsito em julgado, intime a autora para dizer se


pretende o cumprimento de sentença, na forma do art. 513 do CPC. Em seguida,
baixem os autos e arquivem-se.

Sentença publicada e registrada eletronicamente. Intimem-


se.

BRASÍLIA, DF, 12 de novembro de 2018 15:33:29.

REDIVALDO DIAS BARBOSA


Juiz de Direito Substituto
Assinado eletronicamente por: REDIVALDO DIAS BARBOSA
12/11/2018 19:03:24
https://pje.tjdft.jus.br:443/consultapublica/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
ID do documento: 25163977

181112190324644000000241
IMPRIMIR GERAR PDF

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