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O que são Garantias de Segurança, “pacta sunt

servanda”
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22 de março de 2022

Há muito não se observava uma guerra em continente europeu, mas a atual invasão russa na Ucrânia trouxe
uma nova apreensão ao mundo, não só porque a Europa é historicamente importante para a formação de grande
parte do planeta, mas também porque é a desestabilização em um terreno considerado de “primeiro mundo”. Ela
parece acender um alerta, já que os conflitos atuais permaneciam longe das civilizações “mais urbanizadas” do
mundo ocidental, e levava a uma sensação de “paz”, onde toda a estrutura social se encontrava estabilizada e
aparentemente em um caminho seguro.

O despertar para um conflito tão perto desse hemisfério desenvolvido trouxe à tona diversos questionamentos,
um deles sobre: O que a Rússia quer com a Ucrânia?

Responder essa pergunta ainda é uma tarefa complicada, e antes de adentrar nas garantias de segurança que
Vladimir Putin tanto fala, — elas serão vistas no artigo: “O que Putin quer?” — é preciso entender o que de
fato seriam essas tais garantias de segurança.

Pacta Sunt Servanda, não só faz parte do título desse artigo como é um termo latim, que pode nos dar pistas
sobre o que são garantias de segurança. Ele em tradução livre ficaria: “os pactos devem ser cumpridos”,
representando um princípio da “força obrigatória dos contratos”, ou seja, se as partes estão de acordo e
desejam se submeter as regras estabelecidas por elas próprias, o contrato então obriga seu cumprimento como
uma lei. Essa expressão é bastante conhecida no direito contratual, visto que os contratos possuem ampla
relevância social.

Como podemos notar, para se existir um cumprimento de contrato, é necessário que todas as partes estejam de
acordo, elas estando de acordo então surgiria a obrigação do comprimento das regras que ambos acordaram.
Mas a história recente não sugere acordos mútuos, portanto, promessas, compromissos e princípios têm sido
violados, levando a uma falta de garantia de segurança e a quebra do pacta sunt servanda.

O que são as tais garantias de segurança?

Segundo a cientista política americana, Barbara Walter, conhecida por seu trabalho na teoria da barganha e na
violência política, especialmente no início e resolução de uma guerra civil, garantias de segurança são “uma
promessa implícita ou explícita dada por um poder externo para proteger os adversários
durante o período de implementação do tratado”, garantindo assim, o não uso de armas específicas ou
outros instrumentos destrutivos.

As garantias de segurança seriam então garantias que buscariam reduzir tensões, já que a desconfiança
mútua é uma das principais causas para se iniciar ou agravar um conflito. Para se buscar a “paz” é necessário
que os principais obstáculos sejam abordados, logo, as garantias de segurança precisam ser projetadas lidando

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com esses medos, para buscar uma estabilidade e permitir negociações produtivas. Para a criação de um
ambiente político seguro, ambos os países precisam então estar de acordo com as garantias propostas e entender
o porquê dessas garantias fazerem sentido para um lado e o porquê deixariam esse ou outro lado se sentindo
protegido.

Agradar duas ou mais partes não parece tarefa fácil, já que como vimos, a ausência de confiança leva a muita
desconfiança, e uma série de pequenos passos terão que ser dados tentando demonstrar boa fé.

Os Estados são livres para escolher ou alterar quaisquer disposições de segurança, entretanto devem ser
pensados de forma que prejudique a segurança dos outros. Isso representa uma contradição tremenda, já que
uma das principais razões do Estado buscar segurança é a sua sensação de falta de segurança. Acordos e
tratados são dispositivos feitos buscando diminuir essa desconfiança e medo, mas isso não cria
instantaneamente uma confiança, precisando de um reforço constante de que o que foi acordado será cumprido
e será forte o suficiente para garantir que a desconfiança não mais ocorra entre as partes.

Garantias de segurança para a construção de um ambiente seguro

Observamos que as garantias de segurança seriam medidas, propostas e tentativas de amenizar as tensões
provocadas pela desconfiança e medo que algum poder externo está causando em relação ao outro.

“A urgência dos líderes políticos em tomar decisões impede que os negociadores tenham tempo
para explorar plenamente todas as ideias.”

Kevin Ryan

Em situações em que ocorrem guerras ou conflitos interestatais, essas ferramentas são cada vez mais
combinadas para mitigar as diferenças e pressionar as partes em conflito a encontrar uma solução. As garantias
de segurança podem levar à implementação bem-sucedida dos acordos. Sem essa assistência externa, os
“adversários” temerão o desconhecido e permanecerão céticos quanto às intenções de seu oponente. Essas
ameaças potencialmente desestabilizadoras à segurança podem fazer com que o processo falhe caso qualquer um
dos lados aja de acordo com seus medos, sejam eles percebidos ou concretos.

Portanto para se chegar à um acordo de paz, é necessário que antes as garantias de segurança sejam aceitas pelas
partes, sem isso, um acordo de paz está fadado ao fracasso.

Fontes de consulta: Security and Human Rights Monitor, European Leadership Network, Beyond Intractability

By Barbara Martinelli

Formada em Administração e mestranda de Política Internacional pela PUC Rio.


Especializada em resolução de conflitos mundiais e geopolítica. Colunista freelancer para
o site Hoje no Mundo Militar.

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