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Direito Administrativo II vasco@ucp.

pt
Professor Doutor Vasco Pereira da Silva

“Em busca do ato administrativo perdido”

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Tema I

A Infância difícil do direito administrativo e os


seus traumas.

O direito administrativo teve uma infância difícil, o que gerou traumas para uma vida inteira. E
esses traumas fruto dessa infância difícil podem se manifestar:

- Em situações patológicas, situações de esquizofrenia (casos mais graves, e o Direito


administrativo vai ter muitas situações do passado, com influencia no presente de
esquizofrenia, por exemplo no domínio dos contratos públicos ou no domínio da
responsabilidade administrativa  que ainda hoje é largamente esquizofrénico.

-haverá outras situações próximas de Histeria, por exemplo com a noção de ato
administrativo, e a sua noção autoritária que fazem lembrar sintomas de histeria.

- Outras situações de psicose ….

Mas se há estas situações patológicas no passado, que resultam deste trauma da infância difícil
que se perlongam no tempo e chegam aos dias de hoje, a realidade hoje é diferente, e
poderemos dizer que os problemas do direito administrativo têm que ver com aquilo que o
Doutor Freud chama “a psicopatologia da vida quotidiana”, um dos últimos livros do Dr.Freud,
em que fala dos pequenos problemas que toda a gente tem. Portanto, aqueles que já não têm
doenças patológicas graves mas que no quadro da sua vida diária cometem atos falhados, têm
esquecimento, tem atitudes que não são explicáveis …  e a explicação é a inconsciência,
mesmo que do ponto de vista consciente tudo esteja normal.

E portanto, olhando para o Direito Administrativo, o professor diz que estamos nesta situação:
Já não há patologias graves, estas foram superadas, as ultimas em Portugal (as mais graves),
com a reforma do direito contencioso administrativo de 2002/2004.

Depois há pequenas questões que não estão inteiramente resolvidas, mas já não têm a mesma
importância das anteriores, e há esta situação da psicopatia da vida quotidiana, de
acontecimentos do dia a dia, cujo compreensão só é compreensível em razão desta dimensão
histórica. Portanto, é preciso fazer um esforço de psicanálise cultural: é preciso ver como
nasceu e quais os traumas da infância difícil do direito administrativo, e é preciso viver com os
nossos traumas. No fundo, o que o Dr. Freud nos ensinou é que todos nós temos traumas e
todos nós temos de aprender a viver com eles, de uma forma que não seja patológica, que não
crie doenças psiquiátricas, mas que nos ajude a sermos capazes de viver connosco próprios.
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Olhando, portanto, para o direito administrativo, com a ajuda do Dr. Freud que nos
acompanhará, procuremos ver quais foram os principais traumas dessa situação difícil:

Há dois traumas fundamentais que geraram problemas que chegam aos nosso dia:

1º o primeiro tem que ver com as circunstâncias do seu nascimento, no quadro da revolução
francesa. Em frança, antes do direito administrativo propriamente dito, surgiram os tribunais
administrativos - os órgãos encarregados de controlar a administração e diz-se que o direito
administrativo francês teve, por causa disso, uma dimensão jurisprudencial, ou seja foi muito
influenciado pela jurisprudência - algo que nós desde logo não relacionamos muito bem com
frança, sendo que essa construções jurisdicionais são mais do domínio anglo-saxónico da
Inglaterra – mas curiosamente diz-se que há, no domínio do direito administrativo ( esta
dimensão judicial do direito francês, que resulta do surgimento do contencioso administrativo
antes do direito administrativo, e serem os “tribunais administrativos” a contribuir para a
construção do direito administração e a darem origem a este novo direito administrativo. O
professor Freitas do Amaral, por exemplo, nas sua lições, enfatiza bem esta dimensão judicial.
O professor Vasco diz ainda que essa influência que se verifica sobretudo no sistema de matriz
do sistema franco-Germânico, que inclui também a realidade portuguesa que copiou o modelo
francês. (EÇA DIZIA que Portugal copiava normalmente o que vinha de frança em calão  e
essa frase também se pode enquadrar bem para a lógica do séc. 18 e séc.19 em que esta
influência administrativa foi manifestamente visível).

Mas para além de frança, esta tal dimensão criadora de jurisprudência não existiu em mais
nenhum lugar. Em Portugal, em Itália, em Espanha  Foi a Lei, foi o Legislador que construiu o
direito administrativo. Em relação à frança podemos dizer que, de alguma maneira, o
legislador seguiu a jurisprudência, e que ainda hoje é muito influenciado pela jurisprudência,
porque efetivamente no quadro francês, a secção contenciosa do conselho de estado, ainda
hoje tem um peso no domínio do Direito Administrativo.

Mas o grande trauma aqui está no modo como estes tribunais foram concebidos, e do modo
como atuaram durante séculos. É que os revolucionários franceses pretendiam, e era um
objetivo principal da construção do estado liberal, instaurar um modelo de organização
política, assente na separação de poderes. Os poderes eram autónomos e independentes,
resultado dos princípios fundamentais: de Locke e de Montesquieu, que foram os
teorizadores, as mães.

O atual modelo de estado liberal do século 19, tem dois pais e duas mães:

-Tem dois pais: Hobbes e Rousseau (elemento democrático embora não liberal, portanto, mas
viril do modelo de estado, o estado que se baseava na vontade das pessoas mas depois era
totalitário (Rosseau) e autoritário (Hobbes);

-E duas mães: Locke e Montesquieu, com a ideia de separação de poderes e dos direitos
individuais. produziram um momento mais liberal do modelo de estado.
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O que é curioso na revolução francesa é que os liberais desde o primeiro momento dizem que
querem um novo modelo de estado assente na separação de poderes. Mas isso de quererem
um novo modelo de estado assente na separação de poderes, e que é afirmado à exaustão, e é
consagrado na constituição logo em 1789, não corresponde aquilo que se vai instaurar no
quadro do controlo da administração, porque aquilo que os revolucionários franceses vão
fazer, é considerar que julgar a administração é ainda administrar, em vez de considerarem
que julgar a administração é julgar. E ao fazerem isto, os franceses vão retirar a Justiça
administrativa do poder judicial e vão atribuir essa tarefa à própria Administração Pública,
concebendo o controle da administração, como uma espécie de “introspeção
Administração” (a expressão é de Mourri sourriu… um dos pais do Contencioso do direito
administrativo. E este diz que julgar a administração é um exercício de introspeção
administrativa: a Administração vira-se para dentro e vai ver o que fez mal. E, portanto, é a
ideia de um autocontrole. O que significava que se o que estava instaurar, naquilo a que o
professor chama de “o pecado original da justiça Administrativa”, é a confusão total, citando o
autor DEBBASCH, que diz que no primeiro momento há uma confusão total entre administrar
e julgar. E esta confusão resulta do facto de o controle da administração ser atribuído à
administração. Portanto, há aqui este primeiro trauma que vai originar tudo o resto. Porque
por um lado:

afirma-se à exaustão a separação de poder; e por outro lado,

aquilo que se instaura é o contrário disto. É sim a promiscuidade entre administração e


Justiça. Esta confusão, o “pecado original do direito administrativo” como diz o professor,
metaforicamente, é o primeiro trauma profundo do Direito Administrativo, porque isso
significa que o julgamento da administração é feito não por um terceiro, ou por uma entidade
autónoma independente, mas antes pela própria administração que se julga a si mesmo, em
causa própria. É a negação de um princípio essencial do Liberalismo, feito pelos Liberais. É,
usando nomenclatura freudiana, uma chamada “declaração de cobertura” porque o paciente
nunca reconhece o que é que se passou.

Como diz Freud o paciente chega à análise, com um/vários trauma(s) profundo(s), numa
situação já talvez psicótica, E perguntam-lhe o que é que aconteceu? E aquilo que ele diz não é
o corresponde à realidade, mas o que ele penso sim ter-lhe acontecido. E é preciso muita
psicanálise para perceber que por trás daquela declaração de cobertura, stá uma realidade ao
nível do inconsciente, que é o oposto, que é aquilo que realmente se passou, e que é tão
traumático que ele(o paciente) não sabe viver com ela. E, portanto, este embeleza a realidade,
contando uma outra coisa que não a REALIDADE Ora é isto que faz o direito administrativo. Diz
que está a realizar a separação de poderes, de tal maneira enfático que os autores franceses
no nosso século, nos dias de Hoje, ainda dizem que há uma versão francesa da separação de
poderes, para esconderem o que há, que é o contrário da separação de poderes. Hoje, se
pegarmos nos manuais mais tradicionais do Direito Francês, os mais clássicos, obras dos
autores já da outra geração, mas que ainda continuam a escrever, encontraremos esta ideia da
versão francesa do contencioso Administrativo é a de um juiz administrativo, que é a própria
administração, que é controlado pela própria administração.

Diremos, nós alunos, que isso é uma coisa do passado, isso é uma coisa que nos dias de hoje já
não existe. Contudo o professor discorda, e diz que não tem tanta certeza que se possa dizer
isso, porque o que se passou, olhando para o modelo francês e para o modelo português que
foi muito francês, ao contrario, portanto, do modelo alemão, italiano, espanhol que se
libertaram desta lógica e criaram tribunais autónomos independentes, com estrato social nos
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finais do século 19 princípio do século 20, foi França e Portugal manterem até há muito pouco
tempo resquícios deste trauma originário de uma administração que se autocontrola.

A solução encontrada em França no período do “pecado original”, o período que corresponde


aos finais do século 18 e inícios do séc. 19, foi o chamado período do administrador-juiz, em
que o administrador era juiz, e o Juiz era administrador na lógica da confusão, sendo esta a
expressão tradicional dos livros franceses e também a usada pelos professores Marcelo
Caetano, Freitas do Amaral.

O professor Vasco Pereira da Silva vem, para além disso, dizer que é o período do pecado

Ora, esta fase do Administrador-Juiz vai levar à criação de um órgão administrativo mais ou
menos independente, não o Tribunal porque estamos a falar de um órgão administrativo, que
é: o Conselho de Estado. E ainda hoje é o Conselho de Estado que julga a Administração ao
mais ao mais alto nível. Só que Hoje o Conselho de Estado ( no Pallet Royalle) está desdobrado
em 2. Hoje, são 2 órgãos autónomos: um órgão administrativo de um lado; e um órgão
contencioso do outro; não havendo nenhuma comunicação entre os dois. Um órgão pertence
ao poder Judicial (o órgão contencioso), o outro pertence ao poder administrativo (o órgão
admnistrativo). O Conselho de Estado tem do lado direito a secção administrativa, onde estão
os funcionários da administração, e do lado esquerdo a secção contenciosa em que estão os
tribunais; de um lado estão juízes, do outro lado estão entidades administrativas. Mas
inicialmente não era assim. inicialmente eram só.

Portanto, ISTO é uma boa metáfora, haver um só edifício, mas com órgãos distintos, ainda que
tenham um nome similar: o de Conselho. E, portanto, ISTO mostra como esta realidade
francesa chegou quase aos nossos dias. Em rigor, ela desapareceu integralmente em 1989. Aí
desapareceu integralmente, muito próximo já do século 21.

Só em 1989, o Conselho Constitucional reconhece pela primeira vez a natureza plenamente


judicial da secção contenciosa do Conselho de Estado. Em 1980 há uma primeira sentença a
dizer que realmente tem natureza judicial, e há depois em 1989 uma sentença que diz que não
só tem natureza, como tem um direito, e os particulares têm direito à justiça administrativa.
Havendo com isso, portanto, uma rotura, que se inica no anos 80 mas tendo durado até essa
altura  O que significa que este trauma é tão profundo, que chega aos nossos dias.

Com efeito, em Portugal, apesar de os órgãos encarregados de controlar a administração já se


chamarem tribunais, desde os finais do século 19 princípios do século 20, até 1976 esses
tribunais eram órgãos do poder administrativo, e os tribunais administrativos estavam
integrados na Presidência do Conselho de Ministros. Eram um organismo autónomo da
Presidência do Conselho, o que significa que o superior hierárquico dos juízes era o primeiro-
ministro, e era o primeiro-ministro - ou quem este atribuía tais funções- que decidia das
carreiras dos juízes, que decidia das férias e das faltas dos processos disciplinares, ou seja,
todas as questões de ordem burocrática. E, portanto, o Supremo Tribunal Administrativo, pelo
menos até 76, não era um órgão plenamente jurisdicional: Era antes um órgão meio
administrativo meio jurisdicional(porque apesar de tudo emitia sentenças, ainda que estas
não tivessem força coerciva), não era integralmente jurisdicional.

E para além disso também no quadro do direito português, não havia e não vai haver antes de
1977, uma forma de obrigar a Administração a cumprir as sentenças dos tribunais
Administrativos. A administração cumpria se quisesse. Não cumpria, se não quisesse. Dizia o
Professor Marcelo Caetano que a questão era de processo administrativo “gracioso”. Era uma
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questão de procedimento administrativo, diríamos hoje, mas a expressão “gracioso” permite


fazer a ironia de que se a administração estava de acordo com os tribunais: cumpria, se a
administração não estava de acordo com os tribunais administrativos: a administração fazia
uma gracinha, e não cumpria e não havia forma de obrigar a cumprir. portanto não havia
coercibilidade por parte dos tribunais administrativos

Isto até 1976. E se 76 significou uma rutura porque a Constituição passou a prever a natureza
jurisdicional dos tribunais administrativos, mesmo assim, de 1976 a 1982 era uma mera
hipótese, dizendo a constituição “Se HOUVER tribunais administrativos, eles integrar-se-ão no
poder judicial” não sendo uma opção definitiva e clara pela justiça administrativa, era apenas
“se houver”. Se existir ou se continuar a existir, o contencioso administrativo, ele é
jurisdicional, são verdadeiros tribunais,

E portanto tendo sido preciso esperar por 1982 e por 1989 para que a própria constituição
alterasse essa realidade e criasse essa justiça administrativa.

Assim, o supremo tribunal administrativo era um órgão administrativo, e integrava-se no


conselho de ministros; as decisões dos tribunais administrativos não era suscetível de
execução jurisdicional

De resto a necessidade da execução das sentenças dos tribunais administrativas para


assegurar a sua natureza jurisdicional, foi uma questão muito discutida em Portugal no anos 60
e anos 70, e é o Tema da tese de doutoramento do Freitas do amaral, que é sobre a execução
das sentenças dos tribunais administrativos, a que o freitas do amaral vem dizer, e bem , que
enquanto não houvesse um processo de execução das sentenças, não se poderia considerar
que estávamos perante um verdadeiro e próprio tribunal. Mas a questão não morreu aqui.
Apesar de a reforma de 85 em Portugal já ter mudado muito da realidade do contencioso
administrativo porque o juiz-administrativo, desde 76 até 2004, não era um juiz igual aos
outros. O juiz administrativo não podia condenar, nem dar ordens à administração, no domínio
dos atos administrativos e legisladores, ou seja, em relação ao essencial do direito
administrativo. Ele podia anular sim as decisões, mas não podia condenar nem dar ordens.
Embora, no domínio dos contratos e no domínio da responsabilidade civil, havia poderes
condenação, mas no domínio essencial dos atos e regulamentos O juiz estava limitado à
anulação dos seus poderes e foi preciso esperar pela reforma de 2004 para que o juiz
administrativo( Não confundir com o administrador-juiz) se transformasse num juiz igual aos
outros. E é precisamente 2004 que marca a rotura com o passado e marca o momento de
passar a existir um contencioso administrativo, e dos casos serem julgados como nos
verdadeiros tribunais. No fundo de passar a haver uma lógica igual à do processo civil, e
processo penal…. em que os tribunais existem para resolver os litígios que existem entre os
particulares e entre a administração, no exercício das funções Administrativas. É assim que
este trauma chega aos nossos dias

E quando estudarmos contencioso administrativo, veremos que mesmo com esta rutura de
2004, ainda alguns elementos do regime jurídico dos tribunais administrativos, que tem a ver
com esta situação anterior a 2004. E, apesar de as coisas terem mudado muito, há ainda
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alguns mecanismos, nomeadamente aqueles de natureza condenatória que os particulares


não usam como deviam, os juízes também se limitam no quadro da sua atuação, porque o
princípio do funcionamento do poder judicial é que os juízes fiquem à espera que lhe tragam
os pedidos. Se o particular não pedir a condenação, não é o juiz que vai dizer, (pois não pode
condenar por sua iniciativa, de acordo com a regra do principio do pedido, os tribunais são
passivo,) Portanto, em muitos casos, os particulares ainda se inibem de pedir a condenação da
administração e o juiz também se acaba por autolimita nos seus poderes, na medida em que
em alguns casos não diz que o pedido está se quer errado, e nem sempre o faz.

E, portanto, estão a ver que este trauma, traumas de origem é um trauma que não se resolve
de um dia para o outro,

Olhando para este trauma e para a situação da justiça administrativa:

1º fase da justiça administrativa que é fase do “pecado original” Ou do sistema do


administrador- juiz, nos finais do século 18, inícios do séc. 19. Período em que há esta
confusão, uma promiscuidade, entre administrar e julgar. É claro que esta confusão não foi
sempre igual. temos 3 momentos no quadro da evolução deste sistema.

1º momento: Vai de 1789 a 1799 E é o sistema da justiça reservada.  o que estava aqui em
causa era que Julgar é uma reserva da Administração E aqui não havia sequer qualquer
distinção entre quem atuava, quem julgava. Era órgão administrativo que tinha exercido o
poder que se julgava assim mesmo. O particular queixava-se, fazendo uma reclamação, e o
órgão julgava se a si mesmo podendo-se recorrer ao superior hierárquico, não se recorria,
portanto, a nenhuma entidade exterior à administração. Era a fase da tal promiscuidade, da
confusão total, como dizia DEBBASCHE, entre o tribunal e a administração pública.

2º fase: Depois, há um segundo período que vai de 1799 a 1872. E este período é o período
marcado pelo surgimento do conselho de Estado. O órgão administrativo, mas um órgão
administrativo especial, Autónomo, Independente, que não estava na cadeia decisória.

E este este conselho de Estado em França é conseguido, nas palavras de Napoleão Bonaparte,
como um “CORPO meio administrativo, meio judiciário ”.Pois era uma realidade que tinha
uma componente administrativa, pois era ele que dava conselhos de administração, era o
consultor geral da administração pública: administração tinha algum problema, recorria ao
Conselho de Estado, tendo portanto, o Conselho de estado aqui uma função jurídica
importante de unificação da realidade administrativa francesa e também da melhoria da
qualidade; Mas simultaneamente – dizia napoleão- que este órgão podia ter também uma
COMPONENTE judiciAL, porque ao estar mais afastado dos problemas, este conselho, este
órgão, estava em condições de proceder a uma lógica de um julgamento, mais isento da
atividade administrativo, mas ainda era um órgão do poder administrativo, e portanto aqui
ainda vigora o sistema da justiça reservada, sendo inclusive, mais adequado este segundo
período. E porque sistema da justiça reservado?

Porque como o conselho dava pareceres à administração, não só era reserva do ponto de vista
de que era administração que julgava a si mesma, mas também a reserva de que um
Conselho precisa de ser homologado por outrem. E, portanto, as decisões jurisdicionais do
Conselho de Estado eram homologadas pelo Chefe de Estado. E, portanto, a última palavra
cabia sempre ao órgão máximo da administração, e quando era o Chefe de Estado, no Estado
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liberal, pensava-se no Chefe do governo, portanto, significava atribuir ao Governo, que é quem
conduz a administração, a última palavra em termos de decisão. ( é importante saber que o
Conselho de Estado fazia +- parte da administração, porque era um órgão meio administrativo,
meio judicial)

No entanto,

 ISTO alterou-se ligeiramente em 1872 quando se começou a falar do sistema da justiça


delegada, em que efetivamente o sistema teve alguma alteração relativa, mas que não alterou
a natureza do que estava em causa, apesar de este momento gerar algumas confusões. Em
Portugal quer o Professor Marcelo Caetano, quer o Professor Freitas do Amaral, quer o
Professor Correia disseram que foi em 1872 que nasceu a justiça administrativa, e foi a partir
daqui que os tribunais administrativos se autonomizaram da Administração Publica. Com todo
respeito, não tem razão, não tem nenhuma razão:

->Não têm razão porque em primeiro lugar porque o Conselho de Estado, A partir de 1872 e
até 1989, continuou a ser um órgão da administração,

->Em segundo lugar, porque quando se diz Que a justiça é delegada isto significa que se
considerava que o Chefe de Estado delegava no Conselho de Estado o poder de decidir, mas
decidir significava que o órgão administrativo tomava uma decisão, mas era o órgão
administrativo. A administração não delega o poder de decidir aos tribunais, os tribunais têm
poderes próprios. A delegação é um mecanismo que, no quadro da administração pública,
permite autorizar um outro órgão administrativo a exercer aquele poder sob o controlo do
órgão que delega. E, portanto, o Conselho de Estado se passava a decidir em primeira instancia
ou passava a decidir as questões que estava em causa, o Conselho de Estado não era
autónomo porque o delegante podia, como estudamos no primeiro semestre, revogar a
delegação de poderes ou revogar o ato praticado pelo delegado e, portanto, se há uma
delegação de poderes e se o sistema é da delegação de poderes, isso Significa claro que não há
aqui justiça Administrativa. E, portanto, é de alguma maneira um equívoco daqueles que
disseram que “foi aqui que surgiu”, porque não foi. Infelizmente foi mais tarde mesmo, nem
sequer foi nesta altura.

Esta fase, no entanto, significou alguma maior autonomia, mas uma autonomia dentro do
poder administrativo e no quadro do exercício de poderes administrativos. E mais, como
mostra as jurisprudência francesa, há o célebre caso de 1889 que se chama o acórdão cadot.
Ora, com efeito, este acórdão cadot vai dizer que a partir daquele momento não se justifica
mais continuar a haver em França a lógica do Ministro-Juiz. Isso significou que desde 1872 até
1889, o sistema francês vai ser concebido da seguinte maneira: o particular, antes de ir a
“Tribunal”, deve primeiro solicitar à administração que se pronuncie e, portanto, deve recorrer
ao Governo através de um recurso hierárquico e, portanto, diz-se expressamente que o
Governo funcionava como superior hierárquico geral do órgão administrativo que tinha
exercido estas funções, e depois iria haver uma decisão de segunda instância que cabia ao
Conselho de Estado,

Portanto: A tem um conflito com a Administração

1- A administração pronuncia-se; não concordando, o particular tinha de:


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2- intenta um recurso hierárquico (sendo expresso que o governo funcionava como


superior hierárquico geral da Administração
3- e so depois havia uma decisão de segunda instancia do conselho de estado, na lógica
do sistema de justiça delegada

quer uma espécie de Tribunal de recursos das decisões do ministro. E se olharmos para aquilo
que aconteceu em Portugal, em que o meio processual, para proteger os particulares em face
da administração, chamava-se recurso direto de anulação. Só deixou de chamar assim em
2004 e passou a ser uma ação de impugnação. E chamava-se recurso direto da anulação
porque era concebido à imagem e semelhança do recurso direto de anulação, e tudo se
passava no seio da Administração. O Ministro era considerado a primeira instância da justiça
administrativa. O juiz, ainda que juiz do Conselho de Estado, era um Tribunal de recurso. E este
trauma vai durar também até agora. Vai durar em França, mas sobretudo em Portugal, porque
em França o acórdão cadot, de alguma maneira, pôs em causa este sistema e é o primeiro
momento da evolução do sistema que depois só se vai realizar de forma definitiva nos anos 80,
as tais 2 sentenças do Tribunal Constitucional, referidas há pouco, de 1980 e de 1989, que
mudam e confirmam em termos jurídicos decisivos esta mudança de natureza do sistema.

Portanto isto mostra que esta evolução que vai conduzindo a uma sucessiva libertação da
justiça administrativa, é lenta, e sendo lenta vai ter consequências até os nossos dias. Mas
ISTO é o modelo. O que vai acontecer NOS outros países da mesma família, é que com as
revoluções liberais vão instaurar o modelo francês, é o caso de Portugal. Em 1834 os celebres
decretos de Mouzinho da Silveira , dOs Açores, adota o sistema da justiça reservada, e logo a
seguir da justiça delegada. Cria-se o Conselho de Estado como o órgão meio administrativo,
meio judiciário, que se encarrega de julgar a administração e, portanto, introduzem pela via
legislativa esta dimensão estranha ou, como diz o professor, do “pecado original”, da confusão
entre administração e justiça, que vai durar em Portugal, como vimos, em rigor, até à
constituição de 1976. Portanto, é algo em que temos um longo, longo período de traumas da
infância difícil, a perdurarem já na idade madura dos sujeitos intervenientes. Nos outros
países, curiosamente a evolução também pela via legislativa vai se dar mais cedo. Na transição
do século 19 para o século 20, finais do século 19 e princípios do século 20, os outros países
que com as revoluções liberais também tinham criado no século 19, às vezes antes nos finais
do século 18, a justiça administrativa, tiveram uma evolução legislativa que fez com que os
tribunais se autonomizassem, e surgissem como verdadeiros órgãos jurisdicionais na transição
do Estado liberal para o Estado Social. É o caso da Espanha, suponho que em 1905 ou 1906,
mas encontrou isso. Vão em busca de lá, temos tempo perdido no primeiro capítulo. Histórica
data exata é a chamada lei Santa Maria de paredes que que integra a justiça administrativa no
domínio autónomo do poder judicial e com uma natureza autónoma, embora curiosamente
em Espanha isto existe da base até ao topo, mas no topo não há o supremo tribunal
administrativo. Há sim uma sala de justiça contenciosa dentro do Tribunal de Justiça comum,
portanto, é uma lógica especial dentro da evolução do modelo francês.

Em Itália também foi de 1905 a 1906 que se deu essa viragem e, portanto, na Alemanha foi
ainda no final do século 19, ou seja, nos outros países a judicialização do conceito vai surgir na
transição do século 19 para o século 20. Mas será mais lenta, no entanto, em França e em
Portugal – em Portugal ainda mais lenta do que na própria França- porque a partir do acórdão
cadot começou uma evolução paulatina no quadro francês que tem que ver com essa infância
difícil. Mas eu disse há pouco que havia 2 traumas, e até só analisamos o primeiro. O outro tal
trauma é o trauma de um direito administrativo que nasce para proteger a administração, não
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nasce para proteger os particulares, não nasce para estabelecer um equilíbrio entre o poder
administrativo os direitos dos cidadãos, como poderíamos pensar e como alias é a lógica atual
da constituição portuguesa, e de um estado de direito democrático dos nossos dias. Mas ele
nasce sim para proteger a administração, sendo a sentença que vai funcionar como atestado
de batismos do contencioso administrativo. Há o acórdão, um acórdão de 1973, um ano depois
da justiça delegada, que é o acórdão blancot que é considerado pela doutrina Francesa, que
marca um outro trauma dessa infância difícil do direito administrativo. E marca uma zona que
é uma zona especialmente difícil do direito administrativo que é a questão da resposnabildiade
civil:

 O que estava em causa era o caso de uma criança de 5 anos, Annes Blancot, que
estava a brincar num sitio próximo de uma fabrica de tabaco, em bordeaux, num sitio
seguro onde não deverima de haver qualquer problema. A criança era, alias, filha de
um desses trabalhadores da fábrica, e essa empresa era publica. A determinada altura
há um desastre: há um vagão que sai do carril, e a menina fica com lesões corporais
graves.

Os pais da criança pedir uma indemnização à Administração pública. Na primeira tentativa, os


pais foram ao tribunal de bordeus, e pedir que a empresa publica de tabaco seja condenada,
porque este facto, independentemente da culpa, causou um dano, perante alguém que estava
num sitio seguro.

E, neste sentido, o tribunal de bordeaux vai dizer duas coisa que marcam os traumas do direito
admnistrativo:

 Vai dizer, em primeiro lugar que não é competente para decidir. E não é competente
para decidir, por se tratar de uma empresa publica. Se fosse uma empresa privada ele
poderia decidir, ele não tem jurisdição
 Mas depois acrescenta um segundo argumento, que é argumento de que mesmo que
quisesse decidir, não o podia, porque o código civil daquele tempo aplicava-se a
IGUAIS, não se aplicava pois a uma relação administrativa. Empresa publica e o
cidadão não eram iguais, e nã o sendo não havia norma jurídica a aplicar.

Ora, os particulares não se conformam com esta decisão, e recorrem à justiça administrativa. E
quem era a justiça competente daquela zona de bordeus era o presidente da camara, a tal
promiscuidade entre administração e justiça, em 1873, já depois da fase da justiça delegada
( aqui vê-se o quão ridículo dizer que foi em 1872 que tudo mudou, sendo que em 1873 o juiz
em bordeus era o presidente da camara. E o juiz vai repetir o que tinha dito o tribunal: em
primeiro lugar que não era competente. Perguntamos, não era competente porquê ? Porque
só era competente para julgar atos administrativos, e aquilo não era um ato administrativo
(pois ninguém tinha mandado o comboio descarrilar ahahahah) e, portanto, diz que não tem
competência para decidir, mas acrescenta que mesmo que tivesse competência, não podia
decidir.

Resultado: recorre-se ao tribunal de conflito, que é um tribunal que também existe em


Portugal, embora hoje não ter a mesma importância que teve no passado, um tribunal resolve
este caso em que os dois tribunais, duas jurisdições, se consideram competentes, e resolve
mandado um deles decidir. Aquilo que o tribunal de conflitos faz é resolver conflitos de
jurisdição, não decide o caso, apenas decide quem resolve e remete para o tribunal em
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questão. Mas o tribunal de conflitos Francês fez mais do que isso, na celebre sentença do
acórdão de ba. Vem dizer que neste caso tem competência a justiça administrativa, e vem
dizer que é ao nível da justiça administrativa deve ser resolvida ( o que podia ser bom ou mau)
e acrescenta também que efetivamente não normas jurídicas a aplicáveis, e que por isso é
preciso construir uma norma, construir um direito administrativo que proteja a
Administração. Era impossível encontrar um começo mais traumático para o direito
administrativo: um tribunal que tem como atestado de nascimento uma sentença jurisdicional
que nega uma indemnização a uma criança de 5 anos.

O direito administrativo nasceu como direito autoritário, uma administração que impunha, e
os particulares não tinham direitos. O pai do direito administrativo na Alemanha diz, alias, que
o particular não pode ter direitos em relação à administração, porque dizia que não fazia
sentido os particulares terem direitos em relação a uma entidade toda poderosa, objeto de
pode. Portanto, dizia ele que o que a administração tem é de cumprir a lei, não havendo lugar
a direitos dos particulares no direito administrativo. Mesmo em Portugal só se começou a falar
de direitos subjetivos como figura unitária do direito administrativo, a partir dos anos 80…
Tendo sido o professor Vasco Pereira da silva a dizer que os particulares teriam de ter direitos
subjetivos, e que teria de haver uma teoria unitária do direito administrativo. E ainda hoje há
muitos autores que não falam dos direitos subjetivos, ou dizem que estes existem ao lado dos
interesses legítimos… Portanto. Só a partir da década 80 é que se começou a falar de um
direito do particular que corresponde a um dever da administração. É ,portanto, errado dizer
que isso só é assim no direito civil, e que no direito administrativo é outra coisa, é um interesse
legitimo.

O professor apela à necessidade de fazemos psicanalise nos nosso dia de hoje, porque
pensamos que nos libertamos dos traumas mais profundos, mas caímos em todos os atos
falhados da historia e, como dizia o dr. Freud, ninguém está curado, sendo sempre necessário
ter a psicanálise em dia.

Em Portugal, a relação jurídica entre os sujeitos, com equilíbrio, que decorrem apenas da lei ou
contrato ou de uma atuação administrativa, e portanto de uma logica jurídica, quando aparece
com o professor Marcelo Caetano, é a ideia de poder. É uma relação desequilibrada, em que o
particular se submente ao poder administrativo. Nos primeiros anos 70 e 80, a doutrina mais
clássica, Freitas do amaral, Rui Machete, é ainda a relação de poder que está subjacente,
quando nos dias de hoje uma relação jurídica é uma relação entre iguais, porque é verdade
que a administração tem sempre que prosseguir o interesse publico, fruto da exigência
constitucional e legal, mas esse interesse publico é definido e legalizado com respeito pelos
direitos dos particulares, não também por em causa os direitos dos particulares, são portanto
dois polos que transformam a natureza da relação jurídica e do direito administrativo, e por
isso faz bem a constituição quando, nos artigos relativos à administração publica, estabelecer
na mesma norma do principio da prossecução do interesse público, o respeito dos direitos
pelos particulares (ver o artigo ), e é por isso que a administração, a propósito dos direitos
fundamentais, estabelece que esses vinculam as entidades publicas e privadas, portanto, a
administração não pode em caso algum atropelar os direitos fundamentais, havendo uma
posição de paritária, o particular está em igualdade de situações perante a administração
Publica, tendo direito a poderes que decorrem da lei ou de outra fonte da relação jurídica, e
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que cada dever da Administração, corresponde a um direito dos particulares. Portanto, a


realidade de hoje nada tem que ver com a relação autoritária que vigorou no passado. Mas
essa dimensão existiu, e se calhar ainda existe forma muito limitada de paridade nalguns
casos. Um desses casos tem que ver com o ministro, é que Portugal, no quadro da constituição
de 33, e por influência do professor Marcello caetano havia uma distinção esquizofrénica que
distinguia os atos de gestão publica, dos atos de gestão privada. ambas era atuação
administrativa, mas umas era ditas de gestão publica, que de acordo com o professor Marcello
caetano correspondiam ao exercício do poder da autoridade, e portanto eram da competência
dos tribunais administrativos, e havia atos gestão privada que não correspondiam às
prerrogativas do poder publico, e que portanto eram da competência dos tribunais comuns. E
portanto, tínhamos uma dupla esquizofrenia: tínhamos dentro da atuação administrativa a
esquizofrenia gestão publica a gestão privada – sem que ninguém soubesse distinguir uma da
outra-

O ministro que atropelou o cantoneiro, é gestão publica ou gestão privada?

O ministro ia lá dentro: gestão publica.

Mas podia ir a dormir, a ler o jornal etc: gestão privada

O que faz sentido é que haja sempre responsabilidade e ela seja tutelada ou pelos tribunais
administrativos, ou pelos tribunais privados. A esquizofrenia é que não faz sentido, porque
nem se quer há critério de atuação. Pq a maior parte dos atos que geram responsabilidade civil
não são atos jurídicos. E portanto a distinção de atos de gestão publica e getsao privada era
uma realidade esquizofrénica, que depois correspondia a uma esquizofrenia jurisdicional-> não
se sabia que qual era o tribunal competente, e processo andava de um lado para o outro, e
quando alguém tomasse a decisão de decidir, 50 anos depois, já não havia vitimas a
indemnizar, pq já estava tudo morto.

O professor julgava que com a discussão da década de 80, a esquizofrenia já tinha acabado, só
que o legislador, em 2008, resolver pegar na lei da responsabilidade civil publica e dizer nem
sim nem não. Diz o seguinte ( artigo 1º nº2)

Artigo 1º Artigo 1.º


Âmbito de aplicação

1 - A responsabilidade civil extracontratual do Estado e das demais pessoas colectivas de


direito público por danos resultantes do exercício da função legislativa, jurisdicional e
administrativa rege-se pelo disposto na presente lei, em tudo o que não esteja previsto em
lei especial.
2 - Para os efeitos do disposto no número anterior, correspondem ao exercício da função
administrativa as ações e omissões adotadas no exercício de prerrogativas de poder
público ou reguladas por disposições ou princípios de direito administrativo.
Cá está a expressão mais canhestra que ninguém sabe o que é: “prerrogativas de poder
publico” é um absurdo.

Mas a seguir, o legislador acrescentar: “(…) ou reguladas por disposições ou princípios de


direito administrativo.” Que é igualmente má.
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Mas esta referência dos princípios do direito administrativo, e que se for conjugada com a
norma do código procedimento administrativo, que diz que as disposições artigo º2 nº1
que diz que isto se aplica não apenas ao exercício dos poderes públicos, mas também à
atividade meramente de gestão privada, esta ideia permite unificar o regime da
responsabilidade civil, e acabar com a esquizofrenia; e quem já tinha acabado com
esquizofrenia, tinha sido o legislador de 2004, a dizer que a competência era sempre da
justiça administrativa. Portanto, já não havia esquizofrenia judcial, havia sim portanto
relativamente ao exercico do poder
Artigo 2.º

Âmbito de aplicação
TEXTO
1 - As disposições do presente Código respeitantes aos princípios gerais, ao procedimento
e à atividade administrativa são aplicáveis à conduta de quaisquer entidades,
independentemente da sua natureza, adotada no exercício de poderes públicos ou
regulada de modo específico por disposições de direito administrativo.

Mas ainda hoje à dúvidas, por exemplo no ministro cabrita, que se vai resolver através do
pagamento de uma indeminização extrajudicial, pq assim o tribunal não tem que resolver
nada. Todos os casos graves da responsabilidade civil, não decididos pelos tribunais. Ex:
Caiu uma pedreira em Évora. É grave, mas ao invés de se por o tribunal a apurar
responsabilidades, cria-se uma comissão ad Hoc, pede-se à provedora de justiça que
presida a essa comissão, dá mais rapidamente uma indemnização e acaba-se com o caso.
Isto é um problema grave que tem que ver com os traumas de infância da justiça
administrativa.

Ler o capitulo 1 e comparar com o que se diz com o manual do professor freitas do
amaral.

Aula 23/02/2023

Na aula passa vimos os dois traumas da infância difícil do direito administrativo:


 o trauma ligado ao seu nascimento e existência de órgãos fiscalizadores, ao invés de
tribunais.
 e o outro trauma manifestado pelo acórdão blancot, em que a administração assume
uma vertente autoritária, ficando o direito administrativo é considerado por proteger a
administração

E estes dois traumas vão marcar o direito administrativo, e vão dar origens a uma serie de
características que provem até aos nossos dias. Agora, vamos olhar através desses traumas e
verificar a evolução produzida no quadro do direito administrativo. Para esse efeito, iremos
utilizar uma grelha comparativa, que nos permitirá falar dos modelos de estado, que estão por
de trás de transformações da administração publica e do direito administrativo.
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Organização da Administração Modelo Administrativo Formas de Atuação da Fiscalização da Administração


Administração
Modelo Do ponto de vista da organização “Administração “Atocêntrica” “pecado Original” ou
de Estado administrativa, o Estado Liberal Agressiva “ 4 Administrador -juiz
Liberal deu origem a dois modelos: O. Mayer
(Séc.18 e 3
séc.19) Modelo francês:
Administração Concentrada e
centralizada
1 2

Reino Modelo britânico mais branda Unilaterais Juiz comum


Unido Desconcentração e 7
Modelo descentralização 6
Anglo-
saxónico
Modelo Assumiu uma múltipla “Administração Multiplicidade de formas “Batismo” Mudança de
de Estado Desconcentração e prestadora” (de bens e de atuação natureza. Ganha juridialização
Social, descentralização serviços) judialização
“Estado Otto Mayer O que importa não é o crise
providênci (Multiplicaram-se as entidades poder, é a atuação Era um contencioso limitado,
a” administrativas: surgiram IP’s, A dicotomia de não abrangia todo o âmbito
(fase final fundações) “administração da administração
séc.19, Isso foi comum aos dois modelos: agressiva” para
inícios do Ao Francês e ao modelo Anglo- “administração
séc.20, até saxónico prestadora” foi teorizada
aos anos por otto Bachof- um dos
60 Estes dois modelos aproximam-se grandes publicistas dos
e esbatem as sua diferenças nossos dias.
principais
Portanto a
administração passou a
prestar bens e serviços e
interveio na vida da
comunidade
Modelo Fuga para o direito privado Multilateral Em 2002/2004 surge: o
de Estado Crisma
Pós-social Nos 60,70 e 80 vai se
(a partir confirmar a natureza judicial
dos anos do tribunais administrativos
70,80 do
séc. XX até O juiz passa a poder
hoje) condenar, anular em rleação a
todas atuações
administrativa;
->por outro lado TUTELA-SE
OS DIREITOS DOS
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PARTICULARES, o que significa
(20

Modelo de Estado Liberal (1) (séc.18 e séc.19) corresponde ao modelo saído da revolução
francesa, marcado por ser um modelo democrático, assente na vontade das pessoas; e no
liberalismo-> que se traduz na defesa e garantia dos direitos dos particulares, e também num
princípio de separação de poderes. Este modelo de estado correspondeu a um modelo de
organização administrativa. Era caracterizado pela democracia e separação de poderes, do
ponto de vista da organização estadual, ao mesmo tempo que era caracterizado pela
proteção dos direito dos particulares. Era um estado, portanto, que visava garantir a
sepração de poderes e a titela dos direitos fundamentais

(2) Ora o modo de organização da Administração do Estado Liberal, é o modelo de uma


administração concentrada e centralizada: era uma administração que assentava no estado – o
estado liberal é, de alguma forma, o sucessor da última fase do estado absoluto, e portanto a
construção do estado liberal é feita à semelhança do leviatã-Portanto, este estado é
centralizado porque em regra havia uma pessoa coletiva, e concentrado porque o poder cabia
ao centro do estado, que era o governo. A lógica ligada ao estado liberal é a de um modelo
centralizado e concentrado, um modelo de estado em que tudo depende do governo, e o
governo é o centro da administração publica.

(3) E essa organização da Administração, vai dar origem ao Modelo de administração Agressiva
(O. Mayer) – que hoje corresponde a um dos traumas do direito administrativo. A
administração agressiva, quando atuava, era para agredir os cidadãos. A razão de ser da
administração agressiva tem que ver com os seus traumas de infância difícil o individuo não
tinha direitos em face do estado, o individuo era um objeto do poder, com diz O. Mayer. O
individuo era um súbdito do estado, era aquela em que o estado exercia o seu poder. O
cidadão não tinha direitos perante a administração pública. Apenas tinha direitos no quadro
constitucional, que correspondiam a proibições do estado na esfera privada, portanto estes
direitos fundamentais na logica constitucional não tinha reflexo na logica administrativa. Ao
invés dos direitos, vai haver a teorização da lei. Esta negação do direito e afirmação da lei, vai
levar a que o grande contributo do Liberalismo seja o princípio da legalidade.
A administração era agressiva também porque, no quadro do liberalismo político, as
funções do estado eram reduzidas. O estado garantia apenas a segurança externa (defesa em
relação a outros países) e interna (através da liberdade e da propriedade). O estado não
intervinha mais do que isso. Ou seja, a administração não devia intervir, e quando intervinha,
era para agredir e por em causa os direitos dos particulares, porque estava a assegurar a
segurança. Portanto, há aqui uma logica de agressividade, de facto, que provem da redução do
número de tarefas incumbidas ao estado de realizar: o estado só tem tarefas de imposição da
força publica, e por isso a administração é agressiva.

(4)Este modelo de administração vai ter consequências ao nível das formas da atuação
administrativa, porque neste período – séc.18 e séc.19 – a administração atua apenas através
de atos administrativos, nesta altura releva de facto a teorização do ato administrativo. Por
isso, o professor usa de uma expressão criado por si, dizendo que o que está em causa é o
modelo de forma atuação ATOCÊNTRICA porque o ato é o centro do direito administrativo,
e só ele é que realmente interessa. E, de facto, no séc. 18 e 19 não houve contratos. Só nos
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finais do séc. 19 é que vão surgir contratos entre particulares e administração. Antes disso, o
Direito administrativo clássico negava a existência de contratos, isto porque o estado dava
ordens (atos administrativos) e não contratava. O direito administrativo reduzia-se ao ato
administrativo, e esse ato administrativo, típico do liberalismo político, veio depois a ser
teorizado no séc.19 e 20 (onde o estado liberal já está a desaparecer) por: O. Mayer na
Alemanha, e M. S em França e Santi Romano, e, anos depois, com Marcelo Caetano em
Portugal no século 20, e esse ato administrativo concentrava em si todo o seu poder. Era um
ato através do qual o poder administrativo, que era confundido com o poder judicial, que
definia a relação jurídico-administrativa, e o ato administrativo era aquele que definia a
posição do súbdito (do particular que estava submetido ao poder publico) no caso concreto (O.
Mayer).
Havia uma atuação administrativa exorbitante, dava ordens e tinha o poder de fazer executar a
ordem. Em Portugal este modelo de ato administrativo correspondeu ao modelo chamado: o
ato definitivo e executório ( teve na crp 1989), que correspondia esta logica autoritária do
poder administrativo. Era definito pq era a vontade suprema da administrativa que definia o
direito aplicado no caso concreto e era um ato executório porque era suscetível de ser contra a
vontade do individuo, portanto, a administração definia o direito e o executava.  é assim
notório a promiscuidade que então havia entre administração e o tribunal.
E esta ideia de um ato caracterizado pelo poder de definir o direito, e o poder de executar
coativamente. Era um ato autoritário.

(5)No quadro da Europa continental, o modelo francês da justiça reserva ou da justiça


delegada, foi importado para os outros países europeus. era modelo em que o conselho de
estado era o órgão administrativo que fiscalizam a atuação da administração. era um órgão
meio administrativo, meio judiciário, que fiscalizava a administração, mas era um órgão da
administração. O sistema da justiça reservada era o sistema em que o conselho de estado,
órgão consultivo da administração, julgava a administração na lógica de introspeção
administrativa, tendo as suas decisões de ser homologadas pelo chefe de estado ou chefe de
governo, ou num modelo mais aperfeiçoada, que vai surgir em 1872, o modelo de justiça
delegada, onde se considera que o chefe de governo ou chefe de estado delega no conselho
de estado de ter a ultima palavra, ganhando assim alguma autonomia, embora
continuássemos no sistema do ministro-Juiz, e nessa altura passou-se a dizer que o ministro
era a primeira instancia do contencioso administrativo, e o conselho de estado era a segunda
instancia. Portanto havia a confusão de administrar e julgar.

Temos o período da justiça administrativa, caracterizado pelo pecado original, de confusão


entre administração e justiça, ou o período do administrador juiz, em que há uma confusão
entre administrar e julgar,

Este era o modelo português, francês, espanhol, italiano, alemão, era o modelo da europa
continental.

 Mas não era o único modelo do liberalismo (apesar de com o surgimento do estado
social e a evolução posterior da realidade administrativa, vão conduzir à proximidade
dos dois modelos) . Na Grã-Bretanha (RU), neste período liberal, o modelo de
administração vai ser radicalmente diferente. e isso vai fazer mostrar-nos que o
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modelo francês não era único, e não era necessariamente liberal (sai às mãe liberal, e
aos pais, autoritário tal como está explicado no inicio)

6- Mas curiosamente, no Reino unido, por não ter havido uma transição brusca do modelo
tradicional para o modelo liberal, E por esta ter sido pacifica, num primeiro momento, no RU,
vai surgir um modelo que em muitos aspetos é o oposto do modelo do resto do continente
europeu.

A organização administrativa no RU vai se caracterizar pela descentralização e


desconcentração

A administração nesta fase tinha o modelo administrativo que, apesar de não se poder dizer
que era prestadora, não era tão agressiva como era no resto do continente europeu, e não o
era porque como não havia direito administrativo, a administração estava obrigada ao direito
comum (à common law), atuava segundo a common law, e isso significava um modelo de
administração que não gozava de poderes de autoridade, e portanto não era tao agressiva
como era no quadro da administração continental.

(atenção que isso não significava que o cidadão estava no mesmo pé de igualdade)

O professo vasco não concorda com a ideia que o Freitas do Amaral tinha, de que o modelo
britânico era de administração judiciaria, porque era precisa sempre eir a tribunal  o que era
mentira; só em caso de litígio entre particular e administração. Caso o particular concordasse
com a decisão administrativa, não era preciso ir

Foi um equívoco criado por M.S

7- Atuava de formas unilaterais

8- A administração era fiscalizada por um juiz comum

Sistema britânico vs siteam frances

Estado Social

Tudo mudou do séc 19 para o séc.20, Em face dos problemas económicos e socias (“miséria
operária”), deu-se uma rotura com a organização administrativa, e vai dar-se origem a um
novo modelo, o modelo do estado social. O que caracteriza o estado social é que no quadro do
europeu, os estados democráticos liberais vão entender que têm outras funções e outras
realidades a que tem de atender. Do ponto de vista económico estado vai atuar pela via da
procura, o estado tem de intervir na vida económica social e cultural e o estado assume novas
funções e tarefas.

O estado passou a intervir através da despesa publica, pagar salários, criar postos de emprego.
Numa palavra, intervir na vida económica, cultural e social

(Pode haver estado social autoritário, ou mesmo totalitário ex: o regime da constituição de
1933 em Portugal é já característico de um estado social, mas era um estado social autoritário,
não era democrático nem liberal.
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!Foi um modelo muito importante. Trouxe uma transformação no modelo de estado e uma
transformação no modelo de administração. A Administração deixou se der agressiva ( como
foi no estado liberal) e passou a ser prestadora de serviços

! A sua razão de ser assentava na procura e assentava no fenómeno multiplicador das


despesas publicas, desapareceu no finais do anos 60, inícios dos anos 70, porque essa injeção
monetária de dinheiro gerou problemas do lado da oferta. Essas injeções ao invés de
trazerem crescimento e desenvolvimento , passaram , a partir de um certo momento a trazer
inflação e estagnação e isso fez surgir o monstro da estagflação, a mistura da estagnação
com a inflação

Isso levou à crises nos anos 70 Ex: crise do petróleo, que é um bem perecível

TODAS ESSAS CRISES LEVARAM À crise do estado providência, que em parte tinha que ver
com o excesso de crescimento da maquina administrativa, o excesso de intervenção
económica social e cultural e a sensação que os contribuintes tinham de que contribuíam
mais para o estado do que aquilo que recebiam dele, havia insatisfação

Em resultam disso surgem os neoliberalismo na Europa e na América. Mas também houve


transformações ao nível do da social democracia, ao nível dos socialismos que se assumiram
como alternativas e procuraram terceiras vias ex: o Partido Trabalhista britânico defendia a
terceira via: uma alternativa quer ao capitalismo, quer ao socialismo, uma alternativa que
passava pela conciliação do Estado com a sociedade, e do ponto de vista económico, a
colaboração entre entidades públicas e entidades privadas. Ou seja.

Resultaram transformações que implicam a ideia de que o Estado deve ser transformado e
melhorado.  ERA NECESSÁRIO REDEFINIR A INTERVEÇÃO DA ADMNISTRAÇÃO NA VIDA
ECONOCOMICA, CULTURAL E SOCIAL, introduzindo novos mecanismos

Estado Pós-Social

O estado pós-social vai ter uma dimensão organizatória que se vai manifestar a nível
constitucional: princípio do défice equilibrado, do equilíbrio da oferta e da procura, mas
também o equilíbrio no relacionamento entre Estado e sociedade. Mas simultaneamente vão
surgir novos direitos fundamentais. Surge o direito ao ambiente, direitos tecnológicos-> a
informática precisa de ser contorlada para proteger o cidadão (Netflix que tira fotos e TIKTOK
que)  o professor chama a isto 3 gerações

1º geração ->estado liberal , liberdades e a propriedade privada

2ºgeração->estado social, os direitos económicos culturais e sociais

3º geração-> novos direiros: ecologia, novas tecnologias

Este modelo de estado tem consequências no modelo da administração  Anos 80


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pensando na questão da organização administrativa, os senhores já estudaram qual foi a


grande consequência que surgiu a partir dos anos 7080 do século 20? O que é que surgiu do
novo em termos de administração pública? O que é que surgiu de nós? Que é professor anos
8070 80. Crise do Estado social, início do Estado pós social, o que é que surgiu do ponto de
vista da organização do PT? Criação dos tribunais dos verdadeiros tribunais administrativos.
Isso é outra coisa, é verdade, mas não tem a ver com a organização dos ativa. Tem a ver com
tribunais e, portanto, isso vemos no fim. Mas na organização, o que é que mudou? Acho que a
menos. O Estado providência há uma na altura do Estado. Providência existe uma maior alta
do Estado e existe mais uma criação de mais pessoas colectivas para ajudar o Estado. Penso
que nesta altura após. A crise do Estado, providência, houve uma diminuição destas pessoas.
Explica que houve diminuição, houve e transformação. O que é que o que é que aconteceu a
essas entidades públicas? Da União Europeia antes disso, portanto, digo União Europeia,
depois associou-se, mas o que é que sucedeu? Eu posso, eu acho. Eu acho que se
transformaram em a transformar, portanto, uma, digamos que houve uma transferência para
a administração indireta do Estado, portanto, não passou. Sol estes fenómenos da. Cidade da
concentração e centralização o que é que houve aqui de novo, que surgiu NOS anos 70 e NOS
anos 80, o que está forte social em termos de organização administrativa? A vossa professora,
até é especialista nessa matéria, tem uma tese de doutoramento. A fuga para o direito
privado. Ou seja, a privatização da habitação. A administração pública assumiu formas
privadas. E procurou a colaboração com os partidos. E essa é a grande transformação do
Estado forte. Pública. Forma privada. Vai no quadro das outras transformações. Que já al. Quer
de natureza política, portanto, o que estava a dizer da diminuição do papel do Estado, isso
certo? Transformações políticas e transformações de direitos fundamentais. Que
correspondem para este para o surgimento deste modelo de Estado, não é? Quanto ao
modelo de administração. Já tínhamos a dupla agressiva prestadora. Agora vamos ter também
uma transformação no modelo de administração. A administração transforma-se em Infra
estrutural. Para citar. Todos os meus remédios a pancé. Professora ecoava. O propósito de
escrever, Senhor, o coitado estava final da vida, mas continua um génio. A. A administração
Infra estrutural. Ou também, segundo outras perspectivas, a administração reguladora. A ideia
da criação de infraestruturas ou da regulação? Corresponde a um novo modelo de intervenção
da administração pública na vida da sociedade. A educação pública não deixa de intervir. Não
deixa de ter fins de natureza económica e social. Não deixa de assumir novos filhos. Mas estes
novos fins. Em vez de serem realizados direta e imediatamente pela. São realizados em
colaboração com os particulares. Através de modalidades. Diário fração que passam desde as
parcerias Público privadas, conjunção de capitais públicos. E capitais privados. Há modelos de
conversão? De serviços. Modelos que procuram. Regular. Intervir a aposta melhor fiscalizar,
mas não realizar diretamente todas as ações. Portanto, ISTO levou se quiserem do ponto de
vista da transformação da administração a um modelo de uma administração que cria
condições. Para que a sociedade, em colaboração com os poderes públicos. Chama-se a
realização das tarefas administrativas. Mas a administração? Vai regulá-las? Vai fiscalizá-las?
Vai punir os responsáveis pelo cumprimento dessas tarefas da administração, não realiza ela
própria todas as tarefas, salvo naquelas que consideram essenciais e continua a chamar assim.
E depois também pode haver outras grandes, por razões de natureza ideológica, não são tão
essenciais como isso, mas. Boa tarde. Nacionaliza se nacionaliza se privatiza vai dar já vai para
a terceira privatização, depois a seguir, mas essa é ideológica. Agora. Tirando determinadas
tarefas que o Estado não pode deixar de exercer diretamente. Aquilo que ele vai fazer é criar
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condições, criar mecanismos, criar estruturas. Daí essa expressão de infraestrutura a volta.
Eickhoff aba ficou com o nome dele. Além do grande mestre, é um grande amigo, aí com Fava.
Professor da Universidade da Nova. Onde ele respondeu, senhor Doutor Honoris causa. Uma
grande honra que tem para lá. Desde muito cedo. 40 anos que eu vou a nova todos os anos. O
recurso a nova enfim e. Tenho participado numa série de coisas de iniciativa que precisava
nova e por isso. 3 anos, fizeram-me. É uma honra de me atribuir o grau de doutor honoris
causa. Por quê? é algo que me deixa muito satisfeito e o

Heko Faber

Teve um papel decisivo no quadro da evolução do direito Público. Portanto, temos que este
modelo de Estado gera não só transformações, normalmente são iniciativas como modelos de
administra. E o que é curioso é que Os Nossos Dias, estas 3 modalidades, administração que
existe. A simultaneamente a administração agressiva no âmbito da polícia. Que vai gostar de
liberar a administração prestadora típica do Estado social, quando, através de institutos,
fundações públicas, empresas públicas, o Estado, diretamente exército. E a esta administração
infraestrutura al. Quando são criadas estas estas realidades da administração pública são
forma privada, mas sobretudo quando o Estado atua. No quadro de uma atividade meramente
reguladora, que cria as condições para o exercício da função administrativa pelos partidos. Do
ponto de vista da atuação administrativa. O que é que mudou? Já vimos no Estado liberal. A
lógica era autoritária. Que esta autoritarismo conduziu ao aço nítido história. O ato que
continha em si todas as características do poder não é o ato que era exorbitante, exorbitante
por comparação com as actuações privadas exorbitantes de Campos, tração definia o direito
do sub. A expressão doutor malha administração definia o direito impunha ao direito e depois
executado. E ISTO gerou uma série de mitos que alguns deles ainda chegam a subir. Em lições
atuais encontram expressão, privilégio de execução prévia. A pressão não tem privilégios, não
está direito, tem comer. Estes poderes resultam da lei e não resultam da da administração em
si. A administração não nasce com poder, que tem apenas de reguladores e atributos que se
deixam limitado. Não há nenhum privilégio se um prédio é algo que não existe. E já vamos ver
a seguir até mais exatamente porque é que não exi? E como vimos na aula passada, era uma
construção afrocêntrica. No meu em busca do ato administrativo perdido, onde utilizei pela
primeira vez esta expressão lógica ato centro. No em busca do artigo perdido. Eu brinco com a
lógica das catedrais. Que apontavam para o céu. Tínhamos um direito administrativo que
apontava para o ato administrativo, como os pináculos das catedrais góticas e era o centro de
tudo e todas as. Os outros meios as outras formas de atuação ou não existiam, todos ou não
tinham a importância que tinham. Ora bem cool. O Estado social com a administração a atuar
em todos os níveis da vida da sociedade, temos amo. Das formas de atuação. E não apenas
multiplicidad. Olá. Mas também a Terra da sua dimensão autoritária. Porque a ministração
pública transformou-se num serviço? E esta transformação no serviço? Que presta bais aos
particulares. Que atua para a satisfação das suas necessidades. Esta realidade não apenas
aumenta as formas de atuação, apesar dos ativos como lamentos planos 1001, novas formas
de atuação, contratos. Que se torna cada vez mais importante. Mas também. Estes atos
perdem a sua dimensão, autorità. Vejamos o ato abstrativo tal que era a Máxima concentração
do poder. Que era definido como a definitiva isso nós. Uma expressão que foi teorizada em
Portugal pelo Professor Marcelo Caetano, esteve na Constituição portuguesa até à revisão
constitucional de 89. Até aí esteve Na Na Costa portuguesa, portanto, vê a importância que
isso tinha para o direito português. Esta ideia a definitiva exutório é um absurdo, não existe.
Havia um lugar porque a ministração não se confunde com a justiça. Ao trauma da infância
difícil do direito administra. E se a justiça diz o direito? Se a justiça tem que resolver o litígio. E
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utiliza o direito como o fim que ela tem que atingir. Tem que dizer o direito àquele caso
concreto. A administração pública. Satisfaz as necessidades colectivas. E utiliza o direito como
um meio para a satisfação das necessidades. Enquanto o Tribunal a definição do direito a um.
Para a administração pode ser um meio se o ato for de natureza. Porque a maior parte das
atuações iniciativas nem sequer tem natureza jurídica e quando não e quando tenho natureza
jurídica, nem sequer ela é definir. Um exemplo do é confiável. Quando o controlador aéreo?
Está ali no aeroporto de Lisboa. A dar ordens aos aviões? Para descolar. Ou para a rádio? Ele
está a praticar atos, ambos ativa. Ordens. Que dá aos aviões? Mas nem ele sabe nada de
direito. Nem se disserem que ele está a praticar lá. Temos apego, Eu Acredito. Porque o ato
que ele pratica? É determinado. Pelas condições de circulação da pista e pela meteorologia. E
em razão desses carácter técnico, ele diz que pode escolar ou pode até. Nada na sua atuação e
júri. No entanto. Ele pratica um ato perspectivo que é obrigatório para quem vai NOS aviões. E
a tem que ser aplicada. Portanto, não há aqui nenhuma definição. Por um lado a
administração. Tem numerosas operações materiais. Quando éramos, sal limpa as ruas a dar
lixo. A trata da da limpeza das praias. Promove. A outra é contra os incêndios. Nada disto é. É
uma atuação técnica, é uma atuação de direito privado da administração. Não é um ato de.
Mas mesmo quando praticar? Esses atores ativos. Não tenho todos de ter natureza jurídica no
sentido de usar o direito. Para. Como um fim? Utilizou direito como o Mário. E esses atos
administrativos. Não correspondem à definição do direito à habitação, nunca define. Anotação
terrorize o direito de satisfazer os. E, portanto, aquela ideia de outra área. Demo rifou Rio. De
Marcelo Caetano. De que havia? Definitiva idade. No sentido de que? A administração e a
definir a última palavra, definindo o direito aplicável ao caso concreto. É uma característica do
vírus. A generalidade dos atos? Mesmo. O ano dos ao direito. Não é definidora de situações.
Há ordens, as ordens são obrigatórias. Mas não. Direito que a administração cria e no quadro
do princípio da legalidade. E o mapa administrativo não tem que ter necessariamente universal
da científica. Vamos para a lógica mais complicada e mais afim jurídica da própria ideia
definitiva idade. Dizia inicialmente o Professor Marcelo Caetano, mas isso foi teorizado
sobretudo depois professor francês do Amaral. Falava-se em tripla definitiva. Definitiva idade.
Material era aquela que nós vimos o ato definia o direito. Ora, a ordem do controlador aéreo
não define o direito de ninguém. É é obrigatória, mas não define o direito de AE como esse. A
maior parte dos atos operativos não tem esse caráter. Depois. Dizia o Professor Freitas do
Amaral, que havia uma definitiva idade horizontal. E esta ideia da definitiva idade horizontal
tinha a ver com o procedimento administrativo. Os atos administrativos NOS dias de Hoje não
caem do céu para milhões. Quando cai é uma asneira e são ilegais. Têm que ser formados no
curso do procedimento, um procedimento em que os particulares são ouvidos em que
estudam. Os fenómenos vai chegar tarde à próxima, a próxima. Se calhar, acabámos que já
tinha roubado o intervalo, não foi pronto. Dentro de 10 minutos. A. Haviam haviam
antecipadas para assinalar. Aqui tá mesmo com ela? A pergunta está bem boa, desculpa, sim,
Senhor, é um bom colega. Vá. Ora, voltando à definitiva idade definitiva idade horizontal.
Aquilo que dizia o Professor Freitas do Amaral? Nesta lógica de comparar o ato a acender um
resquício daquele pecado original da justiça legislativa, da aproximação da do ato positivo da
Assembleia. É que a única coisa que importava era o momento final, o momento em que a
administração decidia. E, portanto, olhando para o procedimento como uma realidade
horizontal que se prolongava no tempo com as sucessivas fases. Só o último momento. Desta
realidade. É que eram há tantos anos, até aí não eram lá. Eram qualquer coisa que ninguém
sabia. O nome eram quase a Tara, era qualquer. Aliás, é muito engraçado a doutrina
portuguesa frente do seu lado. Zero o ato administrativo é só o final de tudo, com exceção de
todos os outros. Ou então dizer, é um final de todo, de de tudo, porque os outros não são atos,
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são assim, quase que atos 11 coisa parecida com um ato. É um ato administrativo. Se é
parecido e porquê? Não é porque os procedimentos são tal maneira completa. Que há uma
sucessão mediato. E não apenas formalidade. Que numa dimensão complexa questão é cada
vez mais complexa. No final podem ou não dar origem a uma decisão final, mas tudo o que foi
praticado no custo. É juridicamente. E Hoje em dia, como se diz no Código PF e Bay é uma das
transformações do contexto administrativo. O particular escolhe qual é o ato que eu quero
tornar? O particular desde o momento em que apresentou um pedido para construir uma
fábrica, tem que passar por possuir os sucessivos com um procedimento de avaliação do
impacto ambiental, um procedimento de autorização da atividade económica, um
procedimento para autorizar a construção da fábrica. E por aí adiante há uma sucessão. De
arte. O momento em que eu inicia AA laboração da Radhika. O ferro licença de funcionamento
é o último a. Mas até lá chegar, eu perdeu 6 meses. Os optimistas Lago. Até lá chegar. E foram
praticados sucessivos atos que podem eles eles próprios ter sido ilegais e todos eles são atos
administrativo. Todos eles produzem factos na esfera jurídica dos particulares. E, portanto,
como agora se diz e vai no artigo 50 do código de processo. Qualquer ato. Perspetiva de
produzir efeitos na esfera jurídica dos particulares pode ser impugnado, independentemente
de ser um ato do início do meio e do fim. Portanto, a ideia da definitiva idade horizontal
desapareceu. E desapareceu. Porque a ordem jurídica começar pela ordem constitucional, o
artigo 268 número 4 estabelece o direito de reagir. Contra atuações administrativas que
produzam efeito. Não são actuações definitivas. Ni em sentido material NI em sentido ou
horizontal, pode ser um ato do início do meio ou do final do português. Qualquer ato que leve
o particular é um ato do qual ele pode reagir com textura. E por último, a definitiva idade
vertical, que era outro resquício ou resquício do Ministro Luiz, lembra. Quando o Ministro era
juiz, o juiz era ministro e, portanto, primeiro era preciso obter a decisão Máxima do Ministro e
só depois é que seria a Tribunal. E, portanto, o particular não podia impugnar a decisão.
Enquanto não houvesse a decisão do Minis. Para a tinha a ver com esta concentrada em
centralidade do século 18 francês. Século 19. ISTO, Hoje em dia não existe. Qualquer
funcionário Público, qualquer subalterno que o exercício dos seus poderes toma decisão. Essa
decisão pode ser impugnada contenciosamente, desde que seja. E portanto, a cripto a
definitiva idade foi ainda mais para o caixote do lixo. Durou muito tempo a Portugal até 89.
NOS outros países? Com o Estado social. A partir do século 20, ela desapareceu pouco.
Desapareceu em Portugal, ainda durou até 89 a um Estado autoritário. Não foi só a questão de
76 a 89. Já tinha bastantes aninhos. O que se calhar mostra. A frase. Rui machete citava com
alguma ironia. Faz sentido que era uma frase de Otto Maia. Que dizia basicamente ISTO. O
direito constitucional muda. E está sempre a mudar. O direito administrativo. ISTO significava
que, na lógica dele, o que interessava era A direita perceber ISTO não faz sentido. Vamos ver a
seguir. De uma das próximas. Agora no sentido de que as realidades administrativas demoram
muito mais tempo a mudar que as constitucionais. A construção de 76 já tinha mudado e
mudado o modelo de administração, mas continuava ao lado de positivo. História tem 89. Está
aqui um processo que é um processo lento. A habitação pública é lenta não só quando atua,
mas também ao entra. Porque não gosta de se modificar e vai resistir a todas? Ora bem. E
portanto aqui. Temos uma multiplicidade à nascença. Ainda ainda pegamos o executório
estava esquecer de executar. A executividade. O que era? A esquerda era a manifestação no
ato administrativo do privilégio da surpresa. Portanto, a administração gozava de um
privilégio. E exercia seleção prévia quando executava relativamente. Contra a vontade dos
partidos. Ora bem. ISTO implicava um modelo de administração que era um modelo de
administração. O particular pode solicitar a. O particular. Com a requerer que a anotação
praticou um ato que seja favorável aos seus direitos. 4001 bolsa de estudo pode pedir um
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subsídio do PRR pode pedir uma autorização de construção? Pode pedir uma licença para ser
uma atividade económica? Como é que ISTO se executa coletivamente? A lógica da sua ler o
manual do Professor Marcelo Caetano, já não do Professor Amaral, porque no final da vida
referencio, mas o Manuel estou Marcelo Caetano dias. Lá. Relatamos cativo é por natureza
definitiva, executa. É susceptível de execução coativa contra a vontade particular. Mas o
particular com a rua? O problema Hoje quando o particular pede um subsídio da administração
é que a administração não responde e eu quero que ela responda e responder e satisfazer o
interesse do particular. É essa a lógica dos acontecimentos. Se isso é assim, a executiva é dado,
pode ser característica, apesar de atrativo. E, portanto, é isso que teria dado. É algo que a lei
pode estabelecer para certo tipo. E mesmo assim sujeitas a limitações. Por exemplo, se
pegarem no CPA e vão fazer. Matéria de países que sabe data prevista. Verão, que não foi
execução de artifício, está regulada. Como subir? E há um princípio da legalidade. É preciso
que a lei autoriza a administração a executar. Porque se a lei não autoriza Santa são não. Não
tem nenhum privilégio, anotação, só tem os poderes legais. Que a lei lhe atribui? Se a lei não
atribui se ela não tem esse direito. Mais. Verão do CPA. Que há um domínio? Da atuação
administrativa. Em que a lei proíbe a administração pública. O exercício de poderes, quarta. É o
domínio das quantias monetárias. A administração não pode obrigar ninguém. Pagar os seus
impostos? Senão por via Tribunal. A pagar as multas? A pagar qualquer quantia monetária é
uma tradição portuguesa que vai do século 19. E, portanto, nesse caso. Eis que utilidade é
proibida? No caso dos atos favoráveis ao impossível, porque, por natureza, como é que, como
é que se executa com ativamente contra um estudante, quer uma bolsa, essa bolsa vai a
polícia com cassetete e dizer, Tens que aceitar, toma lá 5000 EUR, tens que aceitar, senão
levas com o cassete. Não é possível. Os atos favoráveis não são susceptíveis de execução de
fato. Souberem. São. Desconfia. É alguém que ainda vive no século 19, está desativado.
Curiosamente, na última lição Na Na, na última versão das lições do Professor Freitas do
Amaral. Ele já não se atreve a falar de a definitiva e suave. Tem, no entanto, 5 linhas. Uma nota
tem uma, não é uma nota tem no texto. O número que tem 5. Esta figura foi muito. Deu muito
à noite antes. Infelizmente, está ultrapassado, portanto, uma espécie de elogio fúnebre. Eu
Não resistiu a fazer um elogio fúnebre. Mas NOS dias, eles não faz qualquer sentido. Estou há
questões. E por último, e para terminarmos este marchar é como estar engraçada esta
primeira parte, ainda vamos continuar. Hã? Não parem por favor. Dizia-se também como
instrumento de controlo da sociedade administração era haver um ato administrativo Pereira.
Pensem bem no que isso significa? A polícia usar o exemplo mais britânico. Pode abusar dos
seus poderes? Mas não é por praticar um ato administrativo prévio que ela deixa de advogar.
Ela deixa de abusar por estar submetida à proporcionalidade e ao controlo da
proporcionalidade que permite o controlo da política. Se não suponham. O que é que era
praticar um ato administrativo? A administração via alguém a sua grande. Um ladrão em
flagrante. E antes de o agarrar de lançar a uva, dizia o meu malandro, o que é que tu estás a
fazer oral? Não é? E depois de dizer, o que é que tu estás a fazer? Dava-lhe último. Ou seja,
não é um ato administrativo que proíbe o exagero nem o Chefe. O que proíbe o Chefe? É a
existência de um princípio da proporcionalidade, que é um princípio material. E que ambos
ação não pode pôr em causa no exercício de seus poderes, designadamente no exercício da
força física. E Se Eu fizer, é punida por isso e punir o agente é punido no Japão. Ele o exemplo
que eu ponto no meu indústria da política, temos voltar a ele. Que é um exemplo cinéfilo.
Conhecem o 40 e Senhor? Há um senhor que quando era jovem, fazia os filmes mas Sonhos
viris. Harry era um polícia mais forte que todos os polícias que imponha a sua vontade acima
da lei e matava todos os criminosos. Macho viril hã agora faço umas coisas um bocadinho a
mexe, Toda A Gente chora e, portanto, mudou, converteu, não é pronto, eu gosto dos 2 dos 2,
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isso outros não é, mas houve ali uma mudança já não é o mesmo. Agora é o mariquinha.
Comparado com o que era aquela pessoa que ainda bem descobriu o seu ato menino, ainda
bem que assim é. Mas o gato fica aqui. Era o bom exemplo de um administrativista. A imagem
do Professor Marcelo Caetano Era Eu faria as delícias Professor Marcelo Caetano. Portanto,
Harry, quando apanhava um criminoso gratuito? Começava por dar um tiro numa perna. E
depois a seguir gritava Khamenei Payday. E outros e assim insultavam lhe estou, morreu logo
ali, ou seja, não é um ato administrativo. Que impede o abuso da força. Nem. Controle. e
portanto o que

2º parte da aula

Modelo francês vs modelo britânico

No momento do estado liberal, tornou-se mais evidente a distinção entre o modelo francês e
modelo britânico

Existência ou não de Existência ou não de Existência de


direito poderes decisórios tribunais
administrativo da administração ou administrativos
poderes de auto-
tutela vs hétero-
tutela

RU Não havia Não havia


FR Havia Havia

Maurice Hauriou
Dicey

WWW.elpisnetwork.eu

Nº5 outubro/novembro  alterações climáticas (vídeosestudam-se questões relevantes)

A revista abre sempre com um introdução/desafio

Tem tb vários artigos que versam sobre direito publico constitucional e administrativo
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Aula 02

Direito administrativo global

Direito administrativo sem fronteiras

Temos hoje um Direito Administrativo sem fronteiras? Sim. Durante muito tempo era Direito
nacional e não havia preocupações com o exterior que hoje em dia são prementes. Que
dimensões surgiram e que trouxeram de novo?

1. Direito Comparado: realidade essencial que contribuiu para a transformação do Direito


Administrativo (a partir dos anos 70) – embora já Otto Mayer, muito tempo antes, tinha
considerado o Comparado – era típico do direito privado e só se fez no domínio do Direito
público com o Estado social; para construir um sistema administrativo é necessário conhecer
outro (mas depois de fundado deixa de se prestar atenção e concentra-se no nacional) a. Para
perceber o Direito Próprio tem que se conhecer o alheio b. Dimensão comparada abre o
Direito Administrativo a outras realidades e a novas soluções c. Os tribunais Europeus, através
do Comparado olham para as jurisdições de vários Estados e criam Direito

2. Direito Europeu: deriva da constituição material da UE e integração das normas nos diversos
Estados-membros, através de tratados. Há também normas europeias sobre a “boa
administração” e quanto ao due process of law

3. Direito Global: realidade atual da globalização já surge com uma dimensão jurídica; o Direito
Administrativo espalhou as suas influências de princípios e regras europeias de resolução de
problemas a todo o mundo – realidade global com rede de relações entre várias entidades

a. “Shrimps vs. Turtles” – caso foi resolvido como problema de Direito Administrativo Global
(Cassese)

b. Passou a existir uma administração em rede pois muitos casos resultam da interação de
normas de DIP e Administrativo

O Direito Administrativo atual é totalmente diferente do do séc. XIX pelo que hoje a escola
alemã fala duma Nova Ciência do Direito Administrativo, de reconstrução do Direito
Administrativo em função nas novas áreas de atuação), assim pode-se reformular as questões
e adaptar as realidades aos problemas de hoje. ➢ VPS: concorda com esta nova corrente mas
desgosta do nome

Discussões teóricas sobre os direitos dos particulares

Escola Negacionista  Noção clássica e histórica (advinda dos traumas) – La Ferrière, Otto
Mayer, Santi Romano, Hauriou
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Nega-se direitos subjetivos aos particulares – a Administração era um poder que impunha a
sua vontade aos particulares, que eram o objeto do poder

Foi contrariado pela ideia de Estado de Direito mas tem reminiscências quando a CRP ainda
fala em “administrados”

• Teoria Francesa (Hauriou): lógica de um contencioso e de legalidade em que o particular só


poderia defender a lei; não havia Direitos face à Administração e não atuava no processo como
parte

• Teoria Alemã (Otto Mayer): “não faz sentido conceber um poder de vontade do particular
que se contrapõe ao poder público” – particular não goza de posição subjetiva de vantagem,
mas é protegido indiretamente, em termos fácticos, pelo cumprimento da lei (Reflexo do
Direito – reflexo subjetivo do direito objetivo)

Construções de uma Administração autoritária – ato administrativo define o direito do súbdito

Escola Subjetivista
Historicamente defendida por Bonnard, Barthélemy e Marcello Caetano.

Defesa do direito à legalidade – particular tem direito a que a Administração cumpra a lei

• Direito não correspondia à esfera jurídica do particular (direito sem sujeitos) e era um reflexo
do direito

o Confusão entre direito objetivo, que a ordem jurídica impõe o cumprimento da lei (existe
independente de mim), e direito subjetivo, que existe na minha esfera jurídica.

é a teoria hipócrita. Foi dominante até aos anos 80. Na pratica não atribuem direitos subjetivos
(aqueles que estão na esfera jurídica da pessoa)

Construção trinitária

Desenvolvida em Itália, derivada do Contencioso Administrativo. Em Portugal: Freitas do


Amaral, João Caupers, Vieira de Andrade.

Começa por ser uma construção binária e passa a trinitária. Particular tem sempre posição
substantiva de vantagem – podendo tê-la segundo critérios lógicos que distinguem o conteúdo
de realidades jurídicas diferentes 1. Proteção direta perante Direito Subjetivo – lei diz
expressamente que protege particulares e confere direitos subjetivos (cria a norma de
proteção à posição subjetiva de vantagem) 2. Proteção indireta perante Interesses Legítimos –
deveres da Administração que indiretamente protegem o particular. Lei estabelece um dever
de atuação da Administração que protege indiretamente o particular conferindo-lhe uma
posição subjetiva que corresponde a um interesse legítimo. • Surgiu pelo contencioso
administrativo (primeira tentativa de superar os traumas do Direito Administrativo) e por
razões práticas dos tribunais (gerais vs. administrativos) italianos. Mas desde o séc. XIX que
tem sido muito criticada e hoje em dia já não existe. • Dava a entender que o legislador apenas
regulava o poder e que por distração30 criava as posições subjetivas de vantagem nos
particulares (não era intencional) • Única diferença era o modo de criação do direito subjetivo
o Mas, ao regular-se um dever da administração, que existe no interesse do particular,
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corresponde à atribuição de um direito subjetivo – o dever e o direito são


correlatos/correspetivos

2 capitulo do ato admnistratvio perdio

Três vertentes (ordem cresente):

 Direito comparado
 Direito europeu -> há um direito próprio, o direito da união é um direito próprio;
diferente do direito global. O due -> regras do comercio, da politica energentica
comum é direito admnistrativo
 Direito global

1 dos artigos em inglês 3 página

Escolher um destes artigos que trata de direito constitucional e/ou direito admnistartivo

E que a partir disso fazer uma reflexão pessoal e um comentário

Um comentário pequeno em inglês que raciocine sobre aquele temas

O DIREITO admin comparável, mas ninguém se preocupava com o direito comparável no


quadro. Havia direito comparado no privado, mas o argumento agora são direito Público. Era
isso, não interessa nada porque as opções são nacionais e não há. Dimensões. Nem europeias
nem internacionais nem. Ao dizer ISTO? Eu estou. No entanto. A não ser justo com os pais
fundadores do direito. Administrativ. Porque no início? No. Os, século 19. Houve alguma
tendência para fazer direito comparado? Ainda que muito limitada. UI bom exemplo é o
doutor. Pai do direito administrativo. O amarra. Antes de escrever o seu livro fundamental do
direito direito, entretanto, é uma aula. Começou por escrever sobre o grande prazer. e tem um
manual que

Maurice hauriou -> não ligou ao direito comprado

Otto m. eee não havia grande intimidade, mas havia esta lógica de direito comparado

Os franceses são aquelesuq eque se compreu mmiuto 14

Há 3 momentos do c

1ºmomento é o da indifierneça 2 séc em que não se ves

2ºmomento

1 dos artigos que trate direito administrativo ou direito constitucional e administrativo.

1 reflexão pessoal, um comentário a 1 dos artigos e páginas. Que raciocine sobre um dos
temas do direito administrativo.

E depois um trabalho
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Aula 07/03/2023

Direito administrativos sem fronteias

O direito administrativo sem fornteiras tem uma tripla dimensão:


Dimensão comparada é uma necessidade atual e recente, que começou nos anos 60 e
acentuou-se nos anos 80. Mas porquê:
- Havia uma tendência, de considerar o modelo interno de cada um, melhor do que os outros,
portanto não era preciso comparar. Havia assim, uma certa arrogância do modelo de cada um.
Mas a dúvida e as crises levaram a que se comece a ter em conta o que os outros diziam, na
tentativa do melhoramento do sistema de cada um. Em Portugal houve uma grande diferença
a partir de 1976, com
A partir da adesão de Portugal à UE  doutrina e jurisprudência

Dimensão global  Hoje há um conjunto de normas de direito internacional publico que


criam organismos e tribunais internacionais que regulam questão administrativas para além
das fronteias estaduais . Sabino cassese -> 1 a falar desta dimensão do direito admisntartivo
global e fê-lo através do estudo das decisões judiciais, sobre o direito do mar
O que mudou no DIP, foi a ideia da aplicabilidade de muitas normas,

Dimensão europeia -> é um caso à parte.

Desde o tratado de lisboa há uma constituição material->porque tem regras do poder politico,
não s entre a relação dos europeus, mas tb entre os europeus e os nacionais. Há carta dos
direito fundamentais que tutela os direitos fundamentais. A grande

não é uma constituição formal, porque houve o referndo da constituição em sentido porprio
que se tentou contruir na holna e na frnaça que rejeitam.

O direito europeu

A grande mudança é que os indivíduos tem direitos que podem fazer valer com a
administração. Há uma igual posição jurídica sobre partículas perante a administração. Ambos
têm posições de direitos e deveres. O particular tem dos seu lado fundamentais, e esses
direitos fundamentais vinculam a administração, dai haver um igualdade de posições.

A administração tem o devere de seguir o interesse publico e repsietar o direito fundmaneais,

A posição de que os cidadãos estavam submetidos à lei, o

otto maya -> um dos pais do direito administrativo encara o particular enquanto súbdito do
direito administrativo.

Acesa e ensaiado em França. Levava a que se considerasse. que o que estava em causa no
tribunal E esse juízo acerca da legalidade era feito. Não sobre um ato praticado por uma
autoridade administrativa. Nem sobre um ato que cruzava os direitos particular. Que o juiz
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fazia era separar o ato de quem praticava e daqueles que eram a tinta. E, portanto, de uma
forma neutra e objetiva. Dizia se o ato era legal ou não era. Bom e só. Usava uma metáfora
para explicar esta situação, dizendo que, tal como na Idade Média. Se faziam processo a um
cadáver. No contexto dos anos, atingiu o processo que se fazia. Era um lado dos ativos que era
um cadáver. Não tinha pai nem mãe, ninguém tinha feito, não é isso? E não afetava a vida. O
que estava em causa não era direitos particulares, nem o julgamento de ambos. Que estava
em causa apenas declararam. Esta teoria objetivista, que em Portugal durou até 2004, a partir
de 85, começou a ser mudada. Mas tou. Não o suficiente e altura que ele interviesse nesta
discussão. Se quiserem mais divertidos da minha vida pessoal e profissional. Tem a ver
precisamente com esta luta por um contencioso subjetivo com a transformação do modelo
convencional. A ideia que contencioso e como agora diz a Constituição, depois de 89 do artigo
268 41 contexto ou se existe? Para a tutela do Bes, Portugal. É esse o fim último do próprio?
Para esta lógica objetivista do contencioso, o fim último. Do contencioso gustativo era apenas
a determinação da da legalidade. Era uma análise da legalidade desligada de quem praticou
ato o artigo não estava no caso julgado. E desligada dos particulares que eram ofende. E os
particulares podiam levar os casos a Tribunal quando estiver sem um interesse prático e aqui é
uma aproximação a esta lógica, o interesse de fato. mas

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Aula 14/03/2023

Como vamos falar hoje, em resultado também de uma nova lógica de enquadrar o direito
como sendo norma, mas sendo também princípio. Estes princípios, que são valores
fundamentais para a norma jurídica, têm de ser aplicados tal como as normas e se não forem
aplicados, há uma ilegalidade no quadro desta atuação jurídica. E, portanto, também aqui a
ideia de que normas e princípios têm uma relação entre si, mas que os princípios valem com
um peso autónomo e esse peso significa a fixação de parâmetros, a fixação de limites, para o
exercício de poderes discricionários.

 Fontes de direito

A “escola clássica de Lisboa”, na esteira de MARCELLO CAETANO, distinguia entre um conceito


amplo de acto administrativo e um conceito restrito de acto impugnável, que se caracterizava pelas
características (substantivas) da definitividade e da executoriedade. Neste sentido, vide MARCELLO
CAETANO, «Manual de D. A.», cit., vol.I, cit., pp. 427 e ss.; FREITAS DO AMARAL, «Direito
Administrativo», lições policopiadas, volume III, 1989, páginas 59 e seguintes (mx. páginas 205 e
seguintes).
21Tradicional, na “escola de Coimbra” (mas com defensores também em Lisboa) era a adopção de um
conceito restrito de acto administrativo, tanto para efeitos substantivos como processuais, caracterizado
pela ideia de regulação ou de determinação de efeitos jurídicos novos, e afastando dessa qualificação
outras actuações jurídicas unilaterais denominadas como “actos instrumentais” (ROGÉRIO SOARES) ou
“actos auxiliares” (SÉRVULO CORREIA). Neste sentido, vide por todos, em Coimbra, ROGÉRIO
SOARES, «Direito Administrativo», lições policopiadas, Coimbra, 1978, páginas 51 e seguintes; em
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Professor Doutor Vasco Pereira da Silva
Lisboa, SÉRVULO CORREIA, «Noções de Direito Administrativo», volume I, Danúbio, Lisboa, 1982,
páginas. 288 e seguintes.
Na última versão das suas lições de Direito Administrativo, contudo, FREITAS DO AMARAL adere
igualmente a esta noção restritiva de acto administrativo (vide FREITAS DO AMARAL, «Curso de Direito
Administrativo», vol. II, páginas 203 e seguintes - mx. pp. 253 e ss.), argumentando que, «inovando em
relação às definições tradicionais, o artigo 120.º do CPA veio acrescentar mais um elemento à definição
de acto administrativo». Pois, de acordo com o autor, ao estabelecer que o acto administrativo «é uma
decisão proveniente de um órgão administrativo» (FREITAS DO AMARAL, «Curso de D. A.», cit., vol. II, p.
220), isso deve agora corresponder à adopção de um «conceito estrito de decisão» como «estatuição ou
determinação sobre uma certa situação jurídico-administrativa» (FREITAS DO AMARAL, «Curso de D.
A.», cit., vol. II, p. 221).

Aula 16/03/2023

Evolução discriciona+´rio e poder vinculado -> é a lei que estabelece

como duas faces da moeda do principio da legalidade

O poder discricionário- corresponde a uma vontade normativa- resulta da norma jurídica- da


administração, que está também submetida

Ou seja, discricionariedade e vinculação – eu não posso

escolher pão de forma, porque isso é algo vinculado, mas, tenho a possibilidade de escolher

pão alentejano, pão da padeira, etc... Fatias têm de ter 1,5 cm de espessura – e isto é

vinculado. É que se tiver 1,4 cm ou 1,6 cm não tem problema, já se tiver 1 cm ou 2 cm é que

fica diferente. Ou seja, mesmo aqui em que há vinculação, esta vinculação, apesar de tudo,

ainda permite uma certa margem de escolha, mesmo que a escolha esteja limitada. É uma

escolha que pode na prática não existir e ser limitada a zero.

A seguir, são os Ovos. São ovos de galinha, não posso fazer isto com ovos de codorniz ou

outra coisa do género. Agora se são ovos de galinha do campo, ou da cidade, ou das criadas

em aviário, ou criadas numa casa de família, é uma escolha. Eu não posso é utilizar ovos de

codorniz, se não estou a violar a receita. É a mesma coisa que a Administração perante uma

lei, tem a mesma margem de escolha e a mesma possibilidade: se eu usar ovos de codorniz eu

vou estragar a receita, se eu não cumprir essa regra vincula, eu estou a cometer uma

ilegalidade. Portanto, tenho margem de escolha em relação a todos os aspetos discricionários,

não tenho margem de escolha em relação aos aspetos que são vinculados.
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30 gramas de manteiga, não serve margarina, , mas manteiga pode ser de vários tipos e vai

condicionar a escolha, pode ser a manteiga rançosa, dos Açores ou então podem ser aquelas

manteigas que não sabem a nada- O gosto vai ser diferente, mas isso cabe a mim a escolha, é

a minha criação enquanto intérprete de direito e aplicador da lei. Já se eu usar margarina eu

estou a violar a receita, se eu não cumprir a regra vinculada eu estou a desrespeitar a lei.

Há sempre uma margem de escolha, e aspetos vinculados, a escolha nunca é total e nunca é

livre, é uma escolha balizada pelas opções fornecidas pelo legislador, e uma escolha que tem

sempre aspetos vinculados, aspetos estes que nunca podem ser postos em causa ( decorrerem

de princípios constitucionais).

(sobre as teorias, a propósito do debate:

Aula de 7/03/2023 - 2º Parte: Beatriz Sales 

A grande mudança que se deu no direito administrativo hoje é que os indivíduos


são sujeitos das relações jurídicas. Os indivíduos têm direitos que podem
fazer valer perante a administração, e a relação jurídico-administrativa
entre os particulares é uma relação de igualdade. Há uma igual posição
jurídica dos particulares perante a administração e há diferentes direitos e poderes
que correspondem ao conteúdo dessa relação. Colocam o particular e a
administração em posições de hierarquia e de poder que, em geral, são
equilibrados.

São equilibrados porquê?

Porque, se a administração que é a entidade que tem como objetivo procurar a


realização do interesse público, e isso é elemento essencial, como consta na nossa
constituição no artigo 267° (princípio da prossecução do interesse público).

A administração nunca pode prosseguir o interesse privado, se o fizer está a violar


a lei. Seja para meter dinheiro ao bolso, ou se utilizam a função para favorecer
entidades privadas, seja pelo que for. O interesse factum  é algo que tem de ser
realizado, e isso atribui à administração um papel relevante, mas o particular
tem do seu lado os direitos fundamentais. Os direitos fundamentais
obrigam, vinculam a própria administração, pois esta não pode colocar em
causa os direitos fundamentais, e é por isso que a relação é equilibrada. Se
por um lado está o interesse público, este que é o interesse de todos - e este não
se pode realizar sem a tutela dos direitos fundamentais -, é preciso compatibilizar
os direitos fundamentais.

A Constituição teve a felicidade de tratar dos dois princípios no mesmo artigo, a


prossecução do interesse público no respeito pelos direitos fundamentais. Não é
possível apenas prosseguir o interesse público, é preciso cumprir os direitos
fundamentais. É preciso então combinar as duas dimensões. 
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E se atualmente eu diria que ninguém discute a verdade desta afirmação, Até há
bem pouco tempo não era assim. Não só durante muito tempo se dizia que a
administração era um poder público, um poder que exercia autoridade
sobre os cidadãos e, portanto, a posição dos particulares era de um objeto
do poder administrativo, a de alguém que estava submetido à lei sem
qualquer possibilidade ou poder de reagir.

Otto Mayer - não só considera inadmissível que se possa sequer falar em direitos
dos particulares, porque ele diz que não faz sentido que uma entidade que tem
poder, que pode fazer tudo aquilo que quiser, esteja submetida a direitos dos
particulares, não admitindo sequer a ideia da relação. Sendo Otto Mayer um dos
pais do direito administrativo, este diz que o ato administrativo é aquele em que a
administração define os direitos dos súbditos no caso concreto. O particular é um
súbdito, é uma entidade que está integralmente submetida. Não há direitos
subjetivos públicos no direito administrativo e quando no mediatismo se falar em
relações no direito administrativo, as relações em causa eram relações de poder.

O professor Marcelo Caetano, por exemplo, no quadro da mesma lógica, fala da


relação jurídica com a influência do direito privado, mas diz que é uma relação
jurídica de poder, em que a administração só tem poder e o particular só tem
dever. Sendo esta uma visão arbitrária, uma visão autoritária do direito
administrativo que é incompatível com o moderno Estado democrático, e, portanto,
hoje em dia estas visões são inadmissíveis. Procurando enquadrar do ponto de vista
teórico estas concessões que eu chamaria defensoras do direito administrativo
objetivo, concessões objetivistas que vigoraram sobretudo no século XIX, mas
ainda também uma boa parte do século XX.

Temos a explicação negativista/positivista do direito administrativo que é a posição


do doutor Mayer, mas também do Hans Kelsen, autor do positivismo à escala
internacional.

O que é que diziam estes senhores?

O particular não tinha direitos, era um objeto do exercício do poder, e portanto,


aquilo que o particular podia contar era com uma proteção indireta por parte da
administração por esta ter de cumprir a lei, correspondendo indiretamente ao que o
particular queria. O particular tinha assim interesses perante a administração,
interesses esses que nem era jurídicos no início e que correspondiam a um reflexo
do direito objetivo da esfera jurídica do particular. Se o direito que o particular
detinha era objetivo, este não podia exigir o cumprimento à administração,
pois não detinham direitos subjetivos. 

A lógica do positivismo é uma espécie de fim tardio do liberalismo político. Faz-se a


teorização quando o liberalismo já estava a entrar em crise, onde havia uma
produção autoritária e agressiva da administração. O positivismo e a sua influência
no direito administrativo vai introduzir esta ideia negativista, mas há outra
dimensão negativista não germânica, mas sim francesa que é um negativismo que
decorre do contencioso administrativo. Saído da revolução francesa e ensaiado em
França, este levava a que se considerasse que o que estava em causa num tribunal
era apenas a legalidade da atuação administrativa, e esse juízo à cerca da
legalidade era feito, não por um ato provocado por uma autoridade administrativa,
nem sobre um ato que lesava os direitos dos particulares. Aquilo que o juiz fazia
era separar o ato de quem o praticava e daqueles que eram atingidos, portanto, de
uma forma neutra e objetiva,<< analisava se o ato era legal ou não. (falta um
nome de um homem) 9min usava uma metáfora que explicava esta situação, tal
como na idade média se faziam processos que eram um cadáver do contencioso
administrativo. O processo que se fazia era um cadáver, não havia pai nem mãe,
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ninguém os tinha feito e não afetava ninguém. O que estava em causa não era o
direito dos particulares, nem o julgamento da administração. Estava então em
causa, apenas declarar a ilegalidade. Esta teoria em Portugal durou até 2004, mas
a partir de 1985 começou a ser mudada. Começou a luta por um contencioso
administrativo subjetivo fazendo uma transformação no modelo contencioso. O
contencioso é, como agora diz a constituição no artigo 268, n4, o contencioso que
existe é para a tutela dos direitos dos particulares, sendo esse o seu fim último.
Para esta lógica objetivista do contencioso administrativo, o fim último do
contencioso administrativo era apenas a determinação da legalidade. Uma análise
desligada de quem praticou o ato, do órgão e dos particulares, e estes últimos
podiam levar os casos a tribunal quando tivessem um interesse factum, mas nunca
se considera que os particulares tivessem direitos subjetivos. O tabu do direito
administrativo bate sempre no espectro do pecado original. O particular no
contencioso administrativo vai ao tribunal fazer o quê? Porque foi punido, porque
foi expulso da função pública e vai querer isso de volta, ser reintegrado na função
pública. Vai até querer a prestação que não recebeu, tudo na defesa do direito
subjetivo que foi violado. O que faz o órgão administrativo que praticou o ato?
Claro que irá dizer que cumpriu a lei, mas se o juiz disser que o órgão violou a lei,
este vai ser condenado, vai ter de anular o ato.

Existe uma terceira teoria, que é uma teoria muito hipócrita, porque adorava o
nome do inimigo. Era conhecida pela teoria subjetivista do direito público, que
servia para negar a ideia do direito subjetivo público. Esta teoria foi
introduzida por Bartellini e, em Portugal, pelo professor Marcelo Caetano. 

O que é que se dizia nesta teoria?

Não se negava que o particular tivesse um direito, mas este não tinha direito a uma
atuação concreta da administração.

Esta teoria fala de um direito que tem um conteúdo que não é subjetivo,
mas sim objetivo, que se confunde com a ilegalidade e por tal não é um
direito que se deixe na esfera jurídica de ninguém, nem que permita
alguém impugnar uma atuação administrativa para obter uma vantagem.
Este direito é abstrato, na expressão do professor Marcelo Caetano, o direito à
legalidade. 

No fundo é a versão positivista/negativista do reflexo do direito, chama-se


direito mas na realidade corresponde a um reflexo, não pertencendo de facto
a ninguém, dado que ninguém tem direito a atuar, mas em conjunto todos têm
direito a que a administração atue corretamente. Esta teoria surge no séc XX e, em
Portugal, foi dominante até aos anos 80, quando se começou a reconstruir o direito
administrativo. É a ideia de usarmos a expressão do inimigo para negar o conteúdo
dessa expressão. É chamada de subjetivista, mas não atribui direitos subjetivos.

Todas estas teorias foram importantes no passado, no entanto, são inadmissíveis

Então quais são as posições modernas e qual a sua compatibilidade com a


constituição?

Temos a teoria trinitária, que começou por ser binária. Esta teoria fala em
direitos subjetivos e interesses legítimos, mas são de “segunda categoria”.
Esta teoria é defendida pelo professor Freitas do Amaral. O professor Marcelo
rebelo de Sousa continua a aceitar a versão binária, mas a maioria dos autores
desta corrente adota a expressão “interesses difusos”.
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No quadro desta construção doutrinária, que proveio do direito italiano teorizada
por Zarovini e depois adotada pela maioria dos autores portugueses. 

Interesse legítimo- Era considerado um direito de segunda, uma tutela indireta por
parte da ordem jurídica. Este atribuía ao particular uma posição de vantagem
perante a administração, e essa permitia-lhe ir a tribunal para a tutela dessa
vantagem.

Depois aparecem os interesses difusos, que consistem em interesses coletivos, em


que o particular tem uma parcela ínfima desse interesse coletivo, mas é protegido
indiretamente por essa proteção global conferida a um bem jurídico comum. EX:
direito fundamental do ambiente – artigo 76º CRP. Resulta inicialmente de uma
proteção da linha da ordem jurídica objetiva, mas que atribui simultaneamente uma
proteção jurídica subjetiva. 

O professor Vasco Pereira da Silva critica esta teoria, pois diz que há uma questão
que está mal colocada – porque, no quadro da nossa ordem jurídica, é igual do
ponto de vista da teoria geral do direito, que o legislador diga que “fulano tal tem
direito a X”, ou que o legislador diga que “fulano tal tem dever que se comporte da
seguinte maneira” – olhando para o CC é exatamente igual o legislador dizer que o
“comprador tem direito à coisa” ou que este diga que o “vendedor tem o dever de a
entregar” – no quadro da posição jurídica, tem posições simétricas. Tal como não
faz sentido dizer, segundo o nosso CC, que o “vendedor tem o dever de entregar a
coisa e o comprador não tem direito”,também não faz sentido dizer que era um
interesse legítimo, porque um dever no interesse de outrem corresponde a um
direito. Por isso, este pensamento deve ser introduzido no direito administrativo.
Do ponto de vista jurídico, é exatamente igual o direito atribuído de uma forma que
o legislador lhe dá esse nome, como atribuído através de um dever que lhe foi
pedido no interesse de outrem.

Esta teoria vem dizer que pode haver direitos subjetivos ou potestativos, por
exemplo, e que estes direitos são de segunda, então têm um regime jurídico
diferente, o que é uma noção errada do nosso ordenamento jurídico. O legislador
regula sempre os direitos e os interesses legalmente protegidos, ou seja, todas as
disposições que correspondem a direitos subjetivos, segundo a perspetiva do
professor Vasco Pereira da Silva, estão reguladas no regime jurídico.

Esta doutrina, na Itália onde nasceu, fazia sentido no princípio, uma vez que a
matéria dos direitos subjetivos era da competência dos tribunais comuns, enquanto
que os interesses legítimos eram da competência dos tribunais administrativos e,
portanto, a repartição de competência não era como a nossa, em que tudo o que
tem haver com a administração cabe aos tribunais administrativos, quer se trate de
direitos ou de deveres. Mas a lógica italiana é de que tudo o que estabelece direitos
é dos tribunais comuns e o que estabelece deveres é do contencioso administrativo.

A parte trinitária chega com os interesses difusos, a propósito, por exemplo, do


direito ao ambiente. Há quem diga que não existe um direito, mas sim um
interesse difuso, um interesse de todos. Mas na perspetiva do professor, isto
equivale tanto a uma proteção objetiva do direito, mas há também o direito das
pessoas a utilizarem o meio ambiente e esta utilização pelo particular é um
interesse subjetivo. Ou seja, não é por haver uma proteção objetiva que não há a
possibilidade de vir a dar origem a direitos subjetivos dos particulares e
aproveitamento do bem ambiente.  Ex: Praia – bem publico protegido como tal, que
pode dar origem a relações jurídicas com aproveitamento de um bem – pessoas
que querem ir para as sombras da praia pagam e quem não quer não paga.
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Teoria do direito reativo, teoria que o professor já defendeu, deixou de defender
rapidamente, mas existem bons autores que defendem, o professor Rui Medeiros
e o professor Mário Gonzalez. Esta teoria tem uma vantagem, pois é unitária dado
que os direitos são iguais, não existindo de primeira ou segunda categoria. No
entanto, tal como nas interiores teorias, o professor vê um problema, porque o
direito reativo nos dias de hoje e na nossa ordem jurídica, é algo que está atribuído
a quem tem direito e portanto não é ele que caracteriza o direito, sendo mais uma
consequência do direito. Tal como refere o artigo 268, nº4 da CRP, o particular tem
o direito de ir a tribunal para defender o seu direito, ou seja, é um direito para
proteger outros direitos. O real objetivo é que a administração atue de X maneira,
sendo que o direito do particular resulta de um dever da administração. 

Esta teoria consiste então no direito de reagir contenciosamente, e portanto, ao


contrário do que dizia a doutrina binária em que eram apenas interesses legítimos,
apenas interessava o direito final, esta é unitária e por isso confunde o direito
reativo com os direitos substantivos que esse direito visa proteger, confundido
assim a relação jurídica processual com a relação jurídica substantiva, porque em
rigor no direito administrativo existem 3 relações jurídicas: uma substantiva, em
que a lei estabelece os direitos e os deveres dos particulares e da administração
num concurso (se eu concorro ao concurso existe uma relação administrativa que
me dirá os meus direitos e os meus deveres, e portanto, a lei define o que eu e a
administração devemos fazer); depois também existe a relação processual, dado
que a decisão não é tomada do “céu”, existem regras de execução e uma decisão
(se houver alguma violação destas regras ainda tenho também o direito a ir a
tribunal para defender a minha posição, sendo esse um direito mas que não esgota
os outros direitos). O problema desta teoria é incluir na reação, tudo aquilo que
vem antes desta. Apesar de o professor ter simpatia por esta teoria, defende
outra. 

Por fim, a Teoria da norma de proteção, sendo a teoria que o professor Vasco
Pereira da Silva defende, esta introduz uma lógica de aproximação do direito
público ao direito civil.

Podemos encontrar esta teoria, por exemplo, no livro do professor Servulo Correia. 

Esta releva nos dias de hoje haver uma norma que estabelece direitos, como
aquela que estabelece deveres. Esta norma existe tanto para a tutela dos
interesses da administração como os dos particulares e a base para isto é o artigo
267, nº1 que diz que a administração prossegue o interesse público no respeito
pelos direitos dos particulares, pois o dever da administração agir corresponde a
um direito dos particulares àquele comportamento. Se a administração não o fizer,
está a violar o direito dos particulares. Concluímos que esse direito resulta da lei.
Esta conceção surgiu ainda no início do séc XX por um autor alemão que defendia
as três condições para a existência de um direito e, o que aconteceu foi que esta
tese foi transformada e deu origem à atual teoria da norma proteção. 

Quais eram essas 3 condições para a existência de um direito? 

Em primeiro lugar, a existência de uma norma jurídica vinculativa, uma norma que
protegesse esse interesse e a possibilidade de ir a tribunal. 

Destas três condições, a doutrina vem reformular e alargar esta teoria dos direitos
subjetivos comuns. 

Em relação ao segundo aspeto, aquilo que Barlow vem dizer é que, no Estado
democrático de direito, o particular é sempre protegido, titular de direitos
fundamentais que estão na base da ordem jurídica portuguesa, nos termos do
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artigo 1°, que fala da dignidade da pessoa humana. A ideia é de que os particulares
neste tipo de Estado têm direitos fundamentais e que a administração age de
acordo com estes. 

Em relação ao direito de reagir, vem dizer que é por ter sido violado um direito
substantivo e um direito processual, essa reação é uma consequência da existência
do direito. 

Depois de Barlow, vem um outro autor que é … e vem introduzir um alargamento


nesta teoria da norma de proteção, que praticamente só se preocupava em afastar
a teoria binária. A preocupação com o surgimento de direitos, como o direito ao
ambiente, e inclui-los nos direitos dos particulares a que a administração fiscalize,
por exemplo, o cumprimento das regras sobre o ruído ou intervenha para impedir
perturbações na ordem pública. 

Concluindo, estas teorias têm em comum o facto de o individuo ter sempre


posições substantivas de vantagem perante a Administração. 

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