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MATERIAL DE AMOSTRA

Assuntos ilustrativos*

Coordenador
Caio Souza
Sumário
SIMULADO PRÁTICO-DISCURSIVO...................................................................................................3

PARECER.....................................................................................................................................................3
QUESTÃO 1 ................................................................................................................................................21
QUESTÃO 2 ................................................................................................................................................27
QUESTÃO 3 ................................................................................................................................................42

CORREÇÃO INDIVIDUALIZADA .......................................................................................................51

E-BOOK ...............................................................................................................................................53

FICHAS DE JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................63

VIDEOAULAS......................................................................................................................................68

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SIMULADO PRÁTICO-DISCURSIVO
PARECER

O Estado pretende desenvolver dois importantes projetos na capital: 1) ampliação do


transporte urbano com a construção de novas estações de metrô; 2) construção de um Hospital
na Região norte da capital. No entanto, o gestor, ciente da escassez de recursos orçamentários,
solicitou à Secretaria das Cidades propostas viáveis para realizar os projetos mencionados. Como
resposta, o órgão trouxe as seguintes informações:

Projeto A: Contrato cujo objeto consiste na expansão da malha ferroviária e a implantação


de metrô na capital. Para tanto, sugere delegar por meio do contrato, a gestão, operação e
manutenção, precedido de obra para implantação e/ou reforma do empreendimento. O projeto
prevê a cobrança de tarifa dos usuários, porém reconhece que o montante arrecadado não é
suficiente para garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Projeto B: Implantação do Hospital da Zona Norte na capital, tendo dois modelos


possíveis de gestão:

i. O integral de gestão privada, em que a concessionária é responsável tanto pela


gestão predial (serviços não assistenciais) quanto pelo atendimento médico aos
usuários. Essa modalidade é conhecida como gestão “bata branca” (assistência
hospitalar à população pelo concessionário).
ii. Modelo de responsabilidade do setor privado restrito à gestão predial
(engenharia clínica), limpeza, manutenção, segurança, recepção, entre outros),
com a assistência médica hospitalar permanecendo sob a responsabilidade do
Estado, modelo este chamado de “bata cinza”.

A remuneração principal do contratado consistiria no pagamento da contraprestação


pecuniária mensal por parte do Estado. Segundo o projeto, ficaria proibido ao contratado utilizar
outras fontes de renda, com exceção de duas atividades especificadas em contrato: realização de
pesquisa médica e atividades relacionadas à alimentação dos usuários.

De posse das informações apresentadas, emita parecer conclusivo, respondendo,


fundamentadamente, os seguintes questionamentos:

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a) Para viabilização dos empreendimentos, quais os instrumentos contratuais recomendados
e quais os requisitos necessários para a formalização destes instrumentos contratuais?
b) O Estado, para atrair investidores ao empreendimento, pode promover vinculação de
receitas como forma de conceder garantia contratual de adimplemento ou prever a
antecipação do pagamento ao contratado? Tais investidores podem obter a assunção do
controle ou a administração do empreendimento, mesmo não mantendo vínculo societário
direto com o contratado?
c) O Estado pode se valer da contratação integrada durante o processo de contratação?
Conceitue o instituto, diferencie da Empreitada integral e fundamente sua resposta.

COMENTÁRIOS

ASPECTOS ESTRUTURAIS E INTRODUTÓRIOS

A atividade de consultoria jurídica é um dos papeis institucionais da advocacia pública.


Assim, por meio de parecer, o advogado público presta assessoramento técnico ao Poder
Público.
A consultoria é feita por meio da análise estritamente jurídica, de modo que o candidato
deve ter cuidado para não adentrar na análise de temas técnicos, que compõem o mérito
administrativo. Estes são de responsabilidade do gestor público, a quem foi atribuída
competência para deliberar sobre sua conveniência e oportunidade (discricionariedade
administrativa).
A título ilustrativo, mencione-se o que dispõe o enunciado nº 07 do Manual de Boas
Práticas Consultivas da AGU:

“O Órgão Consultivo não deve emitir manifestações conclusivas sobre temas


não jurídicos, tais como os técnicos, administrativos ou de conveniência ou
oportunidade, sem prejuízo da possibilidade de emitir opinião ou fazer
recomendações sobre tais questões, apontando tratar-se de juízo discricionário,
se aplicável. Ademais, caso adentre em questão jurídica que possa ter reflexo
significativo em aspecto técnico deve apontar e esclarecer qual a situação
jurídica existente que autoriza sua manifestação naquele ponto.”

Dito isto, é importante relembrar a estrutura do parecer, composta inicialmente por um


cabeçalho com as seguintes informações:

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Parecer nº ____
Interessado (ou consulente): _____
Assunto: ______

As informações epigrafadas devem ser extraídas exclusivamente do enunciado da questão.


Se alguma delas não estiver prevista, não crie nenhum dado e, além disso, seja objetivo ao
preencher tais campos. É importante que o aluno tente seguir essa estrutura básica, tendo em
vista que nas últimas provas organizadas pela CESPE a banca atribuiu pontuação para os
candidatos que apresentassem os itens básicos do parecer.
Após essas informações iniciais, deve ser elaborada uma “ementa” (geralmente justificada
à direita da página), na qual o candidato deve inserir informações que resumam os principais
pontos tratados no parecer. Recomenda-se que o primeiro período a ser inserido seja o ramo
jurídico de seu conteúdo, seguido da indicação dos aspectos jurídicos de maior relevo, de maneira
a favorecer a sua indexação.
Vale a pena destacar as exigências feitas pela CESPE, na segunda fase do concurso da
PGE – SE, realizada em dezembro de 2017, em relação à ementa, bem como à estrutura geral do
parecer:

“Ementa exemplificativa. Serão verificados os aspectos de formatação e adequação da


ementa ao conteúdo do parecer. A Ementa tem de estar na porção direita da folha.

Os tópicos essenciais da matéria devem ser apresentados sob a forma de frases


nominais, ou seja, frases sem verbo. A ementa deve reunir, de forma lógica e coordenada, as
principais palavras-chave utilizadas na elaboração do parecer.

– Estrutura do parecer, com numeração, análise e conclusão, incluindo o


encadeamento lógico do problema.

– Fecho do parecer, com submissão à autoridade superior, data e assinatura.”

A ementa é um breve resumo sobre o teor do parecer. Aconselha-se deixar um espaço em


branco após o cabeçalho. Quando concluída a peça, o aluno deve voltar para o espaço deixado
em branco para a elaboração da ementa. Na ementa, registre a seguinte gradação: DISCIPLINA,
GRANDE TEMA, TEMA ESPECÍFICO, TESES.

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Exemplo de ementa sobre a situação hipotética:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS.


PROJETO A: CONCESSÃO PATROCINADA. PROJETO B: CONCESSÃO
ADMINISTRATIVA. REQUISITOS, CONDIÇÕES E POSSIBILIDADES.
CONTRATAÇÃO PELO RDC. CONTRATAÇÃO INTEGRADA. POSSIBILIDADE
No que tange ao texto, ele deve ser subdividido em relatório, fundamentação e conclusão.
O relatório deve ser sucinto. O aluno deve sempre lembrar que o examinador já tem os
fatos. O ideal é gastar tempo e espaço com conhecimento jurídico, pois a mera transcrição do
enunciado não concede pontos. Trata-se de mero cumprimento de formalidade. Desse modo,
quando não dispensado, o aluno deve reservar, no máximo, cinco linhas para o relatório.
A fundamentação ideal é separada em tópicos. Isso facilita a correção do examinador. Veja
abaixo os tópicos de mérito necessários à pontuação integral.

LETRA A

O tema cobrado pela questão é bastante pertinente em face da necessidade de conciliar a


escassez de recursos orçamentários com a necessidade de execução de obras e serviços.

Dado o volume de recursos necessários para empreendimentos de alto custo, a


participação da iniciativa privada se mostrou uma opção viável para a realização destes
investimentos. Nesse contexto surgem as parcerias público-privadas (PPP), lastreadas em dois
pontos fundamentais: (a) falta de disponibilidade de recursos financeiros; (b) e busca da
eficiência da gestão de serviços atingida pelo setor privado.

Desse modo, observamos que as parcerias público-privadas (PPP) consistem em um dos


principais instrumentos utilizados pelo Estado brasileiro para realizar investimentos em
infraestrutura. Por intermédio de uma PPP, a União, os Estados ou os Municípios podem
selecionar e contratar empresas privadas que ficarão responsáveis pela prestação de serviços de
interesse público por prazo determinado.

Ao conceituar a PPP, assevera Fernanda Marinela (Curso de Direito Administrativo) que


estamos diante de “um acordo firmado entre administração pública e a pessoa do setor privado,
com o objetivo de implantação ou gestão de serviços públicos, com eventual execução de obras
ou fornecimento de bens, mediante financiamento do contratado, contraprestação pecuniária do
Poder Público e compartilhamento dos riscos e dos ganhos entre os pactuantes. Trata-se de uma
espécie de concessão de serviços público, denominada concessão especial.”

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Obs.: Parte da doutrina critica o termo “Parceria”, por tratar-se de contrato e, como tal, os
interesses são divergentes, contrapostos, e não comuns como o nome faz crer.

O fundamento legal para a utilização desse modelo gerencial é a Lei 11.079/04, tendo
como base constitucional o art. 22, XXVII, que define como competência privativa da União legislar
sobre normas gerais em matéria de licitações e contratos, tendo essas regras aplicação de
âmbito nacional, devendo ser observadas pelos demais entes (ADI 3.670, rel. min. Sepúlveda
Pertence, julgamento em 2-4-2007, Plenário, DJ de 18-5-2007).

Observem que o instituto da PPP é definido pelo art. 2º, da Lei 11.079/04, como contrato
administrativo de concessão:

Art. 2º. Parceria público-privada é o contrato administrativo de concessão, na modalidade


patrocinada ou administrativa.

Por tratar-se de um contrato administrativo de concessão, observamos aplicação


subsidiária de diversos dispositivos da Lei 8.666/93 e Lei 8.987/95. É muito importante ter em
mente que as PPP’s não deixam de figurarem como concessões, entretanto estabelecidas
como uma categoria especial em face de algumas características peculiares. A Lei 11.079/04
distinguiu as concessões comuns das especiais, estando estas subdivididas em duas
modalidades: Concessão especial patrocinada e Concessão especial administrativa.

Ambas as modalidades são conceituadas pela Lei 11.079/04 da seguinte forma:


a) Concessão patrocinada, segundo o § 1º, art. 2º, da Lei 11.079/04, é a concessão de
serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei n o 8.987, de 13 de fevereiro
de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa cobrada dos usuários
contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.
b) Concessão administrativa, nos termos do § 2º, do mesmo dispositivo, é o contrato de
prestação de serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta,
ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens.
Desse modo, percebemos a existência de duas modalidades distintas de concessão
especial que devem ser compreendidas e diferenciadas na confecção do parecer em tela. Atentem
para o fato de que uma distinção substancial reside na contraprestação pecuniária do parceiro
público ao parceiro privado:

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Na Concessão patrocinada o parceiro privado é remunerado através de tarifa
cobrada dos usuários e adicionalmente teremos a figura da contraprestação pecuniária do
parceiro público ao parceiro privado.

Por sua vez, na Concessão administrativa, a relação da empresa contratada é direta


com a administração, inexistindo vínculo com o administrado. A distinção dessa espécie de
concessão com o simples contrato de serviços é que a lei exige expressamente que o contrato
não seja exclusivamente de serviço, devendo ser mesclado com a execução de obra ou o
fornecimento de bens.

Da questão em tela, para definir o instrumento contratual recomentado se faz


necessário adentar na análise da modelagem econômico-financeira de cada um dos
projetos:

No Projeto A (expansão da malha ferroviária e a implantação de metrô na capital)


observamos a possibilidade de cobrança de tarifa dos usuários, porém em montante não
suficiente para garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Ou seja, a possibilidade de
cobrança de tarifa dos usuários é uma premissa essencial para definir a modalidade de concessão
especial a ser utilizada, bem como a obrigatoriedade de o Poder Público participar do pagamento
dos investimentos realizados pelo parceiro privado, caracterizando um dos aspectos de distinção
para as concessões comuns, em que o poder público tem a faculdade de participar.

Com efeito, a modelagem econômico-financeira apresentada pelo Projeto A nos leva a


enquadrá-lo como contrato de PPP na modalidade Concessão Patrocinada, nos termos do Art.
2º, § 1º da Lei 11.079/04, confira:

Art. 2º (...) § 1º Concessão patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de


que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver, adicionalmente à tarifa
cobrada dos usuários contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado.

Obs.: Dúvidas poderiam surgir sobre a possibilidade de utilização da concessão de serviço público
precedida de obra pública, nos termos do 2º da Lei nº 8.987/1995, que assim conceitua o instituto:

Art. 2º (...) III – concessão de serviço público precedida da execução de obra pública: a construção,
total ou parcial, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse
público, delegada pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à
pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por
sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado
mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado.
No entanto, o enunciado da questão é claro no sentido de que o projeto prevê a cobrança de tarifa

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dos usuários, porém que esse montante arrecadado NÃO é suficiente para garantir o equilíbrio
econômico-financeiro do contrato.
É cediço que a Lei nº 8.987/1995, no art. 11, prevê a possibilidade de OUTRAS FONTES
provenientes de RECEITAS ALTERNATIVAS, mas observem, tais fontes visam FAVORECER A
MODICIDADE DAS TARIFAS. Ou seja, não há como se inferir a possibilidade, no caso em tela,
de fontes alternativas de tal monta que compensem o desequilíbrio econômico-financeiro do
contrato na questão em tela. Portanto, a sugestão viável para o caso em questão é a PPP na
modalidade Concessão Patrocinada.

Por sua vez, no que tange à modelagem econômico-financeira do Projeto B, em ambos os


possíveis modelos de gestão apresentados (bata cinza ou bata branca), não se verifica a
cobrança de tarifa dos usuários do serviço público de saúde.

Podemos, portanto, observar que resta descaracterizada a concessão patrocinada, visto


que para a configuração desta modalidade de concessão é imperiosa a existência da tarifa paga
pelo usuário privado, sendo a contraprestação do poder público apenas um “plus” na receita do
parceiro privado.

Por sua vez, conforme assevera o art. 190 da Constituição Federal, a Saúde é direito de
todos e dever do Estado. Desse modo, verificamos que a Administração Pública será a usuária
indireta da prestação de serviços de saúde que envolve o Projeto B, e que envolve, também, a
execução de obra pública.

Como vimos, tais serviços serão remunerados exclusivamente pelo parceiro púbico
através de contraprestação pecuniária paga pelo Poder Público. Resta, portanto,
caracterizado a modalidade de Concessão Administrativa nos moldes do art. 2º, § 2º da Lei
11.079/04, confira:

Art. 2º (...) § 2º Concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a


Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou
fornecimento e instalação de bens.

Assim, deve-se concluir que, para viabilização dos empreendimentos, se faz


necessário o Contrato administrativo de Concessão especial na modalidade Concessão
Patrocinada para o Projeto A e Concessão Administrativa para o Projeto B.

Para a constituição das Parcerias destacadas, devem ser observadas algumas


formalidades, como o procedimento licitatório prévio, a elaboração do instrumento do

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contrato, observância das cláusulas essenciais e facultativas e a constituição de sociedade
de propósito específico, conforme apontaremos adiante.

De início, cabe apontar os requisitos exigidos pela Lei 11.079/04 no art. 2º, § 4º, dispondo
da seguinte forma:

§ 4º É vedada a celebração de contrato de parceria público-privada:

I - cujo valor do contrato seja inferior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais);


(Redação dada pela Lei nº 13.529, de 2017);

II – cujo período de prestação do serviço seja inferior a 5 (cinco) anos; ou

III – que tenha como objeto único o fornecimento de mão-de-obra, o fornecimento e instalação de
equipamentos ou a execução de obra pública.

Portanto temos a necessidade de adequação do valor, o prazo mínimo e o objeto às


exigências legais. Ademais, o Art. 5º, da Lei 11.079/04 elenca as cláusulas necessárias dos
contratos de PPP. Aduz o inciso I, do dispositivo em comento, o seguinte:

Art. 5º. (...)

I – o prazo de vigência do contrato, compatível com a amortização dos investimentos realizados,


não inferior a 5 (cinco), nem superior a 35 (trinta e cinco) anos, incluindo eventual prorrogação;

Ou seja, nos termos do supracitado art. 5º, inciso I, o período máximo estabelecido em 35
anos deve ser observado.

Por outro lado, para formalização do contrato de PPP se faz necessário a observância das
diretrizes elencadas pelo art. 4º da Lei, confira:

Art. 4º Na contratação de parceria público-privada serão observadas as seguintes diretrizes:

I – eficiência no cumprimento das missões de Estado e no emprego dos recursos da sociedade;

II – respeito aos interesses e direitos dos destinatários dos serviços e dos entes privados
incumbidos da sua execução;

III – indelegabilidade das funções de regulação, jurisdicional, do exercício do poder de polícia e de


outras atividades exclusivas do Estado;

IV – responsabilidade fiscal na celebração e execução das parcerias;

V – transparência dos procedimentos e das decisões;

VI – repartição objetiva de riscos entre as partes;

VII – sustentabilidade financeira e vantagens socioeconômicas dos projetos de parceria.

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Diante de tais diretrizes podemos elencar os requisitos formais para as concessões
vislumbradas pelo ente público:
a) Procedimento Licitatório (arts. 10 a 12 da lei):
- Para instauração do certame exige-se autorização da autoridade competente embasada em
estudo técnico que demonstre a conveniência e a oportunidade da contratação e demonstre que o
impacto das despesas não prejudicará os resultados fiscais. (Art. 4º, IV da Lei);

- Outro ponto relevante é a submissão da minuta de edital e de contrato à consulta pública,


mediante publicação na imprensa oficial, em jornais de grande circulação e por meio eletrônico,
que deverá informar a justificativa para a contratação, a identificação do objeto, o prazo de
duração do contrato, seu valor estimado, fixando-se prazo mínimo de 30 (trinta) dias para
recebimento de sugestões, cujo termo dar-se-á pelo menos 7 (sete) dias antes da data prevista
para a publicação do edital;

- Também é exigido a licença ambiental prévia ou expedição das diretrizes para o


licenciamento ambiental do empreendimento, na forma do regulamento, sempre que o objeto
do contrato exigir;

- A modalidade licitatória é a concorrência, seguindo as regras da Lei 8.666/93, com algumas


peculiaridades como a inversão na ordem das fases de habilitação e julgamento e a adoção de
critérios para seleção da melhor proposta baseados, além dos critérios previstos nos incisos I
e V, do art. 15 da Lei no 8.987/95, o menor valor da contraprestação a ser paga pela
Administração Pública e na melhor proposta em razão da combinação do critério do menor
valor da contraprestação a ser paga pela Administração Pública com o de melhor técnica,
de acordo com os pesos estabelecidos no edital;

b) Constituição de Sociedade de propósito específico (art. 9º);

Conforme o art. 9º da Lei, antes da celebração do contrato, deverá ser constituída


sociedade de propósito específico, incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria.

Obs.: Segundo interpretação da doutrina, a sua constituição deve ocorrer após a realização da
licitação e antes da celebração do contrato.
A sociedade de propósito específico poderá assumir a forma de companhia aberta, com
valores mobiliários admitidos a negociação no mercado. (§2º) e deverá obedecer a padrões de
governança corporativa e adotar contabilidade e demonstrações financeiras padronizadas,

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conforme regulamento (§3º). Ademais, é vedado à Administração Pública ser titular da maioria do
capital votante das sociedades de que trata este Capítulo (§4º). Por outro lado, essa vedação não
se aplica à eventual aquisição da maioria do capital votante da sociedade de propósito específico
por instituição financeira controlada pelo Poder Público em caso de inadimplemento de contratos
de financiamento (5º§).

c) Contrato de concessão especial na modalidade Concessão Patrocinada para o Projeto


A e Concessão Administrativa para o projeto B (art. 5º);

São cláusulas essenciais obrigatórias:

I - prazo de vigência de 5 a 35 anos, incluindo eventual prorrogação;

II - definição de penalidades aplicáveis à Administração Pública e ao parceiro privado em caso de


inadimplemento contratual, fixadas sempre de forma proporcional à gravidade da falta cometida, e
às obrigações assumidas;

III – a repartição de riscos entre as partes, inclusive os referentes a caso fortuito, força maior, fato
do príncipe e álea econômica extraordinária;

IV – as formas de remuneração e de atualização dos valores contratuais;

V – os mecanismos para a preservação da atualidade da prestação dos serviços;

VI – os fatos que caracterizem a inadimplência pecuniária do parceiro público, os modos e o prazo


de regularização e, quando houver, a forma de acionamento da garantia;

VII – os critérios objetivos de avaliação do desempenho do parceiro privado;

VIII – a prestação, pelo parceiro privado, de garantias de execução suficientes e compatíveis com
os ônus e riscos envolvidos, observados os limites dos §§ 3º e 5º do art. 56 da Lei no 8.666, de 21
de junho de 1993, e, no que se refere às concessões patrocinadas, o disposto no inciso XV do art.
18 da Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995;

IX – o compartilhamento com a Administração Pública de ganhos econômicos efetivos do parceiro


privado decorrentes da redução do risco de crédito dos financiamentos utilizados pelo parceiro
privado;

X – a realização de vistoria dos bens reversíveis, podendo o parceiro público reter os pagamentos
ao parceiro privado, no valor necessário para reparar as irregularidades eventualmente detectadas;

XI - o cronograma e os marcos para o repasse ao parceiro privado das parcelas do aporte de


recursos, na fase de investimentos do projeto e/ou após a disponibilização dos serviços, sempre
que verificada a hipótese do § 2° do art. 6° desta Lei.

LETRA B

A viabilidade do instituto das PPP depende, fundamentalmente, da capacidade de se


convencer parceiros e financiadores privados de que o Poder Público vai honrar suas obrigações
contratuais de longo prazo e de que, se por acaso as descumprir, tais parceiros e financiadores

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terão condições de executar, de forma rápida e eficiente, as garantias que lhes serão oferecidas,
de maneira a se ressarcirem dos prejuízos que tal inadimplência certamente lhes causará.

Nesse contexto, as garantias às obrigações pecuniárias da Administração Pública em


contratos de PPP ganham relevo, completando a modelagem econômica apresentada por cada
uma das modalidades de parcerias.

Tais garantias estão listadas no artigo 8º da Lei das PPPs sendo elas:

Art. 8º As obrigações pecuniárias contraídas pela Administração Pública em contrato de parceria


público-privada poderão ser garantidas mediante:

I – vinculação de receitas, observado o disposto no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal;

II – instituição ou utilização de fundos especiais previstos em lei;

III – contratação de seguro-garantia com as companhias seguradoras que não sejam controladas
pelo Poder Público;

IV – garantia prestada por organismos internacionais ou instituições financeiras que não sejam
controladas pelo Poder Público;

V – garantias prestadas por fundo garantidor ou empresa estatal criada para essa finalidade;

VI – outros mecanismos admitidos em lei.

A vinculação de receitas deve ser realizada observando-se as limitações constitucionais,


que impedem a vinculação da receita de impostos (Artigo 167, inciso VI, da CF/88).
Entretanto, as receitas decorrentes dos demais tributos e de outras fontes da
Administração Pública poderão ser vinculadas para garantir as obrigações assumidas.

Obs.: Celso Antônio Bandeira de Mello tece duras críticas ao dispositivo legal, confira:
“Há grosseira inconstitucionalidade na previsão do art. 8º, I, segundo a qual obrigações
pecuniárias da Administração resultantes da parceria poderiam ser garantidas por vinculação de
receitas. Conforme foi flagrado pelo prof. Harada, a proibição de vinculação de receitas residente
no art. 167, IV, da Constituição, só pode ser excepcionada nos casos que especifica, consoante
ali mesmo está previsto e estampado de maneira exuberantemente clara. A única remissão que
nele se faz ao tema de prestação de garantias concerne a operações de créditos por antecipação
de receita, ou a pagamento de créditos da União (§ 4º do mesmo artigo) Além disto, na primeira
hipótese, sempre conforme observado pelo citado jurista, a prestação de garantias suposta
naquele dispositivo nem ao menos tem o mesmo sentido que lhe é próprio no direito privado. Sua
finalidade não é garantir algum credor, mas “preservar o equilíbrio entre o montante do
empréstimo público (dívida pública) e o valor da receita antecipada”, para prevenção de

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desequilíbrio orçamentário. Na segunda hipótese está claríssimo que o que entra em pauta são
débitos de Estados ou Municípios para com a União.
Em suma: receita pública jamais pode ser vinculada à garantia de créditos de particular, sob pena
de escandalosa inconstitucionalidade.”

Portanto, em que pese a posição contrária de Celso Antônio Bandeira de Mello, a


vinculação de receitas é modalidade de garantia contratual em contratos de parceria, contanto que
observem o disposto no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal.

Não haverá possibilidade de adiantamento de pagamentos dos serviços não


disponibilizados. Com efeito, seguindo o que é comum nos contratos administrativos de
prestação de serviço, o pagamento ao parceiro privado pela execução contratual só poderá
ser feito após a disponibilização do serviço objeto do contrato (art. 7º), sendo facultado, se
seus termos o contemplarem, pagar a contraprestação relativa à parcela já fruível do serviço.
Ademais, o aporte dessa parcela, quando realizado durante a fase dos investimentos a cargo do
parceiro privado, deverá guardar proporcionalidade com as etapas efetivamente executadas (§§
1º e 2º).

Ainda no bojo das ferramentas que possibilitam maior estímulo aos investidores, encontra-
se a possibilidade de assunção do controle ou a administração do empreendimento pelos
investidores, mesmo não tendo eles vínculo societário direto com o contratado.

Tal possibilidade foi inserida na Lei 11.079/04 pela Lei 13.097/2015, sendo elencada como
cláusula facultativa nos contratos de parceria, confira:

Art. 5º (...) § 2º Os contratos poderão prever adicionalmente:

I - os requisitos e condições em que o parceiro público autorizará a transferência do controle


ou a administração temporária da sociedade de propósito específico aos seus financiadores
e garantidores com quem não mantenha vínculo societário direto, com o objetivo de
promover a sua reestruturação financeira e assegurar a continuidade da prestação dos
serviços, não se aplicando para este efeito o previsto no inciso I do parágrafo único do art.
27 da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015)

II – a possibilidade de emissão de empenho em nome dos financiadores do projeto em relação às


obrigações pecuniárias da Administração Pública;

III – a legitimidade dos financiadores do projeto para receber indenizações por extinção antecipada
do contrato, bem como pagamentos efetuados pelos fundos e empresas estatais garantidores de
parcerias público-privadas.

É importante frisar que o parceiro público fixará o prazo da administração temporária. Por
sua vez, a administração temporária autorizada pelo poder concedente não acarretará

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responsabilidade aos financiadores e garantidores em relação à tributação, encargos, ônus,
sanções, obrigações ou compromissos com terceiros, inclusive com o poder concedente ou
empregados, conforme o art. 5-A da Lei de PPP.

LETRA C

A Contratação Integrada consiste no regime de execução contratual previsto para as


obras e serviços de engenharia na qual a contratada é responsável tanto pela elaboração do
projeto básico, quanto do executivo, bem como pela execução e entrega da obra acabada, pronta
para funcionar.

Confira a redação de Art. 9º, § 1º da Lei 12.462/2011;

Art. 9º, § 1º A contratação integrada compreende a elaboração e o desenvolvimento dos projetos


básico e executivo, a execução de obras e serviços de engenharia, a montagem, a realização de
testes, a pré-operação e todas as demais operações necessárias e suficientes para a entrega final
do objeto.

Essa espécie de regime de execução contratual é elencada no âmbito do Regime


Diferenciado de Contratações Públicas (RDC) no artigo 8º da Lei n. 12.462/11, confira:

Art. 8º. Na execução indireta de obras e serviços de engenharia, são admitidos os seguintes
regimes:

I - empreitada por preço unitário;

II - empreitada por preço global;

III - contratação por tarefa;

IV - empreitada integral; ou

V - contratação integrada.

Dos cinco regimes de execução, apenas a contratação integrada não está prevista na Lei
n. 8.666/93, o que torna relevante sua abordagem. É importante ressaltar as distinções entre a
contratação integrada e os outros regimes de execução, especialmente a empreitada integral.

A Empreitada integral é definida pelo art. 6º, VIII, “e”, da Lei 8.666/93, consistindo na
contratação da integralidade de um empreendimento, compreendendo todas as etapas das obras,
serviços e instalações necessárias, inclusive projeto executivo, sob inteira responsabilidade da
contratada até a sua entrega ao contratante em condições de ocupação. No entanto, na
empreitada integral, a elaboração do projeto básico é feita pelo contratante.

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Por sua vez na contratação integrada o projeto básico é elaborado pelo contratado,
logo é conferida uma maior autonomia ao particular na contratação integrada.

Diante disso, assevera Juliano Heinen1, ao diferenciar Contratação integrada da


Empreitada Integral, que:

“A contratação integrada é uma ‘espécie de empreitada integral’, com a diferença de que, na


primeira, o Poder Público não se incumbe de fazer o projeto básico. Na empreitada integral, este
documento compete ao ente estatal ou será objeto de licitação específica, sendo imprescindível sua
confecção.”

O regime de Contratação Integrada, como vimos, é aplicável nas contratações no


âmbito do RDC (Art. 9º, da Lei 12.462/2011), na qual estão incluídos:
i. Obras e serviços de engenharia no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS (art.
1º, inciso V, da Lei 12.462/2011, incluído pela Lei nº 12.745, de 2012); e
ii. Obras e serviços de engenharia, relacionadas a melhorias na mobilidade urbana ou
ampliação de infraestrutura logística (art. 1º, inciso VIII, da Lei
12.462/2011, incluído pela Lei nº 13.190, de 2015).

No entanto, quanto à possibilidade de utilização do regime de Contratação Integrada nas


contratações em tela, o aluno deve ter em mente as seguintes informações:

O STF, por decisão liminar nos autos do Mandado de Segurança 33.889-STF, tendo
como relator o ministro Luís Roberto Barroso, determinou a suspensão da eficácia de
dispositivos da 13.190/2015 até posterior deliberação.

Com efeito, na Ação de Inconstitucionalidade nº 5.127, o plenário do STF declarou que o


“contrabando legislativo” representa costume inconstitucional e decidiu pela “impossibilidade de se
incluir emenda em projeto de conversão de Medida Provisória em lei com tema diverso do objeto
originário da Medida Provisória”.

Nesse contexto, importa observar que a Lei nº 13.190/15 originou-se de projeto de


conversão em lei da MP 678, cuja redação original previa apenas a inclusão dos incisos VI e VII
no art. 1º da lei nº 12.462/2011. No entanto, o texto recebeu 72 (setenta e duas) emendas
parlamentares que foram aprovadas e encaminhadas à sanção da Presidência da República.

1 HEINEN, Juliano. Regime diferenciado de contratações: lei nº 12.462/2011. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2015, p. 58

16
Assim, foi impetrado o mencionado mandado de segurança 33.889 no Supremo Tribunal
Federal com o objetivo de impedir que esses “contrabandos legislativos” fossem sancionados e
que o entendimento do STF quanto à inclusão de matérias estranhas à redação original das MPs
prevalecesse na hipótese.

Como resposta ao MS, antes mesmo da sanção presidencial da lei nº 13.190/15, o ministro
Luís Roberto Barroso concedeu liminar no seguinte sentido:

“para suspender o trâmite do Projeto de Lei de Conversão nº 17/2015, exceto naquilo que
corresponde ao acréscimo dos incisos VI e VII ao art. 1º da Lei nº 12.462/2011. Caso sancionado o
projeto em pontos diversos daqueles excepcionados acima, fica a eficácia de tais
dispositivos suspensa até posterior deliberação”.

Desse modo, até decisão em sentido contrário do STF, o regime de Contratação Integrada
(Art. 9º, da Lei 12.462/2011), não poderá ser utilizado para obras e serviços de engenharia,
relacionados a melhorias na mobilidade urbana ou ampliação de infraestrutura logística, no caso
em tela o Projeto A, tendo em vista que os dispositivos inseridos pela Lei nº 13.190/15 estão com
eficácia suspensa.

No entanto, uma vez que as contratações de obras e serviços de engenharia no âmbito do


Sistema Único de Saúde – SUS estão inseridas no rol do RDC (art. 1º, inciso V, da Lei
12.462/2011, incluído pela Lei nº 12.745, de 2012), existe a possibilidade de contratação através
do regime de Contratação Integrada.

17
ESPELHO DE CORREÇÃO

PARECER
Quesitos avaliados Nota Comentários
Aspectos microestruturais (adequação ao -
número de linhas, coesão, coerência,
ortografia, morfossintaxe e propriedade
vocabular); – 0,0 a 2,0;

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS E
ORGANIZAÇÃO
Cabeçalho, ementa, conclusão e organização
da fundamentação em tópicos;
– 0,0 a 5,0;
- LETRA A -
(1) Instrumento Contratual do Projeto A
(Metrô): Parceria público-privada (PPP) por
Contrato Administrativo de Concessão na
modalidade Concessão Patrocinada (Art. 2º, §
1º, da Lei 11.079/2004);
(2) Instrumento Contratual do Projeto B
(Hospital: Bata Branca ou Bata Cinza):
Parceria público-privada (PPP) por Contrato
Administrativo de Concessão na modalidade
Concessão Administrativa (Art. 2º, § 2º, da Lei
11.079/2004;
(3) Requisitos necessários para a contratação:
Licitação na modalidade concorrência (art. 10);
Criação prévia de Sociedade de propósito
específico (art. 9º); Contrato de PPP,
atendendo as cláusulas necessárias do art. 23,
da Lei 8.987/95 e 5º, da Lei 11.079/2004); -
0,0 a 1,0;
– 0,0 a 21,0 (cada item 7,0)
– LETRA B
(1) Possibilidade de concessão de garantia,

18
PARECER
Quesitos avaliados Nota Comentários
nos termos do art. 8º, da Lei 11.079/2004,
incluindo a vinculação de receitas, observado
o disposto no inciso IV, art. 167 da CF/88;
(2) Vedada antecipação de pagamento nos
termos do art. 7º da Lei 11.079/2004;
(3) Possibilidade de previsão contratual de
assunção temporária do empreendimento
pelos investidores para promover sua
reestruturação financeira e assegurar a
continuidade da prestação dos serviços (Art.
5º, § 2º, inciso I, da Lei 11.079/2004;
– 0,0 a 21,0 (cada item 7,0)
– LETRA C
(1) A Contratação Integrada consiste no
regime de execução contratual previsto para
as obras e serviços de engenharia na qual a
contratada é responsável tanto pela
elaboração do projeto básico, quanto do
executivo, bem como pela execução e entrega
da obra acabada, pronta para funcionar (Art.
9º, § 1º da Lei 12.462/2011);
(2) A contratação integrada é uma ‘espécie de
empreitada integral’, com a diferença de que,
na primeira, o Poder Público não se incumbe
de fazer o projeto básico. Na empreitada
integral, este documento compete ao ente
estatal ou será objeto de licitação específica,
sendo imprescindível sua confecção;
(3) Aplicável nas contratações no âmbito do
RDC (Art. 9º, da Lei 12.462/2011), na qual
estão incluídos: obras e serviços de
engenharia no âmbito do Sistema Único de
Saúde - SUS (art. 1º, inciso V, da mencionada

19
PARECER
Quesitos avaliados Nota Comentários
Lei) e obras e serviços de engenharia,
relacionadas a melhorias na mobilidade
urbana ou ampliação de infraestrutura logística
(art. 1º, inciso VIII, da mencionada Lei);
– 0,0 a 21,0 (cada item 7,0)
NOTA

20
QUESTÃO 1

“Os direitos sociais constituem-se no segundo grupo integrador do conceito de Direitos


Fundamentais, que, por mais que adicionem ao catálogo anterior (direitos individuais), são
responsáveis por empreender uma releitura completa e radical, inclusive produzindo alterações no
significado destes (direitos individuais). Ou seja, os direitos sociais não só alargam a tábua de
direitos fundamentais, mas também redefinem os próprios direitos individuais. Sua origem
histórica está na crise da tradição do Estado Liberal e na consagração do paradigma do Estado
Social de Direito, que, rompendo com os padrões formalistas de igualdade e de liberdade do
paradigma anterior, vão buscar mecanismos mais concretos de redução das desigualdades
socioeconômicas dentre os membros da sociedade. (...) Seu traço principal é a mudança de
comportamento esperado/exigido do Estado; isto é, abandonam a percepção de uma postura
abstencionista por parte do Estado, para, ao contrário, afirmar a necessidade desse intervir,
gerando condições de implementação de programas públicos (acerca de saúde, trabalho,
educação etc.)”

FERNANDES. Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora


Juspodivm, 2015.

Acerca dos direitos sociais, elabore um texto dissertativo que aborde os seguintes pontos:

a) Correlação existente entre os Poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário),


respectivamente, com as ideias da reserva do possível, do núcleo essencial dos direitos
constitucionalmente assegurados e do mínimo existencial;
b) Princípio da proibição da evolução reacionária, abordando seus conteúdos negativo e
positivo.

COMENTÁRIOS

A) CORRELAÇÃO EXISTENTE ENTRE OS PODERES DA REPÚBLICA (EXECUTIVO, LEGISLATIVO E


JUDICIÁRIO), RESPECTIVAMENTE, COM AS IDEIAS DA RESERVA DO POSSÍVEL, DO NÚCLEO ESSENCIAL

DOS DIREITOS CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADOS E DO MÍNIMO EXISTENCIAL

Os direitos individuais, em sua grande maioria, são direitos de defesa do indivíduo em face
do Estado. Exigem do Estado uma abstenção, uma não interferência. Já os direitos sociais são
direitos prestacionais, ou seja, exigem do Estado uma atitude positiva, prestações materiais ou
jurídicas.

21
As prestações materiais exigem recursos financeiros para serem implementadas,
interferindo diretamente no orçamento estatal. Isso porque cada decisão “alocativa” de recursos é
também uma decisão “desalocativa”, ou seja, se o Poder Judiciário condena o Estado a custear
um determinado tratamento, o Estado vai ter que alocar um recurso de outro lugar, vez que o
orçamento da saúde é limitado.

Nesse contexto, surge a reserva do possível, expressão surgiu no Direito Alemão, no


Tribunal Federal Constitucional, em 1972, tendo como objeto questões relacionadas a vagas em
Universidades.
As limitações orçamentárias, em determinadas circunstâncias fáticas, acabam sendo um
obstáculo à plena realização de determinados direitos.

A reserva do possível está relacionada a três aspectos:

a) Possibilidade fática: consiste na disponibilidade dos recursos orçamentários


necessários à satisfação do direito prestacional. Quando se fala em
disponibilidade orçamentária, deve ser feita uma universalização da prestação,
ou seja, a prestação a ser implementada pelo Estado deve ser analisada sob a
perspectiva de todos aqueles que se encontrem naquela situação e não apenas
do ponto de vista individual. O principio que exige essa universalização é o
principio da igualdade. A questão relacionada aos direitos sociais não envolve
apenas o indivíduo e o Estado, mas sim a coletividade, de forma que os direitos
fundamentais de terceiros também devem ser levados em consideração. Trata-
se de uma questão de justiça distributiva.

b) Possibilidade Jurídica: consiste na existência de autorização orçamentária


para cobrir as despesas, assim como na análise das competências federativas.
Trata-se da existência de autorização para que aquela despesa seja coberta, e
não se há ou não orçamento. Não pode ser um obstáculo absoluto, ou seja, é
um dado a ser levado em consideração, mas que não impede a realização do
direito.

c) Razoabilidade da exigência e a proporcionalidade da prestação: a realização


prática dos direitos prestacionais depende da razoabilidade da pretensão
individual ou social exigida em face do Estado (STA 178 – fornecimento de
medicamentos).

22
Por outro lado, surgiu a teoria do mínimo existencial, segundo a qual, para que se possa
usufruir dos direitos de liberdade (direitos individuais), antes se faz necessária a implementação e
a garantia de um piso mínimo de direitos. Esses direitos protegidos voltam-se para o atendimento
e a concretização das necessidades básicas de um ser humano. Tais garantias de condições
materiais básicas de vida, para alguns doutrinadores, seriam diretamente relacionadas à saúde e
à autonomia individual (o que, reflexamente, faria referência, também, a alimentação, educação,
vestuário, moradia etc.). Para outros doutrinadores, o mínimo existencial indicaria um conteúdo
relativo, que não poderia ser definido a priori, sem que fosse levada em consideração uma
situação concreta e específica2.

De acordo com Daniel Sarmento3, independentemente da perspectiva absoluta ou relativa


adotada, haveria duas dimensões acerca da teoria do mínimo existencial: i) dimensão negativa:
em que o mínimo existencial opera como um limite, impedindo a prática de atos pelo Estado ou
por particulares que subtraiam do indivíduo as condições materiais indispensáveis a uma vida
digna; ii) dimensão positiva: diz respeito a um conteúdo essencial (mínimo) de direitos
prestacionais a serem implementados e concretizados, possibilitando aos indivíduos uma vida
digna.

Já o núcleo essencial dos direitos constitucionalmente assegurados consiste em uma


garantia inatingível de cada direito fundamental, um conteúdo mínimo cuja restrição está fora de
alcance do legislador.

Nesse sentido, surge a teoria dos limites dos limites, no âmbito dos direitos fundamentais,
balizando a atuação do legislador quando este restringe direitos fundamentais.

Em outras palavras, referida teoria apregoa que a atividade restritiva de direitos


fundamentais constitucionalmente assegurados, por parte do Estado, deve ser, igualmente, uma
atividade limitada, de forma que não ultrapasse a medida estritamente necessária à própria
concretização de tais direitos e demais bens constitucionalmente protegidos.

2 FERNANDES. Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora Juspodivm, 2015.

3 Apud FERNANDES. Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora Juspodivm, 2015.

23
Assim, à luz das considerações formuladas em linhas pretéritas, deveria o candidato, para
obter a pontuação integral do item “a”, abordar os conceitos das teorias indicadas,
correlacionando-as aos Poderes da República, da seguinte maneira4:

• O administrador (Poder Executivo), dentro da ideia da reserva do possível, deve


implementar as políticas públicas.

• O legislador, ao regulamentar os direitos, deve respeitar o seu núcleo essencial,


dando as condições para a implementação dos direitos constitucionalmente
assegurados.

• O Judiciário deve corrigir eventual distorção para se assegurar a preservação do


núcleo básico que qualifica o mínimo existencial.

b) PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA EVOLUÇÃO REACIONÁRIA, ABORDANDO SEUS CONTEÚDOS NEGATIVO E


POSITIVO

O princípio da proibição da evolução reacionária também é conhecido como princípio da


proibição (vedação) do retrocesso social; princípio da não reversibilidade dos direitos
fundamentais sociais; ou efeito cliquet.

Quando se fala em proibição de retrocesso social, nos referimos às medidas


concretizadoras dos direitos sociais, ou seja, a finalidade é impedir que o legislativo ou executivo
(Poderes que concretizam os direitos sociais) retrocedam nos direitos conquistados.

De acordo com Bernardo Gonçalves Fernandes5, o princípio da proibição da evolução


reacionária deve ser entendido na atualidade como um limite material implícito, de forma que os
direitos fundamentais sociais já constitucionalmente assegurados e que alcançaram um grau de
densidade normativa adequado não poderão ser suprimidos por emenda constitucional e nem
mesmo por legislação infraconstitucional, a não ser que se tenha prestações alternativas para os
direitos em questão6.

4 LENZA, Pedro. Curso de Direito Constitucional Esquematizado. 21ª Edição. Saraiva: 2017.

5 Op. Cit.

6 O “princípio da proibição do retrocesso” não deve e nem pode ser visto como um impedimento para modificações
(legislativas) no âmbito dos direitos fundamentais, porém a revogação de normas que disciplinam direitos

24
Nesses termos, segundo o citado Autor7, o princípio da proibição do retrocesso social
possui conteúdos negativo e positivo.

O conteúdo negativo – que, para a doutrina majoritária, prevaleceria sobre o conteúdo


positivo – se refere à imposição ao legislador de, ao elaborar os atos normativos, respeitar a não
supressão ou a não redução do grau de densidade normativa que os direitos fundamentais sociais
já tenham alcançado por meio da normatividade constitucional e infraconstitucional, salvo se
forem desenvolvidas prestações alternativas para, de forma supletiva, resguardarem direitos
sociais já consolidados.

O conteúdo positivo da vedação ao retrocesso social, por sua vez, encontrar-se-ia no


dever dos Poderes Públicos de implementarem direitos sociais através da efetiva concretização
dos direitos fundamentais sociais, visando a constante redução das desigualdades fático-sociais.
Aqui, não se trataria de mera manutenção do status quo, mas sim de verdadeira imposição da
obrigação de avanço social.

ESPELHO DE CORREÇÃO

Quesitos avaliados Nota Comentários


Aspectos microestruturais (adequação ao
número de linhas, coesão, coerência,
ortografia, morfossintaxe e propriedade
vocabular); – 0,0 a 1,0;

a) Correlação existente entre os


poderes da república (executivo,
legislativo e judiciário),
respectivamente, com as ideias da
reserva do possível, do núcleo
essencial dos direitos
constitucionalmente assegurados e do

fundamentais sociais deve ser acompanhada de medidas alternativas que tenham a capacidade de compensar
eventuais perdas”. (FERNANDES. Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora
Juspodivm, 2015).

7 Op. Cit.

25
Quesitos avaliados Nota Comentários
mínimo existencial.
- definição dos institutos;
- correlação com os poderes da República
– 0,0 a 4,5

b) Princípio da proibição da evolução


reacionária, abordando seus conteúdos
negativo e positivo

- Definição do instituto;

- abordagem dos seus conteúdos negativo


e positivo

– 0,0 a 4,5.

NOTA

26
QUESTÃO 2
O Procurador-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais ajuizou, no TJ/MG, ação direta
de inconstitucionalidade em face de lei municipal, de iniciativa da Câmara Municipal de Belo
Horizonte, que previa o pagamento de 13º (décimo terceiro) salário, do terço de férias e de verba
de representação ao Prefeito e ao Vice-Prefeito do ente municipal.

O TJ/MG julgou procedente a ADI estadual sob o fundamento de que a referida lei
municipal ofendeu o §4º do art. 39 da CF/88, pois o Prefeito e o Vice-Prefeito são remunerados
por meio de subsídio, em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional,
abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória.

Nesse contexto a Câmara Municipal de Belo Horizonte apresentou reclamação


constitucional no Supremo Tribunal Federal. Asseverou que o TJ/MG, ao julgar inconstitucional lei
municipal com base em dispositivos da Constituição Federal, teria usurpado a competência da
Corte Suprema.

Diante dessa situação hipotética e considerando a jurisprudência do STF, discorra sobre a


constitucionalidade da lei municipal em apreço, abordando necessariamente:

a) Capacidade processual da Câmara Municipal para o ajuizamento da presente


reclamação constitucional;
b) Procedência ou improcedência da reclamação apresentada pela Câmara Municipal de
Belo Horizonte.

COMENTÁRIOS

Em provas discursivas de Advocacia Pública, duas espécies de inconstitucionalidade são


recorrentemente cobradas pelas bancas examinadoras: a inconstitucionalidade formal
orgânica e a inconstitucionalidade formal propriamente dita de cunho subjetivo.

A inconstitucionalidade formal orgânica trata da inobservância da competência


legislativa dos entes políticos. Por exemplo, o Município publica lei que versa sobre Direito Civil.
Como a União detém competência privativa para legislar sobre tal matéria (art. 22, I, da CF), a
hipotética lei municipal padece de vício formal de inconstitucionalidade.

As provas discursivas de concursos geralmente desenham situações concretas que já


foram trabalhadas pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Além disso, é comum a

27
abordagem de casos fáticos que tenham pertinência com o ente político para o qual se presta o
concurso.

Por esse motivo, o aluno deve ficar atento principalmente à jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal que envolve discussão de constitucionalidade de leis municipais. Isso revela a
importância de revisar o tema pelos materiais do Dizer o Direito ou pelo próprio site do Supremo
Tribunal Federal, por meio da ferramenta “A Constituição e o Supremo”
(http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/), verificando especialmente a jurisprudência tocante aos
artigos 22, 24 e 30 da CF.

Por sua vez, a inconstitucionalidade formal propriamente dita de cunho subjetivo é


aquela que está relacionada à iniciativa do próprio trâmite legislativo.

Assim, ganha relevo a necessidade de estudar as matérias de iniciativa privativa do


Presidente da República arroladas no art. 61, § 1º, II, da CF, que, de acordo com o princípio da
simetria, têm aplicação também no processo legislativo estadual e municipal.

Sobre o tema, as provas discursivas ilustram situações fáticas que exigem conhecimento
das matérias cujo processo legislativo deve ser começado pelo Chefe do Poder Executivo. Por
exemplo, é comum cobrar do candidato a identificação de inconstitucionalidade de propostas de
lei, de iniciativa parlamentar, que versam sobre servidores públicos e sobre aumento de
atribuições de órgãos públicos.

Com efeito, o CESPE cobrou tais vícios de inconstitucionalidade nos concursos da


PGE/AM (2016), da AGU (2012), da AGU (2015 – aplicação da primeira prova), entre outros.

Ante o exposto, a questão solicita do aluno análise da constitucionalidade de lei municipal,


de iniciativa da Câmara Municipal, que prevê o pagamento de 13º (décimo terceiro) salário, do
terço de férias e de verba de representação ao Prefeito e ao Vice-Prefeito.

O candidato deve analisar a constitucionalidade da lei sob o ponto de vista formal e


material.

A começar pela análise do prisma formal, é necessário abordar a constitucionalidade


formal orgânica e a constitucionalidade formal subjetiva.

No que tange ao prisma material, o aluno deve se posicionar pela


constitucionalidade da previsão do décimo terceiro e do terço de férias, bem como pela
inconstitucionalidade da fixação de verba de representação ao Prefeito e ao Vice-Prefeito.

28
Explica-se.

INEXISTÊNCIA DE VÍCIO FORMAL ORGÂNICO E DE INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL


SUBJETIVA

O aluno deve responder que não há qualquer inconstitucionalidade formal na lei municipal.
É o que se depreende basicamente do art. 29, caput e inciso V, da CF/88. Senão vejamos.

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de
dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os
seguintes preceitos:

(...)

V - subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Secretários Municipais fixados por lei de


iniciativa da Câmara Municipal, observado o que dispõem os arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153,
III, e 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda constitucional nº 19, de 1998)

Ou seja: a fixação dos subsídios dos agentes políticos do Poder Executivo Municipal
(prefeito, vice-prefeito e secretários) se dá mediante lei municipal de iniciativa da Câmara
Municipal. Nessa esteira, entende o STF. Confira:

Os subsídios do prefeito e do vice-prefeito devem ser fixados, de forma clara e invariável, mediante
lei de iniciativa da Câmara Municipal. Não cabe a tomada de empréstimo do que percebido, em
termos de remuneração – gênero –, por integrante da Assembleia Legislativa. Inteligência do
disposto no art. 29, V, da CF. [RE 434.278, rel. min. Marco Aurélio, j. 12-6-2012, 1ª T, DJE de 28-6-
2012.]

Já assentou a Suprema Corte que a norma do art. 29, V, da CF, é autoaplicável. O subsídio do
prefeito é fixado pela Câmara Municipal até o final da legislatura para vigorar na subsequente. [RE
204.889, rel. min. Menezes Direito, j. 26-2-2008, 1ª T, DJE de 16-5-2008.]

(IN)CONSTITUCIONALIDADE MATERIAL

A lei municipal em foco é parcialmente inconstitucional. Antes de adentrar no mérito


afigura-se imprescindível tecer alguns comentários sobre a modalidade remuneratória de subsídio,
instituída pela Reforma Administrativa de 1998.

29
Essa retribuição mensal do servidor é constituída por uma parcela única, sendo vedados
aditamentos ou acréscimos de qualquer espécie (art. 39, §4º, da CF/88). Veja-se:

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de
administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos
Poderes. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Vide ADIN nº
2.135-4)
(...)

§4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários


Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou
outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Segundo as lições de Fernanda Marinela (2016), a Constituição Federal, para a


retribuição na forma de subsídio, por consistir em um todo único, afasta a possibilidade de acréscimo
de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou qualquer espécie
remuneratória, excetuando expressamente:
a) as verbas de natureza indenizatória: esse tipo de retribuição pode ser pago fora do
subsídio, como é o caso das ajudas de custo para mudança do servidor, as diárias e outras conforme
previsão na lei dos servidores;

b) as verbas decorrentes de garantias constitucionais: os servidores remunerados por


subsídio não podem ficar privados das garantias próprias dos trabalhadores que são estendidas aos
servidores públicos, conforme previsão do art. 39, §3º, da CF. O citado artigo enumera alguns
direitos dos trabalhadores previstos no art. 7º que também são aplicáveis aos servidores públicos,
tais como serviço extraordinário, adicional noturno, um terço de férias, décimo terceiro salário,
além de outros (grifos nossos).

Esclarece a autora, ainda, que, “para os servidores públicos que recebem remuneração
na modalidade subsídio, o pagamento dessas verbas previstas no art. 39, §3º, da CF, deve ser feito
fora da soma da parcela única. Assim como as verbas indenizatórias, as garantias sociais não devem
ser incorporadas no cálculo do subsídio.
Na mesma esteira, é o que entende Celso Antônio Bandeira de Mello: “ao se tratar de
limite remuneratório dos servidores públicos, o dispositivo no art. 39, §4º, tem que ser entendido com
certos temperamentos, não se podendo admitir que os remunerados por subsídio, isto é, por parcela
única, fiquem privados de certas garantias constitucionais que lhes resultam do §3º do mesmo artigo,
combinados com diversos incisos do art. 7º, a que ele se reporta. Por esta razão, quando for o caso,

30
haverão de lhes ser aditados tais acréscimos, deixando, em tais hipóteses, de ser única a parcela
que os retribuirá”.
Em recente decisão (01/02/2017), sob a sistemática da repercussão geral, o Supremo
Tribunal Federal fixou a seguinte tese:

O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de terço de férias
e décimo terceiro salário.
STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 01/02/2017 (repercussão geral).

Para maiores esclarecimentos, seguem comentários retirados do site Dizer o Direito:

O caso concreto foi o seguinte:


Um Município do interior do Rio Grande do Sul editou lei prevendo que o Prefeito e o
Vice-Prefeito teriam direito de receber:
• terço de férias;
• 13º salário;
• verba de representação.
Foi proposta uma ADI no TJ/RS contra esta lei municipal.

O argumento foi de que o § 4º do art. 39 da CF/88 obriga que o Prefeito e o Vice-Prefeito


sejam remunerados por meio de subsídio, em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer
gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória.

Logo, a lei municipal, ao permitir o pagamento de terço de férias, 13º salário e verba de
representação teria violado o regime do subsídio e afrontado o art. 39, § 4º da CF/88.

A questão chegou até o STF por meio de recurso extraordinário contra a decisão do TJ.

O que decidiu o STF?


Esta lei municipal, ao prever o pagamento de terço de férias e 13º salário ao Prefeito e Vice-Prefeito,
violou o art. 39, § 4º da Constituição Federal?
NÃO. O STF, ao apreciar o tema, fixou a seguinte tese:
O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de terço de férias e
décimo terceiro salário.
STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
01/02/2017 (repercussão geral).

31
Segundo o Min. Luís Roberto Barroso, o regime de subsídio é incompatível apenas com o
pagamento de outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso do décimo
terceiro e das férias, que são verbas pagas a todos os trabalhadores e servidores, com periodicidade
anual.

A Constituição Federal prevê, em seu art. 39, § 3º, que os servidores públicos gozam de
terço de férias e 13º salário, não sendo vedado o seu pagamento de forma cumulada com o subsídio.

Os agentes políticos, como é o caso dos Prefeitos e Vice-Prefeitos, não devem ter um
tratamento melhor, mas também não podem ter uma situação pior do que a dos demais trabalhadores.
Se todos os trabalhadores em geral têm direito a um terço de férias e têm direito a décimo terceiro
salário, não se mostra razoável que isso seja retirado da espécie de servidores públicos (Prefeitos e
Vice-Prefeitos).

Assim, não é inconstitucional o pagamento de terço de férias e 13º salário a Prefeitos e


Vice-Prefeitos.

E a previsão do pagamento de verba de representação?


Aqui temos uma situação de inconstitucionalidade.
Esta verba de representação não é uma quantia paga a todos os trabalhadores e servidores, não
havendo, portanto, razão para que seja excepcionada do regime de subsídio (parcela única).
Assim, o STF julgou constitucional a previsão de terço de férias e 13º salário e, por outro lado,
inconstitucional o pagamento da chamada "verba de representação".

(IN)CONSTITUCIONALIDADE DE VERBAS REMUNERATÓRIAS COM O REGIME DE


SUBSÍDIO (STF)

VERBA DE
TERÇO DE FÉRIAS 13º SALÁRIO
REPRESENTAÇÃO

CONSTITUCIONAL CONSTITUCIONAL INCONSTITUCIONAL

32
Para abordar os tópicos obrigatórios, deve o candidato tecer considerações levando em
conta o seguinte:

LETRA A

Nesse ponto, o candidato deve sustentar a capacidade processual da Câmara Municipal


para o ajuizamento da reclamação constitucional. Como é sabido, a principal característica dos
órgãos públicos é a sua ausência de personalidade jurídica.

Por sua vez, um dos pressupostos de existência do processo é a capacidade de ser parte,
sendo que, em regra, pode ser parte qualquer sujeito que tenha personalidade jurídica (pessoa física
ou pessoa jurídica). Entretanto, existem alguns sujeitos que podem ser parte independentemente de
não possuírem personalidade jurídica. É o que chamamos de personalidade judiciária.

A Câmara Municipal possui natureza jurídica de órgão público. Apesar de não possuir
personalidade jurídica, esse órgão goza de personalidade judiciária. Contudo, frise-se que essa
personalidade judiciária não é ampla. Isto é: não é dada a possibilidade de a Câmara Municipal
atuar em juízo em qualquer caso.

Rafael Oliveira (Curso de Direito Administrativo, 3. Ed., 2015) demonstra quais os casos
em que os órgãos públicos terão, excepcionalmente, capacidade processual:

1) Quando a própria legislação atribui capacidade processual a determinados órgãos


públicos. Ex.: Ministério Público e Defensoria Pública podem promover a ação civil
pública. Outro exemplo é o art. 82, inciso III, do CDC, pelo qual os órgãos públicos
responsáveis pela defesa dos consumidores podem propor ações na defesa destes
sujeitos;

2) Com base em criação doutrinária e jurisprudencial se reconhece a capacidade


processual a alguns órgãos caso haja o cumprimento de dois requisitos cumulativos:
se tratar de um órgão de cúpula dentro de sua estrutura administrativa; e tal órgão
deverá, inarredavelmente, atuar em defesa de suas prerrogativas institucionais.

É exatamente, com esteio nessa última exceção, que o Superior Tribunal de Justiça editou
a Súmula 525. Confira:

33
Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas
personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais.

Caiu em prova!

CESPE, PGM Fortaleza, 2017

Embora não tenham personalidade jurídica própria, os órgãos públicos titulares de prerrogativas e
atribuições emanadas de suas funções públicas — como, por exemplo, as câmaras de vereadores,
os tribunais de contas e o MP — têm personalidade judiciária e, por conseguinte, capacidade ativa
de ser parte em mandado de segurança para defender suas atribuições constitucionais e legais.

CERTO

Dito isso, percebe-se que o enunciado relata situação em que a Câmara Municipal de Belo
Horizonte ajuíza reclamação constitucional com o intuito de combater o reconhecimento da
inconstitucionalidade de lei de sua iniciativa, sob o argumento de que o TJ/MG teria usurpado a
competência da Corte Suprema. O órgão legislativo, portanto, atua em juízo em defesa de suas
prerrogativas institucionais, qual seja a defesa de sua atividade legiferante. (Vide Rcl 15.997RS;
Rcl 9443/SP; Rcl 16.757/PR; Rcl 7396/MG).

Cuidado! Observem os seguintes precedentes em que não foi reconhecida a legitimidade


da Câmara dos Vereadores para atuar em juízo.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PERSONALIDADE JUDICIÁRIA DAS CÂMARAS MUNICIPAIS. A


Câmara Municipal não tem legitimidade para propor ação com objetivo de questionar suposta
retenção irregular de valores do Fundo de Participação dos Municípios. Isso porque a
Câmara Municipal não possui personalidade jurídica, mas apenas personalidade judiciária, a
qual lhe autoriza tão somente atuar em juízo para defender os seus interesses estritamente
institucionais, ou seja, aqueles relacionados ao funcionamento, autonomia e independência
do órgão, não se enquadrando, nesse rol, o interesse patrimonial do ente municipal.
Precedente citado: REsp 1.164.017-PI, Primeira Seção, DJe 6/4/2010. REsp 1.429.322-AL, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/2/2014.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. SUBMISSÃO À REGRA


PREVISTA NO ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 03/STJ. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA DESTINADA A REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA. TEMA QUE NÃO
SE REFERE A DIREITO/FUNÇÃO INSTITUCIONAL DA CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO
FEDERAL.

1. A orientação desta Corte pacificou-se no sentido de que "a Câmara de Vereadores não
possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária, somente podendo
demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais" (Súmula 525/STJ). Esse

34
mesmo entendimento é aplicável, mutatis mutandis, em relação à Câmara Legislativa do
Distrito Federal, pois, no caso, a discussão abrange a incidência de contribuição
previdenciária destinada a regime próprio de previdência, ou seja, trata-se de tema que não
guarda relação com as funções institucionais do mencionado órgão distrital.

2. Acrescente-se que "doutrina e jurisprudência entendem que as Casas Legislativas - câmaras


municipais e assembleias legislativas - têm apenas personalidade judiciária, e não jurídica.
Assim, podem estar em juízo tão somente na defesa de suas prerrogativas institucionais"
(AgRg no AREsp 44.971/GO, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 22/05/2012, DJe 05/06/2012; AgRg na PET no REsp 1394036/RN, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/03/2016, DJe 17/03/2016;
AgRg na PET no REsp 1389967/RN, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 26/04/2016, DJe 12/05/2016).

3. Agravo interno não provido.

LEGITIMIDADE DA CÂMARA MUNICIPAL ILEGITIMIDADE DA CÂMARA MUNICIPAL


(STF) (STJ)

Reclamação constitucional contra decisão do TJ 1. MS discutindo retenção de valores do Fundo de


em ADI estadual que reconhecendo a Participação do Município (FPM);
inconstitucionalidade de lei de iniciativa da
2. Ação em que se discute a ilegalidade de
Câmara.
contribuições previdenciárias incidentes sobre a
remuneração dos membros da Câmara Municipal.

LETRA B

Por outro lado, o aluno deve concluir pela improcedência da reclamação apresentada
pela Câmara Municipal de Belo Horizonte/MG.

Dispõe o art. 125, §2º, da CF/88:

§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos


normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da
legitimação para agir a um único órgão.

Somente poderá ser objetado em controle abstrato estadual lei ou atos normativos
estaduais e municipais, cuja constitucionalidade deverá ser apreciada pelos TJs.

35
No controle concentrado de constitucionalidade estadual, deve-se invocar como
parâmetro de constitucionalidade a Constituição Estadual, no caso dos Estados-membros; e a Lei
Orgânica do DF, no caso desse ente.

MUITA ATENÇÃO! RExt para o STF no controle estadual

De modo geral, não cabe RExt para o STF da decisão do TJ local em controle abstrato
de constitucionalidade, já que a Suprema Corte é a intérprete máxima das leis em face da
CF/88 e não da CE.
Contudo, excepcionalmente, pode ocorrer de o parâmetro estadual ser mera repetição do
texto federal, em razão da compulsoriedade da reprodução (normas de reprodução obrigatória).
Nesse caso, é fácil intuir que, se a lei estadual ou municipal viola a CE, por consequência, viola
também a CF/88.
O RExt, nessa hipótese, foi idealizado apenas para que o STF pudesse analisar a
contenda constitucional, sem a necessidade de se ajuizar nova ação. Assim, seu julgamento
produzirá os mesmos efeitos que o julgamento de uma ADI: erga omnes, vinculantes e ex tunc,
que poderão, naturalmente, ser modulados. Cuida-se, portanto, de situação em que o RExt instaura
controle abstrato de constitucionalidade no STF, sendo falsa a afirmação de que sua utilização
se limita ao controle difuso.
Em resumo:
➢ Regra: não cabe RExt contra decisão do TJ em controle abstrato de
constitucionalidade;

➢ Exceção: cabe RExt contra decisão do TJ em controle abstrato de


constitucionalidade, quando o parâmetro estadual for norma de reprodução
obrigatória;

➢ Efeitos do RExt: idênticos aos da ADI, sendo, portanto, vinculantes, erga


omnes e, em regra, ex tunc.

Ocorre que, em recente decisão do Supremo Tribunal Federal, fixou-se o seguinte


entendimento:

36
Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis
municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de
normas de reprodução obrigatória pelos estados.
STF. RE 650898-RS, Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 01/02/2017 (repercussão geral).

Para maiores esclarecimentos, seguem alguns comentários retirados do site Dizer o


Direito:

Quando o TJ julga uma ADI contra lei estadual ou municipal, ele poderá declará-la
inconstitucional sob o argumento de que viola um dispositivo da Constituição Federal?

Em regra, não. Isso porque, como vimos acima, o parâmetro da ADI proposta perante o TJ
é a Constituição Estadual (e não a Constituição Federal).

Assim, em regra, na ADI estadual, o TJ irá analisar se a lei ou ato normativo atacado viola
ou não a Constituição Estadual. Este é o parâmetro da ação. O TJ não pode examinar se o ato
impugnado ofende a Constituição Federal. O STF, em reiteradas oportunidades, já decidiu sobre o
tema:

Não cabe a tribunais de justiça estaduais exercer o controle de constitucionalidade de leis e


demais atos normativos municipais em face da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 347, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, julgado em 20/09/2006.

Logo, o TJ não pode dizer o seguinte: julgo a presente representação de


inconstitucionalidade porque a Lei municipal XX/2015 viola o art. YY da Constituição Federal de 1988.
Exceção
A regra acima exposta comporta uma exceção.

Os Tribunais de Justiça, ao julgarem a representação de inconstitucionalidade proposta


contra lei municipal, poderão declará-la inconstitucional utilizando como parâmetro dispositivos da
Constituição Federal, desde que eles sejam normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
Normas de reprodução obrigatória

Normas de reprodução obrigatória são dispositivos da Constituição Federal de 1988 que,

37
como o próprio nome indica, devem ser repetidos nas Constituições Estaduais.

As normas de reprodução obrigatória são também chamadas de "normas de observância


obrigatória" ou "normas centrais".

Importante esclarecer que, se uma norma é de reprodução obrigatória, considera-se que


ela está presente na Constituição Estadual mesmo que a Carta estadual seja silente. Ex: a CF/88
prevê que os Municípios são autônomos (art. 18). Trata-se de norma de reprodução obrigatória. Isso
significa que, mesmo se a Constituição Estadual não disser que os Municípios são autônomos, ainda
assim considera-se que essa regra está presente na Carta Estadual.
Confira a explicação do Ministro Luis Roberto Barroso, para quem normas de reprodução
obrigatória são:
"as disposições da Carta da República que, por pré-ordenarem diretamente a organização
dos Estados-membros, do Distrito Federal e/ou dos Municípios, ingressam automaticamente nas
ordens jurídicas parciais editadas por esses entes federativos. Essa entrada pode ocorrer, seja pela
repetição textual do texto federal, seja pelo silêncio dos constituintes locais – afinal, se sua absorção é
compulsória, não há qualquer discricionariedade na sua incorporação pelo ordenamento local." (Rcl
17954 AgR/PR).

Não existe um artigo da Constituição Federal que diga quais são as normas de reprodução
obrigatória. Isso foi uma "construção" da jurisprudência do STF, ou seja, em diversos julgados o
Tribunal foi mencionando quais as normas seriam de reprodução obrigatória.

Como exemplos de normas de reprodução obrigatória podemos citar as regras da


Constituição Federal que tratam sobre organização político-administrativa, competências, separação
dos Poderes, servidores públicos, processo legislativo, entre outras.

Veja a importante lição de Marcelo Novelino sobre o tema:

"(...) Diversamente da Carta anterior, que as relacionava expressamente (CF/1967-1969,


art. 13, I, III e IX), na Constituição de 1988 as normas de observância obrigatória não foram elencadas
de forma textual. Adotou-se uma formulação genérica que, embora teoricamente conferira maior
liberdade de auto-organização aos Estados-membros, cria o risco de possibilitar interpretações
excessivamente amplas na identificação de tais normas. (...)
(...)

38
As normas de observância obrigatória são diferenciadas em três espécies. Os princípios
constitucionais sensíveis representam a essência da organização constitucional da federação brasileira
e estabelecem limites à autonomia organizatória dos Estados-membros (CF, art. 34, VII). Os princípios
constitucionais extensíveis consagram normas organizatórias para a União que se estendem aos
Estados, por previsão constitucional expressa (CF, arts. 28 e 75) ou implícita (CF, art. 58, § 3.°; arts. 59
e ss.). Os princípios constitucionais estabelecidos restringem a capacidade organizatória dos Estados
federados por meio de limitações expressas (CF, art. 37) ou implícitas (CF, art. 21)." (NOVELINO,
Marcelo. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Juspdodivm, 2015, p. 82).

Resumindo:
· Em regra, quando os Tribunais de Justiça exercem controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais deverão examinar a validade dessas leis à luz da Constituição
Estadual.
· Exceção: os Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal,
desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos Estados.

Portanto, o aluno deve salientar que o TJ/MG, no caso, não usurpou a competência do
Supremo Tribunal Federal. Isso porque os Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetros normas da Constituição Federal,
desde que se trate de normas de reprodução obrigatória (a exemplos daquelas que tratam de
servidores públicos, o que compreende o regime de subsídio previsto no art. 39, §4º, da CF/88).

39
ESPELHO DE CORREÇÃO

Quesitos avaliados Nota Comentários


Aspectos microestruturais (adequação ao
número de linhas, clareza, coesão,
coerência, ortografia, morfossintaxe e
propriedade vocabular); – 0,0 a 1,0;

Análise da constitucionalidade da lei


municipal
1. Constitucionalidade formal:
O aluno deve pontuar a inexistência de
inconstitucionalidade formal orgânica e
formal subjetiva
- 0,0 a 1,5

2. Inconstitucionalidade parcial material:


O aluno deve concluir pela
inconstitucionalidade quanto à previsão de
verba de representação e pela
constitucionalidade quanto à previsão do
terço de férias e o décimo terceiro
- 0,0 a 1,5

LETRA A
Capacidade processual da Câmara
Municipal:
1. Personalidade jurídica x personalidade
judiciária dos órgãos públicos
2. Defesa, no caso, das prerrogativas
institucionais da Câmara (proteção de sua
atividade legiferante) – Súmula STJ

- 0,0 - 3,0 (cada item 1,5)

40
Quesitos avaliados Nota Comentários
LETRA B
1. Improcedência da reclamação
2. Não usurpação da competência do STF:
possibilidade do TJ exercer controle abstrato
de constitucionalidade de lei municipal
utilizando como parâmetro norma da CF/88,
desde que se trate de normas de reprodução
obrigatória pelos estados (entendimento
STF)
3. Enquadramento da norma constitucional
concernente ao regime remuneratório de
subsídio na categoria de normas de
reprodução obrigatória pelos estados (art. 39,
§4º, da CF/88).
- 0,0 – 3,0 (cada item 1,0)
NOTA

41
QUESTÃO 3

No dia 01/02/2022, João levou sua esposa, Maria, ao hospital público do Estado do Mato
Grosso do Sul visando socorrer um determinado problema de saúde que a perturbava. Após uma
longa demora para o atendimento, cumulada com um erro de procedimento, o estado de saúde de
Maria agravou e ela teve que amputar uma perna.

Após o evento, o casal resolveu ingressar com uma ação de indenização por dano material
e moral em face do Estado do Mato Grosso do Sul com base no art. 22 do Código de Defesa do
Consumidor:

"Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,


permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados
a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,
contínuos.

Mato Grosso do Sulgrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial,


das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a
cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código."

Com base nas informações supra, atenda o que for pedido abaixo:

a) Aponte ao menos 4 características fundamentais dos serviços públicos;

b) Qual a diferença entre serviços públicos gerais e individuais;

c) Aponte as teorias doutrinárias existentes a respeito da possibilidade de aplicação do CDC


aos serviços públicos;

d) Quanto ao caso prático apresentado, o fundamento da indenização com base no art. 22 do


CDC, lançado pelo casal na ação em face do Estado do Mato Grosso, foi correto?

COMENTÁRIOS

A questão envolve o tema “serviços públicos”, afeto ao Direito Administrativo.

De um modo geral, os principais administrativistas aluem aos assim designados critério


subjetivo e critério material como elementos úteis ou necessários à identificação ou definição
dos serviços públicos.

42
Serviço público em um sentido SUBJETIVO (ou ORGÂNICO) é sinônimo de administração
pública em sentido FORMAL. A expressão “serviço público” não se refere a qualquer atividade
específica, e sim ao conjunto de órgãos e entidades que desenvolvem atividades
administrativas as mais variadas, ou seja, a todo o aparelhamento administrativo do estado.

Em sentido OBJETIVO (ou MATERIAL) a expressão “serviço público” reporta a uma


determinada ATIVIDADE, ou a um CONJUNTO DE ATIVIDADES, sempre se refere a atividades,
e não a órgãos, entidades ou pessoas que as realizem.

Nesta questão, somente empregamos a expressão “serviço público em sentido OBJETIVO


(ATIVIDADE)”.

a) Aponte ao menos 4 características fundamentais dos serviços públicos?

Segundo Mazza (20168), é possível identificar alguns elementos comuns capazes de


apontar as características fundamentais do serviço público:

1) é uma atividade MATERIAL: significa que o serviço público é uma tarefa exercida no
plano concreto pelo Estado, e não simplesmente uma atividade normativa ou intelectual. Desse
modo, está equivocado considerar as funções legislativa, jurisdicional e política como serviços
públicos em sentido técnico porque aquelas tarefas são essencialmente intelectuais, faltando-lhes
a materialidade necessária para configurar um serviço público;

2) de natureza AMPLIATIVA: ao contrário do poder de polícia, o serviço público NÃO


representa limitação ou restrição imposta ao particular. Pelo contrário. O serviço público é uma
ATUAÇÃO AMPLIATIVA da esfera de interesses do particular, consistindo no oferecimento de
vantagens e comodidades aos usuários. O serviço público é sempre uma prestação em favor do
particular, e não contra o particular;

3) PRESTADA DIRETAMENTE PELO ESTADO ou por seus DELEGADOS: o serviço


público, como regra, é prestado diretamente pelo Estado. Porém, por opção do legislador, a
prestação poderá ser delegada a particulares, por meio de concessão ou permissão, caso em que
os particulares assumem a prestação, responsabilizando-se direta e objetivamente pelos
eventuais danos causados aos usuários;

8 MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo, 6ª edição. São Paulo. Editora Saraiva, 2016.

43
4) sob REGIME DE DIREITO PÚBLICO: os serviços públicos têm toda a sua disciplina
normativa baseada nos princípios e regras do Direito Administrativo.

5) com vistas à SATISFAÇÃO DE NECESSIDADES ESSENCIAIS OU SECUNDÁRIAS


DA COLETIVIDADE: como regra, a transformação, por vontade do legislador, de uma atividade
em serviço público é baseada na sua relevância social. Porém, nada impede que algumas
atividades sem tanta importância para a sociedade sejam qualificadas como serviços públicos.
Assim, a relevância social não é condição suficiente ou necessária para a transformação de certa
atividade em serviço público.

b) Qual a diferença entre serviços públicos gerais e individuais?

Os serviços públicos podem ser classificados, quanto aos beneficiados, em gerais e


individuais.

SERVIÇOS PÚBLICOS GERAIS (uti universi) ou indivisíveis são aqueles prestados a


toda coletividade, indistintamente, ou seja, seus usuários são indeterminados ou indetermináveis.
Não é possível ao poder público identificar, de forma individualizada, as pessoas beneficiadas por
um serviço prestado uti universi. Não há meio de mensurar a utilização por parte de cada usuário.
Esses serviços não podem ser remunerados mediante a instituição de taxas (regime legal), nem
por meio de cobrança de tarifas. Exs. iluminação pública, varrição de rua.

SERVIÇOS PÚBLICOS INDIVIDUAIS, específicos, singulares (uti singuli), ou, ainda,


divisíveis, são prestados a beneficiários determinados. A administração pública sabe a quem
presta o serviço e é capaz de mensurar a utilização dos usuários. Tais serviços podem ser
remunerados mediante a cobrança de taxas (regime legal – feita exclusivamente por pessoas
jurídicas de direito público) ou de tarifas (regime contratual). Exs. coleta de lixo, fornecimento de
energia.

c) Aponte as teorias doutrinárias existentes a respeito da possibilidade de aplicação


do CDC aos serviços públicos.

d) Quanto ao caso prático apresentado, o fundamento da indenização com base no


art. 22 do CDC, lançado pelo casal na ação em face do Estado do Mato Grosso, foi correto?

44
Destaca-se, inicialmente, que a prestação dos serviços públicos, segundo a legislação
vigente, encontra-se submetida ao CDC. Nesse sentido, o art. 7.º da Lei 8.987/1995, que enumera
os direitos e obrigações dos usuários, consagra, expressamente, a aplicação da Lei 8.078/1990
aos serviços públicos, vide:

Art. 7º. Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, são direitos e
obrigações dos usuários:

I - receber serviço adequado;

II - receber do poder concedente e da concessionária informações para a defesa de


interesses individuais ou coletivos;

III - obter e utilizar o serviço, com liberdade de escolha entre vários prestadores de serviços,
quando for o caso, observadas as normas do poder concedente. (Redação dada pela Lei nº 9.648,
de 1998)

IV - levar ao conhecimento do poder público e da concessionária as irregularidades de que


tenham conhecimento, referentes ao serviço prestado;

V - comunicar às autoridades competentes os atos ilícitos praticados pela concessionária na


prestação do serviço;

VI - contribuir para a permanência das boas condições dos bens públicos através dos quais
lhes são prestados os serviços.

Da mesma forma, o CDC faz referência aos serviços públicos (arts. 4.º, VII, 6.º, X, e 22):

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de
seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº
9.008, de 21.3.1995)

[…]

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

[…]

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob
qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes,
seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

45
Há controvérsias, no entanto, sobre a AMPLITUDE DA APLICAÇÃO DO CDC aos
serviços públicos, pois o art. 3.º, § 2.º, do CDC exige a REMUNERAÇÃO DO SERVIÇO, prestado
por fornecedor público ou privado, para qualificação da relação de consumo, sendo certo que os
serviços públicos podem ser remunerados ou não. A remuneração dos serviços públicos, quando
instituída pelo Poder Público, depende da espécie de serviço:

a) SERVIÇOS PÚBLICOS UTI UNIVERSI: remunerados, normalmente, por impostos (ex.:


iluminação pública);
b) SERVIÇOS PÚBLICOS UTI SINGULI: remunerados por taxa (ex.: serviços judiciários,
quando houver compulsoriedade e autoridade estatal, ou tarifa (ex.: fornecimento de energia
elétrica domiciliar), na hipótese de serviços facultativos decorrentes de relações contratuais.

Segundo Rafael Oliveira9, sobre o tema, existem três entendimentos:

1.º entendimento (tese AMPLIATIVA): todos os serviços públicos submetem-se ao CDC,


que menciona os serviços públicos sem qualquer distinção, bem como pelo fato de que todos os
serviços públicos seriam remunerados, ainda que genericamente por impostos. Nesse sentido:
Marcos Juruena Villela Souto e Antônio Herman de Vascocellos e Benjamim.

2.º entendimento (tese INTERMEDIÁRIA): o CDC deve ser aplicado aos serviços públicos
uti singuli, que são remunerados INDIVIDUALMENTE pelos usuários-consumidores (taxa ou
tarifa), em conformidade com o art. 3.º, § 2.º, do CDC, excluídos, portanto, os serviços públicos uti
universi. Nesse sentido: Cláudia Lima Marques e Dinorá Adelaide Musetti Grotti.

3.º entendimento (tese RESTRITIVA): o CDC incide apenas sobre os SERVIÇOS


INDIVIDUAIS, remunerados por TARIFAS, excluídos da sua aplicação os serviços uti universi e os
serviços individuais remuneradas por taxa.

Ainda segundo o referido autor, o art. 3.º, § 2.º, do CDC exige a REMUNERAÇÃO DO
SERVIÇO e, nesse caso, estariam excluídos do conceito legal os serviços uti universi ou
gerais que não são remunerados individualmente pelo usuário.
Dessa forma, os serviços públicos que não envolvem remuneração específica do usuário,
pois são custeados por IMPOSTOS (ex.: escolas e hospitais públicos), estão excluídos do CDC.

9 OLIVIERA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. 3.ed., Editória Método, 2015

46
É O CASO PRÁTICO DA QUESTÃO EM APREÇO! Sem adentrar no mérito ou não de
receber indenização pelo evento danoso, o que a questão exige é possibilidade de aplicar ou não
o CDC no caso de prestação de serviço público de saúde. Como vimos acima, não cabe pois o
serviço prestado pelo Hospital Público do Estado do Mato Grosso do Sul é GERAL, é dizer,
prestado à coletividade de forma universal e remunerado por IMPOSTOS.
Em um caso similar, o STJ decidiu ser inaplicável o CDC aos serviços de saúde
prestados por hospitais públicos, tendo em vista a ausência de remuneração específica.

“Processual civil. Recurso especial. Exceção de competência. Ação indenizatória. Prestação de


serviço público. Ausência de remuneração. Relação de consumo não configurada .
Desprovimento do recurso especial. […]. 2. O conceito de ‘serviço’ previsto na legislação
consumerista exige para a sua configuração, necessariamente, que a atividade seja
prestada mediante remuneração (art. 3.º, § 2.º, do CDC). 3. Portanto, no caso dos autos,
não se pode falar em prestação de serviço subordinada às regras previstas no
Código de Defesa do Consumidor, pois inexistente qualquer forma de remuneração
direta referente ao serviço de saúde prestado pelo hospital público, o qual pode ser
classificado como uma ATIVIDADE GERAL EXERCIDA PELO ESTADO à coletividade
em cumprimento de garantia fundamental (art. 196 da CF). 4. Referido serviço, em face
das próprias características, normalmente é prestado pelo Estado de maneira universal, o que
impede a sua individualização, bem como a mensuração de remuneração específica, afastando a
possibilidade da incidência das regras de competência contidas na legislação específica. 5. Recurso
especial desprovido” (grifo nosso) (STJ, 1.a Turma, REsp 493.181/SP, Rel. Min. Denise Arruda, DJ
01.02.2006, p. 431).

ESPELHO DE CORREÇÃO

Quesitos avaliados Nota Comentários

Aspectos microestruturais (adequação ao


número de linhas, coesão, coerência,
ortografia, morfossintaxe e propriedade
vocabular); – 0,0 a 0,5;

a) Da doutrina extraem-se as seguintes


características do serviço público:

a1) ser atividade materialidade;

a2) de natureza ampliativa;

a3) Prestada diretamente pelo Estado ou

47
Quesitos avaliados Nota Comentários

por seus delegados;

a4) regime de direito público;

a5) satisfação de necessidades essenciais


ou secundárias da coletividade.

A QUESTÃO EXIGIA 4
CARACTERÍSITCAS. Pontuar 0,5 por
cada acerto, somando o total de 2,0

– 0,0 a 2,0;

b) Diferença:

b1): SERVIÇOS PÚBLICOS GERAIS (uti


universi) ou indivisíveis são aqueles
prestados a toda coletividade,
indistintamente, ou seja, seus usuários são
indeterminados ou indetermináveis.

b2): SERVIÇOS PÚBLICOS


INDIVIDUAIS, específicos, singulares (uti
singuli), ou, ainda, divisíveis, são
prestados a beneficiários determinados.

– 0,0 a 1,5;

c) teorias sobre a aplicação do CDC aos


serviços públicos:

- 1.º entendimento (tese AMPLIATIVA):


todos os serviços públicos submetem-se
ao CDC, que menciona os serviços
públicos sem qualquer distinção, bem
como pelo fato de que todos os serviços

48
Quesitos avaliados Nota Comentários

públicos seriam remunerados, ainda que


genericamente por impostos. Nesse
sentido: Marcos Juruena Villela Souto e
Antônio Herman de Vascocellos e
Benjamim.

2.º entendimento (tese


INTERMEDIÁRIA): o CDC deve ser
aplicado aos serviços públicos uti singuli,
que são remunerados INDIVIDUALMENTE
pelos usuários-consumidores (taxa ou
tarifa), em conformidade com o art. 3.º, §
2.º, do CDC, excluídos, portanto, os
serviços públicos uti universi. Nesse
sentido: Cláudia Lima Marques e Dinorá
Adelaide Musetti Grotti.

3.º entendimento (tese RESTRITIVA): o


CDC incide apenas sobre os SERVIÇOS
INDIVIDUAIS, remunerados por TARIFAS,
excluídos da sua aplicação os serviços uti
universi e os serviços individuais
remuneradas por taxa.

0,0 a 3,0;

d) Não. Os serviços públicos que não


envolvem remuneração específica do
usuário, pois são custeados por
IMPOSTOS (ex.: escolas e hospitais
públicos), estão excluídos do CDC.

49
Quesitos avaliados Nota Comentários

Em um caso similar, o STJ decidiu


ser inaplicável o CDC aos serviços de
saúde prestados por hospitais
públicos, tendo em vista a ausência de
remuneração específica. (STJ, 1.a
Turma, REsp 493.181/SP, Rel. Min.
Denise Arruda, DJ 01.02.2006, p. 431).

- 0,0 a 3,0;

NOTA

50
CORREÇÃO INDIVIDUALIZADA

51
52
E-BOOK
SUMÁRIO
1. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL............................................................. 55

A) MÉTODO JURÍDICO OU HERMENÊUTICO CLÁSSICO ......................................................... 55

B) MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO ...................................................................................... 55

C) MÉTODO HERMENÊUTICO- CONCRETIZADOR................................................................... 56

D) MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE ............................................................................. 57

E) MÉTODO CIENTÍFICO-ESPIRITUAL (OU INTEGRATIVO) .........................................................

F) MÉTODO DA COMPARAÇÃO CONSTITUCIONAL .....................................................................

2. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ..............................................................


A) PRINCÍPIO DA UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO ...........................................................................

B) PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR .......................................................................................

C) PRINCÍPIO DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA OU HARMONIZAÇÃO ..........................................

D) PRINCÍPIO DA FORÇA NORMATIVA ..........................................................................................

E) PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE .......................................................................................

F) PRINCÍPIO DA CORREÇÃO FUNCIONAL (CONFORMIDADE FUNCIONAL OU JUSTEZA) ....

G) PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO ........................................

H) PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE .....................................................................................

3. CORRENTES INTERPRETATIVISTA E NÃO-INTERPRETATIVISTA ...........................................


A) CORRENTE INTERPRETATIVISTA .............................................................................................

B) CORRENTE NÃO-INTERPRETATIVISTA ....................................................................................

4. REGRAS E PRINCÍPIOS ..................................................................................................................


A) CRITÉRIOS DISTINTIVOS ............................................................................................................

B) TEORIA DOS POSTULADOS NORMATIVOS ..............................................................................

C) DERROTABILIDADE (DEFEASIBILITY - HERBERT HART) .......................................................

5. LIMITES DA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL (CRIAÇÃO JUDICIAL DO DIREITO)........


A) DECISÕES INTERPRETATIVAS EM SENTIDO ESTRITO..........................................................

53
B) DECISÕES MANIPULADORAS (MANIPULATIVAS OU ADITIVAS) ...........................................

6. MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS....................................................................................................
7. TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS ............................................................................................
8. A PLURALIZAÇÃO DOS INTÉRPRETES DA CONSTITUIÇÃO ....................................................
9. INTEGRAÇÃO CONSTITUCIONAL E INTERPRETAÇÃO CONSTRUTIVA..................................
10. ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO ................................................................................................
A) PREÂMBULO ................................................................................................................................

B) ADCT..............................................................................................................................................

54
1. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

A) MÉTODO JURÍDICO OU HERMENÊUTICO CLÁSSICO

Idealizado por Ernst Forsthoff, define que a interpretação da Constituição não se distingue
da dos demais atos normativos primários e, por isso, para se interpretar o sentido da lei
constitucional, devem-se utilizar as regras tradicionais da interpretação (interpretação sistemática,
histórica, lógica e gramatical). Em suma: lei e CF se equivalem do ponto de vista hermenêutico
– “Tese da Identidade”.
Crítica10: Os elementos tradicionais, embora importantes para a interpretação constitucional, são
insuficientes para a resolução dos casos de maior complexidade, não podendo ser olvidado que
as reflexões feitas por Savigny tiveram por base institutos jurídicos próprios do direito privado. A
Constituição, em tantos dos seus dispositivos, assume o feitio de um ordenamento-marco,
estipulando parâmetros e procedimentos para a ação política concretizadora.

B) MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO

Elaborado por Theodor Viehweg11, tem como ponto de partida a compreensão prévia do
problema. A Constituição não abrange todas as situações constantes na realidade social. Assim,
este método busca conceder à Constituição um caráter aberto de interpretação, buscando
adaptar o texto constitucional ao problema concreto. O compromisso central do intérprete consiste
em encontrar a melhor solução para o problema apresentado. O intérprete verifica os diversos
topoi (pontos de vista) a respeito daquele problema, analisando-os a fim de obter a solução
normativa adequada ao caso. Não existem respostas corretas ou verdadeiras, mas sim
argumentos que se impõem pela força do convencimento. Assim, o “método da tópica” toma a
Constituição como um conjunto aberto de regras e princípios, dos quais o aplicador deve
escolher aquele que seja mais adequado para a promoção de uma solução justa ao caso concreto
que analisa. O foco, para o método, é o problema, servindo as normas constitucionais de catálogo
de múltiplos e variados princípios, onde se busca argumento para o desate adequado de uma
questão prática.
Memorize: parte-se do “problema” para criar a norma aplicável (método indutivo).

10 Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional. 2017.


11 Topik und Jurisprudenz (Tópica e Jurisprudência), de 1953.

55
Daniel Sarmento12 ressalta que a solução do problema apresentado se torna o objetivo
central do intérprete, cujo compromisso com o sistema jurídico deixa de ser absoluto. “Dentre os
topoi podem figurar elementos heterogêneos como o texto normativo, princípios morais, tradições
compartilhadas etc.”.
A tópica “pura”13 considera o sistema jurídico como um topos entre os demais a serem
ponderados pelo intérprete da norma diante de um problema concreto. Segundo Luiz Roberto
Barroso: “A tópica representa a expressão máxima da tese segundo a qual o raciocínio jurídico
deve orientar-se pela solução do problema, e não pela busca de coerência interna para o
sistema”.

Crítica14: Corre-se o risco de o método resultar em casuísmos e insegurança jurídica uma vez que
a coerência do sistema jurídico não é prioridade, sendo, no máximo, um topos a ser
(des)considerado, maculando inclusive a força normativa da Constituição. Além disso, alerta-se
para a falta de compromisso do intérprete com a jurisprudência formada àquele respeito, o que
compromete a coerência do sistema judicial.

C) MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR

Para Konrad Hesse, o teor da norma jurídica só se completa (se concretiza) mediante o
ato interpretativo, que deve considerar tanto o texto constitucional quanto a realidade em que será
aplicada a norma. Para tanto, o intérprete se vale de suas pré-compreensões sobre o tema
(aspecto subjetivo da interpretação) e atua como “mediador” entre a norma e a situação concreta,
para obter o” sentido da norma”.

INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO INTEGRAM UM PROCESSO UNITÁRIO DE CONCRETIZAÇÃO


DA NORMA.

 Memorize: a interpretação parte (da pré-compreensão) da “norma” (método dedutivo).

12 Daniel Sarmento. Direito Constitucional: Teoria, história e métodos de trabalho. Ed Fórum, 2012.
13 Segundo Daniel Sarmento, “é como ‘tópica pura’ que Hesse denomina a metodologia jurídica de Viehweg. Cf.
HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha, p. 65. Na obra de Hesse,
bem como na de Friedrich Müller, a tópica sofrerá certas correções de ordem normativa; será, portanto, uma tópica
mitigada.”
14 Marcelo Novelino. Curso de Direito Constitucional. 2017.

56
O movimento de releitura do mesmo texto, que tem como “pano de fundo” a realidade
social (aspecto objetivo da interpretação), e promove uma relação entre texto e contexto, até que
o intérprete chegue a uma compreensão da norma adequada e possa aplicá-la ao fato concreto, é
denominado “Círculo hermenêutico”.

Obs. A hermenêutica concretizadora demanda do intérprete uma compreensão prévia justificada e


consciente. Por isso, não poderá ser considerado um intérprete legítimo da Constituição quem não
conhece a teoria da constituição. A partir daí o paradigma clássico da interpretação pressupõe
que o círculo de intérpretes das normas constitucionais e legais é fechado (em contraposição com
a teoria da interpretação constitucional aberta, de Peter Haberle, estudada adiante.

D) MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE

Criado por Friedrich Muller, parte-se da ideia de não haver identidade entre a norma
jurídica e o texto (“programa normativo”). O fenômeno normativo vai, portanto, além do texto
normativo, que é apenas a “ponta do iceberg” (o exemplo é do próprio autor). A interpretação se
inicia no texto (programa normativo), perpassa a realidade social (chamada pelo autor de “domínio
normativo”) e termina na norma aplicável (todo o “iceberg” existente).

A estrutura de uma norma resulta da conjunção entre o programa normativo, que é texto
positivado (a forma pela qual a norma se expressa), e o domínio normativo, que representa a
porção da realidade social sobre a qual a norma incide.

A norma constitucional é conformada não só pela atividade legislativa, mas também pela
jurisdicional e pela administrativa. O intérprete deve identificar o conteúdo da norma constitucional
mediante a análise de sua concretização normativa em todos os níveis na realidade social.

Servimo-nos, nesse ponto, da lição de Luiz Roberto Barroso15 (grifo nosso): A norma
jurídica resulta da conjugação do programa normativo com o âmbito normativo. O programa
normativo consiste nas possibilidades de sentido do texto, estabelecidas de acordo com os
recursos tradicionais da interpretação jurídica. Já o âmbito normativo se identifica com a parcela
da realidade social dentro da qual se coloca o problema a resolver, de onde o intérprete extrairá
os componentes fáticos e axiológicos que irão influenciar sua decisão. Este é o espaço da

15 Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. 2017.

57
argumentação tópica, da busca da melhor solução para o caso concreto, tendo como limite
as possibilidades contidas no programa normativo. Esse modelo metodológico procura
harmonizar o pensamento tópico-problemático com o primado da norma.

(...)

Questões sobre o assunto

(FCC TCE/PI 2014) Na interpretação da norma constitucional, por meio do método hermenêutico-
concretizador, parte-se da norma constitucional para o problema concreto, valendo-se de
pressupostos subjetivos e objetivos e do chamado círculo hermenêutico.
CERTO
(TJ/MG 2017) O método hermenêutico-concretizador de interpretação constitucional caracteriza-
se pela praticidade na busca da solução dos problemas, na medida em que considera a
Constituição como uma lei comum, em que a solução exegética prioriza elementos objetivos de
interpretação e se opera a partir do caso concreto em subsunção ao texto positivado.
ERRADO
(TRT9ª – Juiz do Trab 2009) O método hermenêutico-concretizador; cuja teorização fundamental
é devida a K. Hesse, realça os seguintes pressupostos da tarefa interpretativa: (1) subjetivos, em
razão de que o intérprete desempenha um papel criador na obtenção do sentido do texto
constitucional, (2) objetivos, isto é, o contexto, atuando o intérprete como operador de mediações
entre o texto e a situação em que se aplica e (3) relação entre texto e contexto com a mediação
criadora do intérprete.
CERTO
(TJ/SP 2016) Acerca da hermenêutica constitucional, é possível afirmar que para determinado
método de interpretação, a realidade normada e os dispositivos constitucionais situam-se tão
próximos que o caso concreto é regulamentado quando se dá a implementação fática do
comando, ocasião, por exemplo, em que o juiz aplica a lei ao caso. A normatividade, a que se
refere o método, não se esgota no texto, como se afirma tradicionalmente, mas vai se exaurir nas
situações concretas e até no direito consuetudinário, considerando também os textos doutrinários,
já que o texto legal seria apenas uma das fontes iniciais de trabalho. Para este método não há
diferença entre interpretação e aplicação. A interpretação não se esgota na delimitação do
significado e do alcance da norma, mas inclui, também, sua aplicação. Esse método é
denominado normativo-estruturante.
CERTO
(DPE/MG 2014) Diz-se método normativo-estruturante ou concretista aquele em que o intérprete

58
parte do direito positivo para chegar à estruturação da norma, muito mais complexa que o texto
legal. Há influência da jurisprudência, doutrina, história, cultura e das decisões políticas.
CERTO
(PGR 2015) Para a “teoria estruturante", de Friedrich Muller, e possível o raciocínio orientado para
o problema, desde que não ultrapasse o texto da norma.
CERTO
(TJ/SP 2017) Leia o texto a seguir.
“(…) arranca da ideia de que a leitura de um texto normativo se inicia pela pré-compreensão do
seu sentido através do intérprete. A interpretação da constituição também não foge a esse
processo: é uma compreensão de sentido, um preenchimento de sentido juridicamente criador,
em que o intérprete efectua uma atividade prático normativa, concretizando a norma a partir de
uma situação histórica concreta. No fundo esse método vem realçar e iluminar vários
pressupostos da atividade interpretativa: (1) os pressupostos subjetivos, dado que o intérprete
desempenha um papel criador (pré-compreensão) na tarefa de obtenção de sentido do texto
constitucional: (2) os pressupostos objectivos, isto é, o contexto, actuando o intérprete como
operador de mediações entre o texto e a situação a que se aplica: (3) relação entre o texto e o
contexto com a mediação criadora do intérprete, transformando a interpretação em ‘movimento de
ir e vir’ (círculo hermenêutico). (…) se orienta não por um pensamento axiomático mas para um
pensamento problematicamente orientado.” Da leitura do texto do constitucionalista J.J. Gomes
Canotilho, conclui-se que o autor se refere a que método de interpretação constitucional
hermenêutico-concretizador.
CERTO
(FCC DPE/SP 2015) No processo de concretização das normas constitucionais de Konrad Hesse,
a tópica é pura16, ou seja, o intérprete só pode utilizar na tarefa de concretização aqueles pontos
de vista relacionados ao problema. Ao mesmo tempo, o intérprete está obrigado a incluir na
interação do ciclo hermenêutico, composto pelo programa normativo (análise dos elementos
linguísticos) e pelo âmbito normativo (análise da realidade concreta), os elementos de
concretização que lhe ministram a norma constitucional e as diretrizes contidas na Constituição.
ERRADO
(CESPE AGU 2010) O método hermenêutico-concretizador caracteriza-se pela praticidade na
busca da solução dos problemas, já que parte de um problema concreto para a norma.

16 "O método concretizador “permanece no meio-termo, entre a tópica desvinculada da norma e a vinculação clássica da
interpretação, pois não admite a superioridade do problema sobre a norma, mas também não se prende cegamente
ao texto legal. A concretização não admite uma livre escolha de topoi, tomando a Constituição escrita como
fronteira para o intérprete (BONAVIDES, 2000, p. 557)."

59
ERRADO
(CESPE TJ/PI 2013) O método hermenêutico-concretizador parte do pressuposto de que a
interpretação constitucional é concretização, entendida como uma norma preexistente na qual o
caso concreto é individualizado.
CERTO

(CM/RJ 2015) De acordo com o entendimento doutrinário, o método de interpretação da


Constituição que preconiza que a Constituição deve ser interpretada com os mesmos recursos
interpretativos das demais leis, denomina-se método clássico.
CERTO
(FCC TCE/PI 2014) Na interpretação da norma constitucional, por meio do método jurídico ou
hermenêutico clássico, a Constituição deve ser encarada como uma lei e, assim, todos os
métodos tradicionais de exegese deverão ser utilizados na tarefa interpretativa.
CERTO
(CESPE TJ/DFT-Juiz 2014) Conforme o método jurídico ou hermenêutico clássico, a Constituição
deve ser considerada como uma lei e, em decorrência, todos os métodos tradicionais de
hermenêutica devem ser utilizados na atividade interpretativa, mediante a utilização de vários
elementos de exegese, tais como o filológico, o histórico, o lógico e o teleológico.
CERTO
(CESPE 2017) O método de interpretação da Constituição que, por considerá-la um sistema
aberto de regras e princípios, propõe que se deva encontrar a solução mais razoável para
determinado caso jurídico partindo-se da situação concreta para a norma, é denominado método
tópico-problemático.
CERTO
(CM/RJ 2014) O método de interpretação do texto constitucional que toma a Constituição como
um conjunto aberto de regras e princípios, dos quais o aplicador deve escolher aquele que seja
mais adequado para a promoção de uma solução justa ao caso concreto que analisa, denomina-
se método da tópica.
CERTO
(FCC TCE/PI 2014) Na interpretação da norma constitucional, por meio do método tópico-
problemático, parte-se de um problema concreto para a norma, atribuindo-se à intepretação um
caráter prático visando à solução dos problemas concretizados.
CERTO

(TRT9ª – Juiz do Trab 2009) O método tópico-problemático parte das seguintes premissas: (1)
caráter prático da interpretação constitucional; (2) caráter aberto, fragmentário ou indeterminado

60
da lei constitucional e (3) preferência pela discussão do problema em virtude da abertura das
normas constitucionais que não permitam qualquer dedução subsuntiva a partir delas mesmo.
CERTO
(MPE/BA 2015)
“A relevância dos problemas envolvidos na interpretação da Constituição tem motivado a proposta
de métodos a serem seguidos nesta tarefa. Todos eles tomam a Constituição como um conjunto
de normas jurídicas, como uma lei, que se destina a decidir casos concretos. Ocorre que nem
todo o problema concreto acha um desate direto e imediato num claro dispositivo da Constituição,
exigindo que se descubra ou se crie uma solução, segundo um método que norteie a tarefa. (…)”.
(MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional, 9
ed., IDP, 2014, p.91)
Levando-se em consideração a doutrina dos autores acima, bem como a caracterização dos
Métodos de Interpretação da Constituição, é possível AFIRMAR que o método jurídico-
estruturante:
 Enfatiza que a norma não se confunde com o seu texto (programa normativo), mas tem a
sua estrutura composta, também, pelo trecho da realidade social em que incide (o domínio
normativo), sendo esse elemento indispensável para a extração do significado da norma.

(DPE/BA 2014) Diz-se método normativo estruturante ou concretista aquele em que o intérprete
parte do direito positivo para chegar à estruturação da norma, muito mais complexa que o texto
legal. Há influência da jurisprudência, doutrina, história, cultura e das decisões políticas.
CERTO
(FCC TCE/PI 2014) Na interpretação da norma constitucional, por meio do método normativo-
estruturante, esta terá de ser concretizada tão-só pela atividade do legislador, excluindo-se os
demais Poderes federais.
ERRADO
(MPE/RN 2009) “Desde o momento da elaboração do texto até o instante de sua aplicação, a
norma é determinada histórica e socialmente. Logo, quando o jurista cogita dos elementos e
situações do mundo da vida sobre os quais recai determinada norma, não se refere a um tema
metajurídico. A norma é composta pela história, pela cultura e pelas demais características da
sociedade no âmbito da qual se aplica.
O texto normativo - diz Muller - é uma fração da norma, aquela parte absorvida pela linguagem
jurídica, porém não é a norma, pois a norma jurídica não se reduz à linguagem jurídica. A norma
congrega todos os elementos que compõem o âmbito normativo (elementos e situações do mundo
da vida sobre os quais recai determinada norma).

61
Além disso, os textos normativos são formulados tendo em vista determinado estado da realidade
social (que eles pretendem reforçar ou modificar); este estado da realidade social geralmente não
aparece no texto da norma.
O texto é abstrato e geral (isto é, sem referência a motivos e contexto real). Mas o aspecto da
realidade referida pela norma constitui conjuntamente seu sentido (esse sentido não pode, a partir
daí, ser perseguido apartado da realidade a ser regulamentada). A realidade é tanto parte da
norma quanto o texto; na norma, estão presentes inúmeros elementos do mundo da vida.”
Eros Roberto Grau. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. 3.ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2005, p. 74-5 (com adaptações).
O método de interpretação constitucional tratado pelo autor no trecho de texto acima é o método
normativo-estruturante.
CERTO
(DPE/MG 2014) Diz-se método tópico problemático aquele em que o intérprete se vale de suas
pré-compreensões valorativas para obter o sentido da norma em um determinado problema pois o
conteúdo da norma somente é alcançado a partir de sua interpretação concretizada a, dotada de
cárter criativo que emana do exegeta.
ERRADO
(A definição se amolda perfeitamente ao método hermenêutico-concretizador).

(...)

62
FICHAS DE JURISPRUDÊNCIA
A jurisprudência selecionada foi retirada do BUSCADOR DO DIZER O DIREITO com a devida autorização
do professor Márcio André. Para acessar este conteúdo online, acesse
www.buscadordodizerodireito.com.br, utilizando os seguintes filtros de categoria e subcategoria do
menu jurisprudência: “Direito Tributário” | “Temas Diversos” e “Outros Temas”.

DISCIPLINA: DIREITO TRIBUTÁRIO


ASSUNTO: CRÉDITO TRIBUTÁRIO E LANÇAMENTOS
BUSCA REALIZADA EM: 14/12/2021
INFORMATIVOS 2021-2012

2021

• A matriz pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição ou compensação


relativamente a indébitos de suas filiais: As filiais são estabelecimentos secundários da
mesma pessoa jurídica, desprovidas de personalidade jurídica e patrimônio próprio, apesar
de poderem possuir domicílios em lugares diferentes (art. 75, § 1º, do CC) e inscrições
distintas no CNPJ. O fato de as filiais possuírem CNPJ próprio confere a elas somente
autonomia administrativa e operacional para fins fiscalizatórios, não abarcando a autonomia
jurídica, já que existe a relação de dependência entre o CNPJ das filiais e o da matriz. Os
valores a receber provenientes de pagamentos indevidos a título de tributos pertencem à
sociedade como um todo, de modo que a matriz pode discutir relação jurídico-tributária,
pleitear restituição ou compensação relativamente a indébitos de suas filiais. STJ. 1ª
Turma. AREsp 1273046-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 08/06/2021 (Info 700).
Obs: existem alguns julgados mais antigos da 2ª Turma do STJ em sentido contrário.
Nesse sentido: “a matriz não tem legitimidade para representar processualmente as filiais
nos casos em que o fato gerador do tributo se dá de maneira individualizada em cada
estabelecimento comercial/industrial” (STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 832.062/RS, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, DJe de 2/12/2008).

63
• Prescrição da cobrança de créditos tributários devidos por contribuinte excluído do
REFIS: REFIS é um programa de parcelamento de tributos federais. O pedido de
parcelamento interrompe o prazo prescricional, por constituir reconhecimento inequívoco do
débito (art. 174, parágrafo único, IV, do CTN). Por outro lado, a exclusão do contribuinte do
programa de parcelamento gera a possibilidade imediata de cobrança do crédito
confessado. A partir do momento que o Fisco exclui formalmente o contribuinte do
programa de parcelamento surge a pretensão de cobrança dos valores devidos. Em outras
palavras, a exclusão do programa configura o marco inicial para a exigibilidade plena e
imediata da totalidade do crédito que foi objeto do parcelamento e ainda não pago. Nesse
instante começa a correr o prazo prescricional de 5 anos para a União cobrar o débito.
Mesmo que o contribuinte, após ser excluído do REFIS, continue a realizar mensalmente o
pagamento das parcelas de forma voluntária e extemporâneo, tal fato não tem o condão de
estender a interrupção do prazo prescricional e nem configurar ato de reconhecimento do
débito (confissão de dívida). Assim, não interrompe o prazo prescricional o fato de o
contribuinte, após ser formalmente excluído do REFIS, continuar efetuando, por mera
liberalidade, o pagamento mensal das parcelas do débito tributário. STJ. 2ª Turma. REsp
1493115-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 15/9/2015 (Info 570). Qual é
o marco temporal para a retomada do curso do prazo prescricional? O prazo prescricional
tem início automaticamente com a exclusão do REFIS ou esse prazo se inicia com a
intimação do contribuinte de que ele foi excluído do programa? O prazo só se inicia com a
intimação. O descumprimento das obrigações decorrentes do parcelamento autoriza a
exclusão do contribuinte do programa e a exigibilidade do crédito tributário. Contudo, essa
exigibilidade não se dá de forma automática pelo inadimplemento no pagamento das
parcelas, visto que a legislação exige a abertura de procedimento administrativo, com
notificação do devedor acerca de sua exclusão do programa, na forma prevista no § 2º do
art. 5º da Lei nº 9.964/2000. Assim, não obstante a inadimplência do devedor, enquanto
não houver a sua exclusão do favor legal, mediante o devido processo administrativo, o
parcelamento permanece ativo, e, por conseguinte, o prazo prescricional continua
suspenso, somente sendo retomado após a exclusão formal do contribuinte do programa.
STJ. 1ª Seção. AgInt nos EREsp 1724961/RS, Rel. Min. Manoel Erhardt (desembargador
convocado do TRF-5ª Região), julgado em 18/05/2021.

64
2020

• É inconstitucional, por afronta ao art. 146, III, b, da CF, a expressão ’ou parcelados
sem garantia’ constante do parágrafo único do art. 73, da Lei nº 9.430/96, incluído
pela Lei nº 12.844/13, na medida em que retira os efeitos da suspensão da
exigibilidade do crédito tributário prevista no CTN: É inconstitucional, por afronta ao art.
146, III, b, da CF, a expressão ’ou parcelados sem garantia’ constante do parágrafo único
do art. 73, da Lei nº 9.430/96, incluído pela Lei nº 12.844/13, na medida em que retira os
efeitos da suspensão da exigibilidade do crédito tributário prevista no CTN. Em síntese, não
é possível que uma lei ordinária condicione a suspensão do crédito tributário à
apresentação de garantia do valor objeto de parcelamento, por não haver previsão na lei
complementar, como ensina o art. 146, III, b da CF. STF. Plenário. RE 917285, Rel. Min
Dias Toffoli, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 874).

• O Secretário de Estado da Fazenda não está legitimado a figurar, como autoridade


coatora, em mandados de segurança que visa evitar a prática de lançamento fiscal: A
autoridade coatora desempenha duas funções no mandado de segurança: a) uma,
internamente, de natureza processual, consistente em defender o ato impugnado pela
impetração; trata-se de hipótese excepcional de legitimidade ad processum, em que o
órgão da pessoa jurídica, não o representante judicial desta, responde ao pedido inicial; b)
outra, externamente, de natureza executiva, vinculada à sua competência administrativa;
ela é quem cumpre a ordem judicial. A legitimação da autoridade coatora deve ser aferida à
base das duas funções acima descritas; só o órgão capaz de as cumprir pode ser a
autoridade coatora. Por essa razão, o Secretário de Estado da Fazenda não possui
legitimidade para figurar, como autoridade coatora, em mandado de segurança que visa
afastar exigência fiscal supostamente ilegítima considerando que ele não competência para
a prática de lançamento fiscal. STJ. 2ª Turma. RMS 54823-PB, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

• É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário mediante a


apresentação de fiança bancária ou de seguro garantia judicial, desde que em valor
não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30%: É cabível a
suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança
bancária ou do seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito
constante da inicial, acrescido de trinta por cento. STJ. 1ª Turma. REsp 1381254-PR, Rel.

65
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/06/2019 (Info 652). STJ. 1ª Turma. AgInt-
REsp 1.612.784-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 11/02/2020.

2019

• O trânsito em julgado da anulação ou da reforma de acórdão favorável a contribuinte


marca o início do prazo prescricional para o Fisco cobrar o crédito tributário: O
simples ajuizamento de ação declaratória de inexigibilidade tributária não é suficiente para
impedir a cobrança judicial do tributo que a Fazenda Pública entende devido. A sentença de
procedência na ação declaratória de inexigibilidade tributária, por si só, também não é
suficiente para impedir a cobrança do tributo. Por falta de previsão legal, a sentença
favorável ao sujeito passivo impugnada por apelação da Fazenda Pública não suspende a
exigibilidade do crédito tributário. Isso porque a apelação, neste caso, é um recurso dotado
de efeito suspensivo. Por outro lado, se a Fazenda Pública recorre e o Tribunal prolata
acórdão confirmando a sentença favorável ao contribuinte, esta decisão produz efeitos
desde logo, infirmando a certeza do correspondente crédito inscrito em dívida ativa e, por
conseguinte, impedindo o ajuizamento da execução fiscal. Por fim, se o Fisco conseguir
anular ou reformar esse acórdão do Tribunal de 2ª instância, ele volta a ter a possibilidade
de cobrar o tributo. Depois de anulado ou reformado o aludido acórdão e, não ocorrendo
nenhuma causa de suspensão de exigibilidade (art. 151 do CTN), o Fisco estará autorizado
a fazer a cobrança do crédito tributário. Logo, com o trânsito em julgado desta decisão que
anulou ou reformou o acórdão inicia-se a contagem da prescrição para o ajuizamento da
execução fiscal. STJ. 1ª Turma. AREsp 1280342-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
15/10/2019 (Info 660).

• O termo inicial para fins de multa e juros moratórios que decorrem da não exportação
de produtos que foram isentos do recolhimento de tributos em razão do Drawback-
suspensão é a data em que se encerra a condição suspensiva: No regime especial
Drawback-suspensão, o termo inicial para fins de multa e juros moratórios será o 31º dia do
inadimplemento do compromisso de exportar, ou seja, quando escoado o prazo da
suspensão. Antes disso, o contribuinte não está em mora, em razão do seu prazo de graça.
Assim, somente a partir do 31º dia ocorre a mora do contribuinte em razão do
descumprimento da norma tributária a qual determina o pagamento do tributo no regime
especial até 30 dias da imposição de exportar. Ex: empresa importou peças e tinha 1 ano
para exportar as máquinas fabricadas com essa matéria-prima. Depois que esgotado o
prazo de 1 ano, se a empresa não tiver exportado as máquinas, terá 30 dias para pagar o

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imposto de importação que estava suspenso. Enquanto não esgotado esse prazo, não há
mora (não são devidos juros nem multa). STJ. 1ª Turma. REsp 1310141-PR, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/02/2019 (Info 643).

• Depois que o contribuinte pedia o parcelamento da Lei 11.941/2009, demorava algum


tempo até que o Fisco fizesse a consolidação do débito; neste período, continuam
incidindo juros moratórios sobre a dívida: Incidem juros moratórios no período entre o
requerimento de adesão e a consolidação do débito a ser objeto do parcelamento tributário
instituído pela Lei nº 11.941/2009. STJ. 1ª Turma. REsp 1523555-PE, Rel. Min. Gurgel de
Faria, julgado em 13/08/2019 (Info 656).

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VIDEOAULAS

AULA 01
DIREITO TRIBUTÁRIO: limitações constitucionais ao poder de tributar

AULA 02
DIREITO PENAL: teoria do crime

AULA 03
DIREITO CONSTITUCIONAL: teoria dos direitos fundamentais

AULA 04
DIREITO ADMINISTRATIVO: dispensa de licitação

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