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Economia Internacional

Ciências Econômicas – 6º semestre


Tópico 5 – Política Comercial

Prof. Paulo C. de Sá Porto


saporto27@gmail.com
Agenda
5. Política Comercial
5.1. Instrumentos e Usos da Política
Comercial
5.2. Efeitos da Política Comercial
Bibliografia
➔ Básica:
Appleyard, capítulos 13 e 14 (até p. 288)

➔ Complementar:
Baumann, capítulo 4 ou
Krugman, capítulo 8
5.1 Instrumentos e Usos
• Questões ligadas às atitudes dos países com relação
ao comércio internacional:
1. Porque os países tentam limitar o comércio
internacional?
2. Quais são os efeitos de limitações ao comércio
internacional?
3. Quem perde e quem ganha quando há limitações
ao comércio internacional?
4. Em que condições é razoável impor limitações ao
comércio internacional?
Instrumentos e Usos
• As principais teorias do comércio internacional nos
mostram que há ganhos advindos do comércio; mas
então por que restringir o livre comércio?
a) Governos preocupados com os efeitos da
concorrência internacional sobre a prosperidade
das indústrias do país
b) Governos preocupados com os efeitos do
comércio internacional sobre a distribuição de renda
no país
Instrumentos e Usos
• Política comercial: ações de um governo
que influenciam o comércio internacional;
pode ser mais liberal (em direção ao livre
comércio) ou mais protecionista (em direção
oposta ao livre comércio); liberalismo versus
protecionismo
Instrumentos e Usos
• Instrumentos de política comercial:
elementos que um país usa para efetuar sua
política comercial
Instrumentos e Usos
• Tipos de instrumentos:
1. Tarifas
2. Barreiras não tarifárias:
2.1 – Quotas de importação
2.2 – Restrições Voluntária às Exportações (RVEs)
2.3 – Subsídios às exportações
2.4 – Necessidade de requisitos locais
2.5 – Compras governamentais locais
2.6 – Crédito subsidiado às exportações
2.7 – Barreiras burocráticas
Instrumentos e Usos

• Tarifa: imposto sobre as importações


a) Tarifa específica: imposto é igual a uma
quantidade monetária fixa por unidade do
produto importado
➔ Se Q é o preço doméstico, P é o preço no
exterior (importado) e tS é a tarifa
específica, temos: Q = P + tS
Instrumentos e Usos

• Tarifa:
b) Tarifa ad valorem: imposto é igual a
uma fração do valor do produto importado
➔ Se tAV é a tarifa ad valorem, temos:
Q = P (1 + tAV )
Instrumentos e Usos

• Tarifa:
Equivalência entre tarifas: Se Q = P + tS e
Q = P (1 + tAV ), temos:
Q/P = (1 + tAV ) , e Q/P = 1 + tS / P
➔ tAV = tS / P
Instrumentos e Usos

• Tarifa:
Preferência tarifária: aplicação de uma
tarifa de acordo com a origem geográfica de
um produto. Ex.: 1) SGP – Sistema Geral
de Preferência: tarifa reduzida ou isenta de
países desenvolvidos para produtos de
alguns países em desenvolvimento; 2)
Integração Econômica Regional ➔ blocos
de comércio (UE; Mercosul; Nafta)
Instrumentos e Usos

• Tarifa:
Medição das tarifas: qual o nível médio das
tarifas de um país?
1) Média não ponderada
2) Média ponderada – peso das importações
de cada produto para o país (peso das
importações mundiais de cada produto)
Instrumentos e Usos

• Tarifa:
Impacto das tarifas: qual o impacto das
tarifas sobre os preços
1) Tarifa Nominal: impacto sobre o preço do
produto (nos consumidores do país)
2) Tarifa Efetiva: impacto sobre o valor
agregado da produção de um bem (nos
produtores do país) ➔ proteção efetiva
Instrumentos e Usos

• Tarifa:
Proteção efetiva: quando há produtos finais e
intermediários, a proteção efetiva mede a proteção
que a estrutura tarifária da cadeia do setor gera. Se tj
e ti são as tarifas de produto final e insumos, e aij é a
razão do preço do insumo i pelo preço do produto
final, a tarifa de proteção efetiva (ERP) é igual a:
Instrumentos e Usos

• Tarifa:
Tarifa de exportação: imposto sobre os bens
produzidos que forem destinados à exportação
➔ menos comum, pois reduzem as exportações
(e a entrada de divisas)
Instrumentos e Usos
• Barreiras Não Tarifárias: restrições ao comércio
(quantitativas ou não) que não são tarifas
a) Quota: limite máximo sobre a quantidade
importada de um produto (restrição quantitativa)
➔ Exemplo: quota de importação de automóveis
brasileiros para a Argentina no Mercosul; até
50.000 veículos por ano entram naquele país com
tarifa zero; o que exceder, paga tarifa de 35%
➔ É proibida pela OMC
Quota Tarifária: tarifa que incide a partir do
limite máximo de uma quota
Instrumentos e Usos

• Barreiras Não Tarifárias:


b) Restrições Voluntárias às Exportações (RVEs):
limitações sobre a quantidade exportada, geralmente
impostas em um acordo onde o país exportador limita
suas exportações a pedido do país importador
➔ Exemplo: RVE imposta ao Japão pelos EUA na
década de 80 quanto às exportações automotivas
japonesas aos EUA; esta limitação de exportações
anuais foi de 500 mil veículos
➔ Não são proibidas pela OMC
Instrumentos e Usos

• Barreiras Não Tarifárias:


c) Subsídios às Exportações: pagamento feito
pelo governo às empresas exportadoras
daquele país; tal qual as tarifas, temos
subsídios às exportações específicos e ad
valorem
➔ Exemplo: subsídios dos governos da UE
para os agricultores que exportarem seus
produtos agrícolas
Instrumentos e Usos

• Barreiras Não Tarifárias:


d) Necessidade de conteúdo local:
regulamentação que exige que uma
determinada fração de um produto final seja
produzida domesticamente
➔ Exemplo: para ser considerado um veículo
produzido no Mercosul, um automóvel deve
utilizar pelo menos 60% das peças (em valor)
produzidas em países de Mercosul
Instrumentos e Usos

• Barreiras Não Tarifárias:


e) Compras governamentais locais:
regulamentação das compras de um governo que
dá prioridade ou preferência pelos produtos
produzidos domesticamente, mesmo que estes
sejam mais caros que os importados
➔ Exemplo: empresas estatais no setor de
telecomunicações que fazem suas compram de
insumos de empresas nacionais
Instrumentos e Usos

• Barreiras Não Tarifárias:


f) Crédito subsidiado às exportações:
empréstimo subsidiado ao produtor ou ao
comprador de um produto exportado, feito por
um organismo governamental que oferece o
subsídio ao comprador estrangeiro
➔ Exemplo: empréstimos do BNDES para a
Embraer (TJLP)
Instrumentos e Usos

• Barreiras Não Tarifárias:


g) Barreiras burocráticas: procedimentos formais ou
informais que, postos em prática pelos governos,
acabam por obstruir o comércio; nesta classe entram os
procedimentos sanitários e fitossanitários,
procedimentos alfandegários e de segurança.
➔ Exemplo: somente os mamões do norte do Espírito
Santo podem entrar no mercado dos EUA (barreira
fitossanitária); desembaraço aduaneiro na fronteira
Brasil-Argentina
5.2 Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da Política Comercial sobre um país:
Depende da relação dos preços do produto no mercado
doméstico e dos preços no mercado internacional:
1) Se o preço doméstico for maior que o preço
internacional, o país será importador líquido do produto
2) Se o preço doméstico for menor que o preço
internacional, o país será exportador líquido do produto
Caso de um país pequeno ➔ não pode afetar a produção
mundial do produto (análise de equilíbrio parcial)
Efeitos da Política Comercial
Preço
Oferta doméstica

Preço mundial

Preço
doméstico

Exportação Demanda
doméstica
0 Quant. Quant. Quantidade
demandada ofertada
domést. domést.
Efeitos da Política Comercial
Preço

Oferta doméstica

Preço
doméstico
Preço mundial

Importação Demanda
doméstica
0 Quant. Quant. Quantidade
ofertada demandada
domést. domést.
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma tarifa – quatro
efeitos:
1. Efeito sobre os preços
2. Efeito sobre a produção
3. Efeito sobre os consumidores
4. Efeito sobre o governo
➔ Há um custo social líquido ao país que usa
restrições comerciais como tarifas (peso morto)
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma tarifa:
1. Efeito sobre os preços: tarifa aumenta o preço no
país importador (diminuição nas importações) ➔ se o
preço no mercado internacional é P0, o preço no país
importador é P0(1+t)
2. Efeito sobre a produção: tarifa introduz distorção
(aumento no preço), onde as firmas domésticas
respondem ao preço doméstico (protegido) e não ao
preço internacional (custo de produção de uma
tarifa) ➔ há um substituição parcial de importações
por produção doméstica
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma tarifa:
3. Efeito sobre os consumidores: tarifa
promove distorção nos preços que os
consumidores pagam, pois o bem protegido se
torna mais caro (custo de consumo de uma
tarifa) ➔ há uma queda no consumo doméstico
4. Efeito sobre o governo: o governo recebe
uma receita tarifária que não receberia caso
não houvesse a tarifa
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma tarifa: duas
abordagens:
1) Análise das quantidades: variações no
consumo, produção e importações
2) Análise de bem estar: variações no
excedente do consumidor, no excedente
do produtor e na receita do governo
Efeitos de uma Tarifa
P O Análise de quantidades:
Produção Local: aumenta
de AO0 para AO1
Consumo Local: diminui
de AD0 para AD1
Po (1+ t) Importação: diminui de
a O0 D0 para O1 D1
b c d
Po Análise de bem estar:
Consumidor: Perda da
área a+b+c+d
D Produtor: Ganho = a
Governo: Ganho de
receita = c

A O0 O1 D1 D0 Efeito líquido da tarifa:


Q a + (c) - (a+b+c+d)
Imp. após a tarifa
= - (b+d) = peso morto
Imp. antes da tarifa da tarifa
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de um subsídio para
exportação:
1. Efeito sobre os preços
2. Efeito sobre a produção
3. Efeito sobre os consumidores
4. Efeito sobre o governo
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de um subsídio p/ exp.:
1. Efeito sobre os preços: aumenta o preço
doméstico (aumento nas exportações) ➔ se o preço
no mercado internacional é P0, o preço no país
exportador é P0(1+s)
2. Efeito sobre a produção: subsídio introduz
distorção (aumento no preço), onde as firmas
domésticas respondem ao preço doméstico (com o
subsídio adicionado) e não ao preço internacional
(custo de produção de um subsídio) ➔ há um
aumento parcial da produção doméstica para as
exportações
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de um subsídio p/ exp.:
3. Efeito sobre os consumidores: subsídio
promove distorção nos preços que os
consumidores pagam, pois o bem produzido
com subsídio se torna mais caro (custo de
consumo de um subsídio) ➔ há uma queda no
consumo doméstico
4. Efeito sobre o governo: o governo perde
receita do subsídio pago, que não gastaria
caso não houvesse o subsídio
Efeitos de um Subsídio
Análise de quantidades:
P O Produção Local: aumenta
de AO0 para AO1
Consumo Local: diminui
de AD0 para AD1
Po (1+ s)
Exportação: aumenta de
a c D0 O0 para D1 O1
b d
Po Análise de bem estar:
Consumidor: Perda da área
a+b
Produtor: Ganho da área
a+b+c

D Governo: perda com o


pagamento do subsídio
= b+c+d
A D1 D0 O0 O1 Q Efeito líquido do subsídio:
Exp. antes do subsídio - (a+b) + (a+b+c) -
(b+c+d) = - (b+d)
Exp. após o subsídio
= peso morto do subsídio
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma quota:
1. Efeito sobre os preços
2. Efeito sobre a produção
3. Efeito sobre os consumidores
4. Efeito sobre o governo
Equivalência entre quota e tarifa: quota
diminui a quantidade, ajustando o preço para
cima; tarifa aumenta o preço, ajustando a
quantidade para baixo
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma quota:
1. Efeito sobre os preços: aumenta o preço no país
que impôs a quota (queda nas importações) ➔ se o
preço no mercado internacional é P0, o preço no país
importador passa a P1
2. Efeito sobre a produção: quota introduz distorção
(diminuição na quantidade e aumento no preço); as
firmas domésticas respondem ao novo preço
doméstico (devido a quota) e não ao preço
internacional (custo de produção de um subsídio)
➔ há um aumento parcial da produção doméstica
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma quota:
3. Efeito sobre os consumidores: quota
promove distorção nos preços (aumento) que os
consumidores pagam, e demanda cai até o valor
da quota (custo de consumo de um subsídio)
➔ há uma queda no consumo doméstico
4. Efeito sobre o governo: nulo, já que o
governo nem paga (como no subsídio) nem
recebe (como na tarifa) receita
Efeitos de uma Quota
P O Análise de quantidades:
Produção Local: aumenta
de AO0 para AO1
Consumo Local: diminui
de AD0 para AD1
Po (1+ t) Importação: diminui de
a O0 D0 para O1 D1
b c d
Po Análise de bem estar:
Consumidor: Perda da
área a+b+c+d
D Produtor: Ganho = a
Governo: Ganho de
receita = zero

A O0 O1 D1 D0 Efeito líquido da quota:


Q a - (a+b+c+d)
Imp. após a quota
= - (b+c+d) = peso
Imp. antes da quota morto da quota
Efeitos da Política Comercial
• Efeitos da imposição de uma RVE:
➔ RVE age igual a uma quota, sem ser ilegal
na OMC
➔ RVE é mais cara que uma tarifa
equivalente, pois a receita da tarifa que seria
recebida pelo país importador é transferida ao
país exportador
Exercícios – Tópico 5
1. O preço de um computador de mesa (desktop) e de um computador
portátil (laptop) no mercado internacional são, respectivamente, iguais a
US$ 1000 e US$ 2500.
a) Se as importações de computadores forem sujeitas a uma tarifa ad
valorem de 25%, calcule a tarifa específica equivalente para os dois
tipos de computadores.
b) Ao zerar a tarifa ad valorem de 25% sobre a importação de desktops, a
oferta no mercado local passa de 5 para 4 milhões de desktops
mensais, enquanto a demanda local passa de 6,5 para 8 milhões de
desktops mensais. Avalie os efeitos da imposição de uma tarifa de
acordos com as duas abordagens disponíveis.
c) Se as importações de computadores forem sujeitas a uma tarifa
específica de US$ 500, calcule a tarifa ad valorem equivalente para os
dois tipos de computadores
Exercícios – Tópico 5
1. O preço de um computador de mesa (desktop) e de um computador
portátil (laptop) no mercado internacional são, respectivamente, iguais a
US$ 1000 e US$ 2500.
a) tAV = tS / P ➔ tS = tAV . P Desktop: P = 1000 . 0,25 = US$ 250;
Laptop: P = 2500 . 0,25 = US$ 625
b) Vide gráfico na próxima página
c) tAV = tS / P Desktop: P = 500 / 1000 = 0,5 = 50%; Laptop: P = 500
/2500 = 0,2 = 20%
P (US$)
Exercícios – Tópico 5
O

1000 (1+ 0,25)


a
b c d
1000

A 4 5 6,5 8 Q (US$ Mi)


Imp. após a tarifa = 1,5

Imp. antes da tarifa = 4


Exercícios – Tópico 5
• O Chile é responsável por menos de 1% do consumo e da produção
mundial de aço. Ao retirar a tarifa ad valorem de 20% sobre a
importação de aço, a oferta no mercado local passa de 3.500 para 3.000
toneladas de aço mensais, enquanto a demanda local passa de 6.000
para 6.500 toneladas de aço mensais. Se o preço em equilíbrio da
tonelada de aço no mercado internacional é de US$ 100:
a) Qual a tarifa específica equivalente à tarifa ad valorem mencionada?
b) Quanto o governo chileno deixa de arrecadar mensalmente devido à
nova política comercial para o setor de aço?
c) Se o governo chileno quisesse impor ao preço local do aço o mesmo
efeito da tarifa removida através de uma cota, qual deveria ser o
tamanho desta cota? Explique.

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