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Economia Internacional

Material Teórico
Instrumentos de Política Comercial

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Bruno Leonardo Silva Tardelli

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Sílvia Albert
Instrumentos de Política Comercial

• Introdução;
• Política Comercial;
• Tarifa Aduaneira;
• Subsídios à Exportação e à Produção;
• Quota de Importação;
• Restrições Voluntárias das Exportações (RVE);
• Requisitos de Conteúdo Legal;
• Barreiras Burocráticas;
• Barreiras Sanitárias;
• Considerações Finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar os principais instrumentos para execução da política co-
mercial e expor exemplos reais sobre o debate em torno deste “braço”
da política econômica que provoca muitas polêmicas entre países do
mundo todo.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Instrumentos de Política Comercial

Introdução
O governo de um país pode atuar de diversas formas na economia através das
chamadas políticas econômicas. Estas políticas possuem quatro objetivos principais:
alto nível de emprego, estabilidade de preços, distribuição de renda socialmente
justa e crescimento econômico.
O conjunto de políticas que formam uma política econômica e servem para
atingir os quatro objetivos comentados anteriormente contemplam basicamente: a
política fiscal, a política monetária, a política cambial, a política salarial e de rendas,
a política industrial e a política comercial.
Nesta unidade, abordamos a atuação da política comercial através da classifi-
cação dos principais instrumentos que podem ser utilizados para sua execução e
apresentamos exemplos reais sobre o debate em torno deste “braço” da política
econômica, que provoca muitas polêmicas entre países do mundo todo.

Política Comercial
Conforme Carvalho e Silva (2003), pode-se definir uma política comercial como
sendo a aplicação de um conjunto de instrumentos de proteção nacional, no sentido
de favorecer o produtor nacional frente aos concorrentes estrangeiros.
A figura 1, a seguir, contempla alguns dos instrumentos de política comercial
mais relevantes, de acordo com Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) e Silva e Car-
valho (2003).

Tarifa específica
Tarifa Aduaneira
Tarifa Ad Valorem

Subsídio específico
Subsídios à exportação
Subsídio Ad Valorem

Quotas de Importação

Política Comercial
Restrições Voluntárias das Exportações

Subsídios de Crédito à Exportação

Requisitos de Conteúdo Legal

Barreiras Burocráticas

Barreiras Não-tarifárias (BNT)

Figura 1 – Instrumentos de política comercial


Fonte: Adaptado de Krugman, Obstfeld e Melitz; 2015 e Silva, Carvalho; 2003

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Desenvolveremos, nos tópicos a seguir, esses instrumentos mais relevantes de
política comercial.

Tarifa Aduaneira
A tarifa aduaneira representa um imposto, o qual é cobrado quando uma
mercadoria é importada. As tarifas podem ser classificadas em dois tipos: as tarifas
ad valorem e as tarifas específicas. Uma tarifa ad valorem é aquela cobrada
de acordo com o valor importado do produto. Por exemplo, se um notebook é
importado ao preço de $1000, a tarifa incide sobre um percentual do valor desse
aparelho. Já a tarifa específica é cobrada como um valor fixo para cada unidade
importada. Retomando o caso do notebook, independentemente do seu valor, a
tarifa cobrada pelo governo para a sua importação é determinada pelo número de
máquinas, por exemplo, $ 80 por aparelho.

Se determinado bem estiver sendo comercializado a $5 na região A e por $10 na


região B, então seria uma possibilidade lucrativa para um comerciante transportar
o produto da região A para a região B, oferecendo-o a um preço entre $5 e $10.
Caso vários comerciantes realizassem a mesma operação, isto forçaria o preço na
região B para baixo. Por outro lado, o aumento da demanda do bem na região A
para revenda na região B poderia até mesmo provocar um aumento do preço do
produto na região A. O equilíbrio seria estabelecido quando o preço do produto em
A fosse igual ao da região B.

Entretanto, a inserção de uma tarifa à importação pode gerar uma modificação


nas quantidades e preços de equilíbrio na economia mundial. Ao estabelecer uma
tarifa aduaneira, o país que utiliza este instrumento passa a torná-lo mais caro
para os seus consumidores, pois além de pagar pelo produto, eles teriam de pagar
também pela tarifa.

A tendência de aumento dos preços para importação dos bens pode estimular
os produtores locais a elevarem a oferta do bem. Simultaneamente, parte dos
consumidores reduziria a importação e passariam a consumir os produtos gerados
no país importador. O resultado final esperado é que o preço do produto torne-se
equilibrado, acima do preço sob livre comércio internacional em função da restrição
da oferta externa que a imposição da tarifa teria gerado.

Subsídios à Exportação e à Produção


De acordo com Carvalho e Silva (2003, p. 65),
“o subsídio quando empregado como instrumento de política comercial
consiste em pagamentos, diretos ou indiretos, feitos pelo governo, para
encorajar exportações ou desencorajar importações. Em ambos os casos
representa, portanto, uma redução de custo para o produtor.

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UNIDADE Instrumentos de Política Comercial

Em geral, a concessão do subsídio se dá por meio de pagamento em


dinheiro, redução de impostos ou financiamento a taxas de juros inferiores
às do mercado”.

Vejamos a seguir alguns exemplos reais desses subsídios e suas implicações:

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Os subsídios e a Política Agrícola Comum (PAC) na União Europeia

A Política agrícola Comum (PAC) consiste em um programa de segurança alimentar


estruturado em 1962, após a criação da Comunidade Econômica Europeia – a qual
representa a atual União Europeia –, com o Tratado de Roma, em 1957. A criação
da PAC parte da ideia de garantir alimentos à população da comunidade europeia
com preços mais baixos e, ao mesmo tempo, permitir um nível de vida equitativo aos
produtores rurais com a adoção de garantias de preços mínimos a eles.

Entretanto, nos anos de 1970, a política de preços mínimos garantidos provocou uma
explosão na quantidade ofertada de bens e os governos foram obrigados a estocar o
excedente e, posteriormente, revisar as normas do PAC para tentar equilibrar a oferta
e demanda de bens.

Vejamos alguns dados: a despesa média com alimentação das famílias da comunidade
europeia corresponde, em 2016, a 11% do que era gasto em 1962, ano da criação da
PAC (European Commission, 2016.). Conforme informações obtidas junto a European
Commission (2012), a despesa anual com a agricultura e o desenvolvimento rural em
2012 estava no patamar aproximado de 55 bilhões de euros, o que representava 45%
do orçamento total da comunidade europeia. Entretanto, em 1984, a proporção já
esteve em 72% do orçamento total.

Em condições de livre comércio internacional, os países membros da União Europeia


seriam importadores de produtos agrícolas. Entretanto, a Política Agrícola Comum
gerou uma situação na qual ela atuaria da mesma forma que um subsídio à exportação
aos países membros do bloco. Conforme Krugman, Obstfeld e Melitz (2015),

o preço de apoio [preço mínimo garantido] é definido não só acima do


preço mundial, mas também acima do preço que igualaria a demanda e a
oferta do mesmo sem importações. Para exportar o excedente resultante,
é pago um subsídio à exportação que compensa a diferença entre os
preços europeu e mundial. As próprias exportações subsidiadas tendem
a desvalorizar o preço mundial, aumentando o subsídio necessário.
(KRUGMAN, OBSTFELD E MELITZ, 2015, p. 171).

Apesar da lógica de subsídios na União Europeia, esta comunidade tem aumentado a


importação de produtos agrícolas de países menos desenvolvidos. A tabela 1, a seguir,
apresenta a representatividade da importação europeia com relação a outras nações
com elevado potencial econômico. Tal divulgação soa como uma espécie de defesa da
PAC, apesar das críticas internacionais em relação à prática de subsídios.

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Tabela 1 - Importação de produtos agrícolas em 2015 (em milhões de euros)
País/Bloco Volume (em milhões de euros)
UNIÃO EUROPEIA (EU-28) 3.400
China 1.591
Estados Unidos 572
Japão 393
Rússia 232
Canadá 66
Fonte: European Comission (2015)

Entretanto, os subsídios à produção concedidos pelo PAC têm gerado conflitos de ordem
internacional pelo fato de não só reduzir a demanda por produtos agrícolas do mundo
todo, mas também gerar um desequilíbrio na oferta global desses produtos agrícolas,
pois afeta os seus respectivos preços internacionais.

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Os subsídios agrícolas norte-americanos

A concessão de subsídios à produção agrícola nos Estados Unidos é assunto de ampla


discussão entre agricultores de parte do mundo e especialistas na área de comércio
internacional. No Brasil, representantes da área econômica e agricultores também con-
testam o chamado “Farm Bill” norte-americano. Mas por quê? Conforme Figueiredo
et al. (2010),

“os subsídios à produção agrícola nos EUA representam pelo menos duas
grandes barreiras ao crescimento do agronegócio brasileiro. Primeiramente,
porque os subsídios à produção interna dos EUA contribuem para
redução de suas importações de produtos agroindustriais, os quais, em
grande parte, são comprados do Brasil. Em segundo lugar, os EUA são
uma grande economia e, quando subsidiam a produção a ponto de gerar
excedentes exportáveis, há aumento da oferta dos produtos agrícolas no
mercado internacional. Assim, países exportadores agrícolas tradicionais,
como o Brasil, vendem menos e, portanto, obtêm menores receitas de
exportação. Destaca-se que países em desenvolvimento, especialmente
o Brasil, que é exportador líquido de produtos de origem agrícola, têm,
nessa atividade, uma fonte importante de geração e manutenção de
crescimento econômico” (FIGUEIREDO et al.,2010, p. 446.)

Quota de Importação
Conforme Carvalho e Silva (2003), uma quota de importação pode ser compre-
endida como a imposição de restrições quantitativas sobre o volume ou o valor das
importações (CARVALHO e SILVA, 2003, p. 70).

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UNIDADE Instrumentos de Política Comercial

A imposição de quotas de importação, quando não acompanhada de aumento


de oferta interna suficiente, poderá promover aumento no preço dos bens. Para
a instituição desse instrumento de política comercial, licenças à importação são
dadas a determinados grupos de empresas ou pessoas, de modo que o benefício
das quotas seja apropriado por eles. Os grupos que possuem as licenças compram
o produto no exterior e o revendem a um preço mais elevado internamente, dada
à relativa escassez de oferta nacional desse bem.

Segundo Carvalho e Silva (2003) e Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), o efeito


da quota de importação difere da tarifa aduaneira basicamente pelo fato do governo
não ter qualquer receita com a quota. Os demais efeitos são bastante semelhantes,
ou seja, considerando um bem qualquer, o país exportador poderia ter queda no
preço interno do bem com restrição devido à queda da demanda por importações,
caso o país importador seja relevante na pauta de exportação do país exportador.
Por outro lado, o país importador teria um aumento do preço interno do bem, na
ausência de crescimento simultâneo da oferta interna de mesma magnitude.

Para maiores detalhes de como o processo de licenças pode ser efetivado, consultar Carvalho
Explor

e Silva (2003, p. 70).

Restrições Voluntárias
das Exportações (RVE)
As restrições voluntárias das exportações (RVE) ou acordos voluntários de
restrição às exportações representam um comprometimento do país exportador
em impor limites à exportação de produtos para determinado importador.

De acordo com Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 174) as restrições voluntárias


são comumente impostas a pedido do importador e aceitas pelo exportador para
prevenir outras restrições de comércio.
Restrições Voluntárias às Exportações e o Acordo Multifibras
Os primeiros acordos desse tipo surgiram em 1957, em decorrência de
pressões dos Estados Unidos, e estabeleceram limites à importação de
têxteis, vestuários e calçados. Inicialmente, as restrições aos produtos
têxteis se limitavam ao Japão, mas, com o tempo, o número de países
“voluntários” cresceu tanto que, em 1974, foi firmado o Acordo Multifibras.
Posteriormente, as restrições foram estendidas aos produtos eletrônicos e
ao aço e, no início dos anos 80, o Japão foi induzido a limitar suas vendas
de automóveis aos Estados Unidos (SILVA e CARVALHO, 2003, p. 73).

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Subsídios de Crédito à Exportação
O instrumento de subsídios de crédito à exportação representa um meio com
efeito similar a um subsídio à exportação, exceto pelo fato de não representar um
desembolso direto ou isenção fiscal do governo, mas sim, no empréstimo subsi-
diado pelo governo a empresas, desde que, em contrapartida, essas empresas se
comprometam à exportação dos bens.

Requisitos de Conteúdo Legal


O requisito de conteúdo legal constitui uma forma de apoiar a indústria nacional
mediante a obrigação de que a criação de um produto em determinado país
deva conter um percentual de insumos gerados nesse país. Assim, para elevar a
importação de insumos do exterior – mesurada em valor ou quantidade, a depender
da norma imposta – deve-se ter correspondente aumento no uso de insumos
local. Esse mecanismo acaba, muitas vezes, aumentando o custo de produção de
determinado bem.

Por exemplo, se as peças de um maquinário produzido no Brasil custam, em


reais, 150.000 quando compradas de empresas situadas no Brasil e custam 50.000
no exterior, e se o percentual de insumos brasileiros deve ser de 30%, então, o
valor total das peças do maquinário seriam uma média ponderada, calculada da
seguinte forma:

Custo das Peças = 30%x150.000 + 70%x50.000 = 45.000 + 35.000 = 80.000

Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, p. 177) apresentam, também, o requisito de conteúdo


Explor

legal sob uma nova roupagem, a partir de um exemplo norte-americano. Verifique o


exemplo no livro!

Barreiras Burocráticas
Muitas vezes, as barreiras comerciais de um produto podem ser representadas pela
criação de dificuldades à sua importação: são as chamadas barreiras burocráticas.
Krugman, Obstfeld e Melitz (2015) citam um exemplo representativo desse tipo de
barreira, em relação ao decreto francês de 1982
“em que todos os gravadores videocassetes japoneses teriam de passar
pela alfândega de Poitiers (uma cidade do interior que não está nem perto
de ser um grande porto), o que limitou efetivamente as importações reais
para um punhado” (KRUGMAN, OBSTFELD e MELITZ, 2015, p.178).

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UNIDADE Instrumentos de Política Comercial

Barreiras Sanitárias
As barreiras sanitárias entram no grupo das barreiras não-tarifárias com fun-
cionamento normal da burocracia. Um exemplo emblemático ocorreu em 2005,
quando o Brasil teve parte de sua carne bovina barrada para exportação.

Leia os trechos, a seguir, provenientes de uma pesquisa realizada por Silva e


Miranda (2006), integrantes do Centro de Estudos de Economia Aplicada (CEPEA),
da Universidade de São Paulo.

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Febre aftosa no Brasil em 2005

Os impactos diretos e indiretos da doença são difíceis de mensurar. Uma série de apro-
ximações e pressuposições seria necessária, já que os efeitos podem compreender des-
de prejuízos decorrentes da redução nos preços dos negócios que continuariam sendo
realizados, limitação de exportação para alguns países, causando prejuízos econômicos
a todos os segmentos da cadeia produtiva, desgaste na credibilidade nacional quanto à
qualidade e sanidade dos rebanhos, até custos adicionais públicos e privados para adotar
as medidas necessárias para conter o foco e retomar o status.

(...)

A princípio, para os Estados brasileiros afetados ocorre uma queda no faturamento


das vendas nacionais e estrangeiras. Pela lógica econômica, primeiramente isso ocorre
devido à redução dos volumes e do preço da carne exportada relativa aos embargos
dos grandes compradores do Brasil. Posteriormente, devido à diminuição do preço da
carne no mercado interno, e ao possível excesso de oferta gerado pelo redirecionamen-
to dos frigoríficos exportadores para o mercado interno, enquanto o mercado externo
não se estabilizar.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX, 2005), a média


diária de embarques caiu de US$ 46,2 milhões na primeira semana de outubro, para
R$ 35,4 milhões na semana seguinte. Na primeira semana de novembro, as vendas de
carne somaram US$ 32 milhões. Em outubro de 2005, após o surto de febre aftosa no
Mato Grosso do Sul, ocorreu decréscimo do volume exportado, com relação ao mesmo
período para 2004, de 27,18%. Em dezembro, ainda sem reflexos do novo surto no
Paraná, houve um crescimento do valor exportado em 9,45%. Embora o volume das
exportações nos meses de outubro, novembro e dezembro de 2005 tenham reduzido,
com relação ao mesmo período no ano de 2004, o seu valor em dólares foi mais baixo
apenas em novembro, não afetando a comparação dos meses de outubro e dezembro.
Não se verificou queda no valor médio de exportação por tonelada de carne nesses três
meses e, ao contrário, ele se mostrou maior do que em 2004. Mesmo com os surtos no
final de 2005, o ano ainda fechou com o preço médio da carne bovina de US$2,33/Kg,
4,65% maior do que o ano de 2004 que foi de US$2,22/Kg. O volume de exportações
no ano de 2005 também foi superior ao ano anterior, em 14,94%, sendo seu total de
958.852,143 toneladas, em comparação a 834.207,046 toneladas em 2004.

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O período foi marcado por uma reorganização da exportação de carne bovina, entre
outros fatores, fazendo com que, mesmo com as barreiras sanitárias impostas, ainda
houvesse crescimento no volume total de exportação de carne bovina em 2005. Para
entender como o problema foi minimizado, acompanhe a reportagem extraída do portal
UOL em 16 de novembro de 2005, a qual contou com uma entrevista ao empresário
Antenor Nogueira, do Fórum Nacional de Carne da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA).

Os focos de febre aftosa em municípios de Mato Grosso do Sul “não vão comprometer as
estimativas do início do ano”, disse o empresário Antenor Nogueira, do Fórum Nacional
de Carne da CNA. Em 2004, o país faturou US$ 2,5 bilhões em vendas externas de
carne de gado, transformando-se assim no maior exportador mundial do produto. Nos
doze meses compreendidos entre novembro de 2004 e outubro de 2005, as vendas
se situaram em US$ 3,001 bilhões, resultado 28,8 % acima dos US$ 2,33 bilhões
registrados entre novembro de 2003 e outubro de 2004.

Segundo Nogueira, ocorreu agora uma reorganização do negócio. Os estados que não
puderam exportar devido ao embargo destinam sua produção ao mercado interno e os
demais estados criadores de gado abastecem o mercado externo.

Desde que foram detectados 22 focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e houve suspeita
de outros quatro casos - depois descartados - no Paraná, 49 países decretaram algum
tipo de embargo à carne brasileira.

Alguns clientes externos vetaram a carne de todo o país, enquanto outros se limitaram
a fechar seu mercado a cinco municípios do Mato Grosso do Sul e outros o estenderam
a vários estados. Nogueira admitiu, no entanto, que não fosse a aftosa, as exportações
brasileiras de carne teriam sido muito mais altas tanto em volume como em receitas.
Mato Grosso do Sul respondia, até o início da crise, por 40% das exportações de carnes
bovinas brasileiras.

Em outubro, mês crítico da crise da aftosa e quando os principais mercados foram


fechados total ou parcialmente, os exportadores brasileiros venderam 161 mil toneladas,
apenas 7,35% a menos que em outubro de 2004 (173 mil toneladas).

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Além das questões sanitárias, mais recentemente o Brasil vem enfrentando


problemas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) em relação aos temas
listados a seguir, além de outros não citados:
• Renovação da Zona Franca de Manaus por mais 50 anos (2014);
• Programa Inovar-Auto (2012);
• PADIS e PADTV (2007);
• Lei de Informática (1991).

Leia os textos a seguir para compreender os principais aspectos gerais de cada


programa, os quais são vistos como práticas que prejudicam a concorrência entre
os países.

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UNIDADE Instrumentos de Política Comercial

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A renovação da Zona Franca de Manaus

Em 2014, foi renovado por mais 50 anos a manutenção da Zona Franca de Manaus
(de 2023 a 2073). Por ser uma área que conta com amplo apoio fiscal, com o objetivo
original de desenvolvimento regional, tais incentivos geram desconforto para outros
países, os quais reclamam por serem subsídios que comprometem a competitividade
no restante do mundo. A Zona Franca de Manaus torna diversos produtos competitivos
em termos de custos. Em 2014, a União Europeia, Japão, Estados Unidos e Argentina
declararam abertamente o desconforto juntamente à OMC.

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Programa Inovar-Auto

No final de 2017, o Brasil foi condenado pela OMC pelo Programa de Incentivo à
Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores
(INOVAR-AUTO), criado a partir da Lei n. 12.715/12. O programa tem por objetivo
aumentar a competitividade do setor automotivo, a partir de incentivos a empresas que
investem em inovação tanto em veículos como em peças e produzem veículos com
maior segurança e eficiência energética. As empresas que atingissem as metas teriam
como incentivo a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Entre os
beneficiários estariam as empresas que produzissem veículos internamente, aquelas
que comercializassem estes veículos internamente e as empresas com projetos de
investimento para a produção de veículos no Brasil. Entretanto, junto ao pacote do
programa também veio o aumento de IPI pago pelos veículos importados em 30% além
dos 35% como tarifa aduaneira, entre outros pontos, o que gerou enorme contestação
de países importantes na produção de veículos, como o Japão, e pedidos de condenação
do programa.

Conforme Alvarenga (2017),

após queixas da União Europeia e Japão, o painel aberto pelo órgão


internacional concluiu que programas estabelecidos nos últimos anos no
Brasil taxam excessivamente produtos importados na comparação com
os nacionais. O motivo é que eles oferecem isenções fiscais ou vantagens
competitivas tendo como base regras de uso de conteúdo local ou desem-
penho em exportações.

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PADIS e PADTVD

A lei n.11.484/07 criou regras de incentivos para indústrias de componentes eletrônicos


semicondutores por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da
Indústria de Semicondutores (PADIS). Além disso, instituiu incentivos para indústrias
de equipamentos para TV digital através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Tecnológico da Indústria de Equipamentos para a TV Digital (PATVD). Em linhas gerais

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“as indústrias de equipamentos para a TV Digital e de componentes
eletrônicos semicondutores que estiverem enquadradas nas regras da
Lei 11.484 terão isenção de imposto de renda e redução a zero das
alíquotas do PIS/Pasep, Cofins, IPI e Cide. A lei também prevê redução
a zero da alíquota do imposto de importação incidente sobre máquinas e
equipamentos comprados pelas empresas para incorporação em seu ativo
imobilizado” (ANPEI, 2017).

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Lei de Informática 8248/91

A lei de informática nº. 8248/91 cria incentivos ao desenvolvimento de indústrias


ligadas a bens e serviços de informática e automação, por meio de redução de Imposto
de Produtos Industrializados (IPI). Com o texto da Lei 13.023/14, diversos benefícios
foram prorrogados até 2029. Leia os trechos abaixo referentes à publicação em BRASIL
(2014), os quais sintetizam o texto da lei mais atual.

Foi publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (11) a Lei


13.023/14, que prorroga até 2029 os benefícios da Lei de Informática
(8.248/91), como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) vigente para o setor.

(...)

Pela lei, a redução atual de 80% do IPI vigente para o setor de informática,
que valeria até o fim de 2014, passará a valer até 2024. Depois disso, até
2029, haverá um desconto menor. Em 2025 e 2026, a redução será de
75%; e, de 2027 a 2029, passará para 70%. A extinção do benefício está
prevista para 2029, dez anos a mais que o prazo atual de vigência (2019).

Considerações Finais
Neste momento, a unidade se encerra tendo cumprido seus objetivos principais,
quais sejam, o de apresentar os principais instrumentos de política comercial, bem
como situar a política comercial do Brasil no contexto histórico recente de emba-
tes com países que reclamam diversos posicionamentos do governo brasileiro no
aspecto de incentivos para elevar a competitividade e o interesse das empresas em
produzirem e desenvolverem tecnologia em solo tupiniquim.

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UNIDADE Instrumentos de Política Comercial

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Leitura
OMC condena política industrial do Brasil e pede revisão de incentivos
https://goo.gl/3QdlV4
União Europeia contesta Zona Franca de Manaus na OMC
https://goo.gl/sjysog
Inovar Auto
https://goo.gl/XMC7ny
Publicada lei que prorroga benefícios da Lei de Informática até 2029
https://goo.gl/66YBjC
PADIS e PADTVD
https://goo.gl/7Z7J3o
Política Agrícola Comum (União Europeia)
https://goo.gl/XvLhlS

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Referências
ALVARENGA, D. Entenda por que a OMC condenou o Brasil e quais os
setores impactados. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/
entenda-por-que-a-omc-condenou-o-brasil-e-quais-os-setores-impactados.ghtml
(Acesso em 10 set. 2017)
ANPEI. Padis e Patvd: leis de Incentivo. Disponível em: http://anpei.org.br/leis-
de-incentivo/padis-patvd/. Acesso em 5 out. 2017.
BRASIL. Lei Nº 8248, de 23 de Outubro de 1991. Brasília: Senado, 1991.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8248.htm>. Acesso
em: 22 set. 2017.
BRASIL. Lei Nº, de 17 de Setembro de 2012. Brasília: Senado, 2012. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12715.
htm>. Acesso em: 28 set. 2017.
BRASIL. Lei Nº, de 31 de Maio de 2007. Brasília: Senado, 2007. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11484.
htm>. Acesso em: 17 set. 2017.
BRASIL. Publicada lei que prorroga benefícios da Lei de Informática até 2029.
2014. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/
ECONOMIA/472790-PUBLICADA-LEI-QUE-PRORROGA-BENEFICIOS-DA-
LEI-DE-INFORMATICA-ATE-2029.html>. Acesso em 02 out. 2017.
CARVALHO, M. A. V.; SILVA, C. R. L. Economia Internacional. 3ª. ed. São
Paulo: Saraiva, 2004. (e-book).
EUROPEAN COMMISSION. A Política Agrícola Comum: a história continua.
2012. Disponível em: <http://ec.europa.eu/agriculture/50-years-of-cap/files/
history/history_book_lr_pt.pdf>. Acesso em 28 set. 2017.
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