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Política Comercial

Histórico e Debates
Material Teórico
Política Comercial: Histórico e Debates

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Esp. Bruno Leonardo Silva Tardelli

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Política Comercial: Histórico e Debates

• Introdução;
• A Economia Política da Política Comercial: Justificativas a
favor e contra o Livre Comércio;
• As Teses da Realidade das Políticas Comerciais;
• Acordos Comerciais Internacionais: Aspectos Históricos Marcantes;
• Política Comercial e Industrialização na América Latina;
• Críticas ao Modelo de Industrialização pela Substituição
de Importações;
• A Geração de Escala Ineficiente;
• O Desenvolvimento do Dualismo Econômico;
• Considerações Finais.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar a dicotomia formada entre autores a favor o Livre Comércio e
os autores contra ele, a partir dos respectivos argumentos apresentados,
bem como as teorias da realidade das Políticas Comerciais.
· Discorrer sobre o histórico dos Acordos de Política Comercial ao longo do
século XX, a Política de Industrialização pela Substituição de Importações
em países latino-americanos e as críticas provenientes do uso desse mode-
lo de industrialização.
Orientações de estudo
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aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
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alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Política Comercial: Histórico e Debates

Introdução
A intervenção dos Governos ao redor do mundo em relação ao Comércio é tema
constante nos debates econômicos. Por um lado, a intervenção governamental por
meio de uma Tarifa Aduaneira poderia representar proteção da Indústria nacional
nascente e externalidades positivas em diversos Mercados no país que aplica uma
Política de Contenção na importação de produtos.

Por outro lado, poderia fragmentar os Mercados, além de gerar perdas de eficiên-
cia em função de desvios realizados na produção e consumo, por exemplo. Debates
a favor e contra o Livre Comércio e a síntese do histórico das Políticas Comerciais
no mundo e em países subdesenvolvidos são os temas desta Unidade.

Esta Unidade tem o objetivo de apresentar a dicotomia formada entre autores a


favor o Livre Comércio e os autores contra ele, a partir dos respectivos argumentos
apresentados, bem como as teorias da realidade das Políticas Comerciais.

Além disso, a presente Unidade busca discorrer sobre o histórico dos Acordos
de Política Comercial ao longo do século XX, a Política de Industrialização pela
Substituição de Importações em países latino-americanos e as críticas provenientes
do uso desse modelo de industrialização.

A Economia Política da Política Comercial:


Justificativas a favor e contra o Livre Comércio
No debate sobre a Economia Política a respeito da utilização ou não de uma Polí-
tica Comercial mais ativa, diversas justificativas são utilizadas pelos autores que são a
favor e os que são contra o Livre Comércio internacional.

Existem, basicamente, duas justificativas robustas apontadas pelos autores fa-


voráveis ao Livre Comércio, que envolvem o bem-estar nacional e as Econo-
mias de Escala.

Em relação à questão do bem-estar nacional, argumenta-se que a limitação


ao Livre Comércio traria custos muito elevados para os agentes econômicos. Esses
custos seriam calculados pela perda de eficiência (perda pela distorção do consumo
e perda pela distorção da produção). A existência de uma tarifa específica para
a importação geraria uma modificação nas quantidades ofertadas e demandadas
pelos agentes econômicos do país importador, a qual não seria apropriada por
qualquer agente desse país.

Outra justificativa utilizada pelos defensores do Livre Comércio é que a aplicação


de uma Política Comercial vinculada a partir de instrumentos como uma tarifa ou uma
cota para a importação de bens poderia forçar empresas a instalarem Plantas Indus-
triais no país que adota tal medida para conseguirem atuar nele de forma competitiva.

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Os defensores do Livre Comércio advogam que as Políticas Comerciais podem
gerar conjunto de empresas ineficiente, criando, assim, Mercados muito fragmen-
tados, com cada Empresa com uma fatia incapaz de maximizar o lucro.

O resultado pode ser o de a concorrência se apresentar até mesmo limitada


nesses países. Por outro ponto de vista, para os autores contrários ao Livre Co-
mércio, essa medida poderia promover a criação de emprego e renda no país
que a adotou e, assim, seria uma medida de proteção à Indústria e promotora do
crescimento econômico.

Imagine, por exemplo, que uma Empresa montadora do setor Automobilístico


decidiu construir uma Planta Industrial em determinado país, mas que ele tem Mer-
cado Interno relativamente limitado devido ao baixo número de habitantes.

Empresas poderiam ganhar vantagens devido às Economias de Escala, caso pu-


dessem produzir um número elevado de veículos. Entretanto, a restrição do Merca-
do Interno poderia fazer com que a Empresa instalada não aproveitasse totalmente
as Economias de Escala que uma expansão poderia trazer.

A limitação da eficiência produtiva de cada Empresa instalada culminaria na


geração de uma renda inferior ao que poderia existir, caso a Empresa estivesse em
um contexto de Livre Comércio internacional.

Do ponto de vista de autores contra o livre Comércio, dois argumentos ganham


força: a aplicação de uma tarifa ótima e a questão da falha de mercado.

Com relação ao argumento da aplicação de uma tarifa ótima, diz-se que uma
tarifa poderia ser aplicada de modo a se obter ganhos de termos de troca, em de-
trimento, portanto, da perda de bem-estar de outro(s) país(es).

Uma tarifa ótima poderia ser obtida ao conseguir um elevado ganho em termos
de troca e a menor perda de eficiência possível, tanto em relação às possíveis dis-
torções provocadas na produção e quanto no consumo.

Uma crítica-chave à criação de uma tarifa ótima seria que o ganho a partir dela
com a consequente perda de bem-estar por outros países poderia gerar retaliação
suficiente para travar o Comércio internacional e reduzir os efeitos benéficos que o
Comércio entre nações poderia promover. A criação de uma tarifa como essa seria
parte de uma estratégia conhecida como “política empobreça seu vizinho”.

Outro argumento contra o Livre Comércio é o das falhas de mercado, vez


que o reconhecimento de que Liberalismo Econômico na forma pura poderia gerar
falhas de Mercado, como desemprego involuntário, alguns autores suscitam a ideia
de que a criação de uma Política Comercial mais restritiva poderia proteger as Em-
presas locais, de modo que elas, além de gerarem empregos, poderiam dinamizar
vários outros setores e estimular a criação de emprego e renda no país.

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UNIDADE Política Comercial: Histórico e Debates

Isso implica dizer que uma Política Comercial ativa seria capaz de gerar o que se
chama de “benefício social marginal”. Nesse contexto, a proteção da Indústria local
por meio da Política Comercial seria, também, uma forma de as empresas terem
um retorno – apropriarem – de um bem público gerado por elas com a geração de
conhecimento, tecnologia e dinamização da produção no país, por exemplo.

Para os defensores de uma Política Comercial restritiva adequada, o “benefício


social marginal” gerado ultrapassaria a perda de eficiência motivada em determi-
nado mercado.

As Teses da Realidade das Políticas Comerciais


Na prática, alguns autores acreditam que a Política Comercial seria conduzida
mais com argumentos políticos do que em função de argumentos econômicos.
Duas teorias entram em ação: a da concorrência eleitoral e a da ação coletiva.

No que diz respeito à concorrência eleitoral, alguns autores advogam que a de-
terminação de uma alíquota de tarifa, por exemplo, dependeria do eleitor mediano.
Para entender a ideia, observe a Figura 1.

Figura 1 – Alíquota de Tarifa Aduaneira e o Eleitor Mediano


Fonte: Acervo do Conteudista

Observando a Figura 1, você encontrará cinco eleitores. Considere que eles corres-
pondam a todos os eleitores de um país. Caso a questão da alíquota da Tarifa Aduanei-
ra de um produto seja o centro de discussão da corrida eleitoral e os eleitores tenham
se posicionado sobre a alíquota que seria de interesse do país, a Figura 1 apresenta a
alíquota preferida de cada eleitor, sendo que os eleitores estão enumerados em ordem
crescente em relação às alíquotas.

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Imagine que existam dois candidatos à presidência: candidato A e candidato B.
Caso os candidatos A e B estejam planejando prometer alíquota de 0% e 100%, res-
pectivamente, o candidato A teria o voto dos eleitores 1, 2 e 3, o candidato B teria o
voto dos eleitores 4 e 5. A razão é que, apesar da promessa do candidato A somente
agradar integralmente o eleitor 1, esse candidato estaria mais próximo do desejo dos
eleitores 2 e 3. A mesma análise poderia ser realizada para o candidato B, com relação
aos eleitores 4 e 5.

Sabendo que teria apenas dois votos, como o candidato B poderia proceder
para ganhar eleição?

Bom, se o candidato B prometesse 38% de alíquota contra 0% do candidato A,


então o candidato B teria os votos dos eleitores 2, 3, 4 e 5. Entretanto, o candidato
A poderia prever tal ação, mas caso decidisse por 32% de alíquota, teria apenas o
voto dos candidatos 1 e 2. Assim, se o candidato B oferecer os mesmos 38%, os vo-
tos estariam mais divididos entre os dois candidatos e a decisão do vencedor poderia
ser aleatória ou motivada por outros fatores. Observe que a decisão ótima para cada
candidato é prometer o que o “eleitor do meio” deseja, ou seja, o eleitor mediano.

Outra teoria recorrente é a da ação coletiva, que defende que a política a ser
adotada dependeria do que seria o desejo dos grupos mais bem organizados. Indivi-
dualmente, os cidadãos teriam dificuldade muito maior na luta de seus interesses, de
modo que o benefício resultante da ação individual seria menor que o custo de lutar
pelo interesse.

A formação de grupos bem estruturados reduziria o custo marginal individual e


o benefício marginal individual poderia sobrepor ao custo marginal quando há uma
coordenação adequada por um interesse comum a um grupo.

Acordos Comerciais Internacionais:


Aspectos Históricos Marcantes
Os aspectos contemporâneos mais marcantes sobre Acordos Comerciais entre
nações partem da Lei Smoot-Hawley (1930) decretada nos Estados Unidos, após
a crise de 1929, que elevou abruptamente as tarifas aduaneiras nos Estados Unidos e
teria o papel de fortalecer a produção interna dos Estados Unidos. Entretanto, alguns
autores acreditam que esta Lei teria intensificado os efeitos da Grande Depressão.

Com reconhecimento de parte dos atores da época sobre o caráter nefasto


da elevação das tarifas à importação houve tentativas de redução dessas tarifas.
Entretanto, muitas vezes, esbarrava-se nos interesses das empresas situadas em
setores que concorriam com produtos importados.

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Quando ocorriam negociações, elas teriam de ocorrer a partir de Acordos Bilate-


rais para poder “agradar a todos”. Segundo Krugman e Obstfeld (2005, p.177), os
Acordos Bilaterais de tarifas ajudaram a reduzir o imposto médio sobre as importa-
ções nos Estados Unidos, de 59%, em 1932, para 25%, após a II Guerra.

A redução de tarifas para importação e uso de outros instrumentos de Política Co-


mercial restritivas ao Comércio internacional somente ocorreu de forma mais organi-
zada globalmente após a 2ª GGM, a partir da criação do Gatt (General Agreement
on Tariffs and Trade), em 1947, em tradução para o português: Acordo Geral sobre
Tarifas e Comércio.

A motivação principal da criação do GATT é o fortalecimento das relações co-


merciais entre países a partir da criação de acordos multilaterais.

De acordo com Carvalho e Silva (2007, p. 101):


[...] o principio básico que orientou o funcionamento do GATT foi o da
não-discriminação, expresso pela cláusula de nação mais favorecida (NMF),
segundo a qual nenhum país tinha obrigação de fazer concessões, mas se,
ao negociar com qualquer outro, reduzisse suas barreiras à importação de
determinado produto, esse benefício deveria ser estendido, incondicional-
mente, a todos os demais. Essa obrigatoriedade resultou no direito de todos
se beneficiarem de qualquer redução de barreiras alfandegárias praticada
pelos membros do Acordo.

Para participar do Acordo Geral, os países assumiram também o compro-


misso de não aumentar as tarifas ou fazer outras restrições ao Comércio.
Assim, impedindo seus membros de aumentar as barreiras comerciais e
beneficiando-os por toda e qualquer redução praticada por algum deles,
o GATT contribuiu efetivamente para reduzir o protecionismo e facilitar
o Comércio mundial, embora tenha permanecido na condição de acordo
provisório durante toda a sua existência.

O GATT, por ser apenas um Acordo entre países, não possuía alguns instrumen-
tos essenciais para o desenvolvimento das relações comerciais, como, por exemplo,
a existência de uma sede em funcionamento para agilizar a resolução de litígios entre
países. A criação da OMC, em 1995, é parte deste processo de reforma administra-
tiva das relações comerciais entre as nações, e dá continuidade às normas do GATT
e, a partir de sua formação, as decisões são tomadas de forma mais rápida, o que
fortifica as negociações multilaterais.

A OMC não possui instrumentos punitivos diretos sobre países que ferem os
Acordos, mas pode conceder o direito à retaliação ou à cobrança de indenizações
estabelecidas pela organização a serem repassadas à(s) parte(s) prejudicada(s).

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A Figura 2 apresenta as principais funções da OMC.

Gerenciar os acordos multilaterais de comércio relacionados


a bens, serviços e direitos de propriedade intelectual

Administrar o entedimento sobre soluções


de controvérsias;

Servir de fórum para as negociações;

Supervisionar as políticas comerciais nacionais;

Cooperar com outras organizações internacionais

Figura 2 – Principais funções da OMC


Fonte: Carvalho; Silva, 2007, p. 102

Entre as principais formas de avanço e de impedimento de retrocesso nas nego-


ciações comerciais dentro do sistema Gatt-OMC, está a de vinculação.

O Sistema faz analogia a um objeto com alavanca e travas: “Utiliza-se uma


alavanca para empurrar um objeto pesado (economia mundial) ao longo de um
aclive (caminho para o livre comércio), e travas para evitar que o objeto retroceda”
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p. 178).

A alavanca são as rodadas comerciais e a principal trava desse Sistema é a


vinculação. As rodadas têm a função de buscar liberalizar o Comércio e a vinculação
implica que, a partir do avanço na redução de uma tarifa aduaneira, não é autorizada
elevação dela no futuro. De acordo com Krugman e Obstfeld (2005, p. 178), atual-
mente, quase todas as tarifas dos países desenvolvidos são vinculadas; nos países em
desenvolvimento, a vinculação é de 75%.

Além da vinculação de tarifas aduaneiras, o sistema Gatt-OMC, normalmente,


busca inibir o surgimento de intervenções não-tarifárias no Comércio mundial. Um
exemplo importante disso é a proibição de subsídios à exportação de bens e serviços,
exceto para produtos agrícolas. Outro exemplo seria a proibição da criação de novas
cotas para a importação permanente.

A OMC foi criada dentro do contexto da Rodada Uruguai, iniciada em 1986,


em Puntadel Este, no Uruguai, a qual passou por várias fases.

Conforme Krugman e Rubinfeld (2005, p 178): “[...] sete anos com ofertas e
contra-ofertas, ameaças e contra-ameaças e, acima de tudo, dezenas de milhares de
reuniões tão entediantes que mesmo o diplomata mais experiente tinha dificuldade
em manter-se acordado”.

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UNIDADE Política Comercial: Histórico e Debates

Os resultados mais importantes podem ser separadas em dois conjuntos, a sa-


ber: a Liberalização do Comércio e as Reformas Administrativas.

As Reformas Administrativas dizem respeito aos ajustes realizados com a fun-


dação da OMC, enquanto os resultados mais relevantes quanto à Liberalização do
Comércio estão apresentados no Quadro 1.

Quadro 1 – Principais Resultados de Liberalização do Comércio


A rodada Uruguai cortou tarifas ao redor do mundo.
A tarifa média imposta pelos países avançados caiu quase 40% (redução de 6,3% para 3,9%).
Liberalização do Comércio nos setores de agricultura e vestuário.
Exigência de redução do valor dos subsídios aos exportadores agrícolas em 36% e o volume das exportações
subsidiadas em 21% ao longo de um período de 6 anos.
Determinação de prazo para extinção do Acordo Multifibras.
Fonte: Krugman; Rubinfeld, 2005, p 179

Política Comercial e Industrialização


na América Latina
Ao tratar da temática das Políticas Comerciais nos países em desenvolvimento,
a Literatura destaca a Política de Industrialização por Substituição de Importações
(PSI) ocorrida em diversos países latino-americanos.
Explor

Para contextualizar a PSI, leia os trechos a seguir extraídos do livro Economia Internacional,
de Carvalho e Silva (2007, p. 95).

Argumento desenvolvido por economistas da Comissão Econômica para a


América Latina (CEPAL), da Organização das Nações Unidas (ONU), que
inspirou a Política Comercial de muitos dos países da região, inclusive o
Brasil, Raúl Prebish foi o mentor dessa proposição. O ponto de partida do
argumento foi a constatação de que países menos desenvolvidos, tradicio-
nais exportadores de produtos primários e importadores de industrializados,
tendiam a ser permanentemente prejudicados no comércio internacional
porque as relações (ou termos de troca) lhes eram desfavoráveis.

(...)

Segundo Prebish, exportando produtos primários, os países da América


Latina perdiam capacidade para importar bens industrializados, considera-
dos essenciais para o crescimento econômico. Para superar esse estrangu-
lamento, propunha que o Estado promovesse o desenvolvimento de uma
indústria dinâmica, capaz de substituir os produtos antes importados.

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O desenvolvimento era visto como impraticável sem um sistema de proteção que
transferisse renda para a indústria e a preservasse da concorrência internacional.
Assim, a agregação das ideias da perda nas relações de troca, da indústria nascente e
da distribuição de renda entre países resultou no argumento da substituição de impor-
tações, base dos programas de industrialização da América Latina após a Segunda
Guerra Mundial.
A partir dos trechos anteriores, fica clara que a ideia da PSI era atingir o desen-
volvimento econômico. Os principais argumentos expostos em Carvalho e Silva
(2003) pelo atraso em relação aos países mais avançados seriam: o diferencial dos
termos de troca, a indústria nascente e a redução da desigualdade de renda
entre os países.
O argumento da indústria nascente diz respeito à necessidade de se criar uma
proteção em relação à concorrência internacional para que as indústrias dos países
em desenvolvimento pudessem se estruturar. Tem-se aí uma noção de que a Política
Comercial revelou-se uma “incubadora” das indústrias que surgiriam. Um ponto im-
portante é que a utilização de barreiras comerciais, nesse contexto, estava prevista
para ser provisória; no entanto, tornou-se permanente.
Em relação ao desenvolvimento desigual, a Política teria a intenção de reduzir
a desigualdade entre as nações, mas também, de acordo com Krugman e Obstfeld
(2005, p. 192), tratar o desenvolvimento regional disforme.
A Política de Substituição de Importações (PSI) na América Latina se inicia
da década de 1930, em função da crise de 1929 – que explode com a quebra
da Bolsa de Nova Iorque; fortalece-se na primeira metade da década de 1940,
em razão da interrupção do Comércio durante a 2ª GGM, e chega ao auge nas
décadas de 1950 e 1960, reduzindo-se na década de 1970.
Cronologicamente, a Industrialização por Substituição de Importação iniciou-se
pelos estágios finais da Cadeia Produtiva, ou seja, a partir dos bens de consumo durá-
veis e não duráveis, como o processamento de alimentos e montagem de automóveis
e eletrodomésticos. Posteriormente, parte-se para os bens intermediários, como a
produção de aço. O passo final seria a produção de bens manufaturados sofisticados,
como máquinas e ferramentas de alta precisão (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).

Figura 2 – Funcionamento Geral do PSI na América Latina


Fonte: Adaptado de Krugman e Obstfeld, 2005, p.194

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UNIDADE Política Comercial: Histórico e Debates

Críticas ao Modelo de Industrialização


pela Substituição de Importações
Historicamente, a Política de Industrialização pela Substituição de Importações
(PSI) empreendida em países da América Latina é alvo de várias críticas.

Nas próximas seções, serão apresentadas quatro críticas relacionadas a esse modelo
de industrialização, a saber: crítica ao argumento da indústria nascente; incapaci-
dade para criar ambiente para o desenvolvimento econômico dos países; gera-
ção de escala ineficiente e desenvolvimento de dualismo econômico.

Crítica ao Argumento da Indústria Nascente


A Política Comercial adotada nos países que adotaram a PSI tinha o argumento
de proteger as Empresas que nele se instalassem. Dessa forma, o uso de tarifas para
a importação, por exemplo, foi largamente utilizado para bloquear a concorrência
externa de bens, cujos substitutos estavam sendo produzidos localmente.

Entretanto, os críticos ao PSI relembram que uma Tarifa Aduaneira tende a gerar
custos líquidos expressivos pelas perdas de eficiência de produção e consumo, as
quais raramente são superadas pelos ganhos de termos de troca; e, mesmo que
eles superassem as perdas, o país estaria sujeito a ser alvo de retaliações por outros
países por estar atuando com uma política do tipo empobreça-seu-vizinho.

Os críticos sugerem que se a Economia de um país é trabalho-abundante em de-


terminado momento, então, muito provavelmente, não seria ideal apoiar indústrias
capital-intensivas nesse mesmo momento.

Se uma Economia é trabalho-abundante significa que o custo do fator traba-


lho é menor que o do fator capital. Desse modo, a produção de bens trabalho-
-intensivos poderiam gerar menor custo relativo e, assim, elevar a capacidade de
competitividade desses países.

PSI e o Desenvolvimento Econômico


Outro lembrete dos críticos à PSI é que o principal alvo dela seria alcançar o desen-
volvimento econômico nos países que a adotassem. Entretanto, esse objetivo não foi
alcançado. O principal ponto da crítica é que “um período de proteção não criará um
setor manufatureiro competitivo se, por determinados motivos fundamentais, o país
não tiver vantagem comparativa no setor” (KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p.195).

Os países que adotaram tais Políticas possuíam problemas na oferta confiável em


vários aspectos, como, por exemplo, competência gerencial e trabalho qualificado.

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A Geração de Escala Ineficiente
A restrição às exportações, seja por meio de tarifas aduaneiras, seja por cotas
à importação ou outras formas de bloqueio, acaba por gerar uma escala ineficiente
de produção.

Diversas empresas, para poderem alcançar o Mercado interno dos países que ado-
taram a PSI, tiveram de se instalar neles de modo a tornar seus produtos competitivos
internamente e, assim, livrarem-se da dificuldade imposta pela Política Comercial.

Entretanto, empresas produtoras de bens cujo custo marginal de longo prazo não
é compatível com a quantidade demandada por determinado bem, apresentam, de
acordo com a Teoria Microeconômica Neoclássica, ineficiência no aspecto produtivo.

Essa ineficiência retira a possibilidade de maximização de lucro dessas companhias.


O fato é que, se os ganhos Economias de Escala somente se configuram com
elevadas quantidades produzidas, mas o Mercado Interno não consegue absorver,
então a Empresa estará perdendo a possibilidade de ter resultados mais satisfatórios.

Uma Empresa que esteja com dificuldade de obter ganhos de escala com deter-
minada linha de bens teria de expandir o “leque de opções” de produtos para atingir
o estágio produtivo adequado. Parcialmente, em função disso, alega-se ser uma das
razões para a falta de especialização em alguns países menores e, portanto, ausência
de vantagem comparativa na produção de determinados bens.

O Desenvolvimento do Dualismo Econômico


Parte da Literatura internacional alega que a PSI tenha provocado um reflexo
de piora na distribuição de renda da população por meio do surgimento de uma
Economia dual.

De forma simples, o dualismo econômico expressa a “divisão de uma economia


em dois setores que parecem estar em níveis muito diferentes de desenvolvimento”
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2005, p. 196).

Diversas razões poderiam explicar esse padrão na Sociedade, mas, conforme


Krugman e Obstfeld (2005, p. 197), alguns economistas enxergam que a PSI teria
criado ou pelo menos agravado a Economia dual. O ponto é: por que esses econo-
mistas possuem essa crença?

A partir do Desenvolvimento Industrial nos países que adotaram a PSI, o nível de


preços do produto manufatureiro e o preço do produto rural guardavam expressiva
diferença. Além disso, o nível de salários no Setor Moderno (Industrial) era bem
superior ao dos salários oferecidos na Agricultura.

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UNIDADE Política Comercial: Histórico e Debates

Apesar de o Setor Manufatureiro apresentar-se como menos intensivo em traba-


lho que o Setor Rural, os salários mais elevados do Setor Moderno teriam gerado
um movimento migratório rumo às grandes cidades industriais dos países.

O êxodo rural era um sintoma desse processo. Muitos cidadãos de diversas partes
desses países migravam para as grandes cidades na esperança de encontrar uma
função que oferecesse um “futuro melhor”. Entretanto, problemas de eficiência
produtiva existentes nas empresas instaladas nos países inibiam a contratação de
trabalhadores no mesmo ritmo do fluxo migratório. O resultado foi, de acordo com
os críticos, a geração de desemprego persistente, principalmente, em áreas urbanas.

Conforme Krugman e Obstfeld (2005, p. 199), alguns economistas defendem a


ideia de que “diferenças de salários refletem o poder de monopólio dos sindicatos
cujas indústrias são protegidas da concorrência estrangeira”, de modo que “[...] o
Comércio livre seria capaz de reduzir o salário das indústrias manufatureiras e au-
mentar o salário da área rural”.

Considerações Finais
Esta Unidade apresentou os debates da literatura na dicotomia formada entre
autores a favor o Livre Comércio e os autores contra ele, a partir dos argumentos
apresentados. Apesar desse debate, a decisão real sobre a Política Comercial estaria
mais relacionadas às teorias do eleitor mediano e da ação coletiva.

Posteriormente, descreveu-se na Unidade a forma de Desenvolvimento Industrial


nos países latino-americanos, com base em uma Política Comercial que restringia
importações, defendendo-se, assim, a indústria nascente.

Diversas críticas vieram junto a esse padrão de funcionamento da Política Co-


mercial, como a incapacidade para gerar desenvolvimento econômico e a criação
de uma Economia dual.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Introdução às Finanças Internacionais
CARVALHO, G. de. Introdução às finanças internacionais. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2007 (e-book).

Economia Internacional: Teoria e Prática


COSTA, A. J. D.; SANTOS, E. R. de S. Economia Internacional: Teoria e Prática. Curitiba:
Intersaberes, 2012 (e-book).

Economia Internacional
KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. J. Economia Internacional. São Paulo:
Pearson Education do Brasil, 2015 (e-book).

Comércio Internacional: Teoria e Prática


TRIPOLI, A. C. K.; PRATES, R. C. Comércio Internacional: Teoria e Prática. Curitiba:
Intersaberes, 2016 (e-book).

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UNIDADE Política Comercial: Histórico e Debates

Referências
CARVALHO, M. A. V.; SILVA, C. R. L. Economia Internacional. 4.ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.

KRUGMAN, P. R.; OBSTFELD, M. Economia Internacional. 6.ed. São Paulo:


Pearson Education do Brasil, 2005 (e-book).

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