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Material Teórico
Concentração Industrial e as Cadeias Globais de Valor
Revisão Textual:
Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento
Concentração Industrial e
as Cadeias Globais de Valor
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir a tendência à concentração do poder econômico;
· Apresentar o debate sobre as Cadeias Globais de Valor, partindo da
interpretação sobre a Internacionalização do Capital.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Concentração Industrial e as Cadeias Globais de Valor
Introdução
Bem vindo à esta unidade do curso de Economia Industrial. A partir do conheci-
mento discutido na unidade anterior, em que pudemos estudar os modelos de análise
das estruturas de mercado que se aproximam da conjuntura das relações econômi-
cas, vamos verificar como se configura a economia industrial no cenário em que o
poder econômico se estabelece nos Oligopólios.
Importante! Importante!
Interessante notar que a concentração se acelera sempre marcada por uma crise e perío-
dos de depressão. Nesses períodos, muitas empresas menores são atingidas pelos efei-
tos recessivos, facilitando a ação concentradora das empresas que já haviam atingido
razoável grau de concentração.
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Esta tendência à concentração se estabelece porque ao obter o poder econô-
mico, as empresas escapam dos entraves da concorrência via preço, angariando a
liberdade de determinar os preços de acordo com seus interesses. Por outro lado,
a necessidade de produção em escala favorece esta tendência à concentração, pois
só um capital acumulado é capaz de disponibilizar investimentos que gerem produ-
tos mais baratos, uma vez que absorvem a mão de obra qualificada e utilizam equi-
pamentos com tecnologia mais avançada. Este fato termina por banir as pequenas
empresas da concorrência.
Em Síntese Importante!
Com este panorama, em que poucas empresas dominam os setores produtivos mais
dinâmicos da economia, articulados com o capital financeiro, fica evidente que a con-
corrência como outrora passa a ser extinta das relações econômicas. Trata-se agora da
briga de gigantes ou do tratado de gigantes.
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Uma vez que os oligopólios perseguem e auferem o poder econômico e político, como
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esperar que as políticas antitrustes realmente impactem sobre a formação de grupos que
controlem o mercado extinguindo a concorrência?
Em Síntese Importante!
As empresas oligopolistas não disputam o mercado através dos preços, o que lhes
proporciona um excedente que pode ser utilizado para desenvolver métodos de
produção mais produtivos. Isto lhes garante redução dos custos e maiores possibi-
lidades de excedentes. Por sua vez, quando vislumbram novos mercados, apontam
para expansão, o que lhes é assegurado pelo sistema de crédito que administra o
capital acumulado na sociedade e direciona para os “cases de sucesso”, onde a acumu-
lação, não a produção, mostra-se eficiente.
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Estas características, somadas à velocidade que as transações tomaram a partir do
avanço da tecnologia da informação, apresentam um novo cenário para o universo
da produção. Nesse sentido, a corrida por inovações tecnológicas, que aumentem os
resultados das empresas, e a conquista dos mercados, através do esforço de venda (pro-
pagandas), são as marcas da concorrência.
As inovações, como veremos na próxima unidade, são a marcha do processo
produtivo. Porém, como o poder de desenvolvimento tecnológico se concentra no
interesse de poucas empresas, seu avanço se condiciona à lógica da maximização
dos lucros. Portando, antecipamos aqui, não há neutralidade no que confere o de-
senvolvimento tecnológico. Isso leva a consequências que não se aproximam da
ótima alocação dos recursos, pelo contrário, apontam para a utilização em escala
dos recursos sem consciência do desastre ambiental anunciado que se estrutura. As
recentes discussões no mundo empresarial sobre sustentabilidade se estabelecem
muito mais na aparência do que na essência.
Um exemplo desse processo destrutivo se apresenta no conceito de obsoles-
cência programada, em que, por mais que as empresas possam desenvolver pro-
dutos duráveis, que satisfaçam as necessidades de consumo das pessoas, não o
fazem a fim de manter elevadas taxas de lucro. As grandes empresas estabelecem
uma curta vida útil para seus produtos, no intuito de acelerar o ciclo de consumo.
Este comportamento pressupõe uma velocidade elevada de geração de lixo, prin-
cipalmente tecnológico, que muitas vezes não tem destino adequado.
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Estas revoluções, que não podiam seguir a cartilha do socialismo científico, alme-
jado por Karl Marx, já que não tinham avançado seu capitalismo, centralizaram no
Estado todo o poder político e econômico interno, a fim de evitar que o capital priva-
do exercesse pressão sobre a sociedade. A tese anticapitalista se constituiu na emer-
gência de resistir à miséria que restara aos países marginais do sistema econômico.
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prática de assembleias que decidem os rumos da produção de forma democrá-
tica, através do voto.
Para Singer (2002), o que torna Mondragón ainda mais notável é a manu-
tenção dos princípios do cooperativismo em toda sua cadeia produtiva. A lógica
de reprodução material se estabelece através da autogestão dos trabalhadores,
o que criou uma cultura solidária na região, dada a importância econômica das
cooperativas de Mondragón. Este fato propicia ao complexo cooperativo criar
sua própria dinâmica, um processo autônomo de acumulação, independente da
intermediação financeira capitalista.
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A Internacionalização do Capital
Chegamos a um ponto importante: a globalização. Uma vez que há a emergência
de uma globalização contra hegemônica, segundo Boaventura (SANTOS, 2002),
cabe compreender qual a globalização hegemônica. O ponto de partida é a interna-
cionalização do capital, ou mais diretamente, a empresa multinacional.
Não há como pensar a expansão dos oligopólios sem pensar sua dimensão in-
ternacional. A princípio no intuito de oferecer seu produto nos mercados globais
e, posteriormente, a fim de absorver a força de trabalho dos países onde fora pos-
sível exercer maior pressão do capital sobre a produção ou aproximar a produção
dos mercados finais de destino com menor custo.
Este fenômeno que toma corpo após a segunda guerra mundial chega aos anos
de 1970 como determinante da economia. O valor da produção das empresas mul-
tinacionais das principais nações desenvolvidas já se realizava em mais da metade
em filiais localizadas em outros países (KON, 1994).
Importante! Importante!
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Este movimento promove uma nova divisão internacional do trabalho, no intuito
de que a busca por lucros se estabeleça nas regiões onde há maior eficiência produ-
tiva, menores restrições trabalhistas, subsídios governamentais, custos de produção
e logística reduzidos. Não obstante, o avanço da tecnologia da informação acelera
este processo, permitindo à empresa um maior controle global da produção e da
circulação de capital.
Nesse sentido, uma vez que a empresa multinacional, para além de acessar mer-
cados regionais em outros países, torna-se global, é possível identificar uma nova
nomenclatura: Empresa Transnacional. A expansão global toma o caráter do IED
como consequência do crescimento das empresas, na busca por vantagens produ-
tivas (GONÇALVES, 2002).
Em Síntese Importante!
Isso quer dizer que nas negociações internacionais o que está em jogo não é o pro-
duto final em si, a regra é ter retorno sobre o valor adicionado à produção mundial.
Portanto, as empresas em cada país produzem uma parte ou uma tarefa do produto
final, de acordo com, o que alguns economistas costumam chamar, na tradição de
David Ricardo, as vantagens comparativas de cada região. Assim se configuram as
chamadas Cadeias Globais de Valor, as cadeias produtivas já não têm fronteiras e o
direcionamento da produção é ditado pelo interesse das empresas transnacionais.
Importante! Importante!
Veja que interessante, no mundo em que a produção tem escala global, a disputa inter-
nacional configura-se como um comércio de valor adicionado ou um comércio de tarefas
– trade in tasks (FENDT, 2014).
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Toda esta defesa de um mundo mais integrado estabelecido ao redor das ca-
deias produtivas parece propor o caminho a uma solução do problema do de-
senvolvimento. Entretanto, este mercado global sob a égide de grandes con-
glomerados, na realidade, estabelece um processo de pressão aos países em
desenvolvimento para que se adequem aos interesses da Empresa transnacional,
pois, caso contrário, o fluxo de capital estabelecido pelo IED tende a se direcionar
a outras regiões.
Uma vez que os países em desenvolvimento têm uma dependência externa es-
trutural, acabam sendo impedidos de promover uma política econômica autônoma,
sendo obrigados a adotar medidas austeras que reformem seus sistemas de proteção
social e evitem a fuga de capitais.
O avanço da concentração e centralização de capital absorve tanto poder, que sua influência políti-
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ca se espalha pelos países onde mantêm atividade econômica, determinando que os governos
locais assumam compromissos com os interesses do lucro das empresas transnacionais.
Celso Furtado (1974) já enxergava essa equação nos anos de 1970. Sua concep-
ção de que o poder dos oligopólios numa economia global depende de um Estado
Nacional que estabeleça uma disciplina econômica que se diga de interesse geral,
mas que no fundo atinja os interesses das Empresas Transnacionais, leva-o à ideia do
mito do desenvolvimento.
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Uma vez que a grande empresa tem por fim a sua própria expansão, há a ne-
cessidade de exercer influência em diversas áreas a fim de garantir seus interesses.
Tendo em vista que a parte dinâmica da produção, desenvolvimento tecnológico, por
exemplo, se estabelece nos países centrais do capitalismo, à periferia resta cumprir a
função de oferecer mão de obra barata e um mercado interno comportado.
Quando nos anos de 1980, com o país mergulhado na crise da dívida, a saída via
socialização das perdas foi a estratégia concebida, mal sabiam os industriais brasilei-
ros que no futuro próximo o país caminharia a passos largos rumo a uma reprimari-
zação da economia, ou nas palavras de Plínio de Arruda Sampaio Junior (2018), ao
risco de uma reversão neocolonial.
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Entretanto, não é o que vimos nos últimos anos. O efeito da expansão da econo-
mia chinesa tem extrema relevância nesse sentido, tanto pela oferta de bens manufa-
turados, muito mais competitivos, como pelo crescimento da demanda por commo-
dities por parte da China. Com o preço das commodities muito acima do real, países
como o Brasil perceberam ganhos de escala em aproveitar a “vocação” primária
com preços tão inflacionados. Parecendo esquecer o investimento na produção de
bens com maior valor agregado.
Segundo os defensores das Cadeias Globais de Valor, o Brasil tem vantagens com-
parativas nos setores com grande intensidade em recursos naturais. Esses setores têm
menos inserção nas cadeias produtivas, o que exige do país, tendo em vista a sua
almejada integração global, uma reforma estrutural nos setores industriais e em infra-
estrutura para atrair o interesse das empresas Transnacionais (BAUMANN, 2014).
Na contramão desse processo ocorrido na primeira década do século XXI, a rara ex-
ceção na América do Sul que podemos citar é a Bolívia. Por maior que fosse a pressão
das empresas transnacionais para explorar a vantagem comparativa do país, principal-
mente em recursos minerais, a política local não aceitou. Insistiu na necessidade de uma
inserção em etapas mais dinâmicas da cadeia produtiva, industrializando o lítio dentro do
país, por exemplo. Passado o chamado boom das commodities, a Bolívia ainda é um
dos poucos países no mundo, que em meio a crise global, mantém índices estruturados
de crescimento de longo prazo.
Reportagem BBC: Como a Bolívia se tornou o país que mais cresce na América do Sul.
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Resta ao Brasil, enquanto oitava maior economia do mundo, exercer sua força
para resistir às pressões que alvejam as nações sul-americanas e integrar os países
locais a fim de prospectar maior força regional dentro das cadeias globais de valor.
Não há economia que resista a simplesmente cumprir as exigências dos interesses
por lucros das empresas transnacionais sem prospectar um desejo de desenvolvi-
mento e respeito às particularidades regionais.
Tendo em vista que a vantagem comparativa do Brasil é a produção com alta in-
tensidade em recursos naturais, é isso que o Brasil tem a oferecer para as empresas
transnacionais e é isso que elas querem. Entretanto, é aí que precisamos reformar
para que o olhar para o país seja outro. Não vamos vislumbrar qualquer desenvolvi-
mento insistindo em oferecer ao mundo o latifúndio.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Introdução à Economia Solidária
Paul Singer (2002).
O mito do desenvolvimento
Celso Furtado (1974) – Capítulo I: Tendências estruturais do sistema capitalista na fase
de predominância das grandes empresas (p.15-76).
Vídeos
Obsolescência programada
https://youtu.be/6csAt3HENkw
A experiência Mondragón
http://dai.ly/x2ycwlv
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Referências
BAUMANN, Renato. O Brasil e as cadeias globais de valor. In: NEVES, L. P
(Org.). A Inserção do Brasil nas Cadeias Globais de Valor. CEBRI Dossiê
Edição Especial, v. 2, ano 13. Rio de Janeiro: CEBRI, 2014. Disponível em:
<http://ois.sebrae.com.br/wp-content/uploads/2015/01/BrasilCadeiasValor.
pdf#page=10>. Acesso em: 13/12/2017.
FENDT, Roberto. Cadeias globais de valor: uma sucinta introdução. In: NEVES,
L. P (Org.). A Inserção do Brasil nas Cadeias Globais de Valor. CEBRI Dossiê
Edição Especial, v. 2, ano 13. Rio de Janeiro: CEBRI, 2014. Disponível em:
<http://ois.sebrae.com.br/wp-content/uploads/2015/01/BrasilCadeiasValor.
pdf#page=10>. Acesso em: 13/12/2017.
SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Perseu Abramo, 2002.
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