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Psicologia
Educacional e
Escolar no Brasil
Contributions For The Development Of
The Historiography Of Educational And
School Psychology In Brazil

Contribuciones Para La Construcción De


La Historiografía De La Psicología
Educacional Y Escolar En El Brasil

Deborah Rosária
Barbosa

o
Universidade de
São Paulo
gi

Contribuições para
a Construção da
Historiografia da
PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2012, 32 (num.
esp.), 104-123

perguntas.
PSICOLOGIA:
CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2012, 32 (num. esp.), 104-123 (Bertolt Brecht,
1982, p. 156)
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Deborah Rosária Barbosa

Resumo : Este artigo apresenta alguns dados sobre a história do


campo de conhecimento e prática da Psicologia em sua relação
com a educação no Brasil. Este estudo foi conduzido baseado no
fundamento epistêmico-filosófico do materialismo histórico
dialético e na nova história, utilizando fontes bibliográficas
históricas e cinco relatos orais de personagens da Psicologia
educacional e escolar. Os depoimentos e o material das fontes
escritas constituíram o corpus documental, cuja organização
seguiu a metodologia da história oral e da historiografia plural.
Foi realizada análise descritivo-analítica compreendida em duas
etapas: a) análise documental (fontes não orais) e b) construção
de indicadores e núcleos de significação dos registros orais. A
partir das análises, compôs-se uma periodização da história da
Psicologia educacional e escolar brasileira por meio de marcos
Perguntas de um operário que lê históricos que compreendeu as fases: 1) colonização, saberes
Quem construiu Tebas, a das sete portas? psicológicos e educação (1500-1906), 2) a Psicologia em outros
Nos livros vem o nome dos reis, campos de conhecimento (1906-1930), 3) desenvolvimentismo –
a Escola Nova e os psicologistas na educação (1930-1962), 4) A
Mas foram Psicologia educacional e a Psicologia do escolar (1962-1981), 5)
os reis que o período da crítica (1981-1990), 6) a Psicologia educacional e
transportaram as pedras? escolar e a reconstrução (1990-2000) e 7) A virada do século:
novos rumos? (2000-).
(...) Em cada
Palavras-chave: Psicologia escolar. Psicologia educacional.
década um História da Psicologia - Brasil.
grande homem. Quem pagava as despesas?
Tantas histórias Abstract: This article presents some data in which the history of
the knowledge and practice of educational and school
Quantas
psychology in Brazil was investigated. This study was carried out del campo de conocimiento y práctica de la Psicología en su
based on the new history and philosophical-epistemological relación con la educación en el Brasil. Este estudio fue conducido
foundation of historical and dialectical materialism; bibliographical basado en el fundamento epistémico-filosófico del materialismo
references as well as historical and oral accounts of five living histórico dialéctico y en la nueva historia, utilizando fuentes
characters of the Brazilian history of Educational and School bibliográficas históricas y cinco relatos orales de personajes de la
Psychology were used. The statements of historical sources and Psicología educacional y escolar. Las declaraciones y el material
the material constituted a corpus of documents whose de las fuentes escritas constituyeron el corpus documental, cuya
organization followed the methodology of oral history and organización siguió la metodología de la historia oral y de la
pluralistic history. A descriptive analysis was performed in two historiografía plural. Fue realizado un análisis descriptivo-analítico
steps: a) document analysis (non-oral sources) and b) comprendido en dos etapas: a) análisis documental (fuentes no
construction of a core of indicators from oral records. From the orales) y b) construcción de indicadores y núcleos de
analysis, a timeline of the history of educational school Brazilian significación de los registros orales. A partir de los análisis, se
psychology was built through landmarks comprising: 1) compuso una periodización de la historia de la Psicología
colonization, psychological knowledge and education educacional y escolar brasileña por medio de marcos históricos
(1500-1906), 2) psychology in other fields of knowledge que comprendió las fases: 1) colonización, saberes psicológicos
(1906-1930), 3) “desenvolvimentismo”- the New School and y educación (1500-1906), 2) la Psicología en otros campos de
“psicologistas” in education (1930-1962), 4) educational conocimiento (1906-1930), 3) desarrollismo – la Escuela Nueva y
psychology and school psychology (1962-1981), 5) the critics los psicologistas en la educación (1930-1962), 4) La Psicología
period (1981 - 1990), 6) educational and school psychology and educacional y la Psicología del escolar (1962-1981), 5) el período
reconstruction (1990-2000), 7) the turn of the century: new de la crítica (1981-1990), 6) la Psicología educacional y escolar y
directions? (2000- ). la reconstrucción (1990-2000) y 7) En el cambio de siglo:
Keywords: Educational psychology. School psychology. ¿nuevos rumbos? (2000- ).
Psychology history- Brazil. Palabras clave: Psicología escolar. Psicología educacional.
Historia de la Psicología- Brasil.
Resumen : Este artículo presenta algunos datos sobre la historia
doutorado(1) que trata da história da campo de conhecimento no interior
Psicologia educacional e escolar no da Psicologia em nosso país. Como
Brasil e que foi defendido no objetivos específicos, buscou-se
Programa de Pós-Graduação em analisar obras publicadas sobre
1Este trabalho foi realizado com bolsa de Psicologia Escolar e do Psicologia e sua relação com a
doutorado do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Desenvolvimento Humano do educação, sobre historiografia da
Tecnológico (CNPq) sob orientação da profa. Instituto de Psicologia da Psicologia e o papel do psicólogo
Dra. Marilene Proença Rebello de Souza
Universidade de São Paulo (IPUSP) escolar ao longo do tempo. Um
(IPUSP).
O presente artigo tem como objetivo (Barbosa, 2011). O estudo teve como diferencial da investigação foi a
apresentar alguns resultados objetivo geral realizar um utilização da história oral como uma
oriundos de meu trabalho de levantamento das metodologias empregadas.
do histórico da constituição desse

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personagens da Psicologia forma de contá-la. A História (com h
educacional e escolar. Assim sendo, maiúsculo), ou conjunto de
foram realizadas gravações de produções ou transformações
entrevistas orais com cinco empreendidas pela humanidade ao
pioneiros/protagonistas dessa longo do tempo, pode ser
história, e o resultado dos descortinada a partir de recortes que
depoimentos, assim como o os historiadores fazem. Nesse
levantamento das obras escritas ao sentido, o que se produz a partir
longo do século XX, contribuíram desses recortes são várias histórias
para a composição de uma proposta (com h minúsculo) que nos fazem
de periodização do histórico dessa compreender fragmentos da
área em nosso território. realidade por meio dos referenciais
escolhidos pelo pesquisador.
Essa periodização foi construída a Portanto, as escolhas que o
partir da identificação de marcos historiador empreende são de suma
históricos da área, e compreendeu importância para delimitar qual será
as etapas: 1) colonização, saberes sua contribuição na constituição de
psicológicos e educação uma determinada história.
(1500-1906), 2) a Psicologia em
outros campos de conhecimento Geralmente, para balizar esse
(1906-1930), 3) desenvolvimentismo pensamento, utilizam-se recursos
Os historiadores são como surdos, dizia – a Escola Nova e os psicologistas como os recortes temporais, de
Tolstoi, na educação (1930-1962), 4) a espaço, de tema e ou de fontes a
respondem
Psicologia educacional e a Psicologia serem utilizadas. Empregando como
perguntas que ninguém lhes fez (Bosi,
2003, p. 67). do escolar (1962-1981), 5) o período exemplo a história da Psicologia,
A partir de uma inquietação inicial e da crítica (1981-1990), 6) a pode se querer estudá-la em um
de pesquisas preliminares, Psicologia educacional e escolar e a período de tempo específico, os
identificou-se que são muitos os reconstrução (1990-2000) e 7) a últimos cinquenta anos (recorte
escritos sobre história da Psicologia, virada do século: novos rumos? temporal), ou a história da Psicologia
porém poucos têm como (2000-). Neste artigo, optou-se por nos Estados Unidos, no Brasil, em
característica ouvir os próprios expor o modo de construção da tese Pernambuco ou em outro lugar
partícipes dessa história. Como no no que tange aos processos (recorte espacial), a história da área
poema de Brecht, havia o interesse metodológicos empreendidos e a de Psicologia do trânsito, da
desta pesquisadora em ir além do uma explanação panorâmica sobre psicoterapia ou da área escolar
que tradicionalmente é descrito, ir cada uma das fases em questão. (recorte temático); e ainda
também às fontes reais que O processo de escrita da investigá-la a partir de fontes
contribuíram para personificar essa
História – características bibliográficas como livros ou revistas
história. Nesse sentido, científicas produzidas ao longo do
corroborando a proposição marxista
do trabalho historiográfico tempo ou materiais como
de que a História é feita pelos documentos históricos e/ou eventos
homens e pelas mulheres que a A História existe independentemente
(recorte definido por fontes).
de qualquer escrita; porém, quando
compõem (Marx, 1888/1977; Marx &
se adentra no universo da
Engels, 1845/2007), esta pesquisa Além desses aspectos, há também a
historiografia, é importante entender
teve como peculiaridade a produção, decisão quanto ao modo de
que são várias as formas de se
a organização e a publicidade dos apresentação dos dados
narrar uma história, sempre
depoimentos de pessoas que historiográficos, que podem ser
sabedores que não se trata da
viveram parte da história da analíticos,
História propriamente dita e nem da
Psicologia, em especial,
única

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personagens, os locais, as
mudanças, o que permaneceu, todos Como é sabido, não existe História neutra
esses aspectos ou outro elemento da ou História que seja mera reprodução de
fatos ocorridos em determinado momento
história que está sendo investigada. histórico. (...) Na verdade, o fato histórico
O historiador escolhe em que irá é sempre uma escolha do historiador, um
lançar luz ou enfatizar em sua recorte feito por ele e que reflete sua
subjetividade, seu posicionamento diante
produção. Desse modo, quando se
do mundo e daquela realidade que está
fala em historiografia, há uma gama sendo por ele descrita. Não há duas
extensa de possibilidades que se narrativas de um mesmo acontecimento
abrem para aquele que deseja que sejam iguais ou coincidentes. A
História é uma construção, construção
realizar um trabalho nesse campo. O
essa que pode ter maior ou menor
ditado popular diz sabiamente que compromisso com a evidência, mas na
“quem conta um conto, aumenta um qual existe sempre uma carga
ponto”, e isso traduz a forma como indiscutível de subjetividade (Prestes,
2010, p. 91)
cada pesquisador pode empreender
a narrativa de uma história (que
Para realizar este estudo,
inclusive pode até nem ser uma
inicialmente, foi escolhido o recorte
narrativa). Assim, por trás de toda
espacial de circunscrever a
história, existe aquele que conta a
investigação à história da Psicologia
história, e que, portanto, dá a ela o
educacional e escolar no Brasil.
seu matiz, a sua configuração.
Essa escolha deveu-se, sobretudo, à
observação de que muitas
Essas considerações têm o intuito de
produções no campo da história da
ressaltar que o trabalho aqui
Psicologia privilegiam o enfoque da
apresentado corresponde a uma das
história dessa ciência a partir de
possíveis formas de se contar a
referenciais estrangeiros,
história da Psicologia educacional e
especialmente estadunidenses.
escolar no Brasil. Os resultados
exibidos não devem ser encarados
Como recorte temático, a prioridade
como a história dessa área da
foi a busca pela constituição da
Psicologia, mas sim, como uma
Psicologia relacionada à educação,
contribuição para a historiografia da
que é muitas vezes nomeada
Psicologia, especialmente no que se
2 Não é objetivo deste artigo a Psicologia educacional e/ou escolar,
discussão das refere à sua relação com a educação
mudanças das e que foi, então, conceituada na
em nosso país. A investigação traz,
nomenclaturas tese, do ponto de vista histórico,
pelas quais passou a Psicologia então, as marcas dos recortes feitos
educacional e como um campo de conhecimento
ao longo da pesquisa (temáticos,
escolar e de como essas transformações que tem como foco a relação da
dizem respeito a várias compreensões temporais, espaciais e de fontes),
teóricas e históricas sobre a área; para os
Psicologia com a educação.
assim como as dos matizes
interessados, indico a leitura Verificou-se que alguns teóricos
do item Psicologia educacional ou escolhidos para serem enfatizados ao
escolar: uma questão de nomenclatura?, no longo de sua construção, descritos a
denominam esse campo de
capítulo VII conhecimento subárea ou subcampo
da referida tese
seguir.
da Psicologia, assim como aparecem
(Barbosa, 2011).
descritivos, descritivo-analíticos e as nomenclaturas Psicologia da
Apresentando a pesquisa: educação, Psicologia educacional e
uma infinidade de outras formas de
historiografia, que também passam
aspectos teóricos e Psicologia escolar e outras de forma
pelo foco escolhido pelo pesquisador, metodológicos indiscriminada. Optou-se por utilizar
que pode ou não priorizar os o termo área ou campo de
conhecimento e a terminologia nomear o mesmo fenômeno, elas palavras, a opção por uma ou outra
Psicologia educacional e escolar. A ensejam concepções diversas denominação tem raízes políticas,
partir da tese, foi possível constatar quanto ao objeto de interesse, às sociais, históricas e principalmente
que, longe de essas diferenças finalidades, aos métodos de ideológicas que marcaram a história
serem apenas denominações investigação e aos conceitos dessa área.
correlatas ou formas diferenciadas de primordiais dessa área(2). Em outras

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educação. Corroboramos a definição pós-profissionalização, que principia
de Tanamachi e Meira, que afirmam com a criação da profissão de
que esse campo é uma “(...) área de psicólogo, em 1962. Porém, no
estudo da Psicologia e de atuação/ decorrer da construção da pesquisa,
formação profissional do psicólogo, optou-se pela ampliação do período
que tem no contexto educacional – em questão para abarcar os
escolar ou extra-escolar, mas a ele primeiros conhecimentos oriundos
relacionado –, o foco de sua atenção da relação Psicologia e educação
(...)” (Tanamachi & Meira, 2000, p. que podem ser identificados no
11). Também como as autoras período colonial através dos relatos
asseveram, o profissional identificado da educação jesuítica. Os dados
com essa área, mesmo que não construídos permitiram um avanço
atue diretamente no contexto até os anos 2000, de modo que,
escolar, tem um compromisso mesmo sucintamente, são
teórico e prático com as questões da apontados os marcos históricos de
escola e da educação como um cada período compreendido nesse
todo. Ao estudar ou produzir espaço temporal.
3Os depoentes assinaram Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido para
referências (ciência) ou atuar
realização da pesquisa e também um Termo (profissão) nesse campo, não deve Quanto às fontes, a partir da
de
Autorização Livre e Esclarecido para uso do
limitar-se aos conhecimentos nem metodologia da história oral,
depoimento. Ambos os termos compreendem da Psicologia, nem da educação, priorizou-se encontrar pessoas que
a afirmação de que seus nomes não seriam
nem de outro campo, mas utilizar pudessem dar depoimentos sobre a
omitidos na citação de seus depoimentos.
Eles concordaram com a exposição de suas como base as inúmeras e fecundas sua participação na constituição da
identidades, bem como autorizaram a produções de outras áreas que
publicação dos depoimentos (que foram
história da Psicologia educacional e
revisados pelos mesmos) e que estão na também contribuem para pensar escolar no Brasil. Foram
íntegra na tese. sobre as questões educativas como selecionados alguns critérios para a
4 A primeira lista de possíveis depoentes a Filosofia, a Sociologia, a escolha desses testemunhos que
compreendia Antropologia, etc. Em resumo, a deveriam ter, sobretudo, o caráter de
entrevistas com vários outros
pioneiros ou Psicologia educacional e escolar é pioneiros ou de protagonistas na
protagonistas, um campo de conhecimento que área. Além disso, cada depoimento
contudo, devido ao tempo exíguo do
doutorado, abarca as dimensões teóricas e deveria abarcar, na medida do
não foi possível realizá-las. Isso não causou práticas e, sobretudo, práxicas de possível, um período específico
prejuízo aos objetivos do trabalho dado a
riqueza de detalhes, informações e
compromisso ético político com as dessa história, ou de
abrangência dos depoimentos questões educacionais, escolares e acontecimentos marcantes, de modo
realizados.
com a sua melhoria, utilizando-se a mapear o tempo estudado em
A partir dessas considerações, a
das interfaces de conhecimentos questão. Nesse sentido, os cinco
Psicologia educacional e escolar é
produzidos pelas ciências humanas. participantes foram escolhidos por
aqui entendida como um campo de
terem: a) realizado publicações
conhecimento ou área da Psicologia
Como recorte temporal da tese, expressivas na área, b) atuado na
cujo compromisso é a relação com a
escolheu-se inicialmente o período área, c) sido docentes; e/ou d)
participado de órgãos/instituições da seus testemunhos e revisá-los, o que se deu por serem representativas de
área. Os depoentes foram os se transformou na versão final que foideterminado período histórico. A
professores Doutores Samuel exposta na íntegra na tese(4). busca por essas referências também
Pfromm Netto, Geraldina Porto priorizou conhecer os personagens
Witter, Arrigo Leonardo Angelini, Além dos depoimentos orais, que marcaram essa história,
Raquel Souza Lobo Guzzo e Maria serviram como fontes documentos inclusive aqueles falecidos, além de
Helena Souza Patto(3). Cada um escritos, visitas a centros de buscar abranger referenciais de
desses depoimentos foi gravado, documentação e História e, várias partes do Brasil, não se
transcrito e transcriado a partir do especialmente, obras com temas que limitando a um determinado Estado
que foi indicado por Meihy (2000). se relacionam à Psicologia da Federação. Essa preocupação se
Os entrevistados puderam conferir educacional e escolar cuja escolha

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escolar em alguns dos Estados do dos registros orais. Para
território nacional. instrumentalizar esse processo,
foram utilizadas as referências de
Feitos os recortes espacial, temático, análise de conteúdo de Bardin
temporal e de fontes, foi possível a (1995), de análise documental de
construção de um corpus Pimentel (2001), e de análise e
documental que foi interpretado de construção de indicadores e núcleos
forma descritivo-analítica com base de significação de Aguiar e Ozella
nos pressupostos da nova história e (2006). Além destas, foram de suma
do importância para nortear todo o
materialismo histórico e dialético. processo de construção e discussão
Como foram utilizados vários dos dados as orientações quanto à
referenciais para orientar o trabalho, produção historiográfica de Marx e
bem como diferentes tipos de fontes, Engels (1847/1977, 1845/2007),
análises e formas de apresentação Hobsbawm (1998), Paulo Netto
dos resultados, entendeu-se que se (1998), e, especificamente, sobre
poderia denominar a metodologia história oral, as referências de Meihy
principal como sendo a história (2000), Thompson (2002) e Portelli
Resgatar o pluralista ou a abordagem plural, (1997).
passado tal
como se
esta coaduna diferentes
deu na sua possibilidades de configuração no Após as etapas a) e b) de
totalidade não é completamente possível, campo da historiografia. interpretação dos elementos
nem é tarefa que
consiga chegar a ser um produto acabado”
construídos a partir do corpus
(Antunes, 1996, p. 95). De modo geral, o processo de documental, procurou-se reunir
deveu, sobretudo, ao fato de os análise dos resultados foi esses fragmentos em uma narrativa
depoentes terem atuado sobretudo organizado da seguinte maneira: descritivo
no Estado de São Paulo e terem cada depoimento e fonte foi analítica de forma a articular os
participado do período da analisado em separado e em depoimentos e as fontes escritas.
profissionalização. As referências conjunto, inter-relacionando ao Foi através dessa articulação
escritas e os diários de campo das corpus documental. As análises e a (triangulação) dos elementos
visitas cumpriram, assim, o papel de discussão dos resultados investigados que se construiu uma
cobrir informações de tempos compreenderam duas etapas: (a) proposta de periodização da história
longínquos, de personagens análise documental (fontes não da Psicologia educacional e escolar
falecidos e de fornecer elementos orais) e (b) construção de no Brasil que abrange as sete fases
sobre a Psicologia educacional e indicadores e núcleos de significação ou etapas anteriormente citadas e
que serão melhor explicitadas a elementos disponíveis, organizá-los,
seguir. buscando compreender suas
contradições e a dinâmica de seu
movimento e, fundamentalmente, tentar,
Para uma história da com a limitação inerente ao olhar do
presente, mais se aproximar do passado
Psicologia educacional e e compreendê-lo a partir dos sinais que
escolar no Brasil permaneceram. Melhor compreendendo
o passado e seu processo de
construção, certamente se tornará mais
límpida a compreensão do presente, no
qual o passado se encontra como uma
determinação e base de sustentação
(Antunes, 1996, p. 95)

Quando se fala que a Psicologia está


fazendo cinquenta anos no Brasil, é
porque está se usando como marco
inicial a legislação de criação da
profissão de psicólogo, a Lei nº
4.119, que foi aprovada em 27 de
agosto de 1962 (Brasil, 1962).
Também por isso se comemora o
Dia do Psicólogo em 27 de agosto.
Além dessa lei, é importante destacar
a Resolução de 19 de dezembro de
1962, que estabeleceu o currículo
mínimo para os cursos de formação
Resgatar o passado tal como se deu na de psicólogos (Brasil, 1962), e o
sua totalidade não é completamente Decreto nº. 53.464, de 21 de janeiro
possível, nem é tarefa que consiga
de 1964, que regulamentou a Lei nº.
chegar a ser um produto acabado.
Deve-se procurar, no entanto, juntar os

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79.822, de 17 de julho de 1977 e, nesse ano, foi instalado o
(Brasil, 1977), e, na sequência, Laboratório de Psicologia
foram criados os Conselhos Experimental, coordenado por
Regionais. Manoel
Bonfim, que funcionou até 1919,
Essas delimitações legislativas quequando foi extinto.
marcam a história da Psicologia
contam especificamente do processo Em 1909, Clemente Quaglio criou
de profissionalização, pois os também um gabinete de Psicologia
saberes da Psicologia e mesmo Experimental no Grupo Escolar de
algumas práticas têm origens Amparo em São Paulo, e,
anteriores. Se, como fazem os posteriormente, contribuiu com Ugo
historiadores estrangeiros da Pizzoli para a instalação do
Psicologia, fôssemos considerar Laboratório de Psicologia na Escola
como marco inicial a criação do Normal da Praça da República, em
primeiro laboratório, a exemplo do São Paulo. Conforme Antunes (2001)
laboratório criado por Wundt em e Waeny e Azevedo (2009), foi na
(5)
1875 em Leipzig na Alemanha, gestão de Oscar Thompson, então
teríamos outra data de diretor da Escola Normal de São
comemoração. O primeiro laboratório Paulo, que foi contratado o italiano
brasileiro foi instituído em 1906, no Ugo Pizzoli, catedrático da
Rio de Janeiro (Penna, 1985; Universidade de Modena, na Itália,
Antunes, 2001; Centofanti, 2006) no como responsável por organizar o
interior do Pedagogium, instituição laboratório. Esse laboratório, após o
criada como museu pedagógico, e de Bonfim, foi um dos principais
ficou a cargo de Manoel Bomfim. centros de produção de estudos e de
Esse estabelecimento de datas se pesquisas psicológicas ainda em um
complica um pouco, porque o próprio tempo em que não havia a profissão
Pedagogium foi instituído antes em de psicólogo no Brasil; também
1890, e em sua origem, no Decreto contribuiu para formar profissionais
nº. 981, de 8 de novembro de 1890, que, em sua maioria, atuariam com
Regulamento da Instrucção Primária Psicologia no ensino das Escolas
e Secundária do Districto Federal, já Normais. É por essa razão que
se pressupunha a existência de Pfromm Netto (1996) chama a
laboratórios práticos, o que se primeira fase da Psicologia
efetivou posteriormente (Brasil, educacional brasileira de fase
5 A data da criação do Laboratório
de Psicologia 1890). normalista. Esse autor realizou
Experimental na Universidade importante contribuição para a
de Leipzig, na
Alemanha, criado por Wundt é O Pedagogium, criado inicialmente historiografia da Psicologia
referida por alguns historiadores da para servir de museu e ter em sua educacional e escolar no Brasil a
Psicologia como
tendo ocorrido em 1875, e, por outros, em organização uma exposição partir do texto As origens e o
1879 (Ver: permanente de materiais Desenvolvimento da Psicologia
Shcultz & Schultz, 2002; Araújo, 2007;
Figueiredo & Santi, 2004; Goodwin, 2005). educacionais, também tinha como Escolar (Pfromm Netto, 1996). Em
4.119 (Brasil, 1964). Esse decreto função promover cursos, sua análise, a Psicologia escolar
descreve as funções desse conferências e intercâmbio com passa por três fases: a primeira,
profissional bem como as laboratórios similares estrangeiros, entre 1830 e 1940, que denominou
características do seu exercício entre outras atividades. Em 1906, período normalista, a segunda, entre
profissional e formação. O Conselho quando 1940 a 1962, corresponde à fase
Federal de Psicologia (CFP), por sua foi reorganizado, o Pedagogium se universitária, e a terceira fase
vez, foi criado pelo Decreto nº. tornou um centro de cultura superior, inicia-se com o ensino de Psicologia
escolar na graduação em Psicologia, supracitado é balizado por marcos inicial da Psicologia com base na
a partir da criação da profissão de da institucionalização da Psicologia, criação dos primeiros cursos de
psicólogo, em 1962. seja via Escola Normal, universidade formação de psicólogos, teríamos
ou graduação de psicólogos. Caso então outros referenciais, como a
O referencial usado pelo autor quiséssemos determinar o período organização de um curso

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iniciativa merece relevo primeiro, por ser
em 1932, no Laboratório de Psicologia da uma formação especializada, e segundo,
Colônia de Psicopatas de Engenho de porque ainda não estava estruturada a
Dentro, no Rio de Janeiro, coordenado profissão de psicólogo, nem as
por Waclaw Radecki. Esse psicólogo graduações em Psicologia no País, muito
polonês propôs a transformação desse menos as pós-graduações. Esses cursos
laboratório em Instituto de Psicologia e foram importantes espaços de formação
passou a oferecer um curso de formação nesse sentido. Um outro exemplo se deu
em Psicologia. Entretanto, após sete em 1956: o Instituto Superior de
meses de funcionamento, o curso foi Educação Rural – ISER, na Fazenda do
fechado por várias razões (Centofanti, Rosário, em Ibirité (Minas Gerais), por
1982). iniciativa de Antipoff, organizou um curso
do professor André Rey de Psicologia
Sabe-se que Radecki havia sido experimental, cujo conteúdo abordou a
colaborador de Claparède e diretor do avaliação de crianças e adultos
Laboratório de Psicologia da e o ensino de Psicologia em Cursos
Universidade Livre da Cracóvia, e que o Normais (Clio-Psyché, 2010).
curso projetado por ele teria duração de
seis meses, com disciplinas como Assim eram formados os chamados
Metodologia do Trabalho Experimental psicologistas, que foram os primeiros
em Psicologia e Problemas profissionais a praticar a Psicologia no
Fundamentais do Psicopedagogo, entre Brasil até que aqui pudesse se formar
outras. Caso tivesse sido levada adiante, psicólogos, algo que ocorreu somente
essa seria uma primeira experiência em após a regulamentação da profissão
termos de formação em Psicologia ainda (Bernardes, 2004). A Universidade de
nos anos 30, inclusive com nuances de São Paulo também contribuiu para a
ensino de Psicologia educacional e formação desses primeiros profissionais
escolar. graças a cursos criados nas cátedras de
Psicologia e de Psicologia Educacional
Helena Antipoff também organizou, no da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Laboratório de Psicologia da Escola de Letras (FFCL). Em 1945, foram criados
Aperfeiçoamento de Professores de Belo cursos de Psicopatologia e de Psicologia
Horizonte, em Minas Gerais, cursos para Clínica, por iniciativa de Annita Cabral, na
divulgação de conhecimentos cátedra de Psicologia. Em 1947, por ação
psicológicos trazendo psicólogos de Noemy da Silveira Rudolfer, a cátedra
estrangeiros, como Leon Walther e de Psicologia Educacional ofereceu um
Theodore Simon, para minisrtrá curso de Psicologia Educacional
los. Alguns cursos foram ministrados nos (depoimento de Arrigo Angelini para
anos 50 com características de Barbosa, 2011).
especialização para graduados; essa
Esse panorama oferece um emaranhado
de construções paralelas e diferenciadas pesquisador em História esteja certo de
que contribuíram para erigir a Psicologia quais serão os recortes e as delimitações
brasileira. E complica-se mais um pouco, que irão balizar seus estudos, de modo a
ao pensarmos que, além dessas poder realizar uma contribuição para a
referências, que dizem respeito à historiografia da Psicologia que considere
institucionalização e à profissionalização essa diversidade. Além disso, é
da Psicologia, devemos recuar um pouco necessária uma bússola que oriente suas
mais no tempo e encontrar contribuições investigações, que possa determinar o
anteriores a essas, como nos têm que
mostrado os estudos de Massimi (1984, irá focalizar, assim como e de que forma
1990) e Massimi e Guedes (2004) sobre irá poder descortinar esse conjunto
os saberes psicológicos desde o tempo do imenso de informações multifacetadas.
Brasil-colônia.

Nesse sentido, é necessário que o

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CIÊNCIA E
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primeiras publicações científicas nos
Para a construção do meu trabalho de cursos superiores das faculdades de
doutorado, que buscou compreender a Direito e de Medicina. Uma dessas
história da Psicologia educacional e primeiras teses, intitulada Paixões e
escolar, utilizei como referencial basilar a Afetos da Alma, de M. I. Figueiredo
divisão organizada por Antunes (1991, Jaime, defendida na Faculdade de
2001) quanto à história da Psicologia no Medicina no Rio de Janeiro, em 1836
Brasil. A autora a divide em cinco (ver Pfromm Netto, 1979), cuja temática
períodos: 1) pré-institucional (período envolvia assuntos psicológicos. Além
colonial), 2) institucional (século XIX), 3) disso, foi no século XIX que se
autonomização (1890-1930), 4) construíram as primeiras teorizações
consolidação (1930-1962) e 5) (ciência) que tinham como tema as
profissionalização (1962 em diante). práticas higiênicas que envolviam os
conhecimentos de Psicologia, medicina e
No primeiro período, a Psicologia é educação, e também a entrada da
compreendida como saberes constituídos Psicologia nos cursos de formação de
que eram disseminados, elaborados e professores através do ensino nas
utilizados no interior de outras áreas de Escolas Normais.
conhecimento. Segundo Antunes (1991,
2001), há uma dupla origem da O período que Antunes denomina
Psicologia brasileira que se estabelece a autonomização (1890-1930) corresponde
partir dos conhecimentos médicos e à constituição da autonomia da Psicologia
educacionais. No período colonial, são em relação aos outros campos de saberes
constituídos conhecimentos psicológicos e atuação. A Psicologia passa a produzir
no interior da educação jesuítica, e seus próprios conhecimentos e a se erigir
também estes aparecem posteriormente como um conhecimento autônomo com
no tratamento de doenças mentais no objeto específico, métodos e técnicas
campo psiquiátrico. específicas e também modos
diferenciados de atuação. Data desse
No século XIX, período denominado pela momento a criação, em âmbito
autora de institucional, principiam as internacional, dos laboratórios de
Psicologia no interior de universidades, saberes e das práticas dessa ciência
assim como no Brasil inicia-se processo autônoma, que prepara, então, o terreno
semelhante, como dito anteriormente para a criação da profissão de psicólogo
sobre os laboratórios do Pedagogium, da no País.
Escola Normal de São Paulo e outros
símiles. A fase subsequente inicia-se com a
criação da lei que regulamenta a
A fase descrita por Antunes (1991, 2001) profissão de psicólogo no Brasil, a partir
como consolidação (1930-1962) é a etapa de 1962, e é denominada período da
da construção das primeiras associações profissionalização
de Psicologia, como a Sociedade (1962- em diante).
Brasileira de Psicologia de São Paulo
(1945), a Associação Brasileira de Na mesma linha de raciocínio, Antunes
Psicotécnica (1950), a criação das (2003, 2008, 2011) escreve sobre a
primeiras revistas científicas e dos história da relação entre a Psicologia e a
primeiros cursos de formação de educação. A autora destaca, por
psicologistas. Nesse momento, principia exemplo, como, ao longo do tempo, essa
em grande parte a aplicabilidade da área de conhecimento da Psicologia
Psicologia em vários campos, como a passou por transformações, sendo
clínica, os processos organizacionais, do inicialmente vinculada a um ideário
trabalho e também educacionais. É normativo e classificatório, oriundo dos
quando há uma consolidação dos movimentos

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através e explicitou seu compromisso social,
especialmente dos primeiros psicologistas
contribuindo para práticas de cunho
da educação que a Psicologia foi
consolidando-se como ciência e profissão. emancipatório no interior das
de testes no interior dos laboratórios políticas públicas educacionais
das Escolas Normais, procurando (Antunes, 2006, 2011).
articular-se à consolidação dos
propósitos capitalistas e do Brasil E foi a partir desses apontamentos
industrial. Posteriormente, veio a se
que pude, a partir do estudo que
reconfigurar a partir das críticas arealizei no doutorado (Barbosa,
esse tipo de orientação, através da 2011), articular as fontes escritas e
prática profissional em escolas com orais e propor uma periodização
vertentes ora clínicas, ora específica de constituição da história
educativas (Taverna, 2003). da Psicologia educacional e escolar
que compreendesse as seguintes
Antunes (2003, 2008) destaca que a etapas: 1) colonização, saberes
Psicologia educacional e escolar é psicológicos e educação – educando
fundante da própria Psicologia no meninos rudes (1500-1906), 2) a
Brasil, pois foi através Psicologia em outros campos de
especialmente dos primeiros conhecimento (1906-1930), 3)
psicologistas da educação que a desenvolvimentismo – a Escola Nova
Psicologia foi consolidando e os psicologistas na educação
Antunes (2003, 2008) destaca que a
Psicologia educacional se como ciência e profissão. Em sua (1930-1962), 4) a Psicologia
e escolar é opinião, nos últimos anos do século educacional e a Psicologia do
fundante da
XX, essa área da Psicologia ampliou escolar (1962-1981), 5) o período da
própria Psicologia no Brasil, pois foi
crítica (1981-1990), 6) a Psicologia a escrever” e assim como afirma educação jesuíta, ainda fortemente
educacional e escolar e a Massimi (1984, 1990 e 1997), alicerçados ao propósito da
reconstrução (1990-2000) e 7) a pode-se encontrar nuances de colonização. A influência do
virada do século: novos rumos? ideias psicológicas nessa educação pensamento empirista e das
(2000- ). Conforme apontado inicial. teorizações existentes sobre
anteriormente, essa construção foi domesticação
possível graças à articulação dos Antunes (2003) afirma que, no por meio de castigos e de prêmios é
elementos obtidos através das fontes período, o propósito de aplicação de uma das marcas dessa fase.
conhecimentos psicológicos tinha
orais e também escritas.
como prerrogativa a educação do Com a criação, em 1906, do primeiro
comportamento, de modo a domar e laboratório no interior do
O primeiro período: colonização,
a moldar as crianças, com a Pedagogium, conforme dito
saberes psicológicos e educação
utilização de prêmios e de castigos anteriormente, inaugura-se um novo
(1500-1906), tem como marco inicial
para educar. A autora nos conta que momento: a Psicologia em outros
a chegada dos
Manoel Andrade de Figueiredo campos de conhecimento
portugueses no Brasil e
falava da “educação dos meninos (1906-1930). A Psicologia
especialmente o início da missão
rudes” que deveria, por outro lado, educacional (que ainda não carrega
jesuíta em 1549. Os jesuítas
ser ausente de castigos. o título de escolar e que, por vezes,
construíram, pela primeira vez nesta
Encontram-se no período obras que é denominada educacional), nesta
terra, um sistema educativo para
ressaltam o papel da educação fase é inserida em currículos das
catequização dos índios. Esse
moral, física e fórmulas de como Escolas Normais. É um momento
ensino incluía os ensinamentos
melhor educar os filhos. em que há uma exigência de
bíblicos e também o ensino de
cientifização da educação, e uma
português e das operações
Nesses primórdios, podemos falar das ciências que vem dar respaldo à
matemáticas elementares. Foram
apenas em saberes psicológicos educação e à Pedagogia é a ciência
criados colégios para ensinar “a ler e
disseminados no interior da psicológica.

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trazer à cena a importância de se
Segundo Waeny e Azevedo (2009), data conhecer os processos de
desse período a introdução da disciplina desenvolvimento do educando, o que
Psicologia e Lógica e Pedagogia e Lógica veio a ter seu auge a partir dos anos
nos cursos das Escolas Normais com 1930.
vistas a disseminar os conhecimentos da
Psicologia que pudessem contribuir para No início do século XX, grandes
os processos educativos. Nota-se ainda transformações ocorreram nesse campo;
a forte influência do pensamento a Psicologia escolar e educacional
empirista, porém, nesse momento, também estava nascendo em termos
surgem novas contribuições de acadêmicos internacionalmente, pois
pesquisas que eram aplicadas no tem-se como marco inicial a publicação
exterior, especialmente ligadas à de Thorndike intitulada Educational
Psicologia infantil, à Psicologia aplicada Psychology,
e o que se denominava Pedagogia em 1903, que também colabora para a
científica ou ainda Pedagogia criação da primeira revista dessa
terapêutica e Psicologia pedagógica. temática nos Estados Unidos, intitulada
Estas tinham como principais Journal of Educational Psychology, em
contribuições criticar o processo 1910. Além disso, principiam
educativo centrado unicamente no papel contribuições de vários pesquisadores,
do professor (educação tradicional) e em diferentes países, que passam a
publicar temas relacionando Psicologia e Psicologia aplicada e à influência de
educação. Pfromm Netto (1996) cita psicólogos estrangeiros que vieram para
como importantes para a área os o Brasil e iniciaram a formação e a
trabalhos de Stanley Hall e Lightner disseminação dos conhecimentos
Witmer (EUA), Galton, Sully, Burt psicológicos, podemos dizer que é a
(Inglaterra), Decroly (Bélgica) e primeira vez que temos uma Psicologia
Ebbinghaus (Alemanha), entre outros. que se efetiva em termos práticos no
Nesse período, crescem os estudos interior de organizações como hospitais,
sobre aprendizagem, desenvolvimento, organizações industriais e,
processos cognitivos e testes especialmente, escolas. A denominação
psicológicos (psicometria), assim como desenvolvimentismo foi escolhida por
sobre as relações entre os marcar além do momento histórico social
conhecimentos psicológicos e seu papel que o Brasil estava vivendo, em termos
no processo de ensino. de incremento e de crescimento
O terceiro período: desenvolvimentismo – vertiginosos da economia e produção
a Escola Nova e os psicologistas na industrial, e por também estar relacionada
Educação (1930-1962), foi ao grande crescimento da Psicologia em
especialmente profícuo para a Psicologia vários campos teóricos e práticos. O
educacional e escolar. Essa fase foi tão movimento da Escola Nova também é
importante que Samuel Pfromm Netto característica do momento.
afirma, em seu depoimento para a tese
(Pfromm Netto em Barbosa, 2011, p. Os anos 30 (do século XX) começam
480): “(...) Devem datar dos anos trinta, atribulados devido a grandes
da década de trinta (1930), os primeiros transformações políticas, econômicas e
vagidos da Psicologia escolar no Brasil, sociais, e, no campo educativo, temos a
perdão, Psicologia educacional, pois não reivindicação de vários educadores que
se falava de Psicologia escolar naqueles se auto-denominaram pioneiros da
tempos...”. Como se verificará a seguir Educação Nova e que, por meio do
foi nessa época que se erigiu boa parte Manifesto dos Pioneiros da Educação
do que posteriormente veio a se Nova (1932) solicitavam ao poder público
constituir na área que estamos aqui uma renovação do campo educativo. O
enfocando.

Graças ao movimento internacional da

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para atingir a maior parte da população,
Brasil, a essa época, tinha alto índice de porém de forma populista, pois o povo
analfabetismo e um sistema educativo não participava das decisões, 2) foi
mal estruturado, e poucos tinham acesso criado o Ministério da Educação, 3) o
à escola. Esse quadro inspirou o clamor ensino organizou-se nos moldes como
por mudanças, o que trouxe várias conhecemos hoje: primário, secundário e
modificações nesse campo. superior, através da Reforma Francisco
Campos, 4) a Reforma Francisco
Patto (1981) descreve as principais Campos estabeleceu o Estatuto das
transformações ocorridas no período: 1) Universidades, abrindo possibilidade para
eram exigidas reformas educacionais a criação de universidades, 5) foi criada
a Universidade de São Paulo e outras na
sequência, 6) foi elaborada a Constituição Cambi (1999), foi o período do
de 1937, que regulamentou as escolas movimento do “puericentrismo
técnicas (SENAI, SENAC) e o ensino pedagógico”.
vocacional e 7) estabeleceu-se a
Reforma Capanema, de 1942, que É ainda destaque nesta fase o
reorganizou o ensino secundário crescimento das ideias sobre educação
dividindo-o em ciclos, primeiro, o ginasial, especial e influência da psicanálise e das
e segundo, o clássico ou científico. contribuições estadunidenses no interior
da Psicologia naquele momento de
O Manifesto dos Pioneiros da Educação nominada de Psicologia educacional. É
Nova foi um documento que exigia dos flagrante a consolidação no período da
poderes públicos educação laica, gratuita ideia de foco no aluno, com estudos
e obrigatória para toda a população em realizados seja pelas vias psi cométricas,
idade escolar baseado nos pressupostos seja psicoanalíticas. Havia também um
escolanovistas. No próprio texto do interesse em classificar e encontrar
Manifesto, nota-se a influência dos formas de educar aqueles que eram
conhecimentos psicológicos oriundos das chamados de de sajustados, ou
produções em Psicologia infantil e do desviantes, considerados então
ideário da Escola Nova. O escolanovismo anormais.
tinha como prerrogativa a
descentralização do ensino da figura do Se antes podíamos dizer que a Psicologia
professor e a ideia de uma escola mais educacional e escolar estava disseminada
ativa, que pudesse colocar o educando em outros campos de conhecimento,
em foco e proporcionar atividades ainda não de maneira autônoma, a partir
práticas que o levassem a aprender de dos anos 30, esse quadro se altera. Essa
modo mais dinâmico. área ainda chamada de Psicologia
É importante destacar que muito do que educacional foi se estabelecendo como
se produziu inicialmente no Brasil, nessa campo de saber com objeto de estudo,
época, especialmente nos laboratórios de linhas de pesquisa e atuação específicos
Psicologia das Escolas Normais, teve identificados por esse olhar para a
muita influência dos trabalhos de criança que não aprende. Os processos
Claparède e de sua Psicologia de desenvolvimento e de aprendizagem
pedagógica e das produções do Instituto passam a constituir elementos prioritários
Jean-Jacques Rousseau. Esse instituto de análise, e a Psicologia infantil, a
era referência em pesquisa e formação, e Psicologia diferencial e Psicologia
sua produção passou a influenciar a pedagógica situam se como referências,
construção de ideias nesse campo em mantendo a ênfase na criança. No caso
relação às teorizações que hoje dos processos educativos, observa-se o
denominamos campo da Psicologia crescimento do movimento de
educacional e escolar. Nos dizeres de identificação, testagem e classificação das

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aprendizagem, também chamadas de
crianças, com o intuito de conhecer suas anormais, deficientes, anormaes de
habilidades e problemas. É o momento escola, crianças-problema (Ver: Pettirossi
da separação das crianças ditas normais & Lombardi, 1997; Cotrin, 2010).
daquelas com problemas de
Assim, pode-se afirmar que a Psicologia
educacional e escolar se erigiu, em higienista, eugenista, da Psicologia
termos práticos, do movimento oriundo infantil empirista e da orientação
desses pressupostos teóricos e práticos profissional.
que aliava Psicologia pedagógica, infantil
e Escola Nova, e do avanço da onda dos A criação da Universidade de São Paulo
testes e orientações clínicas infantis das também terá grande influência, pois, na
crianças Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
problema. O pensamento higienista e (hoje Faculdade de Filosofia, Letras e
também o eugenista aparecem como Ciências Humanas – FFLCH da USP),
influências iniciais, o que justificava a instituem-se as cátedras de Psicologia e
identificação, a seleção e a classificação de Psicologia educacional, que foram a
das crianças. origem das instituições formadoras
posteriores, como a graduação em
Datam da década de 30 também os Psicologia no Instituto de Psicologia da
primeiros trabalhos nos parques infantis USP nos anos 70. Também o mestrado
da cidade de São Paulo (Taverna, 2003), em Psicologia escolar é estruturado em
que foram o berço dos serviços que 1970, nessa mesma instituição (Schmidt,
depois se organizaram em clínicas de Sekkel, Souza, Barbosa, & Santos, 2010).
atendimento infantil e que deram origem
posteriormente ao trabalho de Psicologia Para Patto, a Psicologia educacional e
escolar no Município. Também foi no escolar nasce alicerçada aos interesses
período que surgiu o Serviço de Saúde políticos, sociais e econômicos do
Escolar, organizado por Durval sistema capitalista, e as teorias que
Marcondes na capital paulista, cuja passam a alimentar os trabalhos dos
perspectiva era o atendimento clínico psicólogos dessa área trazem como
educacional com base psicanalítica. pressuposto o ideário liberal de que a
Como se pode notar, o início do escola é uma instituição que promove
desenvolvimento da área no Brasil se deu igualdade e oportunidades, ideologia que
a partir da constituição do seu campo de mascara a desigualdade e a injustiça
interesse, foco e atuação, social desse sistema. Ela afirma que o
especificamente com vistas ao movimento dos testes, que tem início nos
ajustamento, disciplinarização e anos que antecedem a profissionalização
normatização, pois o enfoque inicial era e seguem crescendo até meados dos
a identificação e o tratamento das anos 80, denotam esse interesse
crianças ditas desviantes. Também a ideológico:
chamada educação especial foi um
campo fértil em cujas bases se assentou É por aí que a história da presença da
Psicologia na educação começa.
essa Psicologia educacional e escolar Começa medindo aptidões tidas como
principiante, como também o foi o campo naturais, e tentando fazer um encaixe
da orientação profissional. É importante perfeito entre as capacidades medidas
de Q.I., habilidades específicas etc., e o
destacar, ainda, que os psicologistas que
ensino. Era o raciocínio muito parecido
atuavam nesses com o da taylorização do processo de
primórdios tinham como características produção industrial. (...) Houve um
essas múltiplas influências, portanto, suas namoro sério da Escola Nova com o
taylorismo, tanto lá fora como aqui no
práticas eram construídas de várias
Brasil. E essa ideia do ajustamento,
formas, a partir, por exemplo, dos testes, digamos assim, entre o processo de
da clínica psicanalítica, do pensamento ensino

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ao corpo militar. Na tese, alguns dos
e as características do aprendiz (Patto depoentes falam desse período e da
em depoimento a Barbosa, 2011, p. cisão entre aqueles que contribuíam e
644)
outros que combatiam as atrocidades do
regime militar, pois, segundo Guzzo,
Essa é a base da educação houve psicólogos de
compensatória, que tem como intuito
ambos os lados: “(...) Teve uma cisão ali...
cobrir as ditas falhas trazidas pelo
os psicólogos que ficaram de um lado e os
educando, que contribuiu para colocar a
que ficaram do outro, as instituições que
Psicologia no lugar de ciência que pode
ficaram de um lado e as que ficaram do
contribuir com “o escolar” de forma
outro...” (Guzzo em depoimento a
classificatória e discriminatória. Com isso,
Barbosa, 2011). No que se refere à
erguem-se as bases para a
Psicologia educacional e escolar, é digno
transformação da Psicologia educacional
de nota o fechamento das escolas
em Psicologia “do” escolar, algo que se
experimentais em São Paulo, assim como
consolida no próximo período após a
o dos ginásios vocacionais, que tinham
profissionalização.
um trabalho pioneiro que envolvia a
participação de psicologistas e
Em 1962, como dito antes, é criada a educadores.
profissão de psicólogo no Brasil, e inicia
se a fase da Psicologia educacional e da
Nos anos 70, vemos emergir a influência
Psicologia “do” escolar (1962-1981).
das teorias behavioristas e da chamada
Dando continuidade a todo o
tecnologia educacional, que se traduziu,
desenvolvimento do período anterior, ao
em termos pedagógicos, no ensino
se criar os cursos de Psicologia, as
tecnicista. Além disso, mantém-se o
múltiplas influências de formação e de
interesse voltado para os estudos do
atuação se fizeram permanentes. A
escolar, sendo que cresce a chamada
Psicologia, em sua relação com a
teoria da carência cultural como
educação, continuou então a fazer o
explicação para o não aprender das
trabalho de classificar, orientar e tratar
crianças na escola. Essa teoria nascida
de crianças-problema, com o interesse
nos Estados Unidos era:
de se posicionar a favor do escolar. O
foco individual de orientação é a marca Fruto dos movimentos reivindicatórios
da área nesse momento, e inicia-se a das minorias negras e de imigrantes
produção de laudos de crianças em latinos que apresentavam baixo
rendimento escolar, essa teoria
idade escolar para encaminhamento às
procurava responder à pergunta: por que
chamadas escolas especiais e depois às um grande contingente de crianças
classes especiais. negras e imigrantes não aprendia na
escola pública americana? Para
responder essa questão, psicólogos e
A ditadura militar de alguma forma demais profissionais passaram a
contribuiu para o recrudescimento de pesquisar as causas dos problemas de
algumas práticas e de construção de aprendizagem, buscando-as nos
aspectos do desenvolvimento infantil,
saberes na Psicologia. Muitos
nas áreas de nutrição, linguagem,
profissionais sofrem perseguições, estimulação, cognição, inteligência,
cursos são fechados e há relatos de motricidade etc. Ocorre, porém, que os
demissões de professores considerados resultados dos experimentos realizados
por tais crianças eram comparados com
subversivos. Por outro lado, também
aqueles obtidos com crianças de classes
existiram aqueles que contribuíram para média e alta da sociedade americana,
o regime, inclusive profissionais ligados branca e empregada. Tais resultados
eram considerados como padrão de
normalidade (Souza, 2002, p. 177) É nesse período que se inicia o
crescimento da oferta de serviços de
A teoria da carência cultural passa a ser Psicologia escolar em âmbitos como
principal explicação para o não aprender secretarias municipais de Educação que,
na escola, e principiam programas em grande
educacionais de educação compensatória.

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afirmar que essa foi a década da
parte, tinham como prerrogativa o denúncia
trabalho psicométrico e/ou de tratamento para a Psicologia educacional e escolar.
clínico dos chamados problemas de A partir da tese de doutorado de Patto,
aprendizagem. O exame do que estava intitulada Psicologia e Ideologia:
sendo oferecido nesses serviços, bem Reflexões sobre a Psicologia Escolar
como uma análise crítica dos referenciais (1981), na qual ela investiga a prática
psicometristas, da teoria da carência existente no serviço de Psicologia
cultural e de abordagens clínicas na escolar da prefeitura de São Paulo,
escola, faz surgir a próxima etapa. principia uma série de críticas ao que era
desenvolvido em serviços semelhantes.
Maria Helena Souza Patto revela, em seu Na tese, Patto critica a forma como os
depoimento para a tese (Barbosa, 2011) psicólogos atuavam, baseados em
que, quando assumiu a disciplina pressupostos como o da teoria da
Psicologia “do” Escolar na graduação do carência cultural ou em explicações
Instituto de Psicologia da USP, retirou o como déficit linguístico e problemas de
“do”, ficando a disciplina sendo chamada aprendizagem
de Psicologia escolar. A professora que, especialmente, se dirigiam às
explica que a retirada não era apenas crianças pobres. De modo geral, essas
uma questão de nomenclatura, mas de explicações sobre o não aprender nas
compreensão sobre Psicologia e escolas estavam alicerçadas a uma visão
educação, sobre escola e sobre o modo ideológica do que é ou não normalidade
como o psicólogo deveria atuar no no contexto educativo, e, por isso, as
campo educativo. A ideia era sair do foco classificações se davam a partir de um
individual e do aluno. Essa Psicologia padrão normativo de aprendizagem dita
educacional tradicional tinha como adequada, cujos desviantes eram as
característica a concepção de que o crianças pobres.
papel do psicólogo era identificar
aspectos das crianças que pudessem Nas obras subsequentes de Patto (1990,
explicar o seu suposto não aprender, de 1992) e também no trabalho de Ivonne
modo a se pensar como ensinar a elas Khouri, (1984) encontram-se críticas a
de maneira eficiente. Quando se muda o essa Psicologia educacional e do escolar
conceito de educação, de escola e de tradicional, baseada na testagem,
Psicologia, o olhar quanto a essas prevenção, psicoanálises e educação
questões também muda. compensatória. Há uma contestação
quanto aos referenciais teóricos e
A proposta de mudança desse olhar da também práticos cujo alicerce era a
Psicologia educacional e escolar deflagra Psicologia escolar normativa ou
o período da crítica (1981-1990). Pode-se classificatória e disciplinatória. Essa
Psicologia tradicional, segundo estas
autoras, cumpria um papel de Psicologia emblemáticos desse processo de
do ajustamento, que tinha como discussão foi a realização, por iniciativa
prerrogativa o cumprimento de uma do Sindicato dos Psicólogos e do
função ideológica de manter os Conselho Regional de Psicologia de São
desviantes (em geral identificados entre Paulo, do I Encontro de Psicólogos da
a classe pobre) normalizados e ajustados. Área de Educação,
realizado em 1980 (SINPSI, CRP-SP,
Verifica-se que, mesmo que as críticas 1981). Esse foi o primeiro evento no País
apontassem novas formas de atuação a reunir profissionais específicos da
com base em pressupostos área, e, após essa iniciativa, ocorreram
diferenciados, houve, no momento, um mais dois encontros (Prates, 2011). As
afastamento do campo prático que levou discussões nos eventos abordavam o
os profissionais da Psicologia papel do psicólogo escolar a partir das
educacional e escolar a questionarem o novas configurações da sociedade
papel dessa área ou as funções do democrática, com reflexões sobre que
psicólogo no contexto educacional e sua bases
atuação. Um dos exemplos

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apenas alguns exemplos. De modo
e referenciais diferenciados. A Psicologia geral, observa-se que a crítica relativa à
poderia se reconstruir de modo a não Psicologia educacional e escolar
mais estar alicerçada naquela Psicologia tradicional fez com que os profissionais
tradicional normativa e classificatória. da área buscassem se debruçar sobre
suas referências com o fim de
Ainda faltam estudos que ilustrem melhor repensá-las e de reconstruir a área sobre
o que causou certo recrudescimento da outros patamares.
área, mas de fato isso veio a ocorrer.
Sobre esse tema, algumas hipóteses O sexto período, denominado a
são por nós aventadas, como o fato de Psicologia educacional e escolar e a
que foi justamente nessa época que reconstrução (1990- 2000), tem como
grandes transformações político característica justamente essa
sociais estavam em questão no País. Era ressignificação dos trabalhos teóricos e
a fase da redemocratização, da práticos da área. Observa-se nessa fase
reivindicação pelas eleições diretas para o crescimento de produções científicas
presidência, de construção do processo relacionadas a vários temas da
constituinte, de novas legislações e de Psicologia educacional e escolar, agora
formas de funcionamento em um regime não apenas meros reprodutores de
democrático, entre outros. No campo teorizações estrangeiras, mas produtores
educativo, repensavam-se as de temas sobre a formação, a
estruturações anteriores que tinham no fundamentação teórica e as práticas do
tecnicismo a base de sustentação, e psicólogo no contexto educativo. De
buscava-se uma educação libertadora, todos os momentos da história da
crítica. Na Psicologia, os psicólogos Psicologia educacional e escolar, foi
passam a reivindicar seu lugar como nesse em que mais apareceram
profissionais nas políticas públicas de publicações como
saúde, e engajam-se no Movimento de livros, artigos, teses, dissertações e
Luta Antimanicomial, isso para ficar em informativos diversos com temáticas
variadas sobre a área. Os termos Escolar (o CONPE). O Conpe tem sua
Psicologia escolar ou Psicologia escolar primeira edição em 1990, ao final do qual
crítica são os mais comumente usados foi fundada a ABRAPEE e escolhida a
no período, com o intuito de diferenciação primeira diretoria, como nos conta
da Psicologia educacional e escolar Geraldina Porto Witter: “(O primeiro
tradicional. Além disso, edificam-se várias Conpe) foi um evento que não tinha
proposições de trabalhos práticos nas nenhuma sociedade por trás. A
escolas e retomam-se as discussões associação foi criada aí. Foi feita uma
sobre a necessidade de oferta de assembleia... na assembleia, todos
serviços de Psicologia para todos os concordaram em criar a associação”
personagens do universo escolar. A visão (Witter em depoimento a Barbosa, 2011,
individualista da Psicologia educacional e p. 520). Guzzo, em depoimento para a
escolar tradicional passa a ser substituída tese (Barbosa, 2011), refere-se ao desejo
por uma preocupação com os processos de construir a ABRAPEE de forma a
educativos de modo mais amplo e com reunir os profissionais da área em torno
as redes de relações constituídas no de discussões sobre as teorias e práticas.
interior da escola (Prates, 2011). Ela afirma que a associação nasceu da
iniciativa de alguns professores da
Um dos marcos da época é a criação da Pontifícia Universidade Católica de
Associação Brasileira de Psicologia Campinas (PUCCAMP), e que,
Escolar e Educacional (ABRAPEE) em inicialmente, funcionou durante muito
1990, e da revista da entidade, cujo foco tempo dentro da sua própria casa por
era a Psicologia em sua relação com a falta de sede. Aos poucos, foram
educação. Também inicia-se a construindo a associação e organizando
organização dos psicólogos dessa área, os Conpes, que se tornaram um
que passam a se reunir bianualmente no importante evento de encontro dos
Congresso Nacional de Psicologia profissionais da área.

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necessidade de superação do escola, passa a priorizar todos os
modelo clínico médico de atuação personagens do universo escolar,
bem como do referencial bem como as relações
psicométrico como basilar da intraescolares, as políticas públicas
prática. Além disso, o foco educacionais, as condições
individual e a ideia de trabalhar econômicas, sociais, culturais e
com problemas de aprendizagem, políticas de
com famílias desestruturadas e determinado contexto. Embora não
carência cultural cede lugar à de forma consensual e única, é
concepção de fracasso escolar com este espírito de renovação da
(Patto, 1990/2000) 6 e, área, por meio da Psicologia
posteriormente, a problemas no escolar crítica que se estabelecem
processo de escolarização e novas bases e principiam os anos
atuação junto a queixas escolares 2000.
(Souza, 2002). De modo geral,
passa-se a compreender que o não A análise de um período recente da
aprender na escola não pode ser história é algo complexo dadas as
explicado por questões individuais, características desse tipo de
organicistas ou por problemas de trabalho, e, nesse sentido, o sétimo
ordem socioambiental. Graças à período, a virada do século: novos
contribuição de Patto (1990/2000), rumos? (2000-); é um
entende-se, a partir desse novo questionamento a futuros
olhar, que há um fracasso escolar pesquisadores que queiram
produzido pela própria escola e adentrar nos anos 2000 até os dias
pelo sistema educacional como um atuais de forma a caracterizar esse
todo, e contribuem para essa momento. O que se pôde construir
construção a visão que se tem das sobre essa fase, a partir do
crianças pobres e de todo um trabalho de doutorado aqui
conjunto de condições descrito, é que estamos ainda em
macroestruturais envolvidas, como um tempo de reconfigurações,
a formação docente e o pouco olhando para nosso passado
investimento em políticas públicas tentando avaliar o presente com a
de educação, entre outros. finalidade de renovar nossas teorias
e práticas no futuro. Sabe-se que
A Psicologia educacional e escolar muito se construiu até os anos
passa, assim, a ter como principal 2000, porém ainda não temos a
6 É importante destacar que esta visão
foco a compreensão não do porque dimensão de como todas essas
crítica entretanto não foi consenso na
área, sendo necessário a criança não aprende, e sim, do transformações se articularam nos
afirmar que que ocorre no processo de dias atuais. O que podemos afirmar
a Psicologia escolarização sobre essa fase ainda é incipiente,
Educacional tradicional,
através de que produz aquele que mas nota-se que, a partir dos anos
alguns autores ainda tem forte supostamente não aprende. 90, a produção intelectual e
influência. Segundo Souza, essa mudança na acadêmica da área foi vertiginosa.
É nessa época que podemos dizer
pergunta enseja toda uma Cabe-nos agora compreender como
que há a tentativa de superação da
transformação no modo como os esses referenciais estão chegando
década da denúncia para a
psicólogos passam a trabalhar e aos profissionais que atuam nesse
construção de novos parâmetros de
também uma necessidade de nova campo.
pesquisa, formação e atuação em
formação profissional. O olhar,
Psicologia educacional e escolar
antes individualizado e centralizado De modo geral, o que podemos
crítica. Diferentemente da
no aluno, ou no professor, ou na vislumbrar é que atualmente
perspectiva tradicional, aponta-se a
existem vários serviços públicos de
Psicologia educacional e escolar as produções dos meios área para balizar suas práticas e
ligados a iniciativas de prefeituras e acadêmicos (Souza, 2010). É por teorizações, propomos o
também atuações nas escolas isso que, utilizando uma expressão questionamento novos rumos?
privadas por meios de psicólogos do livro Psicologia Escolar em Será que conseguimos
consultores. Porém, ainda Busca de Novos Rumos (Machado construí-los? Em nossa análise da
precisamos conhecer como têm & Souza, 1997), uma das tese, não
chegado de fato a esses referências mais utilizadas
profissionais que estão na prática atualmente pelos profissionais da

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de internação de crianças que a partir do movimento de testes e da
cumprem medidas socioeducativas, Psicologia do ajustamento (nossa
entre outros. Isso denota maior Psicologia aplicada), fundamentar
expansão do trabalho desse as práticas iniciais em serviços de
profissional, bem como se pôde Psicologia. E, finalmente, assim
observar, por meio dos relatos de como compreendemos, a partir de
experiências, que essas práticas uma visão
têm procurado superar o modelo
marxista, que esta sociedade é
tradicional, abarcando o paradigma
contraditória por excelência,
crítico.
também podemos afirmar o mesmo
quanto à Psicologia e à Psicologia
Nesse sentido, o que é importante
em sua relação com a educação. Se
destacar é que são novos os
esta serviu aos propósitos de ajuste,
contextos educativos em que o
de classificação e de discriminação,
psicólogo tem sido chamado a atuar,
também contribuiu para a
e, pelas discussões anteriores sobre
emergência de novas formas de
as diferenças entre Psicologia
viver nesta sociedade, que possui
escolar tradicional e crítica, nota-se
sistema educacional e escola
não só a emergência de novos
desigual e injusta. Em outras
rumos mas também as novas
palavras, verificou-se que a história
necessidades de atuação junto a
da Psicologia educacional e escolar
novos públicos-alvo, novas políticas
...a Psicologia educacional e escolar é nos diferentes momentos pelos
uma e práticas são prementes. Tudo isso
quais passou foi marcada por
das principais responsáveis por erigir a convida-nos a encerrar esse longo
continuidades, descontinuidades,
Psicologia como um todo no país. trajeto histórico ressaltando que
foi possível responder esse rupturas, reconstruções,
talvez a resposta a esse
questionamento, que tem sido resistências e por uma discussão
questionamento seja a de que
inclusive alvo de pesquisas atuais estamos trilhando novos rumos. permanente de seu papel como
na área, porém é possível vislumbrar Quais? O tempo irá dizer. área a serviço de interesses ora
que existem novas configurações conservadores, ora emancipatórios
nesse campo (Souza, 2010). No e libertadores. Nos dizeres de Patto
O trabalho de tese, assim como este no depoimento para a tese, a escola
último Congresso Nacional de
texto, encerra-se não com é uma caixa de ressonância desta
Psicologia Escolar e Educacional
conclusões, mas com algumas sociedade contraditória, e o que a
(CONPE), em Maringá, no ano 2011,
considerações acerca desse autora diz da escola, acredito que
por exemplo, foi possível verificar a
histórico. Uma delas é o fato de que se aplique perfeitamente também à
existência de atuações em vários
a Psicologia educacional e escolar é Psicologia em sua relação com a
setores, como Centros de
Referência em Assistência Social, uma das principais responsáveis por educação:
trabalho junto a organizações não erigir a Psicologia como um todo no
governamentais, abrigos e centros nosso país. Além disso, foi a partir
dessa área que se pôde, mesmo que
adapta e disciplina para formar cidadãos que ainda é possível construir
exemplares, produtivos e que não teorizações, uma formação e uma
questionam, ela também abre a
possibilidade de contato com ideias na prática com propósitos
contramão, de reflexões. E faz isso emancipatórios e libertadores. Para
principalmente pelo fato de alfabetizar, tanto, é necessário que os
de propiciar aos educandos ferramentas,
profissionais da área
instrumentos de compreensão da vida
social e de suas próprias vidas (Patto em
depoimento a Barbosa, 2011, p. 642)

Acredito que a história dessa área


nos permita afirmar que se abriu a
possibilidade de a Psicologia
educacional e escolar, a partir da
perspectiva crítica, oferecer
ferramentas, instrumentos que
possam ajudar nos processos
educativos em contextos
educacionais diversos. Podemos
oferecer elementos que colaborem
para a compreensão e a ampliação
da consciência e dos sentidos da
vida social e da vida das pessoas.
Além disso, a história nos mostra
(...) Ao mesmo tempo que ideologiza,

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isso possa se concretizar futuramente se
estejam comprometidos ética e contribuirmos para a propagação desse
politicamente com a mudança e com novo olhar, pois “(...) há que se cuidar do
novas formas de organização e de broto pra que a vida nos dê flor e fruto”
produção no campo educativo que sejam (Milton Nascimento & Wagner Tiso,
efetivamente alicerçadas nos propósitos 1983).
de libertação da opressão e da
desigualdade social. Acreditamos que

Deborah Rosária Barbosa


Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo, integrante do Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em Psicologia Escolar
(LIEPPE-USP), Professora da Universidade de Mogi das Cruzes, São Paulo – SP – Brasil.
E-mail: deborahbarbosa@yahoo.com.br ou deborahbarbosa@usp.br

Endereço para envio de correspondência:


Rua Caraíbas 172, Perdizes, São Paulo – SP – Brasil. CEP: 05020-000
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