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Medicalização da vida:

Correntemente na sociedade atual discute-se o fator da medicalização dos indivíduos


que nela estão inseridos e como essa particularidade pode vir a afetar os diversos meios
gerais da vida do mesmo e também nos aspectos socioculturais, tanto de maneira
positiva, visando o bem estar, saúde e qualidade de vida, quanto agindo negativamente
sobre os aspectos anteriormente mencionados.
A ideia de que um medicamento pode ser um caminho simples e prático para a
resolução de problemas relativamente grandes instiga o ser humano à estagnação em
uma hipotética “zona de conforto”, onde a ingestão de uma simples pílula específica
para a situação pode amenizar quaisquer que sejam os transtornos momentâneos no
âmbito físico e mental.
Dada essa perspectiva, é importante salientar que o abuso do método de constantemente
utilizar tais substâncias pode causar dependência do indivíduo sobre a mesma, tornando-
o incapaz de viver sem ela e acarretando problemas em sua vida cotidiana e em suas
relações interpessoais, tudo isso apenas pelo preço de buscar uma maior facilidade que
fuja de um viés médico/psicológico, sobre situações que necessitem de cuidados
minuciosos e análise aprofundada por um especialista na área em questão. A princípio, é
notável raízes históricas advindas na Psiquiatria Tradicional em relação ao uso abusivo
das substâncias, entretanto, no surgimento dessa área como ciência, o indiscriminado
uso de medicamentos e tratamentos desumanos eram de prescrição puramente médica,
ou seja, um engessamento cultural à respeito do uso desses químicos começa a ser
formado.
Outro cenário é sobre como entende-se o termo “medicalização”, visto que não abrange
puramente o fator dos remédios e fármacos, mas também a questão social que
problemas de origem “não médica” são transformados, muitas vezes por intermédio do
senso comum, em uma situação médica, aflorando a irracionalidade no âmbito do
cuidado consigo mesmo e prejudicando grandes questões políticas, sociais, culturais,
afetivas que afligem a vida das pessoas.
Compreender a medicalização é estar ciente que na atualidade ela faz parte da vida e do
cotidiano geral, pois a vontade pelo imediatismo esta cada vez mais constante e
exponencialmente maior em um ambiente onde as facilidades estão literalmente na
palma da mão dos indivíduos nela presentes. A medicina atual parece se propor a
resolver todos os conflitos naturais da existência humana, e é por esse fator que o ser
humano busca se apoiar nesse pilar imaginário, desestabilizando processos naturais do
corpo e da mente pelo mero prazer de criar o próprio diagnóstico e/ou não concordar
com uma opinião médica, “um caminho mais fácil para estradas tortuosas e com pedras
no caminho” como diria Carlos Drummond de Andrade.
Sensações de origem psicológica e difíceis de se expressar corretamente na visão de
quem às sente geralmente são mais aptas à automedicação, devido sua ampla
subjetividade, ignorando-se eventuais efeitos colaterais que tal prática pode vir a causar
ao mesmo, recorrentes exemplos são: sentimentos de tristeza, sobrepeso, insônia,
dificuldades na socialização e na aprendizagem, problemas comportamentais, dentre
diversas outras características que constantemente levam o indivíduo a buscar
“concertar-se sozinho” sem apoio externo. Todavia, vale destacar que existem casos de
depressão, pânico, insônia, impotência e TDAH que precisam e merecem tratamento
medicamentoso, seja ele em abundância ou não, já que terá prescrição médica e
acompanhamento da evolução da pessoa com tais procedimentos.
A ideia de diagnosticar a si próprio a partir de noções razas, em uma temática ampla
como a de um transtorno complexo, pode também acarretar opiniões de invalidação de
determinada condição do indivíduo que realmente a possui. No âmbito social tal
condição pode se tornar um tabu ou estabelecer-se de maneira errônea na consciência
geral, assim julgamentos para com os realmente afetados tornam-se comuns, como por
exemplo as pessoas que possuem depressão.
Retomando as ideias sobre a automedicação, é justo afirmar que o enfrentamento do
mal-estar através dessa prática é uma espécie de camuflagem para as individualidades e
condições biológicas da pessoa, visto que a ajuda vestir uma máscara através de
narcóticos, de modo que facilite o enfrentamento da realidade de maneira alternativa,
não como “si mesmo”, mas como um substancial alter ego, uma faceta metafórica
criada pelo usuário, o que pode facilmente ser relacionado ao uso de bebidas alcoólicas
e drogas ilícitas, as quais reduzem a cognição de quem as ingere em quantidades
exorbitantes
Já que fora citado, enquanto na sociedade brasileira são feitos enormes alardes em
relação às drogas ilícitas, uma questão de enorme importância e também indispensável é
propriamente do avanço na utilização das drogas lícitas. No Brasil, por exemplo, o
metilfenidato, substância dada para crianças e adolescentes com a pretensão de diminuir
o chamado “déficit de atenção” na escola, subiu de 70.000 caixas vendidas em 2000
para dois milhões de caixas em 2010, inserindo o Brasil no segundo maior consumidor
dessa droga no mundo, perdendo somente para os Estados Unidos.
Ou seja, tais óticas abrangem até mesmo o cenário escolar e educacional. Cada vez mais
a escola identifica um número expressivo de crianças com diagnósticos variados.
Endossados pelo discurso médico, esses rótulos associam problemas da vida
contemporânea, como através da tristeza, ansiedade, cansaço mental, dentre outros.
Porém a perspectiva superficial que esses indivíduos têm pelo que é trabalhado nisso
não engloba o processo de medicalização dos modos de ser e estar na escola produzido
socialmente e desenvolvido por essa instituição como um agente do contexto em que ela
atua.
Em vista dos fatos previamente mencionados, nota-se que é de indubitável importância
que sejam implementados métodos de conscientização quanto ao uso indiscriminado de
remédios em contextos inapropriados ou sem recomendação profissional, seja através de
mídias online ou de iniciativa individual, de modo que evidenciar-se-ia claramente que
os medicamentos são necessários e muito úteis nas patologias físicas e nos transtornos
mentais incapacitantes e diagnosticados medicamente, mas não ajudam nos problemas
do dia a dia, e que para casos de distúrbios no viés mental, a psicoterapia é
indispensável.

Aluno: Heitor Gaigher Covre.


1° Período de Psicologia.
UNESC.

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