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PMS: 317812
3º Ano/Regular
Período: Manhã
Entretanto, quanto à estrutura externa o que pressupomos ser “o corpo do poema e/ou a
fisionomia do poema”, o texto apresenta-nos à seguinte estrutura:
Uma linguagem culta, o que certifica uma certa instrução ou erudição da parte do sujeito de
enunciação;
Escrito em soneto, contendo, portanto, duas quadras e dois tercetos o que é uma característica
peculiar a este tipo de composição poética, uma grande imitação e cumprimento das
convecções exigidas no classicismo;
Por outra, do ponto de vista rimático, ou seja, quanto à classificação das rimas, o poema
contém na primeira e segunda estrofe rimas interpoladas e emparelhadas. Ou seja, na primeira
estrofe o primeiro verso rima com o quarto verso (interpolada), o segundo verso rima com o
terceiro verso (emparelhada), o mesmo acontece na segunda estrofe. Nas duas últimas
estrofes, temos rimas cruzadas ou alternadas. Ou melhor, o primeiro verso da terceira estrofe
rima com o terceiro verso da mesma estrofe e com o segundo verso da estrofe seguinte,
entretanto, o segundo verso da terceira estrofe rima com o primeiro e o último da estrofe
seguinte, neste caso, a quarta estrofe.
Todavia, quanto à acentuação, temos: na primeira estrofe rimas graves ou femininas, e na
segunda no primeiro verso uma esdrúxula, todavia, no segundo, terceiro e quarto verso da
mesma estrofe temos uma grave ou feminina, já na terceira e quarta estrofe graves ou
femininas;
Agora, quanto às classes gramaticais das terminações ou frequência de uso, temos: na
primeira estrofe rima pobre devido palavras que pertencem à mesma classe ou categoria
gramatical, na segunda estrofe rima pobre e rica por causa de palavras que pertencem à
categoria gramatical diferente, terceira e quarta estrofe rima rica;
E quanto aos elementos vocálicos e consonânticos das terminações, temos: uma rima
consoante ou soante por causa das terminações dos versos que rimam, as vogais e consoantes
a partir da vogal da sílaba tónica iguais;
No plano morfossintáctico, um outro ponto importante, é a forma de tratamento que o sujeito
poético usa na primeira estrofe no primeiro verso, ele dirige-se cortês e respeitosamente à
VILA RICA utilizando o pronome pessoal semântico você que leva o verbo na terceira pessoa
do singular, no segundo verso da primeira estrofe em diante (em quase todo poema) ele usa a
segunda pessoa, ou seja, o pronome pessoal do caso reto tu denotando um certo desrespeito
ou uma determinada desilusão ou inconformismo;
Para além dos pontos apresentados, quanto à forma o texto (poema) apresenta-nos, outrossim,
uma estrutura heterotrófica e isométrica, ou antes, estrofes diferentes por estarem apresentadas em
duas quadras e dois tercetos e versos iguais pelas sílabas estarem agrupadas em decassílabos, ou seja,
em dez sílabas métricas em cada verso. Já no plano retórico-estilístico, ou melhor, quanto às figuras
de estilo ou de linguagem, predomina no texto: a apóstrofe ou invocação no primeiro verso da
primeira estrofe, a personificação ou prosopopeia já que o eu lírico atribui características humanas à
cidade de Vila Rica, basta que se enxergue os primeiros versos da primeira, segunda e terceira estrofe
bem como o último verso da terceira, temos também a metáfora (comparação implícita) que é a mais
predominante e também a anástrofe ou inversão patente na primeira estrofe no primeiro e segundo
verso, a elipse ou omissão no segundo verso da segunda estrofe, a ironia nas duas últimas estrofes.
Quanto ao conteúdo ou assunto (contexto ou temática) a que o poema nos remete, temos:
Entrementes, para inferir tal facto, o eu lírico, ou melhor, o sujeito de enunciação pede, logo,
na primeira estrofe no tom imperativo e aclamativo, todavia, respeitosamente, se no detivermos no
pronome pessoal usado (você), que se leia o futuro, a posteridade, o que pressupomos ser, um pensar
num mundo melhor para as gerações vindouras, tal clamor, continua no segundo e terceiro verso da
primeira estrofe, pede que se acorde, portanto, deste estado torpe, sonolento, tácito e inerte, ou ainda,
do ser estático em que a cidade se encontra, partindo do pressuposto de que toda pessoa que estiver
dormindo está meio-morta, a ser assim, a noção de realidade é-lhe inexistente, ou ainda, quimérica.
Ainda na primeira estrofe no último verso, o sujeito poético fala-nos do “ Sono vil e do esquecimento
frio ”, sabe-se que o frio não prejudica ou não entorpece simplesmente a parte fisio lógica do ser
humano como também afecta o pensamento, a capacidade criativa do ser humano, ou seja, o pensar
lógico e bem que é uma habilidade essencialmente humana, que se concretiza, simples e naturalmente,
quando estamos acordados e concentrados ao que acontece ao nosso redor, o quer dizer que, quando
estamos dormindo muitas partes do nosso organismo não funcionam, são afectadas pelo sono, daí o
sujeito poético servir-se do sono, do esquecimento e do frio para fazer alusão a esta realidade, a
estaticidade de Vila Rica.
Verifica-se, também, segunda estrofe no primeiro verso em diante que o sujeito poético, muda
da forma de tratamento de você para tu, apontando, por outra, para não sobriedade, ou seja, denuncia
a não temperança no beber e no comer como também a não seriedade nas acções dos governantes,
neste caso, o colonizador. Ou antes, o eu lírico, pede de modo mui implícito, que se saia do estado de
embriaguez que Vila Rica está, que se veja o estado deplorante da cidade ao invés de se estar sentado
em assentos frescos e agradáveis sob árvores que proporcionam tais mordomias, por isso, usa o
vocábulo álamo. Na verdade é uma metáfora que o sujeito de enunciação usa para querer dizer que
enquanto desfrutámos do nosso bel-prazer existem questões mais importantes com as quais devemos
nos preocupar, por exemplo, a estiagem ou a seca a que o eu lírico se refere no último verso da
segunda estrofe, mas antes de fazê-lo, para embasar a sua ideologia, o eu lírico faz alusão à Ninfa que
é uma divindade da mitologia grega, que presidia aos rios, bosques, fontes e montanhas, referindo-se a
ela, hipotética e subentendidamente, como sendo uma mulher com uma bela voz e apascentando o
gado numa tarde clara do calmoso estio. Mas este cantar a que o eu lírico se refere no terceiro verso
da segunda estrofe pode ser o convite para o despertar, fazendo uma estreita ligação com o último
verso da mesma estrofe “ Na tarde clara do calmoso estio”, é um alerta para os governantes e uma
chamada de atenção para que olhem e resolvam o problema da seca que assola a comunidade, além do
mais, não é à toa que o sujeito poético se serve das palavras “ Na tarde clara”, é mesmo para se referir
ao esclarecimento, à luz, ao (despertar), já que a luz simboliza dentre muitas coisas o despertar e este
despertar está ligado ao conhecimento, é uma espécie de “iluminismo arcadista“, a valorização da
razão, além do mais, o canto tem a simbologia de avivar o espírito do ser, despertando-o para vida.
Por outra, sabe-se que o Brasil é um dos maiores criadores e exportadores de gado no mundo, e o
texto apresenta-nos de maneira subjectiva que tal actividade é praticada desde há muito, muito tempo,
actividade bucolista à vista.
Na terceira e quarta estrofe o sujeito de enunciação, coadjuvando com o título dado ao poema,
faz referência à riqueza desta cidade, neste caso, ao ouro que é a principal fonte de subsistência de
VILA RICA, contudo, a fonte do mal literalmente falando. Dito de outra forma, o sujeito fala da
extração “desenfreada” deste metal para o enriquecimento e satisfação das necessidades de um
número restrito de pessoas, se olharmos para o último verso da terceira estrofe e no segundo da quarta
estrofe. Ponta-nos, também, de maneira muitíssimo subjectiva para a pobreza da relé, de outra sorte,
quer ele nos dizer, que não se justifica o estado em que esta comunidade-povo se encontra, partindo
do princípio segundo qual, VILA RICA é bastante riquíssima, uma cidade que em chamas fecunda
(produz) ouro. Contudo, uma cidade que exploradores insaciáveis recria, aliás, enriquece. Basta
olharmos para o segundo verso da terceira estrofe e no primeiro e último verso da quarta estrofe,
onde, nas entrelinhas, esta realidade está patente.
COMENTÁRIO:
Depois da “possível” análise e interpretação feita por nós, urge a necessidade de tecer um
brevíssimo comentário entorno da composição poética analisada e interpretada, assim sendo, o texto
poético analisado e interpretado no nosso entender, insere-se na “literatura de combate”, já que o
sujeito de enunciação poética apresenta uma atitude de inconformidade, desencanto, insatisfação e
tristeza, um ser preocupado com o desenvolvimento político, económico, social e cultural de sua
cidade.
Todavia, para demonstrá-lo, serve-se da literatura e do bucolismo para fazer tais denuncias, além do
mais, o poema foi escrito num período muito crítico do Brasil, nesta altura, o Brasil estava ser
colonizado pelos portugueses, portanto, muitas injustiças estavam a ser cometidas e Cláudio Manuel
da Costa sendo nativo e nacionalista, dotado de uma certa sensibilidade e humanismo, condoe-se com
o estado deplorável em que sua comunidade se encontra, por isso, não poderia manter-se indiferente a
esta realidade. O autor, denuncia e reivindicadas muitas barbáries cometidas pelo colonizador,
sobretudo, a exploração desenfreada do ouro, apela para o despertar de VILA RICA, exorta que haja
acções serias e sóbrias por parte dos governantes da cidade, que se faça a distribuição igualitária das
riquezas da cidade, que se pense no futuro e que se resolvam os problemas da comunidade, do povo
etc. E que os governantes sejam mais humanos e humanistas. Pois, não há progresso quando não
existe mudanças, quando se está estático, tem de haver mudanças para que haja progresso e
desenvolvimento, sejam elas paradigmáticas, estratégicas e operacionais. A mudança é necessária e
sempre foi. Ela é uma contante desde que o homem é homem, pese embora, existam pessoas que se
oponham a ela.