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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO JEAN PIAGET BENGUELA

PROVA DE TORIA DA LITERATURA

Estudante: Edilson Paulino Vilali

PMS: 317812

3º Ano/Regular

Período: Manhã

Ano lectivo: 2021/2022

Especialidade: Ensino do Português e Línguas Nacionais

Análise e Interpretação do poema “VILA RICA” de Cláudio Manuel da Costa

Antes de iniciarmos com a nossa análise e interpretação, gostaríamos de fazer jus a um


brevíssimo historial. Tal como aludido acima, o texto poético em análise, compreensão e
interpretação, intitulado “VILA RICA” foi escrito pelo poeta brasileiro Cláudio Manuel da Costa em
1773, isto é, no séc.XVIII historicamente falando. É um texto (poema) épico, carregando
características neoclassicistas ou arcadistas. Contudo, o texto (poema) faz referência à cidade
conhecida anteriormente por “VILA RICA”, e conhecida actualmente por Minas Gerais. Fundada
pelo governador António Albuquerque Coelho de Carvalho no início do séc. XVIII, seu território era
habitado por indígenas, índios na verdade, antes da chegada dos portugueses ao Brasil, ganhando,
desde então, o nome de VILA RICA com o anúncio da existência do ouro. Por conseguinte, a
extração deste metal essencialmente natural tinha trazido grande riqueza e desenvolvimento para
então cidade ou comunidade, proporcionando seu crescimento e desenvolvimento ao nível político-
económico, social e cultural. Porém, com o devir do tempo o ouro se foi tornando escasso,
provocando, portanto, uma forte emigração, neste caso, por parte da população de Minas Gerais
(VILA RICA).

Entretanto, quanto à estrutura externa o que pressupomos ser “o corpo do poema e/ou a
fisionomia do poema”, o texto apresenta-nos à seguinte estrutura:

 Uma linguagem culta, o que certifica uma certa instrução ou erudição da parte do sujeito de
enunciação;
 Escrito em soneto, contendo, portanto, duas quadras e dois tercetos o que é uma característica
peculiar a este tipo de composição poética, uma grande imitação e cumprimento das
convecções exigidas no classicismo;
 Por outra, do ponto de vista rimático, ou seja, quanto à classificação das rimas, o poema
contém na primeira e segunda estrofe rimas interpoladas e emparelhadas. Ou seja, na primeira
estrofe o primeiro verso rima com o quarto verso (interpolada), o segundo verso rima com o
terceiro verso (emparelhada), o mesmo acontece na segunda estrofe. Nas duas últimas
estrofes, temos rimas cruzadas ou alternadas. Ou melhor, o primeiro verso da terceira estrofe
rima com o terceiro verso da mesma estrofe e com o segundo verso da estrofe seguinte,
entretanto, o segundo verso da terceira estrofe rima com o primeiro e o último da estrofe
seguinte, neste caso, a quarta estrofe.
 Todavia, quanto à acentuação, temos: na primeira estrofe rimas graves ou femininas, e na
segunda no primeiro verso uma esdrúxula, todavia, no segundo, terceiro e quarto verso da
mesma estrofe temos uma grave ou feminina, já na terceira e quarta estrofe graves ou
femininas;
 Agora, quanto às classes gramaticais das terminações ou frequência de uso, temos: na
primeira estrofe rima pobre devido palavras que pertencem à mesma classe ou categoria
gramatical, na segunda estrofe rima pobre e rica por causa de palavras que pertencem à
categoria gramatical diferente, terceira e quarta estrofe rima rica;
 E quanto aos elementos vocálicos e consonânticos das terminações, temos: uma rima
consoante ou soante por causa das terminações dos versos que rimam, as vogais e consoantes
a partir da vogal da sílaba tónica iguais;
 No plano morfossintáctico, um outro ponto importante, é a forma de tratamento que o sujeito
poético usa na primeira estrofe no primeiro verso, ele dirige-se cortês e respeitosamente à
VILA RICA utilizando o pronome pessoal semântico você que leva o verbo na terceira pessoa
do singular, no segundo verso da primeira estrofe em diante (em quase todo poema) ele usa a
segunda pessoa, ou seja, o pronome pessoal do caso reto tu denotando um certo desrespeito
ou uma determinada desilusão ou inconformismo;

Para além dos pontos apresentados, quanto à forma o texto (poema) apresenta-nos, outrossim,
uma estrutura heterotrófica e isométrica, ou antes, estrofes diferentes por estarem apresentadas em
duas quadras e dois tercetos e versos iguais pelas sílabas estarem agrupadas em decassílabos, ou seja,
em dez sílabas métricas em cada verso. Já no plano retórico-estilístico, ou melhor, quanto às figuras
de estilo ou de linguagem, predomina no texto: a apóstrofe ou invocação no primeiro verso da
primeira estrofe, a personificação ou prosopopeia já que o eu lírico atribui características humanas à
cidade de Vila Rica, basta que se enxergue os primeiros versos da primeira, segunda e terceira estrofe
bem como o último verso da terceira, temos também a metáfora (comparação implícita) que é a mais
predominante e também a anástrofe ou inversão patente na primeira estrofe no primeiro e segundo
verso, a elipse ou omissão no segundo verso da segunda estrofe, a ironia nas duas últimas estrofes.

Quanto ao conteúdo ou assunto (contexto ou temática) a que o poema nos remete, temos:

A composição poética em análise, intitulada “VILA RICA” de Cláudio Manuel da Costa,


pertence ao movimento arcadista ou neoclassicista, apresenta tal como apontado anteriormente uma
estrutura heterotrófica e isométrica, contendo, contudo, rimas pobres e ricas, emparelhadas, cruzadas e
interpoladas. A ser assim, trata-se de uma composição poética cuja temática acena para o despertar “
o acordar, o apelo para o progresso, ou ainda, para o inconformismo de um cidadão, para o
desencanto”, para o avivar ou tornar vivo o espírito pensante, aliás, tomar consciência do tempo
futuro, neste caso, o desenvolvimento e crescimento político, económico, social e cultural da cidade
antes mencionada. Por isso, nota-se de antemão, que o poema denuncia as inconfidências ou a falta de
lealdade político-administrativa por parte dos governantes e funcionários de Vila Rica, nesta época,
Minas Gerais, aliás, o Brasil era uma colónia de Portugal chegando à independência em 1822. Logo,
não lhes interessava uma administração feliz e útil e sim um enriquecimento do próprio reino
(Portugal).

Entrementes, para inferir tal facto, o eu lírico, ou melhor, o sujeito de enunciação pede, logo,
na primeira estrofe no tom imperativo e aclamativo, todavia, respeitosamente, se no detivermos no
pronome pessoal usado (você), que se leia o futuro, a posteridade, o que pressupomos ser, um pensar
num mundo melhor para as gerações vindouras, tal clamor, continua no segundo e terceiro verso da
primeira estrofe, pede que se acorde, portanto, deste estado torpe, sonolento, tácito e inerte, ou ainda,
do ser estático em que a cidade se encontra, partindo do pressuposto de que toda pessoa que estiver
dormindo está meio-morta, a ser assim, a noção de realidade é-lhe inexistente, ou ainda, quimérica.
Ainda na primeira estrofe no último verso, o sujeito poético fala-nos do “ Sono vil e do esquecimento
frio ”, sabe-se que o frio não prejudica ou não entorpece simplesmente a parte fisio lógica do ser
humano como também afecta o pensamento, a capacidade criativa do ser humano, ou seja, o pensar
lógico e bem que é uma habilidade essencialmente humana, que se concretiza, simples e naturalmente,
quando estamos acordados e concentrados ao que acontece ao nosso redor, o quer dizer que, quando
estamos dormindo muitas partes do nosso organismo não funcionam, são afectadas pelo sono, daí o
sujeito poético servir-se do sono, do esquecimento e do frio para fazer alusão a esta realidade, a
estaticidade de Vila Rica.

Verifica-se, também, segunda estrofe no primeiro verso em diante que o sujeito poético, muda
da forma de tratamento de você para tu, apontando, por outra, para não sobriedade, ou seja, denuncia
a não temperança no beber e no comer como também a não seriedade nas acções dos governantes,
neste caso, o colonizador. Ou antes, o eu lírico, pede de modo mui implícito, que se saia do estado de
embriaguez que Vila Rica está, que se veja o estado deplorante da cidade ao invés de se estar sentado
em assentos frescos e agradáveis sob árvores que proporcionam tais mordomias, por isso, usa o
vocábulo álamo. Na verdade é uma metáfora que o sujeito de enunciação usa para querer dizer que
enquanto desfrutámos do nosso bel-prazer existem questões mais importantes com as quais devemos
nos preocupar, por exemplo, a estiagem ou a seca a que o eu lírico se refere no último verso da
segunda estrofe, mas antes de fazê-lo, para embasar a sua ideologia, o eu lírico faz alusão à Ninfa que
é uma divindade da mitologia grega, que presidia aos rios, bosques, fontes e montanhas, referindo-se a
ela, hipotética e subentendidamente, como sendo uma mulher com uma bela voz e apascentando o
gado numa tarde clara do calmoso estio. Mas este cantar a que o eu lírico se refere no terceiro verso
da segunda estrofe pode ser o convite para o despertar, fazendo uma estreita ligação com o último
verso da mesma estrofe “ Na tarde clara do calmoso estio”, é um alerta para os governantes e uma
chamada de atenção para que olhem e resolvam o problema da seca que assola a comunidade, além do
mais, não é à toa que o sujeito poético se serve das palavras “ Na tarde clara”, é mesmo para se referir
ao esclarecimento, à luz, ao (despertar), já que a luz simboliza dentre muitas coisas o despertar e este
despertar está ligado ao conhecimento, é uma espécie de “iluminismo arcadista“, a valorização da
razão, além do mais, o canto tem a simbologia de avivar o espírito do ser, despertando-o para vida.
Por outra, sabe-se que o Brasil é um dos maiores criadores e exportadores de gado no mundo, e o
texto apresenta-nos de maneira subjectiva que tal actividade é praticada desde há muito, muito tempo,
actividade bucolista à vista.

Na terceira e quarta estrofe o sujeito de enunciação, coadjuvando com o título dado ao poema,
faz referência à riqueza desta cidade, neste caso, ao ouro que é a principal fonte de subsistência de
VILA RICA, contudo, a fonte do mal literalmente falando. Dito de outra forma, o sujeito fala da
extração “desenfreada” deste metal para o enriquecimento e satisfação das necessidades de um
número restrito de pessoas, se olharmos para o último verso da terceira estrofe e no segundo da quarta
estrofe. Ponta-nos, também, de maneira muitíssimo subjectiva para a pobreza da relé, de outra sorte,
quer ele nos dizer, que não se justifica o estado em que esta comunidade-povo se encontra, partindo
do princípio segundo qual, VILA RICA é bastante riquíssima, uma cidade que em chamas fecunda
(produz) ouro. Contudo, uma cidade que exploradores insaciáveis recria, aliás, enriquece. Basta
olharmos para o segundo verso da terceira estrofe e no primeiro e último verso da quarta estrofe,
onde, nas entrelinhas, esta realidade está patente.

COMENTÁRIO:

Depois da “possível” análise e interpretação feita por nós, urge a necessidade de tecer um
brevíssimo comentário entorno da composição poética analisada e interpretada, assim sendo, o texto
poético analisado e interpretado no nosso entender, insere-se na “literatura de combate”, já que o
sujeito de enunciação poética apresenta uma atitude de inconformidade, desencanto, insatisfação e
tristeza, um ser preocupado com o desenvolvimento político, económico, social e cultural de sua
cidade.

Todavia, para demonstrá-lo, serve-se da literatura e do bucolismo para fazer tais denuncias, além do
mais, o poema foi escrito num período muito crítico do Brasil, nesta altura, o Brasil estava ser
colonizado pelos portugueses, portanto, muitas injustiças estavam a ser cometidas e Cláudio Manuel
da Costa sendo nativo e nacionalista, dotado de uma certa sensibilidade e humanismo, condoe-se com
o estado deplorável em que sua comunidade se encontra, por isso, não poderia manter-se indiferente a
esta realidade. O autor, denuncia e reivindicadas muitas barbáries cometidas pelo colonizador,
sobretudo, a exploração desenfreada do ouro, apela para o despertar de VILA RICA, exorta que haja
acções serias e sóbrias por parte dos governantes da cidade, que se faça a distribuição igualitária das
riquezas da cidade, que se pense no futuro e que se resolvam os problemas da comunidade, do povo
etc. E que os governantes sejam mais humanos e humanistas. Pois, não há progresso quando não
existe mudanças, quando se está estático, tem de haver mudanças para que haja progresso e
desenvolvimento, sejam elas paradigmáticas, estratégicas e operacionais. A mudança é necessária e
sempre foi. Ela é uma contante desde que o homem é homem, pese embora, existam pessoas que se
oponham a ela.

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