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Cade: o que é qual a sua função


As regras e os procedimentos do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)
para a livre concorrência no Brasil

dezembro 21, 2018

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Explicando, CADE
. Defesa da Concorrência, livre concorrência, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
Ato de Concentração, Termo de Compromisso de Cessação de Conduta, Cade, Lei 12.529/11, Lei

8.884, acordo de leniência, lei de concorrência

Ilustração: Júlia Padula

De modo a garantir a defesa da concorrência, valor constitucional baseado


nos princípios da livre iniciativa e livre concorrência, previstos nos artigos
170 e 173 da Constituição Federal de 1998 atribuiu se ao Conselho
170 e 173 da Constituição Federal de 1998, atribuiu-se ao Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a competência sobre os atos
praticados por agentes econômicos que afetem direta ou indiretamente o
mercado nacional. Essa avaliação se dá por meio da análise de Atos de
Concentração praticados pelas empresas, bem como por meio da
investigação e do julgamento de Processos Administrativos por infrações à
ordem econômica.

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Desenho Organizacional do Cade

O Cade foi criado em 1962, por meio da Lei 4.137, como órgão integrante do
Ministério da Justiça. À época de sua criação, o Cade tinha como principais
atribuições a fiscalização da gestão econômica e do regime de contabilidade
das empresas.

A partir da edição da Lei 8.884, em junho de 1994, o Cade foi transformado


em autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça, para fins
orçamentários, garantindo sua autonomia e certa independência. A Lei criou
o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, que dividiu as atribuições
entre três órgãos: Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da
Justiça; e Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE), do Ministério
da Fazenda, cujas competências foram reunidas na atual Superintendência
Geral; além do próprio Cade.

Atualmente, o Cade é regulado pela Lei 12.529/11, que entrou em vigor em


29 de maio de 2012.

A autarquia é composta pelo (i) Tribunal Administrativo de Defesa Econômica;


(ii) pela Superintendência-Geral (SG); (iii) pelo Departamento de Estudos
Econômicos (DEE) e pela Procuradoria Geral especializada (Procade).

Tribunal Administrativo do Cade


O Tribunal Administrativo é um órgão judicante e conta com a presença de
um Presidente e seis Conselheiros, nomeados pelo Presidente da República
e aprovados pelo Senado Federal. As competências do plenário do Tribunal
estão estabelecidas no artigo 9º da Lei 12.529/11, dentre as quais, destacam-
se: decidir sobre a existência de infração à ordem econômica e julgar
Processos Administrativos; realizar a análise e a aprovação de Termos de
Compromisso de Cessação de Conduta (TCC) e de Acordos em Controle de
Concentrações (ACC). Por fim, cumpre, também, ao Tribunal Administrativo a
decisão final sobre os Atos de Concentração (AC), nas hipóteses de
submissão obrigatória pelas partes.

Superintendência Geral do Cade


A Superintendência-Geral (SG) é comandada por um Superintendente-Geral
e dois Superintendentes-adjuntos, indicados pelo Superintendente-geral.
Segundo o artigo 12, § 1o da Lei 12.529/11, o Superintendente-Geral será
escolhido dentre cidadãos “com mais de 30 (trinta) anos de idade, notório

saber jurídico ou econômico e reputação ilibada, nomeado pelo Presidente da


República, depois de aprovado pelo Senado Federal”, possuindo mandato de
dois anos, permitida a recondução para um período subsequente.

A sua estrutura é composta pelo Gabinete e por nove Coordenadores-Gerais


de Análise Antitruste (CGAA). Dentre as suas principais atribuições, cabe a SG:
(i) instauração, investigação e recomendações em processos sobre a
existência de condutas anticompetitivas; (ii) a análise de Atos de
Concentração; (iii) a proposição de acordos de cessação de condutas
anticoncorrenciais e (iv) a proposição de medidas preventivas.

Departamento de Estudos Econômico do Cade


O Departamento de Estudos Econômico (DEE) elabora pareceres e estudos
econômicos para dar suporte técnico e científico às decisões do Cade. Esses
pareceres podem ser de ofício ou por solicitação do Plenário do Tribunal,
Presidente e Conselheiros ou do Superintendente-Geral. O DEE é dirigido por
um Economista-chefe, nomeado por decisão conjunta do Presidente do
Tribunal e do Superintendente-Geral.

Procuradoria-Geral do Cade
A Procuradoria-Geral do Cade (Procade) é o órgão de apoio e
assessoramento jurídico a todo o Cade, bem como é responsável pelo
acompanhamento do cumprimento a execução judicial das decisões do
Conselho.
Competências do Cade
A atuação do Cade destina-se, em suma, a garantir e a fomentar a livre
concorrência, analisando, investigando, fiscalizando e, em última instância,
decidindo sobre qualquer matéria que possa produzir efeitos sobre o bem-
estar social resultantes do exercício efetivo ou potencial de poder de
mercado.

Sob essa premissa, a atuação do Cade é dividida em duas vertentes: um


controle ex ante, sobre as operações de concentração, conhecido como
controle estrutural ou preventivo; e um controle ex post, repressivo das
práticas e condutas que possam gerar um efeito anticompetitivo.

De acordo com o artigo 88 da Lei 12.529/11, a atuação preventiva do órgão é


exercida por meio do controle das operações de concentração econômica, a
fim de evitar que estruturas resultantes dessas operações impliquem em um
aumento excessivo no poder de mercado de determinada empresa, ou
incentivem comportamentos abusivos capazes de prejudicar a concorrência
por um mercado.

Por sua vez, a atuação repressiva, regida pelo artigo 36 da Lei 12.529/11,
dispõe que, qualquer ato, independentemente de culpa ou da forma como
se manifeste, será considerado uma infração à ordem econômica nas
hipóteses em que tenha por objeto ou possa produzir (ainda que não sejam
alcançados) os seguintes efeitos: “limitar, falsear ou de qualquer forma
prejudicar a livre concorrência ou a livre iniciativa”; “dominar mercado relevante
de bens ou serviços”; ou “aumentar arbitrariamente os lucros” e “exercer de
forma abusiva posição dominante”.

O que são Atos de Concentração?


Segundo o artigo 90 da Lei 12.529/11, os Atos de Concentração (AC) são
submetidos ao Cade em quatro hipóteses: (i) quando há a fusão de duas ou
mais empresas anteriormente independentes; (ii) na aquisição de controle de
partes de uma ou mais empresas por outras; (iii) as incorporações de uma ou
mais empresas por outras; ou (iv) a celebração de contrato associativo,
consórcio ou joint venture entre duas ou mais empresas (com exceção
aqueles destinados a participações em licitações públicas).
Os ACs devem ser obrigatoriamente submetidos ao Cade pelas partes
envolvidas na operação quando, pelo menos um dos grupos tenha
registrado, no último balanço, faturamento bruto anual ou volume de
negócios total no país, no ano anterior à operação, equivalente ou superior
750 milhões de reais. Além disso, pelo menos um outro grupo envolvido na
operação deve ter registrado, no último balanço, faturamento bruto anual ou
volume de negócios total no País, no ano anterior à operação, equivalente ou
superior a 75 milhões de reais, conforme estabelecido pelo na Portaria
Interministerial 994/12, que alterou a redação do artigo 88 da Lei 12.529/11.

Na análise de um AC, a SG pode recomendar a sua aprovação sem


restrições, com restrições ou a sua total reprovação. Quando aprovado sem
restrições, não havendo discordância da análise por um dos Conselheiros ou
recursos por terceiros, considera-se como final a decisão adotada pela SG.

Todavia, em caso de aprovação com restrições ou de reprovação, a SG


produzirá um parecer de caráter opinativo, cabendo ao Tribunal
Administrativo a decisão final.

O controle prévio de ACs deve ser realizado dentro do prazo máximo de 240
dias, a partir do protocolo da notificação ou de sua emenda. Este prazo pode
ser estendido, mediante decisão fundamentada do Tribunal, por até 90 dias
não renováveis, desde que expostos os motivos para a extensão, o prazo a
ser prorrogado e as providências necessárias para o julgamento do processo.

Um AC de submissão obrigatória ao CADE, não poderá ser concluído antes


da decisão final da autarquia sobre a operação. Na hipótese de isso ocorrer,
as partes envolvidas estão sujeitas à aplicação de multa pecuniária, que será
definida pelo Tribunal, em valor não inferior a 60 mil reais nem superior a 60
milhões de reais, cumuladas com a consequente declaração de nulidade do
ato de concentração e a possibilidade de abertura de processo
administrativo pela prática conhecida como gun-jumping, expressamente
interdita no artigo 88 § 3º da Lei 12.529/11.

O Acordo em Controle de Concentração (ACC), por sua vez, é um


mecanismo utilizado para ajustar situações que poderiam afetar a
concorrência nos mercados objeto da operação submetida ao Cade. O ACC
pode ser negociado tanto na SG quanto no Tribunal e contém as cláusulas e
obrigação identificadas como necessárias para mitigar eventuais efeitos
nocivos à concorrência resultantes da transação.
Como é o Processo Administrativo no Cade?
Embora a livre iniciativa e livre concorrência sejam princípios que regem as
atividades comerciais em nossa Constituição, essa liberdade não é irrestrita.
Segundo o artigo 36 da Lei 12.529/11, há determinadas condutas que, quando
praticadas por agentes econômicos, são capazes de causar danos à livre
concorrência, ainda que o infrator não tenha tido intenção de prejudicar o
mercado.

É considerada anticompetitiva conduta que “limitar, falsear ou de qualquer


forma prejudicar a livre concorrência”; tenha por objetivo ou consequência,
“aumentar arbitrariamente os lucros do agente econômico; dominar mercado
relevante de bens ou serviços”; ou ainda permita agente econômico exercer
seu poder de mercado de forma abusiva.

O importante, portanto, é verificar se a conduta perpetrada por um ou mais


agentes econômicos teve por o potencial de gerar os efeitos descritos no
artigo 36 da Lei 12.529/11. A conduta que efetivamente restrinja ou possa
restringir a concorrência deve ser reprimida, não sendo necessário provar os
efeitos anticompetitivos dela decorrentes.

A investigação dessas condutas no âmbito Cade poderá ocorrer por meio de


três tipos de procedimentos, a depender do nível de evidência que a
autoridade disponha sobre a prática.

O que é Procedimento Preparatório?


O Procedimento Preparatório (PP) é tratado como um procedimento inicial a
fim de averiguar a competência do Sistema Brasileiro de Defesa da
Concorrência para a investigação da conduta em conhecimento. O PP possui
caráter preliminar, isto é, não possui ritos preestabelecidos em lei, e cumpre
a própria SG adotar as providências que entender necessária para coletar
elementos sobre a prática. Em posse desses elementos, caberá à SG decidir
pelo arquivamento da investigação, a instauração de um Inquérito
Administrativo ou Processo Administrativo.

O que é Inquérito Administrativo?


O Inquérito Administrativo (IA) é o procedimento investigatório de natureza
inquisitorial, instaurado pela SG. Semelhante ao inquérito policial na esfera
criminal, seu objetivo é apurar infrações à ordem econômica. A instauração,
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prevista no artigo 136 do Regimento Interno do Cade (Ricade) poderá ocorrer
de ofício, quando o próprio Tribunal do Cade opta pela abertura da
investigação; mediante a representação de alguém interessado do IA; após
Procedimento Preparatório; ou por meio da representação da Comissão do
Congresso Nacional ou de qualquer de suas Casas, bem como da Seprae,
das agências reguladoras e da Procuradoria Federal Especializada junto ao
Cade.

O que é Processo Administrativo?


O Processo Administrativo (PA), por sua vez, é instaurado pela SG em até
dez dias a partir da data de encerramento do IA, quando existirem forte
indícios de práticas lesivas no mercado investigado. O artigo 36 de Lei
12.529/11 determina que uma conduta infringe à ordem econômica quando

possuir a potencialidade de provocar os seguintes efeitos: (i) limitar, falsear


ou de qualquer forma prejudicar a livre concorrência; (ii) aumentar
arbitrariamente os lucros do agente econômico; (iii) dominar o mercado
relevante; e (iv) exercer de forma abusiva posição dominante. Adicionalmente,
o mesmo artigo estabelece em seu §3º uma lista exemplificativa de condutas
que caracterizam infração à ordem econômica, dentre as quais se destacam:
cartel, influência de conduta comercial uniforme, fixação de preços de
revenda, acordos de exclusividade.

Uma vez verificados indícios de infração à ordem econômica, poderá


mediante despacho fundamentado, ser instaurado o PA.

Uma vez aberto o PA, a comunicação dos investigados se dará mediante


notificação inicial, que conterá a descrição dos fatos e das condutas
consideradas sob suspeita de serem anticompetitivas. Após a comunicação,
o Representado terá o prazo de 30 dias para apresentar defesa e especificar
as provas que pretende produzir, além de indicar três testemunhas.

Após apresentação da defesa, a SG dará continuação à produção de provas


que julgar pertinentes e instruirá o processo, podendo determinar prova
pericial, oitiva das testemunhas, entre outras providências que entender
necessárias.

Após a conclusão das investigações, as Partes têm cinco dias para a


apresentação de alegações finais, então a SG remeterá os autos do processo
ao Presidente do Tribunal, opinando, em Nota Técnica, pelo seu
arquivamento ou pela configuração da infração. Uma vez recebido o
processo, o Presidente do Tribunal realizará por sorteio a distribuição do
processo designando-o a um Conselheiro-Relator.

Diante de situações em que o Conselheiro-Relator entenda que os


elementos existentes nos autos não são suficientes para a formação de sua
convicção, ele poderá determinar diligências complementares sem que isso
implique na reabertura da instrução processual.

No julgamento, a decisão do Tribunal se dá por maioria dos Conselheiros


presentes, podendo o processo ser arquivado quando não houver provas da
existência da infração ou de sua nocividade contra determinada empresa ou
pessoa; ou haver condenação. Nesse último caso, os responsáveis
identificados pela prática estão sujeitos, a seguintes penalidades:

– Multa de 0,1 a 20% do faturamento bruto da empresa, grupo ou


conglomerado obtido no último exercício anterior à instauração do PA, no
ramo de atividade empresarial em que ocorreu a infração;

– Não sendo possível utilizar-se o critério de faturamento bruto, a multa será


aplicada entre os valores de 50 mil reais a 2 bilhões de reais “no caso das
demais pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado, bem como
quaisquer associações de entidades ou pessoas de fato ou de direito, ainda
que temporariamente, com ou sem personalidade jurídica, que não exerçam
atividade empresarial”;

– Multa de 1% a 20% da aplicada a empresa, no caso de administrador


responsável, direta ou indiretamente, pela infração cometida, quando
comprovada culpa ou dolo.

Em caso de reincidência, as multas serão aplicadas em dobro.

Ademais, sem prejuízo das penas acima mencionadas, quando a gravidade


dos fatos ou o interesse público exigir, também poderão ser impostas,
isoladas ou cumulativamente, as seguintes penas previstas no artigo 38,
destacando-se: “proibição de contratar com instituições financeiras oficiais e
participar de licitação; inscrição do infrator no Cadastro Nacional de Defesa do
Consumidor; não concessão ao infrator o parcelamento de tributos federais por
ele devidos ou para que sejam cancelados, no todo ou em parte, incentivos
fiscais ou subsídios públicos e qualquer outro ato ou providência necessários
para a eliminação dos efeitos nocivos à ordem econômica”.
Sobre a decisão do Tribunal do Cade não caberá recurso administrativo,
devendo, se for o caso, a questão ser levada ao Judiciário.

Acordos celebrados no Processo


Administrativo
Acordo de Leniência
Os Acordos de Leniência são disciplinados pela Lei 12.529/11 e pelo Ricade.
Eles permitem que pessoas jurídicas ou físicas, que participam ou
participaram de condutas anticompetitivas, confessem seu envolvimento nas
condutas anticoncorrenciais e indiquem outros elementos da ação praticada,
como os demais envolvidos, apresentando informações e documentos que

comprovem a prática, em troca de imunidade administrativa e criminal. É


essencial que o signatário desse acordo cesse as condutas noticiadas para
concessão do benefício.

Somente a primeira empresa que se apresentar à autoridade e colaborar


com as investigações poderá ser beneficiária de um Acordo de Leniência. As
demais empresas e pessoas físicas envolvidas que possuam interesse em
contribuir para as investigações e obter benefícios poderão celebrar um
Termo de Compromisso de Cessação com o Cade.

Para a celebração de um Acordo de Leniência com o CADE, é necessário


cumprir alguns requisitos pré-estabelecidos no artigo 86 da Lei 12.529/11, a
saber: (i) seja a primeira empresa a se qualificar com respeito à infração
noticiada ou sob investigação; (ii) cesse completamente seu envolvimento na
infração, a partir da data da propositura do acordo; (iii) a SG não disponha de
provas suficientes para assegurar a condenação de empresa ou pessoa física
sem a celebração do acordo; e (iv) a empresa confesse sua participação na
conduta, e coopere plena e permanentemente com as investigações.

Termo de Compromisso de Cessação de Conduta


O Termo de Compromisso de Cessação de Conduta (TCC), como o nome já
diz, é a celebração de um compromisso para a cessação de condutas
anticompetitivas perante o Cade. Esse instrumento, previsto no artigo 85 da
Lei 12.529/11, pode ser feito a qualquer tempo no curso das investigações,
podendo ser proposto por quaisquer envolvidos investigados — empresas e
g
pessoas físicas. Por meio do TCC, as investigações ficam suspensas contra os
signatários. Entretanto, a celebração do TCC é um procedimento
discricionário do Cade, isto é, será firmado caso preenchidos determinados
requisitos e de acordo com critérios de conveniência e oportunidade.

O Cade editou um guia que especifica os requisitos a serem seguidos, dentre


eles: (i) o pagamento de contribuição pecuniária ao Fundo de Defesa de
Direitos Difuso para casos de acordo, combinação, manipulação ou ajuste
entre concorrentes; (ii) o reconhecimento de participação na conduta
investigada por parte do proponente; (iii) a colaboração do proponente com a
instrução processual; (iv) a obrigação de não praticar a conduta investigada; e
(v) a fixação de multa para caso de descumprimento, total ou parcial, das
obrigações compromissadas.

A proposta de TCC deverá ser realizada perante a SG, até o momento em


que os autos forem encaminhados para julgamento pelo Tribunal. Após o
encaminhamento, a proposta deverá ser negociada perante o Conselheiro-
Relator.

A proposta poderá ser apresentada perante o Cade somente uma vez e o


Superintende-Geral irá determinar um prazo para as negociações, que, em
regra, será de 60 dias, prorrogáveis por outros períodos a depender das
particularidades do caso. Caso o TCC seja proposto perante o Conselheiro
Relator, o prazo será de 30 dias, podendo ser prorrogado uma única vez por
igual período.

Após apresentar a proposta, a parte interessada irá receber uma senha,


denominada “marker”, conforme sua ordem de apresentação diante da
autoridade — é o seu lugar na fila.  Importante notar que a ordem
cronológica da apresentação da proposta afeta o potencial valor a ser
recolhido a título de contribuição pecuniária.

Após celebração do TCC e o cumprimento pelos Representados das


condições do acordo com o Cade, incluindo o recolhimento da contribuição
pecuniária, o processo é suspenso em relação aos beneficiários do Acordo.
Importante notar que o TCC, ao contrário do Acordo de Leniência, não gera
benefícios na esfera criminal.

Principais casos julgados pelo Cade 


Atos de Concentração
Em sua história, o Cade julgou diversos Atos de Concentração de grande
complexidade e repercussão. Em algumas ocasiões, a aplicação de remédios
foi o suficiente para aprovação dessas operações, enquanto que em outras o
Cade se viu obrigado a reprovar as operações visando preservar a
concorrência.

Abaixo estão listadas cinco operações de alta complexidade analisadas pelo


Cade ainda na vigência da antiga Lei da Concorrência – Lei 8.884/94, assim
como outros cincos casos julgados na vigência da atual Lei 12.529/11.

Lei 8.884 de 1994

Atos de Mercado Decisão


Concentração envolvido
Kolynos do Brasil Mercado de Operação aprovada sob a condição de
S.A. e Colgate- cremes suspensão do uso da marca Kolynos para
Palmolive dentais a produção e comercialização de creme
Company (1995 – dental no território nacional pelo período
1996) de 4 anos.

Companhia Mercado de Operação aprovada sob condição da


Antarctica cerveja e venda da marca Bavária (pertencente a
Paulista Indústria refrigerantes Antarctica), assim como de cinco unidades
Brasileira de fabris da Ambev (uma em cada região do
Bebidas e país). Ademais, o comprador deveria
Conexos compartilhar a rede de distribuição da
(“Antarctica”) e empresa por um período de cinco anos.
Cervejaria
Brahma
(“Brahma”) (1999)
Saint Gobain Indústria de Operação reprovada, tendo em vista que
Vidros S.A e reforços de implicaria no monopólio de produção no
Owens Corning fibra de país.
(2008) vidro

Sadia S.A. e Mercado de Operação aprovada sob a condição de


Perdigão S.A. alimentos venda de diversas marcas e de parte da
(2011) /frigoríficos estrutura produtiva da BRF – Brasil Foods
g p
a partir de 2012, assim como a suspensão
da marca Perdigão e a restrição de
atuação no segmento lácteo da marca
Batavo.S.A.

Nestlé Brasil Mercado de Em 2002, a operação foi reprovada. No


Ltda. e chocolate entanto, a Nestlé recorreu à Justiça e em
Chocolates 2017 a operação foi submetida a nova
Garoto S.A. (2002 análise pelo Cade, que condicionou a sua
e 2017) aprovação a venda de um pacote de 10 de
suas marcas (Chokito, Serenata de Amor,
Lollo e Sensação). Atualmente, a condição
não foi cumprida e a Nestlé pede uma
nova análise pelo Cade.

Lei 12.529 de
2011
Atos de Mercado Decisão
Concentração Envolvido
Estácio Mercado de O AC foi reprovado pelo Cade, pois os
Participações educação remédios apresentados não seriam
S/A & Kroton superior suficientes para mitigar os riscos
Educacional (graduação e identificados. Dentre esses riscos
S/A pós-graduação destacam-se: (i) força das marcas do
presencial, grupo Kroton; (ii) o elevado market share
  graduação e da empresa resultante no mercado de
pós-graduação EAD, cerca de 46%; e (iii) a possibilidade
(2017)
EAD) e em de a fusão elevar as barreiras à entrada no
cursos livres mercado de educação.
(cursos
preparatórios
para concursos,
cursos
preparatórios
para OAB,
cursos
Pronatec).
Alesat Mercado de O AC foi reprovado pelo Cade, pois os
combustíveis Cadeia de remédios propostos pelas Representadas
S/A & Combustíveis em Acordo não seriam suficientes para
Ipiranga Líquidos mitigar os riscos identificados. Dentre
Produtos de esses riscos, vale destacar: (i) Participação
Petróleo S/A de mercado da empresa resultante muito
elevada em 11 estados e no Distrito
  Federal; e (ii) A eliminação do único
potencial concorrente, Alesat, com
(2017)
capacidade de rivalizar com as três
empresas que dominam o mercado de
revenda de combustíveis.

Liquigás & Mercado de Gás O AC foi reprovado pelo Cade, pois os


Ultragaz Liquefeito de remédios propostos pelas Representadas
Petróleo (GLP) em Acordo em Controle de
  Concentrações não seriam suficientes
para mitigar os riscos identificados no
(2018)
mercado de GLP. Dentre esses riscos,
destacamos: (i) Possibilidade de incentivo
para que as empresas existentes no
mercado atuassem como cartel, com vista
a aumento de preços e; (ii) Elevação das
barreiras à entrada no mercado.
Solvay Indupa Mercado de O AC foi reprovado pelo Cade, pois os
& Braskem PVC-S e PVC-E remédios propostos pelas Representadas
S/A em Acordo em Controle de
Concentrações não seriam suficientes
  para mitigar os riscos identificados na
análise do AC no mercado de brasileiro de
(2014)
PVC. Dentre esses riscos, vale destacar: (i)
A ausência de rivalidade efetiva no
mercado de PVC após a operação e (ii) A
possibilidade de aumento de preços no
mercado de PVC após a operação,
considerando que as importações não
ofereciam uma efetiva rivalidade a
empresas nacionais.
p
Unimed Mercado de O AC foi reprovado pelo Cade, pois não foi
Franca & Serviços possível às partes celebrarem acordo com
Hospital Médico- o Cade após dois meses de negociações.
Regional de Hospitalares e A operação suscitou preocupações devido
Franca de Planos de à baixa rivalidade nos mercados
Saúde – analisados e às altas barreiras para a
  individuais e constituição de uma nova empresa.
coletivos- em
(2013)
Franca

Processos Administrativos

A tabela abaixo enumera as cinco maiores multas já aplicadas pelo Cade em


processos administrativos, assim como outras penas adotadas em conjunto:

Processo Valor da Outras punições Mercado afetado


Contribuição
Pecuniária
Cartel do O valor das O Cade impôs às Mercado nacional
Cimento multas condenadas a obrigação de cimento.
(2014) aplicadas  de vender ativos nos
totalizou 3,1 mercados de cimento e
bilhões de reais. concreto. Ademais, as
empresas foram
proibidas de realizar
operações entre si no
mercado de cimento ou
de adquirir qualquer
ativo no mercado de
concentro por um prazo
de cinco anos.

Cartel de O valor das   Mercado


cargas multas internacional de
aéreas aplicadas às cargas aéreas.
(2013) empresas
envolvidas
totalizou cerca
totalizou cerca
de 293 milhões
de reais.

Cartel dos O valor das Recomendação de Mercado nacional


Gases multas proibição de de gases
Hospitalares aplicadas às parcelamento de hospitalares.
(2010) empresas qualquer tributo federal
envolvidas devido pelas empresas
totalizou 2,9 condenadas.
bilhões de reais.

Ambev O valor da multa O Cade determinou o Programa de


Programa Tô aplicado foi de fim do programa. fidelidade criado
Contigo 352 milhões de pela Ambev, que,
(2009) reais. Em julho ao distribuir
de 2015, a prêmios para
Ambev firmou estabelecimentos
um acordo com que adquiriram
o Cade no cerveja de suas
Judiciário para marcas, resultou
reduzir o valor no fechamento
da contribuição de mercado,
para 229,1 prejudicando os
milhões de concorrentes.
reais.

Cartel dos O valor das   Mercado nacional


Vergalhões multas de vergalhões de
de Aço aplicadas às aço.
(2005) empresas
envolvidas
totalizou cerca
de 345 milhões
de reais.
Patricia Agra é advogada especialista em defesa da concorrência e
compliance e sócia do escritório L.O. Baptista.

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