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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por RENATA VILHENA SILVA e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo,

protocolado em 09/09/2022 às 18:02 , sob o número 10117091620228260011.


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16865 (VSA 1)
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DO

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1011709-16.2022.8.26.0011 e código DEB6E20.
FORO REGIONAL DE PINHEIROS NO ESTADO DE SÃO PAULO

Súmula 94 – TJSP: A falta de pagamento da mensalidade


não opera, per si, a pronta rescisão unilateral do contrato de
plano ou seguro de saúde, exigindo-se a prévia notificação do
devedor com prazo mínimo de dez dias para purga da mora.

PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO: requerente idosa (art. 1.048, I, CPC e art. 71 do


Estatuto do Idoso).

HELENA DA CUNHA BUENO, brasileira, solteira,


empresária, RG nº 3847343-4, CPF nº 946905028-20, residente e domiciliada na Rua João
Moura, nº 81, Pinheiros, CEP 05412-000, São Paulo/SP, e-mail:
publicacao@vilhenasilva.com.br, neste ato representada por seus advogados (instrumento
de mandato anexo), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor a
presente

AÇÃO COMINATÓRIA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA C.C PEDIDO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS

em face de AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA INTERNACIONAL S.A., empresa inscrita no


CNPJ sob o nº 29.309.127/0073-43, com sede na Rua Arquiteto Olavo Redig de Campos,
nº 105, Torre B, Empreendimentos EZ Towers, Vila Francisco - CEP 04711-904, São
Paulo/SP, endereço eletrônico desconhecido, pelos motivos a seguir expostos.

I – DOS FATOS

A Sra. Helena é beneficiária do plano de saúde fornecido pela


requerida Amil, plano AMIL 150 NACIONAL, acomodação apartamento, sob o número de
identificação 427538530, conforme carteirinha em anexo (doc. 01).

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Como forma de garantir a prestação dos serviços contratados,


a requerente sempre efetuou regularmente o pagamento do prêmio, inclusive que são
diretamente debitados em conta corrente, conforme se verifica do histórico de pagamentos

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anexo (doc.02).

É importante ressaltar que a Sra. Helena conta atualmente


com 77 (setenta e sete) anos e é portadora de doença preexistente, sendo que em 2001
fora submetida a uma mastectomia mamaria bilateral decorrente de um CÂNCER DE
MAMA, e submete-se a constantes acompanhamentos clínicos para monitoramento de
eventual recidiva. (Doc.03)

Inobstante, no ano de 2005 a Requerente fora diagnosticada


com um CÂNCER DE PELE, o qual fora extraído cirurgicamente, mas igualmente demanda
acompanhamento constante de eventual recidiva (Doc.04).

Assim, para acompanhamento de recidivas, em agosto de


2022, a Sra. Helena precisou se submeter a diversos exames solicitados pelo médico que
a acompanha, Dr. João Carlos Mantesse, CRM 18918. Dentre eles: Mamografia,
Densitometria e Colonoscopia. (Doc. 05).

Ocorre que, com o encaminhamento médico em mãos, a


Requerente foi surpreendida com a negativa de autorização para os referidos
procedimentos.

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Ao averiguar as razões do ocorrido, a Requerente foi


surpreendida ao descobrir através do portal do usuário, que em decorrência de débitos
deixados junto a Requerida Amil, seu plano havia sido cancelado (Doc.06)

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Diante da situação apresentada, a Requerente foi averiguar a
situação de seu plano de saúde, tendo em vista que, não recebeu nenhuma notificação
acerca da intenção de cancelamento do plano em razão da falta de pagamento,
considerando a modalidade escolhida através do débito em conta corrente.

A Requerente descobriu o cancelamento do plano, somente


quando tentou utilizar de serviços de diagnóstico, os quais foram negados pela Requerida.

Insta salientar, que desde a contratação do plano, a


Requerente sempre adimpliu com os pagamentos regularmente, na forma de débito
automático, conforme se depreende do histórico de pagamentos em anexo. (vide Doc. 02).

Ocorre Excelência, que os débitos em conta corrente foram


obstados, em razão da troca de denominação social da AMIL para APS, no início de 2022.

Com isso, os dados bancários de titularidade da Requerida


foram modificados, de modo que, foi obstado o débito em conta corrente com razão social
diversa daquela estabelecida contratualmente.

A época, inclusive, foram identificadas diversas


irregularidades na venda da carteira, inclusive o que gerou a suspensão da transação pela
Agencia Nacional de Saúde.

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Desse modo, a Requerente somente teve a ciência acerca do


cancelamento de seu plano no momento em que, ao solicitar autorização para seus exames
periódicos, teve o atendimento obstado pelo plano.

Outrossim, uma vez identificado o erro quando ao débito das


mensalidades em conta corrente, a Requerente solicitou o envio imediato dos boletos para
respectivo pagamento, ocasião em que foi informada que não seria possível a regularização
para reativação do plano. (Doc. 07)

Excelência, a Requerente possui atualmente 77 (setenta e


sete) anos de idade, possuindo extrema dificuldade no acesso tecnológico, de modo que,
após a solicitação de inclusão do pagamento em débito automático, acreditou que a
transação estava sendo efetivada sem maiores problemas.

Quando a Requerente identificou o problema, entrou em


imediatamente em contato com a Requerida, e a partir daí, iniciou-se o desgaste para
conseguir obter informações sobre o cancelamento do plano.

Dessa forma, mesmo após reiteradas tentativas de


regularização da pendencia, o plano de saúde da Sr. Helena permanece cancelado,
conforme print extraído do site da Amil. (vide doc. 04).

Cabe lembrar que há mais de 10 anos a Requerente paga as


mensalidades do plano por débito automático e nunca teve qualquer problema com os
pagamentos, razão pela qual não jamais se preocupou com eventual atraso no pagamento
das parcelas da apólice.

Veja, Excelência, que o Sr. Helena, apesar das dificuldades


em razão de sua avançada idade, tentou por inúmeras vezes solucionar o seu problema

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https://www.poder360.com.br/economia/ans-anula-venda-de-planos-de-saude-da-amil-para-a-aps/

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administrativamente, mas a comunicação com a requerida restou infrutífera, notadamente,


considerando o atendimento demorado, confuso, intermitente e falho, que não é capaz de
prestar informações adequadas acerca da data de cancelamento do plano e as razões de

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não ser possível o envio dos boletos para devida regularização.

Necessário mencionar, Excelência, que antes de proceder ao


cancelamento, a requerida deixou de encaminhar a Sra. Helena sua intenção de
cancelamento, descumprindo, por consequência, a orientação do artigo 13, parágrafo
único, II da Lei 9.656/98 e deixando de observar a súmula 94 do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo que, nos termos da lei, exige a prévia notificação do beneficiário.

Ou seja, a requerida não cumpriu com os requisitos


necessários para proceder com o cancelamento do plano.

Frisa-se que a requerente não se recusa a realizar o


pagamento da mensalidade, que por equívoco de terceiros (operadora/banco) restou
inadimplida. Ao contrário, tentou resolver mencionado imbróglio inúmeras vezes pela esfera
administrativa, solicitando a reativação do plano com a emissão de novo boleto.

Perceba, Excelência, que a requerida se furta a realizar a


reativação do plano da requerente, mesmo após anos de relação contratual, do qual a
Requerente sempre adimpliu com suas obrigações.

E veja que, a manutenção do cancelamento do plano trará ao


beneficiário danos irreparáveis, eis que permanecerá sem assistência médica, em pleno
surto de pandemia causada pelo coronavírus, contando atualmente com 77 (setenta e sete
anos), necessitando de constantes acompanhamentos médicos periódicos.

Nesses termos, frisa-se que a Sra. Helena é considerada


integrante de grupo de risco para as operadoras.

Assim, com o cancelamento deste plano, a requerente NÃO


CONSEGUIRÁ CONTRATAR NOVA APOLICE, pois, como é de conhecimento notório, as
operadoras de planos de saúde negam a adesão de pessoas idosas e caso seja aceito em
novo plano, terá que cumprir novos prazos de carência, o que não se deve admitir,
sobremodo pela crise sanitária em que vivemos.

Destarte, considerando que o cancelamento unilateral do


plano e a rejeição do pedido de reativação é medida flagrantemente desproporcional e com
clara ofensa a princípios oriundos da Constituição e da legislação consumerista e, ainda,
tendo em vista que não foram preenchidos os requisitos para o cancelamento do plano, não
restou outra opção ao Sra. Helena, senão recorrer ao Poder Judiciário, com a finalidade de
obter um provimento jurisdicional que (i) determine a imediata reativação do plano de

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saúde, nas mesmas condições contratadas; (ii) disponibilize os boletos para o imediato
pagamento dos valores em aberto.

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II – PRELIMINARMENTE
2.1 – DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO

A requerente é idoso, contando atualmente com 77 (setenta e


sete) anos de idade. Portanto, de acordo com a legislação, faz jus à prioridade na tramitação
processual, conforme previsão do artigo 71 do Estatuto do Idoso e no artigo 1.048, I, do
CPC.

2.2 – DA AUSÊNCIA DE INTERESSE NA AUTOCOMPOSIÇÃO

Constitui-se como um dos requisitos da petição inicial a


indicação da opção da parte autora pela realização ou não de audiência de conciliação ou
de mediação, conforme preceitua o artigo 319, inciso VII do Novo Código de Processo Civil.
Neste sentido, informa a requerente que não tem interesse na autocomposição.

III – DO DIREITO
3.1 – DO DIREITO À REATIVAÇÃO DO PLANO

Cumpre destacar, inicialmente, que a prestação de serviço de


saúde é, em princípio, um dever do Estado (CF, artigo 196), mas que, ante a falta de
preparo do poder público para exercer esta função, foi assumida por empresas privadas,
atraídas pela alta lucratividade que essa atividade oferece.

Todavia, embora exercida por empresas privadas, essa


função não perde a natureza pública, devendo ter como parâmetro de atuação valores
consagrados pela nossa ordem constitucional, tais como a cidadania (CF, artigo 1.º, inciso
II), a dignidade humana (CF, artigo 1.º, inciso III) e a valorização da vida (artigo 5.º, caput).

Nessa toada, as seguradoras devem ter como objetivo


primordial a concretização dos valores mencionados, bem como a busca pela efetivação
da função social do contrato de prestação de serviços de plano de saúde (CC, artigo 421),
que, diga-se, é uma atividade extremamente nobre e importante, mas que consigo traz um
conjunto de responsabilidades que se revestem de caráter público. Dentre elas, sem
dúvida, está a de não interromper a prestação dos serviços sem justa causa e sem
observar os ditames da lei, dada a relevância do objeto do contrato de seguro saúde.

Ademais, o artigo 422 do Código de Civil, assegura o dever


dos contratantes de zelar pela probidade e boa-fé na conclusão e execução do
contrato, condição que não foi observada pelo Plano de Saúde quando do cancelamento
da apólice.

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Como informado, a requerente, por um lapso, deixou de


observar que não fora descontada de sua conta bancária a mensalidade referente ao plano
de saúde e, diante disso, se deparou com o cancelamento de seu plano de forma indevida.

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Tentou contato para reverter a situação, todavia, não foi possível resolver a situação pela
via administrativa, mesmo após argumentar pela possibilidade de seguir com a quitação
das mensalidades de seu plano, inclusive as que estavam em aberto.

Como já mencionado, a Sra. Helena não recebeu notificação


da Amil informando-lhe a intenção de cancelamento do plano.

Nesse diapasão, invoca-se o disposto no artigo 13, parágrafo


único, inciso II, da Lei 9.656/98, o qual prevê a possibilidade da rescisão unilateral do
contrato de plano de saúde, nos seguintes termos:

Art. 13. Os contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o


do art. 1o desta Lei têm renovação automática a partir do vencimento
do prazo inicial de vigência, não cabendo a cobrança de taxas ou
qualquer outro valor no ato da renovação.
Parágrafo único. Os produtos de que trata o caput, contratados
individualmente, terão vigência mínima de um ano, sendo vedadas:
II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por
fraude ou não-pagamento da mensalidade por período superior a
sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de
vigência do contrato, DESDE QUE O CONSUMIDOR SEJA
NOTIFICADO ATÉ O QUINQUAGÉSIMO DIA DE
INADIMPLÊNCIA

Assim, interpretando o referido normativo, em consonância


com os preceitos informativos do Código de Defesa do Consumidor, em especial à luz dos
princípios da boa-fé objetiva (Código de Defesa do Consumidor, artigo 4.º, inciso III) e da
transparência (Código de Defesa do Consumidor, artigo 6.º, inciso III), tem-se que a prévia
notificação do consumidor sobre o cancelamento (QUE NÃO ACONTECEU) tem que ser:
(i) FORMAL, realizada em documento próprio, destinado somente a esse fim; (ii) CLARA
E INEQUÍVOCA, informando o consumidor os meses que ele deixou de pagar, o tempo que
ele está inadimplente e, ainda, o risco de o plano ser cancelado; e (iii) TEMPESTIVA, ou
seja, feita até o quinquagésimo dia de inadimplência.

Verifica-se, assim, que o ordenamento jurídico autoriza o


cancelamento do plano de saúde em caso de inadimplência do segurado por período
superior a 60 (sessenta) dias, mas o condiciona à PRÉVIA NOTIFICAÇÃO do consumidor
“até o quinquagésimo dia de inadimplência”.

Contudo, Excelência, não foi isso que ocorreu no caso em


tela, a requerente só teve ciência quanto ao cancelamento do plano e inadimplência da
mensalidade após a negativação de seu nome em órgãos de proteção ao crédito.

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Assim, não há qualquer respaldo para o cancelamento, que


fora realizado à revelia dos requisitos legais para a rescisão unilateral do contrato,

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configurando uma conduta ABUSIVA e ILEGAL.

Nesse sentido, cumpre esclarecer que a Lei n°. 9.656/98 foi


criada para estabelecer uma série de garantias aos beneficiários de planos de saúde da
categoria individual e familiar porque naquela época a maior parte dos beneficiários se
enquadrava nesta categoria.

Hoje, como é de conhecimento notório, os planos individuais


e familiares estão desaparecendo e com isso a manutenção destes planos é de extrema
importância para os beneficiários.

Em razão disso, os Tribunais de Justiça do nosso país têm


reconhecido amplamente a restrição contida no artigo 13, II da Lei n°. 9656/98, visando
proteger os consumidores, tendo inclusive o STJ assim se manifestado ao julgar o Recurso
Especial nº 1.638.280 - RS (2016/0288234-3), sob relatoria da ilustre Ministra Nancy
Andrighi da Terceira Turma, vejamos:

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


SAÚDE SUPLEMENTAR. PLANOS DE SAÚDE. REGIME DE
CONTRATAÇÃO. COLETIVO. POPULAÇÃO VINCULADA À
PESSOA JURÍDICA. MICROEMPRESA FAMILIAR. TRÊS
BENEFICIÁRIOS. RESCISÃO UNILATERAL E IMOTIVADA.
DIRIGISMO CONTRATUAL. CONFRONTO ENTRE PROBLEMAS.
ANALOGIA. 1. Ação ajuizada em 30/08/13. Recurso especial
interposto em 19/04/16 e atribuído ao gabinete da Relatora em
03/11/16. Julgamento: CPC/15. 2. O propósito recursal é definir se
é válida a rescisão unilateral imotivada de plano de saúde coletivo
empresarial por parte da operadora de plano de saúde em face de
microempresa familiar com apenas três beneficiários. 3. A Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), por meio da Resolução
Normativa 195/09, definiu que: i) o plano de saúde individual ou
familiar é aquele que oferece cobertura da atenção prestada para a
livre adesão de beneficiários, pessoas naturais, com ou sem grupo
familiar; ii) o plano coletivo empresarial é delimitado à população
vinculada à pessoa jurídica por relação empregatícia ou estatutária;
e iii) o plano coletivo por adesão é aquele que oferece cobertura à
população que mantenha vínculo com pessoas jurídicas de caráter
profissional, classista ou setorial. 4. A contratação por uma
microempresa familiar de plano de saúde em favor de três únicos
beneficiários não atinge o escopo da norma que regula os contratos
coletivos, justamente por faltar o elemento essencial de uma
população de beneficiários. Precedente. 5. Verifica-se a violação do
art. 13, parágrafo único, II, da Lei 9.656/98 pelo Tribunal de origem,
pois a hipótese sob exame revela um atípico contrato coletivo que,

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em verdade, reclama o excepcional tratamento como


individual/familiar. Sentença restabelecida. 6. Recurso especial
conhecido e provido.”

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Dessa forma, não restam dúvidas quanto à incidência da
proibição estipulada pelo art. 13, parágrafo único, inc. II, da Lei n.º 9.656/98 ao caso em
tela, de modo que as requeridas apenas podem rescindir o contrato firmado com a
requerente nas hipóteses legalmente autorizadas, quais sejam, fraude ou inadimplência
superior a 60 (sessenta) dias por culpa do segurado, com notificação prévia da seguradora
até o quinquagésimo dia.

Caso contrário, há o afastamento da própria álea do contrato,


pois as requeridas receberam certa quantia (vultosa) pela contraprestação do risco que
assumiu, decorrentes de eventuais doenças que viessem a acometer os beneficiários.

É indubitável a boa-fé da requerente, que sempre honrou


com a mensalidade do plano de saúde desde a contratação, conforme demonstrado
pelo histórico de pagamentos acostado aos autos (vide doc. 02).

Em complemento, com fulcro na Função Social do Contrato e


na prevalência da manutenção do contrato, resta claro o direito da requerente em
permanecer no plano de saúde.

Oportuno mencionar que a liberdade do lesado ao escolher


pelo cumprimento ou a resolução do contrato tem sido mitigada, em alguns casos, pelo
Superior Tribunal de Justiça - STJ, em razão da Teoria do Adimplemento Substancial,
que decorre do Princípio da Conservação dos Negócios Jurídicos, exatamente o que
se busca na presente demanda, a aplicação e consideração desta teoria para manutenção
do plano de saúde e dos serviços de assistência médica prestados.

Frisa-se, ainda, que deve prevalecer a boa-fé e função social


do contrato, que, por via de consequência prioriza o princípio da conservação dos
contratos, levando-se em conta, no presente caso, o vínculo do tempo de contratação junto
às requeridas e o efetivo adimplemento substancial do contrato durante longos anos. Neste
sentido é o Enunciado 361, do Conselho da Justiça Federal - CJF:

Artigos 421, 422 e 475: O adimplemento substancial decorre dos


princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a
função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva,
balizando a aplicação do artigo 475.” (grifos nossos)

Desta forma, deve-se considerar que o pactuado foi


adimplido em parte substancial do seu objeto e, portanto, dar-se-á o seu Adimplemento
Substancial, o que retira do lesado a possibilidade de escolher pela resolução do
contrato, devendo exigir o seu cumprimento e eventuais perdas e danos.

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Logo, se no caso dos autos houve o adimplemento ao longo


dos anos, não há respaldo para que as requeridas rescindam a avença. Assim, menciona-

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se o entendimento jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça, conforme ementa abaixo
transcrita:

DIREITO CIVIL. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL


PARA AQUISIÇÃO DE VEÍCULO (LEASING). PAGAMENTO DE
TRINTA E UMA DAS TRINTA E SEIS PARCELAS DEVIDAS.
RESOLUÇÃO DO CONTRATO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSE. DESCABIMENTO. MEDIDAS DESPROPORCIONAIS
DIANTE DO DÉBITO REMANESCENTE. APLICAÇÃO DA
TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. 1. É pela lente das
cláusulas gerais previstas no Código Civil de 2002, sobretudo a da
boa-fé objetiva e da função social, que deve ser lido o artigo 475,
segundo o qual "[a] parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a
resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento,
cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos".
2. Nessa linha de entendimento, a teoria do substancial
adimplemento visa a impedir o uso desequilibrado do direito de
resolução por parte do credor, preterindo desfazimentos
desnecessários em prol da preservação da avença, com vistas
à realização dos princípios da boa-fé e da função social do
contrato.” (STJ, REsp n° 1.051.270/RS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, por maioria, julg. em 04/08/2011) (grifo nosso)

Aplicando-se a teoria da função social dos contratos, o


entendimento adotado pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça é o de que a extinção do
contrato por inadimplemento do devedor somente se justifica quando a mora causar ao
credor dano de tal importância, que não lhe interesse mais o recebimento da prestação
devida, ante irremediável prejuízo à economia contratual.

O Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior, quando do


julgamento do Recurso Especial nº 272.379-MG, asseverou que: “(...) o adimplemento
substancial do contrato pelo devedor não autoriza ao credor a propositura de ação
para extinção do contrato, salvo se demonstrada a perda do interesse na
continuidade da execução, que não é o caso”.

No presente caso, a mensalidade inadimplida não causa


prejuízo substancial à parte contrária capaz de dar ensejo à resolução automática do
contrato, pelo contrário, o cancelamento não poder ser concedido como uma medida
plausível!

Ora, para casos em que o consumidor está inadimplente, há


que se considerar o que a doutrina denomina de “direito à manutenção do contrato”,
segundo o qual o fornecedor de serviços, ante o inadimplemento do consumidor de uma

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pequena parcela do valor devido, poderá valer-se das penalidades contratuais de natureza
indenizatória e pecuniária, sendo-lhe vedado, no entanto, rescindir o contrato, tendo em
vista a essencialidade do serviço prestado. Nesse sentido ensina BRUNO MIRAGEM:

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“O direito à manutenção do contrato tem seu fundamento justamente
no caráter necessário que o consumo passou a ter na sociedade de
consumo contemporânea. Ao lado desta necessidade de consumo,
pela qual ninguém em situação social típica, consegue se abster de
consumir, acrescente-se a dependência contratual (catividade)
característica de muitos contratos de consumo de longa duração.
Em tais circunstâncias, o direito de manutenção do contrato (...) vem
sendo reconhecido por lei (art. 6.º V e 51, §2.º), assim como pela
doutrina e jurisprudência, impedindo a mera extinção do contrato em
razão do inadimplemento do consumidor. Para Ricardo Lorenzetti
este direito de manutenção ou conservação do contrato constitui
espécie de mandato constitucional de otimização da autonomia
privada. Dentre as situações que impedem a extinção do contrato
pelo exercício do direito de resolução pelo exercício do direito de
resolução pelo fornecedor, está a chamada teoria do adimplemento
substancial. Esta teoria foi desenvolvida no common law, sob a
definição de substantial performance, sendo reconhecida, em nosso
direito, como efeito da boa-fé objetiva, e dos deveres de lealdade e
colaboração daí decorrentes. Da aplicação da teoria do
adimplemento substancial resulta que o credor que tenha sofrido o
inadimplemento de uma pequena parcela do valor devido pelo
devedor poderá fazer uso dos direitos previstos no contrato e na lei,
de natureza indenizatória e pecuniária (cláusula penal, juros, por
exemplo). Mas não poderá exercer direito de resolução2.” – Grifo
nosso.

Ainda, do princípio da boa-fé objetiva depreende-se que a


resolução do contrato deve ser proporcional à relevância do inadimplemento, sob pena
de caracterização de abuso de direito:

“Civil. Processual Civil. Recurso Especial. Contrato de seguro-


saúde. Pagamento do prêmio. Atraso. O simples atraso no
pagamento de uma das parcelas do prêmio não se equipara ao
inadimplemento total da obrigação do segurado, e, assim, não
confere à seguradora o direito de descumprir sua obrigação
principal, que, no seguro saúde, é indenizar pelos gastos
despendidos com tratamento de saúde. ” (Resp. 293.722-SP,
Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 26.03.2001, v.u.)

Isso porque, considerando a importância do contrato, e dada


a natureza de seu objeto, ignorar o adimplemento das demais mensalidades, ensejando o
cancelamento do plano de saúde constitui medida desproporcional, a colocar a

2
- MIRAGEM, Bruno. Direito do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p.247.

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consumidora em excessiva desvantagem, prática considerada abusiva pelo Código de


Defesa do Consumidor, em seu artigo 51, inciso IV.

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Trata-se de conduta ilegal e abusiva, conforme entendimento
consolidado pelo Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, a teor do disposto na Súmula
94, in verbis:

Súmula 94: A falta de pagamento da mensalidade não opera, per si,


a pronta rescisão unilateral do contrato de plano ou seguro de
saúde, exigindo-se a prévia notificação do devedor com prazo
mínimo de dez dias para purga da mora.

Portanto, imperioso reconhecer que não ocorreu a rescisão do


contrato de pleno direito, posto que não atendidos os requisitos do artigo 13 da Lei 9.656/98,
sendo imprescindível a intervenção judicial para impedir a resolução do contrato,
mostrando-se favorável o entendimento sobre tal questão:

PLANO DE SAÚDE. TUTELA DE URGÊNCIA. Insurgência contra a


decisão que determinou a reativação do plano de saúde contratado
pelo autor, pena de multa. Operadora que não comprovou, nesta
fase, o envio de notificação prévia ao segurado quanto ao
cancelamento do contrato por inadimplência. Exigência
estabelecida pelo artigo 13, parágrafo único, inciso II, da Lei nº
9.656/1998. Súmula 94 do TJSP. Probabilidade do direito e risco
de dano à parte contrária configurados, na forma do art. 300 do
Código de Processo Civil. Decisão mantida. Recurso desprovido. 3

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER – PLANO DE SAÚDE -


SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA, DETERMINANDO O
RESTABELECIMENTO DO PLANO DE SAÚDE EM FAVOR DA
AUTORA – INSURGÊNCIA DO PLANO DE SAÚDE RÉU, PELA
REFORMA DA R. SENTENÇA – PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE
PASSIVA AFASTADA – EMPRESA QUE INTEGRA A CADEIA DE
FORNECIMENTO DOS SERVIÇOS MÉDICO-HOSPITALARES EM
QUESTÃO, QUE É O OBJETO DO CONTRATO DA PRESENTE
DEMANDA – RESPONSABILIDADE DE TODAS AS PARTES QUE
SE INSEREM NA CADEIA DE FORNECIMENTO DO SERVIÇO,
RESPONDENDO SOLIDARIAMENTE – NO MÉRITO, TAMPOUCO
ASSISTE MELHOR SORTE – O ENVIO DE CARTA SIMPLES, SEM
AVISO DE RECEBIMENTO, NÃO SE DEMONSTRA SUFICIENTE
PARA COMPROVAR A NOTIFICAÇÃO DO CONSUMIDOR
INADIMPLENTE – OBSERVÂNCIA DO ART. 13, II, DA LEI Nº
9.656/98 E DA SÚMULA Nº 94 DO TJSP – RESTA
INCONTROVERSO QUE A CLÁUSULA QUE AUTORIZA O

3
(TJSP; Agravo de Instrumento 2267609-21.2019.8.26.0000; Relator (a): J.B. Paula Lima; Órgão Julgador:
10ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional IX - Vila Prudente - 3ª Vara Cível; Data do Julgamento:
18/02/2014; Data de Registro: 08/04/2020)

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CANCELAMENTO AUTOMÁTICO DO PLANO DE SAÚDE NO


CASO DE INADIMPLÊNCIA É MESMO ABUSIVA, DEVENDO SER
ANULADA, NOS TERMOS DOS ARTS. 51 E 54 DO CÓDIGO DE

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DEFESA DO CONSUMIDOR – PRECEDENTES DESTA CORTE -
SENTENÇA MANTIDA- RECURSO IMPROVIDO.4

Apelação cível. Plano de saúde individual. Ação de obrigação de


fazer cumulada com pedido de indenização por dano moral.
Rescisão por inadimplência. Sentença de procedência para
compelir a ré à reativação do contrato e ao pagamento de
indenização por dano moral no valor de R$ 7.000,00. Inconformismo
da ré. Código de Defesa do Consumidor. Aplicabilidade. Artigos 2º
e 3º da Lei nº 8.078/1990. Súmulas nº 100 deste Egrégio Tribunal
de Justiça e nº 608 do Colendo Superior Tribunal de Justiça.
Incidência do disposto no artigo 13, parágrafo único, inciso II,
da Lei n. 9.656/98 e na Súmula nº 94 deste E. Tribunal. Caso
concreto. Ausência de prova de notificação válida. Prática
abusiva que fere a boa-fé objetiva, lealdade e colaboração que
deve permear a relação jurídica de consumo. Reativação do
contrato devida. Dano moral. Descabimento. Cancelamento
indevido do plano de saúde que, por si só, não configura dor
emocional profunda, situação vexatória ou mesmo prejuízo a
atributos da personalidade da parte autora. Mero descumprimento
contratual. Indenização indevida. Sentença reformada. Recurso
parcialmente provido apenas para afastar a indenização por dano
moral.5

APELAÇÃO. PLANO DE SAÚDE INDIVIDUAL. CANCELAMENTO


INDEVIDO. INADIMPLÊNCIA. AUSÊNCIA DE PRÉVIA
NOTIFICAÇÃO, COMO ESTABELECIDA NA LEI DOS PLANOS DE
SAÚDE. Plano de saúde. Cancelamento que se mostrou indevido.
Inadimplência. Imperiosa notificação prévia, como determina a Lei
dos Planos de Saúde. Aviso de recebimento da notificação firmado
por terceiro. Não obstante, a ré enviou boleto para pagamento da
mensalidade posterior àquelas inadimplidas, ato que se mostra
incompatível com a pretensão rescisória. Pandemia. Situação
excepcional. Boa-fé objetiva que deve ser prestigiada. Sentença
mantida. Recurso não provido.6

4
(TJSP; Apelação Cível 1016762-41.2018.8.26.0003; Relator (a): HERTHA HELENA DE OLIVEIRA;
Órgão Julgador: 2ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional III - Jabaquara - 4ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 28/05/2012; Data de Registro: 06/03/2020)
5
(TJSP; Apelação Cível 1003842-61.2019.8.26.0565; Relator (a): Rodolfo Pellizari; Órgão Julgador: 6ª
Câmara de Direito Privado; Foro de São Caetano do Sul - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento: 13/01/2020;
Data de Registro: 13/01/2020)
6
(TJ-SP - AC: 10178832420208260007 SP 1017883-24.2020.8.26.0007, Relator: J.B. Paula Lima, Data de
Julgamento: 22/10/2021, 10ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 22/10/2021)

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Cumpre salientar, ainda, que o direito que está em jogo na


presente ação, a saber, o acesso a amplo tratamento de saúde contratado, além de ter
proteção constitucional (CF, artigo 6.º, “caput”, e artigo 196 e ss.), espelha os mais

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importantes valores constitucionais da ordem pátria. Sem dúvida, o acesso à saúde é um
dos mais importantes direitos de cidadania (CF, artigo 1.º, inciso II), bem como é requisito
essencial para uma vida digna (CF, artigo 1.º, inciso III).

Os aludidos princípios constitucionais espelham valores que


guiam a interpretação de todo o ordenamento jurídico pátrio, bem como limitam a autonomia
privada, limitando, inclusive, a liberdade contratual à função social dos contratos (e que
possuem, acima de todos os demais, os contratos que tenham por objeto o direito à saúde,
dada sua vinculação mediata ou imediata ao direito à vida, valor supremo salvaguardado
pelo ordenamento brasileiro), bem como ao respeito aos direitos fundamentais e valores
informativos da ordem constitucional.

Desta forma, demonstra-se o total descaso da operadora e da


administradora com a consumidora idosa, devendo prevalecer o direito da requerente em
ter o seu plano de saúde imediatamente reativado, mantendo-se as mesmas
condições contratuais, sem cumprimento de novo prazo de carência e valores
anteriormente contratados.

IV – DA TUTELA DE URGÊNCIA

De acordo com o artigo 300 do Novo Código de Processo


Civil, o juiz concederá a tutela antecipada se verificar elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

Nesse sentido, a probabilidade do direito se consubstancia


na abusividade da conduta das requeridas, que rescindiram o contrato da requerente de
forma unilateral, sem qualquer notificação prévia acerca do cancelamento, de modo a violar
o art. 13, inc. II e III, da Lei n.º 9.656/98 e, mesmo após a Requerente se manifestar no
sentido de pagamento das mensalidades, não permitiram a reativação do contrato, de modo
a afrontar à legislação consumerista vigente e aos princípios fundamentais do Direito,
notadamente, acerca do adimplemento substancial.

Por sua vez, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil


do processo consiste no fato de que se a requerida não reativar a apólice, a
beneficiária, em idade avançada e integrante do grupo de risco por se tratar de
paciente oncológica, ficará absolutamente desassistida, o que lhe poderá causar
graves danos à saúde.

Ademais, sabe-se que a decisão a ser concedida é


plenamente reversível ao passo que as requeridas não terão nenhum prejuízo, vez que a
requerente continuará quitando com o correto valor da mensalidade, e, no caso de

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improcedência desta ação - o que se admite apenas em hipótese - não terão qualquer perda
patrimonial.

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No mesmo sentido, é EVIDENTE que a não concessão da
tutela antecipada será muito mais gravosa para a Sra. Helena do que para a requerida,
afinal, a manutenção do cancelamento do plano impossibilitará a continuidade de
assistência médica do beneficiário que não pode, em hipótese alguma, ficar sem
atendimento, considerando, ainda, o atual cenário mundial de pandemia, sob pena de
sofrerem graves riscos à saúde, caso não tenha assistência médica adequada.

Portanto, demonstrado o preenchimento dos requisitos para


a concessão da tutela de urgência, e ainda ante a urgência vislumbrada, deve ser conferida
a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, para determinar que as requeridas
REATIVEM IMEDIATAMENTE a apólice da Sra. Helena, nas mesmas condições de
cobertura e preço anteriormente contratados.

V – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer, com fundamento nos artigos 273,


do CPC, c/c o art. 84, do CDC, a CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA inaudita altera
pars, com a finalidade de compelir as requeridas a REATIVAREM IMEDIATAMENTE a
apólice do plano de saúde da requerente, nas mesmas condições de cobertura e preço
anteriormente contratadas, sem a exigência de cumprimento de novos períodos de
carência, com o pagamento dos valores em atraso.

Deste ato, requer seja expedido ofício as requeridas,


dando-lhes ciência do teor da tutela provisória a ser concedida por Vossa Excelência, o
qual desde já se compromete a autora a encaminhá-lo, bem como requer seja determinada
multa diária em caso de descumprimento da medida a ser concedida.

Após, requer a citação das requeridas, na pessoa de seus


representantes legais, nos termos do art. 247 do Código de Processo Civil (citação por
correio) – para responder aos termos da presente ação, sob pena de revelia, para que, ao
final, sejam JULGADOS PROCEDENTES OS PEDIDOS, confirmando-se integralmente a
tutela de urgência, para:

a) Determinar a reativação do plano de saúde


contratado, nas mesmas condições de cobertura e preço
anteriormente praticados, sem a exigência de cumprimento de
novos períodos de carência, com o devido pagamento dos
valores em atraso;

Caso, por qualquer motivo, tenha a requerente que adimplir


algum outro valor decorrente dos reajustes que se busca o afastamento, pugna-se pela

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respectiva restituição de forma simples e atualizada, por força do artigo 497 e 499 e
parágrafos do Código de Defesa do Consumidor.

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Ainda, caso não seja concedida a tutela de urgência em sede
de cognição sumária – o que se admite apenas em hipótese, e diante do todo argumentado
nestes autos, pugna-se ainda pela antecipação dos efeitos da tutela de evidência, seja
após a contestação, durante o saneamento do feito ou em sentença (art. 1.012, “V” do
CPC), evitando-se com isto eventual efeito suspensivo em decorrência de recurso e
possibilitando o cumprimento imediato do decisum.

Requer, ainda, a condenação das requeridas ao pagamento


das custas processuais e honorários advocatícios a que deu causa.

Por fim, requer, ainda, que esse Douto Juízo, com base no art.
396 do CPC, determine a juntada do contrato pelas requeridas em sede de contestação,
sob pena de incidência do artigo 400 do mesmo diploma legal.

Para provar o alegado, requer a utilização de todos os meios


de prova necessários, em especial o depoimento pessoal dos representantes legais das
requeridas, sob pena de confesso, oitiva de testemunhas, juntada de novos documentos e
a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, com fundamento no artigo 6, inciso VIII, do Código
de Defesa do Consumidor, bem como tudo o mais útil ou necessário ao total esclarecimento
da verdade.

Dá à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Outrossim, requer que as intimações via imprensa oficial


sejam realizadas em nome da Dra. Renata Vilhena Silva, OAB/SP 147.954, sob pena de
nulidade.

Termos em que pede deferimento.

São Paulo, 09 de setembro de 2022.

RENATA VILHENA SILVA


OAB/SP 147.954

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