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GOMES, Wilson – CAP.

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“Negociação Política e Comunicação de Massa”

- Negociação política, ou jogo político, são os procedimentos dedicados à competição entre


as forças presentes na esfera política.Apresentam-se como acordos, articulações, acertos,
barganhas, alianças, retaliações, composições e compensações, de que a esfera política é
pródiga.
- A prática política regular não apenas constitui uma permanente negociação política, como
também assume a forma de uma política de negociação, já que a arena política se constitui
por disputas e concorrências entre as forças, estabelecidas através da negociação.
- A área da pesquisa da comunicação política se dedica mais às teorizações gerais e a
analise dos episódios eleitorais e dos procedimentos políticos do que ao fenômeno político
integralmente. Ao seu esforço está apenas aquela zona da política que se estabelece em
intersecção com a comunicação de massa. A maioria acaba por tecer teorias e hipóteses
hipermidiáticas de interpretação, que não vêem no jogo político senão um espetáculo, além
de possuir fraco poder explicativo do jogo político regular.
- A área da pesquisa da comunicação política: “Prefere estudar as eleições a partir da área de
cobertura jornalística, da propaganda eleitoral ou dos efeitos, na instancia da recepção, dos
materiais expressivos dos jornais ou da televisão do que a partir do jogo de forças de
alianças e barganhas entre os agentes do campo político”.(pág 84, 1º parágr.).
- Para o autor, seria mais razoável que esses pesquisadores da área avançassem suas análises
até os fenômenos da política em que a interface com a comunicação é menos obvia.

1. FORMAS E AGENTES DA LUTA POLITICA

- Do ponto de vista político, a sociedade pode ser vista como duas esferas distintas, porém
integradas:
¬ Esfera Civil: Concernente a todos os cidadãos, ou seja, a todos que possuem os
direitos e deveres dentro da comunidade de leis.
¬ Esfera da Decisão Política: Onde são postos todos aqueles autorizados a realizar a
decisão política e a conduzir o Estado.
- As sociedades modernas organizaram o processo da decisão política através dessas duas
esferas especializadas e com responsabilidades diferentes.
- A esfera civil é detentora da soberania legitima. Sua função é a de autorização daqueles
que realizam a decisão. Sua soberania está no fato de que decide, através de cada eleição, os
indivíduos que participarão da esfera política.
- A esfera política consiste em produzir a decisão política, que pode ser de dois tipos:
¬ Decisão do governo: implementação de programas, usando-se dos recursos do
Estado.
¬ Decisão parlamentar: decisão segundo regras. A decisão torna-se ela mesma uma
nova regra.
- Nos dois tipos de decisão, há um efeito direto sobre o estado da coisa pública.

- Há controvérsias sobre a efetividade do poder da esfera civil. “Na divisão social do


trabalho político, para usar a expressão de Bourdieu, a esfera dos mandantes, mais nobre em
termos ideológicos, tornou-se politicamente a mais passiva, enquanto a esfera dos
mandatários, que do ponto de vista da ideologia democrática é secundaria, tornou-se a mais
ativa e a mais efetiva”.(final de pág. 87)
- Segunda contraposição básica no interior da atividade política: eleições e exercício regular
do poder político.
- Tecnicamente, os cidadãos controlam as funções destinadas à gestão direta do poder
político através das eleições.
- Historicamente, a esfera política não funciona como deveria, como eco e reflexo da
esfera civil, mas gerando programas, discursos e leis de interesse político, em competição,
que a esfera civil consome “apresentando-se ao balcão político para escolher”.

- Terceira contraposição básica: governo e processo parlamentar.


- “O governo se ocupa com a gestão direta da coisa pública e o processo parlamentar se
dedica à produção da deliberação política”.
Governo:
- O governo dispõe dos recursos do Estado (poderes públicos), do mando e do controle
sobre os mandatários que controlam os serviços de Estado e, ainda, do poder simbólico de
quem conduz a coisa pública. Além do poder de conferir poder.
- “No Brasil, há uma extensa esfera de intervenção governamental ao mesmo tempo em que
grande parte dos cargos destinados à prestação de serviço público localiza-se fora do alcance
dos servidores de carreira, funcionando como patrimônio político à disposição do grupo que
governa”.
- Muitos cargos trazem consigo o acesso do Executivo à fazenda pública e o que o controle
de quantidades enormes de recursos significa em termos de poder concreto.
- Esse poder do Executivo de distribuir e controlar cargos é uma das formas com que
indivíduos do Estado transformam a coisa pública em coisa própria.
Parlamento:
- O parlamento dispõe do poder de produzir a decisão política, do poder de constituição do
Estado enquanto ordenamento legal.
- É quem controla o poder sobre o emprego dos recursos públicos objetivados e o poder
sobre a conformação da coisa pública através da decisão política.
- “Trata-se de um colegiado que se orienta de forma competitiva tanto internamente quanto
na relação com quem governa”, pois esse colegiado é composto também por uma oposição
que está permanentemente em competição pelos poderes públicos com aquele que governa.
- O governo precisa contar com a mediação parlamentar para executar seus programas e
projetos.

- A base da política regular é o jogo político estabelecido pelo governo e pelo congresso.
Este jogo é atravessado por várias linhas de força e com muitos agentes ocupando funções
duplas. A primeira é a entre o executivo e o legislativo; a segunda é a que separa governo e
oposição e associa parte do executivo com parte do legislativo. Existem outras em
contraposição, sem lugar constitucionalmente previsto, mas não desprezíveis. (ver fim da
pág. 91).
- O centro real da política é a relação entre governo e oposição.
- O congresso é dividido em um grupo governista e um de oposição. A vitória de um
significa a derrota do outro, de alguma forma. Ambos querem manter ou aumentar seu poder
eleitoral, que é um poder limitado, tendo que tirar do outro.
¬ “Na narrativa mais nobre, diríamos que os dois grupos competem para assegurar
que o seu projeto de Estado se implemente. Uma narrativa mais pragmática vê a
competição como disputa para acumular o máximo de capital político possível, garantindo a
sobrevivência do próprio grupo, como patamar mínimo, e a hegemonia, como objeto de
desejo. Uma narrativa de realismo político diria, enfim, que se trata de uma competição em
que se providencia o próprio sucesso através do fracasso do outro, daí a necessidade de
cuidar para tornar-lhe a vida difícil, criando-se-lhe todos os constrangimentos possíveis”.
- Apesar dessa paridade de forças, o núcleo do poder sobre o Estado é representado pelo
Executivo, cabendo aos parlamentos o poder de refrear ou apoiar seus programas, se
puderem.
- Nesse contexto de disparidade de forças entre o Executivo e o Legislativo, que surgem as
varias formas de mediação entre governo e parlamento. A democracia prevê apenas duas
formas de negociação: a com vistas a composições políticas e o convencimento através das
esferas regulares de disputa argumentativa.Apesar disso, formas ilegítimas também
existem.

2. A NEGOCIAÇÃO POLITICA

- São três as formas de concertamento das forças em disputa:


¬ O Domínio: quando uma das partes acumula tanta força que pode retirar todo
o poder do outro. É a forma mais eficaz de implementação de projetos por parte do grupo
dominante, devido a situação de resistência zero às suas pretensões. Essa forma não é aceita
pelas regras do jogo democrático, que defende que todo político, através da autorização da
soberania popular, mantém o direito que lhe foi dado pela esfera civil, o de intervir na esfera
deliberativa e votar nas assembléias.
¬ O Convencimento Discursivo: Modo mais nobre, em que as pretensões se
convertem em palavras na forma de argumentos, para confrontar-se em discussões com
outros argumentos, com vistas à produção da deliberação política. “O pressuposto é que o
acordo se dê por convencimento”. A desvantagem dessa forma está em ser um
procedimento caso a caso e não uma forma sistemática de distribuição do poder, sendo
adequada para assembléias e ineficaz quando a esfera política se compõe como grupos de
luta pelo poder. Isso porque na primeira busca-se produzir uma decisão política no final,
enquanto na segunda, acumula-se e goza-se do poder político em todas as etapas.
¬ A Negociação: Este modo está sempre de acordo com as conveniências e a
cultura predominante, estabelecendo-se entre a ilegitimidade do domínio e a
inconveniência da argumentação para os grupos políticos dominantes. Pode ser praticado
sozinho ou combinado com o convencimento discursivo. Supõe que as cotas de poder
parlamentar não podem ser canceladas e as admite como preliminar, enquanto procura
formas de controle sistemático da distribuição do poder sobre o Estado e de controle da
produção da decisão política. Suposta essa ineliminabilidade das cotas parlamentar, cada
grupo do jogo procura acumular maior parte das cotas e impedir que seu adversário o faça
primeiro; como essas cotas são bens limitados, vale-se de várias formas de negociação.
Através dela que o governo procura obter a chamada “maioria estável no Congresso”,
ofertando participação no poder de Estado, em troca de restrição da deliberação dos
parlamentares. “Essas negociações comportam o estreitamento da esfera de deliberação
política e a produção de um poder político não deliberante”.
Formas de negociação:

2.1. As Alianças Sistemáticas

- São formas tanto de apoio à elegibilidade e de garantia de governabilidade, quanto


constituídas na intenção de impedir ou dificultar a elegibilidade de um adversário em
comum ou a governabilidade do Executivo.
- O apoio dos lideres de opinião ou das instancias sociais que controlam ou influenciam
os votos.
- Certas alianças em período eleitoral constroem bases para maiorias parlamentares; algumas
alianças posteriores à vitória eleitoral, distribuem acesso ao exercício do poder sobre os
recursos de Estado aos recém-aliados. É por poder distribuir mando político aos que
quiserem ser aliados que o Executivo está sempre em vantagem sobre o parlamento.
- Assim como as alianças geram vantagens por terem sido aprovadas eleitoralmente, podem
criar problemas para a governabilidade. É por isso que no período posterior às eleições,
elas tendem a ser reexaminadas e, algumas, descartadas, por serem importantes para
eleição, mas um problema para a negociação política entre governo e parlamento.
- Alianças:
¬ Ideológicas – Defende que o jogo político se estabelece através de programas,
idéias e visões políticas de mundo semelhantes.
¬ Pragmáticas – Defende que o jogo político se estabelece através de competição e
luta pelo poder político entre forças socialmente dadas. Valores associados à imagem do
parceiro são mais importantes do que visão de mundo.
- O primeiro modelo se dá em sistemas políticos mais amadurecidos, com esfera civil forte e
grupos políticos que disputam em torno de projetos, enquanto o segundo é típico de sistemas
políticos em que o Estado é entendido como particular do grupo que chegou ao poder,
exercendo-o através de, por exemplo, o clientelismo.
- A vitória do PT em 2002 é exemplo clássico de eficácia do segundo modelo.
- “Uma forma de adotar o segundo modelo sem perder as vantagens do primeiro consiste em
um esforço para realizar alianças fazendo crer à população tratar-se de adesões a um
programa”.

2.2. A Barganha

- Nesta forma de negociação, o concorrente mais forte oferece vantagens vinculadas ao


poder executivo, em troca de apoio parlamentar. Normalmente este mais forte é o
governo.
- Essa prática é particularmente eficaz quando:
1 – O parceiro da negociação é um partido ou grupo que realiza política apenas para
favorecer aqueles que integram seu próprio projeto de poder.
2 – Num sistema político um partido possui pouca relevância eleitoral. À medida que o
parlamentar e o público acreditam que a eleição do político se deu por suas próprias forças e
qualidades, o parlamentar sente-se à vontade para mudar sua legenda ou negociar seu voto
diretamente com o governo, conforme suas conveniências e independente das vinculações
institucionais do partido.
- Na realidade, o que o governo oferece ao parlamentar em troca do seu apoio-sem-
deliberação é o mesmo que é oferecido nas alianças sistemáticas. (distribuição de recursos
de Estado e de posições de mando para os dependentes e clientes do parlamentar). A
diferença entre elas (aliança e barganha) está no fato de as alianças buscarem um parceiro
que assuma as responsabilidades do governo, enquanto que a barganha requer
principalmente o voto.
- Serve também para dificultar a vida dos oposicionistas e aliados infiéis, impedindo ou
dificultando o acesso à fazenda e retirando da rede de mando os seus apadrinhados.
- Método fisiológico: nome dado à busca de apoio parlamentar através da distribuição de
posições de mando político ou facilitações de acesso à fazenda pública (recursos de
Estado).
- Comporta risco para o partido que o pratica, pois podem produzir escândalos políticos que
incidem sobre o Executivo.
- Este método satisfaz a vontade de poder dos parlamentares, dos seus partidos e das suas
redes, fortalecendo os núcleos de poder pela agregação da força parlamentar decorrente dos
congressistas favorecidos pelo Executivo. Entrega-se o estado para se fortalecer o
governo.
- O que comporta de eficiência, comporta em risco para os que governam, principalmente
por causa das forças que controlam o campo político, como a vigilância parlamentar das
oposições ou grupos rivais, o Ministério Público e, principalmente, o jornalismo político.
- Um dos principais riscos que comporta é o do escândalo político.
- O jornalismo político e as interações densas entre Ministério Público e imprensa, fazem
emergir o escândalo político. Neste momento é a “vez da oposição fazer a festa”, pois vai
promover retaliações, procurar enfraquecer o governo diante da opinião pública (tanto
pelos jornais quanto pelas CPIs, que serve para alimentar os jornais e produzir péssima
exposição do governo). Durante o escândalo, o governo tentará afastar de si a
responsabilidade, atribuindo-a ao individuo ou ao seu partido, ao mesmo tempo em que
tentará evitar formação das CPIs. (CPI = comissão parlamentar de inquérito).
- Os cargos distribuídos em troca do apoio parlamentar têm seu valor baseado tanto no poder
simbólico que ele agrega (prestigio, valor de exposição negativa, capacidade de agregar
valor à imagem e etc) quanto do orçamento à disposição do titular da pasta e a distribuição
da rede de confiança do agente político que a controla.

3. FATORES QUE INCIDEM SOBRE A POLÍTICA DE NEGOCIAÇÃO

- A negociação política se explica pelo seu sistema imanente, mas fatores transcendentes ao
campo especificamente político, influenciam no seu funcionamento. Esses elementos não
têm a forma do poder político, mas são importantes em suas operações, em grau variável.
- Esses fatores são sociais e econômicos quando atingem os recursos públicos objetivados,
alterando o capital fundamental das negociações políticas. Ex: guerras, crises econômicas,
ataques terroristas, revoluções ou epidemias.
- Os fatores podem também estar relacionado ao público, já que não há política que não leve
a população em conta. Assim, o favor do povo (ou o temor) também se torna um fator com
incidência sobre a pratica política.
- Esses fatores também têm influencia variável no tempo e no espaço.
- Num país que depende dos recursos estrangeiros para fazer funcionar o sistema financeiro
nacional, os governos se tornam muito frágeis diante dos fornecedores de dinheiro. “Sem
dinheiro e sem apoio popular, um governo é menos que nada, porque o próprio Estado que
governa, torna-se muito pouco”.
- As categorias “povo” e “público” já são recursos produzidos pela esfera política para sua
competição interna. Esses recursos entram nos cálculos da política pelo menos de dois
modos: como pressão direta sobre o campo político por meio das manifestações de massas
humanas em espaços públicos ou como pressão indireta através da opinião pública. O
valor das massas é o de transformar fúria em voto, além da “potente impressão do valor do
número”. No caso da opinião publica, há apenas o voto em potencial.
- A pressão das ruas: É usada tanto pela oposição (quando a alternativa parlamentar
de interferência no governo se exclui, transferindo para a mobilização popular as funções de
refreamento e controle do governo), quanto pelo governo, apelando a ela contra uma
oposição majoritária e inexorável, buscando através dos comícios, passeatas e
manifestações, uma espécie de segunda eleição.
- Em sociedades com consensos sociais mais firmados, o mais freqüente é o
aparecimento do “público” através da opinião pública, de tal forma que foi preciso criar um
sistema subsidiário de habilitações, de matrizes de percepções, de planejamentos e de ações
cuja finalidade precípua é ajustar-se à opinião pública predominante. Foi necessária a
criação desse novo sistema tanto devido à aceleração e intensificação da informação política
na esfera civil, tornando a opinião pública (e, logo, do eleitorado) numa verdadeira e
constante preocupação, quanto à presença da esfera de visibilidade pública, controlada pelas
industrias de informação e entretenimento.
3.1. A Eleição Interminável e a Esfera de Visibilidade Pública

- Já houve um tempo em que a esfera civil tomava conhecimento das agendas do governo e
das pautas do Congresso apenas através da imprensa de opinião associada a grupos de
interesse e a partidos políticos ou através da imprensa oficial, que representava o interesse
de quem governava.
- Hoje vivemos em sociedades de fluxo continuo, intenso, acelerado e multidirecional de
informação política. Em lugar da imprensa de opinião e da imprensa oficial, assumem a
industria do entretenimento e o sistema industrial de informação. Agora, devassa-se a
esfera civil, tal qual a vida privada das celebridades.
- Essa alteração é essencialmente de natureza cognitiva. Formou-se um domínio
multivariado, livre, intenso, veloz e de fácil acesso, que funciona como uma grande cena da
qual toda a cidadania pode se tornar espectadora e consumidora, a esfera da visibilidade
pública política.
- O volume de informação é tão grande, que a esfera civil pode reconfigurar a sua
opinião e sua disposição todos os dias. Como opinião e disposição política se transformam
em votos, há uma virtualidade eleitoral constante a assombrar a esfera política. Surge então
a necessidade de saber quais são ela, produzindo, então, estoques de informação política
para consumo interno da esfera política, através dos institutos de sondagem de opinião.
- À medida que se estende o conhecimento da esfera civil sobre a esfera política, seu
poder de autorização também se estende. Sua decisão ganha a mesma extensão dos
mandatos, pois os políticos terão que cortejar a esfera civil seja para ganhar o seu voto ou
para mantê-lo.
- A campanha se confunde com o mandato. A campanha agora é permanente, a eleição é
interminável.
- A esfera da visibilidade pública é a forma com que um agente político ou uma matéria da
pauta política, por ex., podem assegurar o reconhecimento público da sua existência.
- Não estar em cena significa não existir; parecer mau é ser mau para o apreciador do teatro
político cotidiano.

3.2. Os “fatores publicidade”

- “A política em cena é justamente a política que chega ao público, objeto das práticas
que chamamos de política midiática”.
- Dispositivos e possibilidades decorrentes da eleição interminável entram como fator
importante para o calculo de custo-benefício. As composições supõem sempre um delicado
conjunto de cálculos pelos quais se avalia quanta força se tem, o que se precisa ceder e o que
se pode simplesmente tomar. Calcula-se ainda, levando-se em conta o que se tem e se pode
ceder em face do que se quer e se espera obter.

3.2.1 Palcos Políticos e cotas de visibilidade

- O primeiro cálculo custo-benefício nas negociações é a exposição na esfera de visibilidade


publica predominante. Para existir, é preciso passar pela visibilidade midiática.
- Estar à frente do Executivo significa estar sempre presente no cotidiano da sociedade
através da comunicação de massa.
- Cargos como os que têm um maior orçamento ou maior efeito nas prioridades do país,
possuem uma grande cota de visibilidade midiática em posso do governo para a
distribuição durante as negociações e barganhas. “A cota de visibilidade que um desses
cargos comporta constitui uma boa parte do seu poder simbólico (...) é ter a chance de fazer-
se ver e ouvir na esfera pública dominante”.
- As funções parlamentares também possuem a sua cota de visibilidade e está
principalmente associada à sua relação com o governo, mas também para as funções que
representam de forma emblemática o parlamento e o seu jogo – eis uma das razões pelo qual
esses últimos cargos são disputadíssimos.
- Quem exerce os cargos com visibilidade é supostamente detentor de um patrimônio
de credibilidade política, capacidade de liderança, articulação e composição, mas “a
capacidade de relação com a imprensa, carisma midiático e boa capacidade de gestão da
própria imagem e condução da opinião publica tornam-se requisitos fundamentar
para o papel”.
- O “tempo de rádio e TV” é destinado a garantir um tipo de presença da política na esfera
de visibilidade pública controlado pela própria política, longe dos agentes das indústrias de
entretenimento e informação. A base de calculo dessa cota é, atualmente, o tamanho das
bancadas dos partidos nos dias das posses parlamentares na Câmara e no Senado Federal.
- A busca pelo acréscimo das cotas se dá em duas grandes lutas:
- Entre as eleições e a posse dos parlamentares: durante pouco mais de 60 dias,
parlamentares se deslocam dos partidos nos quais foram eleitos para outros conforme sua
conveniência.
- Em torno da perspectiva de manutenção ou acréscimo de cotas de exibição na
propaganda eleitoral: importante fator no cálculo custo-benefício de alianças interpartidárias
que se formam para as eleições; partidos com grandes cotas são cortejados, enquanto
aqueles com cotas minúsculas serão sócios minoritários com pequeno poder de barganha.

3.2.2. Risco de exposição negativa

- Há visibilidades desejáveis e outras indesejáveis.


- O cálculo em cima do risco da exposição negativa no interior das negociações se justifica
por duas razões:
- Reserva de segredos: Articulação é uma arte de reservas. Produzir visibilidade
àquilo que seja vantajoso que seja visível e recobrir com reserva o que for conveniente.
Nesse jogo de forças a exposição negativa do outro pode ser o principio de uma nova
composição política.
- Agentes externos: agentes externos ao campo político, que partem da idéia de
vigilância da esfera política e de vinculo com o interesse público, como é o caso do
jornalismo político.
- O jornalismo investigativo é um perigoso adversário do segredo na esfera política e
um potencial sabotador das iniciativas de administração da reserva-exibição dos agentes
políticos.
- Há um crescente risco de exposição negativa com a presença do jornalismo investigativo,
além da interação dos adversários políticos com a imprensa na relação repórter-fonte. Esse
risco é sempre levado em conta na equação de custo e beneficio.
- Governo invisível: “idéia de que o Estado estaria sob o domínio de sujeitos não
autorizados”, que estariam de fato governando. Esse é um dos grandes fantasmas a
assombrar a democracia.
- “Os negociadores passam a levar em conta o potencial de exibição negativa que elas
comportam e a resguardar-se de correr demasiados riscos de aparecer mal na esfera de
visibilidade pública”.

3.2.3. Apoio Popular


- “Se a visibilidade é um meio, a popularidade e a impopularidade são o objeto de desejo
ou temor dos agentes do campo político em tempos de eleição interminável e comparecem
largamente na base do calculo custo-benefício do fato e das possibilidades de negociação”.
Esses são fatores importantes na luta pelos cargos e alianças, pois representam um “cacife”
na rejeição ou imposição de um político no seu meio. “Da averiguação de tais índices
decorre a noção empregada pelo campo político de ‘viabilidade eleitoral’”.
- É uma das bases de cálculo nas relações entre oposição e governo. Quanto maior o índice
de apoio popular que o governo tem, maior será a sua força na negociação com a
oposição, às vezes até eliminando a negociação, pois um governo extremamente popular
estabelece ao redor de si uma “blingadem” que permite que ceda o mínimo possível para
obter o que quer do Congresso.
- No quesito apoio popular, o governo parte sempre em vantagem diante da oposição,
pois é escolha majoritária da esfera civil. A oposição foi levada a essa posição devido à
derrota.
- Os governos estão sempre construindo bases de apoio tão fortes quanto puderem,
para se precaver para períodos ruins, já que os índices de popularidade tendem a modificar-
se.
- Na produção da decisão política, tanto governo quanto oposição têm dificuldades para se
opor a uma matéria com forte apoio popular ou de apoiar alguma com grande rejeição, “não
havendo aliança ou acordo que possa tranqüilamente impor decisão impopular”.
- Esse fator é tanto mais importante quanto maior for a proximidade das eleições.
- O governo tem a seu favor grande quantidade de verbas publicitárias, que em geral são
usadas para fazer publicidade favorável a quem governa e não como deveria, do governo em
si. À oposição resta ocupar os cargos de grande visibilidade (que o governo tenta ocupar
o quanto antes) e de conseguir o apoio dos “príncipes da opinião do jornalismo político”.

3.2.4. Imagem

- A imagem publica é também levada em conta nos cálculos que orientam as negociações
políticas e é fator inibidor ou reforçador das composições políticas.
- Os políticos apresentam-se na esfera de discrição da política de negociação como
articuladores, traficantes do poder, negociadores, enquanto na esfera publica é um “conjunto
de discursos, de apresentações visuais de atos, de configurações plásticas ou sonoras que
serão decodificados pelo público como representações, opiniões, disposições afetivas, como
imagem, enfim”.
- A constante possibilidade de que seus atos reservados possam ser levados à público, faz
com que os políticos tenham bastante cautela, levando sempre em conta como seus atos
repercutiriam se levados à esfera política pelos agentes da comunicação de massa, antes de
fazê-los.
- 1ª Cautela: predominantemente negativa; aumentam o controle sob os sigilos (o
que é arriscado, pelo fato de a política ser uma arte competitiva) e evitam envolver-se em
acertos cuja publicação produziria certamente efeitos negativos. A consideração dos
riscos não impede que negociações impublicáveis se estabeleçam.
- O calculo de custo-benefício em que a exposição é levada em conta, faz com que se
evitem certas alianças públicas e se busquem outras com sujeitos de boa imagem pública.
- Existem pessoas na política sem grande cacife eleitoral para um cargo, mas que sua
imagem é tão positiva que vale a pena se aliar. Em detrimento, há outras que devem ser
evitadas aparecer em público, por mais que sejam importante para governar. Imagem x
cacife eleitoral.
- “Quanto mais visibilidade possuir o mandatário, maior a sua vinculação, em termos de
imagem, ao Chefe do Executivo”.

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