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“Negociação Política e Comunicação de Massa”
- Do ponto de vista político, a sociedade pode ser vista como duas esferas distintas, porém
integradas:
¬ Esfera Civil: Concernente a todos os cidadãos, ou seja, a todos que possuem os
direitos e deveres dentro da comunidade de leis.
¬ Esfera da Decisão Política: Onde são postos todos aqueles autorizados a realizar a
decisão política e a conduzir o Estado.
- As sociedades modernas organizaram o processo da decisão política através dessas duas
esferas especializadas e com responsabilidades diferentes.
- A esfera civil é detentora da soberania legitima. Sua função é a de autorização daqueles
que realizam a decisão. Sua soberania está no fato de que decide, através de cada eleição, os
indivíduos que participarão da esfera política.
- A esfera política consiste em produzir a decisão política, que pode ser de dois tipos:
¬ Decisão do governo: implementação de programas, usando-se dos recursos do
Estado.
¬ Decisão parlamentar: decisão segundo regras. A decisão torna-se ela mesma uma
nova regra.
- Nos dois tipos de decisão, há um efeito direto sobre o estado da coisa pública.
- A base da política regular é o jogo político estabelecido pelo governo e pelo congresso.
Este jogo é atravessado por várias linhas de força e com muitos agentes ocupando funções
duplas. A primeira é a entre o executivo e o legislativo; a segunda é a que separa governo e
oposição e associa parte do executivo com parte do legislativo. Existem outras em
contraposição, sem lugar constitucionalmente previsto, mas não desprezíveis. (ver fim da
pág. 91).
- O centro real da política é a relação entre governo e oposição.
- O congresso é dividido em um grupo governista e um de oposição. A vitória de um
significa a derrota do outro, de alguma forma. Ambos querem manter ou aumentar seu poder
eleitoral, que é um poder limitado, tendo que tirar do outro.
¬ “Na narrativa mais nobre, diríamos que os dois grupos competem para assegurar
que o seu projeto de Estado se implemente. Uma narrativa mais pragmática vê a
competição como disputa para acumular o máximo de capital político possível, garantindo a
sobrevivência do próprio grupo, como patamar mínimo, e a hegemonia, como objeto de
desejo. Uma narrativa de realismo político diria, enfim, que se trata de uma competição em
que se providencia o próprio sucesso através do fracasso do outro, daí a necessidade de
cuidar para tornar-lhe a vida difícil, criando-se-lhe todos os constrangimentos possíveis”.
- Apesar dessa paridade de forças, o núcleo do poder sobre o Estado é representado pelo
Executivo, cabendo aos parlamentos o poder de refrear ou apoiar seus programas, se
puderem.
- Nesse contexto de disparidade de forças entre o Executivo e o Legislativo, que surgem as
varias formas de mediação entre governo e parlamento. A democracia prevê apenas duas
formas de negociação: a com vistas a composições políticas e o convencimento através das
esferas regulares de disputa argumentativa.Apesar disso, formas ilegítimas também
existem.
2. A NEGOCIAÇÃO POLITICA
2.2. A Barganha
- A negociação política se explica pelo seu sistema imanente, mas fatores transcendentes ao
campo especificamente político, influenciam no seu funcionamento. Esses elementos não
têm a forma do poder político, mas são importantes em suas operações, em grau variável.
- Esses fatores são sociais e econômicos quando atingem os recursos públicos objetivados,
alterando o capital fundamental das negociações políticas. Ex: guerras, crises econômicas,
ataques terroristas, revoluções ou epidemias.
- Os fatores podem também estar relacionado ao público, já que não há política que não leve
a população em conta. Assim, o favor do povo (ou o temor) também se torna um fator com
incidência sobre a pratica política.
- Esses fatores também têm influencia variável no tempo e no espaço.
- Num país que depende dos recursos estrangeiros para fazer funcionar o sistema financeiro
nacional, os governos se tornam muito frágeis diante dos fornecedores de dinheiro. “Sem
dinheiro e sem apoio popular, um governo é menos que nada, porque o próprio Estado que
governa, torna-se muito pouco”.
- As categorias “povo” e “público” já são recursos produzidos pela esfera política para sua
competição interna. Esses recursos entram nos cálculos da política pelo menos de dois
modos: como pressão direta sobre o campo político por meio das manifestações de massas
humanas em espaços públicos ou como pressão indireta através da opinião pública. O
valor das massas é o de transformar fúria em voto, além da “potente impressão do valor do
número”. No caso da opinião publica, há apenas o voto em potencial.
- A pressão das ruas: É usada tanto pela oposição (quando a alternativa parlamentar
de interferência no governo se exclui, transferindo para a mobilização popular as funções de
refreamento e controle do governo), quanto pelo governo, apelando a ela contra uma
oposição majoritária e inexorável, buscando através dos comícios, passeatas e
manifestações, uma espécie de segunda eleição.
- Em sociedades com consensos sociais mais firmados, o mais freqüente é o
aparecimento do “público” através da opinião pública, de tal forma que foi preciso criar um
sistema subsidiário de habilitações, de matrizes de percepções, de planejamentos e de ações
cuja finalidade precípua é ajustar-se à opinião pública predominante. Foi necessária a
criação desse novo sistema tanto devido à aceleração e intensificação da informação política
na esfera civil, tornando a opinião pública (e, logo, do eleitorado) numa verdadeira e
constante preocupação, quanto à presença da esfera de visibilidade pública, controlada pelas
industrias de informação e entretenimento.
3.1. A Eleição Interminável e a Esfera de Visibilidade Pública
- Já houve um tempo em que a esfera civil tomava conhecimento das agendas do governo e
das pautas do Congresso apenas através da imprensa de opinião associada a grupos de
interesse e a partidos políticos ou através da imprensa oficial, que representava o interesse
de quem governava.
- Hoje vivemos em sociedades de fluxo continuo, intenso, acelerado e multidirecional de
informação política. Em lugar da imprensa de opinião e da imprensa oficial, assumem a
industria do entretenimento e o sistema industrial de informação. Agora, devassa-se a
esfera civil, tal qual a vida privada das celebridades.
- Essa alteração é essencialmente de natureza cognitiva. Formou-se um domínio
multivariado, livre, intenso, veloz e de fácil acesso, que funciona como uma grande cena da
qual toda a cidadania pode se tornar espectadora e consumidora, a esfera da visibilidade
pública política.
- O volume de informação é tão grande, que a esfera civil pode reconfigurar a sua
opinião e sua disposição todos os dias. Como opinião e disposição política se transformam
em votos, há uma virtualidade eleitoral constante a assombrar a esfera política. Surge então
a necessidade de saber quais são ela, produzindo, então, estoques de informação política
para consumo interno da esfera política, através dos institutos de sondagem de opinião.
- À medida que se estende o conhecimento da esfera civil sobre a esfera política, seu
poder de autorização também se estende. Sua decisão ganha a mesma extensão dos
mandatos, pois os políticos terão que cortejar a esfera civil seja para ganhar o seu voto ou
para mantê-lo.
- A campanha se confunde com o mandato. A campanha agora é permanente, a eleição é
interminável.
- A esfera da visibilidade pública é a forma com que um agente político ou uma matéria da
pauta política, por ex., podem assegurar o reconhecimento público da sua existência.
- Não estar em cena significa não existir; parecer mau é ser mau para o apreciador do teatro
político cotidiano.
- “A política em cena é justamente a política que chega ao público, objeto das práticas
que chamamos de política midiática”.
- Dispositivos e possibilidades decorrentes da eleição interminável entram como fator
importante para o calculo de custo-benefício. As composições supõem sempre um delicado
conjunto de cálculos pelos quais se avalia quanta força se tem, o que se precisa ceder e o que
se pode simplesmente tomar. Calcula-se ainda, levando-se em conta o que se tem e se pode
ceder em face do que se quer e se espera obter.
3.2.4. Imagem
- A imagem publica é também levada em conta nos cálculos que orientam as negociações
políticas e é fator inibidor ou reforçador das composições políticas.
- Os políticos apresentam-se na esfera de discrição da política de negociação como
articuladores, traficantes do poder, negociadores, enquanto na esfera publica é um “conjunto
de discursos, de apresentações visuais de atos, de configurações plásticas ou sonoras que
serão decodificados pelo público como representações, opiniões, disposições afetivas, como
imagem, enfim”.
- A constante possibilidade de que seus atos reservados possam ser levados à público, faz
com que os políticos tenham bastante cautela, levando sempre em conta como seus atos
repercutiriam se levados à esfera política pelos agentes da comunicação de massa, antes de
fazê-los.
- 1ª Cautela: predominantemente negativa; aumentam o controle sob os sigilos (o
que é arriscado, pelo fato de a política ser uma arte competitiva) e evitam envolver-se em
acertos cuja publicação produziria certamente efeitos negativos. A consideração dos
riscos não impede que negociações impublicáveis se estabeleçam.
- O calculo de custo-benefício em que a exposição é levada em conta, faz com que se
evitem certas alianças públicas e se busquem outras com sujeitos de boa imagem pública.
- Existem pessoas na política sem grande cacife eleitoral para um cargo, mas que sua
imagem é tão positiva que vale a pena se aliar. Em detrimento, há outras que devem ser
evitadas aparecer em público, por mais que sejam importante para governar. Imagem x
cacife eleitoral.
- “Quanto mais visibilidade possuir o mandatário, maior a sua vinculação, em termos de
imagem, ao Chefe do Executivo”.