Você está na página 1de 19

Representações renascen-

tistas e góticas na tragé-


dia moderna: uma análise de
A História Trágica do Dou-
tor Fausto, de Christopher
Marlowe

Resumo >

Christopher Marlowe escreveu A História Trá-


gica do Doutor Fausto para o teatro renascentista
André Luis Gomes

inglês, utilizando-se de noções próprias da tragédia


Fábio Ramos Paz

moderna, além de adicionar elementos sobrenaturais


à sua obra. A presença de componentes fantásticos na
peça de Marlowe representa aflições da sociedade re-
nascentista, sendo algo capaz de suscitar o medo em
seus apreciadores, um sentimento intrínseco ao Góti-
co.

Palavras-chave:
Renascimento. Tragédia. Gótico.
Representações renascentistas e góticas na
tragédia moderna: uma análise de A História
Trágica do Doutor Fausto, de Christopher
Marlowe

Fábio Ramos Paz1


André Luis Gomes2

Introdução: O renascimento inglês em


¹ Mestrando em Literatu-
ra pelo Programa de Pós- meio a elementos góticos
-graduação em Literatura
(Póslit) da Universidade de
O movimento denominado “Renascimen-
Brasília (UnB). Graduado to” surgiu na Itália do século XIV. A partir
em Letras - Inglês e Litera-
turas de Língua Inglesa pela do momento em que o ser humano começou
Universidade Católica de a explorar melhor o mundo ao seu redor (SI-
Brasília (UCB). Email: fabio-
ramospaz@gmail.com. CHEL, 1977), as ideias teocentristas da Idade
Professor Associado do
Média passaram a dar espaço ao pensamen-
2

Departamento de Teoria Li-


terária e Literaturas (TEL). to “humanista”, no qual o homem olha para
Credenciado no Programa
de Pós-Graduação em Li- si com o auxílio de maiores reflexões acerca
teratura (PósLIT) e PRO- da natureza e dos elementos que a compõem
FARTES - UnB. Doutor em
Literatura pela FFLCH- USP. (CADEMARTORI, 1997). Com isso, é per-
Pós-doutorado na Universi-
tè Rennes 2. Autor do livro
ceptível que o Renascimento foi o momento
Clarice em Cena: as relações
entre Clarice Lispector e o
Teatro. Email: andrelg.unb@
gmail.com.
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

em que o homem utilizou sua cri- juntamente ao livre arbítrio, eram


ticidade e explorou a consciência contra os valores bíblicos (NAS-
do próprio eu (SICHEL, 1977). CIMENTO, 2006). A partir das
Na Inglaterra, a chegada do ideias de Lutero surgiu uma nova
Renascimento ocorreu no século vertente do Cristianismo, o Protes-
XVI e coincidiu com o advento da tantismo, estendido à Inglaterra ao
Reforma Protestante iniciada na ser adotado pelo rei Henrique VIII.
Alemanha. Em território inglês, a A contextualização do renas-
necessidade do pensamento huma- cimento inglês é importante para
nista era mais forte do que uma nova situar historicamente (e cultural-
visão das artes (GREENBLATT; mente) o momento em que Chris-
LOGAN, 2006, p. 488). O desenvol- topher Marlowe apresentou A His-
vimento do intelecto humano e do tória Trágica do Doutor Fausto ao
olhar sobre o próprio “Eu” era algo público, algo que ocorreu ao longo
apreciado e discutido entre os de- do reino de Elizabeth I e tornou-
fensores dos ideais renascentistas. -se um marco do teatro elisabetano.
Ao mesmo tempo em que a Além de ser importante para
Inglaterra aceitava o humanismo uma melhor compreensão do tea-
renascentista, ela passou por mu- tro renascentista, Doutor Fausto
danças provenientes da Reforma é referência nos estudos da lite-
Protestante iniciada por Martinho ratura Gótica por apresentar ele-
Lutero (1483-1546). Ao opor-se mentos característicos do horror,
ao pagamento de indulgências de- como demônios e pactos satanistas.
mandadas pela Igreja Católica e à A exploração de tais componentes
necessidade de intermediação da está além da simples suscitação do
palavra de Deus por algo/alguém medo, uma vez que cada um desses
que não fosse a Bíblia (VÉDRINE, mecanismos possui uma represen-
1971), Lutero iniciou um processo tação de cunho social, político ou
de reforma que propunha o fim de psicológico dentro de cada obra.
tais preceitos impostos pelo Cris- Neste trabalho, mostraremos como
tianismo e a liberdade de pensa- a obra de Christopher Marlowe
mento dos fiéis (sem a necessidade está associada aos acontecimentos
de controle do Clero). Em Servo da Inglaterra do século XVI e, ain-
Arbítrio (1525) Lutero discute da assim, relaciona-se ao fantásti-
acerca dos humanismos pregados co e propõe ao Gótico uma obra-
pelo Renascimento e como eles, -chave nos estudos do grotesco.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 217
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

1. A História Trágica do por seus atos (MARLOWE, 2006).


Doutor Fausto, de Christopher Ao escrever Doutor Fausto
Marlowe: adaptação e a busca do para o teatro inglês, Marlowe não
conhecimento criou a imagem de Fausto, mas
No século XVI, Christopher adaptou uma estória já conheci-
Marlowe (1564-1593) escreveu a da do folclore alemão à peça tea-
peça A História Trágica do Dou- tral, adicionando alguns elemen-
tor Fausto para os palcos do teatro tos, mas mantendo a essência do
elisabetano. Em sua obra, o autor Doutor (VILLA, 2006). A ideia da
expõe a estória de um homem cha- existência de um homem chamado
mado Fausto, um médico com sede Jorge Fausto na Alemanha con-
de conhecimento, mas que não con- temporânea de Lutero fez com que
segue as informações que necessita o protestante desenvolvesse uma
através dos livros dispostos ao al- certa “obsessão” pela história: ao
cance humano. Com isso, ele recor- condenar as práticas de Fausto e
re à necromancia e invoca a presen- utilizá-las como pretexto educati-
ça do demônio Mefistófeles, o qual vo aos fiéis do século XVI, Lutero
o acompanhará por vinte e quatro impulsionou a estória de Fausto a
anos em suas ações e o auxiliará na diferentes níveis, tornando-a mais
busca pelo conhecimento tão dese- popular (WATT, 1996). Com isso,
jado. Mesmo que o acordo pareça é possível identificar a forma como
atrativo, ele tem uma complicação: as histórias acerca de Jorge Faus-
após os vinte e quatro anos, Fausto to e a narrativa de Marlowe con-
terá a sua alma tomada pelo Dia- tribuíram para a educação cristã.
bo. Ao aceitar os termos de troca, Além do seu viés educacional,
Fausto vive durante esse tempo a obra de Marlowe representa as
adquirindo todo o conhecimento preocupações da sociedade renas-
que deseja e até mesmo aprontan- centista através da exploração de
do “travessuras” junto aos pode- temas como religião, ocultismo e
res de Mefistófeles, mas também expansão territorial, sendo todas
passa por diversos momentos de elas conectadas à busca de conheci-
arrependimento ao pensar em sua mento. Tais elementos são, também,
traição perante o Deus cristão. Ao explorados pelo horror literário. O
fim, Fausto é levado ao inferno Gótico é mutável e relaciona-se ao
pelo Diabo, e pronuncia suas últi- contexto histórico de suas obras
mas palavras de arrependimento através de elementos repulsivos.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 218
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

Esse tipo de texto possui o medo MEFISTÓFELES: Sou um servo do grande


Lúcifer
como objeto-chave e é encontrado Não te posso seguir sem que
até mesmo no teatro elisabetano, el’ permita,
Nem devemos fazer mais do
como poderá ser analisado a seguir. que ordene.
FAUSTO: Mas não foi ele quem te
mandou vir cá?
1.1. DOUTRO FAUSTO: MEFISTÓFELES: Não. Por minha vontade
vim apenas (MARLOWE, 2006, p. 53).
liberdade e arrependimento
Na obra de Marlowe, há
A liberdade de Mefistófeles
diversas referências às preocupações
ao visitar Fausto sem a permissão
renascentistas do século XVI. O
de Lúcifer, mas ainda assim deixar
Coro diz “Indulgência e aplauso
claro que é apenas um servo,
vos pedimos” (MARLOWE, 2006,
faz com que a obra exponha as
p. 35), e aqui é possível identificar
discussões da Reforma entre
conexões entre a obra e a Reforma
Martinho Lutero e Erasmo de
Protestante de Lutero, uma vez
Roterdã. Até mesmo o livre
que ele lutava contra o pagamento
arbítrio de Fausto é questionado,
de indulgências à Igreja Católica
quando Wagner, criado do Doutor,
(VÉDRINE, 1971).
defende a liberdade de seu mestre
Lutero não era a favor da
perante as práticas ocultas. “Pois
noção de que o homem é um ser
não é ele um corpus naturale? E um
dotado de livre arbítrio. Em Livre
corpus naturale não é um mobile?”
Arbítrio, Erasmo de Roterdã (1466-
(MARLOWE, 2006, p.48).
1536) expõe e defende a vontade
Há também referências
humana de realizar suas próprias
“diretas” aos ensinamentos da
vontades (NASCIMENTO, 2006).
Igreja Anglicana ao longo da obra
Em Doutor Fausto, Marlowe
de Marlowe. O autor deixa claro
mostra a junção do livre arbítrio à
o afastamento de Fausto da nova
total obediência ao divino (temas
vertente religiosa logo no início
fortes nos Renascimentos Alemão e
da peça. “Só me rumina a mente
Inglês), mas sem a figura do Deus
em nigromancia3 […] Confundi
cristão e, sim, com a imagem de um
os pastores da nova igreja, E fiz
demônio:
de Wertenberg os mais sagazes”
(MARLOWE, 2006, p. 42).
Para realizar a conjuração de

3
Necromancia

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 219
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

demônios, Fausto realiza um ritual contemporaneidade, assim como


necromântico. A necromancia na Inglaterra renascentista, está
consiste na ideia de que humanos conectada a uma escolha do ser
conseguem conhecimento do humano por um conhecimento
mundo espiritual através de humanamente inacessível. O
conversas com espíritos dos pacto de Fausto é referência para
mortos, sendo necromante a pessoa o Gótico não apenas por seu viés
que consegue informações acerca sobrenatural, mas por mostrar
do futuro através de feitiçaria até onde vai a curiosidade do ser
(MORRISON, 1873). Como ação humano perante o estranho e o
da ironia, Fausto até mesmo diz que grotesco.
“livros de necromancia são divinos” A relação que Fausto
(MARLOWE, 2006, p. 39) logo apresenta com Mefistófeles
após afirmar como o pecado leva à e Lúcifer é, de certa forma,
morte eterna. Tal contraponto pode retomada no teatro brasileiro em
ser visto como uma das diversas Macário, de Álvares de Azevedo
vezes em que o humano expressa (1988). Fausto é visto como um
dúvidas em relação aos seus desejos personagem questionador, dotado
e à condenação divina. de perguntas não apenas sobre o
A ideia de que é possível que pode acometer o sobrenatural,
invocar demônios por meio de mas também a sua vida terrena.
rituais é bastante explorada pelo Na obra de Azevedo, Macário, um
Gótico literário. A conversa com estudante na casa dos vinte anos
os mortos na literatura sofreu de idade, encontra Satã em uma
alterações desde a escrita de Doutor estalagem e inicia suas reflexões
Fausto e tornou-se popular no sobre a vida, a poesia, o amor e o
horror contemporâneo através da sexo. Assim como Fausto, Macário
inserção do “tabuleiro Ouija4” nas aproveita a presença do demônio
narrativas. Em O Exorcista, William para ser guiado a diferentes
Peter Blatty (2013) apresenta a caminhos de pensamento e obter
estória de uma garota de 12 anos respostas que não conseguiria sem
chamada Regan, que é possuída por o auxílio sobrenatural. A procura
um demônio após ter experiências de Macário por Satã é até mesmo
com a tábua Ouija. A forma como expressa a partir de referência à
a necromancia é representada na obra de Marlowe: “O diabo! Uma
4
Objeto conhecido por ser utilizado para a comunicação com espíritos (MELTON, 2008).

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 220
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

boa fortuna! Há dez anos que eu Segundo Borges (2015, p. 9), “o


ando para encontrar esse patife! arrependimento define-se como uma
Desta vez agarrei-o pela cauda! emoção negativa, sentida quando
A maior desgraça deste mundo consideramos (de forma realista
é ser Fausto sem Mefistófeles” ou não) que a nossa situação atual
(AZEVEDO, 1988, p. 15). poderia ser melhor, se tivéssemos
Além de Mefistófeles, outros optado por uma decisão diferente”
demônios aparecem ao longo da (BORGES, 2015, p. 9). Fausto
peça de Marlowe, e na Cena V é passa por constantes momentos
perceptível como o pecado e suas de dúvidas e eventualmente sente
consequências eram presentes na arrependimento ao pensar em
Inglaterra renascentista. Lúcifer sua condenação ao Inferno. Ao
mostra a Fausto os Sete Pecados fim da peça, ao ser levado por
Mortais e entretém o Doutor com Lúcifer após os vinte e quatro anos
a magia. “Fausto, nós viemos do de conhecimento ininterrupto,
Inferno trazer-te um divertimento. Fausto diz “Fecha-te, Inferno!
Senta-te, que vais ver aparecer os Lúcifer, não venhas!/ Eu queimo os
Sete Pecados Mortais tais quais livros… ah… ah!... Mefistófeles!...”
são” (MARLOWE, 2006, p. 75). (MARLOWE, 2006, p. 120).
Aqui, cada pecado é representado A má-resolução e a
por um demônio diferente5. impossibilidade de solução de
De forma mais atenuada, conflitos são características
também aparecem, ao longo da facilmente encontradas no Gótico
obra de Marlowe, o Anjo Bom e (BRUHM, 2002). No horror,
o Anjo Mau. Eles representam a a narrativa está direcionada à
confusão mental vivenciada por catástrofe, o que dá aos textos
Fausto perante suas práticas para o uma perspectiva trágica até as
alcance do conhecimento desejado. suas linhas finais. Em Doutor
O homem renascentista passava Fausto, as opiniões conflitantes
por constantes reflexões acerca do dos anjos Bom e Mau dão à obra
“certo” e do “errado”, e o pecado o enfrentamento interno dotado
sempre obteve destaque nos estudos de futuro arrependimento, como
cristãos, junto ao arrependimento. acontece, principalmente, em obras
5
Esse recurso foi também utilizado por Raphael Montes no romance O Vilarejo (2015), em que cada pecado além de estar
relacionado a um demônio também tem seu nome exposto. Na obra de Montes, Belzebu, Leviathan, Lúcifer, Asmodeus,
Belphegor, Mammon e Satan representam, respectivamente, a gula, a inveja, a soberba, a luxúria, a preguiça, a ganância e
a ira.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 221
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

do Gótico contemporâneo. Em O arrependimento: ele tem medo de


Iluminado, de Stephen King (2014), seu futuro e pensa bastante no que
o personagem Jack Torrance é fez no passado para que chegasse a
frequentemente atormentado tal situação (a condenação), sendo
por “fantasmas” mentais que que todos os seus questionamentos
possuem opiniões divergentes são regidos pela oposição Céu/
e o confundem nas tomadas de Inferno. O arrependimento é uma
decisões acerca do que fazer com emoção capaz de ligar o emocional
sua família enquanto estão no hotel ao cognitivo, enquanto junta as
Overlook. Assim como ocorre com noções de passado, presente e futuro
Fausto, Jack Torrance recorre às em ações específicas (LANDMAN,
decisões que rumam a danação, o 2014).
que resulta em um fim similar ao Mesmo com momentos
do médico necromante: enquanto cômicos, A História Trágica
esse último é arrastado ao fogo de Doutor Fausto apresenta o
do inferno, Torrance é queimado arrependimento através do viés
pelo fogo da caldeira presente no trágico, explorando-o como uma
Overlook. Os anjos Bom e Mau emoção negativa:
sofreram alterações ao longo dos
[...] na experiência cômica do arrependimen-
anos na forma como são mostrados, to a má fortuna, os erros, as falhas, e as trans-
mas, ainda assim, continuam gressões são resolvidas no fim [...] A partir
da perspectiva trágica, arrependimentos são
representando uma importante irremediáveis por serem imprevisíveis, inevi-
característica da literatura de táveis, e catastróficos6 (LANDMAN, 2014, p.
246, tradução nossa7).
horror: a tormenta (ECKFORD;
HARPER; SMITH, 2008). O arrependimento de Faus-
De acordo com Daniela to é completamente catastrófico
Borges (2015), o arrependimento é e o leva ao pior castigo imagina-
instaurado tanto por culpa de ações do pela sociedade cristã (a conde-
passadas ou daquelas que visam nação ao inferno), sendo algo que,
consequências futuras. Em Fausto, por estar inserido em um contexto
é clara a forma como o Doutor está trágico, não seria passivo de mu-
em um grande confronto interno dança em direção à boa fortuna.
por sentir as duas formas de Levando em consideração que o
6
“[…] for the comic experience of regret is one in which misfortune, mistakes, shortcomings, and transgressions are
assumed to come out all right in the end. […] From within the tragic perspective, regrets are irremediable as they are un-
foreseeable, inevitable, and catastrophic”.
7
Neste trabalho, todas as traduções do inglês para o português e do espanhol para o português são de nossa autoria.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 222
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

Gótico (principalmente sua ver- Do que a magia alcança, tenta o máximo!


(MARLOWE, 2006, p. 51)
tente contemporânea) é dotado
de elementos passíveis de análise
Ao pensar que, no Gótico, os
psicológica (BRUHM, 2002), o ar-
demônios são representações de
rependimento é um tema comum
ansiedades sociais, então é possí-
nos textos do horror, geralmente
vel conectar a invocação de Mefis-
representado por fantasmas co-
tófeles às preocupações do homem
nectados a figuras do passado dos
renascentista inglês. A procura
personagens. Na verdade, o Góti-
pelo conhecimento era assunto re-
co está completamente conectado
corrente no Renascimento, prin-
às preocupações e consequências
cipalmente em meio a uma socie-
das ações de grupos sociais onde
dade que estava passando pelas
os textos são escritos, incluindo o
questões religiosas da Reforma.
arrependimento e a culpa. “O Gó-
tico sempre foi um barómetro das O fato da obra ser difundida em um período
ansiedades afligindo uma certa cul- no qual apologias eram feitas a um pensa-
mento individualista nascente, possivelmente
tura em um momento particular da fez com que a permanência da crítica impin-
gida pela Instituição religiosa à história de
história” (BRUHM, 2002, p. 260)8. Fausto – a de que por desejar o conhecimento
limitado ele havia pactuado com o demônio
–, se transformasse na perspectiva de que Sa-
1.2. O oculto em Doutor Fausto tanás era “amigo íntimo” de todos os homens
No Renascimento, práticas que manifestavam o desejo de desenvolver
seu intelecto e o livre pensamento (NERY,
ocultistas estavam conectadas ao 2012, p. 58).
poder que as pessoas davam ao
imaginário humano, essas que viam 2. Marlowe e a tragédia moderna
o mundo como um espaço dota- De acordo com Aristóteles
do de poderes ocultos (RIFFARD, (2016), as ações da tragédia deve-
1996). Ao invocar Mefistófeles, riam representar acontecimentos
Fausto traz à obra um demônio, e de um período de vinte e quatro
o demoníaco está completamen- horas ou da duração total do espe-
te conectado às representações táculo. Na tragédia moderna, tal
realizadas pela literatura gótica: ideia é posta de lado, já que então
as peças têm maior flexibilidade
Começa, Fausto, os teus encantamentos, quanto ao tempo e espaço represen-
E vê se diabos vêm ao teu apelo,
Que oblações lhes fizeste e oraste. tados (WILLIAMS, 2002). Em A
[…] História Trágica do Doutor Faus-

8
“The gothic has always been a barometer of the anxieties plaguing a certain culture at a particular moment in history”.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 223
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

to, Marlowe apresenta uma peça lhança Aristotélica.


que apresenta acontecimentos que Na tragédia, tanto na mo-
terminam após vinte e quatro anos, derna quanto na clássica, há ênfase
além de todos eles ocorrerem em sobre o mal. Ao longo de Doutor
diversas localidades (casa de Faus- Fausto, Marlowe expõe o mal tan-
to, bosque, Vaticano), e não apenas to nas ações “cômicas” de Fausto
em uma região. (as brincadeiras do doutor no Vati-
É possível perceber que a cano, por exemplo) quanto na pró-
obra de Marlowe é trágica não ape- pria figura de Lúcifer como inimi-
nas por ter tal palavra em seu títu- go do Deus cristão. Como afirma
lo, mas por seguir noções próprias Raymond Williams (2002), o mal
do teatro trágico moderno. Goethe “é usual na tragédia, em muitas
(1749-1832), que em 1808 publi- formas específicas e variadas: vin-
cou sua versão de Fausto, acredita- gança, ambição, orgulho, frieza, lu-
va que “a dialética trágica mostra- xúria, inveja, desobediência ou re-
-se no próprio homem” (SZONDI, beldia” (p. 85). Fausto é conhecido
2004, p. 49). Assim, não seriam ne- por sua ambição, sua constante ne-
cessárias cenas carregadas de mor- cessidade de ter mais conhecimen-
tes para que a obra fosse considera- to que o humanamente alcançável,
da trágica. Aqui, a tragicidade está e isso o leva a rebelar-se perante os
na mente do herói trágico, e não preceitos religiosos e a desobede-
necessariamente nos acontecimen- cer aos mandamentos cristãos.
tos físicos. Além disso, muitas das O mal é elemento presente
concepções de Goethe acerca do nos textos góticos, e sua relação
trágico estão intimamente conec- com Doutor Fausto é clara, mas
tadas às suas experiências pessoais, não está limitada à simples exposi-
logo, uma ponte entre realidade e ção da maldade. A fixação de Faus-
ficção é realizada em suas obras, o to pelo “conhecimento proibido” e
que pode até mesmo ser inferido pela necromancia podem ser ana-
acerca de Marlowe. De acordo com lisados pelo horror contemporâ-
Villa (2006), muitos acreditavam neo junto a preceitos freudianos. A
que Marlowe estava envolvido com luta dos impulsos do inconsciente
práticas ocultistas, o que é forte- contra a racionalidade conscien-
mente explorado em sua tragédia, te é observada nos vilões góticos
e isso o aproxima tanto da tragici- (BRUHM, 2002), uma ideia que
dade de Goethe como à verossimi- contribui para uma breve análise de

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 224
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

Fausto. A maldade do doutor está putação e fortuna, como Édipo e Tiestes ou


outros insignes representantes de famílias
mais associada a impulsos pela bus- ilustres (ARISTÓTELES, 2016, p. 102).
ca do conhecimento do que pela cer-
teza de que o caminho traçado não De acordo com Aristóteles
é recomendável. Ao longo da obra, (2016), “‘peripécia’ é a mutação dos
é possível identificar os momentos sucessos ao contrário” (p. 100). A
de arrependimento de Fausto como peripécia de Fausto é materializa-
uma volta à racionalidade, mas que da com a chegada de Lúcifer para
são facilmente sobrepostos pelo levá-lo ao inferno, e é possível in-
inconsciente, o que resulta no mal terpretar os constantes momen-
exercido pelo personagem. tos de arrependimento do doutor
Além do foco na maldade, como prelúdios à tragédia, à con-
Doutor Fausto possui outras co- denação, sendo esta total conse-
nexões ao drama aristotélico. De quência de sua ambição sem medi-
acordo com Aristóteles (2016), a das. “A desmesura de sua fantasia
tragédia em sua melhor forma tra- acaba o consumindo e a sagacida-
balharia com homens nem bons de- de do mundo desmorona-se em
mais ou maus ao extremo, mas os confusão”11 (BRAVO, 2006, p. 40).
que se encontram “no meio”, pas- O trágico de A História Trá-
sando por infortúnios consequentes gica do Doutor Fausto, ao situar-se
de algum erro. “A trágica metabolé9 em meio ao Renascimento inglês,
é causada por uma harmatia10” (HI- representa as preocupações daquele
RATA, 2008, p. 86). Fausto é jus- período, e a exploração das tensões
tamente o homem “intermediário” contemporâneas é característica
descrito por Aristóteles: o mal que do trágico moderno (WILLIAMS,
cai sobre o doutor é consequência 2002, p. 69). Além disso, ao traba-
de um erro, um pacto sem conse- lhar com a tragédia, Marlowe segue
quências a terceiros, o que o leva à a ideia de que a morte é fato “irre-
danação. parável” e necessário (WILLIAMS,
2002, p. 81). Fausto, ao ser leva-
Resta, portanto, a situação intermediária. É a do ao inferno por Lúcifer, tenta
do homem que não se distingue muito pela
virtude e pela justiça; se cai no infortúnio, tal clamar pelo Deus cristão e expor
acontece, não porque seja vil e malvado, mas seu arrependimento, mas ainda as-
por força de algum erro; e esse homem há de
ser algum daqueles que gozam de grande re- sim é “derrotado” pela impossibi-
9
Mudança.
10
Erro.
11
“La desmesura de su fantasía acaba por consumirlo y la sagacidad del mundo se desmorona en confusión”.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 225
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

lidade de fugir do próprio destino. medo no personagem, o que é típi-


Aqui, a morte de Fausto é co do Gótico. Aqui, a morte não é
tanto física (infere-se que a ida ao mais um rito de passagem há muito
inferno seja um movimento pós- questionado, mas a certeza de que
-morte) quanto simbólica, sendo haverá relações com uma ameaça
esta última a representação de “se- maléfica, o que dá a um objeto já
paração, ausência, exílio, sacrifí- conhecido seu status Uncanny. O
cio, castigo, modificação” (LIMA, estranho é comum no Gótico (ca-
2001), Fausto morre ao separar- sas “banais” que se tornam assom-
-se das leis cristãs, ao sacrificar sua bradas, animais dóceis que assu-
alma pelo conhecimento desmedi- mem personalidades selvagens), e a
do e ao ser castigado por Lúcifer12. partir de uma nova visão da morte
Em The Uncanny13, Freud ele se insere na peça de Marlowe.
(1919) apresenta análises essen-
ciais para melhor interpretação de 3. O medo gótico em Doutor
textos góticos a partir do estudo do Fausto
grotesco. Na obra, o autor diz que Em A História Trágica do
o ser humano sente aversão peran- Doutor Fausto, é clara a forma
te o desconhecido, o estranho, e é como elementos característicos
possível dizer que esse movimento da literatura de horror são explo-
é realizado em todo o texto de Dou- rados. No romance gótico14, como
tor Fausto. De acordo com Freud, afirma Botting (2002), é comum a
a morte é uma ideia em constante presença de demônios para a repre-
posição de estranhamento (1919), sentação de preocupações humanas
e o uncanny representa algo que maiores, como feito por Marlowe.
sempre esteve presente, mas que foi Na verdade, elementos como de-
“repaginado” de forma a tornar-se mônios e fantasmas estão conecta-
desconhecido. A morte sempre ha- dos a ansiedades sociais, e o Góti-
via sido apresentada a Fausto, afinal, co junta a ficção à reflexão perante
ele sabia que seu pacto terminaria e temas sérios. Em Doutor Fausto, a
ele teria que dar a própria alma a exposição das aflições do homem
Satanás, mas a forma como a morte renascentista torna-se conectada
teve sua imagem alterada provocou ao sobrenatural literário, realizan-
12
Aqui, a noção de “castigo” pode ser discutida, uma vez que Fausto estava ciente de seu destino ao realizar o pacto.
13
“O estranho”.
14
O Gótico também está presente em textos que vieram antes da primeira obra “oficialmente” considerada gótica: O Cas-
telo de Otranto (1764), de Horace Walpole.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 226
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

do a junção entre a ficção e a histó- salões de magia negra, e isso pode


ria inglesa. até mesmo contribuir para a fácil
Não apenas a inserção de identificação da ação dos três níveis
demônios na narrativa, mas tam- do medo defendidos por King.
bém a figura de Fausto é própria O gênero Gótico trabalha
do gênero Gótico. Assim como em com o medo, “uma emoção básica,
Frankenstein Mary Shelley (2017) não só no sujeito, mas em diferen-
utilizou a figura do cientista Vic- tes formas da vida, aproximando-se
tor Frankenstein, e Robert Louis de uma reação biológica comum15“
Stevenson (2015) apresentou Dr. (SANTOS, 2003, p. 49). De acordo
Jekyll em O Médico e o Monstro, com Dozier Jr (1999), o medo é a
Marlowe inseriu o “erudito” em sua mais antiga emoção humana (tam-
obra, sendo a figura do homem das bém encontrada nos animais), sen-
ciências algo recorrente na litera- do que ela não está limitada ao re-
tura de horror. King (2013) defen- ceio à dor física, mas também está
de que “a ficção de terror não tem relacionada ao ato de evitar a injú-
necessariamente de ser não cientí- ria mental.
fica” (p.33), e afirma que diversas Stephen King (2013) diz que a
obras literárias realizam a junção literatura de horror utiliza três ele-
do Gótico à ciência. mentos na narrativa para despertar
Quanto ao local em que Faus- o medo no leitor: o Terror, o Hor-
to realiza suas ações, já é perceptível ror e a Repulsa. O primeiro é pro-
a noção de espacialidade proposta vocado pelas entrelinhas da obra,
pelo Gótico contemporâneo. Como ou seja, pela ideia de que há algo
definido por Botting (1996), o am- que o/a autor/a não está deixando
biente “estereotipado” das estórias claro, causando suspense. O Hor-
góticas adaptaram-se a contextos ror, por outro lado, é a certeza de
mais realistas. Os encantamentos que há algo errado, mas conectado
de Fausto, as aparições de Mefis- à materialidade do acontecimento,
tófeles e as ações das personagens como a presença de barulhos desco-
ocorrem em locais “comuns”, como nhecidos ou de monstros. Por fim,
em um bosque ou em uma casa. a Repulsa é a exploração de atroci-
Marlowe, mesmo que no século dades e a exposição de momentos
XVI, não limitou as “estórias de de- com injúrias físicas, como a descri-
mônios” a velhas criptas e obscuros ção de fraturas expostas e de atos
15
Grifo da autora.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 227
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

sanguinários. Em Doutor Fausto, forma de Repulsa na obra, Fausto


já que a trama acontece em locais corta o próprio braço para que o
mais “reais”, é facilitada a identi- “contrato” entre ele e o demoníaco
ficação de elementos anormais. O seja firmado: “Meu braço corto e
criado de Fausto, Wagner, ao falar com meu próprio sangue/ Prome-
da futura morte de seu mestre, cau- to a alma ao grande Lúcifer […]
sa suspense e incertezas no leitor/ Vê gotejar o sangue do meu braço”
público, uma vez que os apreciado- (MARLOWE, 2006, p. 65). A con-
res da obra ainda podem possuir templação da injúria física compõe
dúvidas sobre o fim do médico: a Repulsa, e dessa forma Marlowe
reforça o desconforto do público/
Creio, julga o meu mestre morrer em breve,
Porque tudo me deu, que possuía. leitor perante o horrendo.
Porém, se a morte assim ’stivesse perto, Em Doutor Fausto, é per-
Não estaria a comer, julgo, a rir,
E a beber co’ os amigos, como agora, ceptível a presença do medo não
Pois com tal glutonice a ceia atacam, apenas em sua análise através dos
Como Wagner não viu em toda a vida. (MAR-
LOWE, 2006, p. 105) preceitos do Gótico, mas também
nas reflexões da personagem Faus-
Já o “horror” em Doutor Faus- to. O estado do medo leva os seres
to é identificado em todas as cenas humanos a cometerem diversas
com Mefistófeles, uma vez que ele atrocidades (crimes e guerras, por
representa a criatura maléfica e, exemplo), e está sempre relacio-
além disso, causa estranhamento nado a algo (KRISHNAMURTI,
material em um ambiente comum, 1995), como um objeto ao qual ele
como no bosque em que o demônio está direcionado. Dentro da obra
é invocado. Fausto inclusive diz a de Marlowe, o medo de Fausto está
Mefistófeles “que horrendo está de- conectado ao arrependimento e re-
mais para me servir” (MARLOWE, ceio de ir ao Inferno, justamente o
2006, p.52), o que até mesmo pode que ocorre ao final da peça.
ser uma conexão entre o Horror e
a Repulsa, já que esta última é deri- 4. Considerações finais
vada do desconforto perante cenas Escrita no Renascimento in-
grotescas, e a imagem “macabra” glês, A História Trágica do Doutor
do demônio pode ser objeto do sen- Fausto possui elementos da tragé-
timento de repugnância, ainda que dia moderna, e isso a torna passível
mortes violentas e mutilações não de análise pelos estudos teatrais,
sejam descritas. Como mais uma opondo-se em diversos pontos à

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 228
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

tragédia clássica e apresentando fendidos por King para que o medo


ideias que a torna referência na seja suscitado no Gótico.
quebra de várias noções aristotéli- É perceptível como a peça
cas. Mesmo assim, Doutor Fausto renascentista de Marlowe está co-
possui conexões à Poética, de Aris- nectada aos preceitos da literatura
tóteles, uma vez que as noções de gótica, e isso torna a obra passível
hamartia e peripécia podem ser fa- de análise não apenas pelos estu-
cilmente encontradas na peça. No dos do teatro elisabetano e dos ide-
texto de Marlowe, o herói trágico ais teatrais do Renascimento, mas
assume as novas características da também pelas pesquisas focadas em
tragédia contemporânea e não tem literatura gótica, expondo como o
seu sofrimento exposto em injúrias medo e os elementos sobrenaturais
físicas, mas em constantes confli- estão presentes em obras anteriores
tos psicológicos. O enfrentamento ao século XVIII. Com isso, é possí-
entre o bem e o mau na mente de vel aumentar não apenas a linha do
Fausto e a forma como ele está ca- tempo abarcada pelos estudos gó-
minhando para o inevitável (a mor- ticos, mas também as possibilida-
te) reforça como a obra pode ser des de interpretação do trabalho de
considerada referência nos estudos Marlowe.
teatrais modernos, tanto por sua
poeticidade e representações como
pela quebra com a Poética clássica.
Em A História Trágica do
Doutor Fausto, Marlowe insere
as ansiedades da sociedade renas-
centista em um texto facilmente
reconhecido como “literatura de
horror”. A invocação do demônio
Mefistófeles e o incessante desejo
por conhecimento de Fausto são
formas de representar o homem re-
nascentista através do teatro elisa-
betano. Além disso, o pavor é ins-
taurado no leitor/público a partir
da exploração do Terror, do Horror
e da Repulsa, níveis narrativos de-

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 229
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

referências

ARISTÓTELES. Poética. Tradução, prefácio, introdução, comentário e apêndi-


ces de Eudoro de Sousa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 2016.

AZEVEDO, Álvares de. Macário. 3.ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000022.
pdf>. Acesso em: 05 ago. 2019.

BLATTY, William Peter. O Exorcista. Rio de Janeiro: Agir, 2013.

BORGES, Daniela. Personalidade, arrependimento e perturbação psicológica: es-


tudo preliminar em estudantes. 117f. Dissertação (Mestrado em medicina) – Fa-
culdade de Medicina, Universidade de Coimbra, 2015. Disponível em: <https://
estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/30872/1/Tese%20Daniela%20Borges%20
final.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2018.

BOTTING, Fred. Aftergothic: consumption, machines, and black holes. In: HO-
GLE, Jerrold E. The Cambridge Companion to Gothic Fiction. New York: Cam-
bridge University Press, 2002.

BOTTING, Fred. Gothic. Londres: Routledge, 1996.

BRUHM, Steven. The Contemporary Gothic: why we need it. In.: HOGLE, Jer-
rold E.. The Cambridge Companion to Gothic Fiction. New York: Cambridge
University Press, 2002.

BRAVO, Ana. Introducción. In: MARLOWE, Christopher. La Trágica Historia


del Doctor Fausto. Buenos Aires: Biblos, 2006.

CADEMARTORI, Lígia. Períodos Literários. São Paulo: Editora Ática, 1997.

DOZIER JR, Rush W. Fear Itself: The origin and nature of the powerful emotion
that shapes our lives and our world. New York: St. Martin’s Press, 1999.

ECKFORD, Collin; HARPER, Caroline; SMITH, Gary. Text for Scotland: Buil-
ding Excellence in Language S1. Portsmouth: Heinemann, 2008.

FREUD, Sigmund. The Uncanny. 1919. Disponível em: <https://web.mit.edu/


allanmc/www/freud1.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2018.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 230
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

GREENBLATT, Stephen; LOGAN, George M. The Sixteenth Century. In: GRE-


ENBLATT, Stephen; ABRAMS, Meyer Howard. The Norton Anthology of En-
glish Literature. Ninth Edition, vol. 1. London: WW Norton & Company, 2006.

HIRATA, Filomena Yoshie. A Hamartia Aristotélica e a Tragédia Grega. ANAIS


DE FILOSOFIA CLÁSSICA, [s. l.], vol. 2, nº 3, p. 83-96, 2008. Disponível em:
<http://www.afc.ifcs.ufrj.br/2008/FILOMENA.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2018.

KING, Stephen. Dança Macabra. Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2013.

______. O Iluminado. Rio de Janeiro: Suma, 2014.

KRISHNAMURTI. Sobre o Medo. São Paulo: Cultrix, 1995.

LANDMAN, Janet. Through a Glass Darkly: Worldviews, Conterfactual Thought


and Emotion. In: OLSON, James M.; ROESE, Neal J.. What Might Have Been:
The Social Psychology of Counterfactual Thinking. New York & London: Psycho-
logy Press, 2014.

LIMA, Marinalva Vilar de. Da Morte Natural e da Morte Simbólica. Um estudo


sobre os amantes na “literatura de folhetos”. Proj. História, São Paulo, v. 23, p.
459-270, nov 2001. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/
article/view/10681/7936>. Acesso em: 23 mar. 2018.

MARLOWE, Christopher. A História Trágica do Doutor Fausto. São Paulo: He-


dra, 2006.

MELTON, J. Gordon. The Encyclopedia of Religious Phenomena. Detroit: Visi-


ble Ink, 2008.

MONTES, Raphael. O Vilarejo. Rio de Janeiro: Suma de Letras, 2015.

MORRISON, A. B. Spiritualism and Necromancy. Nova York: Nelson and


Phillips, 1873.

NASCIMENTO, Sidnei Francisco do. Erasmo e Lutero: O livre arbítrio da von-


tade humana. Revista de Filosofia Aurora, [S.l.], v. 18, n. 23, p. 89-103, maio
2006. Disponível em: <https://periodicos.pucpr.br/index.php/aurora/article/
view/8600/8279>. Acesso em: 25 mar. 2018.

NERY, Antonio Augusto. Primórdios do mito Fáustico: o Faustbuch e o Fausto


de Christopher Marlowe. In.: MAGALHÃES, Antonio Carlos de Melo et al. O
demoníaco na literatura. Campina Grande: EDUEPB, 2012.

RIFFARD, Pierre A. O Esoterismo. São Paulo: Mandarim, 1996.

SANTOS, Luciana Oliveira dos. O Medo Contemporâneo: Abordando suas Di-


ferentes Dimensões. Psicologia ciência e profissão, Brasília, v.23, n.2, p. 48-55,
jun. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n2/v23n2a08.pdf>.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 231
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

Acesso em: 04 abr. 2018.

SHELLEY, Mary. Frankenstein. Rio de Janeiro: Darkside, 2017.

SICHEL, Edith. O Renascimento. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.

STEVENSON, Robert Louis. O médico e o monstro. Rio de Janeiro: Penguin,


2015.

SZONDI, Peter. Ensaio sobre o trágico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

VÉDRINE, Hélene. As Filosofias do Renascimento. Porto: Publicações Europa-


-América, 1971.

VILLA, Dirceu. A Trágica História de Vida e Morte do Doutor Fausto. In: MAR-
LOWE, Christopher. A história trágica do Doutor Fausto. São Paulo: Hedra,
2006.

WATT, Ian. Myths of Modern Individualism: Faust, Don Quixote, Don Juan,
Robinson Crusoe. Cambridge: Cambridge University Press, 1996.

WILLIAMS, Raymond. Tragédia Moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 232
doi: 10.20396/pita.v9i2.8654542

Abstract

Christopher Marlowe wrote The Tragical Histpry of Doctor Faustus for the English Re-
naissance theatre using the own notions of the modern tragedy, besides adding superna-
tural elements to his work. The presence of fantastic features on Marlowe’s play represents
afflictions of the Renaissance society, something that is capable of arousing fear on its
fonds, a feeling intrinsic to the Gothic.

Keywords

Renaissance. Tragedy. Gothic.

Pitágoras 500, Campinas, SP, v. 9, n.2, [17], p. 215 - 233, jul. - dez. 2019 233

Você também pode gostar