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Após ter passado por uma revisão em 2011, quando foi criado o Programa de Melhoria do

Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) com o objetivo de poder certificar e


avaliar a qualidade das práticas da Atenção Básica (AB) no plano já existente (GIOVANELLA;
MENDONÇA, 2012), foi realizada uma nova revisão em setembro de 2017. Ela surgiu sob
pretextos de redistribuição do financiamento da saúde, em meados de 2016, e sua aprovação
acompanhou um contexto de tendências autoritárias e incentivo à privatização no cenário
político da época (FONSECA; LIMA; MOROSINI, 2018). Foram limitadas as políticas sociais
numa tentativa de desmonte do SUS estruturada pelos poderes públicos, a fim de fazer da
saúde um produto, acontecendo, assim, um sucateamento dos serviços públicos, além de uma
tentativa de dificultar cada vez mais seu acesso, visando afastar a população de tais serviços e
privilegiar o setor privado.

Desta forma, a revisão apresenta-se como uma ameaça aos conceitos de integralidade e
universalidade intrínsecos à proposta do SUS, além de conter propostas que podem influenciar
na perda da qualidade e eficácia das ações realizadas. A prova disso é a forma como o discurso
construído no texto da PNAB 2017 é ambíguo, relativizado e passível de distorção. A cobertura
universal, por exemplo, aparece restrita a certas áreas, e a quantidade de profissionais
envolvidos também pode acontecer de forma mais flexível e fica a critério do gestor de cada
equipe de AB e Saúde da Família (FONSECA; LIMA; MOROSINI, 2018). O que por um lado pode
parecer bom de um ponto financeiro, mas também pode resultar no distanciamento dos
profissionais da equipe e outros aspectos que diminuem a eficácia do serviço prestado à
população. Outro exemplo de sua ambiguidade é o fato de priorizar a Estratégia de Saúde da
Família, mas logo depois dizer que também são permitidas outras estratégias, de acordo com a
especificidade de cada localidade.

Basicamente, o texto se utiliza de questões variáveis como a localidade e flexibilidade para


poder dar mais liberdade aos gestores e, assim, prejudica a ideia de universalidade e,
consequentemente, integralidade, que deveria estar sendo preservada para garantir o acesso
da população de forma plena e eficaz. Embora não seja o que vejamos atualmente, os
princípios do SUS deveriam ser inegociáveis, principalmente em detrimento de questões
econômicas. É necessário que eles orientem todas as políticas e ações a serem implementadas,
visto que a partir disso será possível priorizar a saúde, não como um bem a ser adquirido, mas
como um direito a ser acessado.

FONSECA, A. F.; LIMA, L. D.; MOROSINI, M. V. G. C. Política Nacional de Atenção Básica 2017:
retrocessos e riscos para o Sistema Único de Saúde. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 42, n.
116, p. 11-24, jan-mar 2018.

GIOVANELLA, L.; MENDONÇA, M. H. M. Atenção Primária à Saúde. Políticas e sistemas de


saúde no Brasil [online]. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2012, p. 493-545.

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