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Psicologia Comunitária

10º período
Professora Suzi Brum
Alunas:
Francielle Lopes
Francimara Oliveira
Gabriela Torres
Karollaynne Miranda
Marízia Bessa
Stela Hübner
Gênero, sexualidade e educação:
Interseccionalidades
Dayane N. Conceição de Assis

Unidade 3: o que é lugar de fala?

Pode um subalterno falar?


Gayatri Chakravorty Spivaky
Lugar de fala

• A origem desta expressão ainda é muito imprecisa, não há um autor ao certo


que foi o primeiro a utilizá-la, mas é uma ideia que começa a partir do texto
de Gayatri Spivak
• É também um termo muito utilizado nas teorias raciais críticas
(principalmente nas latinas)
• Lugar identitário dos subalternos (qual o papel de autonomia dos povos que
sofrem opressão?)
Locus Sociais

• Quem pode falar em uma sociedade patriarcal?

• O que falar?

• Por que ou por quem falar?


Gayatri Chakravorty Spivak

• Indiana, porém atualmente mora nos Estados


Unidos.
• Nasceu em 24 de fevereiro de 1942.
• Crítica e teórica conhecida por seu artigo “Pode
um subalterno falar?”, que virou livro depois de
várias publicações de seu artigo.
• Utiliza principalmente dos autores Focault e
Deleuze para debater relações de poder e
subalternidade.
Gayatri Chakravorty Spivak

• Intelectuais e pessoas com status social tem mais “voz”.


• Grupos que não podem falar, ou quando falam são invalidados.
• Relação de protagonismo, que se relaciona à teoria de lugar de fala.
• O perigo de dar voz somente a uma história, invisibiliza todos que
fizeram/fazem parte desta história.
Lugar de Fala

• Entendemos como verdade absoluta o que é divulgado pela mídia, por


países mais desenvolvidos e pessoas com grande influência e status de
poder. Automaticamente nos tornamos influenciáveis e vulneráveis.

• Sociedade que marginaliza qualquer grupo e/ou minoria que vão contra os
padrões na qual é baseada.
Lugar de Fala

• A reivindicação por lugares de fala nunca foi fácil;

• Os sujeitos são agentes de sua própria luta;

• O lugar de fala dos grupos sociais considerados minoritários não anula a


fala dos grupos hegemônicos.
Lugar de Fala x Lugar de Escuta

• Não basta dar lugar de fala a esses indivíduos, precisamos escutá-los;

• A escuta se torna necessária pois precisamos romper com a surdez na qual


estamos imersos;

• Romper com a surdez, no caso dos lugares de escuta, não significa não
sentir medo, significa assumir um compromisso diário de aprender a escutar,
compreender e respeitar a fala do outro, mesmo com medo de “perder”
nossas crenças.
Lugar de fala e a luta das mulheres negras
• O conceito de lugar de fala ajuda a evidenciar a importância de dar voz às
mulheres negras em questões que as afetam diretamente.

• O lugar de fala refere-se à posição social, histórica e cultural de um


indivíduo, que influencia sua capacidade de falar e ser ouvido em
determinados contextos.

• Interseccionalidade e a Experiência das Mulheres Negras.


• As mulheres negras enfrentam opressões interseccionais, combinando
formas de discriminação racial e de gênero, resultando em desafios
específicos que não podem ser reduzidos a apenas uma dimensão.

• O lugar de fala também desempenha um papel crucial no movimento


feminista como um todo, desafiando a visão hegemônica e privilegiada de
feminilidade e construindo um movimento mais inclusivo e representativo.
• Autenticidade e Autoridade: O lugar de fala reconhece a autenticidade e a
autoridade das mulheres negras para falarem sobre suas próprias vidas e
realidades.

• Posicionamento Social: As mulheres negras, ao falarem de suas próprias


experiências, trazem uma perspectiva única que desafia narrativas
dominantes.

• Diálogo e Empoderamento: O lugar de fala não exclui o diálogo entre


diferentes posições sociais, mas busca garantir que as vozes marginalizadas
sejam ouvidas e levadas em consideração.
O perigo de uma história
única
Chimamanda Ngozi Adiche
Tradução de Júlia Romeu
Chimamanda Ngozi Adiche Ngozi Adiche

• Nascida em Enugu, Nigeria em 1977


• Quinta filha de 6 irmãos
• Filha de pai professor de estatística e mãe sendo a primeira mulher a ocupar
o cargo de registrar na mesma instituição
• Mudou-se para os EUA aos 19 anos para estudar, se formou em
comunicação e ciências politicas;
• Mestre em escrita criativa, publicou diversas obras como: Hibisco roxo,
Como educar crianças feministas, O perigo de uma historia única, entre
tantos outros importantes.
Lugar de fala e o perigo de uma história única

• A fronteira de quem é a autora a partir de seu currículo breve de


historicidade;
• Quais outros caminhos não ditos atravessam quem ela é/está no mundo?
• O que sua obra vem incitar, provocar sobre essas questões?
• O lugar de onde se apresenta e o lugar de onde o outro apresenta é o
mesmo lugar?
• É assim que se cria uma história única: mostre um povo como uma coisa,
uma coisa só, sem parar, e é isso que esse povo se torna.
• Insistir só nas histórias negativas é simplificar minha experiência e não olhar
para as muitas outras histórias que me formaram.
• A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é
que sejam mentira, mas que são incompletos.
• A consequência da história única é esta: ela rouba a dignidade das pessoas.
Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum. Enfatiza
como somos diferentes, e não como somos parecidos.
• “Eu gostaria de terminar com esta ideia: quando rejeitamos a história única,
quando percebemos que nunca existe uma história única sobre lugar
nenhum, reavemos uma espécie de paraíso”
“ As histórias importam. Muitas historias importam. As
histórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também
podem ser usadas para emponderar e humanizar. Elas
podem despedaçar a dignidade de um povo mas também
podem reparar essa dignidade despedaçada.”
Carla Akotirene
• Carla Akotirene é uma militante, pesquisadora, autora e
colunista no tema feminismo negro no Brasil. Carla é
professora na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e
frequentemente citada pela sua investigação sobre
interseccionalidade.

• Apresenta uma criticidade política que visa compreender a


fluidez das identidades subalternas impostas pela matriz
colonial moderna, agrupando conceitos como: racismo,
feminismo, capitalismo, imperialismo, xenofobia, terrorismo
religioso, capacitismo e luta por direitos LGBTQIA+.

“Uma vez no fluxo das estruturas,


• A interseccionalidade estimula o pensamento complexo e o dinamismo identitário produz
criativo, possibilitando uma melhor articulação entre as novas formas de viver, pensar e
pautas identitárias, e produzindo novas formas de resistir sentir, podendo ficar subsumidas a
contra as engrenagens do racismo cisheteropatriarcal certas identidades insurgentes,
capitalista. ressignificadas pelas opressões.”
• Qual a relação entre interseccionalidade e lugar de fala?

• De que modo a matriz de opressão europeia tenta mudar a


narrativa interseccional?

• Como a interseccionalidade pode ser útil para entender as


linhas tênues entre racismo e outros tipos de discriminação?

• O que significa dizer que a interseccionalidade está


desinteressada nas diferenças identitárias?

• É possível existir uma hierarquia entre os eixos de opressão?


• Sojourner Truth – E eu não sou uma mulher? (1851)
• Frances Beal – Manifesto das Mulheres Negras; Risco em Dobro: Ser Negra e Mulher
(1969)
• bell hooks – E eu não sou uma mulher? (1981)
• Audre Lorde – Não existe hierarquia de opressão (1983)
• Patricia Hill Collins – Pensamento Feminista Negro (1990) / Interseccionalidade (2016)
“Como negra, lésbica, feminista, socialista, poeta, mãe de duas crianças — incluindo um
menino — e membro de um casal interracial, com frequência me vejo parte de algum
grupo no qual a maioria me define como devassa, difícil, inferior ou apenas “errada”.
Dentro da comunidade lésbica eu sou negra, e dentro da comunidade negra eu sou
lésbica. Qualquer ataque contra pessoas negras é uma questão lésbica e gay, porque eu
e milhares de outras mulheres negras somos parte da comunidade lésbica. Qualquer
ataque contra lésbicas e gays é uma questão de negros, porque milhares de lésbicas e
gays são negros. Não existe hierarquia de opressão.
Eu não posso me dar ao luxo de lutar por uma forma de opressão apenas. Não posso me
permitir acreditar que ser livre de intolerância é um direito de um grupo particular. E eu não
posso tomar a liberdade de escolher entre as frentes nas quais devo batalhar contra essas
forças de discriminação, onde quer que elas apareçam para me destruir. E quando elas
aparecem para me destruir, não demorará muito a aparecerem para destruir você.”
.
Djamila Ribeiro
• Filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira. É
pesquisadora e mestra em Filosofia Política pela
Universidade Federal de São Paulo. Tornou-se conhecida no
país por seu ativismo na Internet e principal atuante no
movimento feminista e antirracista
• Defende que a noção de lugar de fala pode ser bem
compreendida a partir da noção de ponto de vista e se
caracteriza por relacionar grupos sociais a discursos,
expressando o modo de ser
• A teoria do ponto de vista caracteriza-se por:
- são lugares a partir dos quais os seres humanos veem o “O falar não se restringe
mundo ao ato de emitir palavras,
mas a poder existir”
- influenciam como as pessoas que o adotam constroem o (RIBEIRO, 2019, p. 64)
mundo
- diferenças entre grupos sociais criam diferenças entre os
seus pontos de vista
- são parciais, de modo que coexistem com outros pontos
de vista
• Brasil: maior população negra fora da África

• Romper silêncios

• Pontos de vista podem ser variados

• Expor as vozes que precisam ser ouvidas

• Quantos silêncios foram impostos?

• O regime de autorização discursiva impede que os outros tenham o


mesmo direto à voz. Não no sentido de emitir palavras, mas no de existir.
• Novembro 2021
- A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado
- A cada 2 horas uma mulher é assassinada
- A cada 11 minutos uma mulher é estuprada
- A cada 5 minutos uma mulher é agredida

• Março 2023

- A cada 2 minutos uma mulher é estuprada (822 mil/ano)

- A cada 35 minutos uma mulher é agredida (18,6 mil/ano)

- A cada 6 horas uma mulher (gênero) é assassinada (1,4 mil/ano)


Referências
ADICHE, C. N. O Perigo de uma história única. Tradução de Júlia Romeu. São Paulo. SP: Companhia das Letras, 2009.
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019. (Feminismos Plurais / coordenação de
Djamila Ribeiro)
ASSIS, Dayane N. Conceição de. Interseccionalidades. - Salvador: UFBA, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências;
Superintendência de Educação a Distância, 2019 (p. 41 - 50).
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento Feminista Negro: Conhecimento, Consciência e a Política do Empoderamento. Duke
University Press, 2009.
COLLINS, Patricia Hill. Interseccionalidade como uma Teoria Social Crítica. Duke University Press, 2019.
COSTA, A. C. R. Interseccionalidade e lugar de fala: uma articulação lógico-operatória com base no conceito de mundo
estratificado setorial. Revista de Filosofia da PUCRS. Veritas, Porto Alegre, v. 67, n. 1, p. 1-23, jan.-dez. 2022e-ISSN:
1984-6746 | ISSN-L: 0042. https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/veritas/article/view/39787/27608. Visitado em
07/05/2023.
GORJON, Melina Garcia; MEZZARI, Danielly Christina de Souza & BASOLI, Laura Pampana (2019). Ensaiandolugares de
escuta: diálogos entre a psicologia e o conceito de lugar de fala. Quaderns de Psicologia, 21(1), e1455.
http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1455
MOMBAÇA, Jota (2017a). Notas estratégicas quanto aos usos políticos do conceito de lugar de fala. [Entrada de
blog]. Disponível em: http://www.buala.org/pt/corpo/notasestrategicas-quanto-aos-usos-politicos-doconceito-de-lugar-de-
fala
SPIVAK, G. C. Pode um subalterno falar? Belo Horizonte. Editora UFMG, 2010.

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