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Economia Portuguesa:

1974 - 1985

Panorama mundial

• 1972 – caso Watergate nos EUA


• 1973 – 1º choque petrolífero
• 1975 – fim da Guerra do Vietname
• 1979 – 2º choque petrolífero
• 1979 – eleição da conservadora Margaret Thatcher
no Reino Unido (redução da intervenção do Estado)
• 1980 – eleição de Ronald Reagan no EUA (redução
da intervenção do Estado – liberalismo)
• 1980’s – Crise da dívida da América Latina
• 1982 – Crise da dívida do México
• 1986 – queda significativa do preço do petróleo

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Panorama mundial

Fim do período dourado do crescimento pós-guerra


motivado pelo forte aumento da procura mundial e por
vários desenvolvimentos tecnológicos (aviação comercial,
telecomunicações, espacial, etc.)
Entrada num período de críse pronunciada com
estagflação – aumento pronunciado da inflação
acompanhado pelo aumento do desemprego.
Perda de poder político dos EUA entre 1972 e 1976 –
saída do Vietname e caso Watergate
Emergência de governos com ideologias liberais a
promover a lógica de mercado na década de 80 (EUA e
UK).

Portugal (contexto)

• Economia assente:
• Mercado colonial (comércio internacional e
remessas)
• Fraco poder sindical
• Boa conjuntura internacional (forte crescimento
mundial no Pós-Guerra)
• Forte dependência do petróleo
• Agricultura com grande peso, sendo pouco
competitiva.
• Crescente abertura ao exterior
• Aumento do défice comercial
• Forte crescimento do sector industrial

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Estruturação da economia

• Perda de peso da agricultura


• Movimento de mão de obra para o litoral e
centros urbanos
• Emigração – fenómeno importante em 1974 e
1975
• Continuação do crescimento sustentado da indústria
que já vinha do período anterior
• Início da terciarização da economia

Economia

• Remessas de emigrantes a proporcionarem um forte


contributo económico
• Investimento a níveis elevados
• Consumo público em aumento:
• Crescimento da dimensão do sector público
• Reforço da vertente social do estado nas
vertentes: segurança social, saúde e educação

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Preço do petróleo
1º choque – 1973, 2º choque – 1979 e choque inverso - 1986

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Mercado bolsista

• Criação inicial:
• Bolsa de valores de Lisboa - 1769
• Bolsa de valores do Porto - 1891
• Suspensão da negociação do mercado na Bolsa de Valores de Lisboa – 29
de Abril de 1974
• Retoma da negociação de obrigações na Bolsa de Valores de Lisboa – 12 de
Janeiro de 1976
• Retoma da negociação para todos os títulos na Bolsa de Valores de Lisboa –
28 de Fevereiro de 1977
• Retoma da negociação na Bolsa de Valores do Porto - 2 de Janeiro de 1981

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – periodo pós revolucionário (reestruturação do


lado da oferta) até 1977 – crescimento quase nulo –
quebra elevada do PIB em 1975:
• Instabilidade politica
• Nacionalizações
• Greves
• Acomodação de retornados
• Perda dos mercados coloniais
• Novas políticas sociais e salariais com forte aumento
das despesas públicas
• Reforma agrária
• Experiências de auto-gestão
• 1º Choque petrolífero

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Instabilidade política:


• Revolução de 25 de Abril de 1974:
• Acção militar ofensiva em Lisboa e no Porto
• 80% do exército em África – golpe concretiza-se com
150 oficiais e 2000 soldados em formação, sem
experiência de combate
• “Medo de saneamento” paralisia as chefias das
Forças Armadas e Administração.
• 26 de Abril – marchas nas ruas, assembleias nas
fábricas e escolas com greves e conflitos laborais.
• Extinção da polícia politica
• Destituição de todas as autoridades do Estado Novo

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Instabilidade política:


• Revolução de 25 de Abril de 1974:
• Prisão dos principais responsáveis do regime
• Controlo económico e financeiro do país
• Amnistia aos presos políticos
• Abolição da censura
• Descolonização
• Nova política social
• Nova política laboral
• Nova política externa

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Instabilidade política:


• Entre Abril e Novembro de 1974, surgem quase 50 novos
partidos.
• Progressiva aproximação à esquerda e ao comunismo
• Sucessão de governos provisórios entre 1974 e 1975 –
demissões e pressão de movimentos comunistas
• Março de 1975 – Junta de Salvação Nacional substituída
por Conselho Superior de Revolução e MFA passa a ser
orgão de soberania
• Constituição de 1976
• 1976 – Ramalho Eanes eleito Presidente da República
• 1976 – Mário Soares toma posse do 1º Governo
constitucional

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Novas políticas laborais e sociais:


• Laboral:
• Liberdade de organização sindical.
• Direito à greve
• Dificuldade nos despedimentos – despedimento sem
justa causa.
• Redução da duração média do trabalho (de 48 para
40 horas)
• Criação do salário mínimo
• Generalização das remunerações complementares
(subsídio de férias e de Natal)
• Salários nominais aumentam substancialmente

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Novas políticas laborais e sociais:


• Social:
• Alargamento da cobertura da segurança social
• Criação do SNS
• Maior importância dada à educação
• Melhoria das condições de vida:
• Electrificação de aldeias
• Melhoria dos acessos
• Abastecimento de água
• Saneamento

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Descolonização:
• Colónias já não eram parceiros comerciais muito relevantes
– 1959, CEE e EFTA representavam 40% da exportações
portuguesas, enquanto as colónias representavam 30%. Em
1973, a relação passa para 61% versus 15%
• O programa do MFA promete fim da guerra colonial, mas
não explica como.
• Independência acontece de forma pouco organizada:
• Guiné-Bissau independente em 1974
• Cabo Verde, São Tomé e Princípe, Angola e
Moçambique em 1975
• Angola e Moçambique entram num período de guerra
cívil

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Descolonização:
• Impacto:
• Redução drástica das relações económicas com as
antigas colónias
• Entrada repentina de 500000 retornados vindos da
ex-colónias:
• Capacidade para os receber sem convulsão
social – 50% ficaram em Lisboa – forte apoio
económico e social – gastos representaram 11%
da despesa do Estado em 1976
• Mais iniciativa e dinamismo empresarial
• Portugal mantém-se envolvido na propriedade e
gestão de Cahora Bassa (barragem em Moçambique)

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Nacionalizações:
• Sectores básicos da economia (244 empresas):
• Banca, seguros, siderurgia, cimentos,adubos,
petróleos, energia, gás, água, tabacos, cerveja,
construção naval, transportes, etc.
• Criadas novas empresas públicas
• Reforçados monopólios públicos no comércio externo
(cereais, açucar, álcool, oleaginosas, bacalhau)
• Objectivos:
• Instalar uma economia socialista
• Desarticular principais grupos económicos
• Controlar indústrias de base

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Nacionalizações:
• Não abrangidas:
• Multinacionais
• Empresas com capital estrangeiro
• PME’s, sobretudo as localizadas a Norte
• Impactos:
• SEE tornou-se num dos maiores da Europa
• Empresas tornaram-se muito ineficientes: maus
investimentos, corrupção, sobre-emprego,
instrumentalização política, etc.
• Resultados positivos sobretudo para empresas
monopolístas, apesar de serem ineficientes: Telecom,
CTT, Cimpor, Tabaqueira, etc.
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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Experiências de auto-gestão:


• Estado intervém na relação patrão-trabalhador, conferindo
poder a este último
• Intervenção na gestão das empresas, sobretudo PME’s,
entre 1975 e 1976:
• Orgãos sociais são substituídos por comissões
administrativas ou de trabalhadores (auto-gestão)
• Problemas:
• Resultados negativos das experiências de auto-
gestão – falta de competências
• Devolução das empresas aos antigos proprietários
em situação financeira complicada, sobretudo entre
1978 e 1980.

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Crescimento económico (duas fases)

1ª fase – Reforma agrária:


• Expropriação de latifúndios do Alentejo e Ribatejo (mais de
3000 herdades, quase 20% da superfície cultiva nacional).
• Criação das unidades colectivas de produção (UCP),
controladas pelo PCP
• Confirmada pela constituição de 1976
• Efeitos:
• Paragem da produção agrícola
• Governo de 1976 propõe que as terras sejam
propriedade do Estado e que as UCP’s paguem renda
• Antigos proprietários continuam a reclamar as terras
• 1976 e 1977 – devolução de terras aos proprietários
• UCP´s desaparecem

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Crescimento económico (duas fases)

2ª fase – periodo de intervenção do FMI (equilíbrio das


contas externas) de 1977 a 1985 – taxas reduzidas de
crescimento:
• Desvalorização do escudo
• Apoio financeiros do FMI
• Controlo das contas públicas
• Controlo do acesso do sector empresarial do estado
ao crédito
• Controlo da política salarial
• Aumento dos impostos
• Seca em 1981

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Crescimento económico (duas fases)

2ª fase – desvalorização do escudo:


• Situação insustentável da balança de pagamentos:
• Perda de mercado
• Economia pouco competitiva
• Conjuntura de crise internacional
• Delapidação das reservas de ouro
• Subordinação das políticas orçamentais e de
fixação de preços

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Crescimento económico (duas fases)

2ª fase – 1ª intervenção do FMI em 1977:


• Obtenção de empréstimo para financiar a divida
externa.
• Principal credor: EUA
• Principais medidas:
• Política orçamental restritiva:
• Mais impostos
• Tectos salariais
• Menos financiamento ao SEE
• Regime de incentivos a depósitos a prazo em
moeda estrangeira para emigrantes
• Limites ao crédito da banca e sector público

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Crescimento económico (duas fases)

2ª fase – 1ª intervenção do FMI em 1977:


• Impacto:
• Controlo do défice externo, mas:
• Desaceleração do crescimento do PIB
• Crescimento negativo do consumo privado em
1978 e 1979
• Crescimento negativo do investimento em 1979
• Fuga de capitais e especulação contra o escudo
• Inflação atinge os 26%
• Desemprego atinge os 8%
• Queda dos salários reais para níveis de 1973
• Queda do governo – medidas pouco populares

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Crescimento económico (duas fases)

2ª fase – 2ª intervenção do FMI em 1983:


• Contexto:
• 2º choque petrolífero de 1979
• Eleição do governo AD:
• Adopção de política expansionista em contra-ciclo
• 1981 – ano de seca
• Aumento do défice do sector público:
• Gastos com educação, saúde e segurança social
em crescendo
• Empresas públicas pouco competitivas
• Estagnação da economia
• Novo desiquilibrio da Balança de Pagamentos

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Crescimento económico (duas fases)

2ª fase – 2ª intervenção do FMI em 1983:


• Linhas de acção:
• Instalação de novo “crawling-peg” – desvalorização do
escudo em 12%.
• Espiral inflação – desvalorização – inflação
• Redução da subsidiação de bens essenciais
• Redução do défice público
• Redução do investimento público
• Controlo do acesso ao crédito externo por parte de
empresas públicas
• Controlo salarial
• Aumento de impostos

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Crescimento económico (duas fases)

2ª fase – 2ª intervenção do FMI em 1983:


• Resultados:
• Défice externo desce de 12% em 1982 para 3% em
1984
• Pagamentos externos resolvidos em 1984
• Impacto negativo no crescimento do PIB - retomado
em 1985
• Redução do défice do sector público
• Taxa de desemprego de cerca de 7% em 1984
• Redução no investimento
• Queda nos salários reais de 7,6% entre 1982 e 1985 –
corte na procura interna
• Queda do governo e eleições em Outubro de 1985.

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Inflação elevada

Principais motivos:
• Forte crescimento nominal dos salários após o 25 de
Abril – 35% em 1974 e 34,6% em 1975
• Política de crédito abundante e rápido
• Liberalização ou aumento dos preços controlados
• Apoios financeiros e intervenção do FMI
• Desvalorização do escudo
• Crises petrolíferas
• Aumento dos gastos públicos (sem preocupação
orçamental):
• Contratação de funcionários públicos
• Despesas com o estado social

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Subida do Desemprego
Principais factores:
- Convulsão social
- Auto-gestão
- Nacionalizações
- Reforma agrária
- Crises internacionais
- Falta de competitividade do tecido empresarial
- Falta de investimento (nacional e internacional)
- Falta de confiança na economia
- Austeridade (resgaste do FMI)

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Crescimento industrial

Alteração da estrutura do sector industrial:


• Taxas de crescimento mais reduzidas do VAB da indústria.
• Perda de peso das indústrias pesadas (intensivas em capita).:
• Estaleiros.
• Químicos
• Siderurgias
• Aumenta a importância dos sectores tradicionais,
nomeadamente os intensivos em trabalho:
• Calçado
• Têxtil
• Alimentares

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Política industrial entre 1974 e 1985

Principais linhas:
• Aposta em sectores em declíno em termos
internacionais (financiamento via banca
nacionalizada), mas onde a base sindical era forte em
Portugal:
• Refinarias, siderurgias, estaleiros
• Pouco dinamismo em termos de inovação e
competitividade
• Reestruturação pouco significativa, dependente de
algumas PME’s e de algum IDE

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Taxas de crescimento do VAB na indústria transformadora
Ramos da Ind. Transformadora 1973-90
Ind. Metálicas de Base 5,9
Prod. Minerais não Metálicos 5,4
Têxteis, Vestuário e Calçado 4,1
Prod. Alimentares, Bebidas, Tabaco 3,2
Total da Ind. Transformadora 2,8
Papel, Tipografia e Publicações 2,4
Outras Indústrias Transformadoras 2,1
Artigos Metálicos, Maquinaria 1,6
Produtos Químicos, Petrolíferas e Plásticos 1,3
Madeira e Mobiliário -0,8

Ramos da Ind. Transformadora 1960-73


Artigos Metálicos, Maquinaria 10,9
Ind. Metálicas de Base 10,3
Produtos Químicos, Petrolíferas e Plásticos 10,2
Têxteis, Vestuário e Calçado 10,1
Total da Ind. Transformadora 9,2
Prod. Minerais não Metálicos 9,2
Papel, Tipografia e Publicações 7,9
Outras Indústrias Transformadoras 7,4
Prod. Alimentares, Bebidas, Tabaco 6,7
Madeira e Mobiliário 4,7

Fonte: Silva Lopes, 1999

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Condições de vida

Principais motivações:
• Segurança no emprego – legislação laboral
• Forte crescimento dos salários nominais
• Melhores condições de saúde
• Melhor educação
• Melhor segurança social
• Melhoria de infra-estruturas básicas

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Contas externas

Défice da balança comercial com tendência para


agravamento ao longo do período:
• Dependência energética:
• Aumento do preço do petróleo
• Aumento da dependência alimentar
• Perda do mercado colonial
• Fraca dinâmica industrial – falta de inovação e de
competitividade
• Desvalorização do escudo

Pedido oficial de adesão à CEE em 1977 que foi aprovado.

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Ressurgimento do proteccionismo (reduzido após


adesão à EFTA)

Principais motivações:
• Crises mundiais
• Sector empresarial do estado pouco competitivo
• Soberania nacional

Medidas adoptadas:
• Sobretaxa às importações desde 1975 para bens
não essenciais, de 20 a 30%, (isenções para
determinadas indústrias)
• Restrições quantitativas – quotas de importação (ex.:
bananas e carros)

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Demografia

Principais factos:
• Quebra da taxa de fertilidade
• Aumento da esperança média de vida
• Aumento da população activa:
• Aumento do grupo etário entre os 16 e os 64
anos
• Saldo migratório altamente positivo em 1974 e
1975: entrada dos retornados
• Primeiros sinais de inversão da pirâmide etária

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Educação

Necessidades:
• Modernizar sistema existente de educação
• Potenciar o ensino secundário
• Potenciar o ensino universitário
• Redução do analfabetismo
• Redução do abandono escolar
• Constituição consagra o direito de todos os
portugueses à educação

Período de forte investimento no sector da educação

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Dívida Pública

Forte crescimento da dívida como % do PIB:


• Aumento das despesas:
• Estado social
• Contratação de funcionários públicos
• Ineficiência do SEE
• Dívida externa
• Pouca dinâmica do PIB
• Convulsão social e económica (revolução)
• Crises externas
• Austeridade imposta pelo FMI

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