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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

NA PARADA
CARDIORRESPIRATÓRIA

Autores: Kaile de Araújo Cunha,


Fernando Couto Portela e Hyroan
Brandell Pereira Corrêa

1
INTRODUÇÃO

A parada cardiorrespiratória (PCR) é a cessação súbita das funções


vitais, da circulação sistêmica e da atividade ventricular efetiva,
associada à ausência de movimentos respiratórios normais e à
irresponsividade a estímulos em um indivíduo com expectativa de
restauração da função cardiopulmonar e cerebral, não portador de
doença intratável ou em fase terminal.

No Brasil, estimam-se, em média, 200 mil casos de PCRs ao ano, dos


quais metade ocorre em ambiente extra-hospitalar. Nesse contexto, o
suporte básico de vida (SBV) objetiva o atendimento inicial do paciente
vítima de PCR, tratando-se do ponto primordial do atendimento e de
sua sistematização.

A Aliança Internacional dos Comitês de Ressuscitação (Ilcor, do inglês


International Liaison Committee on Resuscitation), em 2017,
implementou uma nova atualização nas diretrizes de SBV, que reforça
pontos importantes no atendimento inicial, com o objetivo de
minimizar as interrupções das compressões e aumentar a fração de
compressão torácica (FCT), além de enfatizar as orientações
direcionadas a socorristas leigos.

A FCT é uma medida da proporção do tempo em que as


compressões são feitas durante uma parada cardíaca. Um
aumento na fração da compressão torácica pode ser alcançado
diminuindo as pausas entre as compressões.

2
A PCR permanece como grave problema de saúde pública mundial, e
o atendimento inicial sistematizado, em concordância com as novas
recomendações, é fundamental para o aumento da sobrevida dos
pacientes.

CONCEITO

A PCR é a cessação súbita das funções vitais, da circulação sistêmica e


da atividade ventricular efetiva, associada à ausência de movimentos
respiratórios normais e à irresponsividade a estímulos em uma pessoa
com expectativa de restauração da função cardiopulmonar e cerebral,
não portadora de doença intratável ou em fase terminal (Feitosa et al,
2006; Guimarães et al, 2007; Niemann, 1992).

A PCR provoca a cessação abrupta do fluxo sanguíneo cerebral,


produzindo isquemia neuronal. Essa lesão neuronal é tanto mais grave
quanto maior for o tempo de hipoxemia/isquemia ao qual o tecido
cerebral ficou submetido, ocorrendo dano neuronal permanente após
5 a 10 minutos da completa cessação do fluxo sanguíneo (Rech e Vieira,
2010).

A ressuscitação cardiopulmonar (RCP) é o conjunto de


procedimentos realizado após uma PCR, com o objetivo de
restabelecer temporariamente a circulação de sangue arterial
ao cérebro e a outros órgãos vitais até o retorno da circulação
espontânea (RCE).

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Aproximadamente de 10 a 30% das vítimas de PCR que sobrevivem
evoluem para estado vegetativo persistente, caracterizado por um
estado de irresponsividade a estímulos e de inconsciência completa de
si mesmo e do meio ambiente (Jennett e Plum, 1972).

EPIDEMIOLOGIA

A cada ano, pelo menos 350 mil europeus sofrem PCR no ambiente
extra-hospitalar (PCREH) (Böttiger e Van Aken, 2013). Nos Estados
Unidos, aproximadamente 359 mil pessoas sofreram PCREH, contra
209 mil casos de PCRs no ambiente intra-hospitalar (PCRIH) no ano de
2016 (Benjamin et al, 2017).

Entre todos os participantes de um estudo no qual a RCP foi tentada,


em média de 14 a 40% apresentaram RCE e foram admitidos no
hospital (Finn et al, 2001). Dos pacientes admitidos, somente de 7 a 30%
receberam alta hospitalar com bom prognóstico neurológico (McNally
et al, 2010).

A parada cardíaca (PC) é tradicionalmente categorizada como de


origem cardíaca ou não cardíaca. Assim, presume-se que uma PCR seja
de origem cardíaca, a menos que haja uma causa conhecida ou
provável implicada no evento, como trauma, afogamento, overdose por
drogas, asfixia, exsanguinação ou qualquer outra causa não cardíaca
melhor determinada pelos socorristas (Benjamin et al, 2017).

A morte súbita de origem cardíaca é definida como morte inesperada,


sem causa não cardíaca óbvia, que ocorre dentro de uma hora do início
dos sintomas (quando presenciada) ou dentro de 24 horas do último
momento em que a vítima foi vista saudável (quando não presenciada)
(Benjamin et al, 2017).

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Mais recentemente, uma declaração de consenso da Ilcor recomendou
categorizar as cinco causas primárias da PC, conforme demonstrado no
Quadro 1 (Perkins et al, 2015).

Quadro 1

CATEGORIZAÇÃO DA PARADA CARDÍACA

Causa primária Descrição


Inclui casos em que a causa da PC é
presumivelmente de origem cardíaca
ou de outra causa clínica (por
Clínica
exemplo, anafilaxia, asma,
sangramento gastrintestinal) e em que
não há nenhuma causa óbvia da PC.
Ocorre quando a PC é causada
Traumática diretamente por trauma contuso,
penetrante ou queimadura.
É quando há evidência de que a PC foi
causada por overdose ou ocorreu de
Overdose por drogas forma acidental por medicamentos
prescritos, drogas alucinógenas ou
álcool.
Refere-se a quando a vítima é
Afogamento encontrada submersa em água, sem
uma outra causa aparente.
Inclui causas externas de asfixia, tais
Asfixia como obstrução das vias aéreas por
corpo estranho ou estrangulamento.
PC: parada cardíaca.
Fonte: Perkins e colaboradores (2015).

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Nos Estados Unidos, aproximadamente 69% das PCREHs acontecem
na residência da vítima, como mostra a Figura 1, que evidencia os locais
de PC fora dos hospitais, a partir de dados do Relatório Nacional do
Registro de Parada Cardíaca para Aumentar a Sobrevivência (Cares, do
inglês Cardiac Arrest Registry to Enhance Survival).

Figura 1: Incidência aproximada de PCREHs nos Estados Unidos.


Fonte: Adaptada de Benjamin e colaboradores (2017).

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Já a incidência aproximada de PCREH nos Estados Unidos ficou em
torno de 110 casos para cada grupo de 100 mil pessoas, totalizando
mais de 359 mil PCRs. Cerca de metade desses pacientes recebeu
atendimento médico de emergência (188 mil casos), como se vê na
Tabela 1 (Benjamin et al, 2017).

Tabela 1

INCIDÊNCIA ANUAL DE PCREH EM LOCAIS NOS ESTADOS UNIDOS DO


CRR, DE 1º DE JUNHO DE 2014 A 31 DE MAIO DE 2015

Número anual de casos nos Estados Unidos


Incidência por
(considerando uma população total de
100.000 (95% IC)
321.716.000)
N 95% LIC 95% LSC
Avaliada em SEM
110,8 (108,9 -
Qualquer idade 356.461 350.349 362.252
112,6)
140,7 (138,3 -
Adultos 347.322 341.397 353.246
143,1)
Crianças 9,4 (8,3 - 10,5) 7.037 6.214 7.861
Tratada em SEM
Qualquer idade 57,3 (56,0 - 58,7) 184.343 180.161 188.847
Adultos 73,0 (71,2 - 74,7) 180.202 175.759 184.399
Crianças 7,3 (6,3 - 8,3) 5.465 4.716 6.214
FV*
Qualquer idade 12,1 (11,5 - 12,7) 38.928 36.997 40.858
Adultos 15,8 (15,0 - 16,6) 39.003 37.028 40.978
Crianças 0,5 (0,3 - 0,8) 374 225 599
FV observada por espectador
Qualquer idade 7,0 (6,5 - 7,5) 22.520 20.912 24.129
Adultos 9,2 (8,6 - 9,8) 22.710 21.229 24.192
Crianças 0,3 (0,1 - 0,5) 225 75 374
IC: indica intervalo de confiança; SEM: serviços de emergência médica; LIC: limite
inferior de confiança; CRR: consórcio de resultados de reanimação; LSC: limite superior
de confiança; FV: fibrilação ventricular.
Fonte: Adaptada de Benjamin e colaboradores (2017).

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A sobrevida média global das PCREHs é em torno de 5,8% dos casos e,
se for detectado ritmo chocável (fibrilação ventricular ou taquicardia
ventricular sem pulso), a sobrevida pode aumentar para 30%, como
mostra a Tabela 2.

Tabela 2

SOBREVIVÊNCIA APÓS PCREH EM LOCAIS CRR DOS ESTADOS UNIDOS,


DE 1º DE JANEIRO DE 2015 A 30 DE JUNHO DE 2015

Sobrevivência até a alta (95% IC) %

Avaliado no SME

Qualquer idade 5,8 (5,3 - 6,4)

Adultos 5,8 (5,3 - 6,4)

Crianças 10,2 (5,3 - 15,1)

Tratado no SME

Qualquer idade 11,4 (10,4 - 12,4)

Adultos 11,4 (10,4 - 12,4)

Crianças 13,2 (7,0 - 19,4)

FV

Qualquer idade 30,0 (26,7 - 33,2)

Adultos 29,5 (26,2 - 32,8)

Crianças 77,8 (50,6 - 100)

FV observada por espectador

Qualquer idade 37,4 (32,7 - 42,0)

Adultos 36,5 (31,8 - 41,1)

Crianças 100 (100 - 100)


IC: intervalo de confiança; CRR: consórcio de resultados de ressuscitação; FV: fibrilação
ventricular; SME: serviço médico de emergência.
Fonte: Adaptada de Benjamin e colaboradores (2017).

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Apesar dos avanços relacionados à prevenção e ao tratamento de PCR
nos últimos anos, muitas são as vidas perdidas anualmente no Brasil
em função dessas ocorrências, ainda que não se tenha a exata
dimensão do problema, devido à falta de estatísticas robustas a esse
respeito (Gonzales et al, 2013).

Os avanços na prevenção e no tratamento da PCR também se


estendem à legislação sobre o acesso público à desfibrilação (APD) e à
obrigatoriedade de disponibilização de desfibriladores externos
automáticos (DEAs) em locais públicos, bem como ao treinamento em
RCP. A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) apresenta, há muitos
anos, uma posição de destaque nessa missão (Gonzales et al, 2013).

Pode-se estimar algo ao redor de 200 mil casos de PCRs ao ano


no Brasil, dos quais metade ocorre em ambiente hospitalar, e a
outra metade, em ambientes como residências, shopping
centers , aeroportos, estádios de futebol, etc. (Gonzales et al,
2013).

CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA

Em 1991, a American Heart Association (AHA) criou a expressão “cadeia


de sobrevivência”, metáfora para representar a sequência de eventos
que deve idealmente ocorrer para aperfeiçoar as taxas de sucesso da
RCP durante uma PC em adulto (AHA, 2015).

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Os elos da cadeia de sobrevivência incluem (AHA, 2015)

 o acesso precoce (reconhecimento do problema e ativação do


serviço médico de emergência [SME]);
 a RCP precoce;
 a desfibrilação precoce nos pacientes que necessitam;
 o acesso precoce ao sistema de suporte avançado de vida em
cardiologia (SAVC).

Na atualização de 2010, a AHA incorporou um quinto elo à cadeia de


sobrevivência, os cuidados pós-ressuscitação. Eles incluem uma série
de medidas voltadas para a estabilização clínica do paciente, para a
redução da mortalidade precoce pós-RCE e para a preservação da sua
função neurológica (AHA, 2015).

Na atualização das diretrizes de 2015 da AHA, os elos cruciais na cadeia


de sobrevivência para adultos no atendimento extra-hospitalar não
foram alterados. No entanto, há uma ênfase crescente na rápida
identificação de PC em potencial por parte dos expectadores, com o
fornecimento imediato de instruções de RCP ao chamar por ajuda
médica. Houve, portanto, uma divisão da cadeia de sobrevivência em
dois tipos: cadeia de sobrevivência intra-hospitalar e cadeia de
sobrevivência extra-hospitalar (Travers et al, 2015).

Embora o tratamento para todos os pacientes após a ressuscitação,


independentemente de onde a PCR ocorre, venha a ser realizado no
hospital - em geral, na unidade de terapia intensiva (UTI) -, a estrutura
e os elementos do processo, antes desse momento, variam
amplamente para as populações de pacientes da cadeia de
sobrevivência para PCRIH e da cadeia de sobrevivência para PCREH
(Callaway et al, 2015).

Os pacientes em PCREHs dependem do apoio de sua comunidade. Os


socorristas leigos precisam reconhecer o desconforto do paciente, pedir
socorro e iniciar a RCP e o DEA até o momento em que uma equipe
treinada e competente de profissionais do SME assuma a

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responsabilidade e o transporte do paciente para um departamento de
emergência e/ou para um laboratório de hemodinâmica, antes de ele
ser transferido para uma UTI para a continuidade do tratamento
(Callaway et al, 2015).

Em contraposição, os pacientes em PCRIH dependem de um sistema


apropriado de supervisão e de prevenção da PCR. Na ocorrência de
PCR, eles, de fato, dependem da interação harmoniosa dos vários
departamentos e serviços do hospital e de uma equipe multidisciplinar
de profissionais que inclua médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, entre
outros (Callaway et al, 2015).

A Figura 2 mostra as cadeias de sobrevivência em PCREH e em PCRIH.

RCP: ressuscitação cardiopulmonar; PCR: parada cardiorrespiratória; SME: serviço


médico de emergência; UTI: unidade de tratamento intensivo.
Figura 2: Cadeias de sobrevivência em PCREH e em PCRIH.
Fonte: Adaptada de American Heart Association (2015).

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ABORDAGEM SISTEMÁTICA

Na PCR, a abordagem inicial dos profissionais de saúde deve ser


imediata e sistemática. Ela deve começar com a checagem da
segurança da cena e com a impressão inicial, ao se aproximar do
paciente, a respeito do nível de consciência deste, delimitando duas
situações práticas em um cenário seguro:

 se o paciente parecer inconsciente — usar inicialmente a


avaliação de SBV. Assim que concluir todos os passos apropriados
desta avaliação, usar a avaliação primária e a secundária para
apreciação e tratamento mais avançados;
 se o paciente parecer consciente — usar a avaliação primária
como inicial.

O SBV é o conjunto de manobras “coreografadas” que busca


prover a oxigenação e a perfusão aos órgãos vitais por meio de
manobras simples, sem a necessidade de equipamentos ou de
recursos técnicos mais sofisticados (Travers et al, 2015).

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As duas situações práticas em um cenário seguro estão
esquematizadas na Figura 3.

SBV: suporte básico de vida.


Figura 3: Checagem da segurança da cena e impressão inicial a respeito do nível de
consciência do paciente.
Fonte: American Heart Association (2015).

O SBV é considerado a base para o atendimento em casos de PCR. Nele,


é definida a sequência primária de ressuscitação para salvar vidas,
incluindo (Travers et al, 2015):

 o reconhecimento imediato do agravo;


 a ativação do sistema de resposta de emergência;
 a realização de RCP precoce;
 a desfibrilação rápida.

Qualquer profissional de saúde treinado pode realizar o SBV, sem a


necessidade de recursos técnicos mais sofisticados, como via aérea
avançada ou administração de fármacos, buscando garantir a
oxigenação e a perfusão de órgãos vitais.

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A avaliação primária da PCR está relacionada à via aérea, à respiração,
à circulação, à avaliação neurológica (alerta, voz, dor e inconsciência
[AVDI]) e à exposição (protocolo ABCDE) da reanimação
cardiopulmonar (Callaway et al, 2015).

Já a avaliação secundária da PCR requer um diagnóstico diferencial,


que inclui um histórico médico específico, bem como a busca e o
tratamento das causas-base e o uso de um dos seguintes recursos
mnemônicos: SAMPLE, 5H e 5T (AHA, 2015; Travers et al, 2015).

O Quadro 2, a seguir, apresenta cada um dos recursos, juntamente com


seus significados.

Quadro 2

MNEMÔNICOS UTILIZADOS NA AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA

Mnemônico Significado

Sinais e sintomas
Alergias
Medicações
SAMPLE
Passado médico
Last meal (última refeição consumida)
Eventos
Hipoxia
Hipovolemia
5H H+: acidose
Hipercalemia/hipocalemia
Hipotermia
Trombose pulmonar
Trombose coronária
5T Tamponamento cardíaco
Tensão no tórax
Tóxicos
Fonte: Adaptado de American Heart Association (2015); Travers e colaboradores (2015).

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SUPORTE BÁSICO DA VIDA
ADULTO

O SBV (em inglês, basic life support [BLS]) é o ponto primordial do


atendimento à PCR e de sua sistematização, que consiste na sequência
de atendimento ABCDE e que sofreu modificações importantes em
função das últimas diretrizes da Ilcor. Estas diretrizes alteraram a
sequência ABC para comprimir, abrir as vias aéreas e boa ventilação
(CAB), como será explicado a seguir (Travers et al, 2015).

Avaliação do suporte básico de


vida
A avaliação do SBV inicia após a certificação da segurança da cena.
Verificada essa segurança, a avaliação prossegue testando a
responsividade do paciente. Deve-se tocar no seu ombro e perguntar
em voz alta: “Você está bem?”. Na ausência de resposta, deve-se gritar
por ajuda nas proximidades, acionar o SME, buscar um DEA, se
disponível, ou encarregar alguém de acionar o serviço médico.

O passo seguinte da avaliação do SBV é verificar a respiração e o pulso


de forma simultânea. É necessário confirmar se não há respiração ou se
a respiração está anormal (nenhuma respiração ou somente gasping),
o que pode ser realizado olhando ou examinando, durante 5 a 10
segundos, se o tórax se movimenta.

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A avaliação simultânea da respiração e do pulso minimiza
atrasos na detecção de PCR e no início da RCP (AHA, 2015).

Se o pulso da vítima não for sentido em 10 segundos, é necessário


iniciar a RCP, começando pelas compressões torácicas externas. As
compressões devem ser de, pelo menos, 100 por minuto no adulto, mas
não mais do que 120 por minuto, realizando-se 30 compressões (entre
15 e 18 segundos) para duas ventilações enquanto o paciente estiver
sendo ventilado com bolsa-valva-máscara (método sincrônico) ou com
outros dispositivos, como a pocket máscara (AHA, 2015).

Em novembro de 2017, a Ilcor implementou uma nova atualização nas


diretrizes de SBV. Ela reforça os seguintes itens (Kleinman et al, 2018):

1. Recomenda-se que, quando for necessário enviar instruções, os


profissionais da regulação devem instruir a realização de RCP
apenas com compressão torácica em casos de adultos com
suspeita de PCREH (Classe I; Nível de evidência C-LD);
2. Para adultos em PCREH, os socorristas leigos não treinados
devem fornecer RCP apenas com compressão torácica, com ou
sem assistência do profissional da regulação médica (Classe I;
Nível de evidência C-LD);
3. É razoável que, antes da colocação de uma via aérea avançada
(via aérea supraglótica ou tubo traqueal), os profissionais de SME
realizem a RCP com ciclos de 30 compressões e duas ventilações
(Classe IIa; Nível de evidência B-R). Pode ser razoável para os
profissionais de SME usar uma taxa de 10 ventilações por minuto
(uma respiração a cada 6 segundos) para fornecer ventilação
assíncrona durante compressões torácicas contínuas antes da
colocação de uma via aérea avançada (Classe IIb; Nível de
evidência B-R).

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4. As recomendações atualizadas não excluem a recomendação de
2015 de que uma alternativa razoável para sistemas de SME que
adotaram pacotes de cuidados é o uso inicial de compressões
torácicas minimamente interrompidas (por exemplo, ventilação
retardada) para PCREH presenciada e em ritmo chocável (Classe
IIb; Nível de evidência C-LD);
5. Sempre que uma via aérea avançada (tubo traqueal ou
dispositivo supraglótico) for inserida durante a RCP, pode ser
razoável que os profissionais realizem compressões contínuas
com ventilação com pressão positiva fornecida sem pausas nas
compressões torácicas (Classe IIb; Nível de evidência C-LD). Pode
ser razoável que o provedor ofereça uma respiração a cada 6
segundos (10 respirações por minuto), enquanto as compressões
torácicas contínuas estão sendo realizadas (Classe IIb; Nível de
evidência C-LD).

O objetivo da nova atualização nas diretrizes de SBV da Ilcor é


minimizar as interrupções das compressões, aumentando,
assim, a FCT, isto é, o percentual do tempo total de atendimento
em que é realizada compressão cardíaca eficaz (Meaney et al,
2013).

As orientações direcionadas para os socorristas leigos também são


bastante importantes. Estes são pessoas não treinadas que se
encontram na cena do episódio de PCR. Para adultos em PCREH, os
socorristas leigos não treinados devem fornecer RCP somente com
compressão torácica, com ou sem assistência do atendente do Serviço
de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No caso de socorristas
leigos treinados em RCP usando compressões torácicas e ventilação
(respirações de resgate), é razoável que forneçam ventilação

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(respirações de resgate), além das compressões torácicas (Kleinman et
al, 2018).

A diretriz de 2015 da AHA enfatizou o conceito de compressões


torácicas de qualidade. Em vítimas adultas de PCR, o correto é que os
socorristas apliquem compressões torácicas a uma frequência de 100 a
120 por minuto, fator determinante do RCE e da sobrevivência com boa
função neurológica (Meaney et al, 2013).

A aplicação de compressões torácicas adequadas exige ênfase não


somente na frequência adequada de compressões, mas também em
minimizar interrupções a esse componente crítico da RCP. Uma
frequência de compressão inadequada e/ou interrupções frequentes
reduzirão o número total de compressões aplicadas por minuto.

Deve-se atentar à profundidade das compressões torácicas.


Durante a RCP manual, os socorristas devem aplicar
compressões torácicas até uma profundidade de, pelo menos,
5cm para um adulto médio, evitando excesso na profundidade
das compressões torácicas (no máximo, 6cm) (Meaney et al,
2013).

As compressões torácicas geram fluxo sanguíneo, principalmente por


aumentarem a pressão intratorácica e comprimirem diretamente o
coração, o que, por sua vez, gera um fluxo sanguíneo crítico e fornece
oxigênio para o coração e para o cérebro. Além disso, não se deve
esquecer de permitir o retorno total do tórax após cada compressão
(Travers et al, 2015). Além disso, é importante não hiperventilar o
paciente.

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Desfibrilação — passo a passo
A desfibrilação é a aplicação de uma corrente elétrica em um paciente
por meio de um desfibrilador, equipamento eletrônico cuja função é a
reversão das arritmias cardíacas mediante a aplicação de um pulso de
corrente elétrica de grande amplitude em um curto período. Ao
atravessar o coração, essa corrente força uma contração simultânea das
fibras cardíacas, possibilitando o restabelecimento de um ritmo
cardíaco normal (Fornazier et al, 2011).

Sempre antes de usar o DEA, é necessária a certificação de que


a vítima não está molhada. Caso esteja molhada, é imperativo
secá-la, para evitar potenciais riscos de condução elétrica além
do miocárdio.

O primeiro passo da desfibrilação é ligar o desfibrilador. Ao ligar o


aparelho, ele emitirá sons para a sequência de eventos do caso.
Inicialmente, o DEA solicitará a colocação dos eletrodos no tórax do
paciente. Depois, deverá ser encaixado o cabo dos eletrodos próximo
de uma luz sinalizadora do aparelho encaixe do aparelho, o que será
sinalizado, além de pelo som, por uma luz de alerta (Fornazier et al,
2011).

É importante atentar para a superfície de contato entre as pás adesivas


do desfibrilador e o tórax do paciente. Deve-se retirar corpos estranhos,
tecidos e roupas. Em caso de pelos, é necessário removê-los.

É preciso atentar ainda para a presença de dispositivos implantados,


como marca-passos (Fornazier et al, 2011), pois a desfibrilação pode
interferir momentaneamente nos geradores, provocando disfunção
temporária, permanente ou mesmo interrupção da estimulação. Em

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função disso, o posicionamento das pás do desfibrilador deve respeitar
uma distância de 2 a 15cm da unidade geradora, devendo-se aplicar o
choque perpendicularmente ao eixo formado entre o gerador e a ponta
do eletrodo (Camanho, 2013; Fornazier et al, 2011).

O segundo passo da desfibrilação é aplicar os eletrodos, que, na


maioria dos casos, são pás adesivas. O desfibrilador indicará a
necessidade de se colocar as pás adesivas nos locais adequados
(geralmente há imagens sinalizando nas próprias pás os locais
adequados para a aplicação). Uma das pás deve ser colocada na
posição infraclavicular do hemitórax direito (HD), e a outra, abaixo do
coração, no hemitórax esquerdo (HE).

A Figura 4 mostra o correto posicionamento do DEA.

Figura 4: DEA e seu correto posicionamento.


Fonte: Adaptada de American Heart Association (2015).

O terceiro passo da desfibrilação é a análise de ritmo e de choque


(quando indicado). Nesse momento, o aparelho emitirá um som
solicitando que todos se afastem do paciente e do equipamento
durante a análise do ritmo — logo, será necessária a interrupção das
compressões nesse momento.

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Após a checagem do ritmo, haverá uma nova mensagem sonora do
desfibrilador informando se o ritmo tem indicação de choque ou não.
Em caso positivo, ele irá emitir um novo som para que seja pressionado
um botão no aparelho para carregar o choque e, logo em seguida,
pedirá para que todos se afastem novamente.

Quando carregado, o DEA sinalizará, tanto por som quanto por uma luz
vibrante no aparelho, o botão para aplicar o choque. Após o choque,
devem-se reiniciar as compressões torácicas imediatamente e repetir a
mesma sequência até a chegada do Samu (ou de outra equipe médica
de emergência) ou até que ocorra o RCE.

CONCLUSÃO

Em uma PC, cada segundo faz a diferença, pois, para cada minuto de
atraso no atendimento à vítima de uma PCR, reduz-se a chance de
sobrevivência em 10%. Quando alguém, mesmo que não seja
profissional de saúde, detecta precocemente e inicia de imediato a
execução da RCP, a chance de sobrevivência da vítima pode triplicar
ou até quadruplicar.

A AHA acredita “que qualquer um pode e deve aprender os passos


simples para salvar uma vida”. Dessa forma, fazem-se necessários o
treinamento e a disseminação do conhecimento em RCP para que mais
vidas possam ser salvas, tanto em ambientes hospitalares quanto em
ambientes extra-hospitalares.

21
REFERÊNCIAS

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