Você está na página 1de 30

Assistência

Inserir TítulodeAqui
Inserir Título ao
Enfermagem Aqui
Paciente Crítico II
Assistência de Enfermagem ao Paciente
com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dra. Raquel Josefina de Oliveira Lima

Revisão Textual:
Pérola Damasceno
Assistência de Enfermagem ao Paciente
com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Getty Images


• Síndrome Coronariana Aguda – SCAs;
• Urgência e Emergência Hipertensiva.

Objetivos
• Conhecer a Síndrome Coronariana aguda: Angina instável e IAM;
• Conhecer os tratamentos de escolha para a Angina Instável e o IAM;
• Discutir a avaliação clínica e a implementação das assistência de enfermagem em cada situação;
• Conhecer as Crise hipertensiva: urgência hipertensiva e emergência hipertensiva;
• Discutir a avaliação clínica e a assistência de enfermagem nas urgências e emergências
hipertensivas.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Contextualização
Ter o pleno domínio dos agravos clínicos cardíacos que serão trabalhados nesta
Unidade são de fundamental importância para a sua atuação como Enfermeiro Inten-
sivista, uma vez que são eventos frequentes que você poderá se deparar não apenas
na Unidade de Tratamento Intensivo, mas em qualquer cenário de assistência, e ter o
pleno domínio lhe possibilitará, na avaliação clínica, uma tomada de decisão precisa
e adequada a cada situação. Lembre-se: tempo é miocárdio e, nesse sentido, tendo
a competência na avaliação, você poderá ser o profissional que fará toda a diferen-
ça para alcançar o melhor tempo, facilitando o adequado diagnóstico e terapêutica.
Outro aspecto de grande relevância é a assistência nas crises hipertensivas, outra con-
dição clínica que diariamente temos contato e, como Enfermeiro, ter a competência de
implementar o melhor cuidado nesta situação fará todo o diferencial para o adequado
controle e estabilização do paciente. Assim, dedique-se, vá além do que está proposto
nesta Unidade, se aproprie dos referencias que, com certeza, lhe possibilitarão ampliar
o seu conhecimento e que lhe dará um grande diferencial na sua atuação profissional.

6
Síndrome Coronariana Aguda – SCAs
O termo “Síndrome Coronariana Aguda” é utilizado para descrever os quadros clíni-
cos compatíveis com a isquemia aguda do miocárdio e, nesse sentido, estão incluídos a
Angina instável e o Infarto agudo do Miocárdio (IAM) (MORTON; FONATINE, 2019).

Os dados epidemiológicos evidenciaram que o IAM é a principal causa de morte


no Brasil. Segundo o DATASUS, em 2017, 92.657 óbitos foram decorrentes do IAM,
que representaram 10,2% das internações ocorridas neste ano no SUS. Foi possível
identificar que a idade de maior prevalência (representou 25% das internações) foi em
indivíduos com idade superior a 50 anos (NICOLAU, 2021).

As doenças circulatórias acarretam ônus significativo para o sistema público de saú-


de do país em virtude da incapacidade para a vida produtiva gerada de forma precoce
nos indivíduos. São apontados como fatores de risco para doenças cardiovasculares: a
história familiar, idade (homens ≥ 45 anos e mulheres ≥ 55 anos), tabagismo, hipercoles-
terolemia, hipertensão arterial sistêmica, diabete melito, obesidade, gordura abdominal,
sedentarismo, estresse, dieta pobre em frutas e legumes (BRASIL, 2006).

Os estudos evidenciam que os risco para as síndromes coronarianas estão direta-


mente vinculados ao estilo de vida do indivíduo. Assim, mudanças de hábitos que in-
corporem a alimentação saudável, prática de atividade física e o controle de patologias
preexistentes, como o diabetes e a hipertensão arterial sistêmica, devem ser estimuladas
e acompanhadas pelos profissionais da área da saúde para promover a adesão e sensi-
bilização da população.

São consideradas síndromes coronarianas agudas a Angina Instável (AI) e o infarto


agudo do miocárdio (IAM), que serão discutidos a seguir.

Angina Instável (AI)


É definido como Angina Instável a isquemia miocárdica transitória e reversível, com
ausência de necrose miocárdica, ou seja, com biomarcadores negativos. É ocasionada
pelo desequilíbrio entre a demanda e oferta miocárdica de oxigênio, na maioria das ve-
zes ocorre um aporte reduzido de oxigênio para o músculo cardíaco em decorrência da
aterosclerose das artérias coronarianas (MORTON; FONATINE, 2019).

Vamos entender a fisiopatologia da angina Instável?

No rompimento de uma placa aterosclerótica ocorre o desenvolvimento de um trom-


bo não oclusivo sobre esta placa, o que ocasiona a redução da perfusão miocárdica.
Com esta redução, entra em ação um mecanismo compensatório, a autorregulação do
fluxo sanguíneo, ou seja, os músculos lisos das arteríolas relaxam, o que diminui a resis-
tência ao fluxo sanguíneo no leito arteriolar como uma tentativa de atender às demandas
metabólicas. Quando as necessidades metabólicas não conseguem ser supridas por este
mecanismo ocorre a isquemia e a dor precordial (MORTON; FONATINE, 2019).

Observe na Figura 1 a placa aterosclerótica fixa e estável, assim como a instável com
ruptura de placa e agregação plaquetária.

7
7
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Figura 1 – Placa aterosclerótica


Fonte: MORTON; FONATINE, 2019.

O manejo clínico inicial da Angina Instável será conduzido de forma a ofertar todo
o suporte necessário com vistas à prevenção dos agravos de um possível IAM, até que
a dosagem dos marcadores de necrose miocárdica estejam disponíveis. Nesse sentido,
destaca-se a dosagem da troponina, que tem se mostrado mais sensível e elevada nos
casos de infarto agudo do miocárdio, conforme pode ser observado no algoritmo da
Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre AI e IAM, sem supra desnivelamento de ST
(Figura 2).

Figura 2 – Algoritmo da elevação da troponina


Fonte: NICOLAU, 2021

O prognóstico do paciente vítima de angina pode variar de baixo a alto risco, de-
pendendo das condições clínicas da vítima. Nesse sentido, são disponibilizadas algumas
classificações que possibilitam o melhor manejo do quadro clínico, sendo que o mais
utilizado para a classificação da angina é o Sistema de Classificação da Canadian Car-
diovascular Society, que apresentamos no Quadro 1:

8
Quadro 1 – Classificação da Canadian Cardiovascular Society para Angina

Ausência de angina ao caminhar e ao subir escadas. Presença de


Classe I angina aos esforços extenuantes, rápido ou prolongado, tanto no
trabalho como no lazer.

Há discreta limitação das atividades, podendo apresentar angina


ao caminhar, subir escadas rapidamente, quando sobe elevações,
ao caminhar ou subir escadas após as refeições, no frio, no vento,
Classe II sob estresse emocional ou durante algumas horas após acordar.
A angina ocorre quando caminha mais de dois quarteirões planos
e sobe mais de um lance de escada comum em velocidade e con-
dições normais.

Apresenta limitação acentuada da atividade ocorrendo angina


Classe III quando caminha um a dois quarteirões planos e sobe escadas em
condições e velocidade normais.

Fonte: Adaptado de MORTON; FONATINE, 2019

Avaliação do Indivíduo com Quadro Anginoso


Na avaliação do indivíduo com probabilidade de isquemia miocárdica o Enfermeiro
deve lançar mão do uso do método NOPQRST, que possibilita avaliar a dor durante a
coleta da história clínica. Vejamos o significado de cada uma das letras no Quadro 2.

Quadro 2 – Características NOPQRST da dor torácica

N • Normal: dados base do paciente antes do início da dor.

O • Onset- Início: momento em que iniciou a dor, o desconforto.

• Fatores Precipitantes e Paliativos da dor;


• Precipitantes: exercício, exercício após uma grande refeição, esforço, camin-
P har em dia frio ou com vento, clima frios, estresse de ansiedade, raiva e medo;
• Paliativos: parar o exercício, sentar-se e descansar, diminuição da dor com
nitroglicerina SL (no infarto a dor não alivia).

• Qualidade: sensação de peso, de aperto e de compressão, sufocação, asfixia,


Q como se estivesse envolvido por um aperto.

• Região E Irradiação (Radiation): subesternal irradiando para as costas, bra-


R ço esquerdo, pescoço ou mandíbula; parte superior do tórax, região epigás-
trica, ombro esquerdo e infra escapular.

• Intensidade (Severity): classificar a dor utilizando a escala analógica visual


S de 0 a 10, sendo 10 a pior dor já percebida. Na maioria das vezes a dor é clas-
sificada igual ou superior a 5.

• Tempo: a dor tem duração de 30 segundos a 30 minutos. Dor com tempo


T maior do que 30 minutos pode ser decorrente de angina instável ou infarto
do miocárdio.

Fonte: Adaptado de MORTON; FONATINE, 2019

A história clínica é muito importante no processo de avaliação e, nesse sentido, há cin-


co fatores muito importantes na avaliação da probabilidade de isquemia miocárdica e que
o Enfermeiro poderá identificar durante a coleta de dados e uso do método NOPQRST:

9
9
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

• Descrição dos sintomas (esteja atento à Classificação Canadian Cardiovascular


Society);
• História prévia de cardiopatia;
• Sexo;
• Idade (lembre-se que fazem parte do grupo de risco para doenças cardiovascular
homens ≥ 45 anos e mulheres ≥ 55 anos);
• Fatores de risco existentes (MORTON; FONATINE, 2019).

Ainda na coleta de dados a realização do exame físico é de fundamental importância


para determinar as causas da dor e condições associadas, como possíveis alterações
hemodinâmicas, assim, estejam atentos aos seguintes achados:
• Aferir a pressão arterial em ambos os braços. Na fase inicial de um episódio angi-
noso pode ser identificado hipertensão;
• Na vigência de episódio anginoso pode ser identificada taquicardia e pulso alternante;
• Presença de pele fria e pegajosa, pode ainda apresentar xantomas (manchas/placas
amareladas sobre a pele) principalmente nos pés, que indicam hipercolesterolemia;
• Se houver doença cardiovascular obstrutiva você poderá auscultar sopro carotídeo
ou femoral;
• Pulsos periféricos deficientes indicam doença vascular periférica;
• Na presença de insuficiência ventricular esquerda você poderá auscultar o desdobra-
mento paradoxal de B2 ou auscultar B3. A ausculta de B4 poderá ocorrer na vigência
de complacência ventricular esquerda diminuída (MORTON; FONATINE, 2019).

Avaliação do idoso com suspeita de SCA


Em decorrência das comorbidades presentes em idosos, a sintomatologia de um even-
to coronariano poderá apresentar-se de forma atípica, uma vez que o idoso poderá ser
hipertenso, ter hipertrofia miocárdica e disfunção diastólica ventricular, assim, pode-
rá apresentar dispneia, confusão, fraqueza e até desmaio, ao invés de dor precordial.
Outro aspecto de relevância é que quando o idoso é exposto ao frio, ele poderá desen-
volver sintomas anginosos, por isso deve ser orientado a proteger-se do frio com roupas
quentes, bem como reconhecer que, na vigência de fraqueza, falta de ar ou desmaio, po-
dem indicar quadro anginoso.

Condutas Frente à Suspeita de SCA


O atendimento e as condutas frente a um quadro de dor torácica são fundamentais,
uma vez que, quanto maior o tempo de dor, maior poderá ser a perda de miocárdio,
assim, seguir protocolos de atendimentos são fundamentais para a sobrevida e pre-
servação de músculo cardíaco. Portanto, observe a seguir o algoritmo de atendimento
proposto por Falcão e Moscoso, 2017, exposto na Figura 3.

10
Figura 3 – Algoritmo de atendimento para dor torácica
Fonte: FALCÃO; MOSCOSO, 2017

Compreendendo os Biomarcadores
O músculo cardíaco, especificamente o cardiomiócito, possui uma proteína específi-
ca (troponina cardíaca - cTn), esta proteína é composta por três subunidades, que são:
Troponinas T (cTnT); Troponina I (cTnI) e a Troponina C (cTnC). As troponinas T e I pos-
suem isoformas cardíacas especificas e a sua detecção na corrente sanguínea indica lesão
miocárdica. Tal fato fez com que, nas últimas duas décadas, as troponinas cardíacas têm
sido o biomarcador de escolha para avaliação de lesão do miocárdio, incluindo os quadros
de suspeita de IAM (CARAMELLI, 2020).

Os níveis de Troponinas I elevam-se em, aproximadamente, três horas, alcançando o


pico máximo ente 14 e 18 horas e permanecem elevadas por 5 a 7 dias. A Troponina
T eleva-se de 3 a 5 horas e permanece elevada por 10 a 14 dias. As troponinas são
detectáveis na circulação periférica em 8 a 12 horas do início do IAM, desta forma, é
fundamental a sua coleta logo na admissão do paciente e nova coleta entre 8 a 12 horas
seguintes (MORTON; FONATINE, 2019).

Há, ainda, dois outros marcadores que, na vigência da lesão em células miocárdicas,
são liberados na corrente sanguínea: o CK e o CKMB.

A Creatina Cinase (CK) é uma enzina encontrada principalmente no coração e no


músculo esquelético. No comprometimento do músculo cardíaco o nível sérico desta en-
zima se eleva entre 6 a 8 horas após o início do infarto, alcançando o pico máximo em
12 a 28 horas e retorna aos níveis de normalidade entre 24 a 36 horas. Já a Isoformas
de Creatina Cinase (CM-MB) possibilitam identificar se a Ck, de fato, é originada no
coração (e não no músculo esquelético), assim, ela oferece uma indicação mais definitiva

11
11
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

da lesão da célula miocárdica. Nas situações clínicas de IAM estará elevada entre 6 a 12
horas, atingindo o seu pico máximo entre 12 a 28 horas e a sua normalização ocorrerá
entre 72 a 96 horas. Assim, para estas enzimas a coleta de amostras seriadas ocorrerão
entre 4 a 6 horas durante as primeiras 24 a 48 horas depois do início dos sintomas
(MORTON; FONATINE, 2019).

Vamos visualizar melhor estes dados expostos na Tabela 1?

Tabela 1 – Comportamento dos Biomarcadores na vigência do IAM


Marcador Elevação Pico Máximo Normalidade
TI Em 3 horas 14 a 18 horas Permanece elevada por 5 a 7 dias
T De 3 a 5 horas 8 a 12 horas Permanece elevada 10 a 14 dias
CK De 6 a 8 horas 12 a 28 horas Normaliza entre 24 a 36 horas
CK-MB 6 a 12 horas 12 a 28 horas Normaliza entre 72 a 96 horas
Fonte: Adaptado de MORTON; FONATINE, 2019

Metas de Enfermagem no cuidado da vítima com Angina Instável


• Restaurar o equilíbrio entre a demanda e aporte de oxigênio;
• Avaliar os sinais vitais com frequência;
• Avaliar o estado mental com frequência;
• Monitorar o traçado cardíaco e estar atento a eventos arrítmicos e sinais de isquemia;
• Instituir repouso absoluto da vítima no leito para minimizar as demandas de oxigênio;
• Monitorar oximetria de pulso;
• Controle da oferta de oxigênio nos pacientes instáveis;
• Coleta de gasometria para avaliar a oxigenação.

Acesse o artigo: “Sistematização de assistência de enfermagem (SAE) na angina pectoris:


estudo de caso”.
Este artigo traz uma proposta da aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem
a um paciente em tratamento de Angina e busca integrar os conhecimentos das ciências bási-
cas e identificar os Diagnósticos de Enfermagem, elaborando um Plano Assistencial baseado
nos problemas de Enfermagem identificados. Disponível em: https://bit.ly/2WspOvX

Infarto Agudo do Miocárdio (IAM)


No Infarto agudo do miocárdio ocorre a interrupção do fluxo sanguíneo em deter-
minada área do miocárdio, ocasionada pela obstrução coronariana, levando à isquemia
que, quando prolongada, causa comprometimento celular irreversível e morte celular
(MORTON; FONATINE, 2019).

Conforme discutimos anteriormente, até que se tenha o diagnóstico diferencial, a dor


precordial pode ser em decorrência de uma AI ou de um IAM, assim, alguns aspectos

12
importantes no processo de avaliação deve ser destacado e possibilitarão a caracteriza-
ção do Infarto do Miocárdio.

O tempo de dor é um dado importante, pois os pacientes que chegam ao serviço


de emergência com menos de 3 horas do início dos sintomas, a coleta das Troponinas
sensíveis serão um diferencial para o diagnóstico de IAM. Outro aspecto de grande re-
levância é a realização do ECG, que deverá ser feito em até 10 minutos após a chegada
do paciente no serviço. A redução do tempo para diagnóstico adequado é fundamental
para a preservação do miocárdio e também para reduzir tempo de permanência na
emergência. Para tanto, as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre An-
gina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST – 2021
propõe o uso do algoritmo de investigação em 3 horas conforme apresentado na Figura
a seguir:

Figura 4 – Algoritmo de diagnóstico da dor torácica aguda na emergência


Fonte: NICOLAU, 2021

O uso deste protocolo possibilita a realização de condutas dentro de um curto es-


paço de tempo com o objetivo de alcançar um diagnóstico preciso, evitando, assim, a
ocorrência inadvertida de alta. Nesse sentido, este protocolo indica a realização do ECG
seriado e a coleta de troponina ultrassensível na chegada à emergência, 3 horas após.
Associado a este protocolo estão disponíveis alguns escores de risco, que possibilitam
melhor avaliação do paciente com dor torácica. Estes escores são constituídos por dados
relativos aos sintomas, dados demográficos, ECG e os biomarcadores os escores mais
utilizados são Heart, Adapt e Edacs, que apresentaremos a seguir.

13
13
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Escore HEART (Figura 5)

Figura 5 – Escore Heart


Fonte: NICOLAU, 2021

Observe que os dados avaliados neste escore incluem a história clínica do paciente,
a idade, presença de fatores de risco, além dos resultados do ECG e da Troponina.
Resultados deste escore entre 0 e 3 possibilitam identificar 35% a 46% de pacientes com
baixo risco; já resultados entre 7 e 10 apontam alto risco de eventos cardíacos: superior
a 50% em 6 semanas.

Escore ADAPT (Figura 6)

Figura 6 – Escore ADAPT


Fonte: NICOLAU, 2021

Observe que neste escore são avaliados os resultados de Troponina e do ECG, além
do escore TIMI – Thrombolysis In Myocardial Infarction . O TIMI foi um estudo reali-
zado por Antmam et al., de um banco de dados que possibilitou evidenciar marcadores
independentes de pior prognóstico em pacientes com SCASSST (Síndromes coronaria-
nas agudas sem supradesnível do segmento ST), que foram denominados de “escore de
risco do grupo TIMI”:
• idade ≥ 65 anos;
• elevação de marcadores bioquímicos;
• depressão do segmento ST ≥ 0,5mm;
• uso de AAS nos 7 dias prévios aos sintomas;

14
• presença de três ou mais fatores de risco tradicionais para DAC (hipertensão, hiper-
colesterolemia, diabetes melito, tabagismo, história familiar);
• DAC conhecida; angina grave recente (< 24h).

Para uso deste escore cada um dos itens presentes recebe um ponto na somatória
e o paciente poderá ser classificado em baixo risco, risco intermediário ou alto risco,
conforme a pontuação obtida:
• Baixo risco: escore de 0 a 2;
• Risco intermediário: escore de 3 a 4;
• Alto risco: escore de 5 a 7.

Estudos têm evidenciado uma associação que quanto maior o escore de risco, maior
é a incidência de eventos como óbito, reinfarto e isquemia com indicação de revascula-
rização (NICOLAU, 2021).

Escore EDACS (Figura 7)

Figura 7 – Escore EDACS


Fonte: NICOLAU, 2021

Neste escore, observe que é considerado de baixo risco para eventos coronarianos
todo resultado menor do que 16 associado ao ECG sem alterações e com resultados de
2 troponinas negativas. É importante destacar que os fatores de risco analisados neste
escore (dislipidemias, diabetes, hipertensão, tabagismo atual, história familiar de DAC)
são aplicáveis a adultos de 18 a 60 anos.

Observe que cada uma destas ferramentas possibilitam avaliar o paciente com qua-
dro de dor torácica, permitindo identificar pacientes de baixo risco e, desta forma,
direcioná-los para o acompanhamento ambulatorial, bem como identificar situações
de maior gravidade, para que condutas adequadas a cada caso possam ser instituídas
(NICOLAU, 2021).

Aspectos Fisiopatológicos do IAM


O fluxo sanguíneo para os tecidos miocárdicos é interrompido em decorrência da
formação de um trombo por ocasião da ruptura da placa de uma lesão aterosclerótica,
que oclui o fluxo sanguíneo em torno de 20 a 40 minutos. Após a interrupção do fluxo
sanguíneo o comprometimento irreversível do miocárdio pode ter início.

15
15
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

A necrose do tecido parece ocorrer de forma sequencial, assim, as primeiras células


a morrerem são as da camada subendocárdica e depois se espalha por toda a espessura
do miocárdio. Estudos evidenciaram que quanto menor o tempo entre a oclusão coro-
nariana e a reperfusão, maior a quantidade de músculo salva. Assim, quando o fluxo é
restaurado dentro de 6 horas depois da oclusão, uma quantidade substancial de miocár-
dio poderá ser salva (MORTON; FONATINE, 2019).

Figura 8 – Formação do trombo a partir da ruptura da placa aterosclerótica


Fonte: Reprodução

Achados Clínicos na Avaliação do Paciente com IAM


A queixa mais comum apresentada pelo paciente vítima de IAM é o desconforto ou dor
torácica, os outros achados são semelhantes aos discutidos na avaliação da AI com o uso
do método NOPQRST. Contudo, no IAM, a dor, na maioria das vezes, é mais prolongada
e não alivia com repouso ou uso de nitroglicerina sublingual. Observe na Figura 9 que a
dor sugestiva de isquemia poderá ou não ser indicativo de IAM, pois depende da presença
do supradesnivelamento de ST e, na sua ausência, da presença dos marcadores.

Dor torácica sugestiva de isquemia

EGC sem SST EGC com SST


Marcadores Marcadores
negativos positivos
Angina instável IAM sem SST IAM com SST
Figura 9 – Diagnóstico de IAM

16
Nos casos de infarto da parede inferior é comum a presença de sintomas gastroin-
testinais, como náuseas e vômitos, que estão relacionados à intensidade da dor e à esti-
mulação vagal. Podem ocorrer, ainda, diaforese, dispneia, fadiga, fraqueza, inquietação,
confusão, ansiedade e sensação de morte iminente.

Achados no exame físico da vítima de IAM


• Aparentam-se em sofrimento e inquietos;
• Procuram posição na tentativa de promover melhora da dor e da respiração, que pode
estar laboriosa e rápida, podendo apresentar na ausculta pulmonar estertores subcre-
pitantes, crepitantes ou roncos que indicam insuficiência cardíaca ou edema pulmonar;
• Na avaliação cardiovascular pode ser evidenciado elevação da pressão em decorrên-
cia da ansiedade e, na vigência da insuficiência cardíaca, pode ocorrer a hipotensão;
• Pode ocorrer tanto a taquicardia como a bradicardia, sendo que a taquicardia si-
nusal persistente por mais de 24 horas após o infarto está associada a altas taxas
de mortalidade;
• Ausculta cardíaca pode ter B1 diminuída devido à diminuição da contratilidade,
assim como a presença da B4 é auscultado em quase todos os pacientes vítimas de
IAM. Já a B3 é detectada em cerca de 10 a 20% dos pacientes;
• Cerca de 48 a 72 horas após o IAM pode ser evidenciado o atrito pericárdio em
muitos pacientes;
• Outros achados do exame físico estão diretamente relacionados às complicações
do IAM, entre estas podemos citar o Edema Pulmonar e a Insuficiência Cardíaca;
• Nos quadro de infarto ventricular direito poder ser evidenciado: distensão jugular,
pressão venosa central elevada e edema periférico. Nestes casos, a ausculta pulmo-
nar estará limpa, uma vez que como o ventrículo D esta insuficiente não há fluxo
anterógrado (MORTON; FONATINE, 2019).

Vamos entender um pouco mais sobre o evento mais importante coronariano - o IAM?
Assista ao vídeo: Infarto agudo do miocárdio – Série Saúde Brasil.
Disponível em: https://youtu.be/LGxD1lffW7w

Vamos conhecer algumas condutas iniciais no IAM?

Quadro 3 – Condutas iniciais no IAM

Administração de A Aspirina age diminuindo a agregação plaquetária, principal


componente da formação do trombo. Seu uso reduz as taxas de
Aspirina mortalidade nos pacientes com IAM.

ECG de 12 derivações e O ECG de 12 derivações possibilita o diagnóstico e direciona o


tratamento. Manter o paciente em monitoração contínua é im-
ECG seriados portante para detecção de arritmias e alterações de segmento ST.

17
17
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Administração de Pode ser necessário, na vigência de edema pulmonar, monitorar a


oximetria de pulso e realizar a coleta de gasometria arterial para
oxigênio adequada análise da oxigenação.

Promove a vasodilatação e é recomendada nas primeiras 24 a 48


Nitroglicerina horas pós IAM. Sua administração SL é contraindicada quando os
sublingual níveis pressóricos estiverem menor do que 90 mmHg, com FC in-
ferior a 50 bpm ou superior a 100 bpm.

A Morfina é o analgésico de escolha para a dor de um infarto


do miocárdio, é administrada por via endovenosa em pequenas
Analgesia doses, podendo ser repetida a cada 5 minuto até o alívio da dor.
É necessária rigorosa monitoração respiratória, pois a morfina
pode deprimir a respiração.

Fonte: Adaptado de MORTON; FONATINE, 2019

Condutas Terapêuticas no IAM


Terapia Trombolítica: os trombolíticos são medicamentos que promovem a lise dos
trombos coronarianos, pois convertem o plasminogênio em plasmina, o que provoca a
degradação da fibrina em fibrinogênio, resultando na lise do coágulo. Sua administração
propicia o benefício máximo quando administrada dentro das primeiras 3 horas depois
do início dos sintomas, podendo, ainda, ter benefícios significativos se administrada em
até 12 horas do início dos sintomas. Assim, alguns pontos a serem observados quando
do uso desta terapia:
• Ter como meta concluir o diagnóstico e iniciar a terapia dentro de 30 minutos da
chegada no paciente na emergência;
• Instalar mais de um dispositivo venoso de grosso calibre, sendo um exclusivo para
a infusão do trombolítico;
• Monitorar, rigorosamente, ao paciente durante e depois da infusão do trombolíti-
co: avaliar a dor, normalização do segmento ST, observar arritmias de reperfusão
(taquicardia ventricular e bloqueio cardíaco AV), reações alérgicas, evidência de
sangramento e hipotensão;
• Observar sinais de reoclusão da artéria coronária: presença de dor torácica, eleva-
ção de segmento ST e instabilidade hemodinâmica;
• Estar atento a sinais de sangramentos externos em regiões subcutâneos ou em
mucosas e também a possíveis sangramentos internos e, nestes casos, estar atento
aos níveis pressóricos: hipotensão, alteração do nível de consciência por possível
sangramento intracraniano e, ainda, por meio de resultados de exame de urina e
fezes positivos para presença de sangue (MORTON; FONATINE, 2019).

Terapia por Angioplastia Coronária Transluminal Percutânea Primária


A Angioplastia primária de artéria alvo DEVE ser o tratamento de escolha sempre
que disponível, este procedimento é indicado quando os sintomas isquêmicos estão pre-

18
sentes em tempo inferior a 12 horas, quando há contraindicação à fibrinólise e os sinto-
mas estão presentes em tempo inferior a 12 horas, na vigência de choque cardiogênico
e Insuficiência cardíaca aguda (FALCÃO; MOSCOSO II, 2017).

A assistência de enfermagem é de fundamental importância para uma boa evolução e


o sucesso dos resultados pós-procedimento ainda na fase hospitalar, assim, o Enfermeiro
deve ter competência para adequado manejo do paciente submetido à Angioplastia e,
nesse sentido, deve:
• Realizar a avaliação pré-intervenção (história clínica e exame físico);
• Identificar situações clínicas diversas (alergia à aspirina, alergia à contraste, diabe-
tes, uso de heparinas e anticoagulantes);
• Avaliar os resultados de exames laboratoriais (pré e pós-procedimento);
• Monitorar possíveis complicações na via de acesso (hematomas, pseudoaneuris-
mas, fístulas).

Estar atento a todos estes aspectos contribuirá para um bom planejamento do cuida-
do de enfermagem deste paciente, podendo colaborar para evitar algumas das compli-
cações mais comuns: sangramento devido ao uso de antiagregante plaquetário, necessi-
dade de novas intervenções, trombose de stent, entre outros.

Saiba mais: acesse o artigo: “Cuidados de enfermagem pós-angioplastia transluminal co-


ronariana: validação de protocolo”.
O artigo traz uma proposta de um protocolo para a assistência de enfermagem pós Angio-
plastia. Disponível em: https://bit.ly/3mcL55H

Urgência e Emergência Hipertensiva


A crise hipertensiva é considerada um dos principais fatores de risco modificáveis
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e um dos mais importantes proble-
mas de saúde pública no mundo (FALCÃO; MOSCOSO II, 2017). No Brasil, segundo
a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2013, há uma prevalência de 21,4% de
adultos brasileiros que autorrelataram a Hipertensão Arterial, contudo, há uma aumento
do percentual para 32,3%, considerando as medidas de PA aferidas em adultos maior ou
igual a 140 por 90 mmHg e uso de medicamento anti-hipertensivos. Entre os gêneros
a prevalência foi maior nos homens e aumenta com a idade, chegando a 71,7% para os
indivíduos acima de 70 anos (Figura 10) (BARROSO et al., 2020).

19
19
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Figura 10
Fonte: BARROSO; et al., 2020

Prevalência populacional de hipertensão arterial segundo diferentes critérios


diagnósticos, em adultos com 18 anos de idade ou superior, ambos os sexos, por faixa
etária. BRASIL, 2013.

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) constitui-se como um dos grandes problemas


de saúde pública no Brasil e no mundo. Representa um dos mais importantes fatores de
risco para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais,
sendo responsável por pelo menos 40% das mortes por acidente vascular cerebral, por
25% das mortes por doença arterial coronariana e, em combinação com diabete, 50%
dos casos de insuficiência renal terminal (BRASIL, 2006).

Em 1993, no V Joint National Committee on Detection Evaluation and Treatment


of High Blood Pressure, os termos “Urgência” e “Emergência Hipertensiva” foram pro-
postos como estratégia para uma classificação operacional da crise hipertensiva.

As urgências hipertensivas caracterizam-se por situações clínicas em que ocorre ele-


vação acentuada da pressão arterial, sendo PAS ≥180 e ou PAD ≥ 120 mmHg, sem
lesão aguda e progressiva em órgãos-alvo e sem o risco eminente de morte. São consi-
deradas emergências hipertensivas quadros clínicos em que a PAS está ≥ 180 e a PAD ≥
120 mmHg com lesão aguda e progressiva de órgão alvo com risco iminente de morte
(BARROSO et al., 2020).

Nas unidades de emergência hospitalar cerca de 0,45 a 0,59% dos atendimentos


são de pacientes com crise hipertensiva; destes, 25% são de emergências hipertensivas,
que muitas vezes podem estar associadas ao acidente vascular encefálico isquêmico e ao
edema agudo de pulmão.

20
O que define a emergência hipertensiva não é necessariamente o nível pressórico
que, apesar de frequentemente muito elevada, é a condição clínica do paciente que a
determina. Assim, sua manifestação pode estar associada a um evento cerebrovascular,
cardiovascular, renal ou ainda envolvendo múltiplos órgãos. Outra situação que pode
determinar uma emergência hipertensiva são os quadros de pré-eclâmpsia (BARROSO
et al.;, 2020).

A Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial de 2020 apresenta diferenças que em


relação ao diagnóstico, tratamento e conduta a Urgência da Emergência conforme pode
observar no Quadro 1:

Quadro 4 – Diferenças do diagnóstico, tratamento e conduta da Urgência e da Emergência

• Nível pressórico elevado acentuado


• Sem LOA aguda e progressiva
Urgência • Combinação medicamentosa oral
• Sem risco iminente de morte
• Acompanhamento ambulatorial precoce (7 dias)

• Nível elevado acentuado


• Com LOA aguda e progressiva
Emergência • Fármaco parenteral
• Com risco iminente de morte
• Internação preferencial em UTI

LOA: lesão em órgãos-alvo; UTI: unidade de tratamento intensivo.

Fonte: Adaptado de BARROSO; et al., 2020. pg.600

O prognóstico para a emergência hipertensiva não tratada é de, aproximadamente,


80% em um ano, sendo que a sobrevida de até 5 anos é maior nos quadros de urgência
hipertensiva do que nas emergências, sendo que o tratamento efetivo da hipertensão
possibilita substancial melhora no prognóstico (BARROSO et al., 2020).

As emergências hipertensivas podem ser classificadas de acordo à lesão de órgãos


alvo (LOA) podendo ser: cerebrovasculares, cardiocirculatórias, renais ou de múltiplos
órgãos conforme apresentado no Quadro 6.

Quadro 5 – Classificação das emergências hipertensivas

• Encefalopatia hipertensiva;
• Acidente vascular encefálico isquêmico;
Cerebrovasculares
• Acidente vascular encefálico hemorrágico;
• Hemorragia subaracnóidea.

• Dissecção aguda de aorta;


Cardiocirculatórias • Edema agudo de pulmão com insuficiência ventricular esquerda;
• Síndrome coronariana agudas.

21
21
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

• Hipertensão acelerada/maligna;
• - Hipertensão MDO;
• - Crises adrenérgicas graves;
• - Crise do feocromocitoma;
Renais/
• - Dose excessiva de drogas ilícitas (cocaína, crack, LSD);
comprometimento de
• - Hipertensão na gestação;
múltiplos órgãos • - Eclâmpsia;
• - Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade;
• - Síndrome “HELLP”;
• - Hipertensão grave em final de gestação.

Fonte: Adaptado de BARROSO; et al., 2020

Nos quadros de hipertensão com múltiplos danos aos órgãos-alvo (MDO) há o com-
prometimento de três dos quatro sistemas apresentados no Quadro 6:

Quadro 6 – Órgãos alvos que podem ser afetados nas emergências hipertensivas

Neurológico Caracterizado por encefalopatia hipertensiva ou AVE

Disfunção sistólica por hipertensão ventricular esquerda ou


Cardíaco anormalidade da repolarização ventricular, ou ainda aumento
da troponina

Hematológico Hemólise microangiopática

Renal Presença de proteinúria devido a rápida deterioração da função renal

Fonte: Adaptado de BARROSO, et al., 2002.

A Diretriz Brasileira de hipertensão propõe ainda o que deverá ser investigado de


acordo aos sintomas apresentados pelos pacientes nas principais lesões ocasionadas pe-
las emergências hipertensivas, bem como destaca os aspectos do exame físico a serem
detalhados de acordo ao órgão-alvo afetado (Tabela 2).

Tabela 2 – Descrição dos sintomas, exame físico e investigação complementar nas principais lesões nas
emergências hipertensivas.
Principais Investigação complementar a
Sintomas Exame físico
lesões EH critério clínico
• ECG, saturação de O2, radio-
• FC, ritmo, alteração de pulso, grafia de tórax, marcadores de
galope, estase jugular, con- necrose miocárdica, BNP, desi-
• Dor ou desconforto no
gestão pulmonar, abdominal drogenase láctica;
Cardiovasculares tórax, abdome ou dorso;
e periférica;
• Dispnéia; fadiga; tosse. • Ecocardiograma;
• Palpação de pulsos nos qua-
tro membros. • Angiotomografia, TC de tórax e
RNM de tórax.

• Tontura; cefaleia; • Nível de consciência ou


coma, agitação, delírio ou • TC crânio;
Neurológicas • Visão, audição ou fala confusão, convulsão; déficits • RNM crânio.
alterada focais, rigidez de nuca.

22
Principais Investigação complementar a
Sintomas Exame físico
lesões EH critério clínico
• Edema ou desidratação;
• Alteração no volume e na • Alterações no aspecto da uri- • Urina I, creatinina; ureia; Na+;
Renais
frequência miccional. na (hematúria); K+; cloro; gasometria.
• Massas e sopros abdominais.
• Papiledema; hemorragias; exsudatos.
Fundo de olho • Alterações nos vasos como espasmos, cruzamentos arteriovenosos patológicos, espessamento na
parede arterial e aspecto em fio de prata ou cobre.
Exames comple- • ECG, radiografia de tórax, marcadores de necrose miocárdica, hemograma com plaquetas, creati-
mentares mínimos nina, urina I e potássio.
Fonte: Adaptado de BARROSO; et al., 2020

O tratamento para as crises hipertensivas é direcionado de acordo com a evolução e


classificação, desta forma, inicia-se com um período de observação em ambiente calmo,
o que possibilita identificar os casos de pseudocrise hipertensiva (PCH). Neste casos
não há LOA ou risco imediato de morte. Na maioria das vezes as alterações dos níveis
pressóricos está associado ao não controle da PA em hipertensos tratados e em hiper-
tensos não tratados com PA muito elevadas, que podem estar oligossintomáticos ou as-
sintomáticos. As elevações pressóricas decorrentes de evento emocional, doloroso ou de
outros desconfortos como enxaqueca, tontura rotatória, cefaleias vasculares e de origem
musculoesqueléticas e síndromes do pânico caracterizam-se como PCH, que poderão
ser conduzidos com repouso, analgésicos ou tranquilizantes.

O tratamento agudo das urgências hipertensivas é conduzido com o uso de captoprila


na dose de 25-50 mg – pico máximo de ação em 60 a 90 minutos e a clonidina na dose
de 0,100 a 0,200 mg que possui um tempo de ação mais rápido: entre 30 a 60 minutos.

Atenção: não é indicado a redução rápida e acentuadas da PA pelo risco de isquemia


tecidual, por isso o uso de nifedipina de liberação rápida é contraindicada (BARROSO
et al., 2020).

Nas emergências hipertensivas a abordagem do tratamento deve considerar o


órgão-alvo afetado, e o principal objetivo do tratamento é a rápida redução dos níveis
pressóricos para evitar a progressão da LOA e, para tanto, o paciente deverá ser tratado
em uma unidade de Tratamento Intensivo para uso de anti-hipertensivos intravenosos
e monitoração continua para evitar a hipotensão, uma vez que a queda da PA deverá
ocorrer da seguinte forma:
• PA média ≤ 25% - na primeira hora;
• PA 160/100 – 110 mmHg - nas próximas 2 a 6 horas;
• PA 135/85 mmHg - em 24-48 horas subsequentes.

Na Tabela 3 apresentamos os hipotensores mais utilizados no Brasil nas EH, bem


como as indicações, modo de administração e dosagem, o início do efeito da droga,
duração e eventos adversos e respectivas precauções.

23
23
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Tabela 3 – Hipotensores utilizados no Brasil nas EH


Administração e Eventos adversos e
Medição Indicação Início Duração
dosagem precauções
Por ser uma medicamento
fotossensível, deve ser prote-
Nitroprussiato de só-
gido da luz.
dio – vasodilatador Em quase todas as Infusão contínua
arterial e venoso emergências hiper- 0,25-10 mg/kg/min Imediato 1-2 min Pode causar intoxicação por
cianeto: náuseas e vômitos e
estimula a formação tensivas IV
hipotensão grave. Cuidados
de GMPc
na insuficiência renal e hepá-
tica e na PIC elevada.
Insuficiência coro-
Nitroglicerina va- Cefaleia, taquicardia reflexa,
nariana, Insufici- Infusão contínua IV
sodilatador arterial 2-5 min 3-5 min taquifilaxia, flushing, meta-
ência ventricular 5-15mg/h
e venoso -hemoglobinemia
esquerda com EAP
Insuficiência corona-
Metoprolol bloquea- mg IV (repetir 10/10 Bradicardia, BAV avançado,
riana Dissecção aguda
dor beta-adrenérgi- min, se necessário, 5-10 min 3-4 h insuficiê ncia cardi á ca, bron-
de aorta (em combi-
co seletivo até 20 mg) coespasmo
nação com NPS)
Ataque: 500μg/kg
Dissecção Aguda
Esmolol bloquea- Infusão intermitente
de Aorta (em com- Náuseas, vômitos, BAV 1º
dor beta-adrenér- IV 25-50 μg/kg/min
binação com NPS) 1-2 min 1-20 min grau, broncoespasmo, hipo-
gico seletivo de ↑ 25 μg/kg/min cada
Hipertensão pós- tensão
ação ultrarrápida 10- 20min. Máximo
-operatória grave
300 μg/kg/min
Taquicardia, cefaleia, vômi-
Hidralazina vaso-
10-20 mg IV ou 10- 1 0 - 3 0 tos. Piora da angina e do in-
dilatador de açaõ Eclâmpsia 3-12 h
40 mg IM 6/6 h min farto. Cuidado com a pressão
direta
intracraniana elevada
Diazóxido vasodila- Infusão IV 10-15min
Encefalopatia hiper- Retenção de sódio, água, hi-
tador da musculatu- 1-3 mg/kg Máximo 1-10 min 3-18 h
tensiva perglicemia e hiperuricemia
ra lisa arteriolar 150 mg
Insuficiência ventri- Infusão intermiten-
Enalaprilato inibidor Hipotensão, insuficiência re-
cular esquerda com te IV 5,0 mg 6/6h 15 min. 4-6 h
da ECA nal, gestação
EAP até 20 mg
Insuficiência ventri-
cular esquerda com
Edema Agudo de
Furosemida diuréti- Pulmão Situações de 20-60 mg IV (repetir 30-90
2-5 min Hipopotassemia
co de alça hipervolemia como após 30 min) min.
Doença Renal Crôni-
ca, Glomerulo nefri-
te difusa aguda.
Fonte: Adaptado de BARROSO; et al., 2020

Para a condução do atendimento das emergências hipertensivas, a Diretriz da Socie-


dade Brasileira de Hipertensão de 2020 sugere o seguinte fluxo de atendimento, como
mostra a Figura 11:

24
PAS > 180 e/ou PAD > 120mm Hg

Nova/Progressiva/Piora de lesão de orgão-alvo


SIM NÃO

Emergência Hipertensiva
Elevação importante da PA

Tratamento intensivo
Introduzir/readequar tratamento
anti-hipertensivo
Crises Cactecolaminérgicas
Edema Agudo de Pulmão
Dissecção Aguda de Aorta*
Acompanhamento ambulatorial
precoce (07 dias)

PA 25% 1ª h
PA < 140 mm Hg na 1ª h
160/100-110 mm Hg em 2-6 h
PA < 120 mm Hg na 1ª h*
Valores normais em 24 - 48 h

Figura 11 – Fluxo de atendimento da emergência hipertensiva


Fonte: BARROSO; et al., 2020

Abordagem da Enfermagem na Crise Hipertensiva


Estudo de revisão integrativa sobre os cuidados de enfermagem na crise hipertensiva
evidenciou que a atuação da enfermagem tem sido relacionada à abordagem inicial do
paciente em sala de emergência, na avaliação inicial e nos cuidados de enfermagem
relacionados aos cuidados de emergências, além da educação em saúde e na medida da
pressão arterial (QUAIROZ et al., 2018)

Segundo a pesquisa citada, destacamos aqui alguns cuidados que foram elencados
na revisão como prioritários na assistência ao paciente em crise hipertensiva: utilizar
aparelho de pressão arterial calibrado e realizar a medida da pressão arterial com técnica
correta e utilizar manguito de tamanho adequado.

É necessário realizar a medida da pressão arterial seguindo a 7ª Diretriz da Sociedade Bra-


sileira de Hipertensão.
• Monitorar a pressão arterial a cada 5 a 10 minutos, até que as metas sejam alcançadas;
• Instalar monitorização cardíaca contínua;
• Puncionar acesso venoso periférico;
• Comunicar, imediatamente, à equipe médica da unidade de emergência;
• Instalar oxigênio suplementar;
• Administrar infusão endovenosa do hipotensor prescrito;
• Realizar eletrocardiograma de 12 derivações;
• Encaminhar paciente à radiografia de tórax e tomografia computadorizada, conforme
solicitação médica;
• Coletar exames laboratoriais;

25
25
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

• Coletar histórico de saúde do paciente e avaliar os sintomas que sugerem danos a


órgãos-alvo;
• Realizar avaliação neurológica;
• Monitorar paciente que esteja em risco de apresentar convulsões;
• Garantir repouso no leito com a cabeceira da cama elevada em 30 graus;
• Orientar o paciente quanto à monitorização residencial da pressão arterial;
• Orientar o paciente sobre controle do peso, alimentação saudável, redução da inges-
tão de sal, prática de atividade física e cessação do tabagismo;
• Orientar o paciente quanto aos sinais e sintomas das crises hipertensivas;
• Orientar o paciente sobre a importância da adesão ao tratamento para hipertensão arterial.
Sugere-se a leitura deste artigo de revisão que consta das referências assim como das
Diretrizes Brasileiras de Hipertensão 2020 pois são documentos importantes para nortear
a assistência de enfermagem nas crises hipertensivas.

Nesta Unidade tratamos de condições clínicas muito comuns no cuidado do paciente gra-
ve, tanto as Síndromes Coronarianas Agudas como as Crises Hipertensivas são situações
comuns e frequentes, mas que envolvem a necessidade de uma equipe preparada para
identificar e atuar de forma rápida e eficaz, possibilitando a recuperação e minimizando
as sequelas.
• Apesar do enfermeiro não ser o profissional responsável pelo diagnóstico da doença,
ter a competência para identificar os sinais de agravos que envolvem riscos eminentes
de morte ou de complicações que podem gerar sequelas é de fundamental importân-
cia para a rápida conduta e assistência a este paciente. Lembre-se: você é o profissio-
nal responsável pela avaliação de risco e ter a competência para uma avaliação precisa
fará toda a diferença na vida do seu paciente. Assim, dedique-se, explore, aprofunde
seu conhecimento e busque a excelência, pois é ela que possibilitará uma assistência
de enfermagem livre de danos e de imperícias.

26
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Infarto Agudo do Miocárdio - Parte 1
https://youtu.be/zFlahOXu3Lk
Infarto Agudo do Miocárdio - Parte 2
https://youtu.be/cbndiwW65rU

Leitura
O papel da equipe de enfermagem frente a crise hipertensiva
https://bit.ly/2Y8sjEo
A enfermagem e o gerenciamento do cuidado integral
O Capítulo 17 aborda o perfil diagnóstico de enfermagem admissional de pacientes com
síndrome coronariana aguda internados em um CTI.
https://bit.ly/3B0d3rv
Programa de Cuidados Clínicos Protocolo de Conduta no Atendimento da Dor Torácica- HCOR
https://bit.ly/2Y121nh

27
27
UNIDADE
Assistência de Enfermagem ao Paciente com Agravos Cardiovasculares Clínicos

Referências
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Prevenção clínica de doenças cardiovasculares, cerebrovasculares
e renais. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

BARROSO, W. K. S.; RODRIGUES, C. I. S.; BORTOLOTTO, L. A.; MOTA-GOMES,


M. A.; BRANDÃO, A. A.; FEITOSA, A. D. M. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão
Arterial – 2020. Arq Bras Cardiol. v. 116, n. 3, p. 516-658, 2021.

CARAMELLI, B. Tratamento das doenças clínicas no paciente cardiológico. 1. ed.


Barueri: Manole, 2020.

FALCÃO, C.A.; MOSCOSO II, J. Cardiologia: diagnóstico e tratamento. 2. ed. Rio de


Janeiro: Med Book, 2017.

MALACHIAS, M. V. B.; SOUZA, W. K. S. B.; PLAVNIK, F. L.; RODRIGUES, C. I. S.;


BRANDÃO, A. A.; NEVES, M. F. T. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq
Bras Cardiol. v. 107, 2016.

MORTON, P. G.; FONATINE, D. K. Cuidados Críticos de Enfermagem: uma aborda-


gem holística. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.

NICOLAU, J. C.; FEITOSA-FILHO, G.; PETRIZ, J. L.; FURTADO, R. H. M.; PRÉCO-


MA, D. B.; LEMKE, W. – 2021. Arq Bras Cardiol. v. 117, n.1, p. 181-264, 2021.

QUEIROZ, A. C.; GODOY, D.; PEDROSA, R. B.; VEIGA, E. V. Cuidados de enferma-


gem em crise hipertensiva: uma revisão integrativa. Rev Soc Cardiol. v. 28, n. 3, 2018.
Disponível em: <https://socesp.org.br/revista/assets/upload/revista/168486037715
39116883pdfptCUIDADOS%20DE%20ENFERMAGEM%20EM%20CRISE%20HI-
PERTENSIVA%20-%20UMA%20REVIS%C3%83O%20INTEGRATIVA_SUPLEMEN-
TO%20DA%20REVISTA%20SOCESP%20V28%20N3.pdf> Acesso em: 02/09/2021.

VIANA, R. A. P. P.; WHITAKER, I. Y.; ZANEI, S. S. V. Enfermagem em terapia inten-


siva: práticas e vivências. 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2020.

28

Você também pode gostar