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II Congresso Internacional de Estudos em

Linguagem
UEPG – Ponta Grossa – PR
24 a 26 de Outubro de 2017

CRIATIVIDADE E INTELIGÊNCIA: UMA RELAÇÃO PARA A


IMAGINAÇÃO CRIADORA
CREATIVITY AND INTELLIGENCE: A RELATIONSHIP TO CREATING
IMAGINATION

Ingrid Gayer Pessi (mestranda em Educação e Novas Tecnologias) - UNINTER


Donizeti Pessi (doutorando em Educação) - UEPG

Resumo: A intenção da pesquisa, de caráter qualitativo-bibliográfico como revisão de


literatura, é discutir a relação entre criatividade e inteligência, e como essa influencia na
dimensão cognitiva do indivíduo. Se justifica pela observação de como a história do
desenvolvimento humano priorizou a mensuração da inteligência por meio de testes que
indicassem a quoeficiência intelectual. A inteligência (SANTROCK, 2004) é a
capacidade de resolver problemas, e de se adaptar às novas configurações linguísticas,
sociais e educativas. Contudo, os testes de Q.I. são ferramentas que podem criar
estereótipos e expectativas negativas. Guilford (1983) considerou que o talento criativo
não era uma questão de inteligência e de Q.I.; rejeitou os tradicionais testes e criou seu
próprio teste de criatividade, defendendo a importância da descoberta, na infância, do
potencial criativo. A criatividade, como um potencial de sensibilidade e de leitura, inclui
as vivências do sensível que se abre do sensorial ao intelectual. Esse potencial aprofunda
o raciocínio ligando-o ao intuitivo, e permite a vivência do próprio ser da sua ação criativa
(MOREIRA, 2016). Assim, criatividade e inteligência estabelecem uma relação não-
excludente, pois a primeira estimula a segunda e não a nega. A criatividade potencializa
a inteligência e busca, por ela, possibilidades de leitura do mundo.

Palavras-chave: criatividade, inteligência, sensibilidade.

Abstract: The qualitative-bibliographic research intent as a literature review is to discuss


the relationship between creativity and intelligence, and how this influences the
individual's cognitive dimension. It is justified by the observation of how the history of
human development prioritized the measurement of intelligence by means of tests that
indicated the intellectual quoeficiencia. Intelligence (SANTROCK, 2004) is the ability
to solve problems, and to adapt to new linguistic, social and educational configurations.
However, the Q.I. are tools that can create negative stereotypes and expectations.
Guilford (1983) considered that creative talent was not a matter of intelligence and Q.I .;
rejected the traditional tests and created its own test of creativity, defending the
importance of the discovery, in childhood, of the creative potential. Creativity, as a
potential for sensitivity and reading, includes the experiences of the sensitive that opens
from the sensory to the intellectual. This potential deepens reasoning by linking it to the
intuitive, and allows the self-experience of its creative action (MOREIRA, 2016). Thus,
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creativity and intelligence establish a non-excluding relationship, since the former


stimulates the latter and does not deny it. Creativity enhances intelligence and seeks,
through it, possibilities of reading the world.
Key-words: creativity, intelligence, sensitivity

Introdução

Abordar sobre a relação entre criatividade e inteligência tem sido prática realizada
em diferentes áreas do conhecimento, o que tem marcado o caráter dialético e
interdisciplinar dessa relação, bem como a exigência de uma discussão cada vez mais
sólida que corresponda à necessidade contemporânea de compreensão de como a
imaginação criadora se compõe.

O desenvolvimento da criatividade tem se configurado como uma das


preocupações educacionais, o que, igualmente tem gerado diversas indagações sobre a
essência mesma da capacidade criadora, bem como sobre de que modo essa pode ser
estimulada e desenvolvida no sujeito da educação.

Incitar à criatividade, nos mais diferentes modos da relação ensino e aprendizagem,


tem despertado interesse em compreender como a imaginação criadora se manifesta
como um fenômeno constante da inteligência, principalmente como um potencial para a
percepção e a sensibilidade.

Para tentar entender essa relação entre criatividade e inteligência para o


desenvolvimento de uma imaginação criadora, foram levantadas indagações que balizam
e fundamentam o presente trabalho. Como: Qual é o princípio originário do termo
criatividade? De que modo pode ser definida a criatividade? Qual a relação entre a
criatividade e inteligência?

O objetivo geral desse estudo sobre a criatividade, consiste em discutir, e propor,


sobre a relação entre criatividade e inteligência, e como essa [relação] influencia na
dimensão cognitiva do indivíduo. Para isso, buscou apresentar, historicamente a origem
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e o desenvolvimento do termo criatividade; desenvolver um entendimento sobre como


acontece sua relação com a inteligência, mais especificamente no âmbito educacional.

A relação entre criatividade e inteligência se apresenta como o objeto do presente


trabalho, configurando-se como ponto máximo do desenvolvimento da imaginação
criadora – principalmente em crianças em período de descobertas e de reação com o
mundo e consigo mesmo no mundo, que é necessariamente dado aos sentidos.

A criatividade se manifesta como atividade criadora que possibilita a abertura do


sensorial para o intelectual provocando encontros entre a sensibilidade e os processos
da imaginação/criação.

Para esse trabalho optou-se por uma pesquisa qualitativa-bibliográfica, se


caracterizando como uma revisão bibliográfica.

Contextualizando a Criatividade

Muitos fatos marcaram o início da história da humanidade. Há centenas de


milhares de anos a escuridão, o frio e o ataque de predadores, impulsionaram nossos
antepassados a buscarem recursos que dessem garantia a própria sobrevivência. Tinham
como cenário de vida a natureza e a observação, sendo esta última, talvez a responsável
pela descoberta do fogo, que segundo dizem ocorreu a partir de um raio, fato este, que
deve ter ocorrido naturalmente ao ser observadas as árvores atingidas por raios e
assistindo o fogo surgir na superfície de jazidas de petróleo, ou proveniente das
atividades vulcânicas, aonde o homem veio a aprender as propriedades inerentes ao fogo:
calor e luz, e a capacidade de alguns materiais secos pegarem fogo, como a madeira.

O homem como nenhuma outra criatura do nosso planeta, conseguiu usar a seu
favor um fenômeno natural para ajudar a vencer as dificuldades diárias. Com a
descoberta do fogo as noites passaram a não ser mais sombrias e tenebrosas, diminuindo
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a necessidade de se esconder ou lutar, agindo diretamente sobre a forma de pensar e viver


dos primeiros hominídeos.

O fogo veio para o homem como um instrumento de transformação da sociedade,


acelerando o progresso da cultura humana. Além de fornecer conforto térmico e melhorar
a preparação de alimentos, foi usado em rituais dos mais diferentes povos, na fabricação
de armas, na produção de novos materiais.

A idade da pedra foi um período da pré-história na qual o homem criou


ferramentas a partir de pedras, ossos, e outras matérias os quais encontravam na natureza.
Diversas rochas de rotura conchoide foram utilizadas na fabricação de ferramentas de
corte ou precursão. Nesse contexto é possível afirmar que a criatividade pode ser vista
como uma arma de combate na conquista da sobrevivência dos seres vivos.

O homem, no decorrer de sua existência soube fazer uso de sua criatividade,


aperfeiçoando, melhorando e inovando os fundamentos de sua sobrevivência, seja na
alimentação, vestuário, medicina, moradia, transportes, educação etc.

Criatividade é uma palavra que tem sua origem do latim, creare, que significa
criar, é uma qualidade que se desenvolve na infância e que está ligada a curiosidade em
buscar conhecer e modificar o cotidiano infantil. É uma capacidade inerente ao homem,
pela qual se diferencia dos demais animais, esteve sempre presente nestas descobertas, e
continua sendo uma arma de combate na conquista da sobrevivência do homem. Mas o
que é a criatividade?

[...] pode ser caracterizada como um potencial de sensibilidade, incluindo todas as


vivencias do sensível, num amplo leque que se abre do sensorial ao intelectual-
vivências essas que levam à compreensão de ordenações dinâmicas, explícitas e
implícitas, e as visões de coerência e beleza. É um potencial que aprofunda nosso
raciocínio consciente, ligando-o ao intuitivo (e até mesmo ao inconsciente), e que
permite vivenciarmos nosso ser e agirmos criativamente. (MOREIRA, 2016, p. 11).

Sendo assim é possível afirmar que a criatividade humana se revela a partir de


associações e combinações inovadoras de planos, modelos, sentimentos, experiências e
fatos.
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No decorrer da história da humanidade é possível constatar que nem sempre a


criatividade foi vista desta forma. Na Idade Média segundo Dacey (cf.1999), era
entendida como um processo misterioso, sobrenatural, um presente dos deuses de acordo
com a crença de cada um.

A esquizofrenia doença mental, que tem como característica alucinações e ouvir


vozes já foi vista como transmissão da criatividade dos deuses.

Na passagem para da Renascença para o Humanismo entendia-se como sendo um


fator hereditário. Já em nosso século, várias teorias surgem abrindo novas perspectivas
para o aproveitamento próprio da criatividade em favor da tecnologia, saúde, e várias
áreas profissionais como forma de inovação em um tempo de grandes mudanças.

Definir criatividade não é tarefa fácil uma vez que ao fazê-lo se tem a
oportunidade de traçar um caminhos pouco convencional no afã de encontrar um
significado que a represente. “A criatividade contém em si um gama de possibilidades
explicativas, o que confere coerente polissemia em sua essência”. (MOREIRA, 2016, p.
21). Sendo sua definição plural tanto quanto sua natureza.

Hoje é possível perceber que a criatividade não pertence só aos artistas como se
pensava anteriormente em outras épocas, no entanto é possível perceber considerações
de que estas estão relacionadas às produções artísticas, descobertas científicas etc.
Segundo Shansis (cf. 2003) a criatividade tem um sentido amplo, além das artes e
ciências, uma vez que, ao pensar nela, se remete a trabalhos artísticos e pesquisas
científicas.

No dia a dia, nos afazeres mais simples, rústicos e básicos confere-se a


criatividade o poder de solução para um problema e de transformação do mesmo, se
apresenta em todas as atividades de forma inconsciente, mas necessita ser compreendida
e experimentada de forma consciente.

Trazer o tema para a atualidade dando-lhe contornos claros de aplicabilidade e


valor compreendendo que a criatividade:
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[...] não é um fenômeno novo, pois tem acompanhado o homem em suas perguntas,
buscas e realizações desde sempre. No entanto, o interesse por compreendê-la,
estimulá-la e aplicá-la na educação, na empresa e na vida cotidiana e recente, e se faz
necessário todo um processo de desmistificação, pois durante muito tempo a
criatividade esteve vinculada de maneira quase exclusiva à arte, a invenção científica e
à genialidade. (SANMARTI, 2012 apud MOREIRA, 2016, p. 22).

A criatividade é dotada de regras e metodologias, fato que muitas vezes não é


levado em conta visto perceber apenas o lado subjetivo e lúdico da mesma, a partir da
práxis, e uso da razão e do pragmatismo, chega à compreensão da direção do pensamento
encontrando soluções para novos e velhos problemas.

A criatividade não é negar o pensamento racional, mas, sim, partir dele para construir
novas equações para os problemas e soluções. É ela que potencializa a inteligência,
inaugurando novas maneiras de pensar o mesmo e às vezes velho problemas.
(FELDMAN 2008 apud MOREIRA, 2016, p. 23).

Percebe-se que a criatividade por ser provocativa estimula a inteligência no afã


de encontrar possíveis soluções para os problemas. Não se ensina ser criativo:

[...] nem se aprende nos livros, mas na prática diária e reflexiva de todas as formas de
expressão, unidas a uma imaginação transformadora e transgressora que converte o ser
humano num crítico e num transformador do se contexto. (COSTA 2002 apud
MOREIRA, 2016, p. 25).

A criatividade está ligada a uma liberdade tanto da compreensão e assimilação


quanto da manifestação e expressão. Para Isaksen e Lauer (cf. apud, MOREIRA, 2016),
existe uma intrínseca conexão entre quatro elementos: pessoa, processo, produto e
ambiente. Torre (cf. 2007) e Reis e Ribeiro (apud MOREIRA, 2016), reforçam este
conceito dizendo que a criatividade aglomera em si valores e comportamentos que
colocam em ação a capacidade e o talento dos indivíduos, fazendo com que sintam auto
estimulados e estimulam o meio, e ao colocar em ação dão significado à criatividade.

O âmbito educacional, um dos maiores espaços de construção social, onde se


desenvolvem capacidades de pensar, julgar, criar, discriminar ou selecionar, e ao mesmo
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tempo se adquire conhecimento de algo, por meio do pensamento é criado uma incursão
do que é novo. É através de um problema que se estimula a mente para o ato de pensar,
inventar coisas novas, transformando situações e inovando o modo de agir.

A criatividade é fator fundamental no cotidiano escolar, pois ela oferece


oportunidades de inovação. Pessoas criativas apresentam grande satisfação e sucesso no
desenvolvimento de suas práticas.

Considerações finais

A criatividade, como aquela que estimula a capacidade imaginativa e criadora, se


constitui como um fato que exige grande reflexão, e que depende de diversos fatores.
Entre esses fatores encontra-se a necessidade do estabelecimento da experiência do
sujeito, bem como os seus interesses, para com o mundo e a educação [espaço por
excelência onde a educação para a sensibilidade pode acontecer].

Desse modo, pode-se caracterizar a imaginação, que por sua vez, não se manifesta
do mesmo modo nas mais diferentes fases do desenvolvimento humano; ou seja, não
acontece do mesmo modo na criança e no adulto. A imaginação, a partir da relação entre
criatividade e inteligência, se manifesta e age de modo especifico de acordo com cada
etapa desenvolvimento do indivíduo.

A imaginação criadora se desenvolve de acordo com o envolvimento de cada


indivíduo com aquilo que caracteriza a possibilidade do desenvolvimento da inteligência.
E a construção, bem como a relação, da inteligência e da criatividade estão vinculadas
àquelas atividades às quais o indivíduo está submetido ao longo de sua história –
inclusive sua vida escolar, onde também alimenta e desenvolve suas nossas capacidades
cognitivas e imaginativas/criadoras.

Pode-se considerar, finalmente, que inteligência, criatividade e imaginação exigem


uma relação que pressupõe entendimento e fundamento para seu desenvolvimento. Tanto
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uma quanto outra supõem experiências do sujeito da educação, o que o conduz à


valoração da sua ação e da sua interação com o seu mundo circundante. Porém essa
relação exige, ainda, uma inteligência que cognitivamente desenvolvida, ou seja, uma
inteligência que prescreva um pensamento formal-sistemático – como aquele que melhor
prepara, habilita e capacita a imaginação criadora.

Referências

ALENCAR, Eunice Soriano de. Psicologia da Criatividade. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1986.

DACEY, J. (1999). Concepts of Creativity: A History. In M. Runco, & S. Pritzker


(Eds.), Encyclopedia of Creativity (pp. 309--322). San Diego: Academic Press.

MOREIRA, Maria Elisa. Era uma vez dentro de nós. São Paulo: Paulinas, 2016.

SHANSIS, Flávio et al. Desenvolvimento da versão para o português das Escalas de


Criatividade ao Longo da Vida (ECLV). Revista Pisiquiatr., Rio Grande do Sul, vol.25,
n.2, p. 284-296, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
81082003000200005&script=sci_abstract&tlng=pt

TORRE, Saturmino de La. Dialogando com a criatividade. Trad.: Cristina Mendes


Rodrigues. São Paulo: Madras, 2005.

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