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COLÉGIO PEDRO II

Concurso Público de Provas e Títulos para preenchimento de cargos vagos da


Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – Edital nº 37/2016
PROVA ESCRITA - SOCIOLOGIA

PROVA ESCRITA DE SOCIOLOGIA


PRIMEIRA PARTE – QUESTÕES OBJETIVAS (100 pontos)

1ª QUESTÃO

O sociólogo Ruy Braga (2009) estabelece um diálogo com Manuel Castells, Antonio Negri e
Michael Hardt sobre as avaliações destes autores acerca de uma “sociedade informacional” ou
“pós-fordista”. Segundo Braga, os três autores apresentam, considerando suas especificidades,
“a percepção de uma sociedade completamente renovada pelas tecnologias informacionais e
integrada por redes de produção e informações impelidas por uma revolução informacional capaz
de socializar a produção rumo a um novo modo de produção” (2009: 64).
Contrapondo-se a estas análises que idealizariam o trabalho informacional, Braga propõe a
pesquisa das condições de trabalho dos trabalhadores de Centrais de Teleatividades (CTA’s)
brasileiras.
Considerando o diagnóstico acerca das CTA’s no trabalho de Ruy Braga, analise as seguintes
assertivas:
I – As empresas como as CTA’s, de produção de bens e serviços, apresentam como
características o neotaylorismo e a terceirização.
II – A forte presença de mulheres jovens entre os operadores das CTA’s, muitas na condição de
arrimo de família, produz um efeito de mobilização política acentuado.
III – As atividades das CTA’s demonstram que a reestruturação capitalista possui uma natureza
progressista, tendo por eixo o desenvolvimento do trabalho imaterial.
IV – A atomização dos trabalhadores no ambiente das CTA’s e a condição de heterogeneidade
que os caracteriza dificultam a construção de uma identidade coletiva no trabalho.

Estão corretas
a) I e II.
b) I e IV.
c) I, II e III.
d) II, III e IV.

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2ª QUESTÃO

“O Colégio Pedro II extinguiu a distinção do uniforme escolar por gênero (...). Antes, a escola
estabelecia as peças do vestuário destinadas aos meninos (uniforme masculino) e aquelas para uso
das meninas (uniforme feminino). Agora, a escola traz apenas a nomenclatura ‘uniforme’, ficando a
cargo dos alunos a opção por qualquer um deles. (...) A instituição afirma que a decisão é resultado
de um conjunto de mobilizações e discussões promovidas por alunos e professores em vários campi.”

(Fonte: Jornal O Globo, 19/09/2016, Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/colegio-pedro-ii-


extingue-distincao-de-uniforme-por-genero-20139240)

O debate sobre a extinção do chamado “binarismo de gênero” nas regras sobre o uso do
uniforme no Colégio Pedro II nos remete à teoria desenvolvida por Judith Butler (2015) em seu
livro Problemas de Gênero.

Sobre a teoria de Butler e seu debate com a chamada “segunda onda” do feminismo,
representada por teóricas como Simone de Beauvoir, podemos afirmar que a autora
a) incorpora da “segunda onda” a ideia da construção da categoria gênero a partir da noção
de identidade.
b) incorpora da “segunda onda” a ideia de que as estruturas binárias reforçam um discurso
cultural hegemônico.
c) critica a falta de unidade do sujeito político do feminismo no discurso feminista da “segunda
onda”.
d) critica as noções binárias de sexo/gênero, homem/mulher, sujeito/outro presentes nas
teorias da “segunda onda”.

3ª QUESTÃO

A partir das análises de Giorgio Agamben (2004), podemos afirmar que o conceito de estado
de exceção moderno
a) estabelece uma indeterminação entre absolutismo e democracia, sendo uma criação da
tradição absolutista.
b) é uma técnica de governo que, contemporaneamente, se afasta do paradigma da
segurança como técnica normal de governo (caso francês).
c) está presente em diversos Estados contemporâneos e pode ser considerado como
paradigma de governo dominante da política contemporânea.
d) acontece em períodos de crises políticas, insurreições, guerra civil e, por isso, não possui
forma legal, sendo puramente um ato político.

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4ª QUESTÃO

Segundo Theodor Adorno e Max Horkheimer, a indústria cultural poderia ser caracterizada
como “o mais inflexível de todos os estilos. [...] Quem resiste só pode sobreviver integrando-se.
Uma vez registrado em sua diferença pela indústria cultural, [a pessoa] passa a pertencer a ela
assim como o participante da reforma agrária ao capitalismo” (1985. p. 123).

De acordo com as análises dos dois autores, a indústria cultural


a) acentua a diversidade da cultura de massas.
b) afasta-se da publicidade, criando um estilo próprio.
c) reduz a arte e a distração a uma fórmula totalizante.
d) recusa a fusão entre cultura e entretenimento.

5ª QUESTÃO

“A disciplina às vezes exige a cerca, a especificação de um local heterogêneo a todos os outros e


fechado em si mesmo. Local protegido da monotonia disciplinar. Houve o grande ‘encarceramento’
dos vagabundos e dos miseráveis; houve outros mais discretos, mas insidiosos e eficientes. (...)
Mas o princípio de ‘clausura’ não é constante, nem indispensável, nem suficiente nos aparelhos
disciplinares. Estes trabalham o espaço de maneira muito mais flexível e mais fina. E em primeiro
lugar segundo o princípio da localização imediata ou do quadriculamento. (...) Importa estabelecer as
presenças e as ausências, saber onde e como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações
úteis, interromper as outras, poder a cada instante vigiar o comportamento de cada um, apreciá-lo,
sancioná-lo, medir as qualidades ou os méritos. Procedimento, portanto, para conhecer, dominar e
utilizar.”
(Foucault, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2014, p. 139-140)

“A cada tipo de sociedade, evidentemente, pode-se fazer corresponder um tipo de máquina: as


máquinas simples ou dinâmicas para as sociedades de soberania, as máquinas energéticas para as
de disciplina, as cibernéticas e os computadores para as sociedades de controle. Mas as máquinas
não explicam nada, é preciso analisar os agenciamentos coletivos dos quais elas são apenas uma
parte. Face às formas próximas de um controle incessante em meio aberto, é possível que os
confinamentos mais duros nos pareçam pertencer a um passado delicioso e benevolente.”
(Deleuze, G. Conversações. São Paulo: Ed. 34, 1992, p. 216).

As duas perspectivas apresentadas – de Michel Foucault e Gilles Deleuze – apontam para


certas características das sociedades modernas (reconhecidas como disciplinares) e
contemporâneas (intituladas por Deleuze como sociedades de controle).

Podemos indicar que as características corretas de cada tipo de sociedade são,


respectivamente,
a) controle ao ar livre / modelo de prisão.
b) grandes meios de confinamento / modelação e dominação das massas.
c) modulação e dominação das massas / regulação por assinaturas e números.
d) controle de longo prazo e limitado / controle de curto prazo, contínuo e ilimitado.

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6ª QUESTÃO

A antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, em Índios no Brasil (2013), afirma que o século
XIX é um período heterogêneo do ponto de vista político e que as políticas indigenistas no Brasil,
naquele momento, são o reflexo de todas essas disparidades.

Sobre este período, é possível afirmar que


a) a política indigenista deixou de ser uma questão de mão de obra para ser uma questão de
terras.
b) nos documentos do Império não há registro de um grande plano de “civilização” dos índios.
c) o processo de “civilização” dos índios significava a sua catequização.
d) a escravidão indígena havia sido completamente eliminada.

7ª QUESTÃO

Ao tratar dos problemas nocivos da chamada “crise ambiental”, o sociólogo Anthony Giddens
afirma:
“A ecotoxicidade afeta potencialmente a todos, produzindo uma contaminação genérica, por
substâncias que atingem indiretamente o meio ambiente por meio de áreas de despejo de detritos,
esgotos e por outros canais (...).”
(apud Acselrad, H. et al. O que é justiça ambiental? Rio de Janeiro: Garamond, 2009, p.12).

Sobre a perspectiva presente na frase de Giddens e a noção de “justiça ambiental”, podemos


afirmar que elas
a) convergem na constatação da distribuição socialmente desigual dos riscos ambientais e
dos recursos naturais entre os diferentes grupos sociais.
b) convergem no entendimento do caráter global dos problemas ambientais, pois, apesar de
esses serem produzidos obedecendo à lógica de interesses econômicos particulares, seus
efeitos são nocivos para a humanidade de modo geral.
c) divergem quanto à ideia de sustentabilidade: enquanto Giddens concorre para o tema da
ecotoxicidade, os teóricos da justiça ambiental a compreendem a partir das formas sociais de
desperdício e escassez dos recursos naturais.
d) divergem quanto ao entendimento do “problema ambiental”: enquanto Giddens expressa
uma noção socialmente indiferenciada da crise ambiental, a perspectiva da justiça ambiental
enfatiza o caráter desigual da distribuição dos riscos ambientais.

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8ª QUESTÃO

As teorias sociológicas sobre o capitalismo dependente latino-americano, elaboradas ao


longo das décadas de 1960 e 1970, expressam divergências em relação ao impacto da
internacionalização dos mercados no pós-II Guerra Mundial.
Em relação ao processo de modernização econômica brasileira e latino-americana na fase de
incorporação dessas economias ao capitalismo monopolista, analise as seguintes assertivas:
I – Enquanto Florestan Fernandes compreende que a implantação do capitalismo monopolista nas
economias latino-americanas impedirá qualquer conciliação entre capitalismo, democracia e
autodeterminação, Fernando Henrique Cardoso constata uma tendência à solidariedade de
reinvestimentos dos capitais externos nas economias mais desenvolvidas da região, como é o caso do
Brasil, México, Chile e Argentina.
II – Para Florestan Fernandes, o setor estatal da economia brasileira, apesar de sua relevância na fase
da incorporação ao capitalismo monopolista, não serviu de contrapeso às pressões ultraconservadoras
provenientes do setor privado nacional e internacional. Coube ao Estado somente absorver o modelo da
grande corporação capitalista e fortalecer o poder da iniciativa privada nacional e internacional.
III – Ao tratar do “novo caráter da dependência” na fase da internacionalização dos mercados, Fernando
Henrique Cardoso expõe a inviabilidade da convivência entre dependência e desenvolvimento na
América Latina e denuncia o regime militar brasileiro no que se refere ao caráter estagnacionista de sua
política econômica.

Dentre as assertivas acima, esta(ão) correta(s)


a) somente a I.
b) I e II.
c) I e III.
d) II e III.

9ª QUESTÃO

Referindo-se ao crescimento das ocupações irregulares dos terrenos urbanos precários e às


técnicas de autoconstrução de moradias empregadas nessas ocupações, Ermínia Maricato diz:
“Uma nova alternativa de moradia popular é implementada pela dinâmica própria de produção
da cidade e não pelas propostas de regulação urbanística ou de política habitacional,
mostrando que, enquanto os projetos de leis constituíam ideias fora do lugar, um lugar estava
sendo produzido sem que dele se ocupassem as ideias” (2002. p. 151).

Sobre as “ideias fora do lugar e lugar fora das ideias” na gestão das políticas de planejamento
urbano no Brasil, a autora afirma que
a) a intensificação do “caos urbano” decorre de leis ineficientes para o planejamento urbano.
b) o padrão excludente das grandes cidades brasileiras é reflexo da crise do planejamento
urbano modernista baseado em grandes investimentos estatais.
c) existe um descompasso entre as matrizes teóricas do planejamento urbano (“cidade ideal”)
e a produção da “cidade real”.
d) a inexistência de planos urbanísticos integrados origina uma política urbana
antidemocrática e excludente.

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10ª QUESTÃO

Mary Douglas, em Pureza e Perigo (1966), aborda a questão das fronteiras simbólicas e da
classificação, fundamentando-se em um referencial teórico estrutural-funcionalista.
A respeito das análises da autora sobre poder e poluição, é correto afirmar que, nas
sociedades
a) com estrutura social bem definida, a ideia de poluição como perigo é incomum.
b) com estrutura social precária, a ideia de poluição dificulta a reprodução da vida social.
c) em que o sistema social é bem articulado, os poderes estão afastados dos pontos de
autoridade.
d) em que o sistema social é mal articulado, os poderes estão investidos naqueles que são a
fonte da desordem.

11ª QUESTÃO

Em sua teoria sobre os intelectuais e o princípio educativo, Antonio Gramsci elabora a


seguinte reflexão sobre o papel da escola e sua tarefa educativa:

“A consciência individual da esmagadora maioria das crianças reflete relações civis e culturais
diversas e antagônicas às que são refletidas nos programas escolares: o ‘certo’ de uma cultura
evoluída torna-se ‘verdadeiro’ nos quadros de uma cultura fossilizada e anacrônica, não existe
unidade entre escola e vida e, por isso, não existe unidade entre instrução e educação. Por isso
pode-se dizer que, na escola, o nexo instrução-educação somente pode ser representado pelo
trabalho vivo do professor, na medida em que o professor é consciente dos contrastes entre o tipo de
sociedade e de cultura que ele representa e o tipo de sociedade e cultura representado pelos alunos
(...). Se o corpo docente é deficiente e o nexo instrução-educação é abandonado, visando a resolver
a questão do ensino de acordo com esquemas abstratos nos quais se exalta a educatividade, a obra
do professor se tornará ainda mais deficiente: ter-se-á uma escola retórica, sem seriedade, pois
faltará a corposidade material do certo e o verdadeiro será verdadeiro só verbalmente, ou seja, de
modo retórico” (Cadernos do cárcere, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2007, v. 2, p.44).

Sobre a crítica elaborada por Antonio Gramsci à instituição escolar e ao rompimento do nexo
instrução-educação podemos afirmar que
a) dirige-se ao caráter aristocrático e oligárquico das “escolas unitárias”, destinadas à
formação de intelectuais orgânicos.
b) destina-se às escolas de tipo profissional, fundamentadas na separação entre trabalho
manual e intelectual.
c) destina-se às escolas aristocráticas, orientadas pela meritocracia e pela formação para o
trabalho manual.
d) orienta-se às escolas humanistas, separadas da produção material da vida e dos saberes
contidos no trabalho manual.

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12ª QUESTÃO
Ao traçar os caminhos teóricos de construção da categoria gênero, Adriana Piscitelli (2002)
percorre distintas tradições dos estudos feministas.

Nas perspectivas representadas por Gayle Rubin e por Judith Butler, a noção de gênero pode
ser entendida, respectivamente, como
a) intervenção humana na construção biológica/ “ato” intencional e “performático”.
b) categoria homóloga às diferenças sexuais biológicas/ construção sócio-histórica de papeis
sociais.
c) construção social da identidade sexual/ imperativo da cultura que opõe homens e mulheres
através do parentesco.
d) construção psicológica, social e biológica da diferença sexual/ categoria baseada no
trânsito entre natureza e cultura.

13ª QUESTÃO

“Na ânsia de prevenir tensões raciais hipotéticas e de assegurar uma via eficaz para a integração
gradativa da ‘população de cor’, fecharam-se todas as portas que poderiam colocar o negro e o
mulato na área dos benefícios diretos do processo de democratização dos direitos e garantias
sociais. Pois é patente a lógica desse padrão histórico de justiça social. Em nome de uma igualdade
perfeita no futuro, acorrentava-se o ‘homem de cor’ aos grilhões invisíveis de seu passado, a uma
condição sub-humana de existência e a uma disfarçada servidão eterna”.
(Fernandes, F. A integração do negro na sociedade de classes. São Paulo: Globo, 2008, v. 1, p. 309)

O trecho acima, do sociólogo Florestan Fernandes, expõe a lógica das relações raciais no
período de consolidação da ordem social competitiva no Brasil.

O processo de “integração gradativa” do negro à sociedade de classes refere-se a uma


sociedade baseada no(a)
a) democracia racial.
b) racismo institucional.
c) preconceito de marca.
d) “mito” da democracia racial.

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14ª QUESTÃO

“O relator da reforma do ensino médio no Congresso, senador Pedro Chaves (PSC-MS), prevê que
as escolas não serão obrigadas a ofertar todos os conteúdos e é a favor da retirada de disciplinas,
como Filosofia e Sociologia, da grade obrigatória. (...) Ele sugere que Filosofia e Sociologia sejam
abordadas nas aulas de História, assim como a disciplina de Artes poderia ser estudada junto com
Literatura”.
(Fonte: http://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,relator-defende-retirar-materias-como-filosofia-e-sociologia-do-
ensino-medio,10000083657. Acesso em 28/10/2016)
A proposta de reforma do Ensino Médio, no que tange à disciplina Sociologia, traz à luz um
aspecto que marca sua trajetória, ao considerarmos o período transcorrido entre os anos de 1925
e 2008.

Conhecendo essa longa trajetória de institucionalização da disciplina, podemos afirmar que


sua presença nos currículos obrigatórios equivalentes ao do atual Ensino Médio foi marcada por
instabilidade e intermitência,
a) iniciadas com a Reforma Gustavo Capanema em 1942, que a excluiu enquanto disciplina
obrigatória nos currículos da escola média.
b) iniciadas com a Lei Nº 5.692/71, que a preservou enquanto disciplina obrigatória
exclusivamente para os cursos profissionalizantes.
c) encerradas com a Lei Nº 7.044/82, que a reinseriu como disciplina obrigatória em todas as
séries da escola média, com ênfase nos cursos profissionalizantes.
d) encerradas com a Lei Nº 9.394/96, que estabeleceu a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e que a reinseriu como disciplina obrigatória na escola média.

15ª QUESTÃO

“Mesmo com o pedido de arquivamento da licença ambiental da Usina Hidrelétrica de São Luiz do
Tapajós pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), movimentos sociais continuam militando
contra a realização de novos projetos de construção de hidrelétricas na Amazônia. (...) De acordo
com os movimentos sociais, o momento ainda é de alerta para impedir novos projetos
governamentais que [ameacem] a bacia do Tapajós, formada pelo Teles Pires, Juruena, Jamanxim e
outros tributários de segunda ordem. Em quase todos, existem dezenas de projetos de construção de
hidrelétricas e portos. ‘Sou filha de Montanha Mangabal, tenho orgulho de ser ribeirinha. Esse rio é
minha vida. Sou acostumada com peixe, limão, pimenta e pirão de farinha. Tenho horta e uso muito a
terra. Por isso não queremos hidrelétrica de jeito nenhum’, disse Tereza Lobo, moradora da
comunidade no alto Tapajós.”
(Fonte: http://g1.globo.com/pa/santarem-regiao/noticia/2016/08/movimentos-mantem-resistencia-projetos-de-
hidreltreicas-na-amazonia.html Acesso em 05/11/2016)

A notícia acima, publicada no portal G1 em 30 de agosto de 2016, ilustra uma ação


coordenada de movimentos sociais de caráter popular. Segundo Maria da Glória Gohn (2006), os
movimentos populares trabalham a partir de categorias específicas, como
a) exclusão social e resistência.
b) representação e cidadania.
c) experiência e cidadania.
d) identidade coletiva e direitos.

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16ª QUESTÃO

“O fato de que os europeus ocidentais imaginaram ser a culminação de uma trajetória civilizatória
desde um estado de natureza, levou-os também a pensar-se como os modernos da humanidade e de
sua história, isto é, como o novo e ao mesmo tempo o mais avançado da espécie. Mas já que ao
mesmo tempo atribuíam ao restante da espécie o pertencimento a uma categoria, por natureza,
inferior e por isso anterior, isto é, o passado no processo da espécie, os europeus imaginaram
também serem não apenas os portadores exclusivos de tal modernidade, mas igualmente seus
exclusivos criadores e protagonistas. O notável disso não é que os europeus se imaginaram e
pensaram a si mesmos e ao restante da espécie desse modo - isso não é um privilégio dos europeus
- mas o fato de que foram capazes de difundir e de estabelecer essa perspectiva histórica como
hegemônica dentro do novo universo intersubjetivo do padrão mundial do poder”
(Quijano, A. in Lander, E. (org.) A colonialidade do saber – eurocentrismo e ciências sociais,
perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 111-112).

A Lei Nº 10.639/2003, que dispõe sobre “o estudo da História da África e dos Africanos, a luta
dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à
História do Brasil”, na perspectiva apresentada por Quijano, aponta no sentido de currículos
escolares que
a) possibilitem narrativas pedagógicas não eurocêntricas, destacando e valorizando
processos e contribuições dos povos colonizados.
b) eliminem referências europeias no âmbito da história e da cultura brasileira, introduzindo
narrativas favoráveis aos povos colonizados.
c) valorizem as narrativas de modernidade, criando possibilidades de inclusão do negro e da
cultura negra brasileira nessas narrativas.
d) engendrem narrativas pedagógicas descolonizadoras, enfatizando o papel do negro e da
cultura negra brasileira em detrimento de outros papeis.

17ª QUESTÃO

“A Polícia Federal suspeita que a organização criminosa, liderada por um técnico judiciário de
Rondônia, pode ter fraudado 42 concursos para acesso a 64 cargos públicos realizados entre 2010 e
2015 para vagas em 30 tribunais, além de autarquias e Assembleias Legislativas. A investigação,
desdobramento da Operação Afronta, é a maior já realizada nessa área pela PF. ‘Há vários
concursos que, comprovadamente, foram fraudados, e os candidatos habilitados com a ajuda da
organização criminosa continuam recebendo salários e desempenhando suas funções sem que
tenham qualificação para tanto’, alerta o delegado Victor Hugo.”
(Fonte: http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/pf-ve-fraude-em-42-concursos-para-64-cargos-publicos/.
Acesso em 25/10/2016).
A notícia acima, publicada no Jornal O Estado de S. Paulo, em 11 de dezembro de 2015,
assinala uma prática de fraudes que subverte a definição weberiana de dominação racional legal
(em casos de racionalidade plena) com quadro administrativo burocrático do Estado, pois seus
funcionários devem
a) possuir competência, com atribuição dos poderes de mando requeridos.
b) exercer continuamente as funções oficiais em um âmbito limitado.
c) comprovar qualificação profissional, com uma especialização.
d) exercer seu cargo como profissão única ou principal.

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18ª QUESTÃO
“[...] Enviada pela Presidência da República sob o pretexto de restabelecer o ‘equilíbrio fiscal’ e a
‘confiança dos mercados’, a PEC 241 impõe aos três Poderes um limite de despesas e de
investimentos vigente pelos próximos 20 anos. Em termos práticos, o orçamento público ficaria
congelado de um ano para outro, permitindo-se modificações apenas para repor perdas
inflacionárias. (...) Pelos impactos sociais e econômicos que encerra, as discussões em torno da PEC
241 teriam tudo para serem as mais importantes já enfrentadas pela sociedade brasileira desde a
promulgação da Constituição Federal de 1988. Contudo, o problema reside justamente nesse ponto:
a PEC 241 não está sendo suficientemente debatida com a população”.
(Fonte: http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2016/10/14/sem-consulta-popular-pec-241-e-incompativel-com-
a-democracia.htm. Acesso em 21/10/2016).

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que no Senado Federal passou a ser PEC
55, coaduna-se com o conjunto de diretrizes que compõe teoricamente o Estado neoliberal.
Segundo os parâmetros apresentados por David Harvey em O Neoliberalismo: história e
implicações (2014), podemos apontar que a ideia de governança no campo do neoliberalismo
a) deve favorecer os direitos individuais e os contratos, sendo sempre pautada pela
democracia.
b) privilegia os contratos, os direitos coletivos e a liberdade de ação, pautados pelo regime
democrático.
c) não pode ser pautada pelo regime democrático, sendo um atributo das forças que atuam
no mercado.
d) é considerada uma ameaça potencial aos direitos individuais se exercida pelo regime da
maioria.

19ª QUESTÃO

“Influenciados pelas ideias do cientista político italiano Antonio Gramsci e pelos movimentos sociais
latino-americanos, o Podemos almeja criar amplas maiorias de participação cidadã. O eixo do debate
se produz por meio dos chamados ‘Círculos Podemos’, agrupamentos formados por qualquer cidadão
disposto a participar na elaboração do programa. As candidaturas apresentadas nas eleições foram
escolhidas em listas abertas, nas quais os integrantes de círculos votavam. Mais de 33 mil espanhóis
escolheram os nomes em uma lista na qual os perfis dos candidatos espelhavam as ruas:
professores universitários e de ensino médio, doutorandos obrigados a trabalhar como garçons ou
sair da Espanha para procurar emprego etc. (...) O desempenho eleitoral também atiça os
adversários. Os meios de comunicação tradicionais tentam desacreditar a iniciativa, a direita os
classifica de antissistema e os socialistas do PSOE alertam para a ameaça de uma ‘esquerda
bolivariana’.” (grifos nossos)
(Fonte: http://www.cartacapital.com.br/revista/806/das-calcadas-para-as-urnas-1443.html. Acesso em 02/11/2016)

A partir das reflexões teóricas e conceituais apresentadas por Norberto Bobbio (2000) acerca
dos diferentes tipos e possibilidades da democracia, os grupos que classificam o Podemos como
antissistema se pautariam pela defesa da
a) democracia direta, pautada em experiências da pólis grega clássica.
b) democracia representativa, pautada em preceitos liberais.
c) monocracia, pautada na experiência franquista espanhola.
d) policracia, pautada no deslocamento do poder para a sociedade.

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20ª QUESTÃO
Segundo Marilena Chauí, em O que é ideologia (2008), a ideologia consiste precisamente na
transformação das ideias de classe dominante em ideias dominantes para a sociedade como um
todo, de modo que a classe que domina no plano material (econômico, social e político) também
domina no plano espiritual (das ideias).
Isso significa que:
I – Embora a sociedade esteja dividida em classes, a dominação de uma classe sobre as outras faz com
que só sejam consideradas válidas, verdadeiras e racionais as ideias da classe dominante.
II – É preciso que as ideias da classe dominante sejam convertidas em ideias comuns (universais
abstratos) a todos, distribuindo-as através da educação, religião, costumes e meios de comunicação
disponíveis.
III – A luta de classes é percebida pelo conjunto das classes dominadas e essas não se veem como
possuidoras de certas características próprias de classe em uma sociedade desigual.
IV – Tais ideias não exprimem a realidade, mas representam a aparência social, as imagens das coisas
e dos homens; há uma inversão, fazendo com que a realidade concreta seja tida como a realização
dessas ideias.

Estão corretas
a) I e III.
b) I e IV.
c) I, II e IV.
d) II, III e IV.

21ª QUESTÃO

O conceito de etnocentrismo pode ser indicado como uma das ideias-chave da Antropologia e
da compreensão da dinâmica cultural humana. Em texto escrito para a UNESCO em 1952
(intitulado “Raça e História”), o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss propõe uma definição
correntemente usada até os dias de hoje.

O debate sobre etnocentrismo pressupõe uma definição de cultura com a qual o antropólogo
trabalha. No texto, o conceito de cultura que o perpassa nos sugere que
a) a ideia de evolucionismo cultural nega a existência de sociedades sem história, procurando
explicar as diversidades de culturas através de estágios evolutivos não lineares.
b) a cultura só pode ser entendida enquanto diversidade cultural, sendo essa atribuída ao
isolamento e ao pouco contato estabelecido entre sociedades na antiguidade, que
desenvolveram modos de vida distintos.
c) todas as culturas humanas possuem uma atitude etnocêntrica comum, facilitando um certo
isolamento; as colaborações culturais passaram a ocorrer apenas em um período histórico
recente, tendência que pode levar a uma convergência universal cultural, particularmente
linguística.
d) a originalidade de cada cultura está no modo de resolver os problemas de sua sociedade,
ao perspectivar valores que se aplicam para todos os homens, tais como a linguagem, arte,
conhecimentos positivos, crenças, entre outros.

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22ª QUESTÃO

O trabalho, em suas variadas dimensões, é um dos centros de reflexão sobre a modernidade


capitalista nos escritos de Émile Durkheim e Karl Marx. Durkheim (2016) propõe suas reflexões
em torno dos conceitos de divisão do trabalho, solidariedade, consciência coletiva e anomia. Karl
Marx (1988) interpreta o trabalho a partir da lógica da alienação e da transferência de valor, assim
como a partir das relações de trabalho na produção de mercadorias.

Tendo em conta as aproximações e/ou distanciamentos entre estes autores, podemos afirmar
que
a) tanto para Marx quanto para Durkheim, as organizações profissionais e sindicais cumprem
um papel central na coesão social.
b) Durkheim e Marx possuem como ponto de convergência a ideia de que a divisão do
trabalho é o principal fator que distingue as sociedades modernas das pré-modernas.
c) para Marx, o fator trabalho está relacionado à exploração, em sociedades com propriedade
privada dos meios de produção, enquanto para Durkheim o trabalho é constituidor de
solidariedade e coesão social.
d) enquanto Durkheim enfatiza o tipo de consciência moral gerada a partir da solidariedade
orgânica como ponto de regulação, Marx afirma que a crise da sociedade feudal só pode ser
superada pela regulação jurídica da luta de classes.

23ª QUESTÃO

“O que é mesmo fundamental neste tema, que explica em última análise sua permanência nos
últimos 80 anos, quando o Brasil se transformou na realidade de maneira radical enquanto sua
‘interpretação’ continuou a mesma (...) é que ele permite legitimar a ideologia mais elitista e
mesquinha sob a ‘aparência’ de ‘crítica social’. Como isso é conseguido? Ora, basta simplificar e
eliminar a ambiguidade constitutiva tanto do mercado quanto do Estado (...) e transformar o mercado
no reino idealizado de todas as virtudes (...) e o Estado em reino de todos os vícios (...) Esta
percepção distorcida, infantil e enviesada da realidade social é a única razão para a permanência
dessa noção como conceito central da interpretação conservadora do Brasil até hoje.”
(Souza, J. Batalhadores brasileiros. Belo Horizonte: Ed. UFMG. 2012: 352)

No trecho acima, o sociólogo Jessé Souza faz uma crítica a um dos pilares da sociologia
hegemônica no Brasil, referente à tese do(a)
a) liberalismo econômico, utilizado na sociologia brasileira como uma variação equivocada da
teoria weberiana.
b) patrimonialismo que, segundo o autor, serviria para ocultar um tipo de capitalismo
selvagem e voraz.
c) homem cordial, que oculta a verdadeira violência das relações de classe no Brasil e seus
efeitos simbólicos.
d) democracia racial, que sustenta um racismo velado e impede a mobilidade social
ascendente da nova classe média.

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24ª QUESTÃO

No Livro 1, Tomo 1 de O Capital, Karl Marx (1988) problematiza os economistas políticos e


suas tentativas de teorizar sobre uma suposta harmonia natural do mercado capitalista, apontando
a lei do valor como o que rege a anarquia da produção capitalista.

Sobre uma das principais considerações de Marx acerca deste processo, é correto afirmar
que
a) a produção capitalista não é apenas produção de mercadorias, ela é essencialmente
produção de mais-valia.
b) é no processo de trabalho que se encontra a dupla função da mercadoria, como valor de
uso e valor de troca.
c) o empreendedor capitalista recebe o lucro como a soma dos gastos na produção e sua
recompensa.
d) a produção de mais-valia se completa apenas com o prolongamento do processo de
trabalho por horas suplementares.

25ª QUESTÃO

Em seu livro Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos (2014), o sociólogo português
Boaventura de Souza Santos propõe uma aproximação entre uma concepção contra-hegemônica
dos direitos humanos e as teologias políticas progressistas, produzindo um diálogo possível e
desejável para superar os limites da versão hegemônica dos direitos humanos.

Segundo ele, esta versão hegemônica


a) não possui a estabilidade que as teologias políticas podem trazer, através de dogmas bem
construídos e coerentes.
b) parte de concepções e práticas monoculturais e universalistas, constituindo um dos
maiores obstáculos à construção de uma luta de baixo para cima.
c) supera uma visão intercultural e frágil que caracteriza os direitos humanos desde sua
constituição, impedindo sua plena eficácia.
d) são apenas princípios hipócritas e insustentáveis de universalidade, escondendo um triplo
sistema de dominação capitalista-patriarcal-colonial.

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SEGUNDA PARTE – QUESTÕES DISCURSIVAS (100 pontos)

1ª QUESTÃO
Valor da questão: 25 pontos

Elaborando novas interpretações acerca da situação do negro na pós-abolição, Carlos


Hasenbalg (2005) traça críticas importantes em relação às teorias da estratificação social e da
adaptação do negro à sociedade de classes capitalista. Para o autor argentino, a raça não é fator
“exógeno” na desigualdade social, mas sim composicional (estrutural).

Segundo ele,

“Como se verá, se o racismo (bem como o sexismo) torna-se parte da estrutura objetiva das
relações políticas e ideológicas capitalistas, então a reprodução de uma divisão racial (e
sexual) do trabalho pode ser explicada sem apelar para preconceito e elementos subjetivos
(…).
Em suma, a raça, como critério fenotípico historicamente elaborado, é um dos critérios mais
relevantes que regulam o mecanismo de recrutamento para ocupar posições na estrutura de
classes e no sistema de estratificação social. Apesar de suas diferentes formas (através do
espaço e do tempo), o racismo caracteriza todas as sociedades capitalistas multirraciais
contemporâneas. Como ideologia e como conjunto de práticas cuja eficácia estrutural
manifesta-se numa divisão racial do trabalho, o racismo é mais do que um reflexo
epifenomênico (sic) da estrutura econômica ou um instrumento conspiratório usado pelas
classes dominantes para dividir os trabalhadores. Sua persistência histórica não deveria ser
explicada como mero legado do passado, mas como servindo aos complexos e
diversificados interesses do grupo racialmente supraordenado (sic) no presente”

(Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. 2ª edição, Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro:
IUPERJ, 2005. p.121 e 124)

Utilizando o debate racial balizado em Gilberto Freyre, Florestan Fernandes e Carlos


Hasenbalg, com suporte do texto acima, discuta o papel dos fatores relacionados ao preconceito e
à discriminação racial nas barreiras de mobilidade social dos negros no Brasil.

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2ª QUESTÃO
Valor da questão: 25 pontos

As publicações do Ministério da Educação intituladas Superando o racismo na Escola (2005)


e Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais (BRASIL, 2006) foram
criadas no contexto da Lei Nº 10.639/03 para subsidiar educadores e trabalhadores da educação
a reconstruir e ressignificar o papel do continente e culturas africanas no ensino das mais diversas
disciplinas.

Em um dos textos que compõe a publicação Superando o racismo na escola, a professora


Véra Neusa Lopes procura desnaturalizar o racismo, estabelecendo distinções conceituais e
propondo uma prática de aprendizagem coletiva, como sugere no trecho a seguir:

“As pessoas não herdam, geneticamente, ideias de racismo, sentimentos de preconceito e


modos de exercitar a discriminação, antes os desenvolvem com seus pares, na família, no
trabalho, no grupo religioso, na escola. Da mesma forma, podem aprender a ser ou tornar-
se preconceituosos e discriminadores em relação a povos e nações.
(...)
Professor e alunos devem organizar-se em comunidades de aprendizagem, onde cada um
chegue com seus saberes e juntos vão construir novos conhecimentos num processo de
trocas constantes, desmistificando situações de racismo, preconceito e discriminação
arraigados nos grupos sociais e nas pessoas individualmente. Nesse aprender coletivo,
professor e alunos acabam por enriquecer o processo educativo para ambos os sujeitos da
aprendizagem. Especialmente quando se trata de racismo, preconceito e discriminação, o
investigar e o aprender juntos garantem aprendizagens de melhor qualidade, porque
construídas coletivamente.” (2005: 188-189)

Seguindo a proposta de “comunidades de aprendizagem”, elabore um plano de aula sobre a


relação entre racismo e acesso à educação para o 2o ano do Ensino Médio.

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3ª QUESTÃO
Valor da questão: 25 pontos

Pierre Bourdieu, em seus Escritos de educação (2007), questiona o papel do sistema escolar
na promoção da mobilidade social e da igualdade de oportunidades entre as distintas classes
sociais. Para o autor, esse sistema atua de forma eficaz na conservação social. O trecho abaixo
sistematiza suas críticas à escola e ao papel da violência simbólica na legitimação das
desigualdades no interior dessa instituição:

“ (...) Ao atribuir aos indivíduos esperanças de vida escolar estritamente dimensionadas pela
sua posição na hierarquia social, e operando uma seleção que – sob as aparências de
equidade formal – sanciona e consagra as desigualdades reais, a escola contribui para
perpetuar as desigualdades, ao mesmo tempo em que as legitima. Conferindo uma sanção
que se pretende neutra, e que é altamente reconhecida como tal, (...) ela transforma as
desigualdades de fato em desigualdades de direito, as diferenças econômicas e sociais em
‘distinção de qualidade’, e legitima a transmissão da herança cultural. (...) O sucesso
excepcional de alguns indivíduos que escapam ao destino coletivo dá uma aparência de
legitimidade à seleção escolar, e dá crédito ao mito da escola libertadora junto àqueles
próprios indivíduos que ela eliminou, fazendo crer que o sucesso é uma simples questão de
trabalho e de dons. Enfim, aqueles que a escola ‘liberou’, mestres ou professores, colocam
sua fé na escola libertadora a serviço da escola conservadora, que deve ao mito da escola
libertadora uma parte de seu poder de conservação.” (2007. p. 58-59)

Levando em consideração a teoria de


Bourdieu em conjunto com o trecho em
destaque acima e a charge ao lado,
elabore um plano de aula orientado à 1ª
série do Ensino Médio que articule os
seguintes pontos:

 PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO
 ESCOLA
 VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

Fonte: HARPER, Babette et al. Cuidado, escola! - desigualdade, domesticação e algumas saídas. São Paulo:
Brasiliense, 1987, p.72. Adaptado.

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4ª QUESTÃO
Valor da questão: 25 pontos

Na entrevista a seguir, publicada na edição 85, de 20 de janeiro de 2016, na Revista Desafios


do Desenvolvimento, de responsabilidade do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas), o sociólogo Jessé de Souza assinala algumas reflexões acerca de teorias e estudos
das classes sociais no capitalismo:

“Desenvolvimento – E onde entramos com a questão da nova classe média?


Jessé – A classe média é privilegiada. Quando se usa a palavra classe, a noção principal é
de que há uma luta. Embora eu não veja como o marxismo vê, concordo que o ponto para
compreender nossa sociedade é perceber que há uma luta de classes. Todas as mentiras
que existem, sejam científicas, ou do senso comum da grande imprensa, têm a ver com luta
de classes. A atual crise brasileira e essa contraposição entre mercado e Estado têm a ver
com o quê? Têm a ver com um mecanismo de encobrir a luta de classes. O que é luta de
classes? É a apropriação monopolizada ou oligopolizada dos recursos escassos. Os
recursos não são apenas materiais, como normalmente a gente pensa. Recursos como
charme, beleza, prestígio, conhecimento, autoconfiança são atributos que alguns têm,
outros não. Algumas camadas da sociedade têm acesso privilegiado a isso. Têm todo o
poder político, de financiamento, via eleições. E o mais importante de todos, eu acho, o
atributo da informação.”
(Fonte:
http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3200&catid=30&Itemid=41 .
Acesso em 08/11/2016)

Apresente os fundamentos conceituais da teoria de classes sociais em Max Weber e Karl


Marx, relacionando-os ao trecho da entrevista de Jessé de Souza.

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