A cultura do cancelamento é um movimento que ocorre com frequência na internet, onde pessoas são "canceladas" e banidas das redes sociais. Embora possa levar a debates importantes, também gera riscos como censura, perseguição e falta de regras claras. O especialista entrevistado defende que deve haver limites para intervenções e que é preciso debater coletivamente como lidar com esse fenômeno.
A cultura do cancelamento é um movimento que ocorre com frequência na internet, onde pessoas são "canceladas" e banidas das redes sociais. Embora possa levar a debates importantes, também gera riscos como censura, perseguição e falta de regras claras. O especialista entrevistado defende que deve haver limites para intervenções e que é preciso debater coletivamente como lidar com esse fenômeno.
A cultura do cancelamento é um movimento que ocorre com frequência na internet, onde pessoas são "canceladas" e banidas das redes sociais. Embora possa levar a debates importantes, também gera riscos como censura, perseguição e falta de regras claras. O especialista entrevistado defende que deve haver limites para intervenções e que é preciso debater coletivamente como lidar com esse fenômeno.
O que é cultura do cancelamento? O que significa nos mundos real e digital?
Por Natalie Rosa
O que é a cultura do cancelamento na sociedade?
Para entender melhor esse movimento que vem acontecendo com frequência na internet, o Canaltech conversou com Diogo Soares, bacharel em ciências sociais pela USP e gerente de projetos na área digital e redes sociais há mais de 10 anos. Para Diogo, o termo "cultura do cancelamento" é bastante vago, visto que pode ser aplicado de formas diferentes em localidades e culturas distintas, mesmo que as redes sociais tragam uma aproximação entre as pessoas. "O que é passível de uma punição em uma sociedade não é na outra", conta. Isso, conforme políticas públicas que definem o que é crime ou não, que depende da criação de uma lei, a necessidade de ser votada para ser aprovada, muitas vezes alterando a constituição. Fora disso, o profissional afirma que existe uma série de mobilizações que anseiam por coisas diferentes, buscam por leis diferentes e proteções que estão dentro de um espaço público, que estão abertas e em discussão. "A cultura do cancelamento se difere dessas outras manifestações políticas porque ela se dá em um ambiente privado, na conversa com uma rede social que é privada e que, apesar de ter um caráter público no sentido de que as pessoas estão em um espaço público, o cancelamento das pessoas como um banimento se dá no sentido de uma conta, um serviço, de uma funcionalidade — muito mais no ambiente privado de quem está se mobilizando", conta. Portanto, Diogo diz que as pessoas, dentro desse espaço e como indivíduos, são as que definem o que é certo e o que é errado, sem que uma lei ou instituição esteja organizando isso. "Eu te cancelo e eu tenho o poder de fazer isso e eu vou chamar outras pessoas para fazerem a mesma coisa. Então, o que era passível de ter uma discussão pública acaba construindo outras formas privadas de uma cultura que pode dar muito errado, muito rápido", completa o bacharel, dizendo ainda que isso gera outras culturas mais severas, como a do apedrejamento e do linchamento, de que existe um poder nas mãos que será usado livremente. Todos os passos dessa forma mais agressiva de cultura, para o entrevistado, vão contra uma estruturação de nossa sociedade que preza pela educação das pessoas, pelas suas mudanças e pelas formas de construção mais sensíveis e menos autoritárias. "É um mundo muito mais complexo que vem sendo nivelado por baixo, em uma espécie de movimentação que não passa por questões de valores, mas sim perseguições e outros tipos de sentimento que são muito individualistas", completa. (...) Os adolescentes dominam a internet e não há como negar. Consequentemente, eles são os que mais estão envolvidos na cultura do cancelamento, fazendo críticas constantes sobre o que eles julgam como certo ou errado, seja mostrando o rosto ou atrás de perfis falsos. Porém, para Diogo, essa tendência não pertence somente a eles. "O que estamos vendo é uma coisa muito mais propagada, que pode ser que tenha mais foco nos jovens, mas acontece em níveis menores e com menos repercussão entre os mais velhos em meio a um ambiente político- partidário, ambientes de setores e tudo mais. Existe um certo tipo de mobilização social que age de maneira privada, que acontece de uma maneira que não se mobiliza socialmente no espaço público, e acha essas trincheiras de uma maneira precária, mas com muita força. Não visa uma reconstrução, mas sim uma chamada para a paralisação, no caso o cancelamento", explica Diogo. O profissional conta que esse descontentamento acontece porque a pessoa que está cancelando pensa que não pode mudar o cancelado, e em vez disso consegue o excluir de sua vida — e excluir a própria vida do cancelado —, fazendo com que ele perca seus patrocinadores, não vá a determinados eventos, entre outros. (...) Para Diogo, é preciso também diferenciar sobre o que são lutas a favor de causas importantes, que valem a pena e fazem as pessoas mudarem seus comportamentos, do que é um abuso de censura e perseguição. "Isso precisa ser rapidamente debatido na sociedade, quais são os limites de cada intervenção. Os efeitos podem ser uma melhoria no sistema social aberto, fortalecimento de boas condutas, educação, formas de comportamento mais inclusivos, mas também pode acontecer movimentos de desentendimentos, segregação, censura, entre outras coisas", diz.... Ainda há muito a ser feito em relação a esta nova cultura do cancelamento, criando regras de forma coletiva. O bacharel diz que é exatamente isso que essa nova tendência cria: a sensação de que não existe uma regra para todo mundo, e que quem falar mais alto sai ganhando, dificultando a convivência social. De certa forma, a cultura do cancelamento, por estar em um ambiente público, traz a oportunidade de pessoas entenderem as questões graves relacionadas ao racismo, entre outros preconceitos, nunca antes debatidas no offline. Disponível em<https://canaltech.com.br/comportamento/o-que-e-cultura-do-cancelamento-164153/>
Proposta de exercício: Após a leitura do texto-base, responda:
1) A cultura do cancelamento deve ser apoiada?
2) Qual a opinião da autora sobre o tema? 3) Quais argumentos ela utiliza para defender seu ponto de vista? 4) Você concorda ou discorda dos argumentos apresentados?