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AULA 6

GERENCIAMENTO DE
ATIVIDADES DE
ABASTECIMENTO E
CROSS DOCKING

Profª Carla Diógenes


CONVERSA INICIAL

Esta aula se inicia com uma descrição das características de um


planejamento logístico. Na sequência, descreve como as operações logísticas
estão inseridas em diferentes formatos de organização. A utilização dos
condomínios logísticos e da ferramenta omnichannel são comentados
posteriormente. A aula termina com uma reflexão sobre as tendências para os
processos logísticos nos próximos anos.

TEMA 1 – PLANEJAMENTO LOGÍSTICO

Segundo Ballou (2006), o planejamento logístico busca sempre responder


às seguintes perguntas: “o quê”, “quando” e “como”. Também se estrutura em três
níveis:

• Estratégico: considerado de longo prazo, com horizonte temporal de mais


de um ano;
• Tático: com um horizonte temporal intermediário, geralmente inferior a um
ano;
• Operacional: é o processo decisório de curto prazo, em que normalmente
as decisões são tomadas a cada hora ou dia (Ballou, 2006).

O autor apresenta exemplos de decisões tomadas nos âmbitos


estratégicos, táticos e operacionais.

Quadro 1 – Níveis de decisão

Nível de Decisão
Área de decisão Estratégico Tático Operacional
Localização dos Definição dos Definições sobre a
estoques e níveis dos quantidade e o
Estoques
definição das estoques de momento de
normas de controle segurança reposição
Definição das
Definição dos regras de
Serviços aos Preparação das
padrões de priorização dos
clientes remessas
procedimentos pedidos dos
clientes
Fonte: Ballou, 2006.

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1.1 Áreas do planejamento logístico

A maior preocupação do planejamento logístico consiste em encaminhar o


produto de forma eficaz ao longo do canal logístico previamente planejado.
Uma vez que as operações logísticas visam atender os consumidores, as
principais áreas do planejamento logístico estão relacionadas a quatro aspectos
(Ballou, 2006; Gonçalves, 2013):

• serviço aos clientes;


• estoques;
• transporte;
• centros de distribuição (instalações).

1.1.1 Serviços aos clientes

Uma das maiores preocupações do processo de elaboração do


planejamento das empresas é estabelecer o nível de serviço logístico que será
oferecido aos seus clientes. Serviços mais reduzidos implicam um menor número
de locais de estocagem e transportes mais baratos. Já os serviços oferecidos de
maneira mais ampla podem acarretar maiores custos logísticos. Por isso, a
determinação dos níveis de serviço oferecidos aos clientes é um fator
indispensável no planejamento.

1.1.2 Gestão dos estoques e da demanda

Existe uma série de questões envolvendo a gestão dos estoques e da


demanda:

• Qual o nível de estoque a ser mantido para cada item em particular?


• Como serão e onde estarão dispostos os estoques (centralizados ou
descentralizados, junto das fábricas ou próximos aos clientes)?
• Qual é o tamanho do estoque de segurança que deverá ser dimensionado
para suportar as oscilações de consumo ou alterações nos prazos de
entrega dos produtos?
• Como esses estoques serão controlados?

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1.1.3 Gestão dos transportes

Nas questões voltadas às estratégias de transporte, a primeira proposição


em exame envolve a seleção dos diversos modais de transporte disponíveis e a
eventual combinação deles.
Também são avaliadas as questões relacionadas ao tamanho da carga a
ser transportada, suas características físicas dimensionais e seu peso.
Além disso, é importante realizar uma análise criteriosa sobre a otimização
do binômio veículo versus carga transportada, bem como sobre as melhores rotas
de transporte.

1.1.4 Gestão dos centros de distribuição

Nesse contexto, o primeiro aspecto que deve ser ponderado diz respeito
ao número de centros de distribuição que serão implantados, o tamanho de cada
centro e a sua localização, além de se estudar a conveniência estratégica em
manter centros próprios ou terceirizados.
O foco estratégico desse contexto é encontrar a estratégia que levará à
alocação mais baixa ou a alternativa de maior lucratividade.

1.2 Estratégias do planejamento logístico

De acordo com Caxito (2019), o planejamento logístico de uma organização


pode contemplar questões estratégicas, tais como:

• Terceirização: quando se decide se parte dos produtos e serviços da cadeia


produtiva poderá ser atendida por uma empresa externa, em um
relacionamento de interdependência e colaboração;
• Centralização: envolve decisões sobre o grau de controle que a empresa
terá em relação a fornecedores, os insumos e a distribuição, visando à
garantia da qualidade de matérias-primas, componentes e produtos finais;
• Postponement: corresponde ao adiamento do processo de montagem final
de produtos, depois que o pedido do cliente é recebido, buscando
economia nos custos de transporte e estocagem e flexibilidade, pois os
produtos são estocados desmontados. Pode ser de vários tipos:
− etiquetagem: quando os produtos são armazenados sem qualquer rótulo
ou etiqueta que identifique sua marca;

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− embalagem: quando os produtos vendidos possuem embalagens de
tamanhos diferentes;
− fabricação e montagem: quando a fabricação e a montagem do produto
são retardadas até que se receba o pedido do cliente.

1.3 Cinco áreas do planejamento logístico

O planejamento da rede logística envolve cinco áreas-chaves (Ballou,


2006).

• Demanda: a relação entre o nível de demanda e a dispersão geográfica


influencia altamente a configuração das redes logísticas.
• Serviço ao cliente: incluem disponibilidades de estoques, rapidez de
entrega e precisão no processamento dos pedidos. Quando o nível de
serviço é alterado, cria a necessidade de reformular a estratégia logística.
• Características dos produtos: os custos logísticos são impactados quando
há mudanças nas características dos produtos, tais como peso do produto,
volume, embalagem, valor e risco. Nesses casos, o replanejamento do
sistema logístico pode ser necessário.
• Custos logísticos: os custos praticados pela empresa, envolvendo
suprimento e distribuição física, determinam a frequência com que seu
sistema logístico precisa ser reformulado.
• Política de precificação: alterações na política de precificação quando as
mercadorias são compradas ou vendidas tem impacto na estratégia
logística.

Sempre que houver mudanças em uma ou várias dessas áreas, o


replanejamento da estratégia logística precisa ser analisado.

TEMA 2 – MODELOS CORPORATIVOS NA LOGÍSTICA

“O modo de gerenciar a cadeia de suprimentos pode levantar ou derrubar


sua empresa” (Taylor, 2005, p. 3). A logística é uma atividade essencial que
precisa ser desenvolvida por todos os tipos de empresa ou organizações. Isso
significa que alguma forma de estrutura organizacional é necessária para cuidar
da movimentação de produtos e serviços (Ballou, 2006).
Este autor também comenta que dotar as atividades logísticas de estrutura
organizacional define as linhas de autoridade e responsabilidade necessárias para
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garantir que os produtos sejam encaminhados de acordo com o planejado e que
possa haver replanejamento sempre que necessário (Ballou, 2006, p. 543).
Quando estudamos os processos corporativos de armazenagem e
distribuição, nos deparamos com diferentes tipos de organizações e diferentes
formas de aplicação desses processos. Embora toda empresa sempre realize
algum grau de atividade logística, as questões logísticas não têm a mesma
importância em todas elas.
Essa diferença no nível de importância que a logística tem em cada
organização é explicada, principalmente, ao se compreender como os custos
logísticos ocorrem e em que as necessidades de serviço são maiores. Essas
variáveis vão definir se o foco organizacional estará nas atividades de gestão de
materiais, na distribuição física ou na cadeia de suprimentos.
A seguir, vamos apresentar alguns modelos de empresa sob o ponto de
vista da estrutura logística que possuem.

2.1 Indústrias de transformação

As indústrias que transformam matéria-prima em um produto semiacabado


dedicam grande atenção à logística de suprimento. Ela sempre deve estar suprida
de matéria-prima (Alvarenga; Novaes, 2000). São as empresas que produzem
matérias-primas básicas, principalmente para utilização de outras indústrias, tais
como madeireiras, empresas de mineração e projetos agrícolas (Ballou, 2006).
Nessas indústrias, as operações logísticas incluem a aquisição de uma
variedade de bens necessários nas operações extrativas. Compras e transporte
são as principais atividades logísticas. Por isso, essas organizações se
preocupam em controlar a expedição, incluindo a seleção do modo de transporte,
roteirização e utilização de equipamentos, contando com departamentos de
gestão de materiais, muito ativos e influentes.

2.2 Indústrias de atacado

Empresas atacadistas se caracterizam por não alterar o produto em si,


apenas a quantidade de compra e venda. Isso significa que a logística de entrada
e saída é muito semelhante. Dessa forma, a principal operação logística de
empresas que trabalham com atacado é, de fato, o estoque (Alvarenga; Novaes,
2000).

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2.3 Indústrias de comercialização ou varejo

Essas indústrias compram bens especialmente para a revenda. Elas


recebem os produtos em lotes oriundos do atacadista ou diretamente da indústria
e os repassam ao consumidor, que adquire o produto em lojas físicas ou virtuais.
O processo de distribuição é complexo, pois comumente envolve veículos
especiais, dificuldades com roteirização etc. e vários itens para processar,
documentar e coordenar (Alvarenga; Novaes, 2000). Além disso, essas empresas
compram muitos produtos de muitos fornecedores que são geograficamente
dispersos.
As operações logísticas envolvem compra, tráfego interno, controle de
estoque, armazenagem, coleta de pedidos e expedição. A gestão logística tem
grande importância na estrutura organizacional (Ballou, 2006).

2.4 Indústrias manufatureiras

Correspondem a indústrias que compram uma ampla variedade de itens de


muitos fornecedores para transformá-los em produtos de maior valor. Possuem
ampla atividade logística, tanto nos processos de suprimentos quanto de
distribuição (Ballou, 2006).

2.5 Indústrias de serviços

As indústrias de serviços têm como maior preocupação as atividades


logísticas da oferta, uma vez que convertem suprimentos tangíveis em ofertas de
serviços. Hospitais, companhias de seguro e de transporte são exemplos desse
tipo de organização.
Seu processo logístico envolve a compra de uma variedade de itens, muito
deles críticos, de fornecedores dispersos, que são inteiramente consumidos na
produção do serviço. A gestão de compras e a de estoques geralmente têm maior
importância em relação às atividades de transporte. Além disso, a estrutura
organizacional logística é centrada na gerência de materiais (Ballou, 2006).

2.6 Micro e pequenas empresas

É comum que as empresas de pequeno porte tenham que lidar com


grandes desafios logísticos, pois normalmente não possuem mão de obra,

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equipamentos e estrutura física suficiente para executar todas operações
logísticas. Assim, muitas dessas empresas terceirizam algumas dessas
atividades, sejam de distribuição (utilização de transportadoras) ou de
armazenamento (uso de armazéns gerais).
Muitas vezes, essas empresas começam a crescer e acabam se
esquecendo de estabelecer um planejamento para suprir a crescente demanda,
provocando graves falhas no atendimento ao cliente.
Para evitar situações como essas, a Associação Brasileira de Automação
(2017) recomenda oito passos para que uma pequena empresa melhore seu
desempenho logístico.

1. Buscar benchmarking, para aprender com as experiências de outras


organizações de referência.
2. Manter uma boa organização do empreendimento, evitando gastos
desnecessários e otimizando tempo.
3. Utilizar checklists, para ter total controle daquilo que é necessário fazer.
4. Elaborar previsões de demanda, para que o estoque fique sempre
abastecido.
5. Praticar a logística reversa, definindo um fluxo de entrada e saída de
mercadorias da empresa.
6. Utilizar tecnologias que facilitam a coleta de informações e melhoram a
comunicação.
7. Analisar dados com frequência, tendo controle sobre todos os processos
internos da empresa.
8. Estudar profundamente seus produtos, identificando quais deles vendem
mais e o que costumam ficar mais tempo no estoque.

TEMA 3 – CONDOMÍNIOS LOGÍSTICOS


Problemas com armazenamento e distribuição de produtos nos grandes
centros são comuns para muitas organizações. Via de regra, as grandes cidades
padecem com frequentes congestionamentos. Além disso, muitas empresas não
encontram imóveis adequados e bem localizados para armazenamento de seus
produtos.
Rodrigues (2013) também cita que, no mundo contemporâneo, os
processos de armazenagem tornaram-se elementos dinâmicos, assumindo
muitas outras formas e funções além do armazenamento estático.

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Para evitar tais dificuldades, muitas empresas têm utilizado os chamados
Condomínios Logísticos (CL). Segundo Dias (2014), o CL compreende um
conjunto de diversos galpões modulares, situados em um único terreno, que
oferecem uma infraestrutura de serviços compartilhada, integração logística e
redução de custos em estoques, instalações e processos.
Essas áreas utilizam espaços que podem ser divididos entre várias
empresas, ou utilizados por uma única empresa, com o objetivo facilitar as
atividades de operadores logísticos, transportadoras, indústrias e varejistas,
atendendo a necessidades de armazenagem, distribuição, consolidação de
cargas e transbordo de veículos (Mariante, 2017).

3.1 Vantagens dos condomínios logísticos

Mariante (2017) menciona que os inquilinos do CL usufruem de uma


relação custo-benefício que dificilmente conseguiriam obter isoladamente, uma
vez que os galpões oferecem segurança e infraestrutura de serviços
compartilhados (por exemplo, salas de reunião e de treinamento, estrutura de
processamento de dados, alimentação, telefonia e internet). Assim, pequenos
empresários que não conseguiriam arcar com o custo do negócio individualmente
podem somar esforços e serviços, garantindo a lucratividade.
Vale destacar que esse tipo de empreendimento é considerado uma
evolução do conceito de centros de distribuição (CDs).
Outro fator que desperta o interesse é que normalmente a administração
dos condomínios é feita por pessoal especializado e dedicado, além da sinergia
de compartilhamento de recursos de vigilância e segurança, portaria, entre outros.
A Revista Logística e Supply Chain (2011) também aponta vantagens para
os inquilinos que se instalarem dentro de um condomínio logístico:

• rateio de custos com manutenção, limpeza e jardinagem das áreas


comuns;
• rateio dos custos com segurança e portaria (controle de acesso);
• utilização das áreas de apoio, como restaurante, cafeteria, salas de
reunião, sala de treinamento, ambulatório, entre outros;
• localização e visibilidade, tornando-se o condomínio uma referência na
região;

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• administração profissional;
• flexibilidade de expansão da operação sem mudança de endereço.

3.2 Desvantagens de condomínios logísticos

A utilização dos condomínios logísticos também pode acarretar algumas


desvantagens, especialmente quanto ao rateio dos custos fixos do condomínio.
Quando há uma redução no número de inquilinos, os custos fixos podem pesar
no caixa das empresas condôminas, mesmo que temporariamente.
Dependendo do tamanho da área e da ocupação do condomínio logístico,
a empresa condômina pode ter dificuldades para crescer quando precisar
aumentar o espaço ocupado.

3.3 Estrutura de condomínios logísticos

Tachibana (2013) menciona que há alguns itens de avaliação em relação à


estrutura do condomínio, que são: condições de densidade populacional;
dimensionamentos dos pátios de manobra para caminhões; disponibilidade de
vagas de estacionamentos para caminhões; condições de estrutura de suporte no
condomínio como inteligências de seguranças, portarias sincronizadas com as
operações, restaurantes e áreas suportes para funcionários; e, por fim, segurança,
ou melhor, os sistemas de vigilância e estrutura empregada nas áreas comuns do
condomínio (monitoramentos por câmera, condições das cercas, alarmes e
equipamentos das portarias).

3.4 Tipos de condomínios logísticos

Mariante (2017) cita que há vários tipos de condomínios logísticos,


conforme pode ser acompanhado a seguir.

3.4.1 Monousuário

Os condomínios logísticos monousuário são compostos por galpões


individuais que atendem a clientes únicos. Por vezes são construídos sob
encomenda e têm características e especificações que atendem às necessidades
de produção ou logística de um único cliente, o que torna o imóvel personalizado,
entretanto, menos abrangente para o mercado, caso seja desocupado por alguma
razão.
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3.4.2 Flex

Os condomínios logísticos do tipo flex são formados por galpões divididos


em módulos que podem ser utilizados de forma individual ou agrupados. Por
vezes, são de caráter estratégico, assim, devem ser construídos de forma flexível,
atendendo a várias atividades e demandas de tamanho por diferentes usuários.

3.4.3 Armazéns

Esses condomínios logísticos normalmente são projetados em módulos


que permitem receber estruturas de armazenagem como porta-paletes. Sua
principal aplicação é para atacadistas e operadores logísticos.

3.4.4 Cross-docking

Esse condomínio é o tipo de construção que favorece transportadoras, uma


vez que é projetado em plataformas para o manuseio da carga e o despacho
imediato para o destino final, sem incluir estocagem. Os materiais passam de uma
determinada unidade para outras, não permanecendo estocados. Normalmente,
esses condomínios possuem docas para atendimento aos veículos, de forma que
o processo de carregamento e descarregamento dos materiais se torna mais
organizado.

3.4.5 Misto

Construído para situações gerais, diversas e mistas, como opção para os


centros de distribuição de grandes varejistas os quais podem ser alterados para
várias funções e atendimentos.

3.5 Modelo de negócio do condomínio logístico

Sobreira (2012) cita que há basicamente dois tipos de modelo de negócio


para um condomínio logístico:

• o primeiro tipo é o condomínio especulativo, em que a empresa aluga o


galpão já pronto, escolhendo o tamanho e o layout de que necessita;
• o segundo tipo é o Build to Suit, ou “construção sob medida”, em que, como
o próprio nome diz, é um imóvel construído sob medida para o inquilino,

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ficando todos gastos, como compra do terreno, elaboração de projetos,
compra de materiais e mão de obra por conta do empreendedor.

TEMA 4 – OMINCHANNEL NA LOGÍSTICA

No passado, quando um cliente queria comprar, por exemplo, uma máquina


de lavar, ele tinha de ir a uma loja ou armazém, no qual ele veria o que era
oferecido e observaria as funções e parâmetros dos produtos.
No entanto, quando a comercialização pela internet teve início, veio com
ela a crescente conscientização sobre o potencial ainda inexplorado de sites e o
aumento do número de usuários da internet.
O primeiro passo dado pelos fornecedores foi criar sites de suas lojas,
anunciando seus produtos para um público muito maior do que apenas aqueles
que realmente visitaram fisicamente suas lojas. A consequência da criação de um
site foi um aumento no número de chamadas telefônicas, solicitando informações
sobre a disponibilidade de produtos. Isso, por sua vez, levou à criação de
catálogos de produtos on-line. A princípio, eles continham listas simples dos
produtos em promoção, mas com o tempo foram complementados com
descrições e preços, com textos cada vez mais longos, começando o chamado
mercado de vendas on-line (Weiland, 2016).
O próximo passo no desenvolvimento de estratégias de vendas on-line foi
a introdução de novos canais. O cliente podia comprar mercadorias por telefone
celular, que lançou as bases para o desenvolvimento da estratégia multicanal. A
popularização de smartphones, por sua vez, permitiu que os consumidores não
apenas fizessem compras, mas também comparassem os preços e buscassem
avaliações sobre o produto enquanto estavam na loja de varejo real. Assim, os
dispositivos móveis se tornaram outro importante canal de vendas, que só cresceu
em popularidade ano a ano. Esse canal de vendas específico é descrito como e-
commerce, que indica a venda de produtos por meio de dispositivos móveis.
Nos dias de hoje, os clientes podem comprar mercadorias por meio do
canal de vendas que preferirem e em qualquer combinação que escolherem; e
essa é exatamente a ideia por trás da estratégia omnichannel.
Com o tempo, no entanto, começaram a surgir sérios desafios. Geralmente,
vários canais representando a mesma loja competem entre si pelos clientes,
oferecendo preços, descontos, opções de entrega e políticas de devolução

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diferentes. Uma solução para esses problemas é a estratégia omnichannel, que
coloca o cliente no centro das atenções.
Segundo Moraes (2016), a logística de distribuição tem papel fundamental
no sucesso da integração de canais e pode influenciar positiva ou negativamente
no comportamento do consumidor e na utilização de múltiplos canais.

4.1 Definição

Segundo Kozlenkova et al. (2015, citado por Moraes, 2016), o multicanal


muitas vezes é chamado de omnichannel se proporciona para o usuário final uma
experiência de varejo integrada em todos os canais, tornando os produtos
disponíveis por meio de vários meios, como computadores, dispositivos móveis,
lojas físicas, mala direta.
Define-se logística omnichannel como todas as atividades envolvidas no
funcionamento da cadeia de suprimentos, considerando-se uma estratégia de
marketing omnichannel. Em essência, a logística e o gerenciamento da cadeia de
suprimentos sempre ofereceram um bom serviço (o produto certo, na hora e no
local certos), por um baixo custo. Isso se torna cada vez mais complexo em um
contexto omnichannel. Portanto, a logística omnichannel está principalmente
envolvida no processo de atendimento dos pedidos, em conexão com os clientes
(Broft; von Woensel, 2016).
Em outras palavras, a logística omnichannel busca disponibilizar
informações ao cliente e resolver problemas logísticos, independentemente do
canal de vendas acessado.

4.2 Principais desafios

Desde o momento em que se começa a planejar como implementar a


estratégia omnichannel em uma empresa, é preciso considerar possíveis
problemas e soluções, como os indicados a seguir.

4.2.1 Baixa qualidade da informação de dados básicos

Os clientes não conseguem lidar com o excesso de informações geradas


nas vendas multicanal. É difícil armazenar os dados relevantes da perspectiva do
cliente e da empresa, pois todas as ações executadas por um deles produzem
uma “onda” de informações. Isso significa que é necessário começar a visualizar

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as informações como um recurso, cuja logística precisa ser tratada
adequadamente. As informações devem ser entregues:

• no local apropriado (o destinatário apropriado);


• no momento apropriado (as informações atrasadas perdem seu valor);
• na quantidade adequada (as informações não podem ser muito complexas
ou gerais, mas tão precisas quanto possível);
• na qualidade adequada (livre de deficiências, como dados falsos).

Por fim, também deve ter um custo aceitável. As informações, como


qualquer outro recurso, precisam ser extraídas e processadas, o que envolve
certas despesas (Weiland, 2016).

4.2.2 Rastreamento

Cada item pode ser rastreado tão bem quanto for a eficácia do fluxo de
produtos dentro da cadeia de produção e consumo. Em termos de produtos
comprados e devolvidos por diferentes canais, a estratégia omnichannel tem um
problema com sua integração adequada. Esse problema surge quando, por
exemplo, o produto que foi pedido on-line não pode ser retirado em uma loja de
varejo, mesmo estando disponível.

4.2.3 Segmentação do processamento

Outra área sensível da estratégia omnichannel é a uma avaliação do


volume de remessa e dos custos de seu transporte. Uma das características
fundamentais do omnichannel é que ele permite que os clientes façam parte da
compra por um canal e o envio por outro, o que dificulta a estimativa dos custos
de entrega. Os dados referentes ao status do suprimento nem sempre estão
atualizados. Esse problema é detectado com interrupções no fluxo de informações
ao longo da cadeia. A falta de integração e um único banco de dados
compartilhado para todos os canais geralmente resultam em canais diferentes,
recebendo dados conflitantes sobre suprimentos, o que não reflete o estado real
das coisas.
Portanto, é necessário criar um sistema de monitoramento de suprimentos
que forneça as mesmas informações confiáveis sobre os suprimentos disponíveis
para todos os canais. Esse problema surge como resultado da incapacidade de
ver a empresa como um sistema integrado. A divisão da empresa em canais
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separados pode resultar em diferenças entre seus respectivos níveis de eficácia,
visto que as otimizações em alguns canais podem levar à redução da eficiência
(Broft; von Woensel, 2016).

TEMA 5 – TENDÊNCIAS NOS PROCESSOS LOGÍSTICOS

A evolução da tecnologia tem impactado amplamente a forma como


produzimos e comercializamos. O relacionamento das empresas com seus
clientes também tem passado por transformações desde o aparecimento das
mídias sociais (WhatsApp, Instagram, Facebook etc.).
O ambiente logístico está igualmente passando por alterações
significativas. Caxito (2019) comenta acerca de possíveis cenários e tendências
envolvendo as principais áreas da logística.

5.1 Cenário na logística de suprimentos

O processo de compras tem sofrido grandes transformações, desde o perfil


do comprador até o surgimento de novos canais e técnicas de compra. A aquisição
não é mais realizada somente em condições locais, mas na forma do chamado
global sourcing, em que o fornecedor pode estar em qualquer parte do mundo.
Essa forma globalizada de compras é facilitada pela tecnologia de
informação, que facilita a busca por fornecedores e preços mais competitivos.
O perfil do profissional responsável pelas compras também vem mudando.
Esse profissional lida com números que representam cerca de 60% dos custos de
uma organização, resultando em um alto impacto no custo total. Por isso, o
comprador deve ter um grande preparo técnico, de negociação e de
relacionamento para a busca de fornecedores competitivos.

5.2 Cenário na logística de armazenamento

O processo de armazenagem tem sido fundamental para a diminuição dos


tempos de atendimento. Caxito (2019) comenta sobre pesquisas que demonstram
que a média de pedidos atendidos por um armazém chega a 5.850 no setor de
fumo e 4.609 no varejo. Esses parâmetros se intensificam na medida em que o
tempo médio de entrega dos supermercadistas, no atendimento a esses pedidos,
chega a 22,1 dias, podendo chegar a 1,7 dia num cenário de melhor desempenho.

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Por isso, as empresas têm investido fortemente em novas tecnologias de
controle e identificação de produtos no armazém, além de sistemas
automatizados de armazenagem e de resgate de material.

5.3 Cenário dos prestadores de serviços logísticos

O papel do operador logístico tem alcançado maior importância, pois há


uma crescente ampliação das atividades terceirizadas. A busca por operadores
logísticos pelas empresas está relacionada à necessidade de focar nas atividades
e buscar competências complementares. As organizações também buscam a
redução de custos com a contratação de empresas especializadas em logística.
O setor de terceirização dos prestadores de serviços logísticos vem se
consolidando nos últimos 30 anos. O setor é intensivo em mão de obra. Segundo
Caxito (2019), o setor já gera cerca de 177 mil empregos diretos no regime CLT,
mais 66 mil de empregos temporários e outros 530 mil empregos indiretos nos
fornecedores do setor.
No Brasil, os operadores logísticos apareceram por meio das empresas
transportadoras e, aos poucos, foram oferecendo novos serviços logísticos.

5.4 Cenário do transporte

O processo de transporte é essencial para garantir a disponibilidade dos


recursos para o processo produtivo e os produtos acabados para o cliente final.
Nesse sentido, o tipo de modal de transporte influencia diretamente o custo
de distribuição do produto. A relação entre um modal e seu custo decorre de sua
capacidade e de sua eficiência energética.
As organizações têm investido na utilização de veículos modernos, com
eletrônica embarcada e controle remoto de pesos, fluxos e volumes. Essas
inovações resultam em menores custos com combustível, manutenção e
tratamento de informações e aumentam a produtividade e o lucro.
Segundo Caxito (2019), o Brasil está caminhando para o modo de
transporte intermodal, que envolve mais de uma modalidade e que em cada
trecho/modal é feito um novo contrato. Isso permite a utilização de fretes menores,
com preços mais competitivos.
No entanto, a maior parte das cargas transportadas no país ainda utilizam
as rodovias brasileiras. Segundo Salgado (2017), 64% das cargas foram

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transportadas por caminhões em 2014. No entanto, já existe um esforço político e
econômico para ampliação da participação dos demais modais.

5.5 Cenário para o profissional de logística

Salgado (2017) comenta que, futuramente, as atividades operacionais da


logística (tanto na produção quanto em movimentação e transportes) correm o
risco de serem substituídas pela tecnologia, uma vez que boa parte dessas
atividades tem um padrão repetitivo.
Por isso, o autor sugere que o profissional da área de logística procure ter
um perfil analítico, que propõe soluções para problemas, sugerindo melhorias,
bem como ter facilidade para trabalhar por projetos, em equipes. E complementa:

O profissional da logística moderna absorve conhecimentos de outras


áreas de suporte para que possa tomar decisões diariamente e
identificar possibilidade de melhorias. Ele é um administrador que tem o
olhar global da empresa, mas principalmente o comprometimento de
entregar o melhor serviço possível. Para isso, deve relacionar-se bem
com todas as áreas da empresa com foco na ação e no resultado.
(Salgado, 2017, p. 32)

5.6 Tendências para a gestão logística

Ter uma gestão de logística eficaz é fundamental para garantir a


sustentabilidade dos negócios, a satisfação dos clientes e parceiros. Nesse
sentido, a revista Logística & Supply Chain (2018) aponta cinco principais fatores
cada vez mais necessários para alcançar sucesso nessa área.

5.6.1 Trabalhe para ter um nível de serviço elevado

A capacidade de cumprir prazos e entregar os produtos e serviços no prazo


acertado é um dos principais indicadores de eficiência da operação logística. Um
nível de serviço elevado aumenta a satisfação e até mesmo fideliza os clientes.

5.6.2 Mantenha um time de profissionais qualificados

Ter uma equipe capacitada, com expertise na área, é fundamental para o


sucesso do setor logístico. A empresa deve manter seus profissionais atualizados
sobre os principais processos, inovações e tendências desse segmento.

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5.6.3 Utilize tecnologia de ponta

O uso de modernas tecnologias é fundamental em logística, área que


trabalha sempre pautada em eficiência. Por isso, muitos processos manuais se
mostram ineficientes. Os recursos tecnológicos permitem o acompanhamento em
tempo real de todas as etapas da cadeia de suprimento, desde o produto estocado
até a entrega ao cliente final.

5.6.4 Estime o estoque certo

Dimensionar o estoque adequadamente evita custos desnecessários. Um


acervo reduzido pode deixar clientes na mão. No entanto, um estoque amplo e
parado gera gastos desnecessários. É importante pesquisar a demanda de
clientes e fazer uma previsão sobre a quantidade ideal de itens no estoque.

5.6.5 Planeje cada uma das etapas

O plano logístico deve mapear todas as etapas do processo, desde a


armazenagem até a entrega da carga ao lojista ou consumidor final.

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REFERÊNCIAS

5 ORIENTAÇÕES para uma logística eficiente. Logística & Supply Chain, 18 out.
2018. Disponível em: <https://www.imam.com.br/logistica/noticias/embalagem/
3390-5-orientacoes-para-uma-logistica-eficiente>. Acesso em: 20 fev. 2020.

8 MELHORES práticas de logística para pequenas e médias empresas.


Associação Brasileira de Automação, 2017. Disponível em:
<https://blog.gs1br.org/8-melhores-praticas-de-logistica-para-pequenas-e-medias-
empresas/>. Acesso em: 20 fev. 2020.

ALVARENGA, A. C.; NOVAES, A. G. N. Logística aplicada: suprimento e


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