Emergir A Memória Das Identidades Africanas

11/01/2022 01:16 Emergir a memória das identidades africanas
 
Um olhar sobre Koffi Mensah
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt)
Emergir a memória das identidades africanas

Por meio de seus retratos, o artista burquinense traz de volta a história de
personalidades que haviam sido, segundo uma visão hegemônica
eurocêntrica, anuladas da história do continente africano.
https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/koffi-mensah/ 1/17
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p À esquerda: Almicar Cabral, 2017. Cortesia do Artista. À direita: Haile Selaissie,
2017. Cortesia do artista.

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por Bruna Tupiniquim, Filippa Jorge, Kelvin Marinho, Lorenna Rocha, Marta Georgea Martins de
Souza, Renata Martins, Rogério Felix
ter 11 ago, 2020
O ano de 2020 permitiu ao artista visual burquinense Koffi Mensah ter seu primeiro contato
com o Brasil por meio da residência virtual Vila Sul, do Goethe-Institut Salvador-Bahia.
Nascido em 1982 em Lome (Togo), Mensah reside há muito em Uagadugu (Burkina Faso).
Um de seus projetos, que retrata personalidades africanas sobre telas, instigou um grupo
multidisciplinar de interessados e especialistas brasileiros a analisar suas obras e a dialogar
(online) com o artista. Através de um processo de reconhecimento e tributo, entendido
como ato de homenagem, Mensah reafirma a presença de personalidades africanas do
âmbito político-cultural que contribuíram para a formação das identidades de seu
continente.
“Trabalho para resgatar a memória de políticos e músicos africanos que fizeram coisas
importantes e positivas para o continente, mas são simplesmente esquecidos”, afirma o
artista. Sua obra, de significativa potência metafórica, contribui para que seja possível
resistir ao esquecimento dessas personalidades que normalmente teriam suas imagens e
narrativas apagadas da memória popular – fator que as torna quase ausentes da versão
difundida como “oficial” da história africana. Ou seja, os personagens retratados por Mensah

saem do limbo da memória coletiva, visto que haviam sido anulados da história 
regularmente narrada segundo uma visão hegemônica eurocêntrica.
Ao representar apenas personalidades negras e africanas, o artista reformula visualmente a
historiografia “oficial” ensinada e propagada no continente, já que, “nas escolas na África,
por exemplo, os alunos aprendem pouco sobre nossa própria história. Ensina-se muito mais
sobre a história ocidental e pessoas ocidentais, em uma espécie de manutenção do
colonialismo. Quero que, com o meu trabalho, o espectador se lembre de personalidades
africanas e de nossa própria história”, propõe Mensah.
Reescrevendo a historiografia pan-africana
Haile Selassie (imperador da Etiópia e figura central do Movimento Rastafári jamaicano),
Amílcar Cabral (líder político da Guiné-Bissau e de Cabo Verde) e os músicos Manu
Dibango (Camarões/França) e Akon (Estados Unidos/Senegal) são alguns exemplos a quem
Mensah presta sua homenagem. Com tais retratos, o artista assume as rédeas das narrativas
históricas africanas que foram – e ainda são – enterradas devido ao eurocentrismo e à
“colonialidade”.
O artista reescreve a historiografia pan-africana, partindo de corpos sociais que se tornam
fragmentos-emblemas de uma nova cartografia internacional, desafiando assim as escritas
históricas hegemônicas ocidentais sobre o continente africano. Mensah chama também a
atenção para figuras provenientes de diferentes países, evocando assim um novo olhar
sobre a África e se distanciando de imagens de precariedade, expropriação ou exploração
como são comumente reportadas.
 
p Manu Dibango, 2016. Cortesia do Artista
Figuras históricas que reconstroem imaginários coletivos
“Entendo que o artista, com seu trabalho criativo, tenha que investir tanto na sociedade
quanto na política, pois vejo na arte uma causa política”, observa Mensah. Essa visão faz com
que ele considere sua arte “artivismo” – neologismo conceitual de instável consensualidade
no campo das Ciências Sociais e das Artes Visuais por ligar arte e política e, com isso,
estimular os destinos potenciais da arte enquanto ato de resistência e subversão.
Como atos de resistência, os retratos trabalhados por Mensah escavam e trazem à tona a
história depositada no arquivo da memória social coletiva. Se esses corpos representados
forem analisados sob a lupa do sociólogo jamaicano Stuart Hall (1932-2014), serão também
considerados superfícies ou telas, sobre as quais é possível efetuar uma exploração das

paisagens interiores da subjetividade negra. O corpo negro deixa de ser um mero objeto de 
contemplação ou desejo e passa a ser tratado como sujeito.
Através dos sujeitos retratados em primeiro plano, Mensah permite ao observador ter sobre
si olhos que lhe devolvem a mirada e lhe narram suas próprias histórias. Nesse intercâmbio
de subjetividades, desdobra-se um fluxo constante de ir e vir, tornando o observador
simbolicamente um retrato para o retratado. A superfície de telas entalhadas
artesanalmente – em referência ao tradicionalismo da gravura que confere aos retratos uma
textura rendada – faz com que o olhar do observador se demore sobre a obra em busca de
um equilíbrio entre matéria, memória e conceito. Nessa relação figura-fundo, habita uma
inquietação do olhar do observador e formas pós-Pangeia: cada rosto esculpido rompe
fronteiras, expande histórias, torna-se um território unificado que se desloca e se dispersa
em porções menores e vazadas.
A partir da forma de sobreposição de telas esculpidas e sobrepostas, descola-se uma trama,
uma teia de informações composta de traços fragmentados do “eu”, por meio da qual
Mensah constrói rostos enquanto passagem, pontos de difusão e conexão de saberes
africanos para além da circunscrição geográfica do continente. Com essa visão
fragmentada, Mensah aponta para a pluralização de existências africanas que, através da
percepção e ressignificação do olhar do outro e com o outro, buscam reconstruir os fios de
sua própria identidade.
Autoria: Bruna Tupiniquim, Filippa Jorge, Kelvin Marinho, Lorenna Rocha, Marta Georgea
Martins de Souza, Renata Martins, Rogério Felix.
Este artigo é resultado do trabalho estimulado pelo workshop “Crítica de arte como
exercícios de escritura. Análises das obras de Thó Simões e Koffi Mensah Akagbor”,
coordenado entre maio e junho de 2020 por Renata Martins, no marco de sua residência
virtual Vila Sul 2020, promovida pelo Goethe-Institut Salvador-Bahia. Participantes de
distintas cidades e áreas de conhecimentos tiveram encontros virtuais em grupo ao longo
de seis semanas, nos quais puderam dialogar online com Koffi Mensah, a fim de produzir
este saber coletivo sobre as criações do artista burquinense.
BLACK CULTURES MATTER /

BRASIL
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( H T T P S : / / W W W . S E S C S P . O R G . B R / E X P O S I C O E S ?
U T M _ S O U R C E = C O N T E M P O R A R Y & U T M _ M E D I U M = B A N N E R & U T M _ C A M P A I G N = L O
M A I S L I D A S
CONVERSA COM PAOLA TORRES NÚÑEZ
“Viver uma vida nômade tem sido a minha escolha”

A artista realiza intervenções em tecidos peruanos usando tecnologia, a fim de investigar
conceitos como interpretação e distorção.
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/paola-torres-nunez/)
CONVERSA COM NAOMI RINCÓN GALLARDO
“Contar
 histórias
impulsionadas a partir do desejo”

Falamos com a artista mexicana sobre sua crítica ao eurocentrismo e ao extrativismo a partir de
uma perspectiva feminista e decolonial.
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/naomi-rincon-gallardo/)
O BRASIL HOJE
O horror se estabelece
Mesmo onde o cotidiano brasileiro ainda parece estar em ordem, a retórica repressora de Jair
Bolsonaro se instala.
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/brazil-bolsonaro/)
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C O N T E Ú D O R E L A C I O N A D O
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CONVERSA COM ADRIENNE ELISE “AUF DEUTSCH” CONVERSA C
TA R V E R FERREIRA E D
Daniel Kojo Schrade: ampliando
A invisibilidade como a compreensão de Diáspora Serpentes à
superpotência Durante séculos tem havido
Davi Pontes e
A artista nova-iorquina fala sobre revelam como

produção cultural negra em países
feminilidade negra, invisibilidade e a decodificam in

onde se fala o alemão. Essa produção
atração dos trópicos e do Caribe. transformand

tem sido tão diversificada e distinta
(https://amlatin
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/invisibility-
quanto as próprias regiões.
a-espreita-walla
as-superpower/)
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/daniel-
kojo-schrade-diaspora/)
ditorial/afro-
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(https://frankfurt-lab.com/en/home/frankfurt-moves-frankfurt-lab-residenzprogramm)
E V E N T O S
4 5
EXPOSIÇÕES EXPOSIÇÕES EXPOSIÇÕES
Não Consigo Respirar Temporão Retratos Quilo
Fama Museu Goethe-Institut Centro Cultural Va
Itu, Brasil Salvador, Brasil São Luís, Brasil
11 Dezembro - 31 Março 2022 23 Novembro - 01 Março 2022 07 Dezembro - 09
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/events/temporao/)
events/raul-
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/events/nao- (https://amlatina.c

consigo-respirar/) quilombolas/)
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V E J A T O D O S
( H T T P S : / / A M L A T I N A . C O N T E M P O R A R Y A N D . C O M / E V E
 C& I N T E R N AT I O N A L
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O  C&
" A U F DEUTSCH"  C&
I N V E N T I N G YOUR OWN GAME
Deborah Joyce Holman – Unless: Sam Gilliam: Between Structure

The Potential of Subtle Acts of Improvisation
Refusal Ann Mbuti writes on Sam Gilliam's groundbr
approach to painting and installation.

We spoke to Swiss artist Deborah Joyce Holman
(https://contemporaryand.com/magazines/sam-gi
about tools to resist the instrumentalization of

between-structure-and-improvisation/)
identity politics.
(https://contemporaryand.com/magazines/unless-the-
potential-of-subtle-acts-of-refusal/)
P A R A A C & I N T E R N A C I O N A L ( H T T P S : / / C O N T E M P O R A R Y A N D . C O M )
T Ó P I C O S
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EXPOSI ÇÕES EM REVIST
 
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/topics/exhibition-histories/)
BIENAIS
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/topics/biennales/) (https://amlatina.co
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INSTALLATION VIEW
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/topics/a-first-look-into-exhibitions/) (https://amlatina.co
V E J A T O D O S
( H T T P S : / / A M L A T I N A . C O N T E M P O R A R Y A N D . C O M / E X P
M A I S L I D A S
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CONVERSA COM PAOLA TORRES CONVERSA COM NAOMI RINCÓN O BRASIL HOJE
NÚÑEZ GALLARDO
O horror se es
“Viver uma vida nômade tem “Contar histórias Mesmo onde o c
sido a minha escolha” impulsionadas a partir do ainda parece est
A artista realiza intervenções em

desejo” retórica represso
tecidos peruanos usando tecnologia, se instala.

Falamos com a artista mexicana
(https://amlatina.c
a fim de investigar conceitos como sobre sua crítica ao eurocentrismo e
bolsonaro/)
editorial/projeto-
interpretação e distorção. ao extrativismo a partir de uma
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/paola-
perspectiva feminista e decolonial.
torres-nunez/)
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/naomi-
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rincon-gallardo/)
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O P O R T U N I D A D E S
C H A M A D A PA R A E D I TA I S C H A M A D A PA R A P U B L I C A Ç Õ E S CHAM
Andrómeda 3.20 Revista Brasileira de Estudos da Academ
Presença Fundac
4ta Convocatoria - Galería Poéticas negras na arte Beca

Andrómeda contemporânea Albe
México DF, México online, Brasil Bueno

(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/opportunities/4ta-
(https://amlatina.contemporaryand.com/pt/opportun
(https
convocatoria-galeria-andromeda/) negras-na-arte-contemporanea/) de-inv
trabuc
V E J A T O D O S
C& América Latina é uma revista de arte dinâmica e crítica, cujo enfoque está na
conexão entre a Afro-América Latina, o Caribe e a África.
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(https://www.facebook.com/contemporaryandamericalatina.portugues/)
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Emergir A Memória Das Identidades Africanas - 2020

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11/01/2022 01:16 Emergir a memória das identidades africanas

personalidades que haviam sido, segundo uma visão hegemônica

eurocêntrica, anuladas da história do continente africano.

p À esquerda: Almicar Cabral, 2017. Cortesia do Artista. À direita: Haile Selaissie,

2017. Cortesia do artista.

Souza, Renata Martins, Rogério Felix

ter 11 ago, 2020

multidisciplinar de interessados e especialistas brasileiros a analisar suas obras e a dialogar

(online) com o artista. Através de um processo de reconhecimento e tributo, entendido

como ato de homenagem, Mensah reafirma a presença de personalidades africanas do

âmbito político-cultural que contribuíram para a formação das identidades de seu

importantes e positivas para o continente, mas são simplesmente esquecidos”, afirma o

resistir ao esquecimento dessas personalidades que normalmente teriam suas imagens e

Ao representar apenas personalidades negras e africanas, o artista reformula visualmente a

historiografia “oficial” ensinada e propagada no continente, já que, “nas escolas na África,

sobre a história ocidental e pessoas ocidentais, em uma espécie de manutenção do

colonialismo. Quero que, com o meu trabalho, o espectador se lembre de personalidades

africanas e de nossa própria história”, propõe Mensah.

Reescrevendo a historiografia pan-africana

Haile Selassie (imperador da Etiópia e figura central do Movimento Rastafári jamaicano),

Amílcar Cabral (líder político da Guiné-Bissau e de Cabo Verde) e os músicos Manu

Dibango (Camarões/França) e Akon (Estados Unidos/Senegal) são alguns exemplos a quem

históricas africanas que foram – e ainda são – enterradas devido ao eurocentrismo e à

O artista reescreve a historiografia pan-africana, partindo de corpos sociais que se tornam

fragmentos-emblemas de uma nova cartografia internacional, desafiando assim as escritas

históricas hegemônicas ocidentais sobre o continente africano. Mensah chama também a

sobre a África e se distanciando de imagens de precariedade, expropriação ou exploração

como são comumente reportadas.

p Manu Dibango, 2016. Cortesia do Artista

Figuras históricas que reconstroem imaginários coletivos

estimular os destinos potenciais da arte enquanto ato de resistência e subversão.

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de subjetividades, desdobra-se um fluxo constante de ir e vir, tornando o observador

simbolicamente um retrato para o retratado. A superfície de telas entalhadas

artesanalmente – em referência ao tradicionalismo da gravura que confere aos retratos uma

inquietação do olhar do observador e formas pós-Pangeia: cada rosto esculpido rompe

fronteiras, expande histórias, torna-se um território unificado que se desloca e se dispersa

em porções menores e vazadas.

A partir da forma de sobreposição de telas esculpidas e sobrepostas, descola-se uma trama,

Mensah constrói rostos enquanto passagem, pontos de difusão e conexão de saberes

africanos para além da circunscrição geográfica do continente. Com essa visão

fragmentada, Mensah aponta para a pluralização de existências africanas que, através da

percepção e ressignificação do olhar do outro e com o outro, buscam reconstruir os fios de

sua própria identidade.

Martins de Souza, Renata Martins, Rogério Felix.

virtual Vila Sul 2020, promovida pelo Goethe-Institut Salvador-Bahia. Participantes de

distintas cidades e áreas de conhecimentos tiveram encontros virtuais em grupo ao longo

este saber coletivo sobre as criações do artista burquinense.

BLACK CULTURES MATTER /

CONVERSA COM PAOLA TORRES NÚÑEZ

“Viver uma vida nômade tem sido a minha escolha”

conceitos como interpretação e distorção.

CONVERSA COM NAOMI RINCÓN GALLARDO

impulsionadas a partir do desejo”

uma perspectiva feminista e decolonial.

A artista nova-iorquina fala sobre revelam como

feminilidade negra, invisibilidade e a decodificam in

atração dos trópicos e do Caribe. transformand

Deborah Joyce Holman – Unless: Sam Gilliam: Between Structure

approach to painting and installation.

about tools to resist the instrumentalization of

EXPOSI ÇÕES EM REVIST