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ATIBAIA
2020
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................4
2 DEFINIÇÕES, PROPÓSITOS E ABORDAGENS DA TEOLOGIA BÍBLICA.......5
2.1. DEFINIÇÕES E PROPÓSITO..............................................................................5
2.2. AS DIVERSAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS DA TEOLOGIA BÍBLICA.10
2.2.1. Abordagem canônica por períodos…………………………………………….10
2.2.2. Abordagem descritiva................................................................................... 11
2.2.3. Abordagem dos autores bíblicos..................................................................12
2.2.4. Abordagem sistemática.................................................................................13
2.2.5. Abordagem Temática.....................................................................................13
3 A RELAÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA COM AS DEMAIS DISCIPLINAS
TEOLÓGICAS............................................................................................................15
3.1 TEOLOGIA BÍBLICA E EXEGESE .....................................................................16
3.2 TEOLOGIA BÍBLICA E HERMENÊUTICA..........................................................19
3.3 TEOLOGIA BÍBLICA E TEOLOGIA SISTEMÁTICA ...........................................23
4 A IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA PARA A VIDA E
MINISTÉRIOS IGREJA..............................................................................................29
4.1 TEOLOGIA BÍBLICA E A PREGAÇÃO EXPOSITIVA ........................................29
4.2 TEOLOGIA BÍBLICA E O ACONSELHAMENTO BÍBLICO.................................34
4.3 TEOLOGIA BÍBLICA E A SUA APLICAÇÃO NA IGREJA....................................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................46
4
1 INTRODUÇÃO
A Teologia Bíblica é uma das disciplinas teológicas que compõem, junto com a
Exegese, a Hermenêutica, a Teologia Histórica, a Teologia Sistemática e a Teologia
Prática, o grupo de disciplinas teológicas que tem, por objetivo, interpretar, organizar,
sistematizar e transmitir a verdade da Palavra de Deus. Ela é definida de diversas
maneiras, por diferentes teólogos. Charles Ryrie a considera como “o braço da ciência
teológica que lida sistematicamente com o progresso histórico da auto revelação de
Deus, de acordo com a disposição desta na bíblia."2Para Ryrie, a Teologia Bíblica lida
com a revelação progressiva de Deus nas Escrituras, levando em conta a maneira
como ela ocorre na ordem bíblica. Por isso, a Teologia Bíblica não se apropria de
categorias externas, mas se vale das categorias que o texto bíblico revela, o que a
difere da Teologia Sistemática, pois, como afirma Zuck e Merrill, a “Teologia Bíblica
procura encontrar suas categorias e focos teológicos na própria Bíblia e não a partir
de padrões racionais ou clássicos derivados de fora ou impostos na Bíblia." 3 .
George Ladd, um dos responsáveis pelo resgate da Teologia Bíblica
no cenário conservador, contribui para a compreensão dessa disciplina teológica e de
seu propósito de maneira interessante:
"A teologia bíblica é a disciplina que estrutura a mensagem dos livros
da bíblia de em seu ambiente formativo e histórico. [...] A tarefa da
1
Para mais informações a respeito da história da disciplina, veja: HASEL, Gerhard. Teologia do Antigo
e Novo Testamento: Questões Básicas no debate atual. São Paulo: Academia Cristã, 2015; KLINK
III, Edward W.; LOCKETT, Darian R. Understanding Biblical Theology: A Comparison of Theory
and Practice. Grand Rapids, IL: Zondervan, 2012; SCOBIE, C.H.H., “The Challenge of Biblical
Theology”, Tyndale Bulletin 42.1, 1991, p. 31-61.
2
RYRIE, Charles C. Biblical Theology of The New Testament. Dubuque, IA: ECS Ministries, 2005,
p. 10
3
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Teologia do Antigo Testamento, Rio de Janeiro, RJ: CPAD,
2009, p. 14
6
4
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento (ed. rev.). São Paulo: Hagnos, 2003, p. 38.
5
ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2008,
p. 14
6
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p.19.
7
ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit. p. 14.
8
VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Cultura Cristã, 2010,
p. 16
7
sem negar que, pelo fato da Teologia Bíblica se interessar em lidar primaria e
exclusivamente com o texto bíblico e sua interpretação fornecida pela exegese, ela
não é o resultado final do labor teológico, que acaba na sistematização da doutrina
para e em resposta ao pensamento contemporâneo, tarefa essa que é da Teologia
Sistemática, por isso a Teologia Bíblica “precede, logicamente, a sistemática e é a
ponte entre a exegese e a sistemática."9
Outra característica notável da Teologia Bíblica é que ela não apenas analisa
indutiva e separadamente os livros bíblicos, mas procura de alguma maneira articular
sua unidade por meio dos temas e categorias presentes nos próprios textos. D. A.
Carson explica que:
“O ideal é que a Teologia Bíblica, como seu nome indica, ao mesmo
tempo que trabalha indutivamente com base nos vários textos
da Bíblia, também procure descobrir e articular a unidade de todos os
textos bíblicos considerados como um todo, recorrendo principalmente
às categorias dos próprios textos.”10
A Teologia Bíblica tem por propósito não apenas sintetizar as verdades da escritura,
mas também demonstrar sua unidade. É importante ressaltar a unidade das
Escrituras, pois cada vez mais ela é atacada por movimentos liberais, teorias
hermenêuticas e teologias que não refletem a Verdade de Deus. A disciplina teológica
que demonstra a unidade da revelação em meio a diversidade de composições
literárias, de situações históricas e autores distintos é a Teologia Bíblica. Além de
ressaltar a teologia individual de um autor, período ou livro, ela é também, como define
Grant R. Osborne:
“O ramo da investigação teológica que se preocupa em identificar
temas presentes nas diversas seções da Bíblia (como os escritos
sapienciais ou as epístolas paulinas) para, assim, buscar os temas
unificadores que integram toda a Bíblia.”11
9
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op Cit. p. 14
10
CARSON, D.A. Teologia Sistemática e Teologia Bíblica. In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida,
2009, p. 140.
11
OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica: uma nova abordagem à interpretação bíblica. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2009, p. 446
8
Por ter esse propósito de lidar com a unidade das Escrituras, sem descartar a sua
diversidade, Brian Rosner afirma que:
A teologia bíblica está preocupada principalmente com a
mensagem teológica integral da Bíblia toda. Procura entender as
partes em relação ao todo e, para alcançar isso, trabalha com uma
interação entre as dimensões literária, histórica e teológica dos vários
blocos, e com o inter-relacionamento desses dentro de todo o cânon
das Escrituras12
12
ROSNER, Brian S. Teologia Bíblica. In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed. ALEXANDER, T.
Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida, 2009, p. 3
13
GOLDSWORTHY, Graeme. O Evangelho e o Reino, em: Trilogia. São Paulo, SP: Shedd Publicações,
2016, p. 48
14
Idem. p. 48. Ao ler os escritos de Goldsworthy é fácil perceber que, embora afirme esse propósito,
como um teólogo do pacto, ele lida com a Teologia Bíblica na prática, de uma maneira bem menos
descritiva, diferente de como afirma. Aparentemente, na teologia do Pacto, a Teologia Bíblica é
entendida mais como um método hermenêutico cristocêntrico e tipológico do que uma teologia
desenvolvida de maneira descritiva. Para ter uma compreensão maior da maneira como Goldsworthy
lida com a Teologia Bíblica, veja: GOLDSWORTHY, Graeme. According to Plan: The Unfolding
Revelation of God in the Bible. Downers Grove, IL: InterVarsity, 1991; GOLDSWORTHY, Graeme.
Christ-Centered Biblical Theology. Nottingham, NG7: IVP, 2012. Para as implicações
hermenêuticas de sua compreensão da Teologia Bíblica, veja: GOLDSWORTHY, Graeme.
“Hermeneutics and Biblical Theology”. The Southern Baptist Journal of Theology. Vol.10 n.02,
2006, p. 4-20.
9
Toda explicação do texto bíblico deve ressaltar a teologia do texto, pois esta é a
base para as implicações e aplicações que fazemos das Escrituras. O papel da
Teologia Bíblica é servir de base para a organização da exposição e ensino das
escrituras, pois, como afirma Vanhoozer, “qualquer descrição que não atinja uma
exposição da teologia do texto permanece incompleta.”19
15
CARSON, D.A. Op. Cit. p. 141.
16
OSBORNE, Grant R. Op. Cit. p. 446.
17
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 10.
18
VANHOOZER, Kevin. Exegese e Hermenêutica, In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida,
2009, p. 89.
19
Ibid., p. 78
10
20
Boas discussões a respeito dos temas centrais da teologia, bem como uma síntese de diversos autores
e os centros que defendem, podem ser encontradas em: HAMILTON Jr., James M., God’s Glory in
Salvation through Judgment: A Biblical Theology. Wheaton: Crossway, 2010; HAFEMANN, Scott
J.; HOUSE, Paul R. Central Themes in Biblical Theology: Mapping unity in diversity. Grand
Rapids, MI: Baker Academic, 2007 e, de maneira muito objetiva, em: SCHREINER, Thomas R. New
Testament Theology: Magnifying God in Christ. Grand Rapids: Baker Academic, 2008, p. 879.
21
O leitor notará que, em alguns momentos, alguns autores estarão presentes em mais de uma
categoria, pois combinam metodologias em suas obras. Para mais informações sobre a metodologia
da Teologia Bíblica, ver os artigos de Charles Scobie: SCOBIE, C.H.H., “The Structure Of Biblical
Theology” Tyndale Bulletin 42.2, 1991, p. 163-194; SCOBIE, Charles H.H., “New Directions in
Biblical Theology,” Themelios 17.2, 1992, P. 4-8; O artigo de D. A. Carson: CARSON D.A., “Current
Issues in Biblical Theology: A New Testament Perspective,” Bulletin for Biblical Research 5, 1995:
17-41; para estudos mais recentes, análises e interações com teologias bíblicas mais recentes, veja
o artigo de Andreas Köstenberger: KÖSTENBERGER, Andreas J. “The Present and Future of
Biblical Theology”, In: Themelios 37.3, 2012, p. 445-64; o melhor livro que faz uma análise dos
diversos modelos metodológicos encontrado por este autor e que, embora não seja totalmente
abrangente, é digno de nota é a obra de Edward W. Klink III e Darian R. Lockett: Understanding
Biblical Theology: A Comparison of Theory and Practice. Grand Rapids, IL: Zondervan, 2012;
outro livro digno de nota nesse assunto é o clássico: HASEL, Gerhard. Teologia do Antigo e Novo
Testamento: Questões Básicas no debate atual. São Paulo: Academia Cristã, 2015.
22
VOS, Geerhardus. Op. Cit
23
RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento, 2ªed. São Paulo, SP: ASTE/TArgumin, 2006.
24
MERRILL, Eugene H. Teologia do Antigo Testamento. São Pulo: SHEDD Publicações, 2009. De
uma forma eclética, Dr. Merrill combina uma abordagem sistemática, temática, por períodos e
descritiva ao mesmo tempo. Sua Teologia Bíblica do Antigo Testamento é digna de nota pelo fato de
lidar com o texto bíblico das mais diversas maneiras e sempre partindo da exegese.
25
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. São Paulo: Editora Batista Regular, 2014.
26
KAISER, W. C., Jr. The promise-plan of God: a biblical theology of the Old and New Testaments.
Grand Rapids, MI: Zondervan. 2008. A primeira edição do livro de Kaiser abordava apenas o Antigo
Testamento, porém, a partir de 2008, sua nova edição inclui o Novo Testamento, com uma
abordagem descritiva/temática de seu material, porém, sempre baseado no tema unificador
defendido por Kaiser, “o plano da promessa”.
11
27
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op. Cit; ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit.
28
MARSHALL, I. H. Teologia do Novo Testamento: Diversos testemunhos, um só evangelho. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2007. A metodologia de Marshall é interessante pois ele analisa, dentro de
cada livro a teologia das grandes porções do livro e após isso, apresenta uma síntese dos principais
temas teológicos existentes em cada livro.
29
HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Editora Vida, 2005. Paul House
faz pelo Antigo Testamento o que Marshall faz pelo Novo no quesito de metodologia. A abordagem
que House faz dos livros históricos é, para este autor, um ds melhores exemplos de como ensinar
e pregar as narrativas do Antigo Testamento.
30
WALTKE, Bruce K. Teologia do Antigo Testamento: uma abordagem exegética, canônica e
temática. São Paulo: Vida Nova, 2015. A teologia de Waltke é uma das maiores obras em Teologia
do AT da atualidade e lida profundamente com a síntese teológica dos livros bíblicos, demonstrando
seus temas teológicos principais, sua estrutura interna e osaspectos exegéticos profundos.
31
THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: Uma abordagem canônica e sintética. São
Paulo: SHEDD Publicações, 2007. Thielman, além de elaborar sua Teologia do Novo Testamento
de forma sintética e descritiva, aborda os livros bíblicos na ordem que julga ser a composição
histórica de cada um, querendo assim demonstrar o desenvolvimento da doutrina dentro do
progresso da revelação existente no próprio Novo Testamento.
32
SCHREINER, Thomas R. The King in his Beauty: A biblical theology of the Old and New
Testaments. Grand Rapids: Baker Academic, 2013.
12
33
É desconhecido deste autor uma obra ou estudo na área da Teologia Bíblica que se utilize dessa
abordagem no Antigo testamento.
34
Ryrie, ao contrário de Guthrie, é mais sensível às subestruturas do pensamento de cada autor,
deixando assim as categorias serem moldadas pelas ênfases dos autores bíblicos.
35
LADD, George Eldon. Op. Cit. A Obra de Ladd é um marco na história da Teologia Bíblica, por ser
uma das responsáveis por colocar a Teologia Bíblica nas mãos dos teólogos conservadores como
disciplina teológica válida e eficiente para o estudo do Novo Testamento. A obra de Ladd, em sua
primeira edição, analisava os evangelhos sinóticos como uma unidade, elaborando assim uma
teologia dos escritos acerca de Jesus, porém, na segunda edição, revisada por Donald Hagner,
ganha um capítulo sobre as diferenças entre Mateus Marcos e Lucas. A maneira como Ladd
determina os temas presentes dentro dos escritos de cada autor bíblico é um bom exemplo de como
se utilizar esse método sem impor categorias ausentes no pensamento do autor.
36
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento, 1ªed. São Paulo, SP: Vida Nova, 2003. Morris,
apesar de organizar sua teologia do Novo Testamento em torno dos autores bíblicos, trata
individualmente cada uma das Epístolas Gerais.
37
SCHREINER, Thomas R. Teologia de Paulo: O Apostolo da Glória de Deus em Cristo. São Paulo,
SP: Vida Nova, 2015.
13
bíblico e à sua forma de composição. A maior obra na área da Teologia Bíblica que
se utiliza desse método é a de Donald Guthrie. 38 Segundo Bock,
“o livro de Donald Guthrie trata as categorias sistemáticas como a
estrutura unificadora e a subestrutura, mas discute cada categoria e
subcategoria de um autor por vez. Esse método também faz a conexão
com sínteses mais extensas, mas perde-se o sentido de coerência que
reflete a contribuição de cada autor. Por exemplo, a pessoa, para
determinar o ensinamento de João, tem de ler individualmente
diversas discussões de categorias teológicas definidas e depois, junta-
las.”39
38
GUTHRIE, Donald. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
BOCK. Darrell. “Introdução”. Em: ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit. p. 16.
39
40
A série, conforme descrita por D. A. Carson: “is a series of monographs that address key issues in the
discipline of biblical theology. Contributions to the series focus on one or more of three areas: (1) the
nature and status of biblical theology, including its relations with other disciplines (e.g. historical
theology, exegesis, systematic theology, historical criticism, narrative theology); (2) the articulation and
exposition of the structure of thought of a particular biblical writer or corpus; and (3) the delineation of a
biblical theme across all or part of the biblical corpora.”. CARSON, D. A. New Studies in Biblical
Theology. Disponível em: https://www.thegospelcoalition.org/pages/nsbt Acessado em: 30/10/17.
41
SCOBIE, Charles H. H. The ways of our God: an approach to Biblical Theology. Grand Rapids, MI:
Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2003.
42
BEALE, G. K. A New Testament Biblical Theology: The Unfolding of the Old Testament in the New.
Grand Rapids: Baker Academic, 2011; BEALE, G. K. Você se Torna Aquilo que Adora: uma teologia
bíblica da idolatria. São Paulo, SP: Vida Nova, 2014.
43
SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. São Paulo: Vida
Nova, 2001.
44
SCHREINER, Thomas R. New Testament Theology: Magnifying God in Christ. Grand Rapids: Baker
Academic, 2008.
14
45
Idem. p. 13.
46
Este autor crê, conforme será demonstrado no capítulo final deste trabalho, que toda a tarefa
teológica, bem como as disciplinas teológicas, deve contribuir para um único objetivo: a edificação e
instrução do povo de Deus, a Igreja, de modo fiel a revelação dEle.
47
Não é propósito deste trabalho lidar com o método teológico e suas variações, porém o leitor pode
encontrar informações esclarecedoras sobre as diferentes metodologias teológicas, bem como o
processo do método teológico em: CARSON D.A., “Current Issues in Biblical Theology: A New
Testament Perspective, ” Bulletin for Biblical Research 5, 1995: 17-41; OSBORNE, Grant R. Op.
Cit; KÖSTENBERGER, Andreas J. e PATTERSON, Richard D. Convite à Interpretação Bíblica: A
tríade hermenêutica. São Paulo, SP: Vida Nova, 2015. Este autor considera de extrema valia a
leitura do artigo de Andrew Naselli sobre o método teológico de D. A. Carson, pois o mesmo contribui
muito para o debate atual sobre a metodologia da teologia, cf. NASELLI, Andrew D., D. A. "Carson's
Theological Method". Scottish bulletin of Evangelical Theology 29.2, 2011, p. 245-274.
48
ROSNER, Brian S. Op. Cit. p. 3.
15
A exegese é a base de todo o estudo teológico e lida com o texto bíblico em sua
forma primária, ou seja, direto nas línguas originais: o grego, o hebraico e o aramaico.
A definição que Darrell Bock propõe sobre a exegese nos ajuda aqui:
“Em suma, exegese é um processo que possui três objetivos básicos:
(1) entender a mensagem do texto, (2) articular porque se pensa que
a mensagem do texto é a mensagem, tanto em meios particulares
como no todo (validação), (3) preparar para a aplicação firmada na
mensagem bíblica.”50
Como Bock apresenta, a exegese possui, de maneira geral, três objetivos básicos: (1)
lidar com o texto em si, procurando entender sua mensagem, o que envolve o estudo
da crítica textual, para determinar qual é a leitura correta de um texto; (2) a análise da
morfologia e da sintaxe das palavras e o estudo dos vocábulos e dos conceitos
bíblicos; e (3) a análise da estrutura do texto e do fluxo de argumentação do autor.
Nesse processo, conclusões são extraídas do texto e é papel da exegese provar a
49
Idem. p.3
50
BOCK, Darrell. Opening Questions: Definition and Philosophy of Exegesis, In. BOCK, Darell;
FANNING, Buist (eds.). Interpreting the New Testament Text: Introduction to the Art and Science
of Exegesis. Wheaton: IL: Crossway, 2006, p. 27.
16
A exegese lida com porções do texto bíblico, ora de maneira sequencial, parágrafo
após parágrafo, ora de maneira isolada, estudando apenas uma porção ou um verso
bíblico. Após a análise da exegese, existe a necessidade de se organizar seus
resultados e é nesse ponto do processo que a Teologia Bíblica entra em cena,
organizando os assuntos encontrados nas porções, seja de maneira descritiva,
temática ou sistemática. Ela visa demonstrar como cada texto contribui
individualmente para a compreensão total da mensagem teológica pretendida por um
autor em um livro bíblico ou parágrafo, bem como apresentar o estudo detalhado de
um tema teológico presente nas Escrituras e seu progresso dentro de toda a revelação
ou em algum dos testamentos.
51
GRASSMICK, John D. Exegese do Novo Testamento: Do texto ao Púlpito. São Paulo: SHEDD
Publicações, 2009, p. 11
52
ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit. p. 13
17
Dentro da relação entre a Teologia Bíblica e a exegese, muito se discute sobre qual
das disciplinas exerce maior influência sobre a outra e qual delas detém maior
autoridade sobre o significado final do texto bíblico. Richard Gaffin propõe que é a
Teologia Bíblica que regula a exegese e não ao contrário, dizendo que: “A 'teologia
bíblica é a reguladora da exegese', porque 'a estrutura histórica do processo de
53
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 14
54
OSBORNE, Grant R. Op. Cit. p. 446.
18
55
GAFFIN, Richard. Systematic Theology and Biblical Theology. In, The New Testament Student and
Theology. Ed John H. Skilton, 3: 35-37. Nutley, NJ: Presbyterian & Reformed, p. 44, 45.
56
Este autor utiliza o termo “hermenêutica bíblica” para descrever a disciplina teológica envolvida no
processo de interpretação das Escrituras, uma vez que outras áreas do conhecimento também
possuem hermenêutica em suas áreas de pesquisa e atuação, como é o caso da hermenêutica
jurídica no direito e a hermenêutica literária na literatura.
19
observação do texto para a aplicação e prática”57, ou seja, ela tem um objetivo final,
que é a transposição da compreensão da mensagem do texto e do seu significado
para a aplicação do texto. “Em tese, a hermenêutica visa tornar o texto bíblico claro e
compreensível, por meio da explicação do seu sentido original” 58. A hermenêutica
fornece os princípios específicos que, aliados à exegese, colaboram para a
compreensão do sentido do texto que reside na intenção autoral.
A hermenêutica, aliada à exegese, é a base de toda interpretação bíblica e,
consequentemente, a base necessária para a realização da tarefa da Teologia Bíblica
de descrever, sintetizar e organizar a teologia da bíblia nos moldes em que foi
revelada. Hélder Cardin explica que:
“[A hermenêutica] deve ser gramatical (deve nos dizer exatamente o
que o autor disse) e deve ser histórica (deve nos dizer exatamente o
que o autor disse em sua própria época). Essa interpretação histórica
e gramatical é a base da Teologia Bíblica”59
O perigo destacado por Vanhoozer é real, pois quando não há submissão do interprete
ao sentido real do texto (exposto por meio da aplicação dos princípios hermenêuticos
e da metodologia da exegese), a possibilidade de haver uma imposição de
preferências teológicas a um texto especifico é real e muito possível. A Teologia
Bíblica não revelará outro significado para o texto, mas trabalhará a partir do
significado descoberto pelo processo exegético-hermenêutico. Se não houver um
significado claro para que o teólogo bíblico trabalhe, o texto será moldado pelas
pressuposições do teólogo e pelas categorias teológicas preexistentes, ao invés de
moldador das categorias teológicas e subestrutura da teologia de um autor, livro ou
57
ZUCK, Roy. A Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 14.
58
CARDIN, Hélder. Curso Vida Nova de Teologia Básica: Hermenêutica. São Paulo: Vida Nova,
2017, p. 57.
59
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 13
60
VANHOOZER, Kevin. Exegese e Hermenêutica, In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida,
2009, p. 72
20
verso bíblico. Quando não há a aplicação séria da hermenêutica, versos bíblicos tem
suas arestas lixadas para caberem em estruturas teológicas particulares, ao invés de
funcionarem como formões que esculpem a teologia de determinado tema, livro ou
autor.
A hermenêutica e a Teologia Bíblica estão intimamente ligadas. “A ligação entre
as duas disciplinas, no entanto, é muito mais que um mero acaso, pois a interpretação
bíblica sem a teologia bíblica é (teologicamente) vazia, e a teologia bíblica sem a
interpretação bíblica é (hermeneuticamente) ingênua. ”61.
A tarefa de aplicação da hermenêutica é grandemente influenciada pela nossa
cosmovisão. Goldsworthy ressalta: “ela é governada pela nossa cosmovisão e,
consequentemente a maneira como interpretamos o mundo, incluindo os textos
bíblicos revelará nossa compreensão dessa realidade.” 62 Por isso, uma cosmovisão
bíblico-teológica saudável e comprometida com as Escrituras é essencial para a
realização da interpretação bíblica. Essa compreensão é possível por meio de uma
Teologia Bíblica saudável que, ao mesmo tempo, se dedica a uma análise sincrônica
do texto bíblico dentro do progresso da revelação e lida com uma síntese diacrônica,
percorrendo toda a Escritura e revelando a unidade que existe na palavra de Deus.
Como afirma Goldsworthy: “a análise sincrônica exige que também participemos da
síntese diacrônica. Isso reconhece tanto a unidade das Escrituras quanto a natureza
progressiva da revelação.”63 Quando esse trabalho é realizado, o interprete tem em
suas mãos um panorama da narrativa bíblica que retrata a história da redenção e,
“descobrir que a Bíblia está longe de ser uma coleção de histórias e ensinamentos
desconectados é uma experiência libertadora.”64.
Da mesma maneira que a hermenêutica fornece a interpretação correta para a
síntese teológica da Teologia Bíblica, a Teologia Bíblica oferece a cosmovisão
necessária para moldar a nossa aplicação da teoria hermenêutica e das demais
ciências interpretativas ao texto bíblico. Goldsworthy explica:
“A hermenêutica exigirá atenção a outras disciplinas, como o estudo
das línguas bíblicas, teoria linguística, crítica literária, historiografia
bíblica e até filosofia; nenhuma delas nos levará a uma visão de mundo
61
Idem. p. 72
62
GOLDSWORTHY, Graeme. Op. Cit. p. 5
63
Idem. p. 8.
64
Idem. p. 10
21
65
Idem. p. 16
66
VANHOOZER, Kevin. Op. Cit. p. 73
67
Idem, ibid., p. 77
68
Ou, como é mais conhecida, “interpretação teológica da Escritura”. Para mais informações sobre o
significado e método da interpretação teológica, cf. ALLISON, Gregg R. Theological Interpretation
of Scripture: An Introduction and Preliminary Evaluation. The Southern Baptist Journal of
Theology. Vol.14 n.02, 2010, p. 28-36; PLUMMER, Robert L. What Is the “theological Interpretation
of Scripture”? In, 40 Questions About Interpreting the Bible. Grand Rapids, MI: Kregel, 2010, p.
312-320; TREIER, Daniel J. Introducing Theological Interpretation of Scripture: Recovering a
Christian Practice. Grand Rapids, MI: Baker, 2008; VANHOOZER, Kevin J. (ed.), Dictionary for
the Theological Interpretation of the Bible. Grand Rapids: Baker, 2005. Para uma análise crítica
da “interpretação teológica da Escritura”, veja o artigo de D. A. Carson. ”Theological Interpretation
of Scripture: Yes, But... ”. In ALLEN, R. Michael. Theological Commentary: Evangelical
Perspectives. London: T&T Clark, 2011, p. 187-207.
22
de acordo suas peculiaridades literárias, sendo uma delas o caráter teológico do texto,
uma vez que a Bíblia é uma narrativa teológica dos feitos de Deus na história e da
maneira que ele resgata a criação caída por causa do pecado e não somente o registro
histórico de um povo e de seus usos e costumes. Por isso, podemos afirmar que,
como conclui Vanhoozer:
“A teologia bíblica é um a descrição dos textos bíblicos em níveis que
demonstram sua importância teológica. Assim sendo, a teologia
bíblica nada mais é do que uma hermenêutica teológica: uma
abordagem interpretativa da Bíblia instruída pela doutrina cristã. O
teólogo bíblico busca a mensagem teológica comunicada pelos textos
considerados individualmente e como uma coleção.”69
69
VANHOOZER, Kevin. Op. Cit. p. 88.
23
70
FRAME, John M. Salvation belongs to the Lord: an introduction to systematic theology.
Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2006, p. 81.
71
RYRIE, C. C. Basic Theology: A Popular Systematic Guide to Understanding Biblical Truth.
Chicago, IL: Moody Press, 1999, p. 15.
72
Systematic Theology. In BARRY, J. D., BOMAR, D., BROWN, D. R., KLIPPENSTEIN, R., MANGUM,
D., C. WOLCOTT, Sinclair, … WIDDER W. (Orgs.), The Lexham Bible Dictionary. Bellingham, WA:
Lexham Press, 2016, Logos Bible Software
24
Essa diferença básica pode ser notada na maneira que as obras de Teologia Bíblica
e as de Sistemática são organizadas. Enquanto as obras de Teologia Bíblica são, em
sua maioria, organizadas por temas que emergem do texto bíblico dentro de unidades
literárias distintas, as de Teologia Sistemática são organizadas em termos
dogmáticos, que transcendem os temas particulares do texto, mas articulam as
principais áreas de concentração do pensamento teológico. Em resumo,
“uma grande diferença da teologia bíblica para a teologia sistemática
é que ambas lidam com perspectivas diferentes. Uma lida com a
sistematização necessária para a compreensão da doutrina hoje, e
outra lida mais especificamente com a perspectiva do autor bíblico.”75
73
OSBORNE, W. R. Biblical Theology, Practice of. In BARRY, J. D., BOMAR, D., BROWN, D. R.,
KLIPPENSTEIN, R., MANGUM, D., C. WOLCOTT, Sinclair, … WIDDER W. (Orgs.), The Lexham
Bible Dictionary. Bellingham, WA: Lexham Press, 2016, Logos Bible Software.
74
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op. Cit. p. 14.
75
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 15.
76
Idem. p. 15.
25
realizada, por isso Roger Nicole diz que “a teologia Bíblica é o fundamento da teologia
sistemática ao oferecer o valioso fruto do estudo exegético obtido numa adequada
relação com o contexto original e com o desenvolvimento da revelação divina.”77
Essa interdependência ocorre pelo fato de que, da mesma maneira que a Teologia
Bíblica fornece os pressupostos necessários para a exegese e hermenêutica, alguns
conceitos da Teologia Sistemática, apesar de terem sido formulados a partir de uma
Teologia Bíblica saudável, que por sua vez foi baseada em uma exegese honesta,
fornecem pressupostos necessários para Teologia Bíblica e lançam luz a questões
especificas da teologia de autores, livros ou porções bíblicas. Esse trabalho é uma via
de mão dupla, porque uma disciplina suporta a outra e possibilita o trabalho e
desenvolvimento da outra. Por isso, podemos afirmar que a Teologia Bíblica é a base
da Teologia Sistemática e a Teologia Sistemática é a organização proposicional da
Teologia Bíblica.
Uma ótima síntese da interdependência das disciplinas é apresentada por Zuck
e Merrill:
“Os intérpretes sistemáticos entendem que o material com o qual
trabalham deve ser extraído pelos exegetas e teólogos bíblicos, e os
teólogos bíblicos sabem que o trabalho não está completo se eles
meramente localizarem e delinearem os principais temas teológicos
de determinadas porções da bíblia. Esses temas devem ser integrados
77
NICOLE, Roger. The Relationship between Biblical Theology and Systematic Theology. In.
Evangelical Roots. Ed. Kenneth Kantzer, 1978, p. 185.
78
HAMILTON Jr, James M. God’s Glory in Salvation through Judgment: A Biblical
Theology. Wheaton: Crossway, 2010, p. 46, 47
26
Por isso, uma separação radical entre as disciplinas não é nem sadia, nem
aconselhável. A Teologia Sistemática sem a Teologia Bíblica tem a tendência de se
valer apenas de textos prova, extraídos de seu contexto canônico, e a Teologia Bíblica
sem o próximo passo da Teologia Sistemática pode cair na tendência de não transpor
a ponte entre o mundo do texto e o mundo do leitor. Assim, como conclui Rosner,
“Pelo fato de a Teologia Bíblica ser fruto da exegese de textos de
vários blocos literários bíblicos, ela tem prioridade lógica sobre a
Sistemática e outros tipos especializados do desenvolvimento da
teologia e da interpretação bíblica. Entretanto a reciprocidade das
disciplinas pode ser observada em nossa maneira de realizar a tarefa
exegética com pressuposições dogmáticas sobre a natureza e
autoridade da Bíblia”80
Uma consideração que deve ser feita, porém, é no quesito da normatividade das
disciplinas. O fato da Teologia Bíblica se desenvolver de maneira descritiva não
descaracteriza como normativa. Como explica Marshall:
“Embora a teologia bíblica seja descritiva e a sistemática prescritiva, a
primeira determina o ensino teológico das Escrituras e também
desempenha um papel prescritivo ou normativo. De forma descritiva,
o estudioso traça o pensamento dos livros bíblicos, o que em si mesmo
oferece a base do pensamento sistemático.”81
É interessante notar que, como Marshall destaca, a Teologia Bíblica possui um papel
normativo e, por isso, ao ser empregada, pode se extrair implicações da teologia
analisada para a vida cristã. Uma vez que o que define o caráter normativo das
Escrituras não é a forma que o material bíblico está organizado, seja em proposições
teológicas ou em descrições da teologia de um bloco autor, tema ou livro, mas sim a
natureza inspirada, autoritativa e suficiente das Escrituras. Além do mais, o que seria
79
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op. Cit. p. 15.
80
ROSNER, Brian S. Op. Cit. p. 3.
81
MARSHALL, I. H. Op. Cit. p. 40-42
27
82
CARSON, D.A. Op. Cit. p. 143.
28
Fazer teologia e transmitir teologia não deve ser uma tarefa restrita a academia. É
por essa convicção que este trabalho é concluído com um capítulo sobre a importância
e a aplicação da Teologia Bíblica na vida e nos ministérios da Igreja, especificamente
por meio da pregação expositiva, do aconselhamento bíblico e do incentivo aos
pastores e lideres cristãos de fornecerem treinamento na área da Teologia Bíblica
para suas igrejas, seja por meio da própria pregação, do aconselhamento ou outro
meio formal ou informal de educação no contexto da igreja. Por isso, começaremos
com o aspecto público da transmissão da teologia bíblica que ocorre na pregação,
passaremos pelo aspecto particular que ocorre no aconselhamento bíblico e
concluiremos com uma discussão sobre os benefícios da teologia bíblica para a vida
da igreja, bem como para a vida cristã.
83
Idem. p. 144.
84
FRAME, John M. Salvation belongs to the Lord: an introduction to systematic theology.
Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2006, p. 72.
85
Idem. p. 72
29
nós, pois coloca a teologia fora dos âmbitos estritamente acadêmicos e a torna
necessária na igreja e feita para a igreja. É no contexto da igreja, do corpo de Cristo,
que o conhecimento de Deus e o relacionamento com Ele são necessários e devem
ser ensinados por meio da aplicação das Escrituras à todas as áreas da vida humana.
A prática ministerial encarregada deste ensino em sua forma pública é a pregação
expositiva.
A pregação expositiva é a proclamação pública do significado de um texto bíblico,
de uma maneira contemporânea que conduza os ouvintes a uma aplicação objetiva e
prática da teologia contida no texto. Haddon Robinson define a pregação expositiva
da seguinte maneira:
“Pregação Expositiva é a comunicação de um conceito bíblico,
transmitido através de um estudo histórico, gramatical, e literário de
uma passagem em seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente
aplica à personalidade e à experiência do pregador e, depois, através
dele a seus ouvintes.”86
Podemos ver em ambas as definições que a pregação expositiva lida com o estágio
da interpretação e descoberta do significado do texto por meio da exegese e da
hermenêutica com o objetivo da aplicação do conteúdo bíblico à vida do ouvinte. É
interessante notar, porém, o acréscimo que Greidanus faz ao fato de que o conceito
bíblico deve ser entendido à luz do contexto do escritor bíblico e do contexto de toda
a Escritura, que, como foi discutido acima, é tarefa da Teologia Bíblica descrever a
teologia do texto e situa-la em seu contexto maior. Em suma, a pregação expositiva é
86
ROBINSON, Haddon W. Pregação Bíblica: O desenvolvimento e a entrega de sermões
expositivos. São Paulo, SP: SHEDD Publicações, 2003, p. 22.
87
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo: Interpretando e
Pregando a Literatura Bíblica. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2006, p. 26. Apud. UNGER, Merril
F. Principles of Expository Preaching. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1995, p. 33
30
88
OSBORNE, Grant R. Op. Cit. p. 446.
89
ADAMS, P. J. H. Pregação e Teologia Bíblica. In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora
Vida, 2009, p. 143.
90
EBELING, Gerhard. Theology and Proclamation, London, [n. a.], 1966, p. 20.
91
GREIDANUS, Sidney. Op. Cit. p. 26.
31
A unidade das Escrituras que o pregador precisa ter em mente é a coerência e unidade
da história da redenção produzida pela Teologia Bíblica. Quando o pregador
compreende onde o seu texto se encaixa no enredo das Escrituras, ele ganha acesso
ao real significado da teologia do texto e da sua aplicação. Assim, o pregador saberá
onde ele se encaixa na história de Deus e poderá conduzir aos outros para os seus
devidos lugares. Essa é uma das melhores contribuições da Teologia Bíblica para a
pregação, pois ela capacita os ouvintes a enxergarem os textos das Escrituras à luz
de toda a história da redenção, uma vez que, “quando o pregador utiliza a teologia
bíblica, a congregação aprende mais sobre a coerência da Bíblia. [...] A teologia
Bíblica os ajuda a aprender a mensagem da Bíblia, a compreender o Universo93” e a
encontrar o seu lugar na história de Deus.
O estudo sério da Teologia Bíblica pelo pregador o auxiliará a pregar toda a
Escritura como Palavra de Deus e compreender que existe teologia em todos os
gêneros literários e em ambos os testamentos. Este estudo contribui para que ele
saiba analisar tanto o contexto histórico da passagem, como encaixar o texto em seu
contexto teológico e canônico, extraindo, a partir daí, contribuições significativas para
a pregação.
“O estudo da teologia bíblica ajudará o pregador a pregar o texto
dentro do contexto estabelecido por Deus. Há grande
necessidade desse tipo de pregação hoje, quando muitos acham que
o AT não oferece nada mais que um fundo para o NT e que é apenas
parte de seu contexto social e cultural.”94
Uma grande contribuição da Teologia Bíblica para a pregação é que ela auxilia
o pregador a estabelecer as conexões entre os dois testamentos de maneira honesta,
92
GOLDSWORTHY, Graeme. Pregando a Bíblia toda com escritura cristã. São José dos Campos,
SP: Editora Fiel, 2013, p. 72.
93
ADAMS, P. J. H. Op. Cit. p.155.
94
Idem. p. 151
32
95
KLINK III, Edward W.; LOCKETT, Darian R. Op. Cit. versão eletrônica Kindle.
96
ADAMS, P. J. H. Op. Cit. p. 153.
97
Idem. p.151, 152.
98
Idem. p. 153.
33
Fazer teologia não deve ser uma tarefa restrita à Academia, pois a teologia não é
de domínio dos teologicamente capazes. Ela é de domínio do povo de Deus, a
Igreja100 e, por ser de domínio da igreja, ela deve ser difundida, ensinada e transmitida.
Como visto acima, “Teologia é a aplicação da Escritura a todas as áreas da vida
humana.”101.
De maneira pública, a teologia é ensinada, transmitida e aplicada por meio da
pregação e através de outros métodos formais ou informais de educação, como
palestras, aulas, cursos, pequenos grupos e etc., porém, a proclamação pública da
teologia não é a única maneira em que ela deve ser transmitida. A teologia também
deve ser comunicada em particular e o ministério da Igreja em que essa transmissão
particular da teologia ocorre, é o aconselhamento bíblico.
O aconselhamento bíblico, como definido por Maria Cecilia Alfano:
“é o aspecto da dinâmica ministerial em que o corpo de Cristo,
capacitado pelo Espírito Santo e baseado na Palavra de Deus
corretamente interpretada e aplicada a situações específicas, ministra
à vida de irmãos visando cooperar com o plano de Deus de conforma-
los progressivamente à imagem de Cristo.102
99
EBELING, Gerhard Op. Cit. p. 20.
100
Sobre essa afirmação, cf. VANHOOZER, Kevin J. Autoridade Bíblica Pós-Reforma: resgatando
os solas segundo a essência do cristianismo protestante puro e simples. São Paulo, SP: Vida
Nova, 2017.
101
FRAME, John M. Op. Cit. p. 72
102
ALFANO, Maria Cecilia. O alicerce para um ministério bíblico de aconselhamento. Disponível
em: https://pt.scribd.com/document/24774947/Alicerce-para-o-Aconselhamento-Biblico#fullscreen.
Acessado em: 02/11/17.
34
103
BABLER, John; ELLEN, Nicolas. Fundamentos teológicos do aconselhamento bíblico e suas
aplicações práticas. São Paulo, SP: NUTRA, 2017, p. 88.
104
REJU, Deepak; PIERRE, Jeremy. O pastor e o aconselhamento: um guia básico para
pastoreio de membros em necessidade. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015, p. 52
105
ADAMS, Jay E. Teologia do Aconselhamento Cristão. Eusébio, CE: Peregrino, 2016, p. 31.
35
Essa é uma constatação triste, mas real. Pessoas não levam a teologia a sério e
consequentemente não encontram na Palavra de Deus as respostas que necessitam
para seus dilemas diários. Para muitos, a teologia é apenas um assunto na prateleira
de pastores, ministros e missionários, porém, ela é muito mais do que isso: “a boa
teologia não é apenas a recitação do que a igreja tem crido, embora isto seja
importante. Ela inclui, também, o que a igreja deve crer hoje em meio às ameaças
contemporâneas.”107. Como destaca Lambert, a teologia oferece e deve oferecer
respostas para os mais diversos dilemas e ameaças à Igreja e à vida cristã. Ela
responde às perguntas que muitos estão fazendo, pois ela parte da fonte de toda
verdade, as Escrituras, a Palavra de Deus.
O aconselhamento bíblico é teológico e tem por objetivo auxiliar pessoas a
serem cada vez mais parecidas com Jesus e, para agir em prol desse processo de
transformação, “a única coisa que o conselheiro deve fazer é articular alguma visão
da realidade que compreenda o dilema do aconselhado e oferecer uma resposta
106
LAMBERT, Heath. Teologia do Aconselhamento Bíblico: Fundamentos doutrinários do
ministério de aconselhamento. Eusébio, CE: Editora Peregrino, 2017, p.15.
107
Idem. p. 17
36
As respostas que oferecemos a essas perguntas dizem mais sobre nós do que
imaginamos. Como propõe Michael Emlet:
“Essas perguntas - e como as respondemos - formam a espinha dorsal
narrativa de nossas vidas. Eles moldam a maneira como interpretamos
os eventos da vida, do mundano ao horrível. Eles moldam nossa visão
de nós mesmos e dos outros. Eles moldam nossa visão do que
constitui uma vida significativa, até um momento significativo. Eles
moldam nossas crenças, emoções e decisões todos os dias. Todo
mundo tem uma história abrangente que vive momento a momento.
Todo mundo é um criador de significado com categorias para dar
sentido à vida. A questão é a seguinte: que história, que narrativa
usaremos para ver nosso mundo e interpretar nossas vidas?”111
108
LAMBERT, Heath. Op. Cit. p. 20
109
Idem. p. 21
110
WALSH, Brian; MIDDLETON Richard J. The Transforming Vision: Shaping a Christian World
View. Downers Grove, IL: IVP, 1984, p. 35.
111
EMLET, Michael. Biblical Theology and Counseling. In. 9Marks Journal: Biblical Thinking for
Building Healthy Churches. Summer, 2014, [n.a.]. Disponível
em: https://www.9marks.org/journal/biblical-theology/. Acessado em: 1/11/17.
37
A pergunta final de Emlet merece destaque aqui. “Qual história, qual narrativa nós
usaremos para enxergar nosso mundo e interpretar nossas vidas?”. Para nós cristãos,
a única possível é a história da redenção, é a narrativa bíblica que responde todos
estes questionamentos, narrativa esta que é encontrada e formulada por meio da
Teologia Bíblica. A Teologia Bíblica é a formadora da cosmovisão cristã, pois ela
apresenta ao cristão uma maneira de entender os planos de Deus a partir da revelação
progressiva e de interagir com esses planos à medida que compreende a teologia da
Bíblia, a teologia dos textos, dos livros e dos autores. Todas as perguntas levantadas
por Walsh e Middleton são possíveis de serem respondidas através da teologia
bíblica:112
112
Adaptado de: EMLET, Michael. Biblical Theology and Counseling.
113
EMLET, Michael. Op. Cit.
38
A Teologia Bíblica existe para servir a Igreja, assim como todo o restante dos
empreendimentos teológicos e das disciplinas teológicas apresentadas e abordadas
neste trabalho. Como vimos ao longo desse trabalho,
A teologia bíblica também preenche a lacuna entre a exegese (nosso
estudo de textos) e a teologia sistemática (nossa formulação de
doutrina a partir do texto). Ele fornece contexto para exegese, dentes
para teologia sistemática e profundidade para teologia prática e vida
cristã.117
114
Para as abordagens, ver o capítulo 1, subponto 1.2.
115
EMLET, Michael. Op. Cit., loc. Cit.
116
ADAMS, Jay E. Op. Cit. p. 32.
117
PELT, Miles V. Van. Why all Christians shoud care about biblical theology. Disponível
em: https://www.crossway.org/articles/why-all-christians-should-care-about-biblical-theology/.
Acessado em: 12/18/2016.
39
A Teologia Bíblica é benéfica para todos aqueles que decidirem se utilizar dela.
Por causa de seus benefícios e por ser fruto de um estudo sério da Palavra de Deus
dada a Seu povo, ela deve ser exercitada e aplicada principalmente na igreja.
40
Por causa de todos esses benefícios, a Teologia Bíblica precisa ser pregada e
ensinada enquanto se prega. Precisa ser utilizada no aconselhamento e ensinada
enquanto se aconselha. Quando uma igreja for edificada sobre uma teologia bíblica
sólida e honestamente fundamentada na exegese e na hermenêutica, ela terá
condições de responder aos mais diversos dilemas da sociedade. Ela vai saber
corretamente cumprir sua missão de discipular, terá condições de sistematizar suas
crenças em proposições doutrinárias, ou seja, ela será capaz de fazer Teologia
Sistemática e, acima de tudo, terá condições de compreender a história da redenção
e entender o seu papel dentro dos atos de Deus para resgatar a humanidade por meio
de Jesus Cristo para a Sua glória.
118
ROSNER, Brian S. Op. Cit. p. 6
119
ADAMS, P. J. H Op. Cit. p. 156.
41
A Teologia Bíblica precisa fazer parte da vida da igreja por meio da pregação
expositiva de livros inteiros e de séries temáticas que respondam os dilemas
contemporâneos. Precisa fazer parte por meio do aconselhamento bíblico, com
cristãos preparados para mostrar uns aos outros onde é que a realidade de suas vidas
pessoais e as Escrituras se encontram. Precisa também fazer parte por meio da
propagação de boa literatura sobre o assunto. Livros, como os de Craig G.
Bartholomew e Michael W. Goheen, “O drama das Escrituras: encontrando o nosso
lugar na história bíblica”120 e “Introdução à Cosmovisão Cristã: vivendo na intersecção
entre a visão bíblica e a contemporânea” 121, devem fazer parte da leitura de todo
pastor, ministro e missionário, mas também deve fazer parte do estudo pessoal de
todo cristão, seja em uma escola bíblica, pequenos grupos ou grupos de leitura, pois,
"Como podemos ver, a Teologia Bíblica é muito frutífera para a tarefa
de formular a teologia. Não é uma matéria elitista, à disposição apenas
de profissionais que possam dedicar horas e horas a isso, sentados
em seu escritório. É algo que pode participar qualquer pessoa que
tenha o desejo de estudar a bíblia em profundidade. É algo de que a
igreja desesperadamente precisa em sua busca pela verdade. Muitos
debates atuais, com potencial para dividir a igreja, poderiam ser
resolvidos se aprendêssemos a usar o mínimo de Teologia Bíblica em
nossa busca por respostas."122
Somente quando a Teologia Bíblica for levada a sério e deixar de ser apenas
um campo do estudo acadêmico ou uma disciplina em um seminário, a igreja extrairá
os verdadeiros benefícios de seu estudo. Isso, porém, só ocorrerá quando pastores,
seminaristas, ministros e missionários retomarem seus estudos da Teologia Bíblica e
encontrarem nela uma maneira confortável de ler e interpretar a Palavra de Deus,
pois, a Teologia Bíblica é a maneira correta de ler, pregar e ensinar as escrituras.
“Assim, teologia bíblica, se reconhecida como tal ou não, de uma forma ou de outra,
é, normalmente, o que é praticado quando a Bíblia é pregada com eficácia, estudada
rigorosamente ou lida atentamente pelos cristãos.”123
120
São Paulo, SP: Vida Nova, 2017.
121
São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.
122
OSBORNE, Grant R. 3 Perguntas Cruciais sobre a Bíblia: Podemos confiar na Bíblia? Podemos
entender a Bíblia? Podemos fazer Teologia a partir da Bíblia?. São Paulo, SP: Vida Nova, 2014,
p. 199.
123
ROSNER, Brian S Op. Cit. p. 3.
42
124
CARSON, D.A. Op. Cit. p. 141.
43
CONSIDERAÇÕES FINAIS
125
RYRIE, Charles C Op. Cit. p. 21.
44
A Deus seja a glória hoje e para sempre, e até que chegue o dia em que “a terra se
encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (Hc
2.14).
45
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46
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53