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PEDRO HENRIQUE VERCELINO

A RELAÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA COM AS DEMAIS DISCIPLINAS


TEOLÓGICAS E SUA APLICAÇÃO PRÁTICA NA VIDA E MINISTÉRIOS DA
IGREJA.

ATIBAIA

2020
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................4
2 DEFINIÇÕES, PROPÓSITOS E ABORDAGENS DA TEOLOGIA BÍBLICA.......5
2.1. DEFINIÇÕES E PROPÓSITO..............................................................................5
2.2. AS DIVERSAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS DA TEOLOGIA BÍBLICA.10
2.2.1. Abordagem canônica por períodos…………………………………………….10
2.2.2. Abordagem descritiva................................................................................... 11
2.2.3. Abordagem dos autores bíblicos..................................................................12
2.2.4. Abordagem sistemática.................................................................................13
2.2.5. Abordagem Temática.....................................................................................13
3 A RELAÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA COM AS DEMAIS DISCIPLINAS
TEOLÓGICAS............................................................................................................15
3.1 TEOLOGIA BÍBLICA E EXEGESE .....................................................................16
3.2 TEOLOGIA BÍBLICA E HERMENÊUTICA..........................................................19
3.3 TEOLOGIA BÍBLICA E TEOLOGIA SISTEMÁTICA ...........................................23
4 A IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA PARA A VIDA E
MINISTÉRIOS IGREJA..............................................................................................29
4.1 TEOLOGIA BÍBLICA E A PREGAÇÃO EXPOSITIVA ........................................29
4.2 TEOLOGIA BÍBLICA E O ACONSELHAMENTO BÍBLICO.................................34
4.3 TEOLOGIA BÍBLICA E A SUA APLICAÇÃO NA IGREJA....................................39
CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................46
4

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é demonstrar a grandeza e a extensão dos estudos na


área da teologia bíblica, bem como apresentar a validade e os benefícios de se
estudar a teologia bíblica por meio de diversas abordagens, e também a influência
benéfica que esta disciplina exerce na transmissão pública e particular da Palavra de
Deus por meio da pregação e do aconselhamento bíblico.
É propósito deste autor indicar, ao longo do trabalho bibliografia suplementar
para assuntos que não sejam foco da discussão desse trabalho, mas que possuem
importância para a discussão teológica e compreensão de aspectos específicos da
teologia bíblica.
O trabalho é dividido em três partes, que abordam três grandes áreas. Na
primeira parte, apresenta-se as definições sobre o propósito e os objetivos da teologia
bíblica, bem como as diversas abordagens metodológicas com seus respectivos
defensores. A lista de autores e obras apresentados não é exaustiva, mas representa
a maioria das obras e autores no campo da teologia bíblica. Na segunda parte, avalia-
se as relações entre as demais disciplinas teológicas e a teologia bíblica,
demonstrando a influência que elas exercem entre si. Na terceira e última parte,
discute-se a influência benéfica da teologia bíblica nos ministérios público e particular
da ministração da Palavra de Deus, a pregação expositiva e o aconselhamento bíblico,
respectivamente.
O desejo deste autor é que este trabalho seja informativo em seu conteúdo,
extenso em sua pesquisa e desafiador em sua conclusão.
5

2 DEFINIÇÕES, PROPÓSITOS E ABORDAGENS DA TEOLOGIA BÍBLICA

O objetivo desse autor nesse capítulo é, demonstrar qual a função e propósito da


Teologia Bíblica, as definições elaboradas por diversos teólogos e também as
diversas abordagens metodológicas desta disciplina teológica por isso, esse capítulo
não tem por objetivo lidar com a história da disciplina, nem mesmo com o seu
desenvolvimento1.

2.1. DEFINIÇÕES E PROPÓSITO

A Teologia Bíblica é uma das disciplinas teológicas que compõem, junto com a
Exegese, a Hermenêutica, a Teologia Histórica, a Teologia Sistemática e a Teologia
Prática, o grupo de disciplinas teológicas que tem, por objetivo, interpretar, organizar,
sistematizar e transmitir a verdade da Palavra de Deus. Ela é definida de diversas
maneiras, por diferentes teólogos. Charles Ryrie a considera como “o braço da ciência
teológica que lida sistematicamente com o progresso histórico da auto revelação de
Deus, de acordo com a disposição desta na bíblia."2Para Ryrie, a Teologia Bíblica lida
com a revelação progressiva de Deus nas Escrituras, levando em conta a maneira
como ela ocorre na ordem bíblica. Por isso, a Teologia Bíblica não se apropria de
categorias externas, mas se vale das categorias que o texto bíblico revela, o que a
difere da Teologia Sistemática, pois, como afirma Zuck e Merrill, a “Teologia Bíblica
procura encontrar suas categorias e focos teológicos na própria Bíblia e não a partir
de padrões racionais ou clássicos derivados de fora ou impostos na Bíblia." 3 .
George Ladd, um dos responsáveis pelo resgate da Teologia Bíblica
no cenário conservador, contribui para a compreensão dessa disciplina teológica e de
seu propósito de maneira interessante:
"A teologia bíblica é a disciplina que estrutura a mensagem dos livros
da bíblia de em seu ambiente formativo e histórico. [...] A tarefa da

1
Para mais informações a respeito da história da disciplina, veja: HASEL, Gerhard. Teologia do Antigo
e Novo Testamento: Questões Básicas no debate atual. São Paulo: Academia Cristã, 2015; KLINK
III, Edward W.; LOCKETT, Darian R. Understanding Biblical Theology: A Comparison of Theory
and Practice. Grand Rapids, IL: Zondervan, 2012; SCOBIE, C.H.H., “The Challenge of Biblical
Theology”, Tyndale Bulletin 42.1, 1991, p. 31-61.
2
RYRIE, Charles C. Biblical Theology of The New Testament. Dubuque, IA: ECS Ministries, 2005,
p. 10
3
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Teologia do Antigo Testamento, Rio de Janeiro, RJ: CPAD,
2009, p. 14
6

teologia bíblica é expor a teologia encontrada na Bíblia em seu


contexto histórico, com seus principais termos, categorias e formas de
pensamento."4

A definição de Ladd não é só importante, como também formadora de um dos métodos


de se realizar a Teologia Bíblica, como será demonstrado adiante. Ele define a tarefa
de se desenvolver teologia de maneira inseparável do contexto histórico e formador
dos livros da Bíblia, ou seja, a Teologia Bíblica não desconsidera o aspecto histórico
da revelação, uma vez que a compreensão do contexto em que o texto está inserido,
da unidade do livro e do pensamento de um autor são determinantes para se
compreender a teologia que um texto deseja comunicar. “A teologia Bíblica”, reforça
Zuck e Bock, “é a tentativa de estudar a contribuição individual de um dado escritor
ou de um determinado período do cânon da mensagem, e ela combina análise com
síntese"5.

Nesse processo de analisar a teologia que um livro ou autor bíblico transmite,


encontra-se a subestrutura teológica de um autor, mesmo que esse não faça
declarações explicitas de uma doutrina. Essa subestrutura teológica contribui para a
formação e construção das grandes doutrinas, pois, “a subestrutura teológica é prova
tão válida de qualquer doutrina como as declarações explícitas, e nenhuma disciplina
tem todo o campo dos estudos teológicos revela a subestrutura teológica como a
Teologia Bíblica.”6A Teologia Bíblica “preenche o espaço entre o sentido das
passagens individuais e a síntese da proposição teológica" 7. Por causa da sua
característica descritiva e por lidar diretamente com o fruto da exegese, organizando
e sintetizando os resultados da aplicação do método exegético a um texto ou livro, a
Teologia Bíblica é considerada, por vezes, como um ramo da Exegese, como afirma
Geerhardus Vos: “Teologia Bíblica é aquele ramo da Teologia Exegética que lida com
o processo de auto revelação de Deus registrada na Bíblia.”8 Embora este autor
reconheça a íntima relação da exegese com a Teologia Bíblica, e reconheça a
interdependência dessas disciplinas, é preferível trata-las de maneira distinta, porém,

4
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento (ed. rev.). São Paulo: Hagnos, 2003, p. 38.
5
ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Teologia do Novo Testamento. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2008,
p. 14
6
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p.19.
7
ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit. p. 14.
8
VOS, Geerhardus. Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamentos. São Paulo: Cultura Cristã, 2010,
p. 16
7

sem negar que, pelo fato da Teologia Bíblica se interessar em lidar primaria e
exclusivamente com o texto bíblico e sua interpretação fornecida pela exegese, ela
não é o resultado final do labor teológico, que acaba na sistematização da doutrina
para e em resposta ao pensamento contemporâneo, tarefa essa que é da Teologia
Sistemática, por isso a Teologia Bíblica “precede, logicamente, a sistemática e é a
ponte entre a exegese e a sistemática."9

Outra característica notável da Teologia Bíblica é que ela não apenas analisa
indutiva e separadamente os livros bíblicos, mas procura de alguma maneira articular
sua unidade por meio dos temas e categorias presentes nos próprios textos. D. A.
Carson explica que:
“O ideal é que a Teologia Bíblica, como seu nome indica, ao mesmo
tempo que trabalha indutivamente com base nos vários textos
da Bíblia, também procure descobrir e articular a unidade de todos os
textos bíblicos considerados como um todo, recorrendo principalmente
às categorias dos próprios textos.”10

A Teologia Bíblica tem por propósito não apenas sintetizar as verdades da escritura,
mas também demonstrar sua unidade. É importante ressaltar a unidade das
Escrituras, pois cada vez mais ela é atacada por movimentos liberais, teorias
hermenêuticas e teologias que não refletem a Verdade de Deus. A disciplina teológica
que demonstra a unidade da revelação em meio a diversidade de composições
literárias, de situações históricas e autores distintos é a Teologia Bíblica. Além de
ressaltar a teologia individual de um autor, período ou livro, ela é também, como define
Grant R. Osborne:
“O ramo da investigação teológica que se preocupa em identificar
temas presentes nas diversas seções da Bíblia (como os escritos
sapienciais ou as epístolas paulinas) para, assim, buscar os temas
unificadores que integram toda a Bíblia.”11

9
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op Cit. p. 14
10
CARSON, D.A. Teologia Sistemática e Teologia Bíblica. In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida,
2009, p. 140.
11
OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica: uma nova abordagem à interpretação bíblica. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2009, p. 446
8

Por ter esse propósito de lidar com a unidade das Escrituras, sem descartar a sua
diversidade, Brian Rosner afirma que:
A teologia bíblica está preocupada principalmente com a
mensagem teológica integral da Bíblia toda. Procura entender as
partes em relação ao todo e, para alcançar isso, trabalha com uma
interação entre as dimensões literária, histórica e teológica dos vários
blocos, e com o inter-relacionamento desses dentro de todo o cânon
das Escrituras12

A Teologia Bíblica, nesse papel de lidar com a unidade das Escrituras e


descrever a síntese teológica de cada livro, autor e período bíblico, está diretamente
ligada com a história da redenção de Deus, que consiste “no estudo da revelação de
como Deus age no mundo e na história" 13 e de seu propósito doxológico por meio de
Cristo para a história. A Teologia Bíblica é responsável por traçar o enredo das
Escrituras e demonstrar como a revelação progressiva é coerente e se desdobra de
acordo com a vontade de Deus para seus propósitos de se revelar a si mesmo e a
salvação por meio de Jesus. Como descreve Graeme Goldsworthy:
A Teologia Bíblica não se preocupa em afirmar as doutrinas finais que
comporão o conteúdo da fé Cristã, mas sim em descrever o processo
pelo qual a revelação se desdobra e se move em direção ao objetivo:
A revelação final de Deus a respeito de seus propósitos em Jesus
Cristo.14

Nesse processo de descrever o desenrolar da revelação progressiva da história da


redenção nas Escrituras, a Teologia Bíblica procurará descobrir tudo que une as

12
ROSNER, Brian S. Teologia Bíblica. In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed. ALEXANDER, T.
Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida, 2009, p. 3
13
GOLDSWORTHY, Graeme. O Evangelho e o Reino, em: Trilogia. São Paulo, SP: Shedd Publicações,
2016, p. 48
14
Idem. p. 48. Ao ler os escritos de Goldsworthy é fácil perceber que, embora afirme esse propósito,
como um teólogo do pacto, ele lida com a Teologia Bíblica na prática, de uma maneira bem menos
descritiva, diferente de como afirma. Aparentemente, na teologia do Pacto, a Teologia Bíblica é
entendida mais como um método hermenêutico cristocêntrico e tipológico do que uma teologia
desenvolvida de maneira descritiva. Para ter uma compreensão maior da maneira como Goldsworthy
lida com a Teologia Bíblica, veja: GOLDSWORTHY, Graeme. According to Plan: The Unfolding
Revelation of God in the Bible. Downers Grove, IL: InterVarsity, 1991; GOLDSWORTHY, Graeme.
Christ-Centered Biblical Theology. Nottingham, NG7: IVP, 2012. Para as implicações
hermenêuticas de sua compreensão da Teologia Bíblica, veja: GOLDSWORTHY, Graeme.
“Hermeneutics and Biblical Theology”. The Southern Baptist Journal of Theology. Vol.10 n.02,
2006, p. 4-20.
9

partes distintas da revelação, sem sacrificar sua particularidade histórica, literária e


teológica, nem o movimento unificador da história da redenção.15

Baseado em toda essa descrição de propósitos e definições da Teologia


Bíblica, podemos afirmar que o objetivo final da disciplina é informar a igreja e
possibilitar uma maneira útil de se estudar as Escrituras, objetivo que será discutido
de maneira prática no último capítulo. Por causa desse objetivo, podemos afirmar que
“a tarefa da teologia bíblica é descrever o significado teológico subjacente ao texto a
fim de prover um fundamento para as necessidades contemporâneas da igreja.” 16 A
Teologia Bíblica é um método útil de se estudar as Escrituras “porque ela analisa o
texto [bíblico] da maneira em que o texto foi escrito”17, ou seja, dentro do contexto
histórico, literário e teológico do livro, do autor e do cânon bíblico. Como Afirma Kevin
Vanhoozer:
A teologia Bíblica não é meramente recondicionamento do conteúdo
conceitual das Escrituras, mas uma maneira de preparar em mesmo
grau o coração, mente e imaginação do leitor no modo de perceber e
experimentar o mundo de acordo com as várias formas literárias e o
único cânon que, juntos, constituem a palavra escrita de Deus.18

Toda explicação do texto bíblico deve ressaltar a teologia do texto, pois esta é a
base para as implicações e aplicações que fazemos das Escrituras. O papel da
Teologia Bíblica é servir de base para a organização da exposição e ensino das
escrituras, pois, como afirma Vanhoozer, “qualquer descrição que não atinja uma
exposição da teologia do texto permanece incompleta.”19

2.2. AS DIVERSAS ABORDAGENS METODOLÓGICAS DA TEOLOGIA BÍBLICA.

A Teologia Bíblica pode ser desenvolvida por meio de diversas abordagens e


metodológicas distintas, de acordo com os objetivos que o teólogo bíblico possui.
Entretanto, todas as abordagens lidam com o fruto da exegese e visam oferecer uma

15
CARSON, D.A. Op. Cit. p. 141.
16
OSBORNE, Grant R. Op. Cit. p. 446.
17
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 10.
18
VANHOOZER, Kevin. Exegese e Hermenêutica, In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida,
2009, p. 89.
19
Ibid., p. 78
10

síntese da teologia de um autor, um livro, um período, um texto ou um tema bíblico,


ainda que os organizando de maneiras distintas. Não é propósito deste autor lidar com
a discussão acerca dos temas centrais defendidos pelos teólogos bíblicos como
unificadores da história da redençãoou da revelação progressiva do Antigo e Novo
Testamentos.20

2.2.1. Abordagem canônica por períodos

De uma maneira quase unânime, esse método é utilizado em obras de teologias


bíblicas do Antigo Testamento e consiste em analisar a teologia de um período bíblico,
como os escritos da era mosaica, a teologia do Éden, a teologia da era davídica e etc.,
ou, seguindo a estrutura da Bíblia Hebraica, analisando então a teologia da Torá, a
teologia dos Profetas anteriores e posteriores e a teologia dos Escritos. Autores21 que
se utilizam dessa metodologia são: Gerhaardus Vos22, Gerhard Von Rad23, Eugene
Merrill24, Paul Enns25, Walter Kaiser26

20
Boas discussões a respeito dos temas centrais da teologia, bem como uma síntese de diversos autores
e os centros que defendem, podem ser encontradas em: HAMILTON Jr., James M., God’s Glory in
Salvation through Judgment: A Biblical Theology. Wheaton: Crossway, 2010; HAFEMANN, Scott
J.; HOUSE, Paul R. Central Themes in Biblical Theology: Mapping unity in diversity. Grand
Rapids, MI: Baker Academic, 2007 e, de maneira muito objetiva, em: SCHREINER, Thomas R. New
Testament Theology: Magnifying God in Christ. Grand Rapids: Baker Academic, 2008, p. 879.
21
O leitor notará que, em alguns momentos, alguns autores estarão presentes em mais de uma
categoria, pois combinam metodologias em suas obras. Para mais informações sobre a metodologia
da Teologia Bíblica, ver os artigos de Charles Scobie: SCOBIE, C.H.H., “The Structure Of Biblical
Theology” Tyndale Bulletin 42.2, 1991, p. 163-194; SCOBIE, Charles H.H., “New Directions in
Biblical Theology,” Themelios 17.2, 1992, P. 4-8; O artigo de D. A. Carson: CARSON D.A., “Current
Issues in Biblical Theology: A New Testament Perspective,” Bulletin for Biblical Research 5, 1995:
17-41; para estudos mais recentes, análises e interações com teologias bíblicas mais recentes, veja
o artigo de Andreas Köstenberger: KÖSTENBERGER, Andreas J. “The Present and Future of
Biblical Theology”, In: Themelios 37.3, 2012, p. 445-64; o melhor livro que faz uma análise dos
diversos modelos metodológicos encontrado por este autor e que, embora não seja totalmente
abrangente, é digno de nota é a obra de Edward W. Klink III e Darian R. Lockett: Understanding
Biblical Theology: A Comparison of Theory and Practice. Grand Rapids, IL: Zondervan, 2012;
outro livro digno de nota nesse assunto é o clássico: HASEL, Gerhard. Teologia do Antigo e Novo
Testamento: Questões Básicas no debate atual. São Paulo: Academia Cristã, 2015.
22
VOS, Geerhardus. Op. Cit
23
RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento, 2ªed. São Paulo, SP: ASTE/TArgumin, 2006.
24
MERRILL, Eugene H. Teologia do Antigo Testamento. São Pulo: SHEDD Publicações, 2009. De
uma forma eclética, Dr. Merrill combina uma abordagem sistemática, temática, por períodos e
descritiva ao mesmo tempo. Sua Teologia Bíblica do Antigo Testamento é digna de nota pelo fato de
lidar com o texto bíblico das mais diversas maneiras e sempre partindo da exegese.
25
ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody. São Paulo: Editora Batista Regular, 2014.
26
KAISER, W. C., Jr. The promise-plan of God: a biblical theology of the Old and New Testaments.
Grand Rapids, MI: Zondervan. 2008. A primeira edição do livro de Kaiser abordava apenas o Antigo
Testamento, porém, a partir de 2008, sua nova edição inclui o Novo Testamento, com uma
abordagem descritiva/temática de seu material, porém, sempre baseado no tema unificador
defendido por Kaiser, “o plano da promessa”.
11

2.2.2. Abordagem descritiva

A abordagem descritiva é uma das mais comuns no estudo da Teologia Bíblica


e ela lida com a descrição da teologia de um livro bíblico, organizando-a segundo os
temas presentes no livro, extraindo a teologia de cada passagem e levando em conta
os aspectos literários e históricos de cada livro e autor. Por meio dessa metodologia,
podemos observar como a composição dos livros bíblicos se deu por causa da
necessidade do leitor de ser corrigido, informado ou lembrado de algo e o quanto isso
era determinante para o conteúdo presente em cada livro bíblico. Uma vantagem
dessa metodologia é que ela enxerga os livros bíblicos da mesma maneira em que a
maioria foram escritos, como uma unidade literária em circunstâncias distintas. A
abordagem descritiva procura extrair a teologia de cada trecho do texto bíblico,
seguindo a revelação progressiva e a ordem estabelecida por cada autor, ou também
por meio da organização do material bíblico em temas que percorrem todo o conteúdo
do livro. Autores e obras que se valem dessa metodologia são: as teologias do Antigo
e do Novo Testamentos, editadas por Roy Zuck; Eugene Merrill e Darrell Bock, tendo
por contribuintes os membros do Dallas Theological Seminary 27; I. Howard Marshall28;
Paul House29; Bruce K. Waltke30; Frank Thielman31; Thomas Schreiner32

27
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op. Cit; ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit.
28
MARSHALL, I. H. Teologia do Novo Testamento: Diversos testemunhos, um só evangelho. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2007. A metodologia de Marshall é interessante pois ele analisa, dentro de
cada livro a teologia das grandes porções do livro e após isso, apresenta uma síntese dos principais
temas teológicos existentes em cada livro.
29
HOUSE, Paul R. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, SP: Editora Vida, 2005. Paul House
faz pelo Antigo Testamento o que Marshall faz pelo Novo no quesito de metodologia. A abordagem
que House faz dos livros históricos é, para este autor, um ds melhores exemplos de como ensinar
e pregar as narrativas do Antigo Testamento.
30
WALTKE, Bruce K. Teologia do Antigo Testamento: uma abordagem exegética, canônica e
temática. São Paulo: Vida Nova, 2015. A teologia de Waltke é uma das maiores obras em Teologia
do AT da atualidade e lida profundamente com a síntese teológica dos livros bíblicos, demonstrando
seus temas teológicos principais, sua estrutura interna e osaspectos exegéticos profundos.
31
THIELMAN, Frank. Teologia do Novo Testamento: Uma abordagem canônica e sintética. São
Paulo: SHEDD Publicações, 2007. Thielman, além de elaborar sua Teologia do Novo Testamento
de forma sintética e descritiva, aborda os livros bíblicos na ordem que julga ser a composição
histórica de cada um, querendo assim demonstrar o desenvolvimento da doutrina dentro do
progresso da revelação existente no próprio Novo Testamento.
32
SCHREINER, Thomas R. The King in his Beauty: A biblical theology of the Old and New
Testaments. Grand Rapids: Baker Academic, 2013.
12

2.2.3. Abordagem dos autores bíblicos

Esta abordagem organiza a teologia do Novo Testamento 33 em torno da análise


dos temas teológicos nos escritos de cada autor, ou seja, unindo todos os escritos
paulinos, lucanos, joaninos e etc., analisando os temas teológicos presentes na
teologia de cada autor. Essa abordagem é interessante no sentido de que demonstra
a ênfase teológica de cada autor, fruto das circunstâncias e períodos em que cada
autor escreve. Alguns, como Charles Ryrie34 e Donald Guthrie utilizam dessa
metodologia em suas obras, porém, ao invés de analisarem a estrutura do
pensamento de cada autor, apropriam-se de categorias da Teologia Sistemática para
organizar a teologia de cada autor. A contribuição particular dessa metodologia está
no fato de que ela fornece a compreensão total que um autor tem de uma determinada
doutrina, servindo assim de auxílio tanto para o ensino quanto para a exegese dos
textos bíblicos do mesmo autor. Autores que se utilizam dessa metodologia são:
George E. Ladd35; Leon Morris36; Thomas Schreiner37

2.2.4. Abordagem sistemática


A abordagem sistemática analisa o material da revelação bíblica dentro de cada
testamento a partir das categorias da Teologia Sistemática, organizando, por vezes,
a teologia de cada autor pelas categorias sistemáticas. Apesar de apresentar uma
organização lógica do conteúdo bíblico, esse método impõe categorias herdadas da
Teologia Dogmática que não necessariamente faziam parte da subestrutura do
pensamento de cada autor, criando assim, categorias que não são naturais ao texto

33
É desconhecido deste autor uma obra ou estudo na área da Teologia Bíblica que se utilize dessa
abordagem no Antigo testamento.
34
Ryrie, ao contrário de Guthrie, é mais sensível às subestruturas do pensamento de cada autor,
deixando assim as categorias serem moldadas pelas ênfases dos autores bíblicos.
35
LADD, George Eldon. Op. Cit. A Obra de Ladd é um marco na história da Teologia Bíblica, por ser
uma das responsáveis por colocar a Teologia Bíblica nas mãos dos teólogos conservadores como
disciplina teológica válida e eficiente para o estudo do Novo Testamento. A obra de Ladd, em sua
primeira edição, analisava os evangelhos sinóticos como uma unidade, elaborando assim uma
teologia dos escritos acerca de Jesus, porém, na segunda edição, revisada por Donald Hagner,
ganha um capítulo sobre as diferenças entre Mateus Marcos e Lucas. A maneira como Ladd
determina os temas presentes dentro dos escritos de cada autor bíblico é um bom exemplo de como
se utilizar esse método sem impor categorias ausentes no pensamento do autor.
36
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento, 1ªed. São Paulo, SP: Vida Nova, 2003. Morris,
apesar de organizar sua teologia do Novo Testamento em torno dos autores bíblicos, trata
individualmente cada uma das Epístolas Gerais.
37
SCHREINER, Thomas R. Teologia de Paulo: O Apostolo da Glória de Deus em Cristo. São Paulo,
SP: Vida Nova, 2015.
13

bíblico e à sua forma de composição. A maior obra na área da Teologia Bíblica que
se utiliza desse método é a de Donald Guthrie. 38 Segundo Bock,
“o livro de Donald Guthrie trata as categorias sistemáticas como a
estrutura unificadora e a subestrutura, mas discute cada categoria e
subcategoria de um autor por vez. Esse método também faz a conexão
com sínteses mais extensas, mas perde-se o sentido de coerência que
reflete a contribuição de cada autor. Por exemplo, a pessoa, para
determinar o ensinamento de João, tem de ler individualmente
diversas discussões de categorias teológicas definidas e depois, junta-
las.”39

2.2.5. Abordagem temática

A abordagem temática da Teologia Bíblica visa lidar com um ou diversos temas e


a sua presença e desdobramento ao longo do cânon. Essa abordagem tem sido
fortemente difundida pela série editada por D.A. Carson: “New Studies in Biblical
Theology”40, que lida com temas bíblicos dentro de toda a escritura bíblica ou em
algum dos testamentos, a partir da exegese de textos bíblicos e da organização da
teologia extraída deles de acordo com o tema abordado. Alguns teólogos que também
têm optado por essa abordagem são: Charles Scobie41, Gregory K. Beale42, Ralph
Smith43 e Thomas Schreiner44.

Schreiner defende a abordagem temática para a construção da teologia do Novo


Testamento, tendo como base a composição de seus 27 livros e a maneira que a
revelação se desdobra ao longo do seu período de composição. Para ele, nenhum
autor neotestamentário se propôs a escrever uma obra estritamente teológica, uma
vez que a literatura do NT é de característica ocasional, ou seja, surgiu para responder

38
GUTHRIE, Donald. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
BOCK. Darrell. “Introdução”. Em: ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit. p. 16.
39
40
A série, conforme descrita por D. A. Carson: “is a series of monographs that address key issues in the
discipline of biblical theology. Contributions to the series focus on one or more of three areas: (1) the
nature and status of biblical theology, including its relations with other disciplines (e.g. historical
theology, exegesis, systematic theology, historical criticism, narrative theology); (2) the articulation and
exposition of the structure of thought of a particular biblical writer or corpus; and (3) the delineation of a
biblical theme across all or part of the biblical corpora.”. CARSON, D. A. New Studies in Biblical
Theology. Disponível em: https://www.thegospelcoalition.org/pages/nsbt Acessado em: 30/10/17.
41
SCOBIE, Charles H. H. The ways of our God: an approach to Biblical Theology. Grand Rapids, MI:
Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2003.
42
BEALE, G. K. A New Testament Biblical Theology: The Unfolding of the Old Testament in the New.
Grand Rapids: Baker Academic, 2011; BEALE, G. K. Você se Torna Aquilo que Adora: uma teologia
bíblica da idolatria. São Paulo, SP: Vida Nova, 2014.
43
SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. São Paulo: Vida
Nova, 2001.
44
SCHREINER, Thomas R. New Testament Theology: Magnifying God in Christ. Grand Rapids: Baker
Academic, 2008.
14

questões e dilemas de uma igreja, pessoa ou público específico. Como defende


Schreiner, existe a necessidade de uma abordagem temática do NT que lide com o
todo da revelação e seja útil para lançar luz às partes menores:
“Em resumo, nenhum dos escritos do NT contém todo o Ensino do NT.
Eles são precisos, mas testemunhas parciais e fragmentadas. Eles
testemunham a verdade, porém não exaustivamente o evangelho de
Jesus Cristo. Por isso, uma abordagem temática à Teologia do NT é
valiosa, porque ela tenta capturar o todo do ensino, considerando os
vinte sete livros.”45

3 A RELAÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA COM AS DEMAIS DISCIPLINAS


TEOLÓGICAS

A Teologia Bíblica faz parte de um conjunto de disciplinas teológicas que, juntas,


tem por objetivo estudar, sintetizar e analisar a Palavra de Deus em prol da sua
Igreja.46Existe uma relação entre tais disciplinas, pois elas fazem parte de um
processo chamado “método teológico”47, no qual existe a interdependência das
disciplinas teológicas. No que diz respeito a Teologia Bíblica e sua interdependência
com as demais disciplinas, podemos afirmar que
“Pelo fato de a teologia bíblica ser fruto da exegese de textos de vários
blocos literários bíblicos, ela tem prioridade lógica sobre a sistemática
e outros tipos especializados do desenvolvimento da teologia.
Entretanto, a reciprocidade das disciplinas pode ser observada em
nossa maneira de realizar a tarefa exegética com pressuposições
dogmáticas sobre a natureza e autoridade da Bíblia.”48

45
Idem. p. 13.
46
Este autor crê, conforme será demonstrado no capítulo final deste trabalho, que toda a tarefa
teológica, bem como as disciplinas teológicas, deve contribuir para um único objetivo: a edificação e
instrução do povo de Deus, a Igreja, de modo fiel a revelação dEle.
47
Não é propósito deste trabalho lidar com o método teológico e suas variações, porém o leitor pode
encontrar informações esclarecedoras sobre as diferentes metodologias teológicas, bem como o
processo do método teológico em: CARSON D.A., “Current Issues in Biblical Theology: A New
Testament Perspective, ” Bulletin for Biblical Research 5, 1995: 17-41; OSBORNE, Grant R. Op.
Cit; KÖSTENBERGER, Andreas J. e PATTERSON, Richard D. Convite à Interpretação Bíblica: A
tríade hermenêutica. São Paulo, SP: Vida Nova, 2015. Este autor considera de extrema valia a
leitura do artigo de Andrew Naselli sobre o método teológico de D. A. Carson, pois o mesmo contribui
muito para o debate atual sobre a metodologia da teologia, cf. NASELLI, Andrew D., D. A. "Carson's
Theological Method". Scottish bulletin of Evangelical Theology 29.2, 2011, p. 245-274.
48
ROSNER, Brian S. Op. Cit. p. 3.
15

Ou seja, é praticamente impossível utilizar-se de qualquer uma das disciplinas


teológicas sem encontrar ou assumir pressuposições levantadas e afirmadas por
outras. Isso se dá pelo fato de que as disciplinas teológicas lidam com o texto bíblico
em diferentes estágios do método teológico ou sob diferentes perspectivas. A Teologia
Bíblica não pode existir independentemente de outras disciplinas, pois ela fornece
a síntese e as conclusões teológicas da Exegese e é a ponte para a sistematização
da doutrina pela Sistemática. “Na verdade, a teologia bíblica nunca deve ser
imaginada como independente de outras disciplinas”49, por isso, esse capitulo visa
tratar da relação da Teologia Bíblica com as demais disciplinas teológicas.

3.1. TEOLOGIA BÍBLICA E EXEGESE

A Teologia Bíblica é a organização, sintetização e processamento do material


fornecido pela exegese, por isso, a relação entre as duas disciplinas é tão estreita no
método teológico, ocorrendo simultaneamente. Para uma compreensão correta dessa
relação, é necessária uma compreensão do papel da exegese e de seus objetivos.

A exegese é a base de todo o estudo teológico e lida com o texto bíblico em sua
forma primária, ou seja, direto nas línguas originais: o grego, o hebraico e o aramaico.
A definição que Darrell Bock propõe sobre a exegese nos ajuda aqui:
“Em suma, exegese é um processo que possui três objetivos básicos:
(1) entender a mensagem do texto, (2) articular porque se pensa que
a mensagem do texto é a mensagem, tanto em meios particulares
como no todo (validação), (3) preparar para a aplicação firmada na
mensagem bíblica.”50

Como Bock apresenta, a exegese possui, de maneira geral, três objetivos básicos: (1)
lidar com o texto em si, procurando entender sua mensagem, o que envolve o estudo
da crítica textual, para determinar qual é a leitura correta de um texto; (2) a análise da
morfologia e da sintaxe das palavras e o estudo dos vocábulos e dos conceitos
bíblicos; e (3) a análise da estrutura do texto e do fluxo de argumentação do autor.
Nesse processo, conclusões são extraídas do texto e é papel da exegese provar a

49
Idem. p.3
50
BOCK, Darrell. Opening Questions: Definition and Philosophy of Exegesis, In. BOCK, Darell;
FANNING, Buist (eds.). Interpreting the New Testament Text: Introduction to the Art and Science
of Exegesis. Wheaton: IL: Crossway, 2006, p. 27.
16

validade dessas conclusões. Por último, a exegese é a base primária da aplicação do


texto bíblico, pois é nela que a intenção do autor começa a ser descoberta.
Conforme define John Grassmick, “exegese é a aplicação hábil de bons princípios
hermenêuticos ao texto bíblico na língua original com o objetivo de entender e
proclamar o significado pretendido pelo autor” 51. Essa definição demonstra mais uma
vez a interdependência das disciplinas, pois, como Grassmick destaca, a exegese é
servida pela hermenêutica em alguns aspectos e possui, como destacado a cima, o
propósito de encontrar o significado pretendido pelo autor. Em resumo, a exegese é a
disciplina teológica que "trabalha minunciosamente com as peças individuais do texto
escritural, procurando explicar o que cada parte diz", 52 aplicando os princípios
gramaticais das línguas originais em conjunto com a hermenêutica, buscando a
compreensão da mensagem de um texto bíblico que reside na intenção do autor.

A exegese lida com porções do texto bíblico, ora de maneira sequencial, parágrafo
após parágrafo, ora de maneira isolada, estudando apenas uma porção ou um verso
bíblico. Após a análise da exegese, existe a necessidade de se organizar seus
resultados e é nesse ponto do processo que a Teologia Bíblica entra em cena,
organizando os assuntos encontrados nas porções, seja de maneira descritiva,
temática ou sistemática. Ela visa demonstrar como cada texto contribui
individualmente para a compreensão total da mensagem teológica pretendida por um
autor em um livro bíblico ou parágrafo, bem como apresentar o estudo detalhado de
um tema teológico presente nas Escrituras e seu progresso dentro de toda a revelação
ou em algum dos testamentos.

Um dos papéis da exegese é a solução de problemas textuais, ou seja, a análise


e estudo de particularidades de um texto bíblico que são determinantes para a
compreensão do seu significado, como questões de crítica textual, morfologia de
palavras, ambiguidades, aspectos culturais e históricos da época de composição do
texto bíblico, entre outros. Essa atuação da exegese é essencial para a Teologia
Bíblica, uma vez que esta necessita do real significado de um texto e não somente
das suas possibilidades, por isso, é essencial que o teólogo bíblico seja também um
exegeta.

51
GRASSMICK, John D. Exegese do Novo Testamento: Do texto ao Púlpito. São Paulo: SHEDD
Publicações, 2009, p. 11
52
ZUCK, Roy B., BOCK, Darrell L. Op. Cit. p. 13
17

“Ninguém pode ser um teólogo sem ser um exegeta, embora possa


ser um exegeta sem ser um teólogo. A teologia Bíblica vai além da
exegese, por que ela não apenas apresenta o que o autor disse, mas
procura também descobrir o padrão teológico da mente dele, do qual
os escritos são o reflexo.”53

A Teologia Bíblica, diferente da exegese, lida com todo o material do autor


bíblico, procurando encaixar os seus escritos de maneira que seja possível
compreender todo pensamento do autor em um determinado assunto. Para isso, é
necessário que, antes da organização do pensamento do autor bíblico, haja uma
compreensão correta do significado pretendido de cada texto por meio do processo
exegético-hermenêutico. Nesta relação entre as duas disciplinas, uma precede a outra
e uma não pode existir sem a outra, pois não existe material bíblico a ser sintetizado
e organizado pela Teologia Bíblica se antes não houver análise e interpretação por
meio da exegese, nem existe uma unidade teológica que transcende o texto bíblico e
apresenta um enredo da revelação onde o texto a ser analisado pela exegese se
encaixa no todo do processo da revelação de Deus. Como explica Grant Osborne:
“Há uma relação de mão dupla entre teologia bíblica e exegese. A
primeira oferece as categorias e a unidade bíblica global por trás de
uma interpretação de passagens individuais, enquanto a segunda
oferece os dados a serem reunidos dentro de uma teologia bíblica. Em
outras palavras as duas são interdependentes. [...] O exegeta estuda
o que o autor quer dizer com base em considerações literárias
(gramática e desenvolvimento de pensamento) e no contexto histórico
(socioeconômico), para depois o teólogo bíblico trabalhar com os
resultados e compilar padrões de unidade por trás das declarações
individuais.”54

Dentro da relação entre a Teologia Bíblica e a exegese, muito se discute sobre qual
das disciplinas exerce maior influência sobre a outra e qual delas detém maior
autoridade sobre o significado final do texto bíblico. Richard Gaffin propõe que é a
Teologia Bíblica que regula a exegese e não ao contrário, dizendo que: “A 'teologia
bíblica é a reguladora da exegese', porque 'a estrutura histórica do processo de

53
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 14
54
OSBORNE, Grant R. Op. Cit. p. 446.
18

revelação', em vez das 'relações literárias', é que determina a mensagem da Bíblia.


”55 Entretanto, como se descobre essa estrutura histórica que Gaffin afirma ser a
detentora da mensagem?
Conforme visto anteriormente, a Teologia Bíblica é responsável por demonstrar a
unidade das Escrituras e o enredo que envolve toda a narrativa da história da
redenção. Esse enredo é encontrado no texto bíblico, nas relações macro canônicas
da Escritura e em tipologias comprovadamente intentadas pelos autores bíblicos. É
impossível determinar o enredo das Escrituras, um centro teológico para a mesma ou
até mesmo uma filosofia de história, a parte da análise do texto bíblico. As disciplinas
teológicas que detém essa tarefa são a Exegese e a Hermenêutica. Com isso,
podemos então afirmar que, embora a compreensão da unidade das Escrituras e do
enredo da narrativa bíblica lance luz ao processo exegético-teológico, essa
compreensão é fruto do trabalho exegético, posteriormente organizado em torno dos
grandes temas e assuntos recorrentes em toda a Escritura. Em resumo, a relação da
Exegese e da Teologia Bíblica é espiral, uma vez que a exegese conduz e possibilita
a Teologia Bíblica e a Teologia Bíblica ilumina o texto bíblico para o exegeta,
oferecendo-lhe referências e pressupostos essenciais para lidar com o texto bíblico
dentro do cânon e corpus de um determinado autor. Quanto mais o teólogo bíblico for
capaz de trabalhar exegeticamente, melhor será o fruto da sua exegese e,
consequentemente, da sua Teologia Bíblica. Quanto mais o exegeta for capaz de lidar
com a sintetização e organização da mensagem teológica, melhor será o fruto da
Teologia Bíblica, e consequentemente da sua exegese.

3.2. TEOLOGIA BÍBLICA E HERMENÊUTICA

A Hermenêutica Bíblica56 é a disciplina que lida com os princípios e a teoria


necessária para a interpretação de um texto, bem como conduz o interprete à
aplicação honesta do texto bíblico, baseado em uma interpretação sólida e cuidadosa.
Como define Roy Zuck, a “interpretação é a etapa que nos transporta da leitura e da

55
GAFFIN, Richard. Systematic Theology and Biblical Theology. In, The New Testament Student and
Theology. Ed John H. Skilton, 3: 35-37. Nutley, NJ: Presbyterian & Reformed, p. 44, 45.
56
Este autor utiliza o termo “hermenêutica bíblica” para descrever a disciplina teológica envolvida no
processo de interpretação das Escrituras, uma vez que outras áreas do conhecimento também
possuem hermenêutica em suas áreas de pesquisa e atuação, como é o caso da hermenêutica
jurídica no direito e a hermenêutica literária na literatura.
19

observação do texto para a aplicação e prática”57, ou seja, ela tem um objetivo final,
que é a transposição da compreensão da mensagem do texto e do seu significado
para a aplicação do texto. “Em tese, a hermenêutica visa tornar o texto bíblico claro e
compreensível, por meio da explicação do seu sentido original” 58. A hermenêutica
fornece os princípios específicos que, aliados à exegese, colaboram para a
compreensão do sentido do texto que reside na intenção autoral.
A hermenêutica, aliada à exegese, é a base de toda interpretação bíblica e,
consequentemente, a base necessária para a realização da tarefa da Teologia Bíblica
de descrever, sintetizar e organizar a teologia da bíblia nos moldes em que foi
revelada. Hélder Cardin explica que:
“[A hermenêutica] deve ser gramatical (deve nos dizer exatamente o
que o autor disse) e deve ser histórica (deve nos dizer exatamente o
que o autor disse em sua própria época). Essa interpretação histórica
e gramatical é a base da Teologia Bíblica”59

Como descreve Vanhoozer:


“Tentar desenvolver uma teologia bíblica fora da reflexão sobre
hermenêutica e exegese — a teoria e a prática da interpretação,
respectivamente — é arriscar uma identificação potencialmente
idólatra da doutrina do intérprete com a do texto.60

O perigo destacado por Vanhoozer é real, pois quando não há submissão do interprete
ao sentido real do texto (exposto por meio da aplicação dos princípios hermenêuticos
e da metodologia da exegese), a possibilidade de haver uma imposição de
preferências teológicas a um texto especifico é real e muito possível. A Teologia
Bíblica não revelará outro significado para o texto, mas trabalhará a partir do
significado descoberto pelo processo exegético-hermenêutico. Se não houver um
significado claro para que o teólogo bíblico trabalhe, o texto será moldado pelas
pressuposições do teólogo e pelas categorias teológicas preexistentes, ao invés de
moldador das categorias teológicas e subestrutura da teologia de um autor, livro ou

57
ZUCK, Roy. A Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 14.
58
CARDIN, Hélder. Curso Vida Nova de Teologia Básica: Hermenêutica. São Paulo: Vida Nova,
2017, p. 57.
59
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 13
60
VANHOOZER, Kevin. Exegese e Hermenêutica, In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora Vida,
2009, p. 72
20

verso bíblico. Quando não há a aplicação séria da hermenêutica, versos bíblicos tem
suas arestas lixadas para caberem em estruturas teológicas particulares, ao invés de
funcionarem como formões que esculpem a teologia de determinado tema, livro ou
autor.
A hermenêutica e a Teologia Bíblica estão intimamente ligadas. “A ligação entre
as duas disciplinas, no entanto, é muito mais que um mero acaso, pois a interpretação
bíblica sem a teologia bíblica é (teologicamente) vazia, e a teologia bíblica sem a
interpretação bíblica é (hermeneuticamente) ingênua. ”61.
A tarefa de aplicação da hermenêutica é grandemente influenciada pela nossa
cosmovisão. Goldsworthy ressalta: “ela é governada pela nossa cosmovisão e,
consequentemente a maneira como interpretamos o mundo, incluindo os textos
bíblicos revelará nossa compreensão dessa realidade.” 62 Por isso, uma cosmovisão
bíblico-teológica saudável e comprometida com as Escrituras é essencial para a
realização da interpretação bíblica. Essa compreensão é possível por meio de uma
Teologia Bíblica saudável que, ao mesmo tempo, se dedica a uma análise sincrônica
do texto bíblico dentro do progresso da revelação e lida com uma síntese diacrônica,
percorrendo toda a Escritura e revelando a unidade que existe na palavra de Deus.
Como afirma Goldsworthy: “a análise sincrônica exige que também participemos da
síntese diacrônica. Isso reconhece tanto a unidade das Escrituras quanto a natureza
progressiva da revelação.”63 Quando esse trabalho é realizado, o interprete tem em
suas mãos um panorama da narrativa bíblica que retrata a história da redenção e,
“descobrir que a Bíblia está longe de ser uma coleção de histórias e ensinamentos
desconectados é uma experiência libertadora.”64.
Da mesma maneira que a hermenêutica fornece a interpretação correta para a
síntese teológica da Teologia Bíblica, a Teologia Bíblica oferece a cosmovisão
necessária para moldar a nossa aplicação da teoria hermenêutica e das demais
ciências interpretativas ao texto bíblico. Goldsworthy explica:
“A hermenêutica exigirá atenção a outras disciplinas, como o estudo
das línguas bíblicas, teoria linguística, crítica literária, historiografia
bíblica e até filosofia; nenhuma delas nos levará a uma visão de mundo

61
Idem. p. 72
62
GOLDSWORTHY, Graeme. Op. Cit. p. 5
63
Idem. p. 8.
64
Idem. p. 10
21

autêntica ou auto-entendimento sem a visão de mundo bíblica. Como


é revelada pela teologia bíblica.”65

Baseado nessa compreensão de mútua colaboração entre as duas disciplinas,


podemos concluir que, de alguma maneira, a “Teologia bíblica transpõe a ruptura
escancarada (na verdade, uma ferida aberta) entre, de um lado, uma crítica histórica
teologicamente empobrecida e, de outro, uma leitura das Escrituras cristãs motivada
eclesiasticamente.”66 A Teologia Bíblica, quando realizada de maneira fiel e
comprometida com a hermenêutica, possibilita que a Bíblia seja compreendida como
ela realmente deve ser, como Palavra de Deus, e não meramente um objeto de
dissecação histórico-literário ou como um ponto de partida para preferências
eclesiásticas confessionais. Por isso, quando aliada à hermenêutica, a Teologia
Bíblica adquire o status de
“uma abordagem interpretativa à Bíblia que supõe que a palavra de
Deus é mediada textualmente pela linguagem literária variada, e
historicamente condicionada, dos seres humanos. E, portanto, um
empreendimento intrinsecamente hermenêutico, relacionado à
interpretação da variedade de testemunhos bíblicos que comunicam a
Palavra de Deus.67

Em resumo, a relação da hermenêutica e da Teologia Bíblica é, assim como a da


exegese e da hermenêutica, uma via de mão dupla. Alguns teólogos, buscando
consagrar essa união desenvolveram um método interpretativo chamado de
“hermenêutica teológica”.68 Em certo sentido, a união de ambas as disciplinas
colabora para o resgate da teologia do texto bíblico e para a interpretação da Bíblia

65
Idem. p. 16
66
VANHOOZER, Kevin. Op. Cit. p. 73
67
Idem, ibid., p. 77
68
Ou, como é mais conhecida, “interpretação teológica da Escritura”. Para mais informações sobre o
significado e método da interpretação teológica, cf. ALLISON, Gregg R. Theological Interpretation
of Scripture: An Introduction and Preliminary Evaluation. The Southern Baptist Journal of
Theology. Vol.14 n.02, 2010, p. 28-36; PLUMMER, Robert L. What Is the “theological Interpretation
of Scripture”? In, 40 Questions About Interpreting the Bible. Grand Rapids, MI: Kregel, 2010, p.
312-320; TREIER, Daniel J. Introducing Theological Interpretation of Scripture: Recovering a
Christian Practice. Grand Rapids, MI: Baker, 2008; VANHOOZER, Kevin J. (ed.), Dictionary for
the Theological Interpretation of the Bible. Grand Rapids: Baker, 2005. Para uma análise crítica
da “interpretação teológica da Escritura”, veja o artigo de D. A. Carson. ”Theological Interpretation
of Scripture: Yes, But... ”. In ALLEN, R. Michael. Theological Commentary: Evangelical
Perspectives. London: T&T Clark, 2011, p. 187-207.
22

de acordo suas peculiaridades literárias, sendo uma delas o caráter teológico do texto,
uma vez que a Bíblia é uma narrativa teológica dos feitos de Deus na história e da
maneira que ele resgata a criação caída por causa do pecado e não somente o registro
histórico de um povo e de seus usos e costumes. Por isso, podemos afirmar que,
como conclui Vanhoozer:
“A teologia bíblica é um a descrição dos textos bíblicos em níveis que
demonstram sua importância teológica. Assim sendo, a teologia
bíblica nada mais é do que uma hermenêutica teológica: uma
abordagem interpretativa da Bíblia instruída pela doutrina cristã. O
teólogo bíblico busca a mensagem teológica comunicada pelos textos
considerados individualmente e como uma coleção.”69

3.3. TEOLOGIA BÍBLICA E TEOLOGIA SISTEMÁTICA

A Teologia Sistemática faz parte do conjunto de disciplinas teológicas que


compõem o processo do método teológico que lida com o texto bíblico sob diferentes
perspectivas e com diferentes propósitos. Se, por um lado, a exegese e a
hermenêutica, como visto a cima, lidam com a interpretação e compreensão da
mensagem do texto contida na intenção do autor com o propósito de explicar o
significado do texto, por outro lado, o papel da Teologia Bíblica é tanto apresentar a
coerência das partes individuais, demonstrando a unidade das Escrituras, como a
teologia que emana do texto, seja em resposta a um problema circunstancial ou em
uma declaração teológica proposicional realizada pelo autor bíblico. Dito isso, uma
pergunta surge: qual a função da Teologia Sistemática?
A Teologia Sistemática lida com organização final do material bíblico,
respondendo, basicamente, as perguntas: o que é necessário crer por ser um cristão?
Que diferença isso faz? Como explica John Frame:
“Sistemática pergunta: Onde isso tudo leva? O que isso significa?
Essas são questões de aplicação, porque estão buscando determinar
o que devemos acreditar hoje com base nesses materiais bíblicos e, é
claro, como devemos nos comportar com base em nosso estudo da

69
VANHOOZER, Kevin. Op. Cit. p. 88.
23

Palavra de Deus. Assim, sistemática, como as outras, é teologia: a


aplicação da Palavra de Deus a todas as áreas da vida.”70

A explicação de Frame não deixa dúvidas que, de alguma maneira, a Teologia


Sistemática é uma disciplina conclusiva, apresentando o produto final do labor
teológico: o conjunto de doutrinas que emanam das Escrituras e são consideradas
centrais para a fé cristã e sua prática na vida diária. Charles Ryrie oferece uma
definição que complementa a compreensão da função da Teologia Sistemática
destacada por Frame, dizendo que:
“A teologia sistemática correlaciona os dados da revelação bíblica
como um todo, a fim de exibir sistematicamente a imagem total da
auto-revelação de Deus. […] A teologia sistemática pode incluir
antecedentes históricos, apologética e defesa e trabalho exegético,
mas se concentra na estrutura total da doutrina bíblica.”71

Como Ryrie afirma, a teologia sistemática é de alguma forma apologética e inclui


aspectos exegéticos, porém, sua principal diferença é que ela lida com a teologia que
emana das Escrituras como um todo. Ela se preocupa em demonstrar, de forma
organizada, toda a doutrina bíblica. A Teologia Sistemática é “uma abordagem da
Bíblia que procura atrair ensinamentos e temas bíblicos para um todo coerente e auto-
consistente, em conversa com a história da reflexão teológica cristã e com as questões
contemporâneas que a igreja enfrenta”72, ou seja, a Teologia Sistemática analisa
também o desenvolvimento da doutrina ao longo da história da reflexão teológica
cristã e procura oferecer respostas aos dilemas enfrentados pela Igreja ao longo das
épocas.
Qual a diferença, então, entre a Teologia Bíblica e a Sistemática, e qual a
influência que elas exercem uma à outra? De uma maneira simples, a principal
diferença é que, “enquanto a teologia sistemática procura na Bíblia informações
teológicas sobre um tópico de significado contemporâneo, a teologia bíblica trata de

70
FRAME, John M. Salvation belongs to the Lord: an introduction to systematic theology.
Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2006, p. 81.
71
RYRIE, C. C. Basic Theology: A Popular Systematic Guide to Understanding Biblical Truth.
Chicago, IL: Moody Press, 1999, p. 15.
72
Systematic Theology. In BARRY, J. D., BOMAR, D., BROWN, D. R., KLIPPENSTEIN, R., MANGUM,
D., C. WOLCOTT, Sinclair, … WIDDER W. (Orgs.), The Lexham Bible Dictionary. Bellingham, WA:
Lexham Press, 2016, Logos Bible Software
24

temas unificadores no contexto histórico do texto.”73 Apesar de haver verdades nessa


declaração, ela é incompleta, pois, como visto anteriormente, o papel da Teologia
Bíblica não é apenas demonstrar a unidade do texto bíblico, mas também servir como
uma teologia descritiva, que apresenta o desenvolvimento da teologia dentro de um
texto, de um livro, de um autor ou de um dos testamentos.

A principal diferença entre a Teologia Sistemática e a Bíblica está no campo


dos propósitos e da metodologia, pois
"A Teologia Sistemática interessa-se em ver e articular a verdade
bíblica em termos do testemunho canônico completo, sem
preocupação particular pelo processo desenvolvente em ação para
criar a forma final. É a mais sintética das disciplinas e objetiva um
resultado unificado.”74

Essa diferença básica pode ser notada na maneira que as obras de Teologia Bíblica
e as de Sistemática são organizadas. Enquanto as obras de Teologia Bíblica são, em
sua maioria, organizadas por temas que emergem do texto bíblico dentro de unidades
literárias distintas, as de Teologia Sistemática são organizadas em termos
dogmáticos, que transcendem os temas particulares do texto, mas articulam as
principais áreas de concentração do pensamento teológico. Em resumo,
“uma grande diferença da teologia bíblica para a teologia sistemática
é que ambas lidam com perspectivas diferentes. Uma lida com a
sistematização necessária para a compreensão da doutrina hoje, e
outra lida mais especificamente com a perspectiva do autor bíblico.”75

No que diz respeito a interdependência entre as disciplinas, os teólogos se dividem


em dois lados. Uns afirmam a prioridade e precedência da Teologia Bíblica sobre a
Teologia Sistemática, como é o caso de Charles Ryrie que afirma que “a teologia
bíblica em nada depende da teologia sistemática, mas, em contrapartida, a teologia
sistemática é totalmente dependente da teologia bíblica.”76 Para estes autores, a base
de toda organização doutrinaria deve ser a exegese sólida e a teologia bíblica bem

73
OSBORNE, W. R. Biblical Theology, Practice of. In BARRY, J. D., BOMAR, D., BROWN, D. R.,
KLIPPENSTEIN, R., MANGUM, D., C. WOLCOTT, Sinclair, … WIDDER W. (Orgs.), The Lexham
Bible Dictionary. Bellingham, WA: Lexham Press, 2016, Logos Bible Software.
74
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op. Cit. p. 14.
75
RYRIE, Charles C. Op. Cit. p. 15.
76
Idem. p. 15.
25

realizada, por isso Roger Nicole diz que “a teologia Bíblica é o fundamento da teologia
sistemática ao oferecer o valioso fruto do estudo exegético obtido numa adequada
relação com o contexto original e com o desenvolvimento da revelação divina.”77

Do outro lado, existem teólogos que parecem afirmar uma maior


interdependência entre as disciplinas, o que de fato é real. Por vezes, temos a
tendência de ver a Teologia Bíblica apenas como uma disciplina que faz a ponte entre
a exegese e a teologia sistemática, porém, não podemos esquecer que existe certa
interdependência entre ambas. James Hamilton declara que:
“Nosso entendimento bíblico-teológico será, de forma implícita ou
explícita, alinhado com nossas conclusões sistemáticas. Isso não
pode ser negado, e deve ser abraçado, com as duas disciplinas da
teologia bíblica e sistemática funcionando juntas para nossa
compreensão de Deus e sua Palavra.”78

Essa interdependência ocorre pelo fato de que, da mesma maneira que a Teologia
Bíblica fornece os pressupostos necessários para a exegese e hermenêutica, alguns
conceitos da Teologia Sistemática, apesar de terem sido formulados a partir de uma
Teologia Bíblica saudável, que por sua vez foi baseada em uma exegese honesta,
fornecem pressupostos necessários para Teologia Bíblica e lançam luz a questões
especificas da teologia de autores, livros ou porções bíblicas. Esse trabalho é uma via
de mão dupla, porque uma disciplina suporta a outra e possibilita o trabalho e
desenvolvimento da outra. Por isso, podemos afirmar que a Teologia Bíblica é a base
da Teologia Sistemática e a Teologia Sistemática é a organização proposicional da
Teologia Bíblica.
Uma ótima síntese da interdependência das disciplinas é apresentada por Zuck
e Merrill:
“Os intérpretes sistemáticos entendem que o material com o qual
trabalham deve ser extraído pelos exegetas e teólogos bíblicos, e os
teólogos bíblicos sabem que o trabalho não está completo se eles
meramente localizarem e delinearem os principais temas teológicos
de determinadas porções da bíblia. Esses temas devem ser integrados

77
NICOLE, Roger. The Relationship between Biblical Theology and Systematic Theology. In.
Evangelical Roots. Ed. Kenneth Kantzer, 1978, p. 185.
78
HAMILTON Jr, James M. God’s Glory in Salvation through Judgment: A Biblical
Theology. Wheaton: Crossway, 2010, p. 46, 47
26

e entretecidos de tal modo a produzir um arranjo autoconsciente,


harmonioso e equilibrado da revelação divina. Esta tarefa, admitem
eles, é do teólogo sistemático.79

Por isso, uma separação radical entre as disciplinas não é nem sadia, nem
aconselhável. A Teologia Sistemática sem a Teologia Bíblica tem a tendência de se
valer apenas de textos prova, extraídos de seu contexto canônico, e a Teologia Bíblica
sem o próximo passo da Teologia Sistemática pode cair na tendência de não transpor
a ponte entre o mundo do texto e o mundo do leitor. Assim, como conclui Rosner,
“Pelo fato de a Teologia Bíblica ser fruto da exegese de textos de
vários blocos literários bíblicos, ela tem prioridade lógica sobre a
Sistemática e outros tipos especializados do desenvolvimento da
teologia e da interpretação bíblica. Entretanto a reciprocidade das
disciplinas pode ser observada em nossa maneira de realizar a tarefa
exegética com pressuposições dogmáticas sobre a natureza e
autoridade da Bíblia”80

Uma consideração que deve ser feita, porém, é no quesito da normatividade das
disciplinas. O fato da Teologia Bíblica se desenvolver de maneira descritiva não
descaracteriza como normativa. Como explica Marshall:
“Embora a teologia bíblica seja descritiva e a sistemática prescritiva, a
primeira determina o ensino teológico das Escrituras e também
desempenha um papel prescritivo ou normativo. De forma descritiva,
o estudioso traça o pensamento dos livros bíblicos, o que em si mesmo
oferece a base do pensamento sistemático.”81

É interessante notar que, como Marshall destaca, a Teologia Bíblica possui um papel
normativo e, por isso, ao ser empregada, pode se extrair implicações da teologia
analisada para a vida cristã. Uma vez que o que define o caráter normativo das
Escrituras não é a forma que o material bíblico está organizado, seja em proposições
teológicas ou em descrições da teologia de um bloco autor, tema ou livro, mas sim a
natureza inspirada, autoritativa e suficiente das Escrituras. Além do mais, o que seria

79
ZUCK, Roy B.; MERRILL, Eugene H. Op. Cit. p. 15.
80
ROSNER, Brian S. Op. Cit. p. 3.
81
MARSHALL, I. H. Op. Cit. p. 40-42
27

a exposição bíblica se não a aplicação da teologia descrita no texto às questões


cotidianas da vida, analisando-se sempre a correspondência dos leitores originais
para com os leitores do século vinte um?
Em resumo, a relação da Teologia Bíblica com a Teologia Sistemática é
também uma via de mão dupla, pois ambas as disciplinas são formadoras de
cosmovisões. A Teologia Bíblica possibilita o teólogo, o exegeta e o leitor das
Escrituras a entender o enredo da Bíblia e ver como tudo colabora para o desenrolar
da história de Deus e de seus propósitos para o resgate da humanidade e propagação
da sua glória. Também possibilita enxergar a unidade teológica e literária existente na
Bíblia e nos seus diversos livros e autores. A Teologia Sistemática, no que diz respeito
à formação da cosmovisão teológica, fornece os pressupostos básicos essenciais
para a tarefa das demais disciplinas teológicas. Por ser uma disciplina conclusiva, uma
vez que a Sistemática seja compreendida corretamente, “é provável que exerça
influência significativa nas disciplinas que a alimentam: exegese, teologia bíblica,
teologia histórica e etc.”82

Ambas as disciplinas, tanto a Teologia Sistemática quanto a Teologia Bíblica


devem ser constantemente informadas e corrigidas uma pela outra. No que diz
respeito ao teólogo bíblico, ele deve estar sempre em contato com a Teologia
Sistemática para compreender o todo do assunto que encontrou na porção em que
está trabalhando, bem como para comparar as suas conclusões com o restante do
corpus do autor e com toda a estrutura doutrinaria extraída da Bíblia, que como foi
dito, é a tarefa realizada pela Teologia Sistemática. No que diz respeito ao teólogo
sistemático, ele deve estar em constante contato com a Teologia Bíblica para que não
incorra no erro de extrair das Escrituras textos prova para suas preferências teológicas
confessionais, mas, por meio do estudo da Teologia Bíblica, seja fiel ao progresso da
revelação, à unidade das Escrituras e ao contexto teológico em que cada texto bíblico
se encontra.

Essa espiral em que se encontram as disciplinas teológicas não pode nunca


deixar de ocorrer, pois, vez após vez, as conclusões de ambas as disciplinas precisam
ser corrigidas e reorganizadas pelo texto bíblico e sua estrutura. Como Carson conclui,
“tanto a teologia sistemática quanto a teologia bíblica são provisórias e, em princípio,

82
CARSON, D.A. Op. Cit. p. 143.
28

corrigíveis, assim como praticamente todo produto de empreendimento humano finito


deve ser.”83

4 A IMPORTÂNCIA E APLICAÇÃO DA TEOLOGIA BÍBLICA PARA A VIDA E


MINISTÉRIOS DA IGREJA:

Fazer teologia e transmitir teologia não deve ser uma tarefa restrita a academia. É
por essa convicção que este trabalho é concluído com um capítulo sobre a importância
e a aplicação da Teologia Bíblica na vida e nos ministérios da Igreja, especificamente
por meio da pregação expositiva, do aconselhamento bíblico e do incentivo aos
pastores e lideres cristãos de fornecerem treinamento na área da Teologia Bíblica
para suas igrejas, seja por meio da própria pregação, do aconselhamento ou outro
meio formal ou informal de educação no contexto da igreja. Por isso, começaremos
com o aspecto público da transmissão da teologia bíblica que ocorre na pregação,
passaremos pelo aspecto particular que ocorre no aconselhamento bíblico e
concluiremos com uma discussão sobre os benefícios da teologia bíblica para a vida
da igreja, bem como para a vida cristã.

4.1. TEOLOGIA BÍBLICA E A PREGAÇÃO EXPOSITIVA

A principal tarefa da teologia é conduzir pessoas ao conhecimento de Deus e ao


relacionamento com Ele. Como afirma John Frame:
“Conhecer Deus é conhecê-lo como Senhor e, portanto, buscar o
conhecimento dele de uma maneira piedosa. Ao conhecermos a Deus,
reconhecemos que ele inicia nosso conhecimento, que sua Palavra é
a autoridade suprema para o nosso conhecimento e que, ao conhecer
a Deus, entramos em um relacionamento pessoal com ele..84

Em sua definição de teologia, Frame afirma que “Teologia é a aplicação da Escritura


a todas as áreas da vida humana.”85 Essa definição é de extrema importância para

83
Idem. p. 144.
84
FRAME, John M. Salvation belongs to the Lord: an introduction to systematic theology.
Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2006, p. 72.
85
Idem. p. 72
29

nós, pois coloca a teologia fora dos âmbitos estritamente acadêmicos e a torna
necessária na igreja e feita para a igreja. É no contexto da igreja, do corpo de Cristo,
que o conhecimento de Deus e o relacionamento com Ele são necessários e devem
ser ensinados por meio da aplicação das Escrituras à todas as áreas da vida humana.
A prática ministerial encarregada deste ensino em sua forma pública é a pregação
expositiva.
A pregação expositiva é a proclamação pública do significado de um texto bíblico,
de uma maneira contemporânea que conduza os ouvintes a uma aplicação objetiva e
prática da teologia contida no texto. Haddon Robinson define a pregação expositiva
da seguinte maneira:
“Pregação Expositiva é a comunicação de um conceito bíblico,
transmitido através de um estudo histórico, gramatical, e literário de
uma passagem em seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente
aplica à personalidade e à experiência do pregador e, depois, através
dele a seus ouvintes.”86

Em complemento a definição de Robinson, podemos ver a definição de Sidney


Greidanus, que interage com conceitos de Merrill Unger:
“A pregação expositiva é a 'pregação centrada na Bíblia'. Ou seja, é
manusear o texto 'de tal forma que seu significado essencial e real seja
manifestado e aplicado às necessidades atuais dos ouvintes, como ele
existe na mente do escritor bíblico em particular e como ele existe à
luz de todo o contexto da Escritura.”87

Podemos ver em ambas as definições que a pregação expositiva lida com o estágio
da interpretação e descoberta do significado do texto por meio da exegese e da
hermenêutica com o objetivo da aplicação do conteúdo bíblico à vida do ouvinte. É
interessante notar, porém, o acréscimo que Greidanus faz ao fato de que o conceito
bíblico deve ser entendido à luz do contexto do escritor bíblico e do contexto de toda
a Escritura, que, como foi discutido acima, é tarefa da Teologia Bíblica descrever a
teologia do texto e situa-la em seu contexto maior. Em suma, a pregação expositiva é

86
ROBINSON, Haddon W. Pregação Bíblica: O desenvolvimento e a entrega de sermões
expositivos. São Paulo, SP: SHEDD Publicações, 2003, p. 22.
87
GREIDANUS, Sidney. O Pregador Contemporâneo e o Texto Antigo: Interpretando e
Pregando a Literatura Bíblica. São Paulo, SP: Cultura Cristã, 2006, p. 26. Apud. UNGER, Merril
F. Principles of Expository Preaching. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1995, p. 33
30

a transmissão da Palavra de Deus de maneira sensível às necessidades dos ouvintes,


sendo fiel aos resultados do processo exegético-hermenêutico e passando pela
sintetização e organização da Teologia Bíblica.
Basicamente, pregar é fazer teologia bíblica de forma pública, apresentando aos
ouvintes o mundo do texto em seus próprios termos e ensinando os ouvintes a viverem
o estilo de vida que o mundo do texto projeta para mundo do ouvinte. O texto bíblico
possui um caráter atemporal e este caráter não está incutido na cultura do antigo
oriente próximo, nem nas formações sociológicas e culturais do primeiro século, mas
sim na teologia contida nos textos das Escrituras. A Teologia Bíblica é o caráter
normativo da revelação e, “se a teologia bíblica possui um componente prescritivo, ela
então deve proclamá-lo.”88, ou seja, a “teologia bíblica requer um pregador, pois a
finalidade da disciplina é expor aquilo que Deus disse e consentiu em revelar a
humanidade.”89 Como afirmou Gerhard Ebeling: “Teologia sem proclamação é vazia
e proclamação sem teologia é cega”90
A Teologia Bíblica possui diversas contribuições para a tarefa de se pregar e
ensinar a Bíblia expositivamente e veremos elas ao longo do texto. A primeira delas é
a noção de unidade em meio a diversidade que a Teologia Bíblica oferece ao
pregador, pois,
“A Teologia Bíblica torna o pregador consciente de que a Bíblia não é
uma coleção de partes semelhantes (versos) que, como uma pizza,
podem ser distribuídas ao acaso; antes, cada texto deve ser entendido
em seu próprio contexto histórico e à luz da revelação progressiva,
antes que ele seja proclamado como Palavra de Deus, que possui
autoridade, para as congregações contemporâneas.”91

Essa noção da unidade e da diversidade das Escrituras, que a Teologia Bíblica


oferece para o pregador, colabora para que o mesmo tenha menos chance de errar
em suas aplicações do texto. Por meio da Teologia Bíblica, o pregador pode
compreender a real teologia do texto e aplica-la de maneira objetiva e prática, de uma
maneira que seja validada e coerente com o texto ensinado.

88
OSBORNE, Grant R. Op. Cit. p. 446.
89
ADAMS, P. J. H. Pregação e Teologia Bíblica. In. Novo Dicionário de Teologia Bíblica. Ed.
ALEXANDER, T. Desmond; ROSNER, Brian S.; CARSON, D. A.; et. Al. São Paulo, SP: Editora
Vida, 2009, p. 143.
90
EBELING, Gerhard. Theology and Proclamation, London, [n. a.], 1966, p. 20.
91
GREIDANUS, Sidney. Op. Cit. p. 26.
31

“Embora seja simples e enganador sugerir que a pregação pode


sempre ser uma tarefa fácil, é verdadeiro dizer que a teologia bíblica
capacita o pregador a relacionar-se com as várias partes da Bíblia de
uma maneira que não permite que a pregação sobre um texto se torne
uma formalidade ou um trampolim para várias exortações
moralizantes.”92

A unidade das Escrituras que o pregador precisa ter em mente é a coerência e unidade
da história da redenção produzida pela Teologia Bíblica. Quando o pregador
compreende onde o seu texto se encaixa no enredo das Escrituras, ele ganha acesso
ao real significado da teologia do texto e da sua aplicação. Assim, o pregador saberá
onde ele se encaixa na história de Deus e poderá conduzir aos outros para os seus
devidos lugares. Essa é uma das melhores contribuições da Teologia Bíblica para a
pregação, pois ela capacita os ouvintes a enxergarem os textos das Escrituras à luz
de toda a história da redenção, uma vez que, “quando o pregador utiliza a teologia
bíblica, a congregação aprende mais sobre a coerência da Bíblia. [...] A teologia
Bíblica os ajuda a aprender a mensagem da Bíblia, a compreender o Universo93” e a
encontrar o seu lugar na história de Deus.
O estudo sério da Teologia Bíblica pelo pregador o auxiliará a pregar toda a
Escritura como Palavra de Deus e compreender que existe teologia em todos os
gêneros literários e em ambos os testamentos. Este estudo contribui para que ele
saiba analisar tanto o contexto histórico da passagem, como encaixar o texto em seu
contexto teológico e canônico, extraindo, a partir daí, contribuições significativas para
a pregação.
“O estudo da teologia bíblica ajudará o pregador a pregar o texto
dentro do contexto estabelecido por Deus. Há grande
necessidade desse tipo de pregação hoje, quando muitos acham que
o AT não oferece nada mais que um fundo para o NT e que é apenas
parte de seu contexto social e cultural.”94

Uma grande contribuição da Teologia Bíblica para a pregação é que ela auxilia
o pregador a estabelecer as conexões entre os dois testamentos de maneira honesta,

92
GOLDSWORTHY, Graeme. Pregando a Bíblia toda com escritura cristã. São José dos Campos,
SP: Editora Fiel, 2013, p. 72.
93
ADAMS, P. J. H. Op. Cit. p.155.
94
Idem. p. 151
32

e não por relações forçadas. “Seja na pregação ou na argumentação acadêmica, a


teologia bíblica ajuda um intérprete a evitar associações injustificadas e especulativas
entre os Testamentos, trabalhando no sentido de interconexões garantidas por meio
de cumprimento tipológico.”95Outra contribuição da Teologia Bíblica para a pregação
é que ela possibilita ao pregador pregar sermões temáticos que respondam a
questões atuais e relevantes de sua igreja sem, contudo, utilizar textos fora de seus
contextos literários, históricos e, acima de tudo, teológicos. Com a Teologia Bíblica “o
pregador pode oferecer bons modelos de como tratar essas questões e tratá-las em
uma perspectiva bíblica.”96Utilizando-se assim de uma abordagem temática para a
teologia bíblica, podendo pregar sobre temas como divórcio e casamento, sexualidade
e etc.
A Teologia Bíblica oferece ao leitor da Bíblia maior capacidade para transpor
os dois mundos. Ela o capacita para entrar no mundo do texto e sair de lá com o
necessário para viver os princípios do mundo do texto em seu mundo. Em outras
palavras, a Teologia Bíblica favorece a aplicação do texto bíblico e, por isso, não deve
ser apenas utilizada na pregação, mas deve também ser ensinada a todos aqueles
que leem a Bíblia. Adams explica:
“se a compreensão da teologia bíblica ajuda o pregador a aplicar o
texto, então todo leitor da Bíblia precisa aprender alguma coisa sobre
teologia bíblica para poder entender e aplicar a Bíblia. Os pregadores
devem não apenas usar a teologia bíblica, como também ensiná-la a
outros.”97

Em resumo, “a pregação expositiva envolve o compromisso com o aspecto literário


das Escrituras, e a teologia bíblica, com a profundeza teológica. O pregador que utiliza
ambas será um verdadeiro pregador de Jesus Cristo”98, pois saberá lidar com o texto
e com a aplicação de uma maneira coerente e que comunique o evangelho. A
pregação é a proclamação pública da teologia e estas duas não podem existir
separadamente, pois, a teologia precisa ser aplicada às mais diversas áreas da vida
e um dos principais meios de isso ocorrer é por meio da pregação. Voltemos, então,

95
KLINK III, Edward W.; LOCKETT, Darian R. Op. Cit. versão eletrônica Kindle.
96
ADAMS, P. J. H. Op. Cit. p. 153.
97
Idem. p.151, 152.
98
Idem. p. 153.
33

à frase de Gerhard Ebeling: “Teologia sem proclamação é vazia e proclamação sem


teologia é cega”99

4.2. TEOLOGIA BÍBLICA E O ACONSELHAMENTO BÍBLICO

Fazer teologia não deve ser uma tarefa restrita à Academia, pois a teologia não é
de domínio dos teologicamente capazes. Ela é de domínio do povo de Deus, a
Igreja100 e, por ser de domínio da igreja, ela deve ser difundida, ensinada e transmitida.
Como visto acima, “Teologia é a aplicação da Escritura a todas as áreas da vida
humana.”101.
De maneira pública, a teologia é ensinada, transmitida e aplicada por meio da
pregação e através de outros métodos formais ou informais de educação, como
palestras, aulas, cursos, pequenos grupos e etc., porém, a proclamação pública da
teologia não é a única maneira em que ela deve ser transmitida. A teologia também
deve ser comunicada em particular e o ministério da Igreja em que essa transmissão
particular da teologia ocorre, é o aconselhamento bíblico.
O aconselhamento bíblico, como definido por Maria Cecilia Alfano:
“é o aspecto da dinâmica ministerial em que o corpo de Cristo,
capacitado pelo Espírito Santo e baseado na Palavra de Deus
corretamente interpretada e aplicada a situações específicas, ministra
à vida de irmãos visando cooperar com o plano de Deus de conforma-
los progressivamente à imagem de Cristo.102

O aconselhamento bíblico é um ministério da Igreja, do corpo de Cristo, em que


cristãos ajudam cristãos, por meio da Palavra de Deus e do Espírito Santo a
compreenderem o plano redentor de Deus e se encaixarem nele. Como podemos ver
na definição de Alfano, aconselhamento tem um alvo, colaborar para que outros
cristãos entendam o plano de Deus e que esse plano envolve a semelhança do cristão
com Cristo, alvo este que chamamos de maturidade (Rm 8.29; 2Co 3.18; Cl 1.28).

99
EBELING, Gerhard Op. Cit. p. 20.
100
Sobre essa afirmação, cf. VANHOOZER, Kevin J. Autoridade Bíblica Pós-Reforma: resgatando
os solas segundo a essência do cristianismo protestante puro e simples. São Paulo, SP: Vida
Nova, 2017.
101
FRAME, John M. Op. Cit. p. 72
102
ALFANO, Maria Cecilia. O alicerce para um ministério bíblico de aconselhamento. Disponível
em: https://pt.scribd.com/document/24774947/Alicerce-para-o-Aconselhamento-Biblico#fullscreen.
Acessado em: 02/11/17.
34

Durante esse processo de transformação, no qual todo cristão está inserido a


partir do seu momento de conversão, todos lidarão com problemas diversos, sejam
estes problemas as tentações, os pecados pessoais ou de outros. Fato é que
precisarão de ajuda para compreender como lidar com todas essas adversidades e
viver a vida de acordo com o plano estabelecido por Deus em Sua Palavra. É nesse
momento que o aconselhamento bíblico, a teologia bíblica e a vida real se encontram.
O papel do aconselhamento bíblico consiste em nada mais do que “ministrar as
Escrituras àqueles que enfrentam problemas ou que desejam a sabedoria e a
orientação de Deus"103 e, de alguma maneira, o "aconselhamento é, por natureza,
orientado por demandas. Como todos os outros ministérios, é centrado em Cristo e
norteado pela Palavra, mas o aconselhamento se realiza, tipicamente como uma
resposta a alguma área de problema."104
Todo problema de pecado do homem é um problema teológico e precisa ser
resolvido por meio da aplicação da teologia à vida diária. Em algum momento, ele
deixou de amar a Deus ou de amar ao próximo (Mt 22.37-40) e, somente quando ele
crer e entender uma teologia correta, ele terá condições de mudar sua maneira de
pensar, desejar, agir e falar. Transformação genuína ocorre quando existe aplicação
das verdades da Escritura por meio do Espirito Santo ao coração do homem.
Transformação ocorre quando a teologia verdadeiramente bíblica encontra a vida
cotidiana e molda o homem por inteiro para que ele se encaixe no plano de Deus.
A teologia deve sempre responder ao homem o que ele precisa viver, baseado
no que ele deve crer. O papel de conduzir os cristãos à prática correta é da teologia,
pois só existe prática correta quando existe uma teologia correta. Uma vez que nós,
seres humanos, estamos sempre agindo baseados naquilo que cremos e pensamos,
“todo aconselhamento, por sua própria natureza (como tentar explicar
e direcionar os seres humanos em sua vida diante de Deus e diante
de outros seres humanos em um mundo caído), implica em
comprometimentos teológicos por parte do conselheiro. Ele
simplesmente não pode se envolver na tentativa de mudar crenças,
valores, atitudes, relacionamentos e comportamentos, sem esticar o
pescoço profundamente em águas teológicas.”105

103
BABLER, John; ELLEN, Nicolas. Fundamentos teológicos do aconselhamento bíblico e suas
aplicações práticas. São Paulo, SP: NUTRA, 2017, p. 88.
104
REJU, Deepak; PIERRE, Jeremy. O pastor e o aconselhamento: um guia básico para
pastoreio de membros em necessidade. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015, p. 52
105
ADAMS, Jay E. Teologia do Aconselhamento Cristão. Eusébio, CE: Peregrino, 2016, p. 31.
35

A teologia precisa ser praticada, estudada e compreendida por aqueles que


necessitam de ajuda e orientação de Deus para viver a vida cristã, mas também
precisa ser compreendida, estudada, praticada e ensinada por aqueles que desejam
cumprir o ministério da Igreja de ajudar os outros a serem cada vez mais semelhantes
com Jesus. Muitas pessoas, de alguma maneira, não conseguem enxergar essa
intima relação que existe entre a teologia e a vida diária, pois não conseguem
compreender que, de alguma maneira, todo problema que enfrentamos, seja um
pecado ou não, é um problema teológico que afeta o nosso relacionamento com Deus
ou com os outros, tenhamos nós culpa disso ou não. Consequentemente,
“muitas pessoas não assumem a natureza teológica do
aconselhamento. Muitos creem que, teologia, é o que futuros ministros
do evangelho estudam em seminários, a fim de se qualificarem para
conduzir a igreja, pregar sermões ou ir para o campo missionário. Eles
não entendem que a teologia desempenha um papel sério em ajudar
pessoas com seus problemas por meio do aconselhamento.”106

Essa é uma constatação triste, mas real. Pessoas não levam a teologia a sério e
consequentemente não encontram na Palavra de Deus as respostas que necessitam
para seus dilemas diários. Para muitos, a teologia é apenas um assunto na prateleira
de pastores, ministros e missionários, porém, ela é muito mais do que isso: “a boa
teologia não é apenas a recitação do que a igreja tem crido, embora isto seja
importante. Ela inclui, também, o que a igreja deve crer hoje em meio às ameaças
contemporâneas.”107. Como destaca Lambert, a teologia oferece e deve oferecer
respostas para os mais diversos dilemas e ameaças à Igreja e à vida cristã. Ela
responde às perguntas que muitos estão fazendo, pois ela parte da fonte de toda
verdade, as Escrituras, a Palavra de Deus.
O aconselhamento bíblico é teológico e tem por objetivo auxiliar pessoas a
serem cada vez mais parecidas com Jesus e, para agir em prol desse processo de
transformação, “a única coisa que o conselheiro deve fazer é articular alguma visão
da realidade que compreenda o dilema do aconselhado e oferecer uma resposta

106
LAMBERT, Heath. Teologia do Aconselhamento Bíblico: Fundamentos doutrinários do
ministério de aconselhamento. Eusébio, CE: Editora Peregrino, 2017, p.15.
107
Idem. p. 17
36

àquele dilema."108. Em outras palavras, o conselheiro deve transmitir uma visão de


mundo que auxilie o aconselhado a interagir e interpretar o mundo a sua volta por
meio das escrituras e do evangelho, ele deve oferecer ao aconselhado uma
cosmovisão bíblica.
Todo mundo está, de alguma maneira, comprometido com alguma forma de
enxergar a vida. De maneira invariável, "alguém envolvido no aconselhamento terá
uma visão de vida que inclui quem somos, o que está de errado conosco, o que deve
estar certo e o que deveria estar certo para corrigir o problema"109. Todas as pessoas,
estando conscientes ou não, estão procurando responder essas questões e o tipo de
resposta que for formulada, dirá muito sobre a maneira como elas enxergam a vida.
Brian Walsh e Richard Middleton formularam oito perguntas que, quando forem
respondidas, demonstrarão a maneira como as pessoas enxergam a vida.110
• Onde estamos? Qual é a natureza do mundo em que vivemos?
• Quem somos nós? Qual é a natureza essencial dos seres humanos?
• O que está errado? Por que o mundo - e minha vida - estão tão confusos?
• Qual é o remédio? Como esses problemas podem ser resolvidos?

As respostas que oferecemos a essas perguntas dizem mais sobre nós do que
imaginamos. Como propõe Michael Emlet:
“Essas perguntas - e como as respondemos - formam a espinha dorsal
narrativa de nossas vidas. Eles moldam a maneira como interpretamos
os eventos da vida, do mundano ao horrível. Eles moldam nossa visão
de nós mesmos e dos outros. Eles moldam nossa visão do que
constitui uma vida significativa, até um momento significativo. Eles
moldam nossas crenças, emoções e decisões todos os dias. Todo
mundo tem uma história abrangente que vive momento a momento.
Todo mundo é um criador de significado com categorias para dar
sentido à vida. A questão é a seguinte: que história, que narrativa
usaremos para ver nosso mundo e interpretar nossas vidas?”111

108
LAMBERT, Heath. Op. Cit. p. 20
109
Idem. p. 21
110
WALSH, Brian; MIDDLETON Richard J. The Transforming Vision: Shaping a Christian World
View. Downers Grove, IL: IVP, 1984, p. 35.
111
EMLET, Michael. Biblical Theology and Counseling. In. 9Marks Journal: Biblical Thinking for
Building Healthy Churches. Summer, 2014, [n.a.]. Disponível
em: https://www.9marks.org/journal/biblical-theology/. Acessado em: 1/11/17.
37

A pergunta final de Emlet merece destaque aqui. “Qual história, qual narrativa nós
usaremos para enxergar nosso mundo e interpretar nossas vidas?”. Para nós cristãos,
a única possível é a história da redenção, é a narrativa bíblica que responde todos
estes questionamentos, narrativa esta que é encontrada e formulada por meio da
Teologia Bíblica. A Teologia Bíblica é a formadora da cosmovisão cristã, pois ela
apresenta ao cristão uma maneira de entender os planos de Deus a partir da revelação
progressiva e de interagir com esses planos à medida que compreende a teologia da
Bíblia, a teologia dos textos, dos livros e dos autores. Todas as perguntas levantadas
por Walsh e Middleton são possíveis de serem respondidas através da teologia
bíblica:112

• Onde nós estamos? No mundo de Deus (Gn 1-2);


• Quem nós somos? Portadores da imagem e semelhança de Deus, criados para
sermos como Ele e para espalhar os seus desígnios (Gn 1.26, 27);
• O que há de errado? Nós optamos pela autonomia e por viver baseados em
nossas próprias histórias e não no grande enredo de Deus, nós pecamos (Gn 3;
Rm 1.25)
• Qual a solução? Redenção. O resgate e a libertação que recebemos em Jesus
para podermos ser livres da autonomia que nos escraviza (Gl 1.3-5; 3.13,14; Ef
1.6,7)

Isso é, também, teologia bíblica. A Teologia Bíblica, quando compreendida e


ensinada, ajuda as pessoas a reorganizarem suas vidas tendo por padrão a própria
Bíblia e o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, quando a Teologia
Bíblica é aplicada ao aconselhamento bíblico, ela ajuda “outros reconhecem as tramas
aberrantes pelas quais estão vivendo e procuram reconectá-las, pela capacitação do
Espírito, à história vivificante de Jesus Cristo.”113.
A Teologia Bíblica aliada ao aconselhamento bíblico, além de transmitir o
enredo das Escrituras para a vida do conselheiro e do aconselhado e produzir assim
uma cosmovisão bíblica, sentido para vida e um padrão para buscar, protege o
conselheiro de fazer aplicações forçadas de textos bíblicos extraídos de seus
contextos históricos, teológicos e literários, e de oferecer soluções que não reflitam a

112
Adaptado de: EMLET, Michael. Biblical Theology and Counseling.
113
EMLET, Michael. Op. Cit.
38

verdade total das Escrituras. Em outras palavras, a Teologia Bíblica oferece ao


conselheiro e ao aconselhado o conteúdo necessário para aplicar a palavra de Deus
de maneira fiel, pois, uma Teologia Bíblica saudável é sempre fruto de um processo
exegético-hermenêutico bem realizado e honesto.
A Teologia Bíblica, por possuir diversas abordagens114, possibilita o conselheiro
bíblico a estudar a Bíblia de uma maneira mais efetiva. Ao utilizar a Teologia Bíblica,
ele poderá estudar tópicos relacionados a sexualidade, casamento, relacionamentos,
entre outros de uma maneira eficiente ao longo da revelação progressiva, respeitando
os textos e seus contextos históricos, teológicos e literários, podendo então apresentar
ao aconselhado um panorama completo do que Deus planejou para cada uma das
áreas da vida.
Em resumo, “a Bíblia não se destina a ser estudada à parte de sua aplicação à
vida, e o aconselhamento não se destina a ser praticado à parte de seu fundamento
na história das Escrituras. Dessa maneira, a teologia e o aconselhamento bíblico estão
inexoravelmente ligados”115, pois, “teologia [bíblica] e aconselhamento não podem ser
separados sem grande prejuízo para ambos. [...], parafraseando Tiago, podemos dizer
que aconselhamento sem teologia [bíblica] é morto.”116

4.3. TEOLOGIA BÍBLICA E A SUA APLICAÇÃO NA IGREJA

A Teologia Bíblica existe para servir a Igreja, assim como todo o restante dos
empreendimentos teológicos e das disciplinas teológicas apresentadas e abordadas
neste trabalho. Como vimos ao longo desse trabalho,
A teologia bíblica também preenche a lacuna entre a exegese (nosso
estudo de textos) e a teologia sistemática (nossa formulação de
doutrina a partir do texto). Ele fornece contexto para exegese, dentes
para teologia sistemática e profundidade para teologia prática e vida
cristã.117

114
Para as abordagens, ver o capítulo 1, subponto 1.2.
115
EMLET, Michael. Op. Cit., loc. Cit.
116
ADAMS, Jay E. Op. Cit. p. 32.
117
PELT, Miles V. Van. Why all Christians shoud care about biblical theology. Disponível
em: https://www.crossway.org/articles/why-all-christians-should-care-about-biblical-theology/.
Acessado em: 12/18/2016.
39

A Teologia Bíblica sintetiza e organiza a o trabalho realizado pela exegese e


pela hermenêutica, buscando encontrar e interpretar a teologia presente no texto
bíblico, em um livro ou no corpus de um autor, levando em conta o contexto histórico,
teológico e literário do texto, do livro e do autor. Nesse processo de análise da teologia
dos textos, a Teologia Bíblica organiza o material bíblico de uma maneira a apresentar
a unidade das Escrituras em meio a diversidade histórica teológica e literária dos livros
bíblicos, encontrando então temas transversais tidos como unificadores da revelação
progressiva de Deus. Cria-se, assim, a possibilidade do teólogo bíblico compreender
a Bíblia não como um conjunto de textos desconexos, mas como uma história que
possui começo, meio e fim, história essa que chamamos de história da redenção, o
desenrolar dos atos de Deus para resgatar a humanidade por meio de Jesus Cristo e
propagar Sua glória.
O estudo da Teologia Bíblica é benéfico para os exegetas e interpretes das
escrituras, pois apresenta o contexto maior em que os textos estudados se encontram.
É benéfico para os teólogos sistemáticos pois protege-os de selecionarem de maneira
descompromissada com a natureza das Escrituras, os textos prova para suas
preferências teológicas confessionais e os conduz a analisar, primariamente, cada
texto bíblico à luz do seu contexto histórico, teológico e literário. É benéfico para
pregadores, pois apresenta ao pregador a unidade literária das Escrituras e contribui
para a formação de uma maneira de enxergar a vida que seja bíblica e se encaixe no
plano de Deus, bem como, colabora para a exposição de livros inteiros e de temas
bíblicos, de uma maneira que respeite o progresso da revelação e os contextos em
que os textos estão inseridos. É também benéfico para o conselheiro bíblico, pois a
Teologia Bíblica é a formadora de uma cosmovisão bíblica e responde aos principais
dilemas do ser humano. No que diz respeito a instrução do conselheiro bíblico, a
Teologia Bíblica o capacitará para ajudar o aconselhado a compreender o seu lugar
na história de Deus e também o ajudará a ter aplicações fiéis à Escritura e que
respeitam os devidos contextos em que o texto bíblico está inserido. Em suma, o
estudo da Teologia Bíblica é benéfico para todos aqueles que decidirem se utilizar
dela.

A Teologia Bíblica é benéfica para todos aqueles que decidirem se utilizar dela.
Por causa de seus benefícios e por ser fruto de um estudo sério da Palavra de Deus
dada a Seu povo, ela deve ser exercitada e aplicada principalmente na igreja.
40

“Certamente, a igreja é muito mais o local principal para interpretação


das Escrituras do que a universidade. A teologia bíblica é praticada
por comunidades cristãs e está complexamente ligada à determinação
delas em moldar sua fé, vida, adoração e serviço de acordo com as
Escrituras sob a direção do Espírito.”118

Como afirma Rosner, o principal ambiente para o estudo e formulação da teologia é o


ambiente da igreja, pois ela é a detentora da teologia, e foi para ela que Deus revelou
a sua palavra. É por meio do estudo fiel das Escrituras que a igreja terá condições de
adorar melhor, servir melhor e cumprir melhor o seu papel de fazer discípulos (Mt
28.19,20).
A Teologia Bíblica, como muito foi falado, é formadora da cosmovisão bíblica,
pois é por meio dela que a verdade revelada de Deus nas Escrituras transcende o
mundo do texto e do leitor original, demonstrando assim a sua significância para o
leitor de hoje.
“Ao ensinar e usar a teologia bíblica em todo nosso ensino sobre a
Bíblia, mostraremos às pessoas a realidade objetiva e histórica
da revelação progressiva e proposital de Deus. Por meio dessa
revelação, Deus comunica uma mensagem transcendente para
pessoas em todas as épocas e molda sua mente, coração e vida para
que possam conhecer e servir a ele e comunicar sua verdade aos
outros.”119

Por causa de todos esses benefícios, a Teologia Bíblica precisa ser pregada e
ensinada enquanto se prega. Precisa ser utilizada no aconselhamento e ensinada
enquanto se aconselha. Quando uma igreja for edificada sobre uma teologia bíblica
sólida e honestamente fundamentada na exegese e na hermenêutica, ela terá
condições de responder aos mais diversos dilemas da sociedade. Ela vai saber
corretamente cumprir sua missão de discipular, terá condições de sistematizar suas
crenças em proposições doutrinárias, ou seja, ela será capaz de fazer Teologia
Sistemática e, acima de tudo, terá condições de compreender a história da redenção
e entender o seu papel dentro dos atos de Deus para resgatar a humanidade por meio
de Jesus Cristo para a Sua glória.

118
ROSNER, Brian S. Op. Cit. p. 6
119
ADAMS, P. J. H Op. Cit. p. 156.
41

A Teologia Bíblica precisa fazer parte da vida da igreja por meio da pregação
expositiva de livros inteiros e de séries temáticas que respondam os dilemas
contemporâneos. Precisa fazer parte por meio do aconselhamento bíblico, com
cristãos preparados para mostrar uns aos outros onde é que a realidade de suas vidas
pessoais e as Escrituras se encontram. Precisa também fazer parte por meio da
propagação de boa literatura sobre o assunto. Livros, como os de Craig G.
Bartholomew e Michael W. Goheen, “O drama das Escrituras: encontrando o nosso
lugar na história bíblica”120 e “Introdução à Cosmovisão Cristã: vivendo na intersecção
entre a visão bíblica e a contemporânea” 121, devem fazer parte da leitura de todo
pastor, ministro e missionário, mas também deve fazer parte do estudo pessoal de
todo cristão, seja em uma escola bíblica, pequenos grupos ou grupos de leitura, pois,
"Como podemos ver, a Teologia Bíblica é muito frutífera para a tarefa
de formular a teologia. Não é uma matéria elitista, à disposição apenas
de profissionais que possam dedicar horas e horas a isso, sentados
em seu escritório. É algo que pode participar qualquer pessoa que
tenha o desejo de estudar a bíblia em profundidade. É algo de que a
igreja desesperadamente precisa em sua busca pela verdade. Muitos
debates atuais, com potencial para dividir a igreja, poderiam ser
resolvidos se aprendêssemos a usar o mínimo de Teologia Bíblica em
nossa busca por respostas."122

Somente quando a Teologia Bíblica for levada a sério e deixar de ser apenas
um campo do estudo acadêmico ou uma disciplina em um seminário, a igreja extrairá
os verdadeiros benefícios de seu estudo. Isso, porém, só ocorrerá quando pastores,
seminaristas, ministros e missionários retomarem seus estudos da Teologia Bíblica e
encontrarem nela uma maneira confortável de ler e interpretar a Palavra de Deus,
pois, a Teologia Bíblica é a maneira correta de ler, pregar e ensinar as escrituras.
“Assim, teologia bíblica, se reconhecida como tal ou não, de uma forma ou de outra,
é, normalmente, o que é praticado quando a Bíblia é pregada com eficácia, estudada
rigorosamente ou lida atentamente pelos cristãos.”123

120
São Paulo, SP: Vida Nova, 2017.
121
São Paulo, SP: Vida Nova, 2016.
122
OSBORNE, Grant R. 3 Perguntas Cruciais sobre a Bíblia: Podemos confiar na Bíblia? Podemos
entender a Bíblia? Podemos fazer Teologia a partir da Bíblia?. São Paulo, SP: Vida Nova, 2014,
p. 199.
123
ROSNER, Brian S Op. Cit. p. 3.
42

A Teologia Bíblica é, para a Igreja, a maneira mais coerente de se estudar e


ensinar as Escrituras, pois ela preserva a diversidade literária e histórica das
Escrituras. Ao mesmo tempo, ela ressalta a unidade que a história da redenção exige,
pois “de um lado, tentará preservar a diversidade gloriosa dos documentos bíblicos;
de outro, procurará descobrir tudo que os une, não sacrificando nem a particularidade
histórica nem o movimento unificador da história da redenção.”124 Tudo isso para o
benefício da igreja.

124
CARSON, D.A. Op. Cit. p. 141.
43

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi demonstrar a grandeza e a extensão dos estudos


na área da teologia bíblica. Buscou-se apresentar a validade e os benefícios de se
estudar a Teologia Bíblica por meio de diversas abordagens, bem como influência
benéfica que esta disciplina exerce na transmissão pública e particular da Palavra de
Deus por meio da pregação e do aconselhamento bíblico.
Foi proposto também, neste trabalho, que a teologia é de domínio da Igreja e
para a Igreja e não de posse exclusiva da Academia, pois Deus decidiu revelar-se ao
seu povo e não somente aos intelectualmente capazes. Sendo assim, a intenção e
oração deste autor é de que a Igreja de Jesus Cristo se comprometa com o estudo
sério da Teologia Bíblica e aprenda a ler a Bíblia melhor, para seu beneficio próprio,
para o beneficio daqueles que estão a sua volta e para a expansão da glória de Deus
por meio do evangelismo e discipulado de todas as nações.
Este trabalho não seria possível e não teria razão de existir à parte da existência
da Santa Trindade e de sua revelação, pois, não existe teologia que seja válida ou
benéfica e que seja feita sem devoção e relacionamento com o Deus tríuno, por causa
da vontade do Pai, da mediação do Filho e da capacitação do Espírito. Sobre o papel
do Espírito Santo na tarefa teológica e no estudo da Teologia Bíblica, concluo com a
síntese de Charles Ryrie:
"A teologia bíblica é uma abordagem das Escrituras. Por mais distinta
e frutífera que ela seja e tenha seus benefícios, o aproveitamento e as
bênçãos do estudo não podem ser garantidos ao leitor ou estudante a
parte do ministério do Espírito Santo. É Ele que toma as coisas de
Cristo e mostra-as à nós (João 16: 13-15) e, a menos que esse
ministério seja operacional no coração, não pode haver benefício do
estudo. Para desfrutar a plenitude de Seu ministério deve ser
constante a preocupação de cada estudante com a Palavra de
Deus.”125

125
RYRIE, Charles C Op. Cit. p. 21.
44

A Deus seja a glória hoje e para sempre, e até que chegue o dia em que “a terra se
encherá do conhecimento da glória do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (Hc
2.14).
45

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