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Universidade Severino Sombra

Curso de Medicina-Disciplina de Saúde Mental


1o semestre de 2009
6o período-turma B
Aula em 02de fevereiro de 2009
Prof. Dr J.L.Campinho Pereira

TRANSTORNOS DA CONSCIÊNCIA
O vocábilo CONSCIÊNCIA é usado em português e nas demais línguas neo-latinas
em duas acepções.No sentido ético,consciência é aquela voz interior que aprova ou
condena os nossos atos(A consciência é o meu juíz;só faço o que manda a minha
consciência).Baseada no juízo de valores,indica como devemos agir.No sentido
psicológico é o conhecimento que temos,a cada momento,da nossa realidade interna
e externa, o todo momentâneo da vida psíquica,omo bem definiu K.JASPERS.Essa
duplicidade semântica não existe nos idiomas anglo-germânicos.O inglês usa
Conscience e Consciouness respectivamente para os sentidos moral e psíquico,
correspondendo aos alemães “Gewissen” e “Bewusstsein”.Na presente aula, não nos
deteremos na análise da a coinsciência ética,da alçada da filosofia,limitando-nos ao
estudo daquela que PENFIELD chamou de “tono psíquico de base”,síntese de todos
os processos mentais em determinado momento.Está presente em todos os processos
que estudaremos nas futuras aulas ,como a senso-percepção, a memória,a atenção, a
orientação, o pensamento etc.Admite a fenomenologia a teoria da intencionalidade
da consciência,formulada particularmente por BRENTANO.e desenvolvida por
HUSSERL que afirma que “toda consciência é sempre consciência de algo “.. Como
diz NOBRE de MELO,subentende a consciência como caracteres intrínsecos
fundamentais: a):a interioridade e atualidade da vivência ; b)o eu diverso do não- eu;
c) o auto e hétero-conhecimento,imediato e instantâneo,de tudo o que se apresenta ou
se representa em nós e fora de nós,facultando-nos,em suma, a aferição simultânera do
nosso próprio eu e do mundo exterior,
Adverte-nos o referido mestre qye não devemos,porém, confundir coinsciência e
vida psíquica. já que existem fenômenos de que não temos conhecimento direto e
imediato, fenômenos que não são conscientes e que apenas nos são revelados de
forma especial ou por meios indiretos, de grande importância para a psicanálise como
veremos mais tarde..Como dissemos, a consciência está presente em todos os
processos psíquicos que estudasremos a seguir.Hoje falaremos dos transtornos da
LUCIDEZ,da clareza da consciência, distúrbios que seriam melhor ditos. da
VIGILÂNCIA.termo criadoi por HEAD em 1923,suporte de uma atividade
adaptativa, ativação ou atenção tônica..Estar consciente aqui significa que o indivíduo
está ,desperto,alerta., .A quantidade de conteúdos que a consciência abarca em
determinado momento constitui o que chamamos campo da consciência.O espanhol
VALEJO NAGERA dá-nos uma imagem simples do mesmo.Imagina uma sala em
que se dará uma projeção cinematográfica.Está ela cheia de pessoas e objetos.Um
foco de luz é projetado em direção à tela.As pessoas e coisas que estão junto à mesma
estarão profusamente iluminados.Estariam no campo da consciência.Os que estão
fora do foco,recebendo uma luz fraca,na penumbra,estariam no subconsciente,
enquanto os mais diatantes, totalmente no escuro, estariam no inconsciente.Veremos
que esse campo da consciência sofre variações fisiológicas e
patológicas.Enfermidades há que tem perturbada a consciência desde o
início ,enquanto outras correm sem prejuízo da lucidez.Sabemos que os tóxicos,a
epilepsia,os traumatismos cranianos prejudicam-na,enquanto os transtornos de
humor,a esquizofrenia,as demências deixam-na intacta.
ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA CLAREZA DA CONSCIÊNCIA
No que tange às variações fisiológicas da consciência cabe-nos falar do
SONO,.Representa este "um estado comportamental reversisível da percepção do
ambiente externo,com modificação do nível de conaciência(CARSKADON-
DEMENT,2000).Outrora achava-se que o sono era um fenomeno passivo.Sabemos
hoje que se trata de algo ativo.Durante o mesmo,não se observa rerdução
generalizada das descargas cerebrais,como ocorre na anestesia geral,havendo em
certas áreas do encéfalo aumento das mesmas durante a
noite.Atualmente,multiplicam-se os trabalhos sobre o sono,particularmente desde o
advento da eletrencefalografia.Publicados os trabalhos de H;BERGER em 1929,em
1937 já LOOMIS e colaboradores verificavam que os ritmos cerebrais se alteravam
quando o paciente dormia.-
.Sabemos que,no adulto normal,em repouso sensorial, o ritmo
dominante ,denominado alfa,tem uma frequência de 8-13 Hz , com 20 a 60
microvolts de amplitude,que predomina nas áreeas posteriores, ritmo que desaparece
quando o paciente abre os olhos,substituído por ondas rápidas(15 a 30 Hz),de menor
voltagem e predominância anterior.Durante o estado hípnico, identificaram os
referidos auto
res cinco fases ou estágios,hoje reduzidas a quatro.Na fase 1 ou do adormecimento, o
ritmo alfa diminui em voltagem e frequência,vai rareando,substitúdo
progressivamente por ondas lentas, na faixa teta(4 a 6 Hz).No final da fase, aparecem
no vértice,ondas agudas,ligadas a estímulos acústicos.É uma fase de curta
duração,durando cerca de 5% do sono noturno;a que se segue é a de maior duração,
ocupando cerca de 50% da noite,caracterizada pela presença do ritmo sigma, formado
por ondas de 15 Hz, com cerca de 100 microvolts,,de predominância frontal e
parietal,enquanto o ritmo de fundo torna-se mais lento,dominado por ondas teta.
Nesta fase são frequentes as espículas do sono,localizadas no vértice e os complex os
e dorme ao sono profundo,as fases 3 e 4,dominados pelas chamadas ondas delta,de
0,5 a 2 Hz,de alta voltagem.Não há mais ondas agudas no vértice,sendo mais difícil o
despertar.
Em 1953,AZERINSKY e KLEITMAN verificaram que,durante o sono
profundo,ocorria uma súbita dessincronização do traçado, que passava a ser
dominado por ondas próximas às do estado de vigília,de 7 a 7,5Hz, de baixa
voltagem.Esse fenômeno ocorria quando o paciente exibia movimentos oculares
rápidos,donde o nome REM (rapid eye moviments) que lhe foi dado.Durante o
mesmo ocorre atonia muscular,havendo aumento da frequencia respiratória,
taquicardia , elevação da pressão arterial ,ereção do pênis e do clitoris.Durante o
mesmo há um aumento de até 20% do metabolismo cerebral e nesta fase é que
ocorrem, na sua maioria, os SONHOS. Embora possam aparecer na fase não-rem,os
sonhos no REM são mais vívidos,mais significativos para o sonhador que deles se
recorda com mais facilidade.Os sonhos são de grande importância para a
psicanálise,”Guardiões do sono”,na expressão de FREUD,representam para este uma
realização disfarçada de um desejo reprimido.O sono REM foi definido como
“cérebro ativado em um corpo paralisado”(CARASKADON-DEMENT) e a oposição
entre o EEG e as condições do paciente, levou JOUVET a denominá-lo sono
paradoxal. O indivíduo que .dorme inicia o sono pela fase NÃO—REM ,indo
proigressivamente da sonolência à fase 4 ,demorando de 70 a 110 minutos para entrar
no primeiro período de REM que se vai repetindo depois a cada 100 minutos ,no total
de quatro episódiuos noturnos no adulto jovem.De um modo geral,o sono notuirno é
formado em 75% de sono NÃO-REM e 25% de sono REM.Medicamentos e
condições patológicas podem modificar essa proporção,Os barbitúricos,por
exemplo,provocam a abolição do sono REM.Os benzodiazepínicos retardam o
aparecimento do mesmo, ,mas aumentam a sua duração.A abstinência alcóolica o
diminui.No recém-nascido,o sdono REM ocupa 50% do total do sono..
O RITMO CIRCADIANO no homem´e de geralmente 6 a 9 horas, a maioria os
adultos jovens dormindo 7 ou 8 horas por noite.Cerca de 10% dormem menos de 6
horas e uns 15% mais de 9.tativos O sono apresenta distúrbios quantitativos e
qualitativos.Entre os primeiros temos a Insônia e a hipersônia.A INSÔNIA é uma das
queixaas frequentes na clínica.Estatísticas americanas recentes revelam que 35% dass
pessoas têm dificuldades para dormir,problema que é maior nas + mulheres e
aumenta com a idade.Calcula-se que 4% das pessoasa usam habitualmente indutores
do sono.A HIPERSÔNIA pode estar ligada a medicamentos, aparece em certos
deprimidos e na NARCOLEPSIA que tem uma prevalência de 50casos em 100000
habitantes. Entre os distúrbios qualitativos ou PARASONIAS temos os SONILÓQ!
UIOS,encontrados por REIMÃO em 50% dos escolares e pré-escolares paulistas.O
SOBRESSALTO DO SONO,segundo o mesmo autor ocorre em 60 a 80% dos
adultos normais.Aparecem na fase inicial do sono ,não tendo significado
patológico.O SONAMBULISMO,distúrbio das fases 3 e 4 do sono,ocorre
esporadicamente em cerca de 30% das crianças,desaparecendo com a idade na
maioria dois casos.Em cerca de 5 a l0% dos adultos aparece de forma
habitual,estando ligado a problemas de m,aturação cerebral.Casos interessantes são
relatados na literatura,como o do pintor de MAURY,o serrador de madeira de
ROGER,o estrangulador de DELGADO e outros.O TERROR NOTURNO aparece
em cerca de 5% das crianças em idade escolar(despertarcom grande
ansiedade,gritos,distúrbios autonômicos),desaparecendo com a idade.
Sem gravidade,mas assustando muito as mamães temos o JACTATIO CAPITIS
NOCTURNA,movimentos estereotipados,rítmicos da cabeça,estendedo-se ao resto
do corpoque ocorrem em cerca de 15% dos bebês entre os 5 e os 11
meses,desaparecendo espontaneamente antes dos 2 anos..O RANGER DE
DENTES,ligado ao sono leve,apare em 29,5% das crianças e exige pesquisa multi-
disciplinar, . Os PESADELOS,distúrbios da fase REM são bastante frequentes em
adfolescentes e jovens,gerando grande angóstia.Calcula-se que ,no sexo feminino
ocorram em 11%habitalmente e,esporadicamente,em 50 % ,cifras que diminuem para
5% e 37%,respectivamente,no masculino.

TRANSTORNOS PATOLÓGICOS DA CONSCIÊNCIA:


Com BUMKE,poderemos dividir esses transtornos em três grupos:
Consciência embotada,consciência onírica e consciencia limitada.Por consciência
embotada entendemos a dmiinuição ou perda da lucidez da consciência, o
entorpecimento. que pode ser causado por várias condições clínicas, como alterações
metabólicas(hipo ou hiperglicemia),traumatismo crânio-encefálico,tumores
cerebrais,acidentes vásculo-encefálicos etc.O seu grau máximo é o COMA profundo
ou CARUS,no qual,embora com a vida somática conservada,não tem qualquer sinal
de vida psíquica.A pessoa tem total perda da sensibilidade e da motilidade
voluntária.O extremo oposto do embotamento, HIPERVIGILÂNCIA ou
HIPERLUCIDEZ, um aumento da capacidade de sentir do indivíduo tornando-se
mais alerta,ocorre em certas intoxicações por drogas alucinógenas(LSD,mescalina)
ou pela anfetamina e também em certoa epilépticos , no início de certas
esquizofrenias e em alguns casos de mania.
A consciência oniroide de BUMKE constui o DELIRIUM ,ligado a vários
transtornos somáticos(tóxicos,traumatismos,infecções etc)
Há aqui também uma ambiguuidade semântica .nas línguas
romãnicas.DELIRIUM,usado na sua forma latina,indica o transtorno da consciência
caracterizado por um rebaixamento do nível da consciência,acompanhado de
alucinações geralmente visuais,inquietação motora,perda da crítica da situação.Um
bom exemplo é representado pewlo delirium tremens, grave distúrbio da abstinência
alcõlica,com suas características zoopsias.Mas a palavra DELIRIO é usada
igualmente pelos psiquiatras de língua neoi-latina para indicar un falseamento do
juízo,um desvio mórbido do pensamento que ocorre em afecções mentauis como a
Esquizofrenia.Essa duplicidade de sentido não existe no inglês que usa “delusion para
o transtorno do pensamento, para os quais reservam os alemães “Wahn”, ficandoi
ambos os idiomas com delirium apenas para o distúrbioi da consciência.,Usou
BUMKE a palavra oniroide porque o transtorno está próximo ao sono.Há um século e
meio atrás,já LASÉGUE definia o delirium como um "sonho patológico".Um sonho
que-no dizer de NOBRE DE MELO-a atmosfera "cenográfica"não excluia
mundanidade,isto é,um sonho que não exige a anulação ou aniquilamento da
realidade,mas só a sua crepuscularização.
Por consciência limitada entendemos um estreitamento do campo da consciência
próximo ao sonambulismo,em que há redução quantitatiuva e qualitativa da
consciência ,conservando o enfermo a sua atividade motora,a linguagem,
etc.Incluímos aqui chamados ESTADOS CREPUSCULARES,comuns na epilepsia,
parcial complexa,ligada ao lobo temporal, mas que podem aparecer igualmente em
estados dissociativos e em certas psicoses orgânicas.Nos epilépticos há amnesia
posterior aos episódios..A duração destes varia de minutos a meses,como o relatado
pór LASÈGUE e LEGRAND DU SAULE,de um jovem que iniciou a crise em Paris
e,depois de várias peripécias a termina três meses depois em Mombai,na Índia.
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