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Assinatura:______________________________
ii
DECLARAÇÃO DA ORIENTADORA
A orientadora
_____________________________________
iii
DEDICATÓRIA
Aos meus pais Félix Cajomba e Inês Abudrasse,
aos meus filhos Chison Luís Victor Chiveve e
Bilvânia da Rita Luís, aos meus irmãos
Felisberto, Tonecas e Arteth. Dedico!
iv
AGRADECIMENTOS
O Trabalho de Conclusão de Curso representa a conquista árdua de quatro anos de
dedicação, e significa que nada foi em vão. Por isso, agradeço.
Não deixo em nenhum momento de agradecer aos meus pais, Félix Cajomba e Inês
Abudrasse pelo apoio, confiança e pelo amor incondicional que depositaram em mim e por
estarem sempre presente quando precisei. Obrigado mãe e obrigado pai por acreditarem em
meu potencial, sempre me encorajando a crescer e avançar. Agradeço todo o amor e cuidado
de vocês. Sempre vos amarei, onde quer que vocês estejam!
Agradeço também aos meus irmãos filhos Chison Luís Victor Chiveve e Bilvânia da
Rita Luís Victor, pelo apoio incansável durante a minha trajectória na Faculdade e na vida
desde o primeiro dia que vieram ao mundo, me dando força e motivos de lutar.
Agradecer aos meus colegas e amigos Otília, Prisca, Faquir Muacigarro e José Opete,
que estiveram comigo e testemunharam nessa batalha académica que tive durante a vida na
faculdade.
Agradeço a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para que esse sonho se
concretizasse e que estiveram ao meu lado me ajudando e me dando forças.
Se me esqueço de citar alguém, perdão, mas lembrem que todos estão guardados no
lugar mais bonito e importante do meu coração, amo vocês.
v
RESUMO
Introdução: O consumo de álcool é uma prática generalizada na sociedade actual, sendo um
fenómeno transversal entre culturas e ao longo de toda a história. Durante a lactação, a passagem de
drogas do sangue para o leite materno ocorre através de mecanismos que envolvem membranas
biológicas formadas por fosfolipídeos e proteínas. Objectivo: Analisar o conhecimento, atitudes e
práticas sobre o consumo de álcool durante a lactação no Centro de Saúde 25 de Setembro.
Metodologia: Trata-se de um estudo observacional, descritivo, transversal e com abordagem
qualitativa. A recolha de dados ocorreu no mês de Julho de 2022, no Centro de Saúde 25 de Setembro,
cidade de Nampula. Participaram do estudo, 46 lactantes, seleccionadas a partir da amostragem não
probabilística por conveniência, por método de saturação. No tratamento de dados usou-se análise de
conteúdos, que consistiu em pré-análise, exploração do material e a inferência e interpretação.
Resultados: a maioria afirmou não ser consumidora de álcool, para algumas lactantes o consumo não
ultrapassa 2 copos de álcool por dia. A razão de consumo de álcool que mais se destaca entre as
participantes é a diversão, entretanto, as lactantes referiram que o consumo do álcool tem
consequências tanto para a mãe assim como para a criança. Estas por sua vez têm recebido
informações sobre o aleitamento e o consumo de álcool nas unidades sanitárias. Conclusão: as
lactantes confirmaram estar a consumir álcool enquanto amamentam. Muitas têm conhecimento sobre
as consequências que o consumo de álcool traz para as mães e suas crianças, durante a lactação, sendo
que muitas referiram que o álcool vicia. Estas mães por sua vez têm tido informações sobre a
amamentação de crianças com o leite materno e que consequências o consumo do álcool pode trazer
durante esta fase muito importante.
vi
ABSTRACT
Introduction: Alcohol consumption is a widespread practice in today's society, being a cross-cutting
phenomenon between cultures and throughout history. During lactation, the passage of drugs from
blood to breast milk occurs through mechanisms involving biological membranes formed by
phospholipids and proteins. Objective: To evaluate knowledge, attitudes and practices about alcohol
consumption during lactation at the Health Center 25 September. Methodology: This is an
observational, descriptive, cross-sectional study with a qualitative approach. Data collection took
place in July 2022, at the 25 de Setembro Health Center, in the city of Nampula. The study included 46
lactating women, selected from non-probabilistic convenience sampling, using the saturation method.
Content analysis was used for data processing, which consisted of pre-analysis, material exploration
and inference and interpretation. Results: the majority claimed not to consume alcohol, for some
lactating women consumption does not exceed 2 glasses of alcohol per day. The reason for alcohol
consumption that stands out the most among the participants is fun, however, the lactating women
reported that alcohol consumption has consequences for both the mother and the child. These, in turn,
have received information about breastfeeding and alcohol consumption in health units. Conclusion:
the lactating women confirmed to be consuming alcohol while breastfeeding. Many are aware of the
consequences that alcohol consumption brings to mothers and their children during lactation, and
many reported that alcohol is addictive. These mothers, in turn, have had information about
breastfeeding their children with breast milk and what consequences alcohol consumption can have
during this very important phase.
Keywords: alcohol consumption, breastfeeding, effects of alcohol, infant, alcoholism.
vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES/FIGURAS
Figura 1:Fases da análise de conteúdo ........................................................................... 19
viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADH Álcool-Desidrogenase
BA Bebidas Alcoólicas
BS Banco de Socorro
E Entrevista
LM Leite Materno
REM Rapideyemovement
ix
LISTA DE SÍMBOLOS
% Percentagem
g Grama
L Litros
ml Mililitro
x
Índice
DECLARAÇÃO DA ORIENTADORA ...................................................................................iii
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................ iv
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... v
RESUMO .................................................................................................................................. vi
ABSTRACT ...............................................................................................................................vii
1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
2.OBJECTIVOS ....................................................................................................................... 14
2.1.Geral ................................................................................................................................ 14
2.2.Específicos ...................................................................................................................... 14
3.METODOLOGIA .................................................................................................................. 15
3.3.Participantes .................................................................................................................... 16
xi
4.2.Razões para o consumo o álcool na lactação .................................................................. 22
5.CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 30
APÊNDICES ............................................................................................................................ 36
ANEXOS .................................................................................................................................. 40
xii
1.INTRODUÇÃO
A história social do álcool surge desde a fabricação da cerveja no Egipto Antigo e a
produção de vinho no Império Greco-Romano durante a Antiguidade Clássica, até o consumo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas últimas décadas o etanol se
tornou a droga mais consumida no mundo1.
O consumo de álcool é uma prática generalizada na sociedade actual, sendo um
fenómeno transversal entre culturas e ao longo de toda a história2.
O estudo feito em lactantes, pela Universidade de Oxford, afirma que a nível mundial
não existem, ainda, muitos estudos sobre esta temática. Os estudos existentes revelam uma
prevalência de consumo de álcool durante o aleitamento materno que varia entre 20% e 80%3.
Em países como a Austrália, bebidas alcoólicas são aceitas como parte da cultura e,
por isso, são amplamente consumidas. As mulheres australianas habitualmente consomem
álcool, constituindo 6% de calorias da dieta básica diária; 35% consomem semanalmente,
estando a maioria delas em período de amamentação4.
Estudo realizado na França afirma que o consumo diário foi relatado por apenas 0,4%
das mulheres que amamentavam. Nesse grupo, o consumo excessivo de álcool foi estimado
em 6,8%. A ingestão moderada durante a gravidez e a amamentação foi associada com maior
nível de escolaridade3.
Já um estudo norueguês com 1.873 mulheres encontrou uso de álcool por 80% das
mulheres amamentando bebés até 6 meses de vida5.
1
Estudos de prevalência realizados em algumas regiões da África do Sul (país com o
qual Moçambique faz fronteira), sinalizadas como sendo de alto risco, evidenciam que
algumas delas têm as taxas mais elevadas de SAF (Síndroma Alcoólico Fetal) do mundo. Na
Província de Cabo Ocidental foi encontrada uma prevalência de 39.2 a 46.4 em 1000
nascimentos, 18 a 141 vezes acima dos valores encontrados nos Estados Unidos e em algumas
áreas do país com uma prevalência de 119/1000 nascimentos8,9.
O tipo de bebida alcoólica consumida varia também de país para país. Mundialmente o
primeiro lugar é ocupado pelas bebidas espirituosas com 55,1%, em segundo lugar surge a
cerveja com 34,8%, em terceiro lugar o vinho com 8,0% e por último outras bebidas com
7,1%2.
As bebidas alcoólicas são fonte de prazer em muitas sociedades, mas o impacto do uso
e abuso do álcool é uma importante preocupação na saúde pública1,2.
A disponibilidade mundial de etanol per capita (indivíduos com 15 ou mais anos) era
de 6,4 litros de etanol puro por ano, sendo na Região Africana de 6,3 litros). É de notar que,
apesar das bebidas tradicionais assumirem maior relevância nos países africanos (cerca de ⅓
do consumo, como o vinho da palma e a cacharamba em São Tomé e Príncipe (STP), estas
não são contabilizadas no cálculo do consumo de etanol11.
2
de bebidas alcoólicas é definido como sendo a ingestão de mais de 30 gramas/dia, e a ingestão
além desta quantidade tem consequências negativas para a saúde e qualidade de vida dos
indivíduos, por que do álcool resultam vários problemas sociais12.
Há que referir que, o álcool danifica alguns órgãos vitais do corpo humano alterando
funções. É uma substância que pode causar agravos, estes podem se desenvolver de três
formas diferentes10:
A utilização do NAD como cofactor dessas reacções se mostra um factor limitante que
acarreta em alterações metabólicas na presença de etanol, uma vez que o NAD é uma
molécula necessária no metabolismo de diversos outros nutrientes – como aminoácidos,
carboidratos e lipídios – e sua restauração pelo fígado é limitada13,14,15.
3
imunológicas, formação de fibrose, efeitos das citocinas, desnutrição, e poptose de
hepatócitos e células mononucleares do sangue 13.
Álcool e Hepatites B e C
Esteatose
Hepatite Alcoólica
Cirrose Hepática
É caracterizada pela presença de nódulos no tecido hepático, que variam de micro até
macro nódulos (dependendo do período de ingestão de etanol). A formação desses nódulos é
secundária à inibição da regeneração hepática pelo álcool15.
4
Além disso, deve-se ressaltar que os pacientes cirróticos apresentam maiores riscos
para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como a aterosclerose18.
Findando a gravidez, inicia-se uma nova fase em que a mulher poderá estar a
amamentar o seu filho. E nesta fase, as recomendações para o consumo de álcool, já não são
tão claras como durante a gravidez17.
Esta crença levou a que surgissem bebidas alcoólicas, apenas indicadas para mães que
amamentassem, como a cerveja Malt-Nutrine, que surgiu em 1895 e apenas era vendida em
drogarias17.
Um fato que tem merecido atenção é a alta incidência do consumo de álcool entre
mulheres, principalmente em países em ascensão económica, em que o sexo feminino está
conquistando sua independência financeira12.
5
A maternidade envolve inúmeras alterações na vida de uma mulher, sendo uma das
mais significativas a amamentação. Na perspectiva da OMS, o leite materno é o alimento
ideal para recém-nascidos e crianças, devendo estas ser alimentadas pelo leite materno em
exclusividade até aos seis meses. Este é um processo que nem sempre é fácil para a mãe, no
entanto, são inúmeros os benefícios quer para a criança, quer para a própria mulher22.
Por todas as vantagens já mencionadas, tem sido feito um esforço por várias
instituições, no âmbito da saúde a nível mundial e nacional, no sentido de se incentivar a
amamentação20.
Parentes, amigos e até profissionais de saúde recomendam que nutrizes façam uso de
bebida alcoólica com intuito de promover relaxamento, aumentar a produção e até a qualidade
do leite20,21.
6
Estudos comprovam o efeito protector do aleitamento materno frente a doenças, tais
como anemia ferropriva, sarampo, diarreia, enterocolitenecrotizante, doença celíaca, doença
de Crohn, colite ulcerativa, alergias e infecções respiratórias agudas, parasitoses, otite,
meningite, alergias, diabetes mellitus, infecções do trato urinário, displasia broncopulmonar,
linfomas, leucemias, retinopatia e falência respiratória, entre outras, principalmente em
crianças que apresentam sintomas de desnutrição e menores de um ano de idade. Verifica-se
ainda, melhor24:
Assim, para ser transferido para o leite, o álcool precisa alcançar o tecido alveolar da
glândula mamária. O factor determinante da quantidade de álcool que aparece no leite é sua
concentração no sangue materno. Durante a lactação, a passagem de drogas do sangue para o
leite materno (LM) ocorre através de mecanismos que envolvem membranas biológicas
formadas por fosfolipídeos e proteínas22.
O baixo peso molecular do álcool permite que ele atinja facilmente o leite materno,
atravessando o capilar endotelial materno e a célula alveolar por difusão passiva. Assim, a
composição da membrana exerce influência na velocidade da passagem e na concentração do
álcool no leite humano24.
7
Assim, deve-se atentar para a practicidade que a amamentação oferece: o leite está
sempre ali, na temperatura correta, esterilizado para o bebé, além de ser gratuito. É uma fonte
natural e renovável de alimentação, não há desperdício, não polui o meio ambiente e não
devasta a natureza26,27.
Pois, quando as mulheres que estão amamentando consomem álcool, de forma geral,
cerca de 2% deste é transferido para o sangue e LM. Apesar de não ser estocado nas glândulas
mamárias, o nível de álcool encontrado no leite é proporcional ao encontrado no sangue da
mãe e, desta forma, o leite apresentará quantidades consideráveis de álcool enquanto os níveis
no sangue forem mensuráveis. Uma vez que é uma substância de rápida absorção, o álcool
passa rapidamente do plasma para o LM25.
Este facto sucede porque durante a gestação ocorre uma difusão passiva do álcool
entre o sangue materno e o sangue fetal, enquanto na amamentação o álcool difunde-se
passivamente para o leite materno, chegando assim em menor proporção à criança. A difusão
do álcool para o leite materno ocorre cerca de 30 a 60 minutos após a ingestão28.
8
Todavia, não foi demonstrada correlação significativa entre o consumo de etanol na
lactação e o alcoolismo na vida adulta12.
Sabe-se que o leite materno está sujeito a mudanças na sua composição. Dependendo
da fase da lactação (colostro ou leite maduro) ou até mesmo na fase da mamada (leite anterior
ou leite posterior), existem alterações quanto a concentração de lipídeos e proteínas. Tais
alterações influenciam na extensão da transferência do álcool do plasma para o leite, causando
variação na sua concentração no leite materno. É sabido também que o leite de mães de bebés
pré-termo tem baixo teor de gordura e alto teor de proteínas, o que implica em diferentes
níveis do álcool no leite materno24.
9
Em relação ao lactente, é importante observar suas funções absortivas e hepáticas.
Assim, quanto mais imaturo ele for, menor sua capacidade de metabolização e eliminação do
álcool. Esses efeitos podem ser ainda maiores em bebés pré-termo, cuja imaturidade pode
prolongar a meia vida do álcool, causando acúmulo de doses repetidas. Sabe-se que nas
primeiras semanas de vida dos bebés, sua capacidade de metabolizar o álcool é metade da
capacidade dos adultos24.
As calorias fornecidas pelo álcool podem alterar o perfil dietético e o valor energético
total (VET) diário da mãe que amamenta. A intensidade com que estas alterações ocorrem e
se manifestam está directamente relacionada com a quantidade e constância da ingestão
alcoólica10,24.
Esse tipo de fonte calórica é conhecido como “calorias vazias”, uma vez que apesar de
seu alto valor energético, faltam nutrientes essenciais como proteínas, vitaminas e elementos
traços. Paralelamente, não podemos deixar de atentar à baixa absorção de nutrientes em
indivíduos alcoolistas, causada pela insuficiência pancreática e deficiência de enzimas que
actuam na borda em escova do intestino24.
No entanto, embora se saiba que a maioria das gestantes tem conhecimento de que não
deve consumir álcool neste período, entretanto, o mesmo não ocorre na lactação, vez que a
10
cerveja tradicionalmente e em menor grau o vinho, são recomendados como lactogôgos,
fontes de vitaminas do complexo B e capazes de provocar o relaxamento mãe/filho31,32.
Intoxicação Alcoólica
Síndrome de Abstinência
O tema abordado tem sido alvo de alguns estudos a nível internacional, no entanto, em
Moçambique, a bibliografia publicada sobre o assunto é escassa. Este estudo traz, assim,
algum conhecimento a uma área ainda pouco estudada, e quiçá talvez até instigue a realização
de mais estudos dentro deste tema no país.
Importa aqui referir que, a primeira motivação deste estudo perpassa o facto de que
várias mulheres são influenciadas por diferentes factores durante a lactação e este assunto
ainda é um campo de estudo pouco explorado na literatura académica Moçambicana.
Por isso, surge então a seguinte questão de partida para a elaboração deste estudo:
quais os conhecimentos, atitudes e práticas sobre o consumo de álcool durante a lactação
no Centro de Saúde 25 de Setembro, Nampula, 2022?
13
2.OBJECTIVOS
2.1.Geral
Analisar o conhecimento, atitudes e práticas sobre o consumo de álcool durante a
lactação no Centro de Saúde 25 de Setembro, Nampula, 2022.
2.2.Específicos
14
3.METODOLOGIA
3.2.Tipo de estudo
Fez-se um estudo observacional, descritivo, transversal e com abordagem qualitativa.
Quanto a natureza de estudo, foi do tipo observacional, pois durante o percurso do estudo não
houve intervenção, apenas medição das variáveis.
15
prevalência da doença e, por essa razão em um estudo transversal, as medidas de exposição e
efeito (doença) são realizadas ao mesmo tempo38.
3.3.Participantes
Fizeram parte do estudo 46 mães lactantes que tinham filhos lactentes atendidos na
CCS. Para a determinação do número de participantes, baseou-se amostragem não
probabilística por conveniência, que é aquela em que a selecção dos elementos da população
para compor a amostra depende ao menos em parte do julgamento do pesquisador ou do
entrevistador no campo41.
O número das participantes foi determinado pelo método de saturação teórica, que
foram no total 46, tal como foi referido anteriormente no parágrafo anterior. Por meio deste
método de amostragem, após as informações colectadas com certo número de participantes,
novas entrevistas passaram a apresentar uma quantidade de repetições em seu conteúdo,
determinando o fechamento da coleta42.
3.4.Critérios de elegibilidade
3.4.1.Critérios de inclusão
Todas as lactantes maiores de 18 anos atendidas no sector das CCS do Centro de
Saúde 25 de Setembro e que assinarem o termo de consentimento livre e informado
(TCLI).
3.4.2.Critérios de exclusão
As lactantes que no dia de colecta de dados apresentaram uma criança com
complicações clínicas ou com urgência;
16
Lactantes que no momento da colecta de dados estiveram sob o efeito do álcool;
Lactantes que apresentaram alterações psicológicas no momento de colecta de dados.
3.6.Teste piloto
O estudo piloto, também citado como projecto-piloto, é definido como um instrumento
em pequena escala capaz de reproduzir os meios e métodos planeados para um dado estudo
que serão encontrados na colecta de dados definitiva43.
Neste estudo, foi aplicado um teste piloto a 5 mães que frequentavam a CCS no centro
de saúde 1◦ de Maio, para verificar a compreensão das perguntas e rectificar possíveis
alterações no guião de entrevista. O mesmo também tinha o intuito de verificar qual é em
média do tempo que cada entrevista pode levar.
3.9.Aspectos éticos
Antes da realização de estudo, foi feito o pedido de autorização a direcção do Centro
de Saúde de 25 de Setembro, por meio de uma credencial que foi emitida pela Universidade
Lúrio. Antes das entrevistas, as mães foram explicadas sobre os objectivos e depois de
aceitarem participar no estudo assinaram o TCLI.
17
Foi garantido o anonimato das participantes, e para o efeito ao invés dos nomes, as
entrevistas organizavam-se em número. As mulheres sujeitas dessa pesquisa, foram
esclarecidas repetidas vezes e sempre que se fazia necessário, de que eram livres para
participar do estudo, estando cientes do direito de desistir da participação, a qualquer
momento.
No que diz respeito aos custos, não existiu nenhum custo aplicado as mães das
crianças na participação do estudo. E como forma de preservar a saúde das participantes do
estudo, a autora sugeria o uso de mascaras e álcool-gel, durante as entrevistas, como forma de
prevenir uma possível contaminação por coronavírus.
Fez-se duas cópias do TCLI, onde uma cópia ficou com as mães que fizeram parte do
estudo, e a outra cópia para a autora do estudo.
No acto da recolha dos dados, usou-se a língua portuguesa. Para as mães com
dificuldades de se expressar em língua portuguesa, a autora do estudo recorria a uso da língua
Emákua.
18
ANÁLISE DE CONTEÚDO
19
Situações em que são transmitidas as informações sobre consumo de álcool;
20
4.APRESENTAÇÃO, ANALISE, E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As entrevistadas realizadas neste estudo foram identificadas conforme a ordem de
realização da pesquisa, denominadas de E1 até E46.
Das participantes que referiram não consumir álcool, muitas delas apenas davam uma
resposta fechada, dizendo apenas que não, tal como pode-se observar em algumas respostas
que se seguem:
21
Apesar da evolução social havida nos últimos anos, o preconceito relacionado a
mulher que bebe continua ainda muito forte. Falhas no cumprimento do papel familiar,
tendência à promiscuidade e estereótipo de maior agressividade são alguns dos estigmas
listados, que influenciam negativamente na busca de tratamento do alcoolismo durante a
lactação.
Assim, estudos apontam o quanto o consumo de álcool e o diagnóstico de alcoolismo
são ignorados em serviços médicos em geral, que geralmente não possuem equipe treinada
para diagnosticar o problema e responder as perguntas mais frequentes. Apesar de mulheres
que amamentam demostrarem usar menos drogas, seu padrão de consumo parece não
diminuir neste periodo49.
Diante destes resultados, há que admitir que muitas mulheres se sentem
envergonhadas ao tratar sobre o assunto e podem omitir informações, o que representa um
viés nesses estudos50.
Há que referir que as bebidas alcoólicas, como já mencionado, estão fortemente
enraizadas na cultura de muitas sociedades, estando tradicionalmente presentes às refeições,
em datas comemorativas, ou em convívios entre amigos.
Portanto, há que referir que, não é, assim, fácil para uma mulher que bebia antes de
engravidar, evitar consumir álcool durante o período de tempo em que se encontra a
amamentar o seu filho.
”Consumo bebida porque não me sinto bem quando fico muito tempo sem beber” (E28)
Uma das participantes que referiu consumir o álcool, apresentou uma resposta
diferente das outras quando questionada sobre qual era a razão que fazia com que ela
consumisse o álcool durante a lactação, dizendo o seguinte: “Porque me disseram com amigas
que aumenta leite e aproveito-me divertir” (E1)
22
Pressupõe-se que o factor diversão seja o que mais influencia no consumo de álcool
em lactantes jovens entrevistadas neste estudo, uma vez que de acordo com os dados
sociodemográficos, a faixa etária mais predominante do estudo foi a juvenil.
As razões que levam as mulheres lactantes a ingerirem bebidas alcoólicas são várias e
extrapolam o campo biológico e da saúde. Por exemplo, o estudo etnográfico realizado em
2007, na cidade de Maputo por Chiziane questionou o posicionamento segundo o qual as
mulheres lactantes que consomem bebidas alcoólicas o fazem porque estão biologicamente
pré-determinados a consumir. Em oposição a este estudo, Chiziane concluiu que as mulheres
jovens são motivadas a consumir bebidas alcoólicas devido a necessidade de satisfazer
determinados objectivos. Os mesmos podem de alguma forma ser satisfeitos na interacção
entre indivíduos no consumo de bebidas alcoólicas51.
“Depende dos dias, ora 2 garrafas de cerveja ou 3 por semana” (E28, E45)
“1 Garrafa de cerveja por semana, porque me falaram para não exagerar por causa da criança”
(E41)
“As vezes 1 garrafa por dia, mas tem semanas que bebo 3 garrafas por dia” (E33)
“No hospital me falaram para diminuir e por isso bebo uma cerveja por semana e tem semana que
não bebo” (E34)
O estudo feito em 2010, sobre álcool e lactação, constatou que, a maior parte das
mulheres consumia bebidas alcoólicas, apresentando uma mediana de ingestão de 21g de
álcool puro por dia52.
23
O International Institute of Human Lactation afirma que um número significativo de
mulheres entre 14 e 39 anos, nutrizes em potencial, fazem uso regular de pelo menos um
drink por semana em muitos países, sendo que um drink-padrão corresponde à quantidade
aproximada de 14 g (17,7 ml) de álcool36.
Existiram outras participantes do estudo que apenas disseram que o consumo de álcool
durante a lactação não traz vantagens, muito pelo contrário, apenas apresenta desvantagens,
como pode-se observar nas falas seguintes:
“Beber enquanto se amamenta não tem nenhuma vantagem” (E20, E2, E15, E19, E46)
Outras participantes, querendo dizer que o consumo de álcool não traz vantagem
nenhuma, apenas disseram que não conhecer vantagens referentes ao consumo de álcool
durante a lactação:
“Não conheço nenhuma vantagem quando alguém bebe enquanto está a dar mama criança” (E5,
E11, E25, E27)
24
Em contrapartida, resultados diferentes foram encontrados no estudo feito em Lisboa,
sobre o consumo de álcool durante a amamentação, onde quase toas mães referiam que o
álcool não aumenta a quantidade de leite que é produzido pela mãe46.
“Posso ficar bêbada e sofrer acidentes, posso ser violada com estranhos” (E3)
Algumas das participantes disseram que o consumo do álcool durante a lactação pode
torna-las viciadas em álcool, tal como observa-se nas respostas a seguir:
“Bebida faz a mulher não respeitar o seu marido, cria violência e pode fazer estragar o meu
casamento com meu marido” (E10)
A ideia de que as mulheres que consomem álcool de forma excessiva têm história de
violência doméstica, pode ser problemática porque exclui a possibilidade de as mulheres
consumirem álcool por vontade própria se não por coerção da violência25.
“Uma pessoa que bebe estraga sua vida, faz coisas sem sentido, até pode causar divórcio” (E15, E14,
E16, E36)
Todavia existiram participantes que não tinham certeza ou não conseguiram dizer
quais eram as consequências do consumo de álcool para uma lactante, como é o caso do relato
de uma das participantes a seguir:
“Não sei quais são essas consequências, não sei explicar bem” (E5)
Algumas mães, quando dadas essas questão se referiram que, o que a mãe consome
quando amamenta, passa para o filho, assim sendo, essas mães presumem que o álcool
consumido pela mãe para a criança através do leite materno, fazendo com que esta criança se
torne um adulto viciado em álcool. A seguir estão as falas de algumas participantes:
“Se uma mãe beber, o filho também vai estar a beber na barriga e quando nascer vai acostumar
bebida” (E5, E19, E15, E44)
Esses resultados podem ser influenciados pelo factor nível académico, nos resultados
sobre os dados sociodemográficos, mostrou que a maioria das participantes tinha concluído
apenas a 7a.
No entanto, apesar de existirem ideias que defendem que o leite materno de uma
lactante consumidora de álcool pode tornar o latente dependente do álcool, até o momento,
não há evidências que comprovem que a ingestão de álcool durante a lactação pode induzir o
vício pelo álcool no adulto12.
Alguns estudos afirmam que, Menos de 2% do álcool consumido pela mulher que
amamenta é transferido para o seu leite, embora não seja nele armazenado. Essa passagem
não ocorre logo após a ingestão da bebida, mas a quantidade de álcool encontrada no leite
correlaciona-se, constantemente, com a alcoolemia materna54.
26
Estudo feito por Little em 1989,realizado em 400 crianças de 1 ano de idade, em que
foi medido o seu desenvolvimento mental e motor e a ingestão de bebidas alcoólicas pelas
mães durante a amamentação.
Uma das conclusões mais importantes a que chegou foi que o desenvolvimento motor,
medido pelo Índice de Desenvolvimento Psicomotor, era significativamente inferior em
crianças regularmente expostas a álcool no leitematerno56.
“Me falaram no hospital que álcool faz mal a mulher, assim como para a criança” (E11, E6, E18,
E22, E25, E26, E27, E31)
“Bebidas fazem a criança ser bêbada quando crescem, a crianças pode ter muitas doenças se a mãe
beber enquanto ela estiver a mamar ” (E15)
“Quando uma mulher ter uma criança que está a mamar, deve parar de beber para não prejudicar os
bebes” (E16)
Trabalho realizado com 40 mulheres lactantes mostrou que 45% delas receberam
aconselhamento de seus médicos e/ou enfermeiras para consumir álcool durante a lactação e
35% delas receberam o mesmo conselho de familiares e amigos57.
“Ouvi falar sobre bebidas quando estava nas consultas antes de nascer meu filho” (E11)
27
“Me falaram sobre álcool com minha mãe, quando eu bebia na juventude” (E18).
O estudo sobre Amamentação e uso de drogas, feito em São Paulo, em 2011, refere
que as unidades sanitárias têm divulgado informações sobre o uso de drogas durante o
aleitamento materno, no entanto, as mães tem negligenciado e consumido principalmente o
álcool mesmo durante o período de aleitamento materno57.
No mesmo estudo, as mães referem que tem recebido as informações nas unidades
sanitárias e mesmo com essas informações não conseguem se abster do álcool. Esses
resultados se assemelham com os resultados deste estudo, no que se refere as informações
dadas e o local onde são dadas as respectivas informações sobre o uso do álcool pelas
lactantes 57.
“Eu não aconselho uma mãe a beber quando estiver a dar mama, deve esperar a criança deixar de
mamar primeiro” (E3, E5, E16, E35, E36, E42)
“Se a mãe quer beber, não beber muito ou dar de mamar e depois beber…minha amiga enfermeira é
que me falou” (E7)
“Por mim a mulher que amamenta devia parar de beber de vez, e nunca mais voltar a beber…uma
mulher não lhe merece beber…deve procurar ajuda” (E7, E26, E32, E40)
28
e o ritmo da eliminação do álcool no sangue e no leite são individuais. Assim, após algumas
horas do consumo de álcool, as mulheres não devem amamentar58.
29
5.CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objectivo principal analisar o conhecimento, atitudes e
práticas sobre o consumo de álcool durante a lactação no Centro de Saúde 25 de Setembro,
Nampula. Portanto, das 46 participantes, a maioria da religião muçulmana, com idades
compreendidas entre os 16 aos 46 anos de idade, onde a faixa etária predominante era de 25 –
35 anos, a maior parte das participantes tinha concluído a 7a classe, neste caso o nível
primário, e tinham uma renda mensal de entre 1 e 2 salários mínimos.
O consumo de álcool por estas lactantes não é notório, isto pode ser pelo facto de este
comportamento ainda ser um tabu em Moçambique. E segundo as participantes, na sua
maioria não concorda que o consumo de álcool durante a lactação tenha alguma desvantagem
para o bebé, assim como para a lactante.
Porém, a consequência que o consumo de álcool traz para as mães e suas crianças,
durante a lactação, é o vício e este vício acarreta outras consequências futuras para a lactante,
assim como para o lactente, como é o caso cirrose hepática e o atraso psicomotor.
30
6.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Atheneu; 2011. p.193-204.
35
APÊNDICES
36
Apêndice A: Termo de Consentimento Livre e Informado
UNIVERSIDADE LÚRIO
FACULDADE DE CIÊNCIAS DE SAÚDE
LICENCIATURA EM NUTRIÇÃO
Autora do estudo: Rita Félix Cajomba, estudante do Curso de Nutrição Endereço: Bairro de
Namutequeliua, Contacto: 844530233: correio electrónico: RitaCajomba@gmail.com
Este estudo foi elaborado com vista a obtenção do grau de licenciatura em Nutrição na
Universidade Lúrio, tendo como tema: conhecimento, atitudes e práticas sobre o consumo
de álcool durante a lactação no Centro de Saúde 25 de Setembro, Nampula, 2022.
Deste modo gostaria de convidá-la a participar do estudo, que vai consistir no preenchimento
de uma ficha com dados pessoais e posteriormente realização de uma entrevista.
Ao participar do estudo a senhora não terá nenhum custo ou vantagem financeira, o mesmo
não proporciona nenhum risco para ti, apenas será pedido um pouco do seu tempo e paciência
para fornecer a informação solicitada agradecendo se desde já que responda com máximo
rigor e honestidade. Será esclarecida sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar e está
livre para participar ou recusar-se a participar. Poderá retirar seu consentimento ou
interromper a participação a qualquer momento. Não serão mencionados os nomes das
participantes no estudo.
Entrevistada Entrevistadora
_________________________ __________________________
37
Apêndice B: Guião de entrevista
UNIVERSIDADE LÚRIO
FACULDADE DE CIÊNCIAS DE SAÚDE
LICENCIATURA EM NUTRIÇÃO
GUIAO DE ENTREVISTA
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Se sim, porque?______________________________________
• Quais são os motivos ou razões que te levam a consumir álcool?
R: _____________
• O que sente após o consumo de bebidas alcoólicas?
R: _______________________
2.Qual é a quantidade de álcool que consome?
R: __________________________________________
3.Quais são as vantagens do consumo de álcool?
R:_________________________
4. Quais são as consequências do consumo do álcool para si?
R: ______________________________________________________
5.Quais são as consequências do consumo do álcool para o bebe?
R: ___________________________________________________________________
6.Desde o início da lactação, que informações lhe foram transmitidas sobre o consumo de
álcool na mulher que amamenta?
R:___________________________________________________________________
7. Em que situação recebeu informações relacionada com o consumo de álcool na lactação?
_____________________________________________
.Tem alguma sugestão para o consumo de álcool?
R: ________________________________
39
ANEXOS
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Anexo I: Credencial
41