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BEIRA
Setembro, 2022
UNIVERSIDADE ZAMBEZE
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
BEIRA
Setembro, 2022
ÍNDICE
RESUMO ....................................................................................................................... IV
ABSTRACT .....................................................................................................................V
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... VI
LISTA DE TABELAS ................................................................................................... IX
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURA ...................................................................... XI
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
Estrutura do trabalho ........................................................................................................ 2
CAPITULO I: MARCO TEÓRICO ................................................................................. 3
1.0 Introdução .............................................................................................................. 3
1.1 Descrição de mecanismos de degradação e estabilização de matéria orgânica .......... 3
1.1.1 Matéria orgânica ...................................................................................................... 3
1.1.2 Mecanismos de degradação e estabilização de matéria orgânica ............................ 4
1.1.2.1 Parâmetros de avaliação da matéria orgânica. ...................................................... 6
1.1.2.1.1 CBO (Carência Bioquímica de Oxigénio). ........................................................ 7
1.1.2.1.2 CQO (Carência Química de Oxigénio). .......................................................... 10
1.1.2.1.3 COT (Carbono Orgânico Total). ..................................................................... 11
1.1.2.1.4 Avaliação da biodegrabilidade da matéria orgânica ........................................ 11
1.1.2.2 Oxigénio dissolvido em água ............................................................................. 11
1.1.2.2.1 Importância nos estudos de controlo de qualidade das águas. ........................ 13
1.1.2.3 Azotos e compostos azotados ............................................................................. 14
1.2 Descrição de tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de
nutrientes: N-nitrogénio (biológico) e P-fosforo (químico e biológico); (intensivo ou
extensivo). ...................................................................................................................... 16
1.2.1 Descrever tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de nutriente:
N-nitrogénio (biológico) ................................................................................................. 16
1.2.1.1 Processo de lodo ativado .................................................................................... 16
1.2.1.1.1 Variantes do processo de lodo ativado ............................................................ 18
1.2.1.1.2 Divisão quanto ao regime hidráulico do reator biológico................................ 18
1.2.1.1.3 Divisão quanto à idade do lodo ....................................................................... 19
1.2.1.1.4 Reatores de altíssima taxa (fluxo contínuo)..................................................... 19
1.2.1.1.5 Reatores de alta taxa (fluxo contínuo). ............................................................ 19
1.2.1.1.6 Reatores de baixa taxa (fluxo contínuo). ......................................................... 20
I
1.2.1.1.7 Remoção de nitrogênio no processo de lodo ativado....................................... 22
1.2.1.1.7.1 Balanço de Massa de Material Nitrogenado ................................................. 22
1.2.1.1.7.2 Forma e reações de material Nitrogenado .................................................... 22
1.2.1.1.7.3 Processo de Nitrificação ............................................................................... 23
1.2.1.1.7.4 Processo de desnitrificação ........................................................................... 24
1.2.1.2 Principais processos de remoção de nitrogênio com biomassa em suspensão ... 25
1.2.1.2.1 Sistema de lodo ativado com pré-desnitrificação ............................................ 25
1.2.1.2.2 Sistema de lodo ativado com pós-desnitrificação. ........................................... 26
1.2.1.2.3 Sistema de lodo ativado Bardenpho. ............................................................... 27
1.2.1.2.4 Sistema de lodo ativado UCT (University of Cape Town).............................. 28
1.2.2 Descrever tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de nutriente:
P-Fosforo (químico e biológico)..................................................................................... 29
1.2.2.1 Remoção de fosforo por precipitação química. .................................................. 29
1.3 Descrever tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de compostos
orgânicos: carvão ativado. .............................................................................................. 32
1.3.1 Processo de Adsorção em Carvão Ativado. .......................................................... 32
1.4 Descrever a tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de sólidos
suspensos: Microfiltração, membranas e nanofiltracao. ................................................. 34
1.4.1 Processos de membranas. ...................................................................................... 34
1.4.1.1 Mecanismo de remoção de poluentes por membranas. ...................................... 34
1.4.1.1.1 Colmatação das membranas. ........................................................................... 38
1.4.1.1.1 Eficiência dos processos de membranas. ......................................................... 39
1.4.1.1.2 Características especificas da MF, UF, NF OI. ............................................... 42
1.4.1.1.3 Requisitos de O & M. ...................................................................................... 44
1.4.1.1.3.1 Operação. ...................................................................................................... 44
1.4.1.1.3.2 Pré-tratamento do afluente............................................................................ 44
1.4.1.1.3.3 Lavagem de membranas. .............................................................................. 45
1.4.1.1.3.4 Manutenção. ................................................................................................. 47
1.5 Descrever a tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de sólidos
inorgânicos dissolvidos: osmose reversa e troca iónica. ................................................ 48
1.5.1 Osmose reversa ...................................................................................................... 48
1.5.2 Troca iónica ........................................................................................................... 50
1.5.2.1 Resina Catiónica: C.F.A ..................................................................................... 52
1.5.2.2 Resina Anionicas Forte: C.F.B ........................................................................... 52
1.5.2.3 Resina Catiónica Fracamente Acida: C.f.A ........................................................ 53
1.5.2.4 Resina Anionica Fracamente Basica: C.f.B ....................................................... 53
II
1.6 Descrição de dimensionamento de fossa séptica para tratamento de esgoto
domestico segundo NBR 7229 / 1993. ........................................................................... 53
1.7 Dimensionamento de um protótipo de fossa séptica para tratamento domestica. .... 54
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 59
ANEXO I: Variacao de OD em agua pura, com a salinidade, adaptado (MONTE et al,
2016). .............................................................................................................................. 61
ANEXO II: Tabela dos coeficientes e valores corresponde tentes para determinação do
volume útil total do tanque ou fossa séptica. .................................................................. 62
a) Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de prédio e de
ocupante. (NBR 7229, 1993). ......................................................................................... 62
ANEXO III: Detalhes e dimensões de um tanque séptica. (NBR 7229, 1993). ............. 64
ANEXO IV: Dimensões do tanque ou fossa séptica. (NBR 7229, 1993). ..................... 65
III
RESUMO
Os microrganismos que escapam nos tratamentos de águas residuais por meios primários
e secundários devem ser removidos por tecnologias de tratamentos de águas residuais do
terceiro nível, no entanto este trabalho cinge-se essencialmente no desdobramento de
mecanismos de degradação e estabilização de matéria orgânica, tecnologia de tratamento
terciário de afluentes de remoção de nutrientes: N-nitrogénio (biológico) e P-fosforo
(químico e biológico); (intensivo ou extensivo), tecnologia de tratamento terciário de
afluentes de remoção de compostos orgânicos: carvão ativado, tecnologia de tratamento
terciário de afluentes de remoção de sólidos suspensos: Microfiltração, membranas e
nanofiltração, tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de sólidos
inorgânicos dissolvidos: osmose reversa e troca iónica, descrição de dimensionamento de
fossa séptica para tratamento de esgoto doméstica segundo Norma Brasileira 7229 / 1993
e dimensionamento de um protótipo de fossa séptica para tratamento domestico. A
residência localiza-se na Cidade da Beira, Rua de Sofala, 6° bairro esturro, para satisfazer
um total de 5 contribuintes, com uma contribuição de despejos de 100 litro / pessoa e um
período de detenção de 1 dia, atendendo a taxa de acumulação de lodo 217 dias e
contribuição de lodo fresco de 1 litro / pessoa, considerando que a limpeza será realizado
em um intervalo de 5 anos e uma temperatura media do ambiente maior que °C, permitiu
chegar a dimensionar um volume útil total de 2585 litros por meio da metodologia
estipulada pela Norma Brasileira 7229 / 1993 atendendo a configuração geométrica do
tanque ou fossa séptica cilíndrica com diâmetro D= 1,50 m e altura H=1,80 m.
IV
ABSTRACT
The microorganisms that escape in the wastewater treatments by primary and secondary
means must be removed by third-level wastewater treatment technologies, however this
work is essentially limited to the unfolding of mechanisms of degradation and
stabilization of organic matter, technology of tertiary treatment of nutrient removal
effluents: N-nitrogen (biological) and P-phosphorus (chemical and biological); (intensive
or extensive), tertiary influent treatment technology to remove organic compounds:
activated carbon, tertiary influent treatment technology to remove suspended solids:
Microfiltration, membranes and nanofiltration, tertiary influent treatment technology to
remove inorganic solids dissolved substances: reverse osmosis and ion exchange,
description of septic tank design for domestic sewage treatment according to Brazilian
Standard 7229 / 1993 and design of a septic tank prototype for domestic treatment. The
residence is located in Cidade da Beira, Rua de Sofala, 6th esturro neighborhood, to
satisfy a total of 5 taxpayers, with an eviction contribution of 100 liters / person and a
detention period of 1 day, taking into account the sludge accumulation 217 days and fresh
sludge contribution of 1 liter / person, considering that the cleaning will be carried out in
an interval of 5 years and an average temperature of the environment greater than °C,
allowed to reach a dimension of a total useful volume of 2585 liters through the
methodology stipulated by the Brazilian Standard 7229 / 1993, taking into account the
geometric configuration of the tank or cylindrical septic tank with diameter D=1.50 m
and height H=1.80 m.
V
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1: Esquema da oxidação aeróbia da matéria orgânica, adaptada (Crites &
Tchobanoglous1998).…………………...…………………………………………….…6
Figura 1.2: Esquema da oxidação aeróbia da matéria orgânica, adaptada (Metcalf & Eddy,
2003)………………………………………………………………………………..……9
Figura 1.3: Simbiose entre bactérias e algas em lagoas de estabilização (JORDÃO &
PESSOA, 2010)………………………………………………………………………...13
Figura 1.5: Esquema das unidades da etapa biológica do sistema de lodo ativado, adaptado
(VON SPERLING, 2002)…………………………………………………………....…13
Figura 1.6: Representação esquemática das formas e das possíveis reações do material
nitrogenado no sistema de lodo ativado. Fonte: (VAN HAANDEL e MARAIS
1999)…………………………………………………………………………...……….23
Figura 1.12: Dosagem de cal em função da alcalinidade da ARU, Adaptado. (Metcalf &
Eddy, 2014)…………………………………………………………………………..…30
VI
Figura 1.14: Esquema da separação de poluentes por membranas. (MONTE et al,
2016)……………………………………………………………………………...…….36
Figura 1.19: Modos de operação: a) fluxo perpendicular (dead end flow) e b) fluxo
tangencial (cross flow). (MONTE, 2016)……………………………………………….40
Figura 1.23: Variação do fluxo de permeado numa membrana a operar a PTM constante
– sem lavagem e com lavagem em contracorrente, adaptado (Friedrich & Pinnekamp,
2006)…………………………………………………………………………………....47
VII
Figura 1.28: Localizacao da residência, adaptada (Google Earth Pro, 2022)…………..55
VIII
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.3: Principais características dos sistemas de lodos ativados utilizados para o
tratamento de esgotos domésticos, Adaptada parcialmente (ALEM SOBRINHO e
KATO, 1999, ALEM SOBRINHO, 2001, ALEM SOBRINHO e JORDÃO,
2001)…………………………………………………………………………………....21
Tabela 1.4.: Taxa de desnitrificação por miligrama de sólidos suspensos voláteis por dia,
em sistemas de lodo ativado com pré-desnitrificação e pós-desnitrificação. (apud
SPERLING, 1997 (ECKENFELDER & ARGAMAN, 1978; ARCEIVALA, 1981;
METCALF E EDDY, 1991 e EPA, 1993)……………………………………………....27
Tabela 1.12: Dados climatológicos para Cidade da Beira 1991 - 2021. (Climate-Data.Org,
a cessado em 13/06/2022)………………………………………………………………55
Tabela 1.13: Resumo de calculo de volume útil total da fossa ou tanque séptico.
Elaboração própria……………………………………………………………………...56
IX
Tabela 1.14: Resumo de cálculo de dimensões da fossa ou tanque séptico. Elaboração
própria……………………………………………………………..…….……………...56
X
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURA
AR – Água Residual
OD – Oxigénio Dissolvido
ST – Solidos Totais
XI
EPT – Efluente do tratamento primário.
EBT – Efluente do tratamento biológico (antes da clarificação).
EST – Efluente do tratamento secundário (após a clarificação).
RW – Efluente bruto.
MF – Microfiltração
UF – Ultrafiltracao
NF – Nanofiltracao
OI – Osmose inversa
PTM – Pressão transmembranar
PO pressão osmótica
SDT – Sólidos Dissolvidos Totais
C.F.A – Catiônica fortemente ácida
C.f.A – Catiônica fracamente ácida
A.f.B – resinas fracamente básicas
XII
INTRODUÇÃO
Após o tratamento dos níveis preliminares, primários e secundários, alguns micro-organismos não
visíveis a olho nu passam e continuam dispersas nas águas residuais, quando não tratadas podem
levar a carência bioquímica de oxigénio, carência química de oxigénio, existência de sólidos
sedimentares, nitrogénio biológico, fosforo químico e biológico, compostos inorgânicos
dissolvidos, compostos orgânicos entre outros, no entanto a uma grande necessidade de se introduzir
o tratamento do terceiro nível de modo a remove-los e evitar problemas para o ambiente. Este
trabalho tem como objetivos descrever a tecnologia de tratamento terciário de afluentes e
dimensionar um protótipo de fossa séptica para tratamento doméstico no entanto para
concretizar este objetivo foram delimitadas seis atividades, denominadas por objetivos específicos:
Estrutura do trabalho
Este trabalho desenvolve-se em um capítulo fundamental, sendo concernente ao marco teórico onde
realiza-se desdobramento de mecanismos de degradação e estabilização de matéria orgânica,
tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de nutrientes: N-nitrogénio (biológico)
e P-fosforo (químico e biológico); (intensivo ou extensivo), tecnologia de tratamento terciário de
afluentes de remoção de compostos orgânicos: carvão ativado, tecnologia de tratamento terciário
de afluentes de remoção de sólidos suspensos: Microfiltração, membranas e nanofiltração,
tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de sólidos inorgânicos dissolvidos:
osmose reversa e troca iónica, descrição de dimensionamento de fossa séptica para tratamento de
esgoto domestica segundo NBR 7229 / 1993 e dimensionamento de um protótipo de fossa séptica
para tratamento domestica.
2
CAPITULO I: MARCO TEÓRICO
1.0 Introdução
Este capitulo cinge-se essencialmente nos conceitos fundamentais de mecanismos de degradação e
estabilização de matéria orgânica, tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de
nutrientes: N-nitrogénio (biológico) e P-fosforo (químico e biológico); (intensivo ou extensivo),
tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de compostos orgânicos: carvão ativado,
tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de sólidos suspensos: Microfiltração,
membranas e nanofiltração, tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de sólidos
inorgânicos dissolvidos: osmose reversa e troca iónica, descrição de dimensionamento de fossa
séptica para tratamento de esgoto domestica segundo NBR 7229 / 1993 e dimensionamento de um
protótipo de fossa séptica para tratamento domestica.
Conforme MONTE et al (2016), no contexto desta definição, entre os compostos orgânicos de maior
interesse biológico e comercial podem citar-se os produtos petrolíferos, a borracha, os plásticos e
fibras sintéticas, os antibióticos e as vitaminas, os fertilizantes agrícolas, os pesticidas, os açúcares,
os corantes, as tintas, etc. Praticamente todas estas substâncias estão presentes nas AR.
MONTE et al (2016), acrescenta ainda que a maioria dos compostos biodegradáveis presentes nas
AR são proteínas, glúcidos e lípidos. Tipicamente, as AR contêm 40 a 60 % de proteínas, 25 a 50
% de glúcidos e cerca de 10 % de lípidos (incluindo gorduras e óleos).
3
Para MONTE et al (2016), as proteínas são grupo de substâncias constitui o “material de
construção” mais comum de todos os organismos. Integradas por unidades construtivas menores –
os aminoácidos –, as proteínas possuem estruturas complexas, e pesos moleculares muito variados,
que podem atingir valores elevadíssimos. Há proteínas solúveis e insolúveis na água, pelo que são
substâncias passíveis de diferentes vias de decomposição. Todas as proteínas contêm carbono,
elemento comum à generalidade das substâncias orgânicas, assim como hidrogénio e oxigénio,
sendo caraterístico das proteínas a presença de azoto (cerca de 14 – 16 %). O fósforo, o ferro e o
enxofre estão também presentes em diversas proteínas. A ureia e as proteínas são as principais
fontes de azoto nas águas residuais domésticas. Se houver quantidades significativas de proteínas
nas águas residuais, a sua decomposição é suscetível de gerar odores nauseabundos.
Segundo MONTE et al (2016), os glúcidos, por vezes designados por glícidos, por carbohidratos
ou por hidratos de carbono, são compostos ternários de C, H e O, amplamente distribuídos na
natureza. Incluem açúcares, amidos, celulose e outras fibras. Entre os glúcidos ocorrem compostos
solúveis e insolúveis na água.
4
Segundo MONTE et al (2016), os produtos finais mais relevantes da oxidação da matéria orgânica
por ação de bactérias aeróbias, cujo metabolismo exige a presença de oxigénio livre O2 (que
funciona como aceitador final de eletrões) são: CO2 , H2 O, NO3− e SO2−
4 . MONTE et al (2016),
acrescenta se a decomposição da matéria orgânica for efetuada na ausência de oxigénio, por ação
de bactérias anaeróbias, a degradação decorre muito mais lentamente, segundo processos assaz
complexos, sendo os seguintes os produtos finais do processo: CH4 , NH3 , H2 𝑆, álcoois e outros. É
possível distinguir três processos mais ou menos distintos que se desenrolam no decurso da
degradação ou estabilização dos poluentes orgânicos das águas:
Uma parcela da matéria orgânica é oxidada pelos microrganismos até à formação dos
produtos finais da reação, com a finalidade de se obter energia para as células suportarem o
seu metabolismo (expressão 1.0)
Ao mesmo tempo, outra parte da matéria orgânica é transformada em novo tecido celular
(expressão 1.1), num processo que recorre a parte da energia libertada durante a oxidação;
Finalmente o novo tecido celular (ou as novas células) consome parte de si próprio com a
finalidade de produção de energia de manutenção metabólica. Chama-se respiração
endógena (ou auto-oxidação) a esta terceira etapa (expressão 1.2)
Para MONTE et al (2016), no caso da estabilização aeróbia, estas três fases podem ser
traduzidas pelas expressões 1.0 a 1.3.
Oxidação
COHNS + O2 + bactérias → CO2 + H2 O + NH3 , + outros produtos finais (1.0)
Respiração endógena
C5 H7 NO2 + 5O2 → 5CO2 + NH3 , + 2H2 O (1.3)
Conforme MONTE et al (2016), a matéria orgânica genericamente por COHNS (que expressa os
elementos carbono, oxigénio, hidrogénio, azoto e enxofre) e o termo C5 H7 NO2 para representar o
tecido celular, os três processos referidos podem representar-se conforme a Figura 1.1, no caso de
o processo ser aeróbio.
MONTE et al (2016), acrescenta é importante salientar que nem todas as substâncias orgânicas são
igualmente oxidáveis pelos microrganismos (durante iguais intervalos de tempo), apresentando
5
graus e ritmos de decomposição diferentes, por outras palavras, são diferentemente biodegradáveis.
Um composto terá uma alta biodegradabilidade se for facilmente oxidável/degradável pelos
microrganismos e uma baixa biodegradabilidade, em caso contrário. Intrinsecamente, a
biodegradabilidade depende da estrutura química dos compostos, designadamente da localização
dos átomos de carbono na molécula: verifica-se que os hidrocarbonetos de cadeia linear são mais
fáceis de biodegradar do que os de cadeia mais ramificada.
Figura 1.1: Esquema da oxidação aeróbia da matéria orgânica, adaptada (Crites & Tchobanoglous, 1998)
Para MONTE et al (2016), Cada um destes parâmetros avalia a quantidade de matéria orgânica
oxidável. Porém, fornecem informação diferente, que em certa medida se completa, pelo que
geralmente é insuficiente a determinação de apenas um destes parâmetros.
6
Conforme MONTE et al (2016), a oxidação bioquímica e a oxidação química dos compostos
orgânicos estão na base dos parâmetros pelos quais avaliamos a matéria orgânica presente nas
águas: a CBO baseia-se na oxidação bioquímica, enquanto a CQO se baseia na oxidação química
da matéria orgânica.
Para MONTE et al (2016), este parâmetro constitui, pois, uma avaliação indireta da matéria
orgânica biodegradável presente numa água (hidratos de carbono, proteínas, gorduras), na medida
em que o que é medido experimentalmente é o consumo de oxigénio, o qual é proporcional à
quantidade de matéria orgânica que foi oxidada bioquimicamente.
Segundo MONTE et al (2016), A CBO20 . também se representa por CBOu , significando que se trata
da Carência Bioquímica de Oxigénio Última ou seja, toda a matéria orgânica é oxidável
bioquimicamente. Nesta oxidação bioquímica os microrganismos naturalmente presentes na água
vão utilizar oxigénio para metabolizar a matéria orgânica e necessitam de nutrientes para realizar
essa sua ação metabólica (expressão 1.4).
𝑛+𝑎 𝑏 3 𝑎 3
Cn Ha Ob N2 +( − 2 − 4𝑐) O2 →nCO2 +(2 − 2𝑐) H2 O+cNH3 , (1.4)
4
Para MONTE et al (2016), no caso de águas muito pobres nestes elementos nutrientes, como certos
efluentes industriais, poderá ser necessário adicioná-los à água. Analogamente, poderá ser
7
necessário proceder à inoculação da amostra com microrganismos (também designada por
sementeira) se a mesma os não contiver naturalmente em quantidade suficiente. Geralmente utiliza-
se o esgoto doméstico e/ou urbano para proceder a esta inoculação.
Conforme MONTE et al (2016), apesar de largamente utilizado, o parâmetro CBO tem algumas
limitações no que se refere ao seu significado ambiental, a principal das quais deriva da
circunstância de o oxigénio poder ser metabolicamente consumido não apenas na oxidação de
compostos orgânicos carbonados, mas caso existam bactérias nitrificantes presentes, ser utilizado
também na oxidação bioquímica de compostos inorgânicos azotados, como a amónia, que é
sucessivamente oxidada a nitrito e a nitrato Consequentemente, um valor elevado de CBO nem
sempre representa um elevado valor de matéria orgânica, pois pode englobar o consumo adicional
de oxigénio na oxidação de matéria inorgânica, por ação de bactérias nitrificantes.
Para MONTE et al (2016), é assim possível distinguir duas fases na oxidação bioquímica de
compostos orgânicos: primeiro oxidam-se os compostos carbonados que não contenham azoto,
processo que pode estender-se por cerca de 20 dias, mas que fica quase completo em 5 dias e que
corresponde à chamada CBO carbonada, representada por CBOc ; na segunda, oxidam-se os
compostos orgânicos azotados, os quais são sucessivamente oxidados a amónia, a nitritos e a
nitratos, correspondendo à CBO azotada, i.e. CBON . A Figura 1.2 traduz a CBO correspondente à
CBOc (ou simplificadamente apenas à CBO) e à CBON .
Conforme APHA et al (2005), geralmente a CBO5 não é afetada da incerteza relativa à CBON , dado
que as bactérias nitrificantes se multiplicam a uma taxa lenta, requerendo 6 a 10 dias para atingir
número suficiente para exercer uma CBON mensurável. Além disso, é possível suprimir a
interferência causada pelas reações de nitrificação no teste da CBO, através do pré-tratamento da
amostra de água por adição de agentes inibidores da atividade das bactérias nitrificantes, como a 2-
cloro-6-(triclorometil) piridina.
8
Figura 1.2: Esquema da oxidação aeróbia da matéria orgânica, adaptada (Metcalf & Eddy, 2003)
Para MONTE et al (2016), geralmente a carga poluente das AR é tão elevada que a matéria orgânica
biodegradável presente consome todo ou quase todo o OD, pelo que é necessário fazer a diluição
desta com uma outra água não poluída, denominada “água de diluição”, sendo este método analítico
designado pelo método das diluições. Na tabela 1.1 encontram-se as diversas gamas de diluição
utilizadas na determinação de CBO.
Figura 1.1: Percentagem de diluição da CBO5. , adaptada (Metcalf & Eddy, 2003).
Segundo MONTE et al (2016), a uma determinada temperatura, cada composto orgânico é oxidado
bioquimicamente a uma determinada velocidade. Estando presentes milhares de compostos
orgânicos nas AR, assume-se que a sua oxidação bioquímica se processa a uma velocidade k, que
é proporcional à concentração de CBOt presente na água no instante t, a qual será progressivamente
menor à medida que essa oxidação bioquímica se vai processando, o que se traduz pela expressão
1.5, que representa uma reação de 1ª ordem.
d(CBO)
dt
= K(CBO)t (1.5)
9
Onde:
t – tempo (d).
Segundo MONTE et al (2016), apartir da expressão 1.5, desde que se disponha de um valor de
CBO𝑡 determinado experimentalmente, é possível calcular a CBOU, de acordo com a expressão 1.6.
k t = k 20 θ (T−20) (1.7)
Onde:
ϴ – coeficiente de Arrhenius
Segundo MONTE et al (2016), a expressão 1.7 de Arrhenius mostra que o valor de k cresce de cerca
de 2 % por cada grau de elevação da temperatura. Efetivamente, ao fim de um dia e à temperatura
de 20 °C, oxida-se 20,6 % da matéria orgânica.
10
Segundo MONTE et al (2016), para uma mesma água, os valores de CQO são geralmente mais
elevados que os de CBO, pois o dicromato oxida quimicamente a matéria orgânica biodegradável e
a não biodegradável. Teoricamente, numa água em que todos os compostos orgânicos são fácil e
igualmente biodegradáveis, os valores de CBO e de CQO são iguais.
Segundo MONTE et al (2016), no caso das ARD, a razão CBO5/CQO pode variar entre 0,42 e 0,59
(Sperling, 2007), sendo usual utilizar o valor de 0,5. Dependendo do valor da razão CBO/CQO é
possível tirar conclusões sobre a biodegradabilidade de uma AR:
CBO/CQO elevada (maior que 0,5), a fração biodegradável é grande, sendo um bom
indicador para aplicação do tratamento biológico;
CBO/CQO intermédia (0,3 a 0,5), a fração inerte ou não biodegradável é elevada, devendo
ser efetuados estudos para determinar se é viável a aplicação de tratamentos biológicos;
CBO/CQO baixa (menor que 0,3), a fração não biodegradável é muito elevada, possível
indicação para aplicação de tratamentos físicos-químicos.
Conforme MONTE et al (2016), no que concerne às ARU, elas são normalmente biodegradáveis,
embora o aparecimento de novos produtos, tais como os corantes, estabilizantes, produtos
tensioativos, conservantes, oxidantes, pesticidas e outras substâncias tóxicas, entre outros, possam
alterar essa biodegradabilidade.
11
ambiental da água, por dois motivos principais: a possibilidade de formação de óxidos com quase todos os
elementos; e o seu papel no ciclo biogeoquímico do carbono, através do metabolismo dos seres vivos, tanto
no que se refere à oxidação da matéria orgânica, como à produção do próprio oxigénio por fotossíntese a
partir do CO2 .
Conforme JORDÃO e PESSOA (2010), outra fonte importante de oxigênio nas águas é a
fotossíntese de algas, este fenômeno ocorre em maior extensão em águas poluídas ou, mais
propriamente, em águas eutrofizadas, ou seja, aquelas em que a decomposição dos compostos
orgânicos lançados levou à liberação de sais minerais no meio, especialmente os de nitrogênio e
fósforo que são utilizados como nutrientes pelas algas. Esta fonte não é muito significativa nos
trechos iniciais de rios à jusante de fortes lançamentos de esgotos. A turbidez e a cor elevadas
dificultam a penetração dos raios solares e apenas poucas espécies resistentes às condições severas
de poluição conseguem sobreviver. A contribuição fotossintética de oxigênio só é expressiva após
grande parte da atividade bacteriana na decomposição de matéria orgânica ter ocorrido, bem como
após terem se desenvolvido também os protozoários que, além de decompositores, consomem
bactérias clarificando as águas e permitindo a penetração de luz.
12
Para JORDÃO e PESSOA (2010), este efeito pode “mascarar” a avaliação do grau de poluição de
uma água, quando se toma por base apenas a concentração de oxigênio dissolvido. Sob este aspecto,
águas poluídas são aquelas que apresentam baixa concentração de oxigênio dissolvido (devido ao
seu consumo na decomposição de compostos orgânicos), enquanto que as águas limpas apresentam
concentrações de oxigênio dissolvido elevadas, chegando até a um pouco abaixo da concentração
de saturação. No entanto, uma água eutrofizada pode apresentar concentrações de oxigênio bem
superiores a 10 mg/L, mesmo em temperaturas superiores a 20°C, caracterizando uma situação de
supersaturação. Isto ocorre principalmente em lagos de baixa velocidade, onde chegam a se formar
crostas verdes de algas à superfície.
Para JORDÃO e PESSOA (2010), nas lagoas de estabilização fotossintéticas, usadas para o
tratamento de esgotos, recorre-se a esta fonte natural de oxigênio para a decomposição da matéria
orgânica pelos microrganismos heterotróficos que, por sua vez, produzem gás carbônico que é
matéria prima para o processo fotossintético. Esta simbiose pode ser representada pelo esquema da
figura 1.3.
Figura 1.3: Simbiose entre bactérias e algas em lagoas de estabilização (JORDÃO & PESSOA, 2010)
Conforme JORDÃO e PESSOA (2010), Existem outros processos de tratamento de esgotos em que
a aeração do meio é feita artificialmente, empregando-se areadores superficiais eletromecânicos ou
máquinas sopradoras de ar em tubulações contendo difusores para a redução do tamanho das bolhas.
Novos sistemas de aeração vêm sendo continuamente desenvolvidos. São utilizados também
processos em que, ao invés de aeração, introduz-se oxigênio puro diretamente no reator biológico.
Para JORDÃO e PESSOA (2010), nos reatores anaeróbios de tratamento de esgotos ou lodos, o
oxigênio dissolvido na água exerce efeito tóxico sobre as metanobactérias, devendo ser evitado. Isto
faz com que a maioria dos reatores seja fechada. Também as elevadas cargas orgânicas aplicadas
garantem condições de anaerobiose. Em reatores que utilizam meio suporte inerte inserido
artificialmente para a formação de “películas biológicas” ou “biofilmes” e nos reatores com mantos
de lodo, onde se formam grânulos, estas estruturas naturais do próprio processo de tratamento
dificultam a entrada de oxigênio.
Para MONTE et al (2016), as diversas formas em que o azoto se apresenta são transformáveis umas
nas outras, na sequência do ciclo do azoto (ver figura 1.4), com algumas fases acionadas por
microrganismos, dos quais se destacam as bactérias nitrificantes e desnitrificantes.
15
Segundo MONTE et al (2016), em solução aquosa o azoto amoniacal existe em duas formas – o ião
amónio NH4+ ;e o amoníaco NH3 que são reciprocamente intermutáveis, em função do pH da
solução, de acordo com a expressão 1.8.
Para MONTE et al (2016), os nitratos são a forma mais oxidada de azoto presente nas AR. O ião
nitrito existe geralmente em pequenas concentrações, dada a sua instabilidade e propensão para ser
oxidado a nitrato ou reduzido a amónio, consoante a presença ou ausência de OD na água, mas a
sua toxicidade é mais elevada do que outras formas de azoto, sendo mesmo tóxico para as plantas
e para a vida aquática em geral.
formas orgânicas, sendo também muito comum a determinação do chamado azoto Kjeldahl total
(NKT = N-org + N-NH4), parâmetro que constitui uma aproximação do azoto total (N-tot), pois
apenas não inclui o N-NO3 e o N-NO2 .
Segundo VON SPERLING (2002), o processo de lodo ativado são sistemas biológicos amplamente
utilizados para o tratamento de despejos domésticos e industriais, em nível mundial, devido,
principalmente à qualidade do efluente e os baixos requisitos por área, além da possibilidade de se
16
variar alguns processos. No entanto, o sistema de lodo ativado inclui um índice de mecanização
superior ao de outros sistemas de tratamento, implicando em uma operação mais sofisticada e em
maiores consumos de energia elétrica. A Figura 1.5 mostra as unidades que são partes integrantes da
etapa biológica do sistema de lodo ativado:
Figura 1.5: Esquema das unidades da etapa biológica do sistema de lodo ativado, adaptado (VON SPERLING, 2002)
Conforme VAN HAANDEL e MARAIS (1999), devido à recirculação dos sólidos, estes
permanecem no sistema por um tempo superior ao do líquido. O tempo de retenção dos
sólidos é denominado idade do lodo, ou seja, a idade de lodo representa o tempo médio que
uma partícula de lodo permanece no sistema, e pode ser determinada pela razão: massa de
lodo no reator pela massa de lodo descarregada diariamente (grosseiramente dividindo-se a
quantidade de lodo (seco) contida no tanque de aeração pela quantidade diária de lodo (seco)
retirada do sistema como lodo em excesso). É o parâmetro fundamental para o
dimensionamento e operação de sistemas de lodo ativado. Ainda, no tanque de aeração,
devido à entrada contínua de alimento, na forma de DBO dos esgotos, os microrganismos
17
crescem e se reproduzem continuamente. Para manter o sistema em equilíbrio, é necessário
que se retire aproximadamente a mesma quantidade de biomassa que é aumentada por reprodução.
Este é, portanto o lodo biológico excedente, que pode ser extraído diretamente do tanque de aeração
ou da linha de recirculação.
-Fluxo contínuo
-Fluxo intermitente (batelada)
-Esgoto bruto
-Efluente de decantador primário
-Efluente de reator anaeróbio
-Efluente de outro processo de tratamento de esgotos
Segundo VAN HAANDEL e MARAIS, 1999; VON SPERLING, 2002). Quanto ao regime
hidráulico do reator biológico, existe o sistema de mistura completa no qual o reator tem as
dimensões largura e comprimento igual, e o sistema pistonado, no qual o comprimento do
tanque de aeração é bem maior que a largura. O reator de mistura completa que é o nosso
caso, tem as vantagens de promover uma distribuição homogênea de oxigênio, possibilitando
18
um melhor controle na concentração de OD no licor misto, promovendo um ambiente mais
estável para ocorrência da NDS. O sistema de mistura completa apresenta uma boa
capacidade de absorver cargas tóxicas instantâneas e amenizar variações de cargas orgânicas,
pois essas se diluem rápida e uniformemente no conteúdo do tanque de aeração. No sistema
pistonado a carga orgânica é consumida ao longo do comprimento do mesmo, necessitando
gradualmente menos oxigênio dissolvido. A redução gradual de consumo de oxigênio
dissolvido pode ser atendida aplicando-se uma aeração maior no ponto de entrada do esgoto
e diminuindo-a ao longo do tanque de aeração, (Processo de Aeração Escalonada ou Aeração
Decrescente).
1.2.1.1.3 Divisão quanto à idade do lodo
Segundo VON SPERLING (2002), os sistemas de lodo ativado podem ser classificados, em
função da idade do lodo, em uma das seguintes principais categorias, conforme Tabela 1.2.
Tabela 1.2: Classificação do sistema de lodo ativado em função da idade do lodo, Adaptada (VON SPERLING, 2002).
Tabela 1.3: Principais características dos sistemas de lodos ativados utilizados para o tratamento de esgotos domésticos, Adaptada
parcialmente (ALEM SOBRINHO e KATO, 1999, ALEM SOBRINHO, 2001, ALEM SOBRINHO e JORDÃO, 2001).
Modalidade
Item geral Item específico Aeração UASB-lodos
Convencional
prolongada ativados
Idade do lodo Idade do lodo (d-1) 4-10 18-30 6-10
Relação A/M
Relação A/M 0,25 a 0,50 0,07 a 0,15 0,25 a 0,40
(kgDBO.KgSSVTA.d-1)
DBO (%) 85-95 93-98 85-95
DQO (%) 85-90 90-95 83-90
Sólidos em suspensão (%) 85-95 85-95 85-95
Eficiência de
Amônia (%) 85-95 90-95 75-90
remoção (1)
Nitrogênio (%) 25-30 15-25 15-25
(1)
Fósforo (%) 25-30 10-20 10-20
Coliformes (%) 60-90 70-95 70-95
A ser tratado
60-80 40-45 20-30
(L-1 lodo.hab.ano)
Massa de lodo
A ser disposto
30-45 40-45 20-30
(L-1 lodo.hab.ano)
A ser tratado
3,5-8,0 3,5-5,5 0,5-1,0
(2)
Volume de (g-1 ST.hab.dia)
lodo A ser disposto
0,10-0,25 0,10-0,25 0,05-0,15
(g-1 ST.hab.dia)
Potência instalada (w.hab) 2,5-4,5 3,5-5,5 1,8-3,5
(3)
Energia Consumo energético
18-26 20-35 14-20
(kwh.hab.ano)
Notas:
(1)
: Pode-se alcançar eficiências maiores na remoção de N (especialmente no lodo ativado convencional e na aeração prolongada) e de
P (especialmente no lodo ativado convencional) através de etapas específicas (desnitrificação e desfosfatação). A modalidade UASB
– lodo ativado não é eficiente na remoção biológica de N e P;
(2)
: O volume de lodo é função da concentração de sólidos totais (ST), a qual depende dos processos utilizados no tratamento da Fase
líquida e da Fase sólida. A faixa superior do volume per capita de lodo a ser disposto está associada ao desaguamento por centrífuga
e filtro de correia (menores concentrações de ST no lodo desidratado), ao passo que a faixa inferior está associada a leitos de secagem
ou filtros-prensa (maiores concentrações de ST);
(3)
: A potência instalada deve ser suficiente para suprir a demanda de O 2 em cargas de pico. O consumo energético pressupõe certo
controle do fornecimento do O2, reduzindo-o em momentos de menor demanda.
21
1.2.1.1.7 Remoção de nitrogênio no processo de lodo ativado
Segundo VAN HAANDEL e MARAIS (1999), o balanço de massa do material nitrogenado (Bn)
permite avaliar os procedimentos analíticos utilizados para determinar as diversas formas de
nitrogênio, e assegurar a quantificação das frações de nitrogênio presentes em sistemas de lodo
ativado. As frações nitrogenadas deixam o sistema de lodo ativado sob três formas: como material
sólido no lodo de excesso, como material dissolvido no efluente ou como nitrogênio gasoso para a
atmosfera. A expressão 1.9 apresenta o cálculo típico do balanço de massa nitrogenado.
Sendo:
Bn: balanço de massa de material nitrogenado (mgN.d-1)
MNl: fluxo de nitrogênio descarregado no lodo de excesso (mgN.d-1)
MNte: fluxo de nitrogênio descarregado no efluente (mgN.d-1)
MNd: fluxo de nitrogênio utilizado na desnitrificação (mgN.d-1)
MNta: fluxo de nitrogênio afluente (mgN.d-1)
22
Figura 1.6: Representação esquemática das formas e das possíveis reações do material nitrogenado no sistema de lodo ativado. Fonte:
(VAN HAANDEL e MARAIS 1999).
Segundo VAN HAANDEL e MARAIS (1999), em temperaturas baixas (< 20ºC), a nitratação é muito mais
rápida que a nitritação, de modo que se pode considerar que a nitratação é imediata e a acumulação de nitrito
sempre será muito pequena em sistemas sob condições estacionárias. Em contraste, em temperaturas
elevadas (> 25ºC) a nitritação é mais rápida que a nitratação, e por esta razão pode haver acumulação de
nitrito quando se cria condições adequadas. A Figura 1.7 mostra a demanda de oxigênio na nitrificação
(nitritação e nitratação) e a demanda de material orgânico na desnitrificação.
Figura 1.7: Variação do número de oxidação de nitrogênio nos processos de nitrificação e desnitrificação. (VAN HAANDEL e
MARAIS 1999).
23
1.2.1.1.7.4 Processo de desnitrificação
Oxidação: (1.11)
Ou:
Redox:
1/3H+ + 1/3 NO-2 + 1/(4x + y – 2z) CXHYOZ + (2x - z) / (4x + y – 2z) H2O
Tanto as Equações 1.12 e 2.13 como a Figura 1.7 mostram claramente que, em principio, há uma
grande vantagem em usar a nitritação em vez da nitratação como caminho para remoção de nitrogênio
– no caso de nitritação a demanda de oxigênio é 25% menor que no caso de nitratação. Por outro
lado, na desnitrificação, a demanda de material orgânico no caso de redução de nitrito é somente 3/5
ou 60% da demanda no caso da redução de nitrato. Estudos realizados por VAN HAANDEL, et al.,
(2009), evidenciaram experimentalmente que a taxa de utilização de nitrito é muito menor que a taxa
de utilização de nitrato – o que reduz sensivelmente a vantagem de se produzir nitrito. Outro problema
é que somente é possível parar a nitrificação em nitrito quando as condições são favoráveis:
temperaturas acima de 25ºC a 30ºC. Por esta razão, em sistemas convencionais, normalmente, tem-
24
se a nitrificação para nitrato como primeiro passo na remoção de nitrogênio.
Segundo VON SPERLING, (2002) e METCALF & EDDY (2003), tendo em vista a necessidade não
apenas da nitrificação do esgoto, como também a redução biológica do nitrato. Entende-se que, nos
dias atuais, as alternativas de pré-desnitrificação e de pós-desnitrificação, processos que podem ser
associados aos sistemas de lodos ativados, são satisfatoriamente conhecidos. O reator possui uma
zona anóxica seguida pela zona aeróbia. A nitrificação ocorre na zona aeróbia, conduzindo a
formação de nitratos. Os nitratos são direcionados a zona anóxica por meio da recirculação interna,
como se observa na Figura 1.8. Embora possa ser futuramente implantado nas ETEs em operação, o
arranjo com pré- desnitrificação tem por principal aspecto desfavorável a necessidade de grandes
vazões de recirculação de lodo da zona aerada para a zona anóxica (100 a 400%) da vazão afluente,
dependendo da concentração de nitrato a ser obtida no efluente final, acarretando elevação
significativa dos custos operacionais em função do consumo de energia elétrica por estas elevatórias
adicionais.
25
Figura 1.8: Representação esquemática de um sistema de lodo ativado com pré-desnitrificação, adaptado. (VON SPERLING, 2002;
METCALF & EDDY, 2003).
Para VON SPERLING, (2002); METCALF & EDDY (2003), uma possibilidade para se
aumentar a taxa de desnitrificação na zona anóxica é adição artificial de carbono orgânico
ou de se direcionar parte do esgoto bruto diretamente à zona anóxica. No entanto, o uso do
esgoto pode acarretar problemas na zona anóxica, devido à introdução de amônia não
nitrificada, deteriorando a qualidade do efluente final. Em relação à adição artificial de
carbono orgânico, há uma elevação significativa dos custos operacionais no sistema. A zona
aerada final (opcional) é operada com baixo TDH (em torno de 30 minutos). As principais
finalidades são o desprendimento das bolhas de nitrogênio gasoso e a adição de oxigênio
dissolvido antes da sedimentação.
Figura 1.9: Representação esquemática de um sistema de lodo ativado com pós-desnitrificação, adaptado (VON SPERLING, 2002;
METCALF & EDDY, 2003)
26
Conforme se observa na Tabela 1.4 os valores típicos das taxas de desnitrificação por miligrama de
sólidos ativos por dia, obtidas em sistemas de lodo ativado com pré-desnitrificação e pós-
desnitrificação tendo como substrato esgoto bruto.
Tabela 1.4.: Taxa de desnitrificação por miligrama de sólidos suspensos voláteis por dia, em sistemas de lodo ativado com pré-
desnitrificação e pós-desnitrificação. (apud SPERLING, 1997 (ECKENFELDER & ARGAMAN, 1978; ARCEIVALA, 1981;
METCALF E EDDY, 1991 e EPA, 1993).
Figura 1.10: Representação esquemática de um sistema de lodo ativado pelo processo Bardenpho de 3 estágios, Adaptado (VON
SPERLING, 2002; VAN HAANDEL e MARAIS, 1999).
27
1.2.1.2.4 Sistema de lodo ativado UCT (University of Cape Town)
Na Figura 1.11 apresenta-se o sistema UCT que é um sistema de lodo ativado composto de
4 reatores sendo o primeiro anaeróbio, o segundo e o quarto anóxicos e o terceiro aeróbio,
podendo ou não apresentar um quinto reator, sendo este aeróbio. Após a série de reatores há
um decantador secundário. O sistema UCT, proposto por RABINOWITZ e MARAIS (1980)
apud (VAN HAANDEL e MARAIS, 1999), foi desenvolvido para que, simultaneamente,
houvesse a remoção dos macronutrientes nitrogênio e fósforo. Para a remoção de fósforo
nesse sistema, assim como para o sistema Bardenpho há necessidade da presença de uma
zona anaeróbia e de material rapidamente biodegradável. No sistema UCT se evita a
introdução de nitrato na zona anaeróbia (como ocorre no sistema Bardenpho modificado com
3 e/ou 5 reatores), introduzindo- se lodo da zona anóxica para a zona anaeróbia, recirculação
“r”. Na zona anóxica a concentração de nitrato é mantida baixa através do controle da taxa
de recirculação “a” (Figura 2.9), de tal maneira que o nitrato disponível para desnitrificação
na zona anóxica se iguala à capacidade de desnitrificação nesta. O sistema UCT modificado
foi desenvolvido para assegurar que não haja introdução de nitrato, mesmo quando a
concentração de nitrato e da taxa de desnitrificação varia com o tempo. A zona anóxica do
pré-desnitrificante está dividida em duas, descarregando-se o lodo de retorno do decantador
na primeira parte e na segunda parte o lodo proveniente do reator aeróbio. Nessas condições,
a remoção de nitrato na primeira parte será completa, havendo total proteção da zona
anaeróbia, favorecendo assim a remoção de fósforo. Porém, ao configurar as zonas anóxicas
dessa maneira, o efluente pode apresentar maiores concentrações de nitrato, visto que não
existe uma zona anóxica para pós-desnitrificação e pode acarretar problemas como flotação
do lodo no decantador secundário.
Figura 1.11: Representação esquemática de um sistema de lodo ativado pelo processo UCT com 5 reatores sequenciais (anaeróbio-
anóxico-aeróbio-anóxico-aeróbio), Adaptado. (VAN HAANDEL e MARAIS, 1999).
28
1.2.2 Descrever tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de
nutriente: P-Fosforo (químico e biológico).
1.2.2.1 Remoção de fosforo por precipitação química.
Conforme MONTE et al (2016), a remoção de fósforo de uma ARU por tratamento
químico consiste na precipitação de fosfatos pela adição de sais de iões metálicos
multivalentes e subsequente remoção do precipitado, geralmente por decantação. Os iões
metálicos mais utilizados são o cálcio (Ca2+ ), o alumínio (Al3+ ) e o ferro (Al3+ ), sulfato
de alumínio, aluminato de sódio, cloreto férrico e sulfato ferroso.
5Ca2+ + 3HPO2− −
4 + 4OH ⇋ Ca 5 OH(PO4 )3 + 3H2 O (1.16)
Para MONTE et al (2016), de acordo com a expressão 1.16, a razão molar cálcio/fósforo
seja de 5:3, a remoção de fósforo não é estequiométrica e esta razão varia entre 1,3 a 2,0.
Em termos práticos, a quantidade de cal necessária para remover os fosfatos depende
muito mais da composição das AR, principalmente da sua alcalinidade, do que da
quantidade de fosfatos, como se pode verificar na Figura 1.12. Tipicamente, a quantidade
de cal hidratada necessária para precipitar o fósforo de uma ARU é cerca de 1,4 a 1,5
29
vezes superior à alcalinidade total da ARU (expressa em CaCO3 ). Estes parâmetros devem
ser determinados em ensaios laboratoriais.
Figura 1.12: Dosagem de cal em função da alcalinidade da ARU, Adaptado. (Metcalf & Eddy, 2014).
(1.17)
30
o pH das AR já é baixo, pode justificar-se a utilização de aluminato de sódio (Na2Al2O4)
como precipitante, pois da expressão 1.18 resulta uma ligeira subida de pH.
Para MONTE et al (2016), tanto sais de Fe2+ como de Fe3+ podem ser utilizados na
remoção de fosfatos, com resultados semelhantes. No entanto, o mais utilizado é o cloreto
férrico (FeCl3 ), cuja recção predominante com os fosfatos, indicada na expressão 1.20, é
semelhança à do sulfato de alumínio.
Figura 1.13: Variação da solubilidade com o pH para: a) fosfato de alumínio e b) fosfato de ferro, Adaptado.
(Metcalf & Eddy, 2014).
Tabela 1.5: Vantagens e desvantagens das diversas localizações do processo de precipitação de fósforo. (MONTE,
2016).
31
1.3 Descrever tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de
compostos orgânicos: carvão ativado.
Segundo GUERSES et al. (2005), quase todos os compostos com alto teor de carbono em
sua estrutura molecular podem ser transformados em carvão ativado, tais como ossos de
animais, serragem, algas, turfa, casca de coco, casca de babaçu, diferentes classes de
madeiras, caroço de frutas, carvões minerais e resíduos de petróleo. A escolha do material
depende da sua pureza, preço e potencial de ativação e a maioria dos materiais
carbonáceos possui certo grau de porosidade natural.
Para CLAUDINO (2003), a ativação da área superficial aumenta com a oxidação dos
átomos de carbono, podendo apresentar área superficial após a ativação de 800 m2 .g-1.
O carvão ativado contém microporos (diâmetro menor que 20 Å), mesoporos (diâmetro
entre 20-500 Å) e macroporos (diâmetro maior de 500 Å) em sua estrutura, mas a
proporção relativa varia de acordo com a origem e processo de fabricação utilizado.
Segundo FILHO (2009), a matéria orgânica adsorve na superfície dos poros das partículas
de carvão, até que sua capacidade de adsorção seja exaurida, sendo necessária sua
regeneração, que é feita por meio do seu aquecimento até volatilização do material
orgânico adsorvido, tornando os poros do carvão livres e regenerados. Águas residuárias,
oriundas do tratamento primário de uma unidade industrial foram estudadas por
32
Abdessemed & Nezzal (2002) com o objetivo de reuso. Eles realizaram testes de
coagulação/floculação usando como coagulante o FeCl3 120 mg/L em um pH ótimo de
5,5. Logo após, adicionaram carvão ativado de densidade 0,41 g/cm3 com área de 600 –
800 m2/g para a etapa de adsorção. Depois de certo tempo de contato foi feita a
ultrafiltração, utilizando uma membrana tubular inorgânica, com uma diferença de
pressão de 1 bar e uma velocidade de fluxo de 3 m/s. O resultado apresentou uma redução
na turbidez de 90 NTU para zero e a DQO foi reduzida de 165 mg/L para 7 mg/L, usando
o processo combinado, coagulação-adsorção-ultrafiltração.
33
Nota:
microfiltração (MF);
ultrafiltração (UF);
nanofiltração (NF);
osmose inversa (IO)
34
Figura 1.14: Esquema da separação de poluentes por membranas. (MONTE et al, 2016).
Figura 1.15: Separação de constituintes da água através da passagem pela membrana. (Mulder, 1997).
Pa +Pc
PTM = − Pp (1.21)
2
Onde:
PTM – pressão transmembranar;
Pa – Pressão do afluente;
Pc – Pressão do concentrado;
Pp – Pressão do permeado
Conforme MONTE (2016), A pressão osmótica é calculada pela equação de Van’t Hoff
(expressão 1.22).
P𝑜 = θ R T C (1.22)
Onde :
P𝑜 – pressão osmótica (atm);
R – constante dos gases perfeitos (R = 0,082 L atm /(K·mol);
T – temperatura (K);
C – concentração dos poluentes no permeado (mol/L);
36
θ – coeficiente de Van´t Hof.
Figura 1.16: Recuperação de energia na NF e OI com dispositivo isobárico. (Metcalf & Eddy, 2014)
37
Figura 1.17: Dimensão de partículas e microrganismos removidos por processos de membranas, adptada (EPRI,
1997).
38
membrana (cross flow) como representado na Figura 1.19, podendo também ser
perpendicular à membrana (dead-end flow), principalmente nos processos de UF e MF.
Figura 1.19: Modos de operação: a) fluxo perpendicular (dead end flow) e b) fluxo tangencial (cross flow).
(MONTE, 2016).
Segundo MONTE (2016), o fluxo de permeado (J), também designado por velocidade de
separação ou velocidade de permeação, é definido como o caudal de AR que atravessa a
membrana por unidade de área, conforme a expressão 1.23.
QP
J= (1.23)
A
Onde:
J – fluxo de permeado (L/(m2.h));
QP – caudal de permeado (L/h);
A – área de membrana (m2 ).
Segundo MONTE (2016), o fluxo de permeado é tanto maior quanto mais elevado for o
gradiente de pressão aplicado através da membrana, diminuindo com o aumento da resistência à
permeação RP, conforme indicado na expressão 1.24.
Forca motriz ∆P
J= = μR (1.24)
Resistencia P
Onde:
ΔP – gradiente de pressão;
R P – resistência à permeação;
μ – viscosidade.
39
Segundo MONTE (2016), na MF e na UF o ΔP é igual à PTM e na OI e NF o ΔP = PTM
– ΔP0. A resistência à permeação (Rp) é o somatório de várias resistências54, sendo as
duas principais componentes: a resistência hidráulica da membrana limpa (Rm) e a
resistência devida à deposição de substâncias ou partículas na superfície e interior da
membrana (Rc).
Ca −CP C
S= = 1 − CP (1.26)
Ca a
Onde:
40
S – Coeficiente de rejeição aparente da membrana;
Ca – Concentração do poluente no afluente;
CP – Concentração do poluente no permeado.
Segundo MONTE (2016), o coeficiente de rejeição aparente da membrana varia entre 1
(membrana ideal que retêm 100 % dos poluentes) e 0 (todos os poluentes passam através
da membrana, portanto Cp = Ca).
Conforme MONTE (2016), A seletividade da membrana pode ainda ser expressa pela
taxa de permeação ou taxa de recuperação (R), definida como a razão entre o caudal de
alimentação e o caudal de permeado, expressa em percentagem (expressão 1.27) e
depende dos mesmos fatores que o coeficiente de rejeição aparente.
QP
R=Q × 100 (1.27)
alim
Onde:
QP – caudal de permeado;
Qalim – caudal de afluente.
Segundo ASANO et al. (2007), a taxa de recuperação R do processo deve ser superior a
80 %, caso contrário corre-se o risco de o processo não ser fiável, além do risco de não
ser financeiramente viável.
Para ASANO et al. (2007), A vida da membrana constitui um fator relevante na eficiência
do processo, devido aos custos induzidos por frequentes reparações, substituições e
arranques do equipamento. Pode dizer-se que membranas cuja duração seja inferior a 3
anos comprometem seriamente a viabilidade económica do processo. Atualmente
encontram-se com facilidade no mercado membranas com vida de duração superior a 10
anos.
41
Tabela 1.7: Vantagens e desvantagens do tratamento de AR pelos processos de membranas (MONTE, et al, 2016)
Tabela 1.8: Principais caraterísticas dos processos de membranas aplicados a AR Adaptado (Bruggen et al., 2003 e Metcalf &
Eddy, 2003)
Segundo HOWE et al. (2012), na UF podem ser removidas macromoléculas (ver Figura
1.17), pelo que as membranas de UF podem ser caraterizadas não pela dimensão de poros,
mas pela dimensão das moléculas que podem ser retidas, isto é, pelo chamado limite de
42
exclusão molecular (molecular weight cut-off). As membranas de UF possuem
geralmente um cut-off entre 1 000 e 500 000 Dalton.
Figura 1.20: Esquema de instalação de tratamento por MF e UF com alimentação tangencial, adaptado(Metcalf & Eddy, 2014).
Figura 1.21: Esquema de instalação de tratamento por MF e UF com alimentação tangencial com reservatório, adaptado (Metcalf &
Eddy, 2014).
43
A figura 1.22 representa o esquema de instalação de tratamento por MF e UF com
alimentação perpendicular.
Figura 1.22: Esquema de instalação de tratamento por MF e UF com alimentação perpendicular, adaptado (Metcalf & Eddy, 2014).
1.4.1.1.3.1 Operação.
Conforte MONTE (2016), os processos de membranas, tal como a filtração, devem ser
operados de modo que o ciclo de operação seja o mais longo possível, sem prejuízo da
qualidade da água tratada. um dos fatores contribuintes para a longevidade do ciclo
operativo de um processo de membranas é o pré-tratamento da AR afluente à unidade de
tratamento por membranas. Outro fator fundamental consiste na lavagem das membranas.
44
Tabela 1.9: Requisitos da pre-filtracao, adaptado (EPA, 2005)
Para EPA (2005), os parâmetros mais utilizados para averiguar da necessidade de pré-
tratamento na NF e OF são o índice de colmatação ou índice de densidade de sedimentos
(SDI – Silt Density Index) e a turvação da água. Para valores de SDI > 2 é recomendado
um pré-tratamento antes da alimentação à unidade de NF ou de OI, de modo a prolongar
a duração do ciclo de filtração.
45
Segundo MONTE (2016), A limpeza da membrana pode ser efetuada por lavagem em
contracorrente com água permeada (backwash) e/ou por lavagem química.
Figura 1.23: Variação do fluxo de permeado numa membrana a operar a PTM constante – sem lavagem e com lavagem em
contracorrente, adaptado (Friedrich & Pinnekamp, 2006).
Para EPA (2005), a lavagem química pode recorrer a diversos produtos químicos,
consoante a natureza dos poluentes causadores da colmatação. Por exemplo, o ácido
cítrico é utilizado para dissolver as substâncias orgânicas e inorgânicas. Na tabela 1.10
apresentam-se os diferentes agentes de lavagem e as substâncias eliminadas. A seleção
46
do agente de lavagem deve ter em conta a variedade de contaminantes presentes e a
compatibilidade com o material da membrana e do módulo.
1.4.1.1.3.4 Manutenção.
Segundo MONTE (2016), a manutenção das unidades de membranas inclui tarefas de
limpeza e lubrificação dos diversos equipamentos, com pelo menos a frequência
recomendada pelos fornecedores, e ainda a realização de testes de integridade das
membranas, destinados a identificar e isolar problemas na instalação e/ou nas membranas.
Os testes de integridade podem ser diretos ou indiretos.
Conforme EPA (2005), Os testes diretos baseiam-se em técnicas não destrutivas, que
exigem a paragem da unidade de membranas, o que pode conduzir a uma perda de
produtividade. Estes testes podem ser classificados em dois tipos:
47
Tabela 1.11: Principais causas da degradação das membranas, adaptado (EPA, 2005)
Para GERBER (2012), Na maioria dos casos, são efluentes que contêm grande
concentração de sais dissolvidos (cloretos, por exemplo) como salgadeiras de couro, de
extração de petróleo, fertilizantes, tratamento de superfícies metálicas, etc.
48
Figura 1.24: Princípio de funcionamento da Osmose (GERBER, 2012).
49
1.5.2 Troca iónica
Segundo GERBER (2012), o objetivo do sistema de tratamento com uso de resina de
troca iônica é cátions (Zn+2, Cu+2, Ni+2 , etc.) ou anions como nitratos, fosfatos, entre
outros. A técnica consiste basicamente na fixação desses íons em uma resina sintética,
que “captura” os contaminantes de interesse e liberam outros íons menos tóxicos para o
efluente. Basicamente existem 2 tipos de trocadores:
Segundo GERBER (2012), as resinas depois de certo tempo de uso perdem sua
capacidade de troca, mas podem ser regeneradas. No caso dos trocadores de cátions, antes
se faz a lavagem da coluna em contra corrente para retirar os sólidos; após, com uma
solução de NaCl, se for utilizado o ciclo do sódio ou com uma solução de ácido sulfúrico
ou clorídrico, se for utilizado o ciclo do hidrogênio. Para trocadores de ânion, antes se faz
a lavagem da coluna em contracorrente para retirar os sólidos e após se faz a lavagem da
coluna com uma solução de hidróxido de sódio ou hidróxido de amônio. Na figura 1.28
apresenta-se o principio de funcionamento de troca iónica.
50
Figura 1.28: Esquema de funcionamento de troca iónica (GERBER, 2012).
Segundo MIERZWA & HESPANHOL (2005), Resinas de troca iônica são produtos
sintéticos, constituídas, em geral, de copolímeros de estireno com divinilbenzeno
(D.V.B.), que colocados na água, poderão liberar íons sódio ou hidrogênio (resinas
catiônicas) ou cloretos ou hidroxila (resinas aniônicas) e captar desta mesma água,
respectivamente, cátions e ânions, responsáveis por seu teor de sólidos dissolvidos
(cloretos, silicatos e sulfatos de sódio, magnésio e cálcio e combinados de Fe+2 e Fe+3)
indesejáveis a muitos processos industriais. Os íons presentes na água são substituídos
por uma quantidade equivalente de outras espécies iônicas, sendo retidos em uma fase
sólida imiscível denominada resina. Por se tratar de uma fase sólida insolúvel, as resinas
apresentam capacidade limitada. Em cada partícula de resina existe umnúmero limitado
de sítios ativos, de modo que quando todos estes sítios ativos são ocupados diz-se que a
resina está saturada. Como este processo envolve uma reação de equilíbrio químico, as
resinas podem ter a sua capacidade recuperada.
Segundo FILHO (2009), de acordo com os grupos ionizáveis presos às estruturas das
resinas, elas seclassificam em quatro grupos básicos: catiônica fraca, catiônica forte,
aniônica fraca e aniônica forte.
Reação de abrandamento
Reação de descarbonatação/desmineralização
Onde:
53
K: taxa de acumulação de lodo digerido em dias, equivalente ao tempo de acumulação de
lodo fresco (ANEXO II- c)
Tabela 1.12: Dados climatológicos para Cidade da Beira 1991 - 2021. (Climate-Data.Org, a cessado em 13/06/2022)
Descrição Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Temperatura média do ar (°C) 27,1 26.9 26,4 24,8 23,1 21,5 20,9 22,2 24,0 25,4 26,7 27,2
Temperatura mínima absoluta (°C) 24,0 23,8 23,3 21,2 18,9 17,1 16,5 17,3 19,2 21,1 22,7 23,7
Temperatura máxima absoluta (°C) 30,6 30,4 29,9 28,6 27,5 26,1 25,6 27,5 29,6 30,4 31,3 31,1
Precipitação media mensal (mm) 207 164 127 61 26 18 21 14 18 28 81 170
Umidade relativa do ar (%) 78 78 79 75 71 70 71 67 67 68 70 75
Dias chuvosos (d) 15 14 14 9 5 4 5 3 3 5 8 12
Horas de sol (h) 7,8 7,6 7,2 7,5 7,7 7,6 7,5 8,0 8,1 7,9 8,4 8,2
54
De acordo com o levantamento de dados realizado no campo o agregado familiar
permanente é composto por 5 pessoas. Obedeceu-se a norma NBR 7229 / 1993, Extraiu-
se no Anexo II – a) o valor corresponde a contribuição de despejo C=100 equivalente a
uma residência de padrão baixo e o lodo fresco Lf=1. Tendoem conta que a contribuição
diária é menor que 1500 litros, extraiu-se da tabela do Anexo II – b), o tempo pu periodo
de detenção T= 1 dia. No entanto atendendo um intervalo de limpeza equivalente a 5 anos
e a mínima temperatura media da cidade da Beira no período de 1991 a 2021 em todos
meses foi de t=20,9 °C correspondente ao mês de Julho, com esta informação extraiu-se
do Anexo II- c) a taxa de acumulação de lodo K=217, sendo assim possível chegar a
determinar o volume útil total da fossa ou tanque séptico. (ver resultados na tabela 1.13).
Tabela 1.13: Resumo de calculo de volume útil total da fossa ou tanque séptico. Elaboração própria.
C-
N-Número T-Período de K-Taxa de Lf Contribuição V-Volume
Contribuição
de pessoas detenção acumulação de de lodo fresco útil Total
de despejos
(un) (dia) lodo (dias) (litro/pessoa) (litros)
(litro/pessoa)
5 100 1 217 1 2585
De acordo com o item 1.6, que respeita a norma NBR 7229 / 1993, no que tange a
profundidade útil mínima e máxima do tanque ou fossa séptica, com o Volume útil total
V= 2585 litros, extraiu-se da tabela do Anexo II – d), a profundidade H= 1,80 metros de
altura. Adoptou-se a secção circular de acordo com o Anexo IV. A norma NBR 7229 /
1993 estabelece diâmetro D ≥ 1,10 m. (ver anexo IV).
Tabela 1.13: Resumo de cálculo de dimensões da fossa ou tanque séptico. Elaboração própria.
D=Diâmetro H =Altura
(m) (m)
1,50 1,80
55
Figura 1.29: Configuração do tanque ou fossa séptica adotado, adaptado (NBR 7229/1993).
56
CONCLUSÃO
1. De um modo geral os materiais orgânicos presentes nas águas residuais na sua maioria
fazem parte dos grupos das proteínas, dos glúcidos, óleos e gorduras. A
biodegradação da matéria orgânica é uma sequência de reações redox, mediadas
microbiologicamente, em que os aceitadores finais de eletrões (agente oxidante)
durante as cadeias transportadoras podem ser diversas substâncias, se esse aceitador
for o oxigénio (O2 ) o processo de biodegradação diz-se aeróbio; o processo da
biodegradação diz-se anóxico se o aceitador final for o NO− −
3 ou o NO2 ; o processo
57
respeitada a ordem dos processos de Microfiltração, Ultrafiltraao, Osmose inversa e
por fim a Nanofiltracao.
5. A tecnologia de tratamento terciário de afluentes de remoção de sólidos inorgânicos
dissolvidos: osmose reversa é um processo no qual a água se separa dos sais
dissolvidos através da filtração em membrana semipermeável a uma pressão superior
à pressão osmótica causada pelos sais dissolvidos nesta água. O princípio da osmose
reversa ou inversa consiste em aplicar uma força bem superior à pressão osmótica no
compartimento da solução concentrada Ocorre a inversão de fluxo devido à pressão
exercida no compartimento que contém solução concentrada, forçando a passagem de
solvente e retendo o soluto e a troca iónica é técnica que consiste basicamente na
fixação de íons em uma resina sintética, que “captura” os contaminantes de interesse
e liberam outros íons menos tóxicos para o efluente
6. O dimensionamento de fossa séptica para tratamento de esgoto domestica segundo
NBR 7229 / 1993 admite a determinação do volume útil total, levando em conta o
numero de pessoas ou unidades de contribuição, contribuição de despejos, período de
detenção, taxa de acumulação de lodo digerido em dias e contribuição de lodo fresco,
possibilitando assim a determinação das dimensões para satisfazer o volume útil
necessário em função da configuração geométrica a ser adotada.
7. O protótipo de fossa séptica para tratamento domestica de uma residência localizado
na Cidade da Beira, Rua de Sofala, 6° bairro esturro, para satisfazer um total de 5
contribuintes, com uma contribuição de despejos de 100 litro / pessoa e um período
de detenção de 1 dia, atendendo a taxa de acumulação de lodo 217 dias e contribuição
de lodo fresco de 1 litro / pessoa, considerando que a limpeza será realizado em um
intervalo de 5 anos e uma temperatura media do ambiente maior que °C, permitiu
chegar a dimensionar um volume útil total de 2585 litros por meio da metodologia
estipulada pela NBR 7229 / 1993 atendendo a configuração geométrica do tanque ou
fossa séptica cilíndrica com diâmetro D= 1,50 m e altura H=1,80 m.
58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
60
ANEXO I: Variacao de OD em agua pura, com a salinidade, adaptado (MONTE et al,
2016).
61
ANEXO II: Tabela dos coeficientes e valores corresponde tentes para determinação do
volume útil total do tanque ou fossa séptica.
a) Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de prédio e de
ocupante. (NBR 7229, 1993).
b) - Período de detenção dos despejos, por faixa de contribuição diária. (NBR 7229,
1993).
62
c) Taxa de acumulação total de lodo (K), em dias, por intervalo entre limpezas e
temperatura do mês mais frio (NBR 7229, 1993).
d) Profundidade útil mínima e máxima, por faixa de volume útil (NBR 7229, 1993).
63
ANEXO III: Detalhes e dimensões de um tanque séptica. (NBR 7229, 1993).
64
ANEXO IV: Dimensões do tanque ou fossa séptica. (NBR 7229, 1993).
65