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A

presentamos até aqui algumas ideias que ajudam a


assegurar os direitos das crianças de aprender de desfrutar
de uma boa qualidade de vida na Educação Infantil.
Também apresentamos orientações para a organização de ambientes
de aprendizagem e um mapa das principais práticas educativas e de
cuidado que podem mediar a aprendizagem e o desenvolvimento de
crianças de diferentes idades. Colocar todas essas ideias em prática é
trabalhoso e exige um grande esforço de planejamento e de avaliação
continuada, não só da instituição, mas também do próprio professor,
sujeito criativo e autor de seu trabalho. Como desenvolver esse
complexo trabalho, apoiando nas ideias da BNCC para a etapa da
Educação Infantil?
O primeiro passo é ter clareza da sua intencionalidade educativa.
Diz a BNCC:

Essa intencionalidade consiste na organização e proposição,


pelo educador, de experiências que permitam às crianças
conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações
com a natureza, com a cultura e com a produção cientí ca, que
se traduzem nas práticas de cuidados pessoais (alimentar-se,
vestir-se, higienizar-se), nas brincadeiras, nas experimentações
com materiais variados, na aproximação com a literatura e no
encontro com as pessoas. (BRASIL, 2017, p. 37)

Esse trabalho de organização de ambientes e de proposições exige


o uso de instrumentos adequados, ferramentas precisamente
desenvolvidas para a gestão do processo educativo. O propósito
deste capítulo é apresentar alguns instrumentos e, com isso, apoiar a
tarefa de avaliar e planejar o trabalho pedagógico.
1. Planejamento Da mesma forma como ocorre em grande parte das pro ssões, e
até mesmo na vida pessoal, o trabalho docente também exige
Para muitos pro ssionais, o planejamento é um fator determinante planejamento, tomada de decisões. Não é apenas uma lida diária,
no bom andamento de seu trabalho. Por exemplo, o médico que se um fazer sem m que torna iguais todos os dias. Ao contrário, é um
alia ao paciente na luta contra uma doença planeja uma terapia trabalho criativo e dinâmico que muda constantemente em função
associando medicamentos, rotina de cuidados com sessões de novos do avanço das crianças, mas sempre sob o olhar responsável da
tratamentos e desse planejamento depende em grande parte a cura professora. Diz a BNCC sobre o complexo trabalho do professor de
do paciente. De outra maneira, também o motorista planeja o melhor Educação Infantil:
trajeto que o carro deve seguir considerando as condições climáticas,
Parte do trabalho do educador é re etir, selecionar, organizar,
o trânsito nas principais vias públicas para conduzir da melhor
planejar, mediar e monitorar o conjunto das práticas e
maneira possível os passageiros que estão sob sua responsabilidade.
interações, garantindo a pluralidade de situações que promovam
Mas isso não ocorre apenas nas situações pro ssionais. Também o desenvolvimento pleno das crianças. (BRASIL, 2017, p. 37)
nas ações mais simples da vida pessoal costumamos planejar
O planejamento é ação articuladora da re exão e de vários fazeres
intencionalmente nossos passos com vistas ao sucesso do que nós
como a seleção, a organização, a mediação e o monitoramento do
mesmos projetamos para o futuro. É o que nos ocorre diariamente,
conjunto de práticas e interações a que as crianças serão
desde o momento em que acordamos e listamos, ao menos
intencionalmente expostas. É nesse sentido que se pode dizer que ele
mentalmente, nossas tarefas para o dia e organizamos um roteiro ou
é um instrumento de trabalho complexo: ele articula vários outros
uma programação de tudo o que precisa ser feito. Também
instrumentos e por isso é potente para apoiar a atividade
planejamos tarefas maiores, mesmo que ocasionais quando, por
pro ssional do gestor e do professor e, ao mesmo tempo, colaborar
exemplo, queremos mudar para uma nova casa, o que nos exige
para que eles próprios possam compreender melhor a si mesmo e a
agendar o dia da mudança, a arrumação das caixas, a distribuição no
transformar sua ação no mundo. Isso é possível graças à capacidade
novo espaço. Até mesmo o tempo de lazer é planejado. Por exemplo,
humana de representar, o que possibilita à espécie projetar-se no
queremos viajar, procuramos as passagens e reservamos
tempo e planejar ações complexas e especializadas.
alojamentos, combinamos a programação de passeios que devem
ocorrer entre o dia da chegada e o dia da despedida. Tudo isso, O trabalho educativo está presente para um professor não apenas
aproveitando da melhor maneira possível o tempo que se tem e a no ato da proposta que faz quando se dirige às crianças para
satisfação que se deseja. começar mais um dia de seu trabalho, mas desde a ideia que ele tem
para promover boas situações de vivência geradora de
aprendizagem e desenvolvimento, hipótese de trabalho testada em as crianças participam das diferentes propostas individualmente ou
sua própria experiência. em grupo; o que já fazem autonomamente e no que elas precisam de
Planejar é uma das prioridades do trabalho do professor e deve ser ajuda etc.
visto como uma oportunidade de autoria criativa do próprio Para saber tudo isso, os professores podem organizar algumas das
trabalho. O planejamento é um instrumento do professor feito por atividades básicas para o exercício da pro ssão docente: a
ele mesmo para seu próprio uso. Na BNCC, a atividade de planejar observação, o registro e a problematização. Tais atividades, quando
está intrinsecamente relacionada ao papel do professor que re ete, incorporadas como atividade docente, podem se constituir como
organiza, seleciona, organiza, medeia, planeja e acompanha o preciosos instrumentos que apoiam o trabalho contínuo de
trabalho com as crianças, re etindo a ideia de intencionalidade planejamento e avaliação dos contextos de aprendizagem. É isso que
educativa. faz de um planejamento uma atividade sempre nova, criativa,
Para planejar seu trabalho, o professor precisa ter em mãos diferente a cada ano, de acordo com as diferentes turmas de crianças.
informações diversas: o que a escola, com base em seu projeto Todo planejamento envolve tomada de decisões que não podem
político pedagógico, espera para essa turma; o que as famílias ocorrer à revelia das crianças, aleatoriamente, ou sem muita
esperam da escola ou da creche e como elas se relacionam com as consciência de seus impactos na aprendizagem delas. Em vez de ver
equipes educadoras, obtidas por meio de entrevistas com as famílias, o trabalho do professor como uma lida diária, propomos um
reuniões de pais e outras estratégias de aproximação das famílias. planejamento intenso, motivador das ideias, dos afetos, dos
Devem ainda recorrer a documentos como as Diretrizes Curriculares cuidados e das intenções que todo bom professor deve ter com
Nacionais para a Educação Infantil e a Base Nacional Comum relação ao seu grupo de crianças.
Curricular, que de nem as aprendizagens essenciais que as crianças
têm o direito de se apropriar e que devem ser interpretadas no 2. Avaliação
projeto pedagógico e no currículo da instituição educativa.
Como o objetivo nal de todo o trabalho de planejamento é Nos últimos anos assistimos a uma crescente re exão sobre a
promover aprendizagem e, consequentemente, desenvolvimento avaliação na Educação Infantil, um assunto novo para muitos dos
humano, é preciso considerar as crianças, o que elas sabem e os professores que trabalham com crianças de 0 a 5 anos. Existem
elementos novos que elas trazem na interpretação da realidade. Por muitas concepções de avaliação e, mais do que isso, objetivos
esse motivo, além de todas essas informações contextuais, o avaliativos.
professor também precisa se acercar de informações sobre o que as
crianças de sua turma já sabem e o que ainda podem aprender; como
Existem, por exemplo, avaliações que servem para selecionar pro ssionais; cooperação e troca com as famílias e participação na
per s para ingresso em determinadas instituições educacionais, rede de proteção social.
sobretudo as privadas. Na Educação Infantil esse olhar é excludente Além dos objetivos ligados à quali cação do trabalho institucional,
e restritivo, sobretudo porque trabalha com a ideia de pré-requisitos a Educação Infantil também se preocupa como o acompanhamento e
para frequentar a Educação Infantil e não considera o potencial que a avaliação que todo processo educativo requer, tal como recomendam
imersão social na instituição de Educação Infantil desempenha no as Diretrizes Nacionais Curriculares para a Educação Infantil
desenvolvimento, sendo ele também responsável pela formação da
As instituições de Educação Infantil devem criar
criança.
procedimentos para acompanhamento do trabalho pedagógico e
Outro objetivo comumente encontrado nas concepções de
para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo
avaliação é o de promoção ou de classi cação que, pelos mesmos
de seleção, promoção ou classi cação, garantindo:
motivos, é recusado pela Educação Infantil, sobretudo porque não se
con gura nessa fase da vida uma experiência seriada e mecanismos • a observação crítica e criativa das atividades, das
de aprovação ou retenção. brincadeiras e interações das crianças no cotidiano;

No Brasil, a Educação Infantil tem trabalhado com um objetivo de • utilização de múltiplos registros realizados por
quali cação das práticas educativas, construindo um olhar para adultos e crianças (relatórios, fotogra as, desenhos,
aspectos do funcionamento institucional. Espera-se avaliar não a álbuns etc.);
criança isoladamente e seu desempenho, mas sim a educação • a continuidade dos processos de aprendizagens
proposta por instituições de Educação Infantil. por meio da criação de estratégias adequadas aos
Para apoiar o processo de avaliação com esse propósito, o MEC, diferentes momentos de transição vividos pela criança
junto com outras instituições, desenvolveu e disponibilizou um (transição casa/instituição de Educação Infantil,
instrumento de apoio, os Indicadores de Qualidade na Educação transições no interior da instituição, transição
Infantil5. Nesse documento, os indicadores são vistos como os sinais creche/pré-escola e transição pré-escola/Ensino
que revelam determinados aspectos do trabalho da instituição, Fundamental);
referindo-se ao desenvolvido em sete dimensões: planejamento • documentação especí ca que permita às famílias
institucional; multiplicidade de experiências e linguagens; conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os
interações; promoção da saúde; espaços, materiais e mobiliários; processos de desenvolvimento e aprendizagem da
formação e condições de trabalho das professoras e demais criança na Educação Infantil;
• a não retenção das crianças na Educação Infantil. a) A observação crítica e criativa das atividades, interações e relações de
(Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação cuidado
Infantil, Parecer CNE/CEB nº 20/09)
A observação é um dos mais importantes instrumentos utilizados
No capitulo 6 deste livro também apresentamos onze indicadores pelo professor. Exige colocar em ação uma ação investigativa, pois se
de saúde e bem estar, de acordo com as orientações produzidas para trata de um instrumento de pesquisa, não de con rmação de ideias
as Diretrizes Curriculares6. pré-concebidas que serviriam apenas para trazer exemplos do que
A seguir, apresentaremos alguns instrumentos que apoiam o ele já sabe. Ao contrário, ela se presta à pesquisa, a descobrir coisas
trabalho de planejamento no seu dia a dia, avaliação e novas. Observar exige mirar, reparar, notar, registrar, interpretar.
acompanhamento do trabalho pedagógico, com o objetivo de Quanto mais trabalhamos a observação, mais e melhor podemos
atender às crianças e promover avanços em seu desenvolvimento. observar.
A observação possibilita que o professor compreenda a forma
INSTRUMENTOS BÁSICOS PARA O PROFESSOR: A OBSERVAÇÃO, O como cada bebê se expressa e se comunica antes da fala. A
REGISTRO E A PROBLEMATIZAÇÃO.
regularidade e o momento em que um bebê costuma jogar a colher
no chão em situações de refeição, por exemplo, podem indicar que
Segundo Vigotski (2002), um instrumento não é apenas uma ele está satisfeito, e não o desejo de brincar com a colher. Outro bebê
pode virar a cara para comunicar a mesma coisa. Reconhecendo
ferramenta material, mas inclui complexos processos mentais
capazes de promover mudanças signi cativas em nossa forma de esses sinais o professor pode melhor responder às necessidades e
apreender e signi car o mundo. O uso de um instrumento tentativas de comunicação do bebê.

determinado provoca mudanças no modo do sujeito pensar, projetar Podemos observar as crianças em interação de forma direta,
ações, observar, antecipar hipóteses, registrar, comparar, avaliar e notando cada gesto ou palavra, a reação que essa ação provoca nas
argumentar em favor de determinadas práticas ou novos conceitos. demais crianças etc. O olhar, nesse caso, é mais livre e aberto para o
Concordando com isto, vamos destacar como alguns procedimentos que está ocorrendo e o esforço de quem observar está em apenas
adotados pelo professor podem se tornar instrumentos para rever notar o que acontece sem atribuir um valor, um julgamento, uma
suas ações, apoiar suas decisões, buscar alternativas, fortalecer sua interpretação. Apenas notar. Outra possibilidade é a observação
atuação pro ssional, dentre outros ganhos. mediada por um instrumento como uma pauta, um roteiro, por
exemplo. Esse tipo de observação é dirigido a algumas situações
especí cas e pressupõem um alto grau de antecipação. Em qualquer
caso, podemos a rmar que a observação usada como instrumento do preferem, seu posicionamento isolado ou suas parcerias
professor tem algumas características: prediletas. Por isso, se estende ao longo de certo tempo, não
apenas de um episódio esporádico. Uma observação bem
• Foco: há um ponto ou um aspecto especí co claramente
feita também permite a um pesquisador, ou outro
colocado para aquele que observa. Por exemplo, pode ser
pro ssional, como o coordenador pedagógico, por exemplo,
uma criança, um grupo de crianças, uma situação no
apreender alguns observáveis na atuação do professor em
refeitório, um episódio de roda de história etc.
relação a sua turma de crianças e re etir sobre as razões e
• Objetivo: surge de uma inquietação ou da necessidade de preocupações que a estariam mediando.
conhecer melhor algum aspecto do desenvolvimento e da
aprendizagem da criança, ou mesmo de se aproximar de
b) A utilização de registros
seus gostos, preferências etc. Pode partir de uma ou mais
perguntas, iluminando amplamente uma situação para
Um bom registro, seja das observações feitas ou da própria
então gerar questões interessantes. O observador não deve
re exão, possibilita ao professor fazer uma boa análise de um
julgar situações que observa, mas sim tomar o tempo para
determinado caso. Sem ele, trabalha-se frequentemente com ouvir
apreender um episódio que envolve a vivência das crianças
dizer, com preconceitos, com informações muito incompletas. Diz a
e suas aprendizagens, recolher dados para levantar novas
BNCC:
perguntas sobre o que está ocorrendo. Do ponto de vista do
cuidado, o observador pode interpretar o que observa com (...) Por meio de diversos registros, feitos em diferentes
base no conhecimento do professor, embasado momentos tanto pelos professores quanto pelas crianças (como
cienti camente, e mudar o processo, como por exemplo, relatórios, portfólios, fotogra as, desenhos e textos), é possível
quando se observa que uma criança não quer comer, está evidenciar a progressão ocorrida durante o período observado,
com frio, ou dor e a professora orienta sua ação de forma sem intenção de seleção, promoção ou classi cação de crianças
diferenciada para essa criança que demonstrou precisar de em “aptas” e “não aptas”, “prontas” ou “não prontas”,
outro tipo de ajuda. “maduras” ou “imaturas”. Trata-se de reunir elementos para
• Continuidade: convida a um acompanhamento curioso e reorganizar tempos, espaços e situações que garantam os
interessado do que se passa na interação das crianças como, direitos de aprendizagem de todas as crianças. (BRASIL, 2017, p.
por exemplo, seus movimentos corporais, falas, expressões 37)
faciais, os objetos que elas manipulam e os locais que elas
O trabalho a partir dos registros permite conhecer melhor as se o ano começa e o professor pouco conhece as crianças, um bom
práticas educativas, abrindo assim um caminho de diálogo e de instrumento para tal é analisar a cha de adaptação onde se pode
provocações construtivas de um novo saber. Quando o professor, o registrar gostos, referencias e reações que cada criança manifesta no
coordenador pedagógico, ou o diretor de uma unidade de Educação primeiro contato com uma situação nova, como costuma ser o
Infantil leem um registro feito pelo professor ou por um colega, eles ingresso na instituição de Educação Infantil.
podem analisar as concepções de criança e seu desenvolvimento que Quando um professor pretende desenvolver um projeto coletivo,
nele aparecem. pode observar o que as crianças sabem e o que ainda precisam
A primeira forma de registro de pontos observados é a própria aprender na observação de atividades especí cas como escrita,
memória: da in nidade de cenas que observamos diariamente, só desenho, jogos etc. Ou, ainda, se ele está trabalhando com um
permanecem na consciência aquelas que caram registradas na projeto didático, ele pode recorrer ao registro que apoia a
nossa memória em função dos nossos conhecimentos anteriores, da organização de todas as etapas do trabalho, o histórico do trabalho
nossa história de vida, dos nossos interesses etc. O registro da em grupo, as hipóteses e sugestões das crianças e do próprio
memória tem um lastro afetivo muito forte e que revela nossas professor.
crenças e valores. No entanto, a memória não nos é su ciente, posto Saber escolher o instrumento adequado para cada momento do
que nós só registramos aquilo que podemos reconhecer, que estamos ano e reconstrui-lo em função das questões que procura investigar é
acostumados a enxergar, aquilo a que damos um signi cado. E como muito importante porque isso vai contribuir para a orientação dos
podemos observar o que não conhecemos tão bem? diferentes olhares que se pode ter sobre as crianças e o trabalho. Por
O registro do que foi observado deve ser feito, de preferência, isso, deve ser debatido entre os professores da escola e o
simultaneamente à observação e informar os nomes, idades, locais, coordenador pedagógico.
horários, situações observadas e objetos disponíveis. Descrever com
detalhes o que as pessoas observadas fazem: seus movimentos
A problematização
corporais, falas, expressões faciais: o que as pessoas falam e para
quem falam, os objetos que manipulam e os locais onde se colocam.
Todos os registros, dos mais simples e objetivos aos mais
É importante marcar quantas crianças estão sozinhas, quantas estão complexos devem contribuir de alguma forma para alimentar o
próximas e quantas interagem a cada minuto da observação. O pensamento re exivo do professor. Para tanto, precisam estar a
registro pode ser complementado por re exões do observador sobre
serviço de um propósito claro, pois se forem usados
como ele viu a situação. Para isso ele pode utilizar diferentes tipos burocraticamente, pouco contribuirão para o desenvolvimento
de registros, a depender de seus objetivos de trabalho. Por exemplo: pessoal ou pro ssional do professor.
Muitas vezes os registros trazem informações insu cientes para perguntas inesperadas, que ajudam a enxergar o ocorrido com
que se possa compreender a complexidade das interações e dos outros olhos. Tais perguntas devem ajudar o professor a passar do
demais elementos que interferem nas situações educativas nível descritivo ao nível interpretativo de seu pensamento crítico;
observadas. Nesse caso a melhor maneira de aperfeiçoar um registro transformar os confrontos em potenciais de reconstrução de ações e
é aprofundar as observações: voltar a observar a situação para dar sentido ao que se observou e ao que depois se de ne como
buscar informações que tornem mais claras determinadas passagens objetivo a prosseguir. Todo esse processo tem um papel
dos registros, levantar perguntas a partir do relato que possam determinante no desenvolvimento de um modo de pensar mais
contribuir para a problematização do episódio e a construção de re exivo.
uma visão mais aberta do ocorrido, mais re exiva. Mas, o que signi ca “ser re exivo”? Todo pensamento é re exivo?
O processo de problematizar uma vivência, de entendê-la como O que caracteriza o pensamento re exivo? E, por m, por que essas
uma situação a ser melhor conhecida, faz com que o professor se perguntas nos interessam?
implique com o seu próprio trabalho, assuma uma atitude de É importante reconhecer que há muitas formas de pensar e nem
questionar o próprio saber ao interpretar as experiências, utilizando todas são re exivas. Ser re exivo signi ca ter desenvoltura para
para isso instrumentos e recursos pessoais que lhe permitem colocar em prática um tipo especial de pensamento. Para Alarcão
compreender melhor a si mesmo e ao seu meio como, por exemplo, a (2000), o pensamento re exivo é uma capacidade que tem que ser
observação, a descrição, a análise, o confronto de ideias, a cultivada. O que o caracteriza é a capacidade que o sujeito tem de
interpretação e a avaliação. Problematizar implica em não aceitar a voltar-se para si próprio, de pensar o próprio pensamento. No caso
experiência como dada ou como pronta. Exige do professor uma dos professores, por exemplo, há pro ssionais que descrevem bem
atitude crítica na elaboração de perguntas sobre o que ocorreu. sua prática, que desenvolvem elaborados relatos de sua própria
Por que eu propus dessa maneira e por que as crianças responderam experiência. Mas, nem por isso são re exivos. É mais re exivo, por
daquela forma? O que elas aprenderam com o que eu propus? Que exemplo, aquele que, ao relatar seu trabalho, sabe colocar-se em
estratégias elas puderam desenvolver graças às estratégias que eu pensei relação a ele, sabe pensar sobre como chegou a formular
nesse caso? E eu, como professora, o que aprendi com essa experiência? determinada proposta, as razões que o motivaram e, ainda, como
São perguntas que remetem para a nalidade das ações, para o pode mudar esse modo de pensar.
conteúdo envolvido e também para as estratégias. O principal responsável pelo trabalho educativo é o professor, e se
Muitas vezes pode-se recorrer ao apoio de um parceiro, o ele colocar em prática seus instrumentos de modo re exivo e cada
coordenador pedagógico, o diretor, ou mesmo um professor mais vez mais crítico, certamente estará contribuindo decisivamente para
experiente que, olhando de fora da situação, tem condições de fazer
seu próprio desenvolvimento pessoal e pro ssional. Caberia a cada acompanhamento de cada criança tais como, seus gostos, suas
professor perguntar-se: fragilidades, intolerância a algum alimento, alergia a insetos etc.
A cha de saúde talvez seja o mais objetivo de todos os registros.
• Como eu assumo o exercício da observação e do registro no
Ali constam informações sobre o desenvolvimento da criança desde
meu trabalho pro ssional?
seu peso e medida ao logo dos meses, como também seu histórico de
• Quais são os propósitos do meu exercício disciplinado e saúde, as intercorrências mais importantes, os medicamentos que já
regular de observação?
tomou, informações sobre como reage quando se machuca, quando
• Quem são meus interlocutores? A quem eu con aria meus dorme etc. Algumas dessas informações de saúde são fornecidas
textos e com quem eu compartilharia meu olhar? pela família antes do ingresso da criança na instituição de Educação
Infantil, e atualizadas constantemente. São fundamentais
c) A documentação informações sobre o dia a dia da criança em casa, dicas que apoiam o
professor na compreensão de cada criança na fase de acolhimento:
Os registros, além de cumprir um importante papel na formação
• rotina de sono (horários de sono diurno, como costuma
dos professores, são parte do processo dedicado e contínuo de
adormecer)
documentação da história dos processos de aprendizagem das
• rotina de alimentação (horários de alimentação,
crianças de modo a compartilhar a visão da criança como sujeito
preferências, restrições, alimentos que aprecia e rejeita)
ativo e dar notícias às famílias sobre a aprendizagem e o
desenvolvimento das crianças. Além disso, também são importantes • brincadeiras e objetos preferidos em casa.
instrumentos de análise ao longo de todo o ano, servindo como • reações ao contato com adultos e crianças
balizas para as regulações necessárias dos planejamentos. • expectativas e preocupações das famílias
Alguns instrumentos, com apontados a seguir, podem apoiar essa • comunicação (recursos de comunicação, gestos, palavras
tarefa trazendo informações de diferentes naturezas. que já pronuncia...)

FICHA DE SAÚDE: o desenvolvimento de uma criança deve ser A documentação de saúde deverá ser complementada ao longo do
acompanhado também pelo professor, além dos pro ssionais da área ano, conforme a criança atualiza seu esquema vacinal, cresce em
da saúde que apoiam o trabalho pedagógico da creche ou pré-escola. estatura e peso, apresenta alguma intercorrência ou requer
A cha de saúde é um dos instrumentos que ajudam o professor a mudanças no cardápio ou outros cuidados. Em todos esses casos, a
conhecer em profundidade detalhes que são importantes para o
família é orientada pelos pro ssionais do serviço de saúde que a pré-escola. Para apoiar a construção desse exercício oferecemos a
acompanham. seguir uma sugestão, um ponto de partida para a construção do
instrumento.
FICHA E NOTAS SOBRE A ADAPTAÇÃO: a entrada de uma criança na
instituição educativa é um momento crucial na vida de qualquer
criança, pois marca a passagem do convívio estritamente familiar FICHA INDIVIDUAL - PERÍODO DE ADAPTAÇÃO
para o coletivo, ampliando signi cativamente seus laços sociais. É
muito importante que essa passagem seja bem feita, oferecendo todo Informante:
o apoio para a acolhida porque disso dependerá o vínculo que a Data:
criança estabelecerá com os adultos nesse ambiente. Além disso, essa Nome da criança:
con ança básica que está em construção nos primeiros dias da Data de nascimento:
criança na creche ou pré-escola é a matriz do modo como ela poderá
Brinquedo favorito de casa7:
con ar e se relacionar com outros adultos. Mas, no tumulto e na
tensão que costumam tomar esses dias, nem sempre os professores Brinquedo favorito da creche:
conseguem olhar em profundidade para as crianças e para suas Costumes e possíveis prescrições médicas sobre alimentação:
relações no novo grupo. É por isso que o instrumento de registro das Sono:
observações do período de adaptação é extremamente útil. Ele ajuda Recursos de comunicação:
a disciplinar o olhar para o que é realmente importante nessa
Brincadeiras que aprecia:
transição e que muitas vezes pode até mesmo passar despercebido.
Situações que vive com di culdade:
Os dados registrados em uma cha de adaptação podem mais
tarde servir para outros ns como, por exemplo, a organização de Reações mais importantes com relação:
um relatório para as famílias, a pauta da reunião de pais ou mesmo • à professora:
para a confecção do diário do bebê, o registro do primeiro ano de • às crianças do grupo:
vida que a criança pode levar para casa ao nal do ano. • aos demais adultos da instituição:
É interessante que essa cha de observação seja construída com o Melhor amigo ou parceiro da sal:a
grupo de professores e o coordenador pedagógico na reunião de
Modo como costuma chegar à unidade educacional:
planejamento do início do ano, pois organizar esse registro já é parte
do trabalho de cuidar bem da entrada das crianças na creche ou na
Modo como costuma se despedir na saída diária da unidade – É, mas e se a que fechar for a que é? - perguntou C.
educacional: Não teve jeito: se a errada atender o chamado, se encarrega de avisar a
outra. Funcionou porque as duas acabaram se aproximando e MH cou
O chário onde serão organizadas as observações, em formato mais à vontade.
impresso ou digital, também devem conter espaços para o registro Nesses primeiros dias observei muito o jeito como brincam. Notei que
de anotações sobre a adaptação do grupo, convidando um olhar L ca muito à margem do grupo. Ela está em todos os lugares, mas em
mais atento para o modo como as crianças interagem e estabelecem lugar nenhum. Brinca com o grupo, mas parece sempre sozinha. Será
relações afetivas nesse grupo de crianças. Essas notas podem ter que é sempre assim? Será que é só quando brinca de casinha? Na semana
também o objetivo de fazer o balanço de um período, momento em que vem vou voltar a observar.
que o professor organiza tudo o que ele aprendeu sobre seu grupo
Por falar em casinha, nesse ambiente de faz-de-conta ela foi o maior
de crianças e o que tem pensando sobre isso, como se pode ver no
agente integrador. J adorou brincar ali, mas precisou da minha ajuda
exemplo relatado a seguir. para entrar, pois parecia ter intimidade ao entrar em um jogo que já
acontecia entre as demais crianças.
Mais uma adaptação tranquila. As crianças parecem estar bem. Achei (...)
que a falta das professoras do ano anterior seria um problema porque as
Nesta semana continuei as observações sobre as brincadeiras e
crianças ainda são pequenas (4 anos) e poderiam estranhar a minha
con rmei o que já tinha apontado sobre a L. Ela realmente ca à margem
presença, não encontrar ninguém conhecido por perto. Mas não foi o que
das brincadeiras de parque, nos jogos simbólicos. Sempre procura a
aconteceu. O grupo parece tão unido que as crianças resolveram a
atenção de um adulto, professora ou não. (...). Por que isso ocorre? Será
questão por elas mesmas. Estavam com saudade. Chegaram conversando,
que sempre foi assim no ano passado? Desde quando? Ela já teve
brincando, não precisaram de nenhum incentivo externo. J. e MH.
parceiros favoritos? (...)
estranharam um pouco, M. até chorou, mas eu percebi que ela queria ser
ajudada. Ficou no colo e foi para a roda aconchegada. Conversamos sobre
os nomes de todo mundo, quis saber se alguém tem algum apelido, como Nesse relato, vemos como a rotina de observar e registrar o que
gosta de ser chamado... MC e MH se divertiram tentando resolver como ocorre no período de adaptação fez com que a professora estivesse
distingui-las já que ambas gostam de ser chamadas de Maria. atenta ao grupo e descobrisse características que talvez não
percebesse se não tivesse propositalmente voltado o olhar para isso.
– Ah, quando for uma só, ela que ouve, a outra fecha o ouvido – disse
E porque ela notou tais aspectos, ela pode se colocar novas questões
E.
e investigar suas hipóteses nos dias subsequentes. Com base nesse
conhecimento em construção, a professora pode pensar melhores NI: Eu já fui no museu de cobra.
intervenções, o que pode signi car um fortalecimento dos vínculos LAR: Minha tia trabalha num museu de cobra, no Butantã.
dessa criança e da capacidade de se relacionar com seus pares,
NI: É lá que eu fui.
condições que podem melhorar muito a experiência da criança no
D: Passou na TV quando eles caçam e prendem a cobra.
mundo.
NE: Pela cabeça, né?
REGISTROS DE ATIVIDADES DE CRIANÇAS: ao longo do ano, com o
NI: Mas eu já falei cascavel ... ela tem um rabo que faz assim, plim,
avanço do trabalho, outros registros são necessários para apoiar a plim, plim, plim ...
atualização do planejamento pedagógico. Para cumprir esse objetivo,
LAR: Eles põem um aparelho, eles têm um aparelho no Butantã.
o registro de atividades costuma ser útil. Ele pode ser feito como um
relato bastante detalhado do ocorrido ou, em alguns casos, uma
A professora mostra um pôster da obra “A Negra”, de Tarsila do
transcrição de tudo o que foi dito pelas crianças em uma roda de
Amaral.
conversa, como no relato apresentado a seguir: NI: Quadro de pessoa famosa!
PROF: Esse quadro pode ser de museu?
PROF: Quem já foi ao museu, quem sabe dizer o que tem lá? ARTHUR: Pode, porque, é claro, no museu tudo é maluco.
NI: É pintura de museu! PROF: E aqueles? (aponta para o painel dos trabalhos das crianças)
PROF: O que é pintura de museu? L: Não, porque foi a gente que fez.
C: É que explica sobre tiranossauro. NE: Pode sim, sabe por que? Lá só pode pintura de tinta!
L: Não explica nada, museu só mostra os quadros. NI: A moça pelada (aponta para o pôster).
A: Não explica nada, tem obras. A: Ela tá com uma teta pendurada.
NE: É uma pintura muito famosa. V: É um homem, ele tá com a boca fechada.
V: É sobre pessoas também. C: Eu não sei.
PROF: Que pessoas? V: É um homem porque tá careca.
V: Não sei. NE: Mulher também é careca.
PROF: O que tem que ter para ser pintura de museu? LAU: É, mulher também é careca.
L: Tem que pendurar na parede.
LAR: Quero falar. Ontem eu tava no parquinho com meu pai e vi uma isso seja visto como um erro. Mais importante ainda será notar os
mulher careca e era pequena, e era uma lha. avanços que as crianças vão fazendo ao longo dos anos, na medida
LAU: Viu como tem mulher careca, Victor? em que aprendem novas palavras e modos de se expressar.

NE: Sabe que minha avó é careca? Para organizar esse tipo de registro, o professor pode fazer uma
programação de registros cobrindo diferentes aspectos do trabalho
(...)
pedagógico ao longo de um mês: uma atividade coletiva no parque,
PROF: Bom, então quantos tipos de museus existem?
um passeio, uma sessão de trabalho com materiais plásticos etc. Essa
MUITOS: Museu de quadro... museu do homem... museu de arte. sistemática cria uma rotina de observação e registro para o professor,
ajuda a disciplinar o olhar para a totalidade do desenvolvimento da
Uma análise do registro acima possibilita conhecer sobre como as criança no ambiente educativo e permite, ao nal de um período,
crianças se comunicam em uma roda de conversa, por exemplo: as avaliar as áreas bem sucedidas e o que ainda requer ajustes no
crianças que falam mais e as que ouvem mais; as hipóteses que o planejamento, visando a promoção da aprendizagem e do
grupo tinha sobre o que seria um museu e como essa hipótese vai se desenvolvimento para todas as crianças.
modi cando na interação com os colegas; o que rege o pensamento
DIÁRIO DE CAMPO: trata-se de um caderno onde o professor registra
das crianças, o modo como acionam suas lembranças e relacionam
diferentes assuntos em torno do conceito de museu. Permite também diariamente suas iniciativas com o grupo de crianças, suas hipóteses
analisar se as intervenções da professora, as perguntas feitas, ajudam de trabalho, suas descobertas, suas preocupações, o que o torna um
as crianças a avançarem em suas hipóteses e, nesse caso, é possível instrumento para o pensamento do professor. Isso ocorre porque a
escrita é uma atividade multirepresentacional e integrativa,
ainda pensar em como poderia ser a continuação dessa conversa,
proporciona uma devolutiva, que é um balanço do ocorrido, provoca
que projetos poderiam ser propostos ao grupo etc.
a estruturação deliberada do signi cado e é uma expressão ativa e
Além disso, possibilita a re exão sobre o quanto uma situação
pessoal. Por isso, a escrita é tão importante no percurso pro ssional
vivida com as crianças pode atravessar alguns campos de
e, em especial, a escrita diária.
experiências, ao articular os saberes que as crianças trazem para
essas conversas (ideias relativas aos museus, as cobras, o que as toca Os diários de campo contam o que acontece todos os dias, como se
a partir da pintura) e o repertório cultural (os diferentes tipos de sucede o tempo segundo a perspectiva de seu autor. Por isso,
podemos dizer que eles trazem narrativas singulares e pessoais que
museus, a pintura de Tarsila do Amaral).
podem tratar de vários assuntos: algum aspecto especí co do
Como o registro conta a história das crianças, é importante
preservar o modo próprio como as crianças se expressam, sem que
trabalho como o desenvolvimento de um projeto, o desenvolvimento propor às crianças, além de dilemas éticos que são típicos da
do desenho ou a aquisição da escrita pelas crianças etc. pro ssão. Essa visão é interessante na medida em que não vê o
Como o dia a dia do professor é repleto de descobertas sobre o trabalho docente como uma ação perfeita, acabada, mas sim como
processo de desenvolvimento de um grupo de crianças, seu diário cheia de desa os, tensões. A escrita sistemática do diário pode
também deve ser assim, páginas recobertas do que há de mais vivo ajudar a evidenciar também as relações entre os campos de
no dia a dia das crianças e, principalmente, do seu próprio experiências, o destaque que determinadas aprendizagens podem
pensamento sobre esse dia a dia, como ele se avalia competente ou adquirir durante o desenvolvimento de um ou outro projeto e as
não, além de dúvidas colocadas pelo próprio currículo para a faixa possibilidades de avaliar o quanto os direitos de aprendizagens
etária e as decisões que precisam ser tomadas. estão sendo contemplados nas experiências vividas pelas crianças.

Normalmente esses registros são produzidos depois do trabalho A seguir, acompanhe algumas páginas do diário de campo de uma
direto com as crianças, favorecendo-se do distanciamento necessário professora de um grupo de crianças de 5 anos.
para a descrição dos fatos mais inquietantes, das intervenções,
resultados alcançados e as novas dúvidas. 24 a 28 de fevereiro
Escritos preferencialmente com frequência diária (podendo variar (...)
a depender das rotinas de cada professor), os diários de campo, a Mas, voltando, tenho umas dúvidas. Não é quanto ao que
exemplo dos diários de bordo, guardam a narrativa de um percurso. combinamos, quanto ao que vamos trazer para a sala, quanto ao que
Guardam também notas sobre reações e características individuais queremos que as crianças aprendam. Estou querendo pensar melhor em
das crianças, fatos inéditos daquele dia, o que foi signi cativo ou como as crianças formam conceitos em Ciências Sociais. Quando penso
pode ter repercussão nos dias seguintes, di culdades da organização nas Ciências Físicas, Naturais, os exemplos cam mais claros. Acho que
do tempo, relações com as famílias etc. Também é interessante o projeto dos foguetes tenta resolver uma questão que é mais
incluir observações de cada criança individualmente, sobre suas determinada, diz respeito às ideias das crianças com relação ao espaço, à
aprendizagens, descobertas, falas, desa os. Todas essas informações situação do planeta que a gente vive. Se pensarmos nos exemplos que o
também podem apoiar a escrita de um relatório individual e Carreteiro8 conta podemos perceber que existe uma questão, um
contribui para dar visibilidade a cada criança em seu percurso de problema conceitual a ser resolvido. Então, é fácil avaliar se o projeto deu
aprendizagem, nos diferentes campos de experiência. certo ou não. O mesmo acontece quando tratamos de História, do
A leitura dos diários permite investigar vários aspectos do conceito de tempo que parece forte entre as crianças de 5 anos para
trabalho docente: a caracterização do modelo de gestão de sala e do frente. Mas e quanto a Ciências Sociais? O que é a questão? Qual é o
grupo de crianças que o professor adota, as atividades que costuma
conceito? O que essas crianças que já estudaram tanto sobre os homens e trouxeram de casa e outras que escolheram com a professora Elaine no
a cultura precisam responder no grupo 5? “sucatário” da escola. Muito mais divertido que brincar é preparar o
(...) brincar e depois discutir sobre isso. As crianças observam e pensam
muito enquanto se divertem. Uma equipe monta o caixa
Estou passando os textos do Carreteiro para a Dri9. Será que a gente
computadorizado enquanto a outra arruma as prateleiras pensando
consegue um tempo para estudá-lo? A gente tem tanto que pensar. Já
critérios para isso.
contou quantas reuniões nós vamos fazer juntas? Temos que aprimorar
as formas de comunicação. Num dia, distribuímos a todos o dinheiro xerocado e fomos às compras:
Nessa semana trabalhei mais com a matemática. Ensinei jogos de – Quanto custa essa gelatina? - perguntou Elaine, brincando com ele.
cartas e batalha. Queria muito ter registrado a “roda do batalha”, mas – Três reais. - respondeu Arthur.
não consegui tudo, passo a passo. De maneira geral, as crianças ainda – E essa caixa de bombom?
não comparam números grandes e precisam de apoio para comparar os
– Custa 1 real.
pequenos, até 10. Como eles contam muito, até 100 brincando,
– Nossa, Arthur, como pode, uma caixona com tudo isso de chocolate
recorreram à contagem oral para decidir quem ganhava. Imagina, na
custar mais barato do que essa gelatininha? Que gelatina cara, heim!
quinta partida, quando tiveram que comparar 60 e tantos com 80 e
Pode ser isso? – disse a professora Elaine.
tantos, já não aguentavam mais. Aí pedi que pensassem num jeito de
decidir o vencedor sem precisar contar, só lendo as cartas. Clara contou – É isso mesmo, é caro mesmo. Sabe o que você faz? Vai na Quarta
que é o último que manda e todos concordaram, mas como não deu certo, Extra10 que é tudo mais barato – respondeu, mostrando às professoras
voltaram à contagem oral até terminar o jogo. Ainda não estão que não dá para pensar na matemática enquanto brincam. Hora de
convencidos de que precisam de outra estratégia. O legal é que já não brincar é hora de brincar, resolver problemas de matemática é em outro
contam mais desde o início, por exemplo, se o número for maior que 20, momento.
já pedem para começar no 20. Mas às vezes tem que chegar até o 60 e (...)
então, começar no 20 não adianta muito. Na próxima partida vou propor
não usar a contagem oral, pode usar o que quiser: régua, ta etc., mas Chama a atenção da professora o quanto as crianças estão
não contar. Será que vão aceitar o desa o? aprendendo. Mas ela tem dúvidas, não quanto ao que foi
(...) combinado, mas quanto ao que valia a pena apresentar às crianças.
O baú favorito da turma é o que guarda o kit supermercado. Também a professora aprende com as crianças, sobretudo com
Montamos tudo com as crianças desde o início, juntando embalagens que Arthur que de modo muito incisivo delimita e preserva o espaço de
brincar: hora de brincar é hora de brincar! Resolver problema de perguntas que a professora pode se fazer para dar continuidade ao
matemática é em outro momento. trabalho com as crianças.
Está claro que as aprendizagens mais evidentes das crianças neste É encantador perceber o quanto, nessas pesquisas das crianças, o
momento, as que mais saltam aos olhos, estão relacionadas ao campo O Eu, o Outro e o Nós está sempre sendo trabalhado. A
exercício do direito de brincar e ao campo dos Espaços, Tempos, vontade de descobrir é tão grande, que as crianças têm prazer em
Quantidades, Relações e Transformações. As propostas parecem ouvir as ideias uns dos outros! Escutam-se com mais atenção,
acertadas: as crianças realmente parecem gostar de explorar, valorizam as experiências de terem descoberto coisas juntos, de
conversar, confrontar hipóteses, discutir conhecimentos que a colaborar. A professora se envolve ao ver o quanto aprenderam e o
professora consegue identi car como matemáticos e das ciências. O quanto, pouco a pouco, vão se tornando muito mais capazes de
pensamento das crianças é curioso e empolga seus professores com compartilhar e escutar.
suas tentativas de explicar os fenômenos do mundo. Por isso mesmo Neste exemplo, vemos que ao escrever a professora dialoga
colocam tantas perguntas na cabeça a professora. Observando-as, é consigo mesma, toma consciência das tantas variáveis que
possível compreender melhor como as crianças formam conceitos e interferiram em seu fazer, re etem sobre o ocorrido e, não
como se aproximam da Físicas, dos conhecimentos do mundo raramente, já levantam novas ideias, hipóteses que são colocadas em
natural. O projeto de investigação sobre os foguetes tenta resolver jogo no dia seguinte, no planejamento de mais um dia com as
uma questão que é mais determinada, diz respeito às ideias das crianças. Por esse meio ela pode aprender cada vez mais sobre seu
crianças com relação ao espaço, à situação do planeta em que a gente próprio trabalho, enquanto aprende mais sobre si mesmo e seu
vive. Se pensarmos nos exemplos que o Carreteiro conta, podemos modo de pensar.
perceber que existe uma questão, um problema conceitual a ser
Além do benefício que o diário traz para o próprio professor como
resolvido. Então, é fácil avaliar se o projeto pode ser interessante ou
instrumento de sua re exão, quando compartilhado no grupo, o
não. O mesmo acontece quando se trata do conceito de tempo
diário possibilita uma interessante troca de conhecimento entre pares
histórico, que parece forte entre as crianças de 5 anos para frente.
ou, ainda, com parceiros mais experientes, em geral o coordenador
Elas conseguem encontrar formas de explicar, por exemplo, coisas
pedagógico, o que pode contribuir para melhorar a qualidade do
que aconteceram “antes”, no “passado”, ou conversar sobre “o
trabalho do professor, seu pensamento crítico e a relação com as
futuro”. Mas e quanto a Ciências Sociais? O que é a questão? Quais
crianças.
são os conceitos? O que essas crianças que já estudaram tanto sobre
PORTFOLIO DE PROJETO: o registro de um projeto é similar ao
os homens e a cultura precisam responder no grupo 5? São
registro das atividades, mas guarda a principal diferença, que é a
continuidade. Depois de ter de nido o projeto do grupo, o professor sucessão de acontecimentos trágicos e com a demora do nal feliz. Não se
pode organizar um caderno ou uma pasta onde organizará o dia a conformavam com a maldade do gênio que prendia a mulher só para ele.
dia dos registros das atividades que compõem aquele projeto. Ele Queriam que o gênio se desse mal e que os irmãos salvassem a moça,
pode ter um caráter de diário como vemos a seguir. como nas histórias de princesas. Depois caram surpresas quando
souberam que a tal moça não era tão do bem, que já tinha matado todos
os maridos. Horrorizados com a coleção de anéis, não sabiam onde a
PROJETO MIL E UMA NOITES história ia chegar, muito diferente dos contos de fadas cuja estrutura vai
se repetindo tornando os acontecimentos de certa forma previsível.
17 a 21/02
Quando estavam certas de que todo mundo era do mal, aparece a
Sherazade, cuja inteligência, sabedoria e esperteza consegue driblar o rei
(...) Ah! Tem uma coisa legal sobre a biblioteca! Não queria mais levar
que planeja matá-la. Acontece tanta desgraça na história que a valentia
as crianças à biblioteca para ouvir histórias como nos outros anos, porque
da personagem acaba ganhando maior força, quase imbatível. Acho que
dessa vez o grupo tem procurado mais os livros que trazem informações
esse tipo de texto no grupo de 5 anos favorece relações com o repertório
sobre os bichos, a natureza etc. Pensei em uma proposta de trabalhar com
deles, sobretudo se pensarmos na comparação com os contos de fadas.
a pesquisa. Além disso, a roda de história é uma atividade permanente
muito bem contemplada na sala, diariamente. Por isso achei que a (...)
Biblioteca precisava ganhar outro espaço, outro sentido. As crianças Movidos por essa simpatia, pela força da Sherazade, fomos à pesquisa.
podem aprender a pesquisar, procurar os livros que elas querem, Queríamos saber como foi o casamento dela, e se morava em castelo ou
consultar chas, estantes, como qualquer pessoa faz numa biblioteca. palácio. A turma se dividiu entre as duas alternativas, mas quando abri a
Quero que se aproxime do uso social real. No mês que vem quero levá-los revista Caminhos da Terra sobre a Turquia, Gui reconheceu o palácio:
à biblioteca pública para pesquisar o assunto do projeto: como vivem os – É palácio porque tem essa coisinha aqui - mostrando a cúpula
árabes no deserto. (...) arredondada. - é o Taj Mahal.
– Não Gui, esse não é o Taj, é um outro que tem na Turquia, o Taj ca
17 a 21/03
onde? - perguntei.
Voltamos aos livros para descobrir detalhes da história da Sherazade – Na Índia - responderam todos.
que as crianças simplesmente adoraram. É engraçado ver com a – Sabia que de noite acende todas as luzes? - comentou Gui.
estrutura das histórias é diferente dos tradicionais contos de fadas e como – Parece mesmo o Taj. Será que todos os palácios têm esse jeito? E os
as crianças estranham isso: elas foram cando intrigadas, chocadas com a castelos, como são?
– Eles têm torre - disse Gui. – Ah, não dá porque no Hamã é todo mundo junto, olha aqui e no
Na continuação observamos um desenho das pessoas comendo num banquinho...
banquete. Chamei a atenção para mais essa diferença: – Não dá porque não cabe todo mundo - disse baixinho K, que estava
– E aí pessoal, como é que eles comem? É igual ao nosso jeito? atenta na sugestão.
– Nãããão! - responderam todos. – Pega o banquinho e põe em volta - disse Gui - e faz de conta.

– Como comem os japoneses? - perguntei. – Hum, assim dá.

– No chão - disse N. – Eu tenho uma grande ideia! - disse Ni.- Junta as mesas e a gente
sobe em cima.
– Não, eles sentam nuns banquinhos bem pequenos - disse Gui.
Enquanto isso L cava desesperada. “deixa eu falar, deixa eu falar ...”,
– Ou numa almofadinha - completou N - e tira o sapato.
até que conseguiu.
– É, e olha só o jeito que essas moças comem no banquete do casamento
– A gente, sabe, sabe como a gente faz? A gente pega aquela piscina e
- disse.
faz de conta que é ali.
– No chão. - todos.
– Ah, isso é legal, Lu - disse.
– O que será que eles comem? - disse ainda, mas isso o livro não trazia.
– É, cabe todo mundo! – insiste K.
Gui quis ver a gura ao lado que tem muita gente nadando junto. Li o
trecho e disse que era importante para o casamento. Contei como os pais – E põe menino e menina junto? - perguntei.
acertam o casamento e como são os preparativos. Na véspera as mulheres – Ah, os meninos cam na mesa - disse N.
vão com a mãe e todas as mulheres da família para o Hamã, o banho – É, ou nos banquinhos, como disse o Gui.
público. E os homens fazem o mesmo. Depois se penteiam, se perfumam
Acertamos os combinados para brincar, mas camos com a tarefa de
bastante. Propus que brincássemos de casamento. As meninas amaram a
trazer lençóis velhos de casa para fazer as roupas e as tendas. Os
ideia, mas os meninos detestaram.
meninos curtiram a pesquisa, gostaram de ver como se vestem os
– Mas pessoal, acho que não vai dar porque a gente não tem um lugar homens, que tem espada. Eles gostaram de tomar banho de piscina, mas
para fazer o Hamã. - provoquei. não curtiram nadinha ter que casar. Já as meninas estão enlouquecidas. J
– Ah, sabe que cê faz, sabe? Pega banquinho. - Disse B. até queria trazer o vestido de noiva, mas lembrou que elas usam lenços.
– É, mas como? - continuei. – Não faz mal, eu trago um lençol da minha casa.
– Vira o banquinho e entra dentro. - completou. Paramos nesse ponto.
24 a 26/04 Para além do registro da professora, é interessante compor o
portfólio com desenhos, fotogra as, impressões das crianças escritas
Estamos ainda lendo as histórias do Sindbad. O Gui já viu o lme, de próprio punho ou ditadas à professora. Desse modo, a
contou tudo para o Gu e os dois antecipam tudo, nem me deixam fazer documentação vai se transformando em um registro da memória de
suspense. As crianças acreditam mais neles do que em mim porque tudo um trabalho em processo e, ao mesmo tempo, vivi ca as
o que eles dizem acontece mesmo. Nessa semana acabo e quero mostrar o experiências das crianças e trazem importantes pistas de como dar
vídeo para todos. Depois vou contar, não ler, a história do Aladim e vou continuidade nos dias posteriores. O registro das etapas de um
começar a ler a do Marauf, que é demais de legal e o Gui nem conhece. projeto nos permite veri car como as crianças trabalharam em grupo
Acho que a do Aladim vai ser legal porque ela se passa entre a China, e como o professor pode apoiar as novas ideias que as crianças
Marrocos e África! Olha que legal! Dá para mostrar no mapa onde as traziam e aproveitar o envolvimento do grupo para mediar a
coisas estão acontecendo. O feiticeiro que persegue o Aladim é do aprendizagem de alguns conteúdos pelas crianças. Dessa maneira, o
Marrocos! registro vai compondo a história do trabalho com as crianças, e
torna-se fonte para muitos relatórios, exposições para pais e reuniões
Passei o m de semana lendo sobre isso. Vou poder falar um monte de
entre os próprios colegas de escola.
coisas. Descobri que o mundo árabe é muito grande, grande mesmo,
muito diversi cado. Do ponto de vista antropológico ca complicado REGISTROS DE IMAGENS: os registros de imagens, sejam vídeo ou
falar em “povo”, sem falar exatamente qual. Por outro lado, As Mil e
fotogra a, permitem acessar informações que nem sempre a escrita
Uma Noites já nos dá o recorte: muitas histórias se passam entre o
capta. O vídeo, por exemplo, traz a ação em movimento, com todas
Marrocos e o Cairo. Podemos começar por essas pensando no eixo da
as variáveis que interferiram no desenvolvimento da atividade
comparação.
infantil. É possível retomá-lo, voltar o lme, ver a mesma ação uma e
(...) outra vez, quanto for preciso, observando interações de crianças que
Pedi papelão para começar a confeccionar o palácio. Eu e a Dri não foram captados com a observação direta. Já a fotogra a permite
discutimos que isso não pode ser a nalização; temos que ir montando as analisar grandes planos, como a organização de um parque, e
tendas, o cenário todo, justamente para poder brincar, para car mais também detalhes, como o gesto de uma criança quando pinta ou
rico e não para mostrar no nal. Nesse caso, parece que o produto não é desenha, sua expressão de alegria ou preocupação, por exemplo.
“ nal”; é “durante”. Também pensei numa sequência de artes para Normalmente esses registros são usados para organizar a história
estampar o tecido das tendas e das roupas. de um grupo, servem como documentos de uma época. Mas re etir
sobre as imagens também uma forma de problematizar o trabalho
docente e recolher e organizar valiosas informações para alimentar o Tomando o conjunto de observações, os registros e as análises
planejamento. feitas, o professor pode dar continuidade ao seu trabalho de
A partir do conjunto da documentação da escola é possível pensar: planejamento considerando todo o saber construído na jornada
diária ao acompanhar um grupo de crianças.
• Quais vídeos ou fotogra as são realmente necessários e
O planejamento das propostas feitas às crianças deve atender a
importantes para o grupo? Por quê?
alguns critérios básicos:
• Quando se lma, a intenção é documentar? E o que se quer
1. Equilíbrio de propostas individuais e coletivas; espontâneas
documentar? Por que fazê-lo?
e orientadas;
• Quem lma, considera o seu próprio olhar que seleciona o
2. Variedade, diversidade e regularidade das atividades na
que lmar ou o olhar dos expectadores e o que eles
rotina, condição fundamental para a construção de uma
desejariam ver registrado?
maior familiaridade com algumas delas e apropriação de
• Crianças e professores participam da construção do roteiro conhecimentos pelas crianças;
da lmagem ou ela é feita segundo o olhar do funcionário
3. Atratividade da atividade proposta, que pode ser regulada
voluntário para lmar o evento?
de acordo com os problemas e os desa os que ela coloca
• Em que momentos os vídeos são assistidos pelas crianças? E para as crianças de diferentes idades.
pelo restante da comunidade da escola? Os novos
funcionários que chegam na escola assistem às antigas Um planejamento coloca muitas questões para pensar e, entre
lmagens? As fotogra as podem compor álbuns tantas questões instigantes, o professor precisa planejar combinando
compartilhados com as crianças ou murais na sala, pelo menos as quatro dimensões básicas já apontadas: a do tempo,
especialmente para que os pequenos possam interagir com do espaço, dos materiais e das interações.
elas cotidianamente. O planejamento na Educação Infantil é uma ação complexa que
• Como são utilizadas, conservadas ou arquivadas as envolve vários níveis de re exão que o professor deve construir no
lmagens realizadas? coletivo de sua instituição educativa. Sabemos, no entanto, que a
realidade brasileira é diversi cada e em muitas regiões os turnos e a
frequência das crianças em creches e pré-escolas assumem estruturas
UM OLHAR PARA AS ARTICULAÇÕES E A CONTINUIDADE DO TRABALHO
diferenciadas, procurando ultrapassar os limites e atender às
PEDAGÓGICO
características regionais.
A Educação Infantil do campo e a indígena têm características • a organização da jornada diária da criança nos grandes
especí cas que exigem um tratamento diferenciado dos preceitos tempos da instituição, como o momento da chegada e do
gerais para melhor atender às características da comunidade e as acolhimento, os momentos coletivos, a saída, etc.;
expectativas de aprendizagem das crianças. Por esse motivo, • a agenda ou programação semanal das atividades
entendemos que o conjunto de ideias e os modelos apresentados a cotidianas como brincadeiras no espaço externo,
seguir podem ser analisados pelos professores e transformados de alimentação, repouso, etc., que exigem a gestão de outras
acordo com seus contextos e necessidades locais. Ninguém melhor equipes para além dos professores e das proposições das
do que a própria equipe da escola para decidir sobre quais modelos crianças e dos professores e professoras, em continuidade.
usar, como e quando. Tomando por base o contexto do grupo, o Espaços de uso coletivo, se existirem, como biblioteca,
professor pode eleger as propostas que fará às crianças e organizá- ateliê, refeitório, etc., precisam ser revezados: nesse caso
las no tempo. requerem um quadro de uso dos espaços para organizar o
revezamento entre os diferentes agrupamentos no tempo.
DIFERENTES NÍVEIS DO PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO
Esses três planos se sobrepõem de modo que, ao tomarmos a
menor unidade, nela estão contidas ali as ideias mestras de todos os
O professor que toma decisões considerando a articulação do
outros planos. Apresentaremos sugestões de usos de diferentes
tempo, do espaço, dos materiais e da qualidade das interações, está
instrumentos de planejamento do trabalho pedagógico, que podem
planejando seu trabalho. Mas, o planejamento do trabalho de um
ajudar a organizar as propostas no tempo partindo da unidade
ano inteiro no acompanhamento de um grupo de crianças envolve
maior, que é o plano anual.
pensar mudança das ações, articular diferentes planos que se
desdobram no tempo. Podemos entender o planejamento docente
como um projeto estrategicamente pensando para acompanhar o a) Plano anual
movimento do tempo em pelo menos três planos:
O plano anual é organizado globalmente, levando em conta o
• o plano anual, que é um plano geral, que se refere à projeto político pedagógico da escola. É nesse nível que se observa o
atualização do projeto da escola para aquele ano, remete ao alcance real dos direitos de aprendizagem e de desenvolvimento, tal
conjunto das intenções e das ações previstas para o ano, como a BNCC prevê: conviver, brincar, participar, explorar,
segundo o currículo e a proposta pedagógica da instituição expressar, conhecer-se.
articulando diversos campos de experiências;
Orientar a ação docente requer explicitar como planejar e avaliar Com relação a um olhar para o direito de aprender a conviver, é
uma prática pedagógica que assegure às crianças direitos de possível se questionar, por exemplo:
aprendizagem e desenvolvimento em diferentes campos de
experiências. Por isso é interessante que o professor e a instituição se DIREITOS DE APRENDIZAGEM E COMO OS DIREITOS ESTÃO SENDO
DESENVOLVIMENTO(BRASIL, 2017, P. 36) CONCRETIZADOS NA UNIDADE DE EDUCAÇÃO
questionem a respeito dos ambientes de convivência e aprendizagem
INFANTIL?
que são organizados e experimentados cotidianamente pelas
crianças na instituição de Educação Infantil. Conviver com outras crianças e adultos, • As crianças têm sido convidadas a
em pequenos e grandes grupo, experimentar diferentes formas de
utilizando diferentes linguagens, organização do grupo? Grandes e pequenos
ampliando o conhecimento de si e do grupos, duplas ou trios de trabalho etc. Com
Valores do ambiente educativo outro, o respeito em relação à cultura e que frequência? Como essas diferentes
às diferenças entre as pessoas. experiências têm se realizado?
Para favorecer esse olhar, vale retomar o roteiro de perguntas no • Considerando o desenvolvimento
potencial dos bebês, desde os primeiros
capítulo 3 (pp. 85 a 88, deste livro), que investiga a brincadeira. meses de vida, como promover suas formas
Alguns princípios e critérios podem ser úteis para orientar a peculiares de expressão durante os cuidados
estruturação de ambientes de convivência e aprendizagem nas individualizados e a convivência com as
diversas idades?
instituições de Educação Infantil, buscando ampliar o olhar dos • Além linguagem verbal (oral e escrita),
professores e professoras e inspirá-los para proposições que tenham outras formas de linguagem das crianças
têm sido consideradas na organização das
sentido para os bebês de 0 a 2 anos e as crianças bem pequenas e
situações educativas?
pequenas, de 3 a 5 anos. Tudo isso sem esquecer que os cuidados • As manifestações culturais que
cotidianos que perpassam todas as experiências são um direito da constituem a comunidade escolar têm sido
objeto de investigação, elaboração e
criança à saúde e qualidade de vida na passagem pela Educação
produção criativa pelas crianças? De que
Infantil e ao longo da vida. forma?
• As crianças são convidadas desde os
Um exercício importante para todo pro ssional que lida com
primeiros meses de vida, a ampliar suas
Educação Infantil, é assumir a responsabilidade de realizar relações de convivência com outras crianças
movimentos de avaliação processual, de forma democrática e e adultos que compõem o cotidiano da
unidade educativa?
permanente, a m de quali car sua ação e competência, diante dos
desa os para cuidar e educar de forma indissociável. Assim,
Instrumentos como este, apresentado aqui como exemplo, podem
perguntas que ajudam a ampliar o trabalho pedagógico podem
ser construídos pela equipe, procurando articular cada um dos
emergir nas equipes pedagógicas.
direitos e o projeto político pedagógico da unidade educativa. Além diferentes campos de experiências das crianças e que dizem respeito
disso, outra forma de assegurar os direitos é examiná-los se eles a:
orientam a forma de apropriação dos objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento propostos. • (re)conhecer suas necessidades, sensações e desejos
relativos à fome, a sede, a nutrição do corpo, a vontade de
Re etir ao longo do período letivo sobre esses pontos com certa
comer etc.;
regularidade e rever planejamentos a m de assegurar cada um dos
• conhecer as outras pessoas em suas formas de expressar
pontos destacados, é uma forma de assegurar, na prática, as
condições pedagógicas e institucionais para que toda criança necessidades, sensações e desejos em torno do alimentar-se,
brasileira usufrua na creche e na pré-escola iguais oportunidades de bem como práticas e costumes que vêm das famílias e
alcançar seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento. re etem a diversidade da alimentação no Brasil e em outros
países (oportunidade que se amplia cada vez mais na escola
A gestão de uma instituição educativa é sempre pedagógica. Ela
brasileira, diante do acolhimento das famílias migrantes);
inclui a gestão dos ambientes dedicados a cada turma de bebês e
• conversar e trocar ideias enquanto comem, compreendendo
crianças. O termo “ambiente” não se refere apenas aos aspectos
o momento da alimentação como uma parada nas
físicos, arquitetônicos, estéticos dos espaços institucionais, aspectos
sem dúvida importantes. Além deles o ambiente de aprendizagem é atividades para congregar-se em torno do cuidado de si e
marcado pelo clima afetivo criado pelas interações que professores e dos outros.
crianças estabelecem, mediados pelo projeto educativo da • participar e se apropriar das práticas de cuidado de si e do
instituição. outro; dentre outras aprendizagens que podem decorrer da
experiência de participar coletivamente desses momentos
A tomada de decisões pelo professor é intencional no que se refere
de alimentação com crianças e adultos.
à organização e proposição dos ambientes de aprendizagens, das
atitudes e procedimentos de cuidados, de situações que favorecem A organização de ambientes de aprendizagem que acolham
as interações e a brincadeira das crianças, na direção da ampliação
pedagogicamente essas experiências de “comer junto” nos leva a
de suas aprendizagens e da integralidade de seu desenvolvimento.
pensar em ações dos diversos atores da unidade:
A intencionalidade da gestão pedagógica pode ser observada na
• do professor, que supera uma ideia restrita de que o
construção de ambientes que, por exemplo, atentam para o
momento da alimentação é só para “matar a fome” e cria
‘aprender a se alimentar’ no contexto de um espaço coletivo. Essa
situações de interação social favoráveis àquele momento;
aprendizagem mobiliza objetivos bastante diversi cados em
• da coordenação e da direção, que compreendem a Arranjos de tempo, espaço, materiais e interações
alimentação como prática cultural e garantem tempos e
espaços favoráveis àquelas aprendizagens A organização das proposições ao longo do ano é exível e exige
(De nitivamente, 15 minutos, como acontece em muitas constante atualização. Para tanto é necessário que o professor re ita
unidades de Educação Infantil, não é tempo su ciente para sobre os instrumentos de escuta das crianças que poderá dispor e
crianças se alimentarem, especialmente porque a como vai promover diferentes proposições ao longo das semanas,
construção da autonomia nessas práticas requer tempo para sempre com continuidade e participação das crianças, pertinentes
se consolidar); aos diferentes campos de experiências:
• dos funcionários da cozinha que, ao compreender a
• na forma de projetos,
alimentação como prática da cultura e reconhecerem isso
• de atividades cotidianas regulares;
em suas vidas, acolhem com mais tranquilidade os tempos
e modos diversos das crianças no ato de alimentar-se • ou outras formas de planejamento, com experiências de um
juntos. ou mais campos articuladas em torno de um foco de
• dos funcionários da limpeza que, ao compreender que as investigação.
crianças podem eventualmente derrubar algum alimento
Algumas proposições, como as atividades cotidianas regulares, já
no piso, reconhecem que estão no processo de construção
são previamente estabelecidas pela instituição porque se
das habilidades de auto servir-se e alimentar-se e
caracterizam como parte da rotina e da cultura de uma instituição,
contribuem com as aprendizagens envolvidas,
parte das tradições da cultura local. Por exemplo, em uma certa
No nível das projeções anuais, considera-se a experiência anterior realidade, o acolhimento das crianças no pátio de entrada em grades
do grupo de crianças, o que elas podem vivenciar nos contextos rodas pode ter caráter de atividade regular. Em outra, pode ser
diretamente na sala, promovendo o acesso da mãe, pai ou outro
anunciados no projeto político pedagógico da instituição,
familiar ao ambiente em que a criança cará. O piquenique ao ar
preferencialmente já partilhado com as famílias. Nesse plano estão
livre pode ser uma atividade permanente em outra realidade,
previstas as proposições organizadas em torno da exploração de
de nindo o dia da semana que cada turma poderá usufruir da
diferentes linguagens, na construção de objetos de conhecimento e
sombra da árvore, um patrimônio de toda a coletividade da escola.
de apropriação de práticas sociais, em diferentes campos de
Momentos de almoço, lanche, trocas de fraldas, etc. também são
experiências.
parte dessa rotina articulando um olhar para o cuidar e o educar.
Já os projetos são singulares e nada rígidos. Algumas de nições condições externas como, por exemplo, o período do calor intenso,
como, por exemplo, o tempo de início e de término, dependem da que exige a exploração de ambientes externos ou períodos chuvosos,
natureza do que se projeta em grupo e da participação de todas as que exigem um pensar mais voltado para o aproveitamento criativo
crianças. Nascem de uma curiosidade, de um tema instigante, da dos espaços internos.
negociação do que as crianças buscam saber e do que o professor ou O trabalho de planejamento no nível do plano anual se constitui
professora busca ampliar. São oportunidades para viver experiências pouco a pouco na passagem do tempo e na articulação dos recursos
de construções coletivas nas quais se enfoca não o conteúdo pedagógicos de que dispõem o professor. O instrumento a seguir
temático, em si, mas sim as oportunidades de aprender a conversar, permite documentar e, ao mesmo tempo, projetar o trabalho ao
perguntar, pensar, explorar, investigar e comunicar. longo do ano.
Para além dos projetos coletivos, existem outras formas de
turma:
planejamento que também asseguram a continuidade, além de ano:
professor: bimestre:
condições para o desenvolvimento de percursos pessoais. Essas
outras formas de planejamento estão presentes, porém são PERÍODO PROJETOS OFICINAS, ATELIÊS, PASSEIOS, ATIVIDADES COTIDIANAS

orquestradas pelo professor em função das explorações das crianças ETC. REGULARES

e do melhor aproveitamento do ambiente educativo. Tais modos de


organizar articula uma proposta de gestão de tempo, de
continuidade das proposições desenvolvidas pelas crianças, em
função dos campos de experiência. Podem ser, por exemplo: É importante considerar que as atividades regulares, embora sejam
cotidianas, não podem ser mecanicamente vistas como rotineiras, no
• ateliês, sentido ruim da palavra. Ao contrário, elas devem e dar suporte a
• o cinas, outras experiências mais complexas para as quais as crianças
precisariam ter maior familiaridade com alguns conhecimentos.
• passeios,
Por exemplo, a professora propõe que durante um semestre inteiro
• estudos de campo, etc.
as crianças brinquem com jogos de trilhas, conheçam a diversidade
Os períodos também podem ser de nidos de acordo com as de tipos e de estratégias que se pode ter para vencer os percursos
características locais: em alguns contextos o marco mensal é com obstáculos. Com essa experiência é possível, futuramente,
relevante, em outras comunidades, muito marcadas pelas discutir a construção de jogos de percurso. Da mesma forma, a
intempéries da natureza, os períodos podem ser marcados pelas professora organiza, como proposição da roda cotidiana de histórias,
um estudo de contos de fadas que é desenvolvido ao longo de dois uma lógica que considera as aprendizagens, garantindo as condições
bimestres. Como continuidade, ela pode propor, futuramente, que as que as crianças precisam ter para aprender e se desenvolver.
crianças elejam os contos favoritos e produzam uma coletânea Também vale a pena considerar outras formar de planejar não
própria, em um projeto que envolve saber muito sobre como se apoiadas estritamente em quadros ou chas. Há experiências de
escreve. Já o trabalho com a biblioteca, incluindo empréstimo de professores11 nas quais a escrita não é o único recurso para se
livro semanalmente, pode ser previsto ao longo de todo o ano compor um planejamento. Recorre-se também a esquemas, mapas,
porque a professora sabe que o desenvolvimento de gostos, quadros que também podem apoiar e guiar as ações e registros do
preferências e outros comportamentos leitores apoia se na professor relacionados aos projetos. O planejamento dos projetos,
construção de hábitos e de pouco adianta emprestar livros por exemplo, pode constituir um mapa conceitual alinhavando todas
ocasionalmente. Melhor ainda seria se a professora do ano anterior as possibilidades de investigação, conceitos e articulações entre eles,
também tivesse criado a mesma rotina com o grupo de crianças e a a partir de uma questão central de nida com base nas observações
do ano seguinte, dê continuidade ao trabalho. dos interesses e necessidades formativas de um grupo de crianças. A
Como vemos, é importante que as decisões de planejamentos professora faz um mapa para ela mesma, bastante amplo, como um
sejam assumidas pelo professor, autor de um trabalho que deve primeiro guia e, mais tarde, constrói um outro em conjunto com as
durar ao menos um ano. Nesse planejamento é fundamental que ele crianças, considerando aquilo que elas já sabem, as ideias, hipóteses
possa considerar as respostas das crianças, em seus diferentes modos e perguntas relacionadas a essa questão inicial. Esses mapas vão
de expressar envolvimento com as proposições, e considerar as sendo reconstruídos e ampliados ao longo do projeto, vão compondo
decisões no coletivo, ouvindo as avaliações, as sugestões e as a documentação do seu desenvolvimento. O mapa de percurso é um
decisões dos outros professores. Nesse processo de construção modo grá co de representar o planejamento do caminho, das
coletiva, a instituição tem condições de potencializar os objetivos de experiências que se pretende proporcionar às crianças para que
aprendizagem e desenvolvimento e garantir que a construção avancem nas investigações em diferentes campos relativas ao
democrática do currículo seja sempre atualizada e ajustada às projeto, nos diferentes momentos e práticas que compõem a rotina.
necessidades e desejos das crianças. Toda essa atenção colabora para que, de modo geral, desde o
Vemos assim o plano anual servindo toda a instituição como um desenho do plano anual seja possível garantir às crianças
instrumento que permite organizar as diferentes proposições, não as “experiências que promovam o conhecimento de si e do mundo por
distribuindo cronologicamente em atividades isoladas e espalhadas meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais
ao longo do tempo, mas criteriosamente articuladas, baseado em que possibilitem movimentação ampla, expressão da
individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança”.
(Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil).

b) Programação diária

A programação diária precisa estar apoiada na jornada do grupo


de crianças, dando limites e orientações para a construção coletiva
de toda a instituição educativa, procurando articular ao uxo de
crianças de outros grupos nos mesmos espaços e as rotinas de
É uma oportunidade contextualizada de garantia do direito de
serviços de apoio como o de limpeza e cozinha, que devem ser
participar e, ainda, de ampliar suas experiências no campo Escuta,
ajustadas de acordo com a demanda das programações pedagógicas Fala, Pensamento e Imaginação. Tal programação pode estar
necessárias à ampliação da jornada das crianças. disponível no ambiente da sala, no mural de pais, servindo também
Essa programação é diversi cada e interessante para potencializar como mais uma fonte de informação às famílias sobre o que as
o tempo de muitas crianças que permanecem apenas meio período crianças vivem na instituição.
na instituição. Mas as crianças que cam em período integral, além
Além disso, o professor também pode oferecer às próprias crianças
dessas experiências, também precisam ter momentos reservados
um varal com uma série de cartões confeccionados com fotogra as
para as atividades espontâneas, para estar só, dedicar-se às
ou mesmo ilustrações dos diferentes momentos do dia, dispostos em
atividades que escolherem e que mais gostam, ou repousar. ordem de acordo com a passagem do tempo. Isso pode ser um apoio
Com base nas ideias discutidas aqui sobre planejamento, é importante para as crianças menores, que encontram nesse
possível ao professor, em conjunto com sua instituição educativa, instrumento um apoio para compreender a passagem do tempo em
organizar programações mais ajustadas às crianças, construindo ao um dia na creche ou na pré-escola.
longo da passagem do tempo um currículo repleto de experiências
Como entendemos ser imprescindível ao próprio professor
para as crianças.
construir seus instrumentos e colocá-los em prática em seu trabalho,
Dando continuidade às experiências de participar da gestão da não os apresentamos como técnicas prontas para serem
agenda diária, as crianças pequenas podem, elas mesmas, combinar implementadas de imediato em cada escola, mas sim como
entre si quem registra a agenda, podendo, dessa forma, se colocar sugestões que devem passar pela avaliação de cada professor e
também como escrito, como no exemplo abaixo: ajustado aos seus mais prementes objetivos de trabalho. Tais
instrumentos não devem ser usados isoladamente, mas em AGENDA DA TURMA
interação, favorecendo a capacidade de re etir do professor.
SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA
Também não podem ser usados burocraticamente para todas as
atividades que serão desenvolvidas ao longo do dia. Eles podem Cantos de Cantos de faz-de- Cantos de Jogos de mesa Jogos de mesa
faz-de-conta conta faz-de-
apoiar a construção de um trabalho pedagógico que, esperamos, seja
conta
autoral, criativo e diversi cado, atendendo às crianças nos mais
variados contextos educacionais. Lanche na Lanche na sala Lanche Sala Pique-nique na
sala integrado área externa
entre salas

c) Programação semanal 1. Roda de 1. Roda de 1. Roda de 1. Roda de 1. Roda de


conversa conversa conversa conversa conversa
O plano anual é uma ideia geral, que precisa ser atualizada passo- 2. Desenho 2. Brinquedos 2. 2. Brinquedos 2. Jogos,
(proposta de voadores; jogos, Brinquedos voadores; Jogos, cabanas,
a-passo. Por isso, além desses instrumentos de organização anula e sequência cabanas, voadores; cabanas, brinquedos de
diária, também é importante recorrer a uma programação semanal grá ca) brinquedos de brinquedos de areia
3. Roda de areia areia
que permita ao professor acomodar as proposições no tempo,
contadores
equacionando, ainda, a urgência de demandas que surgem de de história
maneira imprevista, as sugestões das crianças além das diversas 4. Jogo de
bola
atividades ligadas ao convívio social de um grupo de crianças. Essa
organização pode ser feita a partir de um instrumento que possibilite Ateliê de Desenho Desenho Roda de música Roda de
ao professor visualizar toda a semana. No caso das crianças bem modelagem música

pequenas e das crianças pequenas, o ideal é que esse registro seja Almoço no Almoço integrado Almoço no Almoço no Almoço no
associado a um calendário para que cumpra a função de agenda refeitório; com outra sala refeitório; refeitório refeitório

diária, sempre compartilhada na turma. Desse modo as crianças Devolução Ateliê de desenho Ateliê de Canto de Canto de
podem participar mais ativamente da programação e, ao mesmo de livros desenho biblioteca biblioteca com
tempo, participar de uma importante prática social mediada pela emprestados empréstimo de
livros
escrita.
Contos de Contos de fadas, Contos de Leitura do livro Retomada da
O exemplo a seguir mostra como essa cha foi utilizada no
fadas, despedida fadas, eleito pelo agenda,
período de uma semana. despedida despedida grupo, avaliação da
despedida
semana, organizar o ambiente para que os bebês vivam experiências
despedida
coletivas, como as de exploração de materiais plásticos para suas
Providências para a semana: primeiras marcas, ou de car juntinhos para ouvir uma história lida
• Trocar os livros na biblioteca, pedir para separar mais exemplares de A Bela
pela professora. Um exemplo dessa agenda semanal mais voltada
Adormecida.
• Localizar as trilhas, que foram emprestadas para a turma do ano passado. aos bebês é o que se segue:
• Preparar a leitura do conto novo.
• Reproduzir mais chas de empréstimos de livros.
AGENDA DO BERÇÁRIO

Nessa dimensão do tempo é possível programar as atividades que SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

fazem parte da construção do hábito e das práticas sociais presentes


Exploração e Cestos do tesouro Finger de Cestos do Exploração e
no convívio de um grupo, como, por exemplo, o momento da convivência no (distribuídos pelo maisena: tesouro convivência
alimentação. Nele a professora diversi cou os rituais de alimentação espaço do espaço) pintura (distribuídos no espaço do
berçário: chão coletiva pelo espaço) berçário:
aproveitando o momento para que as crianças tenham experiências com variação chão com
mais lúdicas de se alimentar, como no piquenique, e também de brinquedos variação de
interajam com crianças de outras idades. Dessa maneira, ela (macios, brinquedos
tecidos, cestos (macios,
contribui para que a rotina atenda de fato às necessidades da jornada com objetos tecidos,
da criança, e não apenas às demandas de organização institucional. para cestos com
exploração, objetos para
Esses três níveis de planejamento, quando bem articulados,
canto dos exploração,
permitem fazer a gestão pedagógica desde o âmbito institucional até livros) canto dos
o dia a dia da criança, realizando a cada momento todas as intenções livros)

do projeto pedagógico da creche ou da pré-escola. Espaço externo: sol e bacias com água
Também é possível organizar uma agenda para os grupos de Trocas quando necessário, simultâneas à convivência no espaço
Mamadeiras, água e suco
berçário, não esquecendo que, no caso dos bebês e crianças menores,
a programação deve ser mais exível, integrada e respeitar os Leitura de histórias e/ou roda de música
Trocas (simultaneamente)
diferentes ritmos e preferências dos pequenos. É baseando-se nessa
compreensão que o cotidiano do berçário pode organizar-se Almoço
prevendo que trocas, banhos e sonecas não precisem acontecer todas
Roda de Exploração e Massagem Exploração e Roda de
em sequência, num mesmo horário, e sim à medida que essa música com convivência no espaço com convivência música com
necessidade se imponha. Ao mesmo tempo, é possível e desejável do berçário: chão com toques no espaço do
instrumentos variação de sutis – berçário: chão instrumentos favorecendo as aprendizagens em torno do cuidado de si e do outro
musicais brinquedos (macios, algodão, com variação musicais
tecidos, cestos com penas, de
no momento da alimentação de bebês e crianças.
objetos para bolinhas brinquedos Essa rede de gestões que vai se concretizando no âmbito da equipe
exploração, canto dos (macios,
livros) + Movimento: tecidos, cestos
escolar é sustentada por um contínuo processo formativo que visa a
“estações” motoras com objetos ressigni cação de formas de pensar, sentir, agir a prática educativa.
com colchões e caixas para
Assim, a unidade de Educação Infantil vai se constituindo como um
para empurrar exploração,
Cantigas ou canto dos espaço de experiências de aprendizagens dos bebês e das crianças, e
exploração de objetos livros) + de experiências formativas dos adultos, da equipe escolar e das
sonoros Canto de
famílias.
Desenho

Banho (simultaneamente)
5 http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/indic_qualit_educ_infantil.pdf, acesso em
5/3/2012
Jantar
6 MARANHÃO, D. G. Saúde e bem-estar das crianças: uma meta para educadores infantis
Depois do jantar, enquanto aguardam as famílias para o momento da saída, as crianças em parceria com familiares e pro ssionais de saúde, in Anais do I Seminário Nacional:
podem explorar cenário para livre escolha e possibilidade de repetição das explorações Currículo em Movimento – Perspectivas Atuais Belo Horizonte, novembro de 2010.
Disponível no link: http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2010-pdf/7157-2-5-
Providências: artigo-mec-saude-bemestar-criancas-damaris/ le, último acesso em 24/3/2019.
• Fazer o nger de maisena 7 Brinquedo ou objeto que traz de casa para apoiar o período de adaptação.
• Cortar o papel Kraft e forrar o chão para a pintura 8 Mário Carreteiro, pesquisador da didática das ciências.
• Selecionar os livros para as leituras da semana: 9 Professora parceira que dividia a sala no período inverso.
Eu grande, você pequenininho (Lilli L’Arronge); 10 “Quarta Extra” era o nome da campanha publicitária que chamava os consumidores às
Minha mamãe (Mark Baker e Neville Astley); compras na quarta-feira, dia das superofertas.
Bebês Brasileirinhos (Lalau e Laura Beatriz); 11 Acervo de Ieda Abbud, planejamentos do Colégio Oswald Andrade – Educação Infantil.
Onde é que eu vou dormir? (Nívea Salgado).

Além dos pro ssionais, há que se articular ações que incluam as


famílias nesse processo educativo. Assim como as DCNEI (2009), a
BNCC também ressalta a complementaridade das ações da família e
da escola, na realização do projeto pedagógico. Ações de
acolhimento da família são apresentadas na pág. 264 deste livro,

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